11 DE ABRIL DE 2003

6ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS 130 ANOS DE HISTÓRIA DA ESCOLA ESTADUAL CULTO À CIÊNCIA, DE CAMPINAS

 

Presidência: RENATO SIMÕES

 

 

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 11/04/2003 - Sessão 6ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: RENATO SIMÕES

 

HOMENAGEM PELOS 130 ANOS DA ESCOLA ESTADUAL CULTO À CIÊNCIA

001 - RENATO SIMÕES

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Anuncia que a sessão foi convocada pela Presidência da Casa, atendendo à solicitação do Deputado ora na Presidência, com a finalidade de homenagear os 130 anos da história da Escola Estadual Culto à Ciência, de Campinas. Convida todos a ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - CREUSA SCHENKEL

Como professora e historiadora, disserta sobre a importância da educação. Discorre sobre as origens da Escola Culto à Ciência. Fala sobre a biografia de Júlio Franh, cujas idéias nortearam os fundadores daquela Escola.

 

003 - LUIZ ANTÔNIO DE FREITAS RODRIGUES

Professor da Escola Estadual Culto à Ciência, trata de suas variadas realizações do longo destes 130 anos de atividades.

 

004 - SERGIO RONDINO

Ex-aluno da Escola Culto à Ciência e Diretor de Comunicação da Assembléia Legislativa de São Paulo, registra a feliz coincidência de trabalhar nesta Casa. Recorda sua vida estudantil naquela escola.

 

005 - MARCOS PIMENTEL BICALHO

Também ex-aluno da Escola Estadual Culto à Ciência, representa a Prefeita de Campinas, a Professora Izalene Tiene, e na qualidade de Secretário Municipal de Transportes, agradece o convite para participar da sessão e homenageia a Escola Culto à Ciência. Fala do governo de reconstrução da cidade de Campinas.

 

006 - Presidente RENATO SIMÕES

Homenageia a direção e o corpo discente da Escola Estadual Culto à Ciência.

 

007 - CARLOS SIGNORELLI

Vereador à Câmara Municipal de Campinas, enaltece o ensino da Escola Estadual Culto à Ciência e narra um pouco de sua experiência estudantil no Colégio Vitor Meirelles, rival daquele.

 

008 - Presidente RENATO SIMÕES

Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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 - É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Sidney Beraldo, atendendo à solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear os 130 anos da história da Escola Estadual Culto à Ciência, de Campinas.

Quero saudar, em nome da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o nobre Vereador Carlos Signorelli, Presidente da Câmara Municipal de Campinas, a Professora Solange Gomes, vice-Diretora da Escola Estadual Culto à Ciência, a Professora Clarice Engler, Coordenadora Pedagógica da Escola, o Professor Luiz Antonio de Freitas Rodrigues, que representa neste ato a Professora Silvana Ribeiro de Carvalho Gazzeta, Diretora da Escola, o Professor Antonio Éuler Lopes Camargo, assessor cultural da Escola, e a Professora e Historiadora Creusa Schenkel, que nos honra com sua presença na Mesa Diretora dos trabalhos. Quero saudar também todos os atuais alunos e alunas, todos os ex-alunos e ex-alunas, professores e professoras, membros da equipe de profissionais que compõem a Escola Estadual Culto à Ciência, bem como todos aqueles que acompanham esta Sessão Solene pela TV Assembléia.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional, executado pelo Coral da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta Presidência agradece ao Coral da Polícia Militar e ao seu maestro, Tenente PM Clébio de Azevedo, por ter colaborado com esta Sessão Solene.

Tenho a honra de registrar também a presença do Sr. Secretário de Transportes do Município de Campinas, que neste ato representa a Professora Izalene Tiene, Prefeita Municipal de Campinas, bem como a presença nas galerias da nobre Vereadora Maria José Cunha, integrante da Câmara Municipal de Campinas. Quero também anunciar a presença da Professora Márcia M. D. Signorelli, esposa do Vereador Signorelli, que se encontra conosco neste Sessão Solene.

Nós imaginamos esta Sessão Solene sempre com uma tripla dimensão. Em primeiro lugar, quando olhamos o passado de uma instituição, procuramos entender o que ela significou, o que ela significa, entender, à luz da história, de que forma estamos integrando um movimento que não começou conosco e que com certeza também não terminará conosco. Uma escola que completa 130 anos de idade, sobrevivendo a várias políticas educacionais, que foram, ao longo dos anos, depreciando a escola pública, é uma escola que tem alicerces sólidos. E os alicerces da Escola Culto à Ciência vamos rememorar ao analisar, discutir e homenagear o seu passado.

