Luiz Fernando Alves, o estudante que denunciou os abusos sofridos pelos calouros no trote que os veteranos da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto realizam anualmente, reafirmou, nesta terça-feira, 13/1, aos integrantes da CPI que investiga o trote universitário, a conivência dos diretores, professores e funcionários da universidade na realização desses trotes humilhantes. O depoente afirmou que essa postura dos dirigentes acaba por perpetuar a cultura da violência e humilhação nos trotes universitários. "Para mim, eles são os maiores responsáveis, pois o aluno que apanha esse ano será o que vai bater no ano seguinte. Se a direção não toma nenhuma atitude, essa situação não vai mudar nunca". A reunião foi conduzida pelo presidente da CPI, deputado Adriano Diogo (PT), que contou também com a presença do deputado Dr. Ulysses Tassinari (PV). Ambos os parlamentares indagaram do depoente sobre os desdobramentos dessas denúncias, e se ele está sendo assistido por algum advogado ou outro profissional. Luiz Fernando, que reside em Belo Horizonte, afirmou que após a denúncia sofreu ameaça de morte e tentativa de desmoralização por parte de professores, que tentaram retirar a credibilidade de sua fala, afirmando que o mesmo era usuário de drogas e mentiroso. Ele afirma que está sendo assistido por advogados e psiquiatra, que lhe tem receitado remédios para vencer o quadro depressivo que acabou por se instaurar. "Não é fácil, a gente estuda quatro anos para entrar na faculdade e quando consegue é obrigado a abandonar. Isso deixa a gente sem rumo", observou. A CPI apresentou um vídeo com reportagem realizada pelo programa Fantástico em que Luiz Fernando detalhou as humilhações e as ameaças sofridas, bem como a falta de apoio por parte da direção da faculdade. Ele lembrou várias agressões sofridas. "Além de receber socos e pontapés, fui obrigado a deitar no chão, ocasião em que várias pessoas urinaram em cima de mim. Em outra situação, eu e outros calouros fomos obrigados a ficar nus em cima do palco, ocasião em que me jogaram cerveja gelada, o que me levou a ter princípio de hipotermia", detalhou. Os parlamentares cumprimentaram o depoente pela coragem de denunciar. Tassinari, que também se formou em medicina, demonstrou alívio pelo fato de não ter sido submetido a tais trotes e ressaltou sua desaprovação a esse tratamento violento e humilhante: "a gente lamenta profundamente esses acontecimentos, ainda mais por serem realizados numa instituição que forma profissionais que vão lidar com a saúde das pessoas. Essas denúncias que você fez farão diferença na vida de muita gente, evitará sofrimento e transtorno para muitos alunos. Temos a certeza de que é uma causa vitoriosa. O país precisa de gente assim, você está de parabéns", declarou Dr. Ulysses.