Entrevista com o deputado José Zico Prado


13/06/2017 18:57 | Larissa Leão - Foto: Raphael Montanaro

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José Zico Prado<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2017/fg203730.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Zico Prado<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2017/fg203685.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Zico Prado<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2017/fg203732.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

José Zico Prado, mais conhecido como Zico Prado (PT), começou a carreira política cedo, em 1968, quando fundou no interior o Sindicato Rural de Santa Fé do Sul. Ele conta que, naquela época, se fazia "política clandestina, que dava prisão, diferente de hoje, que atribui cargo". Marcado por lutas e conquistas, o deputado relembra nesta edição do Mandato em Pauta a atuação política durante sete mandatos na Assembleia Legislativa.

Entre esforços por melhores condições de trabalho e movimentos contra a ditadura militar, o parlamentar recorda-se de resistir junto aos trabalhadores arrendatários da Fazenda Reserva, em Santa Fé do Sul, que teriam de deixar as terras, mas não tinham condições de ir para outro lugar. Dessa forma, eles permaneceram no local e plantaram, mesmo com o Exército aparecendo para tirá-los.

Após o incidente, viajou para São Paulo e logo entrou em uma metalúrgica. Sindicalizado, continuou envolvido com outros movimentos contrários ao "sindicalismo pelego do tempo da ditadura" e chegou a ser preso e torturado em 1971. Pessoas que moravam com ele à época também foram detidas.

Zico Prado diz: "esses acontecimentos nunca me fizeram desistir da política". Tanto que, assim que saiu da prisão, lutou contra a Lei da Anistia, que concedia absolvição a todos que cometeram crimes políticos no período de 1961 a 1979.

Segundo o parlamentar, ele nunca imaginou ser candidato, mesmo sendo um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). "Eu acredito que só é possível transformar a sociedade por meio de um partido político organizado, com definição clara de posição", diz. Para ele, o partido pode defender os trabalhadores, a soberania nacional e um país independente. "Aquilo que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva fez durante o primeiro e segundo mandato, e o que a ex-presidente Dilma Rousseff continuou fazendo", destaca.

O deputado acredita que a Petrobras deva favorecer os interesses nacionais e que o país, possuir empresas fortes - de forma que "possamos avançar na economia independentemente das multinacionais".

Atuação parlamentar

Em 1982, enquanto ainda trabalhava na fábrica, o parlamentar tentou candidatar-se para deputado federal na primeira eleição em que o PT participou. "Na época, Lula era candidato a governador, então teve todo o empenho do partido", lembra. Porém, ficou como terceiro suplente. "O objetivo maior era construir o PT."

Candidatou-se novamente em 1990, agora como deputado estadual. Desde então permanece na Assembleia, onde tem atuado na área de transportes, agricultura e movimentos sociais e sindicais. "Conseguimos uma ampliação da zona leste e dos movimentos sociais, além de campanhas não só pela cidade, mas por todo o interior."

Destaca também ter participado de diversas discussões a respeito das privatizações e das concessões das rodovias, e da implantação dos pedágios no Estado. "Defendi proposta contrária a esse tipo de concessão. O pedágio de São Paulo é um dos mais caros do mundo."

Conquistas

Zico Prado apresentou projetos de leis que se tornaram normas no Estado. A Lei 10.858/2001 é um exemplo. Ela institui meia-entrada para professores da rede pública estadual de ensino em estabelecimentos de lazer e entretenimento.

É autor também da Lei 12.254/2006, que responsabiliza pela lavagem dos uniformes dos funcionários empresas que utilizam produtos químicos que possam ser prejudiciais à saúde dos empregados e ao meio ambiente.

Na agricultura, o deputado acompanha o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e o trabalho dos pequenos e médios produtores. A Lei 10.507/2000, que teve origem em um de seus projetos, é voltada a pequenos produtores que trabalham com a produção de leite, frango e outros de origem animal - e procura agregar valor a esses produtos. "Quando eu trabalhava na roça, se produzia, mas não havia para quem vender", explica. Segundo ele, o trabalho do MST tem contribuído para a agricultura familiar. "Hoje eles têm indústrias produzindo alimentos de qualidade", diz.

Em prol do transporte público, o deputado apresentou o Projeto de Lei 1.049/1993, que trata do Bilhete Único Metropolitano Regionalizado. "Foi a primeira proposta de bilhete único no Brasil", diz. Não foi aprovado, mas, em 2004, o conceito foi utilizado na gestão Marta Suplicy, então do PT.

CPI da Citricultura

Atualmente, o deputado é membro da Comissão de Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga práticas de cartelização na indústria da citricultura no Estado. Zico Prado explica que as grandes indústrias decidiram plantar laranja, sendo que o papel delas é produzir o suco. "Nós queremos que essas indústrias comprem do pequeno produtor as laranjas, que são plantadas para a sobrevivência deles", fala. "Criamos espaço para que São Paulo tenha condições de voltar a ser um dos maiores produtores de laranja, como era no passado."

Cenário atual

Sobre os trabalhos no Legislativo, o deputado fala sobre a dificuldade em ser oposição na Casa. Segundo ele, deveria ser dada maior importância aos partidos opositores. "Não se pode restringir o trabalho que fazemos, deveriam abrir mais espaço." Recorda-se do caso do desabamento da estação Pinheiros em 2007: "eu estive lá, mandamos documentos um ano antes do acontecido e o governo não se importou."

Em relação ao cenário político brasileiro, Zico Prado acredita que houve um retrocesso. "O presidente Michel Temer, a mídia e o Judiciário deram um golpe no Brasil, tirando o direito dos trabalhadores", diz.

Para ele, "vão tirar direitos dos aposentados e a reforma vai acabar com a legislação trabalhista, que já não era boa e ficará pior".

alesp