CPI da violência nas universidades ouve estudante e professores da Unicamp

Coação para participação em festas e agressões foram relatadas
05/03/2015 20:06 | Da Redação Fotos: Roberto Navarro

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Adriano Diogo emocionado ouve Gines Villarinho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2015/fg167984.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Gines Villarinho <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2015/fg168005.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dr Ulysses, Gines Villarinho e Adriano Diogo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2015/fg168006.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Angelica M.B.Zeferino  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2015/fg168007.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Reunião da manhã desta quinta-feira, 5/3, da CPI da violência nas universidades <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2015/fg168008.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Estudante de medicina entre 2007 e 2012 na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade de Campinas (Unicamp), pela qual se formou, Gines Villarinho contou à CPI que investiga as denúncias de violações aos direitos humanos nas universidades, nesta quinta-feira, 5/3, sua experiência de ingresso na faculdade, numa trajetória que foi da empolgação ao desgosto.

"Cheguei à recepção dos calouros muito animado para viver esse momento. Mas já percebia uma certa coação, por parte dos membros do centro acadêmico e da atlética, para que participássemos das festas e da prática de esportes", disse Villarinho. Ele narrou os atos de sua festa de calouro, realizada numa chácara em Paulínia, na qual estava disposto a aceitar o trote com o máximo de boa vontade.

Na festa, levou cusparada de cerveja, teve de lamber o chão do banheiro, passar por corredor de veteranos sob socos e chutes. "Um veterano mandou que eu deitasse no chão, como se eu fosse uma prancha, subiu em minhas costas e começou a pular. Aí comecei a pensar que isso não era só uma brincadeira, que estava passando dos limites", contou Villarinho. Estes foram alguns dos atos violentos a que os calouros como ele foram submetidos.

Villarinho observou ainda que existe uma graduação no trote, que vai dos alunos do primeiro ano, tratados como objeto de chacota, até os do sexto, que são intocáveis. Ele tinha a ideia de que o trote se limitaria a uma semana, o que se revelou errado, pois a violência estendeu-se ao longo do tempo e foi praticada em larga escala nos jogos estudantis.

Como resultado, o médico, que era da comissão de formatura no primeiro ano, decidiu não participar da festa de formatura quando se graduou e proibiu que seu nome fosse incluído na placa de bronze dos formandos. Ele afirmou também que ficou marcado quando, durante o curso, passou a distribuir cartas aos calouros que ingressavam na faculdade, alertando-os para os perigos de participar das festas.

"O que me revolta é que existe muita gente séria na faculdade, que não merece o que está aparecendo por aí. Talvez elas tenham se calado por muito tempo", concluiu Villarinho.

Unicamp

"Esses depoimentos são importantes e corajosos, diante de uma estrutura tão coercitiva, mas precisam ser aprofundados", avaliou o deputado Adriano Diogo (PT), presidente da CPI. "O trote deveria ser enquadrado criminalmente no capítulo da tortura, e não como é enquadrado atualmente pela polícia, no máximo como atentado violento ao pudor", sugeriu o parlamentar.

A CPI ouviu também professores da Unicamp. Docente na FCM desde 1985, Angélica Maria Bicudo disse que quando se formou na instituição, em 1975, não havia trote na faculdade. "Não sei quando isso começou. Mas cada vez que um aluno diz que esse trote é tradição me soa muito ruim. Nunca foi assim", afirmou.

Angélica, que foi coordenadora do curso por mais de oito anos, intermitentemente, disse que luta contra o trote há muito tempo. Os resultados são pequenos, já que as denúncias são lacônicas, esparsas, às vezes anônimas, o que, segundo ela, impede que a faculdade leve adiante processos que poderiam resultar em punição.

"Nós conseguimos fazer muitas coisas na faculdade, como mudar currículos e melhorar o nível dos cursos. Mas se há algo que nunca conseguimos foi acabar com o trote", ela lamentou. Também prestou depoimento à comissão o professor Ricardo Mendes Pereira.

alesp