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01 DE MARÇO DE 2012

002ª SESSÃO SOLENE PARA A “ABERTURA DA COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE”

 

Presidentes: BARROS MUNHOZ e ADRIANO DIOGO

 

RESUMO

001 - Presidente BARROS MUNHOZ

Abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que convocara a presente sessão solene, a requerimento do Deputado Adriano Diogo, com a finalidade de "Realizar a Abertura da Comissão Estadual da Verdade". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Declara instalada a "Comissão da Verdade Rubens Paiva" da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Cita os membros efetivos e suplentes da comissão. Saúda as autoridades presentes. Destaca a atuação do Deputado Estadual Rui Falcão. Lembra o período da ditadura militar no Brasil e destaca as funções da Comissão da Verdade, instalada, hoje, em 01/03 nesta Casa. Enaltece o político Rubens Paiva, que dá nome à comissão.

 

002 - ADRIANO DIOGO

Assume a Presidência. Anuncia a exibição de documentário de autoria da OAB do Rio de Janeiro e, em seguida, de documentário chamado "Rubens Paiva, desaparecido desde 1972". Agradece ao Deputado Enio Tatto por tornar a aprovação do projeto de lei referente à Comissão da Verdade uma prioridade do PT.

 

003 - AMÉLIA TELES

Representante da União de Mulheres, cumprimenta os presentes. Comemora a instalação da Comissão da Verdade nesta Casa, a primeira do Brasil. Defende o direito dos familiares de terem conhecimento do que ocorreu com os presos políticos da ditadura militar. Informa que, há 40 anos, foi presa neste período histórico. Pede a abertura dos arquivos da ditadura militar. Lembra de torturadores de demais países latino-americanos que vieram a ser presos e extraditados no Brasil. Requer a instauração de Comissão Nacional da Verdade.

 

004 - IVAN SEIXAS

Ex-preso político e presidente do Núcleo de Memória Política, justifica a existência da Comissão da Verdade no combate à impunidade das mortes ocorridas na ditadura militar. Lembra fatos históricos do período. Comenta as razões da morte de Rubens Paiva, que dá nome à Comissão inaugurada hoje, 01/03. Entrega ao Deputado Adriano Diogo documentos versando sobre o tema.

 

005 - AZIZ AB'SABER

Professor e geógrafo, lembra sua atuação no movimento estudantil no período da ditadura militar. Destaca a necessidade da criação da Comissão da Verdade.

 

006 - IDIBAL PIVETTA

Jornalista, condena a atuação do reitor João Grandino Rodas, na USP. Lamenta violência ocorrida em reintegração de posse no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos. Comemora a instalação da Comissão da Verdade, nesta Casa.

 

007 - PAULO VANNUCHI

Ex-ministro de Direitos Humanos, cumprimenta os presentes, na ocasião, que já foram vítimas de tortura no período da ditadura militar. Enaltece a criação da Comissão da Verdade, nesta Casa. Defende o fim da impunidade quanto aos crimes cometidos neste período.

 

008 - MARLON WEICHERT

Representante do Ministério Público Federal, destaca o pluripartidarismo da Comissão da Verdade. Defende a criação de comissões como esta em outros estados do País.

 

009 - VERA PAIVA

Filha de Rubens Paiva, cumprimenta os presentes. Lamenta a ausência de sua mãe na ocasião. Defende o resgate da história e memória do período da ditadura militar. Considera que atos de terrorismo de Estado continuam a ocorrer até os dias atuais. Agradece a honra de seu pai nomear a comissão.

 

010 - Presidente ADRIANO DIOGO

Anuncia a exibição de documentário do canal Globo News, de autoria da jornalista Miriam Leitão, a respeito da vida do ex-parlamentar Rubens Paiva. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Abre a sessão o Sr. Barros Munhoz.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - Senhoras e Senhores, muito boa noite. Solicitamos a todos que se acomodem para que dentro de mais alguns instantes possamos dar início a esta sessão solene. Sejam bem vindos à Assembleia Legislativa.

Senhoras e Senhores, esta sessão solene tem a finalidade de realizar a abertura da Comissão Estadual da Verdade. Convido o Deputado Barros Munhoz, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, para presidir os nossos trabalhos. Tenham todos uma boa noite. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Sob a proteção de Deus iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Senhoras Deputadas, Senhores Deputados, Senhores e Senhoras que nos honram com suas presenças. Esta sessão solene foi convocada por este Presidente atendendo solicitação do nobre Deputado Adriano Diogo com a finalidade de realizar a abertura da Comissão Estadual da Verdade. Os trabalhos da Comissão Estadual da Verdade.

Convido todos os presentes para de pé ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, reproduzido pelo Serviço de Audiofonia da Casa.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência declara instalada a Comissão da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de São Paulo. (Palmas.)

O Presidente da Comissão é o Deputado Adriano Digo. São membros: Deputado André Soares, Deputado Marcos Zerbini, Deputado Ed Thomas, e Deputado Ulysses Tassinari, efetivos. E Deputado João Paulo Rillo, Deputado Mauro Bragato, Deputado Estevam Galvão, Deputado Orlando Bolçone e Deputada Regina Gonçalves, membros suplentes.

