27 DE ABRIL DE 2007

003ª SESSÃO SOLENE PARA HOMENAGEAR OS “MÁRTIRES ARMÊNIOS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO DE 1915”

 

Presidência: VITOR SAPIENZA


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 27/04/2007 - Sessão 3ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: VITOR SAPIENZA

 

HOMENAGEM AOS "MÁRTIRES ARMÊNIOS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO DE 1915"

001 - VITOR SAPIENZA

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de homenagear os "Mártires Armênios Vítimas do Genocídio de 1915". Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional.

 

002 - ARNALDO FARIA DE SÁ

Deputado Federal, lê e justifica PL que tramita no Congresso Nacional, de sua autoria, tornando o dia 24/4 o "Dia Nacional da Tolerância e Respeito entre os Povos em Reconhecimento às Vítimas do Genocídio Armênio".

 

003 - VALÉRY MKRTOUMYAN

Cônsul Geral da República Armênia em São Paulo, faz análise das relações diplomáticas entre a Armênia e a Turquia, ressaltando a necessidade desta última reconhecer o genocídio que praticou. Reporta ações políticas para que esse fato histórico seja reconhecido, também, pelas demais nações.

 

004 - ARNALDO JARDIM

Deputado Federal, recorda as iniciativas ocorridas nesta Casa em reconhecimento do genocídio e fez três justificativas para rememorar a data de 24 de abril de 1915.

 

005 - Presidente VITOR SAPIENZA

Anuncia a execução de número musical. Presta homenagem ao povo armênio, faz depoimento pessoal sobre o fato histórico aqui rememorado. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Esta Presidência passa a nomear as autoridades presentes: Sr. Ohannes Semerdjian Neto, vice-Presidente da Diretoria Executiva da Igreja Apostólica Armênia do Brasil, representando o Presidente Panós Nercessian; Sr. Valéry Mkrtoumyan, Cônsul Geral da República da Armênia em São Paulo; Sr. Deputado Arnaldo Faria de Sá; Sr. Deputado Federal Arnaldo Jardim, demais personalidades que compõem a Mesa, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Vaz de Lima, atendendo solicitação deste Deputado com a finalidade de homenagear os mártires armênios, vítimas do genocídio de 1915.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro 1º Tenente Clébio de Azevedo.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

Anunciamos a presença do Sr. Kevork Kumruian, Presidente da Sociedade Artística Melodias Armênias - Sama - Clube Armênio; Sr. Garabed D. Pilavjian, Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Armênio de São Paulo e Vice-Presidente do Fundo Armênio-SP; Dr. Roberto Nerguisian, Presidente do Conselho Deliberativo da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia de Osasco-SP; Sr. Jorge Gazebayukian, Presidente do Conselho da Igreja Central Evangélica Armênia de São Paulo; Dr. Simão Kerimian, Presidente da Associação Cultural Armênia de São Paulo e Presidente do Conselho Nacional Armênio do Brasil - CNA; Sra. Marli Boyadjian, Diretora do Clube Armênio; Sr. Garô Aharonian, do Conselho da Igreja Evangélica Irmãos Armênios; Sr. Alexandre Curiati, representando o Deputado Antonio Salim Curiati; Sr. Diomedes Quadrini Filho, representando o Sr. Guilherme Afir Domingos, Sr. Secretário de Estado do Emprego e Relações do Trabalho; Sr. Pizant Yeginerian, representando a Associação Cultural e Educacional Hamazkain.

A Presidência concede a palavra ao nobre Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá.

 

O SR. ARNALDO FARIA DE SÁ - Sr. Presidente, nobre Deputado Vitor Sapienza; nobre companheiro Deputado Federal Arnaldo Jardim; Sr. Valéry Mkrtoumyan, Cônsul Geral da República da Armênia em São Paulo; Sr. Kevork Kumruian, Presidente do Clube Armênio, em nome de quem cumprimento todas as demais entidades presentes.

