As duas primeiras deputadas estaduais de São Paulo


08/03/2018 18:01 | Luan Flávio Freires

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Maria Thereza de Barros Camargo (à esq.) e Maria Thereza Nogueira de Azevedo (à dir.)<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2018/fg218479.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Duas "Marias Therezas" foram as primeiras deputadas estaduais de SP: Maria Thereza de Barros Camargo e Maria Thereza Nogueira de Azevedo.

A luta das mulheres no Brasil pelo direito de votar é antiga e, na Constituinte de 1891, a ideia foi defendida por diversos parlamentares, embora a pauta não tenha avançado.Outras tentativas vieram, mas só com a vitória da Revolução de 1930 e o fim da República Velha, avanços verdadeiros começaram a aparecer.

No poder, o presidente Getúlio Vargas institui o Código Eleitoral Brasileiro em 1932, o qual determinava que era eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo. Em 1933, a médica paulista Carlota Pereira de Queiróz, que ganhou proeminência como voluntária na assistência aos feridos na Revolução Constitucionalista, é eleita a primeira deputada do país.

Outras foram eleitas nos anos seguintes. Antonietta de Barros, por exemplo, foi a primeira mulher a eleger-se como deputada em Santa Catarina, além de ser a primeira negra a conseguir um assento no legislativo do País.

Duas "Marias Therezas" foram as primeiras deputadas a ocupar lugar no parlamento paulista. Ambas do Partido Constitucionalista, elas fizeram parte da legislatura de 1935"1937. Representante de Campinas, Maria Thereza Nogueira de Azevedo participou da resistência feminina na Revolução de 32, além de fundar a Associação Cívica Feminina e a União Feminina Paulista.

Já Maria Thereza Silveira de Barros Camargo, nascida em Piracicaba e viúva do empresário Trajano de Barros Camargo, assumiu os negócios do marido quando ele morreu, entre empresas em Santos e em Limeira, além de uma fazenda em Brotas. A carreira política começou em Limeira, onde fundou a Associação Cívica Feminina do município. Em 33, Armando de Salles, então interventor federal em São Paulo, a nomeou prefeita de Limeira, o que a tornou uma das primeiras prefeitas de todo o Brasil.

Em 1937, entretanto, com o golpe do Estado Novo, todo o Poder Legislativo seria extinto por quase 10 anos.

Em 1947, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo foi restabelecida e o ano marcou um recorde: mais de um milhão de paulistas fizeram alistamento eleitoral. Mais duas mulheres foram eleitas naquela legislatura: Conceição da Costa Neves e Zuleika Alambert.

Conceição, natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, foi atriz da Companhia Procópio Ferreira, eleita em 1934 a "Rainha das Atrizes". Na década de 30, viveu com Ferreira e se instalou em São Paulo. Em 38, casou-se com o médico Matheus Galdi Santamaria. Entre 1943 e 1945, foi diretora da Cruz Vermelha Brasileira e presidente da Associação Paulista de Assistência ao Doente da Lepra.

O tema da hanseníase lhe rendeu projeção na imprensa. Quando eleita pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do qual foi uma das fundadoras, visitou os quatro leprosários do Estado e denunciou, da tribuna, as más condições de funcionamento dos estabelecimentos. Reeleita em 50 e em 54, mudou para o PSD e continuou na Alesp em 1958 e 1962, período no qual se tornou a primeira vice-presidente da Casa e, com uma viagem de Abreu Sodré ao exterior, a primeira a presidir um parlamento estadual no Brasil.

Crítica do regime militar, com o fim do pluripartidarismo se filiou ao partido de oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do qual foi uma das fundadoras. Reeleita em 1966, teve o mandato cassado pelo Ato Institucional Número Cinco em 1969, quando também teve os direitos políticos suspensos por dez anos.

Conceição foi a única eleita em 1947, mas, ainda naquela legislatura, outra mulher assumiu um cargo no legislativo paulista. Foi Zuleika Alambert, segunda suplente que, aos 24 anos, se beneficiou pelo afastamento temporário de Clóvis de Oliveira Neto e pela renúncia do primeiro suplente, Lázaro Maria da Silva. Com a renúncia do deputado Mautílio Muraro, ela foi efetivada deputada estadual no mesmo ano.

Integrante do Partido Comunista Brasileiro, defendeu os funcionários públicos, propôs a concessão do Abono de Natal para servidores estaduais e defendeu salários iguais para mulheres e homens.

"Para trás ficaram os dias em que as mulheres de todas as categorias sociais viviam, em nossa pátria, exclusivamente para seu lar e para seus filhos, sem participar diretamente da vida política, social e econômica da nação", disse Zuleika Alambert em plenário

O mandato dela foi curto. No ano seguinte, uma lei federal declarou extintos os mandatos dos parlamentares do PCB. Nos anos seguintes, Zuleika continuou as atividades como militante no Rio de Janeiro e em outros países. Em 1965, durante o regime militar, teve os direitos políticos suspensos por dez anos. Em 1969, exilou-se, passando por Uruguai, Paraguai , Argentina, Hungria, Chile, Venezuela, União Soviética e França.

Retornou ao Brasil após a anistia, em 79, tendo continuado envolvida com temas políticos. No ano de 1986, recebeu no plenário da Câmara Municipal de São Paulo, além do título de cidadã paulistana, a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão do Povo de São Paulo, por serviços prestados à cidade.

Saiba mais

A mulher no Parlamento brasileiro: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=291251

Conceição da Costa Neves: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=291251

A última sobrevivente da primeira legislatura da Assembleia Paulista de 1947: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=333162

Líder feminista Zuleika Alambert morre aos 90 anos: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,lider-feminista-zuleika-alambert-morre-aos-90-anos,978190

Na política brasileira, 15 pioneiras desde o início do século XX até a Presidência:

http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/na-politica-brasileira-15-pioneiras-desde-inicio-do-seculo-xx-ate-presidencia-18824935#ixzz59BUuuu2l

As Eleições Municipais de São Paulo em 1928 e 1936:

http://bernardoschmidt.blogspot.com.br/2011/08/as-eleicoes-municipais-de-sao-paulo-em.html

Fontes: Arquivo Alesp, Estadão, Acervo O Globo, Legislativo Paulista: Parlamentares 1835 - 2011, O Patativa

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