Ao mesmo tempo em que olhamos para o passado, olhamos para o presente de uma escola que, como tantas outras escolas públicas de São Paulo, sofre as marcas de abandono, de falta de investimento, de falta de estímulo à continuidade da sua história. Uma escola que possui um patrimônio invejável, único entre as escolas do interior paulista e outras escolas do nosso Estado e que, ao longo dos anos, foi sofrendo marcas dessas políticas educacionais desastradas que marcaram o nosso Estado.

Rememorar o passado também é olhar para o presente com o olhar crítico e observador, com olhar que muitas vezes beira a indignação, mas que nos aponta para um terceiro movimento, uma terceira dimensão, que é justamente a dimensão do futuro. Está nas nossas mãos o futuro desta escola, o futuro de uma escola que tem ainda muito a fazer para cumprir o seu papel educacional. É uma escola que tem muito a fazer pela formação da nossa juventude. É uma escola que tem potenciais que poucas escolas do nosso Estado podem reunir. De modo que é rememorando e lembrando o passado, analisando e denunciando o presente e olhando com esperança para o futuro que cabe a nós construir, é que abrimos esta Sessão Solene, agradecendo muito àqueles que vieram até São Paulo para que, na Assembléia Legislativa, na Casa do Povo de São Paulo, no Poder Legislativo, possamos prestar esta homenagem, que é sempre um estímulo para que possamos continuar trabalhando e lutando.

Passei sete anos da minha vida nesta escola. Moro até hoje no bairro do Botafogo, onde convivíamos com tantos outros jovens que também, naqueles anos 70, aspiravam a uma sociedade mais justa, mais igualitária, mais fraterna e mais democrática. Período difícil da história do Brasil, período ditatorial em que tínhamos, no Culto à Ciência, possibilidade de um sólido alicerce para preparar o nosso futuro. Naquele período, disputávamos vagas, para entrar no Culto à Ciência, com centenas de alunos de escolas privadas que reconheciam na escola pública a qualidade de ensino que beirava excelência e que o Culto à Ciência oferecia.

Não é à toa que, quando fomos procurados pelo professor Éuler para discutir esses 130 anos, não tivemos dúvida de achar que a Assembléia Legislativa poderia fazer a sua máxima homenagem, através de uma Sessão Solene, como esta que estamos realizando, para que o Estado de São Paulo inteiro, e o Governo do Estado, através do Poder Legislativo, possa ver nesta homenagem um grito de uma escola que quer continuar sendo aquilo que foi, aquilo que é, sempre com melhor qualidade de ensino, oferecendo à juventude uma perspectiva de cidadania que queremos sempre continuar alimentando.

Muito obrigado a todos vocês que vieram a esta sessão. Para abrir a nossa sessão de homenagens, queríamos convidar a historiadora Creusa Schenkel, para que use da palavra por dez minutos, para que possa nos rememorar alguns dos períodos fundamentais, algumas das marcas fundamentais da história do Culto à Ciência.

Vamos então, neste momento, iniciar a fase do olhar para o passado, do entender o passado, do buscar na história as raízes dessa escola e as razões da sua sobrevivência até hoje. Tem Sua Senhoria a palavra e agradeço muito a contribuição da Profª Creusa.

 

A SRA. CREUSA SCHENKEL - Nobre Deputado Renato Simões, na pessoa a qual saúdo as demais autoridades presentes, minhas senhoras, meus senhores, falar no dia de hoje, no momento em que se propugna entre os professores por uma escola pública de melhor qualidade, falar sobre a importância histórica do Colégio Culto a Ciência é falar sobre a importância da educação.

Todos nós sabemos que esta escola foi fundada por um jovem grupo de maçons. Esse grupo de jovens maçons, muitos deles eram advogados e ligados ao pensamento de Júlio Frank . Júlio Frank era um professor de filosofia que fugira da Europa devido à sua atuação política por ideais libertários, e se refugiou no Curso de Direito de São Paulo, onde lecionou por diversos anos e onde veio a falecer. Seu túmulo pode ser visitado nessa importante Instituição de ensino.

Júlio Frank criou ao seu redor uma sociedade de alunos chamada de Burstenschaft, onde se estudava e discutia questões sócias, políticas , religiosas. Esses jovens da região de Campinas, na irreverência própria da sua idade, e devido à incorreção da pronúncia desse termo em alemão, passaram-se a de identificar como bucheiros.