Tenho a grata satisfação de comparecer a esta cerimônia e entregar o pleito que me fora feito pelo Sr. Kevork Kumruian, qual seja, a apresentação de um projeto de lei que instituísse o Dia da Tolerância e Respeito entre os Povos, em reconhecimento ao genocídio praticado contra o povo armênio.

O projeto é vazado nos seguintes termos: “Fica instituído o dia 24 de abril como o Dia da Tolerância e Respeito entre os Povos, em reconhecimento ao genocídio praticado contra o povo armênio.

Art. 2º: Os atos promovidos pela comunidade armênia no Brasil, na data indicada neste Artigo, 24 de abril, serão apoiados pela República Federativa do Brasil.

Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Justificativa: Principalmente entre os anos de 1915 e 1918 uma série de atos foram cometidos pelo Governo da Turquia com o propósito de exterminar o povo armênio. Foram freqüentes e sistemáticas ações com a promoção maciça de deportações, expropriações, massacres, torturas e outras atrocidades que levaram à morte cerca de um milhão e quinhentos mil armênios. Trata-se do primeiro genocídio praticado no conturbado século XX e até hoje negado pelo governo turco.

Condutas como esta são condenadas pela convenção sobre prevenção do crime de genocídio adotada pela ONU em 1948, que considera genocídio todo ato cometido com o propósito de destruir, em parte ou em sua totalidade, uma nação, etnia, raça ou grupo religioso.

No mês em curso, recorda-se intencionalmente o fato cuja data significativa é o dia 24 de abril. Hoje muitos estados já reconhecem ter havido genocídio contra o povo armênio, favorecendo a que os acontecimentos históricos sejam pesquisados, divulgados e não sejam esquecidos. É o caso, entre muitos outros países, da França, Argentina, Áustria, Canadá, Itália, Uruguai, Vaticano e Venezuela, mencionando somente alguns parceiros tradicionais do nosso país.

Em 1987, o Parlamento Europeu adotou uma resolução, estabelecendo como condição para que a Turquia venha a ser membro da comunidade com o reconhecimento do genocídio armênio. O Brasil não pode continuar a omitir-se perante tão grave acontecimento, que, embora afastado no tempo, ainda hoje produz efeitos em vários países. Houve uma verdadeira diáspora desse povo que se espalhou pelo mundo carregando parte de uma rica cultura nacional que poderá ser perdida. Só no Brasil há cerca de 70 mil armênios que esperam que se faça justiça ao hediondo crime sofrido por seu povo.

Por isso, pedimos o apoio dos nobres colegas do Congresso Nacional ao presente projeto de lei que institui o Dia da Tolerância e Respeito entre os Povos, em reconhecimento ao genocídio praticado contra o povo armênio. Espero que o Poder Legislativo continue contribuindo com a aprovação dessa composição para a disseminação de uma cultura de paz e respeito aos direitos humanos aprovando praticamente todos os atos internacionais pertinente à matéria.”

Entrego cópia deste projeto de lei ao Simão Keremian, Presidente do Conselho Nacional Armênio na América do Sul. Boa-noite, felicidades. Muita sorte ao povo armênio! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE -VITOR SAPIENZA - PPS - Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Valéry Mkrtoumyan, Cônsul Geral da República Armênia em São Paulo.

 

O SR. VALÉRY MKRTOUMYAN - Excelentíssimo Senhor Deputado Vaz de Lima, Presidente esta nobre Casa Legislativa do Estado de São Paulo, Excelentíssimo Senhor Deputado Vitor Sapienza, Presidente desta Sessão Solene, Excelentíssimo Senhor Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá, Excelentíssimo Senhor Deputado Federal Arnaldo Jardim, autoridades civis e militares aqui presentes , Senhoras e Senhores.

Permita-me, inicialmente, manifestar minha gratidão a esta nobre Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, por esta oportunidade para proferir minhas palavras nesta sessão solene, a respeito de um fato que, se já se encontra distante da nossa época, tem porém um cunho histórico muito triste. Falo aqui não só em nome do governo da Armênia, mas também pela coletividade armênia do Brasil.