Esta Presidência quer saudar o Dr. Willian Campos e convidá-lo a tomar assento na extensão da Mesa, desembargador que aqui representa o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Dr. Ivan Sartori; o Dr. Luiz Geraldo Lanfredi, também juiz de direito, assessor da Presidência do Tribunal. O Deputado federal Paulo Teixeira, que engrandeceu esta Casa como brilhante Deputado estadual que foi, e hoje brilha no parlamento nacional. Quero citar e agradecer as honrosas presenças do líder do governo Deputado Samuel Moreira, o Deputado Antonio Mentor, Deputada Leci Brandão, Deputado Ed Thomas, Deputado Donisete Braga, Deputado Geraldo Cruz, Deputado José Zico Prado, Deputado Alencar Santana, Deputado João Antonio, Vereador Ítalo Cardoso, que aqui representa condignamente a Câmara Municipal de São Paulo. E quero saudar de uma maneira muito especial o ex-Ministro de Direitos Humanos, Dr. Paulo Vannuchi. (Palmas.); e a Vereadora Juliana Cardoso.

Não consta aqui da minha relação, mas eu quero também fazer uma saudação muito especial ao Primeiro Secretário desta Casa, brilhante parlamentar, mestre do parlamento paulista, Presidente Nacional do PT, Deputado Rui Falcão. (Palmas.) E o Vereador Eliseu Gabriel também presente.

Minhas amigas e meus amigos, eu sou Barros Munhoz, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Quero muito rapidamente dizer o seguinte: vivi os idos de 64, os momentos tumultuosos que o nosso país viveu quando foi privado das liberdades democráticas. Jovem, sofri as angustias que todos aqueles verdadeiramente democratas sentiam naquela época. Nesse momento como Presidente do Legislativo de São Paulo me sinto orgulhoso e feliz de poder participar ainda que rapidamente do evento importante como este de instalação da nossa Comissão da Verdade. E principalmente por ter ela o nome de Rubens Paiva, que foi do PTB partido do qual tive a honra de também participar.

Eu não podia deixar de dizer que um povo que não conhece o seu passado não tem futuro. É conhecendo o passado que nós evitamos os erros futuros, e que nós procuramos imitar os acertos e praticá-lo no futuro. Fico orgulhoso meu caro Deputado Adriano Diogo porque esta é a primeira Comissão da Verdade, ela vai auxiliar a Nacional, mas ela se instala antes da Nacional. Mas não basta que eu fique orgulhoso, eu preciso num ato de justiça creditar esse espaço ao seu esforço, ao seu denoro, a sua luta, a sua pertinácia, a sua garra que fez com que essa Casa se mobilizasse e por unanimidade aprovasse a criação dessa Comissão da Verdade. Parabéns Deputado Adriano Diogo. (Palmas.)

Eu só gostaria de dizer que a verdade jamais pode ser temida, a verdade precisa sempre ser buscada, que esta Comissão com sabedoria, com competência, com dignidade saiba fazer bem o seu trabalho, o que eu tenho certeza absoluta que acontecerá, como tem sido feito o trabalho legislativo de todas as bancadas com assento nessa Casa de Leis.

Para não me estender eu queria chamar aqui à Mesa Vera Paiva, filha do nosso homenageado Deputado Rubens Paiva. (Palmas.)

Eu quero saudar Vera Paiva como um filho de Rubens Paiva, como um pai da Vera, como um brasileiro que não tanto quanto ela obviamente e nem seus irmãos, mas que como brasileiro ainda sofre com o desaparecimento de Rubens Paiva.

E quero passar com muita honra a Presidência desta sessão a quem de direito deve presidi-la, a quem por justiça deve presidi-la, este valoroso e combativo Deputado da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Adriano Diogo. (Palmas.)

 

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- Assume a Presidência o Sr. Adriano Diogo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Muito boa noite a todos. Vou começar a parte política e agradecer as palavras do Sr. Presidente e a confiança. Essa Comissão da Verdade teve todo um processo de maturação. Todos os Deputados participaram, mas foi fundamental o papel da Presidência da Casa, do Presidente da Casa, em garantir que antes de terminar o ano legislativo, o ano passado a Comissão Estadual da Verdade fosse aprovada na forma de Projeto de Resolução. Os Deputados que compõe a Comissão estão aqui, Deputado Ed Thomas, Deputado André Soares, Deputado Ulysses Tassinari, Deputado Mauro Bragato, Deputado Marcos Zerbini, Deputado Orlando Bolçone, Deputado João Paulo Rillo nosso companheiro do PT, Deputado Estevam Galvão e Deputada Regina Gonçalves. Então a Comissão da Verdade Estadual está instalada, e ela tem o nome de Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva.

Nós vamos montar uma Mesa da representação da sociedade civil, das pessoas que aqui vieram para esse testemunhal. Essa sessão será interrompida às 21 horas e 05 minutos quando vai começar em rede nacional por uma TV a cabo a transmissão de um programa especial sobre a vida e o desaparecimento de Rubens Paiva. Então vamos montar a Mesa que será composta primeiro pelos familiares de presos e desaparecidos políticos representados aqui pelo Senhor Ivan Seixas e pela Senhora Amélia Teles que peço que venham compor a Mesa. (Palmas.)