Foram esses estudantes, que abrilhantaram uma importante instituição e existente até hoje em Campinas a Loja Maçônica Independência. Essa Loja Maçônica está situada na rua que leva o nome de um deles e que foi Presidente do Brasil: Campos Salles.

Pediria, senhores, que atentassem ao nome francamente positivista da escola Culto à Ciência. Esse nome nos remete a um dos ideólogos mais importantes do movimento republicano, não só paulista como carioca. Aos cariocas foi levado por Benjamin Constant, na Escola Militar. Estou-me referindo a Augusto Comte, e a sua filosofia positivista. Durante muitos anos , a biblioteca do Culto à Ciência continha no Brasil o maior acervo do pensamento positivista.

A Loja Maçônica Independência foi um dos berços do movimento republicano, e em muitos ângulos, positivista. Lá se reuniram Campos Salles, Francisco Glicério , Bernardino de Campos e por vezes Prudente de Moraes. Todos eles, com exceção de Francisco Glicério, pertenceram à Buerstenschaft. E foi nessa instituição , que resolveram fundar o Colégio Culto à Ciência.

O Colégio Culto à Ciência foi uma iniciativa de particulares, como já dizia o convite de sua inauguração em 13 de abril de 1873, Onde o estado se exime, cabe à sociedade civil arcar com as responsabilidades, diziam seus idealizadores.

Inicialmente foi um colégio destinado a atender a parte mais carente da população. No entanto, logo viria ser um celeiro de ideais e de produção de conhecimento. Inúmeros foram seus alunos que brilharam nos campos da ciência, da cultura, da educação, da política, do jornalismo.

Citar todos os filhos brilhantes desse colégio seria uma tarefa colossal. Entre inúmeros, poderemos nomear como Santos Dumont, D. João Néri , Júlio de Mesquita, pai e filho, Azael Lobo, Dr. Penido Burnier, Francisco Amaral , Edivaldo Orsi , todos os irmãos Sevá, Renato Sabbatini, Ítala Loffredo´s Ottaviano , Maria Inês Fini, José Álvaro Moisés, Heitor Regina, Eduardo Coelho, João Tojal, Renato Simões, Regina Duarte, Fausto Silva, Sérgio Rondino, Carlos Zara, Egas Francisco, etc., etc, etc.

Grandes mestres passaram pelo Culto à Ciência. A escola teve entre seus membros Coelho Neto, César Bierrenbach, Ernesto Kulhmann, Erasino Braga, Biojone, Margot Proença, Benedito Sampaio e seus filhos Francisco e Quinita Sampaio, Lúcia Martinez Ruegger, etc.

Entre os professores dirigentes dessa escola mencionamos Aníbal de Freitas, durante muitos anos professor e depois diretor. Também professor Telêmaco Paioli Melges, que dá nome ao auditório da escola, foi um diretor que muito marcou os alunos.

Senhores, permitam-me uma consideração de ordem pessoal. Considero que o ato educativo é uma atividade humana intencional e uma prática social. Considero a educação como uma relação de influências entre pessoas, voltada para fins desejáveis no processo de formação, conforme opções do educador quanto à sua concepção de homem e sociedade, implicando escolhas, valores, compromissos éticos. A educação insere-se, por conseguinte, para além do processo individual ou relação interpessoal, em um conjunto de relações sociais, econômicas.

A Educação insere-se, por conseguinte, para além do processo individual ou relação interpessoal, em um conjunto de relações sociais, econômicas, políticas, culturais que caracterizam uma sociedade.

Hoje, como diretora de uma escola estadual que atende áreas de ocupação de extrema carência como o Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Jardim do Lago II, com uma população vinda de todos os quadrantes de nossa pátria, a grande maioria excluída do nosso sistema social, diuturnamente, vejo os professores dessa escola se esforçarem para dar o melhor de si para formar cidadãos dignos como fizeram, e fazem, os mestres do Culto à Ciência, por tantos e tantos anos. Lembro-me então que os fundadores do Culto à Ciência, ao criarem uma escola para atender a população carente, deram origem a jornalistas, políticos, cientistas, prefeitos, artistas, professores, educadores, excelentes cidadãos que têm procurado fazer o melhor para sua pátria em todos esses anos.

Então, me vem à mente o seguinte pensamento: Pensar a Escola Pública, hoje, é pensar Brasil.