Refiro-me à grande tragédia que se abateu sobre o povo armênio, executada de forma sistemática pelo governo da Turquia Otomana contra todo o povo, cujo início se deu já nos idos anos de 1895-96 e se estendeu até o ano de 1923. Durante esse período, o povo armênio foi aniquilado, exterminado e expulso de suas terras ancestrais, onde vivera por mais de três milênios. Este foi o primeiro genocídio planejado e executado no século 20 pela Turquia Otomana, levado a termo sob o véu da Primeira Guerra Mundial. E isso ocorreu sob a silenciosa indiferença das grandes potências. Não seria, portanto, em absoluto uma casualidade que a Turquia moderna, herdeira "de juri” da Turquia Otomana, tente hoje atribuir esse fato histórico ao que ela chama de "conseqüências trágicas da guerra".

Toda uma nação, com sua cultura e tradições milenares, seu potencial científico-intelectual, seus valores cristãos e sua valiosa contribuição para a civilização foi exterminada fisicamente e varrida para os desertos da Síria e Mesopotâmia. Centenas de milhares de mulheres e crianças sofreram violências indescritíveis, agressões e perseguições intermináveis, e pereceram nas estradas que levam aos desertos. A Armênia Ocidental, um dos dois segmentos bem desenvolvidos da nação armênia, foi dizimada. A liderança armênia foi exterminada barbaramente na alvorada do dia 24 de abril de 1915, pois era a intenção dos criminosos privar todo um povo de sua intelectualidade.

O Genocídio Armênio de 1915 foi o que causou a forçosa divisão do povo armênio, cuja maior parte vive hoje longe da sua pátria. A partir do restabelecimento da independência, em 1991, a Armênia livre e independente tem assumido a incumbência de proteger os interesses do seu povo, que sofreu uma trágica injustiça.

A República da Armênia registra o 24 de abril como dia de evocação e rememoração. Toda a armenidade, junto com seus amigos em todas as partes do mundo, se reúnem nesta data para reverenciar e homenagear a memória dos milhares de mártires armênios vítimas do genocídio, ao mesmo tempo para reafirmar sua determinação e o compromisso de reerguer a justiça histórica.

A restauração da justiça histórica terá um enorme significado moral e espiritual bem como um papel fundamental para garantir a segurança da Armênia. O reconhecimento do Genocídio por parte da Turquia livrará os dois povos da densa carga espiritual acumulada do passado e a complicada desconfiança, eliminando os obstáculos existentes entre os dois países vizinhos, contribuindo para o estabelecimento de um ambiente de mútua confiança, normalização das relações armeno-turcas e a estabilidade na região, com a criação de melhores condições de segurança. Do nosso ponto de vista, é possível se chegar ao estabelecimento de relações normais entre os dois paises, por meio da superação dos obstáculos, e não se evadindo dos mesmos.

Lamentavelmente, porém, a política adotada hoje pela Turquia não contribui em nada para o alcance desse processo. A República da Armênia tem declarado, por diversas vezes, sua disposição de estabelecer relações diplomáticas com a Turquia, sem pré-condições. Já a Turquia apresenta pré-condições, exigindo que a Armênia venha a renunciar das atividades que visam o reconhecimento e condenação do Genocídio Armênio, bem como da justa solução da questão de Nagorno-Karabagh, que é um território historicamente armênio. A Armênia não impõe o reconhecimento do genocídio como pré-condição para o estabelecimento de relações entre ambos os estados.

Há mais de quinze anos a Armênia encontra-se bloqueada, por seus dois vizinhos, a Turquia e o Azerbaijão, bloqueio esse adotado como atitude punitiva contra a Armênia. Essa atitude política, que visa o isolamento da Armênia da cooperação regional, não se justifica. A Armênia tem sugerido a abertura da fronteira armeno-turca, na expectativa da inclusão ativa, e positiva da Turquia no sul do Cáucaso, o que beneficiaria a ampliação dos laços comerciais e econômicos na nossa região, algo que está sendo desenvolvido atualmente através de terceiros países.