Quero anunciar a presença do Professor Aziz Ab´Saber (Palmas.), e o Doutor Antonio Funare Filho, Presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo (Palmas.); Doutor Cristiano Lanfrede e o Senhor Caio Fonseca representando o Deputado Itamar Borges.

Continuando na composição da Mesa vou convidar representando os advogados, todos aqueles que nos defenderam o advogado Idibal Pivetta (Palmas.); representando o Ministério Público Federal Doutor Marlon Weichert. (Palmas.) Queria convidar o historiador, pesquisador Senhor Vladimir Sacchetta, que muito contribuiu para que essa história fosse contada. (Palmas.) Seria uma injustiça não citar duas pessoas muito especiais, Senhor Airton Soares (Palmas.)

Queria ainda compor a Mesa, a emoção tomou conta e me atrapalhei, queria ainda para compor a Mesa o nosso companheiro, ex ministro o idealizador da Comissão da Verdade ministro Paulo Vannuchi. (Palmas.) Não poderia deixar de citar nosso companheiro o criador da Comissão de Direitos Humanos o idealizador da Comissão de Direitos Humanos, o organizador nacional dentro do Partido dos Trabalhadores da Comissão de Direitos Humanos companheiro Renato Simões. (Palmas.) Para finalizar a composição da Mesa queria convidar nosso companheiro Presidente Nacional do PT Deputado Rui Falcão. (Palmas.)

Nós estamos começando a sessão esta parte 20 horas e 15 minutos e vamos terminar às 21 horas e cinco minutos. Inicialmente nós vamos apresentar dois pequenos documentários, um produzido pela OAB do Rio de Janeiro e um produzido pelo historiador e jornalista Vladimir Sacchetta. Por favor, na tela o material da OAB do Rio de Janeiro. “Rubens Paiva, desaparecido desde 1972”. (Palmas.)

 

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- É feita a exibição do vídeo.

 

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O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Eu vou só concluir a Mesa antes de abrir a palavra. Primeiro, quero fazer um agradecimento público, e não é daquele tipo formal para cumprir a cerimônia, ao Deputado Enio Tatto do PT, líder da bancada que em todo o processo final de encerramento do ano colocou a aprovação do projeto Comissão da Verdade como elemento central de toda organização do acordo final dos projetos do ano. Ele dentro da sua simplicidade, humildade, quero fazer agradecimento público de todo o esforço de toda a bancada materializado no seu esforço e transformar o projeto da Comissão da Verdade em aprovação, caso contrário nenhum outro projeto seria aprovado. Muito obrigado Deputado Enio Tatto. Muito obrigado. (Palmas.)

Quero só encerrar a composição da Mesa com três mulheres especiais que estão aqui hoje, na impossibilidade do Professor Aziz Ab´Saber subir e representar, queria convidar a Professora Maria Aparecida Aquino, uma pessoa da Resistência que deu a vida para a memória política para que ela compusesse. (Palmas.) Queria pedir uma enorme salva de palmas para uma pessoa do povo, que veio do meio do povo, se elegeu Deputada, uma pessoa da maior dignidade a companheira Leci Brandão. (Palmas.) E a jovem Vereadora Juliana Cardoso. (Palmas.)

Queria passar a palavra imediatamente compondo a Mesa para a Senhora Amélia Teles e Ivan Seixas no seu primeiro depoimento em nome dos familiares. Se a Comissão da Verdade Estadual, Nacional não tiver o apoio, a mobilização dos familiares como Clara Chávez, como Elza Lobo, como tantos outros aqui presentes não haverá Comissão da Verdade.

Com a palavra a Sra. Amélia Teles.

 

A SRA. AMÉLIA TELES - Boa noite, companheiras e companheiros. Boa noite, deputadas, vereadores e deputados. Boa noite, ex-presas políticas que eu estou vendo aqui a Guiomar, a Rose Nogueira, a Elza Lobo, a Clara Charf, a Criméia. Boa noite, familiares de mortos e desaparecidos políticos. Boa noite, acho que essa noite é muito especial por estarmos aqui e tendo a oportunidade de participar de um ato de instalação da Comissão da Verdade. A primeira Comissão da Verdade que está sendo instalada no Brasil com o nome de um desaparecido político, Rubens Paiva. (Palmas.) Isso realmente me deixa muito emocionada porque mostra, viu Vera, o compromisso, essa Comissão nasce com o compromisso de fortalecer essa busca onde estão os desaparecidos políticos. Nós queremos saber onde estão os desaparecidos políticos, nós temos o direito de saber. E nós queremos saber. Nós queremos saber o que fizeram, em que circunstâncias foram sequestrados, foram torturados, foram assassinados, tiveram os seus corpos ocultados até os dias de hoje, nunca tiveram direito a um sepultamento. Os familiares, eu vejo quando nós começamos essa luta eu estou lembrando aqui da Verinha falando lá na Praça da Sé com aquele vestido amarelinho que nunca vou esquecer, um vestido de alcinha e nós falando, nós éramos jovens quando começamos essa luta. E hoje nós já estamos bem mais velhas, muitas, a mãe da Vera, a Eunice Paiva não pode estar aqui, e muitas outras já morreram, ou não podem mais ter a emoção de viver esse momento. A Comissão da Verdade no Brasil ela vem muito tarde, é muito tarde, porque há quanto tempo isso se passou!