Muito obrigada! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta Presidência agradece as palavras da professora Creusa Schenkel, nessa rápida olhada pelo passado do Culto à Ciência. Antes de passar a palavra ao próximo orador, quero registrar que também temos presente a Sra. Maria Neusa Lira, que representa neste ato o Sr. Presidente da Fundação José Pedro de Oliveira, que é administradora da Mata Santa Genebra, em Campinas, Professor Genival Cortes. Assim, agradecemos a presença da Fundação José Pedro de Oliveira.

Passo a palavra ao Professor Luiz Antônio de Freitas Rodrigues para as suas considerações.

 

O SR. LUIZ ANTÔNIO DE FREITAS RODRIGUES - Exmo. Sr. Deputado Renato Simões, caros colegas e alunos, Senhoras e Senhores. A Escola Estadual Culto à Ciência de Campinas, dirigida pela professora Silvana Ribeiro de Carvalho Gazzetta, neste ato representada por mim, professor Luiz Antônio de Freitas Rodrigues, manifesta seu elevado orgulho e sente-se altamente honrada em apresentar-se perante esta novel Casa de Leis na comemoração do seu centésimo trigésimo aniversário.

Cento e trinta anos de fecundo trabalho em prol da coletividade paulista de Campinas na tentativa concreta e sempre presente de realizar o sonho de seus abnegados fundadores. Antônio Pompeo de Camargo e o Visconde de Indaiatuba fundaram a “Escola que deu certo”, na formação de cidadãos conscientes e participantes da vida cultural e política da cidade, do estado e do país.

Grande lentes e mestres lecionaram nesta Escola e deixaram exemplos de honradez e dedicação, virtudes essas que são professadas pelos docentes atuais.

Com participação sempre destacada nos campeonatos esportivos e olimpíadas culturais, a Escola está inserida na rede estadual de ensino do Estado de São Paulo e afinada com os propósitos educacionais da Secretaria de Educação, desenvolve projetos nas áreas de informática, teatro, dança, além dos interdisciplinares, com o inestimável apoio da sua Associação de pais e mestres e da Sociedade dos Amigos do Colégio Culto à Ciência.

Atualmente, as instalações físicas da Escola estão recebendo uma grande reforma e sabemos que, após a reforma do prédio, outros recursos serão destinados pelo Governo do Estado, recursos esses que certamente contemplarão os anseios dos professores e funcionários e permitirão que novos e ousados projetos sejam desenvolvidos.

Com o objetivo maior de continuar prestando à população campineira uma educação de alto nível e sempre comprometida com a comunidade, esperamos que esta Escola seja sempre cenário de grandes realizações educacionais, que os alunos e professores que aqui passarem possam usufruir de nossos propósitos, que perpassam os ideais de cultura e sabedoria, ao longo de seus cento e trinta anos.

A todos, muito obrigado! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Agradeço ao professor Luiz Antônio e quero, na pessoa de S. Sa., cumprimentar a direção da Escola, agradecer à Sra. diretora, pelo esforço que fez de viabilizar a vinda dos alunos para esta sessão solene.

 

 O SR. LUIZ ANTÔNIO DE FREITAS RODRIGUES - O senhor pode saber que esse agradecimento é recíproco, pelo reconhecimento desta Casa ao nosso trabalho.

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Muito obrigado. Estamos bastante sensibilizados pela presença da Direção da Escola, que realmente não mediu esforços, principalmente ao longo desta semana, para viabilizar a nossa sessão solene.

Quero convidar dois ex-alunos a fazerem algumas considerações sobre a Escola Culto à Ciência. São pessoas que lá passaram anos de sua vida e que agora também poderão contar um pouco do que o Culto à Ciência significou na sua trajetória pessoal, de vida, como também na sua trajetória profissional.

Convido a fazer uso da palavra o jornalista Sérgio Rondino, que é o Diretor de Comunicação da Assembléia Legislativa de São Paulo e, entre outras atividades, dirige a TV Assembléia, tendo estudado até o ano de 1966 na Escola Culto à Ciência.

Tem V. Sa. a palavra.

 

O SR. SÉRGIO RONDINO - Sr. Presidente, quero registrar, primeiramente, a minha alegria pela feliz coincidência de trabalhar nesta Casa, no momento em que a Assembléia, por iniciativa do Deputado Renato Simões, Presidente desta Sessão, homenageia nosso tradicional e queridíssimo Colégio Culto à Ciência.

