Caso de brasileira desaparecida na Argentina é relatado na Comissão da Verdade

Maria Regina Marcondes Pinto foi mais uma vítima da Operação Condor
03/12/2013 19:34 | Da Redação: Monica Ferrero Fotos: Yara Lopes

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Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156877.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Amelinha Teles <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156878.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Emir Sader<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156879.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>  Renan Quinalha, Amelinha Teles, Adriano Diogo e Emir Sader<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156880.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Renan Quinalha<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-12-2013/fg156881.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Em sua 101ª audiência pública, realizada dia 3/12, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva abordou o caso de Maria Regina Marcondes Pinto, que desapareceu em 10/4/1976, em Buenos Aires, Argentina. Ela era militante do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), que fazia resistência à ditadura chilena.

O professor Emir Sader, que foi companheiro de Maria Regina, depôs sobre seu desaparecimento. Em 1969, por Emir estar sendo perseguido pela ditadura, o casal decidiu sair do Brasil rumo a Paris, ela com documentação legal. Lá permaneceram por cerca de seis meses, indo ambos a seguir para Santiago, no Chile, onde ligaram-se ao Movimiento de Isquierda Revolucionario (MIR). Após a queda do ex-presidente Salvador Allende, em 11/9/1973, mudaram-se para Buenos Aires, Argentina.

Em 10/4/1976, Maria Regina foi se encontrar com Edgardo Enriquez, filho de um ex-ministro de Allende e ligado ao Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR). Nenhum dos dois nunca mais foi visto. Emir, à época, estava em viagem pela Europa. Em maio de 1976, o Comitê Francês de Apoio à Luta do Povo Argentino denunciou que a Junta Militar argentina havia detido Edgardo e Maria Regina e encaminhado ambos às autoridades chilenas do governo de Pinochet. O corpo de Enriquez foi identificado posteriormente como o homem morto num tiroteio em Buenos Aires, na data de seu desaparecimento.

Sobre Maria Regina, houve informações de que teria sido internada numa clínica psiquiátrica chilena ou morta sob tortura, na Argentina, com seu corpo jogado em rio num dos voos da morte, que saíam às quartas e sextas-feiras. A responsabilidade sobre seu desaparecimento foi reconhecida pelos argentinos, que incluíram seu nome em memorial às vítimas da ditadura. Também dá nome a uma rua no bairro Jardim São João, na zona norte da capital.

Internacional do terror

Segundo Emir Sader, o desaparecimento de Maria Regina é um típico caso da Operação Condor, que foi uma cooperação entre as ditaduras do Cone Sul, com apoio norte-americano. Ele ressaltou que a embaixada brasileira era o centro de articulação, com total conivência do governo brasileiro, onde o delegado Fleury circulava livremente.

O presidente da Comissão da Verdade, deputado Adriano Diogo (PT), disse que o Brasil era na verdade o proponente da Operação Condor, que implantou uma verdadeira uma escola de tortura em outros países. Emir Sader concordou, dizendo que "o grande produto de exportação da época foi o pau-de-arara e outros tipos de tortura", deixando clara a existência de uma "internacional do terror".

Sader considerou importante que se pressione o Itamaraty para quebrar sua resistência à abertura de seus arquivos da época. "Não querem mexer neste vespeiro", que pode incluir também documentos sobre negociações suspeitas sobre a hidrelétrica de Itaipu. À coordenadora da Comissão da Verdade, Maria Amélia Teles, o professor disse não ter notícias sobre outros desaparecidos brasileiros no exterior.

Questionado por Diogo, o professor ainda teceu considerações sobre os motivos pelos quais o Exército brasileiro ainda mantém o currículo de treinamento com bases na ideologia da guerra fria. Para ele, a corporação precisa de um inimigo, e não há ainda como mudar sua orientação política. Sader lembrou que os militares no Brasil não foram derrotados: sofreram um revés e se retiraram do poder. Além disso, sentem-se protegidos pela lei da anistia, que encobre seus crimes da época da ditadura.

alesp