Outro dia eu fazendo as contas da minha prisão esse ano está fazendo 40 anos. 40 anos, é muito tempo. Muito tempo, mas ainda que seja muito tempo que essa Comissão venha com o compromisso sim de buscar toda a verdade. Eu estou lembrando aqui do Ítalo Cardoso daquela CPI, daquela Comissão Parlamentar de Inquérito que foi instalada tão logo se abriu a “vala de Perus” aqui em São Paulo, e aquela Comissão trouxe vários torturadores para serem ouvidos ali na Câmara, ali no plenário da Câmara. Em muitas oportunidades eu vi os depoimentos, as perguntas a torturadores como Davi Araujo que nós vimos, como o Shibata, o Edson, que naquela época, parece que morreu, mas naquela época estava vivo, o Erasmo Dias, nós ouvimos muitos, o Isaac Abramovitch. Hoje eu penso que essa Comissão que nasce aqui ela tem esse objetivo, temos que ouvir sim, temos que abrir os arquivos da ditadura, temos que conhecer a verdade, e temos sim que criar condições para se chegar à justiça. Com impunidade o Brasil não consolida o processo democrático, não tem como. E nós ainda temos torturadores na Argentina como recentemente foi preso o Claudio Vallejos, torturador da Esma - Escola da Mecânica Armada, onde tem cinco mil desaparecidos. Foram desaparecidos cinco mil argentinos ali, e ele foi preso, quer dizer, ele vivia aqui em Santa Catarina foi preso porque é estelionatário não é porque é torturador, nem assassino. Não é porque cometeu crime de lesa humanidade, porque ele é um criminoso de lesa humanidade. Espero que ele seja extraditado para a Argentina e que seja lá julgado, porque lá já foram mais de 200 oficiais julgados e condenados. Eu espero que o mesmo aconteça com ele.

Eu estou lembrando aqui que pelo menos dois outros torturadores estiveram escondidos aqui no Brasil, um é o Luis Garcia, que foi Presidente da ditadura boliviana e foi preso aqui em São Paulo. Os familiares dos desaparecidos políticos da Bolívia souberam que ele estava aqui e pediram a OAB para que providenciasse um pedido de prisão pra ele, e ele foi extraditado para a Bolívia. E teve o Oswaldo Romumeno, da Polícia Chilena, que esteve a serviço do Pinochet, e foi preso também aqui em Mogi das Cruzes. Foi preso não porque era torturador e assassino, porque ele era estuprador. Inclusive, pelo menos a Sola Sierra que é familiar lá do Chile à época ela veio aqui e trouxe uma lista de 100 moças, 100 mulheres, 100 jovens chilenas que foram estupradas por esse Oswaldo Romumeno, e ela trouxe pedindo a extradição dele. Mas ele foi preso porque tinha nome falso, documento falso aqui no Brasil, aqui em Mogi das Cruzes.

Então nós não podemos continuar com a impunidade não, nós temos que esclarecer. A verdade é necessária, e a verdade caminha com a justiça. Foram essas duas palavras que sempre pautaram as nossas ações, as ações dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos. Nós estamos aqui entendendo que essa Comissão da Verdade vem fortalecer todos esses anos de luta, vem fazer com que o Brasil, que o estado brasileiro realmente cumpra o seu dever democrático de esclarecer a sociedade o que se passou durante a ditadura militar, e que faça inclusive o cumprimento na íntegra da sentença do caso do Araguaia, sentença em que o Brasil foi condenado e que passa a ser obrigado a localizar e esclarecer todos os casos de desaparecidos políticos. Então é isso que todos nós estamos esperando.

Nós temos uma expectativa muito grande, eu particularmente. Acho que eu estou aqui com os companheiros e companheiras que também foram presos, foram torturados, que são testemunhas de assassinatos como é o meu caso, testemunha inclusive de desaparecimento político que é o caso que a gente assistiu do Edgar Aquino Duarte que a gente viu pela última vez ali nas dependências do Dops, então nós queremos que essa Comissão funcione e impulsione a Comissão Nacional da Verdade e da Justiça que nós estamos aguardando a sua instalação. Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Vou fazer o seguinte encaminhamento, nós temos seis pessoas para falar, e a última fala vai ser a fala da Vera Paiva que vai anteceder o documentário produzido pela Globo News com a Miriam Leitão sobre a vida do Rubens Paiva. Como nós estamos aqui no meio de tantas pessoas experientes politicamente, e maduras politicamente que cada um use a palavra na medida que for necessária para que a gente às 21 horas a gente passe a palavra para a Vera, a Vera fala, e a gente entra no documentário.

Então, agora com a palavra o companheiro Ivan Seixas, pelos familiares dos mortos e desaparecidos políticos. (Palmas.)