Quero ainda agradecer pela honra de falar em nome dos ex-alunos do colégio. Sinto-me honrado, porque não conheço um só dos meus companheiros de escola - aqui ou em Campinas - que não diga com orgulho que é um ex-aluno do Colégio Culto à Ciência. Não é fácil encontrar uma escola que reúna tanto carinho, tanto amor das pessoas que por lá passaram.

Parabenizo a iniciativa do Presidente, Deputado Renato Simões, por convocar esta Sessão Solene, pois a homenagem é mais do que justa, mais do que merecida. Esta sessão não é só importante como registro histórico ou emotivo, mas, mais do que isso, uma nova oportunidade, que devemos repetir sempre, de cobrar dos nossos governantes a valorização do ensino público no Brasil. Essa é uma bandeira que não devemos deixar jamais que seja arriada, e essa oportunidade é mais uma que temos de lutar por ela.

Quero ressaltar um aspecto que me orgulha e me parece muito marcante na vida do Colégio Culto à Ciência: a participação tanto de alunos quanto de ex-alunos na história do colégio. Isso é fundamental não só na formação da cidadania, mas principalmente na formação pessoal dos que passam por uma escola. O Culto à Ciência deu na minha época, eu me lembro muito bem, exemplos sempre marcantes nesse sentido.

Tínhamos uma vida bastante movimentada no Colégio, e o meu querido amigo, Professor Antônio Éuler, sabe muito bem, porque dividiu comigo aqueles tempos em que procurávamos, com a compreensão e ajuda da direção do Colégio, incentivar a participação dos alunos no que chamávamos de realidade brasileira. Buscávamos despertar consciências e fazer com que nossos colegas tivessem uma noção clara e precisa da realidade que nos cercava. Queríamos quebrar a alienação, eram essas as palavras, e fazer com que as pessoas

participassem no sentido de transformar a realidade que nos cercava e buscar uma escola melhor, uma cidade melhor, um país melhor.

Essa atividade nos levava a ter um jornal na escola que se chamava “Folha do Estudante”. Fazíamos festa - é claro que nos divertíamos também - para arrecadar dinheiro e imprimir o jornal que circulava no Colégio e fora dele. Uma das bandeiras principais era sempre a melhoria das condições do ensino público no Brasil.

Tínhamos um carinho especial pelo Centro Colegial Culto à Ciência, o grêmio da escola na época - não sei se hoje continua com o mesmo nome ou tem outro -, do qual, com muito orgulho, fui presidente nos anos 1964/1965. Quando falo essa data, Sr. Presidente, V. Exa. deve imaginar que não foi muito fácil. Foi exatamente em seguida ao golpe militar, o que gerou alguns probleminhas, para dizer o mínimo, mas foi uma experiência marcante na vida.

O trabalho do Centro Colegial era basicamente esse. Lutávamos para ampliar a participação dos nossos colegas na vida do colégio e na vida nacional. Essa participação era tão marcante que chegou ao exemplo que considero raro, senão único, num Colégio brasileiro, ou seja, após deixarem o colégio, os alunos formarem, como aconteceu recentemente, a Sociedade Amigos do Culto à Ciência, da qual fazem parte os Professores Éuler e João Tojal.

Eles, entre tantos outros, por amor ao colégio, procuram se unir e colaborar para que algumas coisas mínimas necessárias a uma escola possam ser realizadas com a ajuda dos que não estão mais lá, mas devem ao ensino público muito da sua formação. Por isso, colaboram o máximo possível para que outros tenham a mesma oportunidade que tiveram.

Participação é a marca que quero deixar registrada, e gostaria muito que vocês alunos a tivessem com mesma intensidade com que tivemos naqueles anos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta Presidência agradece ao jornalista Sérgio Rondino, não só pelas palavras, mas também pela contribuição dada pela TV Assembléia na divulgação, ao longo desta semana, sobre o Colégio Culto à Ciência. Tivemos agora, ao vivo, em duas entradas no Jornal da Assembléia, notícia desta sessão solene.

Queremos dar a palavra a outro ex-aluno, neste ato representando a Prefeita de Campinas, Professora Izalene Tiene, que lamentou não estar presente, uma vez que hoje, além de outras atividades além de outras atividades, no final da tarde, tinha uma assembléia do orçamento participativo no Distrito Souzas. Mas a prefeita Izalene Tiene escolheu para representá-la um secretário municipal que também estudou na Escola Culto à Ciência, o que torna essa representação duplamente importante para nós. Convido a fazer uso da palavra, em nome da Administração Municipal de Campinas, o Dr. Marcos Pimentel Bicalho, Secretário Municipal de Transportes.