A adulteração e negação da história vêm a ser, também, uma continuidade deste crime contra a humanidade. Também hoje, a Turquia busca várias invenções para desviar a atenção da opinião pública internacional do processo de reconhecimento do Genocídio Armênio, seja através da idéia de instalação de uma comissão mista constituída por historiadores dos dois países, seja através das ameaças incessantes que ela faz contra os países que reconhecem o Genocídio Armênio, e mais recentemente, pela prova da reforma da histórica Igreja Armênia Santa Cruz, localizada na ilha de Akhtamar, no lago Van. Esta Igreja, um dos monumentos culturais e históricos armênios mais destacados da Idade Média, encontrava-se até há pouco tempo em um estado de total abandono desde 1915. Mas mesmo agora, já reformada, as autoridades turcas e os meios de comunicação não mencionaram ser aquilo uma Igreja Apostólica dos armênios. Finda a reforma, as autoridades turcas a transformaram num museu, e aproveitando este fato como motivo de propaganda, aproveitaram para que, de um jeito sem ambigüidade, fosse evitado a moção do reconhecimento do Genocídio Armênio pela opinião pública internacional. E ainda: são sistematicamente destruídas as Cruzes de Pedra (katch-kar) que comprovam a existência armênia, e a eliminação das inscrições em armênio onde quer que elas apareçam.

Há muito a Turquia vem adotando uma política ambígua de negação, tentando deturpar os fatos históricos e desviar não somente a atenção da opinião pública internacional, mas também continua a ocultá-los do seu próprio povo. Se realmente não aconteceu genocídio e não existem criminosos, como querem afirmar as autoridades turcas, então porque existem hoje tantos armênios espalhados pelos quatro cantos do mundo? Esses armênios escaparam quase milagrosamente da guilhotina turca, indo estabelecer-se permanentemente nos países das Américas, aí incluído o Brasil na Europa, no Oriente Médio. Mas é um fato relevante, hoje, que a questão do Genocídio Armênio começa a sair, aos poucos, da fala dos temas "proibidos" na Turquia, e seja objeto de amplo estudo e análise nas esferas públicas daquele país.

O Genocídio Armênio de 1915 não é apenas uma tragédia do povo armênio. Ele é considerado um problema sério também para toda a humanidade quanto ao seu reconhecimento formal e conseqüente condenação, uma vez que o pisoteio gritante contra os direitos humanos ao não ser condenado veementemente no devido tempo, mais tarde daria motivo para a ocorrência de muitos outros atos de genocídios e crimes lesa-humanidade em diferentes cantos do mundo.

A evocação das vítimas inocentes do Genocídio Armênio não é uma homenagem de respeito e confraternização meramente para com o povo armênio, mas é principalmente um apelo de cautela para toda a humanidade, para que se leve adiante a luta incessante contra a repetição de- crimes semelhantes. De qualquer modo, vê-se que a ampliação do quadro geográfico dos países e estados que reconhecem e condenam o Genocídio Armênio, e esse processo certamente alcançará sua conclusão lógica.

Senhoras e Senhores, permitam-me refletir, de forma sucinta, sobre as relações armeno-brasileiras. No continente da América do Sul, a Armênia dá grande importância ao desenvolvimento das relações com o líder Brasil. A cooperação entre nossos dois países está em ascendência, abrangendo as esferas política, econômica, comercial, cultural e outras. O Consulado Geral da Armênia vem atuando em São Paulo há nove anos, e desde o mês de setembro de 2006 a República Federativa do Brasil instalou sua representação diplomática em Yerevan, a única ao sul do Cáucaso. Foi decidida, simultaneamente, a instalação da embaixada da Armênia no Distrito Federal, em Brasília. Todos estes fatos eloqüentes vêm a comprovar o aprimoramento das relações armeno-brasileiras, em prol da cooperação mútua e setores multilaterais. Esta cooperação é notável principalmente na ONU e demais estruturas internacionais de destaque.