 

O SR. IVAN SEIXAS - A luta para instalação desta Comissão ela tem dois caminhos, são muitas pessoas, nós familiares de desaparecidos, nós ex-presos políticos, e também a sociedade. Nós queremos contar a história desse país a partir do drama mais monstruoso que é os mortos e desaparecidos, e meu pai, minha irmã que está lá em cima Yeda, foi assassinado na tortura, a morte dele foi anunciada antes de ser assassinado. Nós vimos várias pessoas serem assassinadas, mas nós família de operário nós tínhamos um outro tipo de repressão. Nós queremos que esta Comissão conte a história da repressão no país, por isso nós com uma conversa com o Deputado Adriano Diogo, nosso companheiro de cadeia inclusive, como o Paulo Vannuchi, o Paulinho também foi colega de cela, nós fizemos um combinado que nós vamos ajudar essa Comissão andar trazendo depoimentos, trazendo documentos, mas nós também vamos levar para as entidades, para os sindicatos, para as universidades, para as associações. Porque mortos e desaparecidos, torturados são aquelas figuras mais visíveis do crime cometido pela ditadura. Mas dentro de cada universidade tinha DSI - Divisão de Segurança e Informação. Dentro de cada fábrica tinha uma DSI - Divisão de Segurança e Informação, que tudo via, que tudo vigiava, e que levava a perseguição. Os estudantes e Professores eram expulsos, caçados, e os operários além de perder o emprego entravam para as famigeradas listas negras, que as pessoas ali constantes não arrumavam mais emprego. Para um operário perder o emprego quer dizer, toda sua família passar fome. Nós queremos contar essa história.

No arquivo do Estado de São Paulo, aqui no arquivo do Dops tem um livro de entrada e saída em que o policial relata, tal hora entrou o delegado Romeu Tuma, tal hora saiu o delegado Romeu Tuma, tal hora entrou o delegado Sergio Fleury, tal hora saiu o delegado Sergio Fleury, mas consta lá também a entrada quase todos os dias de membro do Consulado dos Estados Unidos, nenhum outro cônsul fazia isso de nenhum outro consulado, do jornalista da Folha de S.Paulo e todos os dias um representante da Fiesp ia ao Dops. Nós queremos saber o que eles iam fazer lá. Nós queremos que essa Comissão vá ao Sítio 31 de março de 1964, esse é o nome dele. Nós queremos vasculhar aquilo como fizemos lá na Câmara de Vereadores na CPI das Ossadas de Perus, que o Ítalo Cardoso está aqui presente sabe do que eu estou falando. Nós queremos ir lá, como queremos ver a boate de Itapevi, como queremos ver o sítio do Fleury em Arujá, como queremos ver o outro sítio do Exército que ficava em Araçoiaba da Serra.

Nós queremos saber a verdade para localizar os desaparecidos, mas nós queremos que a sociedade assuma essa luta, assuma e conte a sua história. Porque a Faculdade de Direito do Largo São Francisco tem história para contar, o Sindicato dos Metalúrgicos, dos Químicos, dos Bancários tem história para contar, e essa história é motivo de muito orgulho dessas pessoas, dessa classe, e é motivo de cobrança dos crimes cometidos pela ditadura a serviço de um projeto político e econômico excludente, a serviço de um projeto político e econômico empreguista, de lesa pátria. Nós queremos contar a história do nosso país e devolver para o povo brasileiro o orgulho de lutar por um país melhor. Não por nós, mas por nossos filhos e netos que merecem coisa melhor do que uma ditadura, do que tortura, do que cassações, do que perda de empregos e principal de assassinatos e desaparecimentos.

Pra nós é motivo de muito orgulho ter a Comissão com o nome de Rubens Paiva. Porque Rubens Paiva não é um Deputado qualquer, Rubens Paiva não é um militante que estava com informações que veio do Chile, isso é mentira. É uma vingança porque ele, como mostrou o vídeo aqui, ele denunciou a ação do Ipes e do Ibad, que eram os dois institutos de conspiração para a derrubada do governo legitimamente eleito que abria caminho para o assalto ao poder e assalto aos cofres públicos que aconteceu em primeiro de abril de 1964. Por causa disso em algum momento iam fazer a vingança. Em 1971 ele foi capturado pelos torturadores do Doi-Codi e foi assassinado na tortura.

Nós queremos com muito orgulho que essa Comissão Rubens Meira Paiva cumpra a sua obrigação e a população esteja aqui dentro, esteja junto fazendo a história com muito orgulho do nosso país. Muito obrigado. (Palmas.)

E só para encerrar, para a gente começar essa Comissão a funcionar eu quero entregar ao Deputado Adriano Diogo, Presidente da Comissão alguns documentos. Documento dos presos políticos de São Paulo de 1975, documento dos presos políticos de Itamaracá de 1975, documento dos presos políticos de São Paulo de 1977, de Curitiba, de Florianópolis, são alguns documentos que aqui tem denúncias à época, as pessoas ainda eram reféns da ditadura contando os locais de tortura, os métodos de tortura, os torturadores, os mortos e desaparecidos, e crimes cometidos com alguns presos que ainda estavam presos sofrendo a repressão. Então eu passo as mãos do Deputado Adriano Diogo como um primeiro momento de início dos trabalhos dessa Comissão. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Queria pedir para o companheiro Ítalo Cardoso vir compor a Mesa, por favor.