 

O SR. MARCOS PIMENTEL BICALHO - Boa noite a todos, senhoras e senhores, alunos, professores, em primeiro lugar queria agradecer esse convite e parabenizar essa homenagem à Escola Culto à Ciência.

Gostaria de fazer duas observações rápidas. A primeira oficial, na condição de secretário municipal de Campinas, acho que este momento é muito especial. Vivemos um momento importante em Campinas, vivemos um governo de reconstrução, a cidade passou por uma série de problemas e a nossa missão agora, não só do governo, mas de toda a cidade, é um projeto de reconstrução. Vivemos também no Brasil um momento muito especial, um governo que também tem um desafio enorme de apontar para este país um rumo diferente.

Nessas duas experiências, enxergamos dois desafios importantes com otimismo, sabemos das dificuldades, é uma missão muito grande para todos nós. Essa homenagem ao Culto à Ciência é simbólica, porque fala de educação e fala uma coisa fundamental, que é o resgate do espaço público, do serviço público, e a escola Culto à Ciência foi e ainda é uma referência nesse sentido, talvez não tanto quanto foi no passado, mas esperamos que volte a ser no futuro.

A segunda observação é mais pessoal, minha opinião como ex-aluno. Passei sete anos na Escola Culto à Ciência, num período diferente, entrei em 1968, foi uma fase muito boa.

Até hoje tenho grandes amigos daquela época. Fiquei fora de Campinas por um tempo e mantenho até hoje vínculos com a escola e com as pessoas. É muito bom ver esse símbolo que vocês têm no peito. Esse distintivo do colégio é uma coisa forte, todos temos orgulho da Escola Culto à Ciência e esperamos que vocês, mesmo em conjuntura diferente, carreguem isso para frente.

Encerro parabenizando a Assembléia Legislativa e o nobre Deputado Renato Simões por essa iniciativa e parabenizando vocês que são hoje a nova geração da Escola Culto à Ciência, principalmente os alunos, mas também os professores, que têm uma tarefa que é manter essa idéia e conseguir levar no nível que ela sempre existiu. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Muito obrigado, Professor Bicalho, quero que V. Sa. também leve à prefeita nossos agradecimentos pela presença da prefeitura nesta homenagem. Antes de passar a palavra ao último orador da noite, queria dizer aos senhores que, na pessoa da professora Solange, vice-diretora, e da professora Clarice, a coordenadora pedagógica da escola, queríamos saudar muito efusivamente não só o corpo diretivo, o que já fizemos na pessoa do Sr. Luiz Antônio, que falou em nome da diretora, mas também a todos os professores que passaram e que estão hoje na Escola Culto à Ciência.

Culto à Ciência é uma escola de muitas histórias, não só de histórias com “h”, mas de estórias com “e”. Todos os que passaram por lá, ou todos nós, sempre estamos ouvindo as histórias do Culto à Ciência, a história de professores que ficaram famosos por terem passado 20, 30 anos dentro da escola, professora Maria Bonjour, por exemplo, professora de francês, que incorporou ao nome o “bonjour” que dava quando entreva na sala de aula; a professora Gledes Pierre, professora de música, que tinha um piano, na minha época já não estava tão afinado assim, mas uma professora que incutiu nos alunos uma cultura musical mais rebuscada.

Lembro-me do professor Amauri, de matemática; sua irmã, professora Alzenda, foi vereadora em Campinas; professor Pedrinho, de história, passava brilhantina no cabelo, os alunos tiravam o maior sarro, uma pessoa que incutiu nos alunos o gosto pela história, que tinha aquele compêndio .tirava o maior sarro do professor, foi uma pessoa que incutiu nos alunos o gosto pela História, que tinha aquele compêndio do Borges Ermida. Nem sei se existe ainda, se é usado, professora? Não se usa mais.

Era uma coisa interessante, porque folheávamos o livro do Borges Ermida e líamos lá a assinatura das pessoas célebres da escola, subíamos na biblioteca para ver aqueles livros do século anterior. Eu estava no centenário da escola, quando abrimos, revolvemos a pedra fundamental na porta do prédio principal da escola, tiramos aquele monte de jornais da época de 1873, um caldo verde praticamente saiu de dentro daquele amálgama, que eram os documentos originários do culto à ciência.