Aproveito o ensejo para manifestar, mais uma vez, em nome do governo da República da Armênia, nossa profunda gratidão à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, pela adoção da moção no mês de abril de 1988, que instituiu o "Dia de solidariedade para com o povo armênio", alterando-a em março de 2003 para "Dia de homenagem e rememoração aos 1,5 milhão de mártires armênios, vítimas do genocídio em abril de 1915". Manifestamos também a nossa gratidão à Câmara Municipal de São Paulo, que reconheceu o Genocídio Armênio em setembro de 2005. e fez ainda um apelo para o Senhor Presidente da República, para que também o Congresso Nacional do Brasil reconheça o Genocídio Armênio. Nossos sentimentos de gratidão se estendem ainda às Câmaras Municipais das cidades de São José do Rio Preto e Americana, ambas no Estado de São Paulo e à Câmara Municipal de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, as quais reconheceram o Genocídio Armênio e declararam o dia 24 de abril como dia de homenagem aos mártires armênios e solidariedade para com o povo armênio.

A República da Armênia tem a esperança de que, num futuro próximo, o Congresso Nacional da República Federativa do Brasil também adote moção reconhecendo e condenando o Genocídio Armênio, pois nossos dois países professam os princípios alicerçados nos valores universais, em prol da proteção dos direitos humanos, pela preservação dos direitos fundamentais e pelo fortalecimento cada vez mais da democracia. Isto será mais um passo significativo a caminho do reconhecimento internacional do Genocídio Armênio. Obrigado por vossa atenção.

 

O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Esta Presidência registra o recebimento de telegramas de apoio enviados pelo Deputado Aloysio Nunes Ferreira, Secretário-Chefe da Casa Civil; Antonio Roque Citadini, Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado; José Aristodemo Pinotti, Secretário de Ensino Superior; Dr. Evanir Ferreira Castilho, Juiz Presidente do Tribunal de Justiça Militar; Profª Maria Lúcia Vasconcelos, Secretária Estadual de Educação; Dr. Guilherme Afif Domingos, Secretário das Relações do Trabalho; Dr. Antonio Carlos Caruso, Presidente do Tribunal de Contas do Município; Dr. Luiz Roberto Barradas Barata, Secretário Estadual de Saúde; Dr. João Sampaio, Secretário da Agricultura e Abastecimento.

Com satisfação concedo a palavra ao nobre Deputado Federal Arnaldo Jardim.

 

O SR. ARNALDO JARDIM - Nobre Deputado Vitor Sapienza, que preside esta Sessão Solene, prezado amigo, amigo da causa Armênia; Sr. Cônsul-Geral, quero saudá-lo e dizer da nossa alegria de termos o senhor aqui no convívio em São Paulo; evocar até pela presença de sua filha, do Cônsul, que esteve aqui durante um largo período, e que prestou uma colaboração muito importante à nossa comunidade; saudar cada um dos representantes das nossas diversas entidades, clubes de serviços, segmentos religiosos, socorro armênio, todas as entidades importantes que têm mantido viva a chama da Armênia em São Paulo e no nosso país. É uma alegria sempre ver aqui a união da juventude armênia, marcando uma presença vibrante e alegre em todos esses eventos que apontam para o futuro.

A Assembléia Legislativa de São Paulo tem uma história muito positiva. Foi iniciada já no período bastante anterior, pelo então Deputado Wadih Helú, que sistematicamente fez do dia 24 o momento, como disse o Cônsul, de evocarmos a memória dos mártires, reafirmarmos os compromissos com o reconhecimento e apontarmos no sentido da constituição da Nação Armênia. Ao longo dos últimos oito anos eu tive a honra de, nesta Assembléia, propor a convocação desta sessão, que ao longo dos anos tomou diversos formatos. Estou extremamente satisfeito em ver o Deputado Vitor Sapienza continuar essa sina, que, antes de tudo, é um compromisso da Assembléia com a causa armênia.