Queria passar a palavra imediatamente para o Professor Aziz Ab´Saber, que mesmo impossibilitado de estar aqui nesta Mesa vai fazer uso da palavra por todos aqueles Professores, intelectuais que foram perseguidos, caçados que resistiram e continuam na luta.

Com a palavra o Professor Aziz Ab´Saber. (Palmas.)

 

O SR. AZIZ AB´SABER - Eu fico muito emocionado de estar nesta Casa no momento em que se instala definitivamente a Comissão da Verdade. A Comissão da Verdade não tem apenas o aspecto de mostrar a sua indignação total pelos ditadores, mas ela tem a finalidade histórica de lembrar aos futuros estudantes de cursos fundamentais e universidades o que aconteceu no Brasil entre 1964 e 1979, 80 e 81.

Eu devo dizer que na época eu era um simplório pesquisador de ciências naturais e achava que o meu dever era dentro da universidade continuar pesquisando sobre os mais variados assuntos do meu país, de Norte a Sul, da Amazônia ao Rio Grande do Sul, do Nordeste ao Pantanal. E não fui um homem que desafiasse os ditadores, mas os ditadores me desafiaram. Um dia chegando à faculdade todos os meus colegas diziam: a política está esperando pelo Pasquale Petroni, um dos maiores geógrafos que aconteceu na história da Universidade São Paulo, que morreu há poucas semanas, e o Aziz Ab´Saber. E eu fiquei totalmente espantando. Eu? O que é que eu fiz a não ser pesquisar, a não ser fazer pequenos trabalhos de planejamento a favor dos mais diversos setores da vida brasileira. E tive que ficar quieto. Mas eles não ficaram quietos, todos os dias alguém no meio das aulas da tarde chegava pra mim e dizia: vamos tomar um cafezinho Professor Aziz. Eu ia tomar o cafezinho como qualquer outro aluno que me pedisse para estar junto. E de repente, passaram-se dois anos e o mesmo sujeito queria tomar um cafezinho comigo no intervalo das aulas. E de repente, a minha colega Maria Cecília França disse: o senhor sabe quem é que vai tomar o cafezinho com o Senhor todo dia lá no bar da Geografia? Eu digo, não, não sei, sei que ele não é uma criança, ele tem uma certa idade. Ela disse, pois ele é agente do Dops que está fiscalizando a sua pessoa desde há dois anos. Nunca sofri tanto quanto isso. E o que aconteceu que na mesma hora que eu desci a rampa da Geografia e ele subindo a rampa da Geografia eu botei o dedo nele e disse: quero falar com o senhor. E ele sumiu.

Mais tarde, e aconteciam coisas assim, alguém que era parente de um dos generais me procurou dizendo que estava anotado que eu era um liberal e não um comunista no sentido da época, que seria sempre pessoas execráveis. Nunca mais encontrei esse cidadão. E tenho certeza que ele foi quem colocou que eu era um liberal, mesmo porque uma das vezes que nós íamos o nosso cafezinho no meio das aulas ele me disse um dia: Professor Aziz o senhor sabe a última dos militares? Eu virei pra ele e disse, olha isso não é assunto para se falar aqui dentro da Universidade, cuidado. E ele sentiu essa minha frase pequenina dizendo a ele que não era.

Pois bem, anos se passaram e nós temos a necessidade de reaviventar as coisas que aconteceram com os nossos colegas, conosco e com outras pessoas. E uma das coisas fundamentais que aconteceram é que as pessoas que não eram os ditadores, eram piores que os ditadores nos perseguiam, torturavam, batiam, o maior desejo deles era apanhar os mocinhos na Rua da Consolação perto do Cemitério da Consolação e levar para o Doi-Codi ou Dops.

E eu devo dizer pra vocês que eu firme lá dentro da minha posição de pesquisador e de geógrafo somente era procurado para que eu protegesse as pessoas. Um dia chegando no meu departamento tinha um carro do Doi-Codi esperando na porta, todos eles com grandes armas, e o assunto foi sério. Eles foram até o laboratório, eu fiz diversos laboratórios quando fui Presidente do Instituto de Geografia, e um deles era de climatologia dirigido por um dos maiores climatologistas que aconteceu na história brasileira, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro. E o resultado é que eu soube que um dos membros daquele pelotão armado foi até a sala do Carlos Augusto bateu na porta e ele dando aula, dizendo que ele precisava acompanhá-lo, e ele disse, eu estou dando aula, preciso continuar a minha aula. E continuou. Depois ele desceu e eu estava no barzinho da Geografia no eterno cafezinho intermediário e ele me disse: Professor Aziz, o guarda estava perto dele, não vai acontecer nada comigo, há um equívoco. E realmente houve um equívoco, um equívoco doloroso do ponto de vista dos alunos. Os alunos não podiam combater a ditadura, combatiam os Professores, os pesquisadores, a revolução foi muito pior do que se imagina. Pessoas dignas ficaram indignas por outras razões e não o problema político. (Palmas.)