Muitos professores e professoras que lá estão são os “continuadores” de professores que fizeram história mesmo na Cidade de Campinas. As suas estórias são engraçadas, mas a história que eles deixaram é muito significativa. Tínhamos um professor que é um artista plástico renomadíssimo hoje, o Professor Francisco Biojone, que ficava irritado. Minha mãe uma vez foi chamada na escola porque o professor tinha dado sistematicamente notas vermelhas para mim na disciplina de desenho. Eu estava perigando perder o ano por desenho, imaginem a irritação! E eu fazia aqueles quadros bonitos, pintados de uma forma quase “naïf” e o professor dizia que não estava bom. Quanto mais se caprichava, pior ele achava que ficava e mais baixa era a nota. Um dia, com tanta raiva, peguei um monte de lápis, rabisquei aquele negócio, pus na mesa dele e ele deu 10, porque era a linha do Professor Biojone era uma linha abstrata. Então, ele achou que o meu protesto, que entreguei para ele, porque já não sabia mais o que desenhar: desenhava morro, desenhava casa, vaquinha, presépio, nada. Ele só dava dois, três, e quando eu rabisquei aquele negócio, - tirei dez.

Passei de ano com o 10 do rabisco. O Professor Biojone é um dos nomes das artes plásticas em Campinas. É uma pessoa premiada, não só na nossa cidade, como fora de Campinas.

  Acho que hoje se fala muito, no presente, da desvalorização da Educação. Os nossos professores ganham mal, ganham pouco. Antigamente, no meu tempo, casar com uma professora era um sinal de “status”. Casar com um professor era uma coisa fantástica, porque se valorizava. Eu tinha uma irmã que era professora, era cobiçada no bairro, porque erra um bom partido, era uma professora.

  Ao longo dos anos, fomos vendo como se deteriorou não só o salário, mas também as condições de trabalho da carreira docente.

  Ainda recentemente, contestamos fortemente, e o Governo Lula já anunciou que vai rever essa decisão do governo anterior, a retirada da Filosofia, da Sociologia, da Psicologia, redução da carga horária de Educação Artística, de Educação Física, que eram disciplinas que formavam mais do que profissionais para o mercado; formavam cidadãs e cidadãos, não só por reserva de mercado, porque eu sou também professor de Filosofia, um dia que eu deixar de ser deputado, vou ter que encarar as aulas novamente, mas o fato de que nós começamos a ter uma escola pública que estava preparada para o mercado. Quanto mais excludente era o mercado, menor a perspectiva das classes populares de te um emprego digno, um emprego satisfatório, piores eram as condições da educação. Para que formar pessoas que não vão ter lugar no mercado?

  Foi essa a lógica neoliberal que fez com que o ensino público fosse sendo aos poucos desmontado: a separação, o fatiamento das escolas, em 1995. Depois, a municipalização forçada das escolas, a criação de um fundo que dificultou fortemente a vida dos municípios, com a diminuição de investimentos nas creches, nas pré-escolas, na educação de zero a seis anos, mais tarde na educação de adultos, com os supletivos. Depois essa reforma curricular, que inventou a matemática financeira, e tirou a Filosofia. Então, houve uma série de mudanças que foram, aos poucos, inclusive desestimulando a carreira docente. Quantas pessoas saíram da escola pública não só porque dezenas de milhares de foram demitidas na época, mas também por desencanto, por não acreditar que era possível continuar trabalhando. Quem ficou dá um testemunho para a sociedade de que é possível fazer educação a despeito de tudo e, por isso, constrói melhores momentos.

  Rondino tem muita razão quando chama a participação de vocês. Na minha época, não havia grêmio. Depois que o Bacilo entrou na escola, não por causa disso, mas na mesma época, houve um endurecimento do regime militar, um decreto-lei que extinguiu a representação estudantil houve um endurecimento do regime militar, um decreto-lei que extinguiu a representação estudantil, que transformou os grêmios, que eram livres entidades representativas dos estudantes, em centros cívicos. Portanto, não tínhamos grêmios, mas sim, centros cívicos. Quem cuidava do centro cívico era a Professora Ivete, com quem, aliás, sempre que me encontro, faz a maior festa. Quanta dor de cabeça demos para aquela mulher! Porque lutávamos contra o centro cívico. Éramos a favor do grêmio e queríamos reconstrui-lo. Saí da escola sem ver o grêmio reconstruído. Saí da escola com o centro cívico. Toda segunda-feira íamos ao pátio que ficava na frente da escola, para o hasteamento da bandeira e para o Hino Nacional e falávamos que não podia ser somente aquilo. Achávamos que, além daquilo, deveria haver outras coisas. Queríamos retomar a idéia do jornal, pois não tínhamos mais o “Jornal do Estudante” naquela época. Era proibido.