Nos jardins da Assembléia, onde em um dos anos fizemos nosso ato de evocação, temos a Cruz de Pedra, a lembrança de uma transição muito importante. O Cônsul fez uma intervenção muito substantiva, dando o quadro daquilo que pensa hoje o governo da Armênia sobre sua inserção no contexto das nações; de que forma generosa tem combinado sua política de reivindicação de reconhecimento, que tem nosso irrestrito apoio, com a disposição de dialogar, de se integrar na região e no mundo.

Sabemos que o reconhecimento do genocídio, a reivindicação sobre Nagorno-Karabagh, são questões muito gratas ao povo armênio, fundamentais para a afirmação da nacionalidade. Mas foi dito aqui que se busca fazer isso de forma a que as nações se integrem, estabelecendo um novo diálogo.

Vou me aventurar a fazer três considerações sobre em que contexto essa luta e este nosso compromisso devem continuar. Primeiro, o fato de a Turquia estar fazendo um esforço para se integrar à Comunidade Européia causa um peculiar momento importante que a nação Armênia tem sabido aproveitar e que nos faz ter a necessidade imperiosa de intensificar os esforços pelo reconhecimento do genocídio. Há uma situação favorável. O fato de próprios intelectuais turcos estarem neste instante abrindo dissidências internas, questionando a postura oficial do Governo Turco, faz com que haja necessidade premente de que essa luta seja reiterada.

Tivemos a notícia de uma iniciativa, que saúdo, do meu colega, amigo, Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá. Quero anunciar que agora, numa condição peculiar, pois fui eleito deputado federal, integro no Congresso a Comissão de Relações Internacionais. Estamos entrando com uma moção similar de reconhecimento ao genocídio e foi nesses termos que nos pronunciamos, como bem sabe Dr. Simão Kerimian, no dia 24 de abril, no Plenário do Congresso Nacional.

Temos uma outra circunstância importante: o fato de que o Brasil ter intensificado seu relacionamento Brasília e Yerevan, a abertura da Embaixada no Brasil, nossa representação naquele local, a única naquela parte do continente. É muito importante que possamos acompanhar a reivindicação do aumento das relações econômicas, sociais e culturais do povo armênio com o povo brasileiro. É com base nisso que reitero minha disposição.

Nesse encerramento, permitam-me fazer uma pequena consideração pessoal. Do ano passado para cá, além dessas modificações políticas, dessas alternâncias que tivemos, ocorreu um fato pessoal da minha família, que penso também atinge a comunidade armênia.

O meu sogro, Fernando Gasparian, faleceu em outubro do ano passado. Ele sempre esteve conosco nessas lutas. O estabelecimento da Embaixada do Brasil na Armênia e da Armênia no Brasil teve nele um elemento muito dinamizador. Por conta das convicções que tenho pela tolerância, pela necessidade de se impedir os genocídios que continuam, como bem disse a nossa juventude - o exemplo mais recente é o do Sudão -, e também de uma forma pessoal, por conta da memória de Fernando Gasparian, quero reiterar a minha amizade, o meu aplauso ao povo armênio, o meu reconhecimento pela colaboração formidável que faz ao nosso País em todos os aspectos da nossa vida, homenageá-lo é ter um compromisso cada vez mais profundo com a causa armênia.