Então eu quero dizer a vocês quando eu soube que o Carlos Augusto saiu do barzinho e foi para o pelotão e um colega disse: todos armados e levaram o Carlos Augusto para o Dops. E eu fiquei desesperado, porque o Carlos Augusto não tinha nada de político, inclusive tinha um cartazinho que muito o desonera que estava escrito assim: Ame-o ou Deixe-o. Portanto, ele era um homem que não tinha nenhuma posição política e pelo contrário ele estava mais ou menos filiado a certos ideais errados.

Pois bem, eu fui até a Reitoria falei com as pessoas, dentro da Reitoria tinha gente das Forças Armadas que controlavam até o próprio reitor, eu falei com um deles, vocês precisam defender o Professor Carlos Augusto, ele não tem absolutamente nada com assuntos de ordem política comunista, pelo contrário está escrito lá no Departamento dele num canto que muito o desonera: Ame-o ou Deixe-o. Pois bem, o Carlos Augusto mal chegando no Dops esse cidadão que estava junto a Reitoria telefonou dizendo que ele não tinha nada a ver com assunto nenhum e tal, havia um erro muito grande.

Pois bem, sentaram o Carlos Augusto, todos os detetives de lado e trouxeram uma aluna, que eu não vou falar o nome evidentemente, quando ela veio e sentou-se e olhou o Carlos Augusto e disse: Professor Carlos Augusto eu fui presa por guardas do Dops e eles queriam que eu indicasse nomes de pessoas que seriam da extrema esquerda, e eu não tinha ninguém pra citar, porque eu nunca fui muito política. Mas, o que é que eu fiz, eu peguei citei o nome do senhor, porque o senhor não tem nada a ver com assunto nenhum. E ela falou isso do fim da mesa para o diretor do Dops. E eu me despedi deles, cumprimentei o Carlos Augusto e 10 minutos depois o Carlos Augusto estava na USP e não aconteceu nada.

Isso eu fiz várias vezes, mas os maiores problemas que eu tive foi quando eu fui diretor da Faculdade do Instituto de Biociências, de Biologia e Ciências Exatas da Unesp de São José do Rio Preto. Lá alguns Professores combatiam os outros e se aproveitaram do momento da ditadura para indicá-los e sete deles foram exonerados e ficaram 13 anos de um modo extremamente dramático. Então atenção, os problemas da ditadura militar e dos que em aproveitando da ditadura foram muito mais sérios do que muita gente pensa e a Comissão da Verdade tem que discutir e registrar todas essas coisas. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Com a palavra o Sr. Idibal Pivetta.

 

O SR. IDIBAL PIVETTA - Querido amigo e companheiro de cela, Deputado Adriano Diogo, meu querido Professor do Colégio Bandeirantes Aziz Ab´Saber, companheiro de escritório Airton Soares.

Queria começar essa rápida fala dizendo que esse é um ato histórico. Antes da Comissão Nacional da Verdade já se instala em São Paulo a Comissão Estadual da Verdade que será seguida, sem dúvida, por todos os Estados deste país. (Palmas.)

Companheiros, alguma coisa de podre no ar. Já se sente ao longe o toar das sandálias de Cesar, é uma metáfora. “Já se sente ao longe o toar das sandálias de Cesar”. Ontem eu participei de uma reunião com 1500 estudantes em greve da USP onde a polícia já pôs os pés e não saiu. E tem um diretor chamado Rodas, mas que rodas não tem nenhuma, mas possível tem quatro patas, é o Doutor Rodas. (Palmas.) Isso que está orquestrado passa pelo que a Folha e outros jornais deste país publicaram ontem, pronunciamento do Clube Militar e o pronunciamento do Clube Naval acuando a Presidente da República, acuando e ameaçando a Presidente da República.

Outra coisa que está orquestrada, sem dúvida nenhuma, e o estado defender a patas de cavalo um doleiro em São José dos Campos extirpando e esmagando os habitantes do bairro do Pinheirinho. (Palmas.)

Isso me faz lembrar o grande poeta das Arcadas, Castro Alves que disse: “Mas embalde que o direito não é pasto de punhal, nem a patas de cavalo se faz um crime legal”. Um filósofo americano falou o seguinte: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Nós vamos partir para essa Comissão sem espírito de vendeta, mas com espírito de prestigiar a verdade e a justiça. Nós temos que estar atentos a tudo sem perder, porém a ternura.

Eu queria pedir a todos vocês, a todos nós de pé um minuto de silêncio por todos os presos e desaparecidos políticos deste país, em especial ao Deputado Rubens Paiva.

 

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- É feito um minuto de silêncio.

 

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O SR. IDIBAL PIVETTA - Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Doutor Marlon Weichert, ministro Paulo Vannuchi na sequência 21 horas, vamos ouvir a Vera Paiva.

Marcos Martins, meu irmão Deputado, pai Reginaldo de Oxumaré, pai Eduardo Brasil muito obrigado pela presença, pela força, pelo crédito

Tem a palavra o Sr. Paulo Vannuchi.

