Nesta quinta-feira, 12/2, a CPI que investiga as denúncias de violações aos direitos humanos nas universidades, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), realizou reunião com a presença do diretor e do vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP), Carlos Gilberto Carlotti Junior e Hélio Cesar Salgado. Também compareceram dois estudantes daquela faculdade, ligados à Atlética e ao Centro Acadêmico, e o advogado Dimitri Sales. Sales trouxe o caso de uma aluna do primeiro ano da FMRP, estuprada por um colega inconformado com o fim do relacionamento entre eles. Além do inquérito policial, cujo processo corre em segredo de justiça, houve sindicância na faculdade. O aluno acusado internou-se na ala psiquiátrica do Hospital Universitário, tendo alta apenas quando não poderia ser preso. Depois afastou-se do curso. Também foi emitida medida cautelar, proibindo-o de se aproximar da vítima. O depoimento da aluna foi lido pela deputada Sarah Munhoz (PCdoB), que narrou os fatos e disse que o atendimento feita pela polícia, para exame de corpo de delito e na colheita do depoimento para o inquérito, foi falho e brusco. Dimitri Sales falou que apesar de o depoimento à sindicância ter sido feito sob sigilo, acabou divulgado, e a aluna é alvo de chacota na classe, provocadas principalmente por um amigo do agressor. O manual do calouro que seria distribuído em 2015 foi produzido por amigos do agressor, que é chamado de "gente boa" pelos colegas. Sarah Munhoz leu também depoimento enviado anonimamente, por medo de represálias, de aluno da FMRP, com denúncias sobre a violência e os abusos na recepção de calouros. Há queixas sobre a pesada carga horária dos últimos anos de curso e a falta de participação discente nos colegiados e departamentos. O diretor Carlotti Junior informou que acompanhou o caso da estudante estuprada, tendo inclusive se reunido com os pais dela e com o pai do agressor. Disse desconhecer o citado manual e que há um oficial feito pela diretoria. A matrícula dos calouros de 2015 foi feita com acolhimento, sem que acontecessem as práticas citadas na carta anônima, informou o diretor, lembrando que apenas o pedágio continua. Porém, Carlotti reconheceu que as Intermeds são eventos externos difíceis de controlar, assim como as festas fora do campus. "Mas abusos serão investigados", garantiu. A CPI trouxe para a sociedade o problema, continuou Carlotti, e neste ano várias faculdades proibiram manifestações de trote. Na FMRP, a intenção é assinar um Termo de Ajuste de Conduta, entre a diretoria e os alunos, com aval do Ministério Público, para acabar com práticas violentas ou abusivas. Também há a ideia de ampliar a atividade esportiva da faculdade, para dar mais opções de lazer além das festas. Estudantes Os estudantes Guilherme Pianowski Pajanoti, atual presidente da Atlética, e Giovani Zacharias Rosa, presidente do Centro Acadêmico, que depuseram sob juramento, disseram desconhecer o citado manual do calouro, que não é elaborado pelo Centro Acadêmico. Segundo os jovens, há um kit calouro, vendido na matrícula, que é principalmente organizado pelos veteranos do 2º ano, contendo uma boina amarela que os calouros têm de usar até o dia 13/5. Também há itens fornecidos pelo Centro Acadêmico e pela Atlética, como chaveiro, camiseta e agenda. Sobre os hinos da bateria da FMRP (Batesão), Guilherme Pajanoti disse que são músicas antigas, às quais se somam as novas, que são as efetivamente cantadas. Esse hinário não constará do kit calouro, garantiu. A recepção dos alunos será no próximo dia 23/2, com atividade esportiva em entidade assistencial. Apesar de arrecadarem recursos, as festas tradicionais não acontecerão. O presidente Diogo informou que, no próximo dia 19/2, às 10h30, haverá uma audiência com o procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa; e no dia 23/2, acontecerá reunião, às 10h, na Câmara Municipal de Campinas, quando serão ouvidos alunos da PUC de Campinas e da Unicamp. Na reunião ordinária de 24/2, haverá votação de requerimentos e também discussão sobre medidas para efetivar a condução coercitiva de estudantes que, assim como ocorreu na reunião de hoje, ignoram a convocação da CPI. O relatório da CPI, continuou Diogo, deverá ser concluído, no dia 28/2, porém fatos novos poderão ser acrescentados num relatório adicional, até o dia 14/3.