Parabéns a todos. Que nossos mártires vivam na memória, na disposição de luta de cada um de nós. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Assistiremos agora à apresentação do Coral Zahakn Minassian, do Clube Armênio, sob a regência do Maestro Yuri Jaruskevicius, com as músicas Hairn Ner, Vokerk Nahadagan, Dvogeru Vran e Erevan Erpuni.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - VITOR SAPIENZA - PPS - Parabéns, maestro. Sr. Cônsul, Autoridades, caro amigo Deputado Arnaldo Jardim, meus senhores e minhas senhoras, a relação de amizade com a comunidade armênia já data de algumas dezenas de anos. Vejo aqui duas figuras que me marcaram muito; Ascensão Seraphião, meu colega de faculdade, e o meu grande amigo João Besni. Fui convidado por um grande amigo e irmão, também ligado à comunidade, Arnaldo Jardim, marido da Helena, genro do grande e ilustre Deputado Fernando Gasparian, para requerer esta solenidade que me marca muito.

Fiz algumas pesquisas para saber se eu teria condições de me dirigir a vocês e, pelo fato de ter nascido no bairro do Bom Retiro, vizinho dos bairros da Luz e de Santana, consegui alguma coisa que me permitiria ler:

“Nos meus sonhos eu vi um menino correndo no bairro que conheci tão bem. Fui menino nos arredores dos bairros da Luz, Bom Retiro, é verdade, num tempo distante que, por mais ingrato que seja, não consegue apagar da memória aqueles dias felizes. Nos meus tempos de menino no Bom Retiro, eu conhecia cada canto do meu bairro e dos vizinhos e, nas minhas andanças, eu achava estranha aquela capela na Av. Tiradentes, onde se rezava missa quase igual ao rito da Igreja Católica Apostólica Romana.

Enquanto recordava a minha infância, eu traçava um paralelo com o menino que, alheio aos carros que passavam, vendo uma pequena obra de arte, ficou ali, tentando entender o que os homens registraram no mármore do Monumento em Memória aos Mártires Armênios, junto à Avenida Tiradentes.

Tanto no ginásio, como no colegial, eu nunca tinha ouvido falar no massacre do povo armênio, praticado pelos turcos. De olho no monumento, e ainda não letrado o suficiente para entender o conteúdo da mensagem; talvez nem fosse informado o suficiente pare ler o verso curto, contundente, dramático. Bendita a infância que nos dá o direito de questionar, de sonhar, de ignorar as loucuras daqueles que se dizem sábios, os adultos. Doce é a infância, paradoxo da vida que não poupa os seres desafortunados pelas tragédias. Dizia o registro: ‘Mesmo que amarrem as minhas mãos, acorrentem meus pés, tapem a minha boca, meu coração gritará por liberdade’.

Dentro de sua ingenuidade, certamente eu, o menino, nada entendi. E no meu silêncio e na minha revolta, respaldadas pelos anos vividos, pelas rugas que hoje se acumulam na face, comparei os fatos que se repetem, e cheguei à conclusão de que, se o massacre do povo armênio tivesse sido denunciado em todo o mundo, certamente o holocausto do povo judeu não teria acontecido. E, infelizmente, tive que concordar com o antigo ensinamento: “Quem não aprende com a história está condenado a repeti-la”.

A amarga realidade dos nossos dias mostra que o ser humano ainda não aprendeu. Novos massacres vieram, e infelizmente a barbárie continua, traduzida na fome, na miséria, na opressão, na luta pelo poder, na postura de governos e seus inimigos, ao longo dos tempos. Fatos comuns nos dias de hoje, principalmente no continente africano.

O monumento torna inesquecível para as novas gerações as dores de um povo, massacrado em abril de 1915. Mas, não fiquemos apenas no protesto registrado no mármore escuro. Que o nosso brado seja, hoje, o da revolta para que a violência que vitimou milhares de armênios não seja esquecida, mas que seja banida dos nossos atos.

Somente assim, tenho a certeza de que aquele menino possa parar mais uma vez em frente àquele monumento, sabendo o que realmente aconteceu. E que, em seguida, possa sair envergonhado de um fato que, queira Deus, jamais se repetirá.” Minhas homenagens ao heróico povo armênio. Muito obrigado. (Palmas).

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.(Palmas.).

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 32 minutos.

 

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