 

O SR. PAULO VANNUCHI - Temos que ouvir a Vera antes das 21hs05min. A grande alegria e a grande responsabilidade que esse ato de inauguração sinaliza para todos nós muito especialmente nessa figura do Presidente agora Deputado Adriano Diogo que como muitos de nós reúne também a condição de um ex preso torturado, ele, muitos de nós teremos que ter a lucidez de enfrentar nesse processo figuras como o coronel Ustra reafirmar que não torturou, que nunca houve mortos sob tortura no Doi-Codi, sendo que nós sofremos pessoalmente as torturas praticadas pelas próprias mãos de Ustra.

E lucidez para entender, como Ivan já disse, que esta Comissão Estadual se antecipa a Nacional e precisa ir para a sociedade para fazer convencimento aqui firmeza, rigor na busca da verdade, da justiça e serenidade para não transparecer qualquer dúvida a respeito do nosso objetivo maior que é o futuro. E nesse sentido não podemos esquecer neste ato que o dia de hoje, de ontem tenha marcado por um grave incidente institucional bem enfrentado pela Presidente Dilma Rousseff, pelo ministro da Defesa Celso Amorim que determina a aplicação dos rigores constitucionais para pessoas que se insurgem, que se insubordinam reafirmando entre os beneficiários da Comissão da Verdade deve ser incluída as próprias Forças Armadas, que tem heróis mortos na Antártida, heróis mortos no Haiti, não podem ser confundidos com algumas dúzias de torturadores que massacraram Rubens Paiva, que massacraram Alexandre Vannuchi Leme, tantos outros. E essa Comissão da Verdade dá o pontapé inicial de uma grande disputa que deve terminar com um Brasil passando a ver de uma forma inteiramente diferente de como vê hoje o problema da verdade, da justiça e da necessidade imperiosa de rompermos com a impunidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Tem a palavra o Sr. Marlon Weichert, Ministério Público Federal.

Anunciamos a presença do Deputado Marco Aurélio, irmão da Comissão de Direitos Humanos.

 

O SR. MARLON WEICHERT - Deputado Adriano Diogo, quero parabenizar e dizer que o momento é de um simbolismo muito forte por dois aspectos. Primeiro, por ser tratar de uma Comissão instalada dentro do parlamento estadual demonstrando que se trata da produção da verdade um tema pluripartidário que interessa a toda sociedade brasileira. E o segundo aspecto que eu queria enfatizar é por se tratar do âmbito estadual, demonstrando que a verdade não é um assunto federal, é um assunto de toda sociedade brasileira, de todos os Estados. E é com a proliferação de Comissões Estaduais e Municipais que nós vamos permitir que o trabalho possa ter capilaridade e atingir toda população brasileira e não ficar restrito ao espaço de alguns gabinetes. Meus mais sinceros cumprimentos por essa iniciativa Deputado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Obrigado. Agora vamos ouvir a Vera Paiva, mas sem antes lembrar Rafael Martinelli, Guiomar, padre Neves, frei João Cherry, Rose Nogueira, e tantos outros companheiros que não nominei, Samuel Iavelberg.

Tem a palavra a Sra. Vera Paiva.

 

A SRA. VERA PAIVA - Boa noite a todos, dessa vez eu vou falar, acho que é por isso que vocês estavam tão aflitos que eu falasse.

Eu vou falar duas coisas. Primeiro agradecer em nome da família a honra de nomear essa Comissão, pena que minha mãe, como alguém já disse, que lutou tanto pela verdade e pela memória em nome de todos nós não pode estar aqui hoje. E dizer que esperamos que este nome honre a vida perdida, mas ganha e recuperada por nós neste momento de tantos que lutaram pela justiça social e pela democracia. E que a memória se estabeleça, e que essa Comissão tenha instrumento, recurso, apoio e soberania para funcionar dando um exemplo de mostrar, de construir e reconstruir a história, recuperar memória, e fazer com que atos de terrorismo de estado como a gente viveu durante anos não se repitam nunca mais.

A segunda questão que eu queria lembrar é que a gente nunca pode esquecer aquilo que vocês começaram a levantar nas últimas falas. Aquilo que começou em 64 continua até hoje. Se a gente não fizer uma aliança com aquela mãe lá do Alemão cujo filho foi assassinado e o outro filho desapareceu pelas mãos da mesma Polícia Militar e que perdura torturando, matando sem julgamento e desaparecendo com gente até hoje. Se a gente não lembrar a experiência da minha mãe e da minha família está cotidianamente se repetindo pelo Brasil afora, pela justiça que não é justiça, pela polícia que não é polícia defendendo a cidadania, enfim, pelo poder das armas que continuam fazendo terrorismo de estado, se a gente não esquecer disso nós vamos de fato ampliar essa memória e essa verdade para um apoio que permita que todos nós no Brasil no século 21 digamos: isso é inaceitável, tortura nunca mais, e botar uma pá de cal nesse passado.

Então é isso só que eu queria falar rapidamente, e agradeço a honra de nomear a Comissão. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - Tudo certo? Vamos fazer a primeira vigília da Comissão da Verdade? Vamos assistir juntos ao programa do Rubens Paiva? Está tudo em condições técnicas para entrar no ar? Vamos lá!

 

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- É feita a exibição do documentário.

 

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O SR. PRESIDENTE - ADRIANO DIOGO - PT - A formalidade aqui é dizer que esta sessão não está encerrada, ela só está começando. Boa noite.

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e um minuto.

 

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