  Hoje, temos espaços de participação que, por muitas vezes, nós mesmos não ocupamos. A sala do grêmio fica abandonada, restringe-se à meia dúzia e não tem nada a ver. Desta forma, é muito importante que possamos também aprender que uma escola com essa história e com essas estórias, depende de nós, para que deixemos essa marca também; para que daqui a 20 ou 30 anos, quando vocês estiverem aqui na condução dos trabalhos - e que hoje estamos parecendo “velhinhos” diante de vocês - as pessoas se lembrem das marcas que vocês deixaram ao terem passado pela escola.

Quem daqui nasceu em 1968, quando o Bacilo entrou na escola, por favor erga o braço! Olha só, Bicalho, quando você entrou na escola, praticamente ninguém aqui era nascido. Eu sou bem mais novo do que o Bicalho e muito mais também do que o Rondino.

Vivemos um período novo, no qual cada um de nós não é chamado apenas a ser o futuro do Brasil. Essa coisa “xarope” de que não podemos fazer nada agora, pois somos o futuro e temos de aguardar a nossa vez. Não, nós podemos ser o presente. E esse presente é o presente ativo, participativo, ocupando os espaços.

Portanto, quero deixar aqui essa mensagem de homenagem às professoras e aos professores, e também à memória de tantos outros professores que poderíamos lembrar, como o Professor Granja, por exemplo, de Artes, que quase me expulsou da escola porque estourei o forno dele na sala de artes, enquanto fazíamos cerâmica. Mexi de forma errada, a cerâmica estourou e quase foi tudo pelos ares na sala de artes.

Há tantos professores e professoras que deveríamos homenagear, mas a vocês que continuam na atividade docente, meus parabéns. E a vocês que estão na atividade discente, que aproveitem essa oportunidade e construam a sua marca em toda essa história. Não nas pichações do muro, e nem do prédio principal, que está precisando ser recuperado, mais uma vez, mas que escrevam na história do Culto à Ciência, as estórias e as histórias de vocês.

Passo a palavra ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Campinas, nobre Vereador Carlos Signorelli, que fechará, em nome do Legislativo Municipal, esta Sessão Solene.

 

O SR. CARLOS SIGNORELLI - Sr. Presidente desta Sessão Solene, nobre Deputado Renato Simões, meu companheiro Marcos Bicada, representando aqui a nossa Prefeita Izalene, Professor Luís Antônio, na pessoa de quem cumprimento todos os professores e todos aqueles que militam na docência do Culto à Ciência, meninos e meninas, Vereadora Maria José, em primeiro lugar, não sei o que o Renato foi fazer no Culto à Ciência. Estava comentando aqui com ela que, em artes, ele não foi nada, e quase quebrou o forno de cerâmica. E ainda tive que agüentá-lo como amigo na década de 70. Foi só a partir daí que ele melhorou. Agora entendi porque é que o Renato subiu na vida. Porque foi meu amigo e também amigo da Márcia. Só isso. Sim, pois exemplo do Culto à Ciência ele não teve nada. Não sei se vocês notaram aqui. Ele citou uma professora de francês, no entanto, tenho certeza que ele não sabe falar nem uma linha dessa língua.

Peço ao Rondino para que fale a verdade toda aqui. Embora haja um pacto de silêncio aqui, acredito que o Éuler tem coisa para contar, pois é do mesmo tempo dele.

Na verdade, estou cercado. Aqui e aí, não fui aluno do Culto à Ciência. Como não fui, não vou contar agora, porque é uma história de um menino de 12 anos, que não conseguiu encontrar na funcionária da escola o respeito a uma criança que não sabia nem onde estava. Eu tive de ir para outro lugar. Perdi três anos da minha vida, porque não tinha encontrado alguém que na escola pudesse me dizer: o admissão é na semana que vem. E eu perdi o exame porque ela não estava interessada em me respeitar como uma criança de mãe analfabeta, que não tinha condições de saber onde era a escola e o que tinha que fazer na escola.

Os anos se passavam e eu não conseguia entrar na escola que era o sonho de todo estudante de Campinas, uma escola que era modelo, que era orgulho. Vocês viram quantos nomes passaram por aquela escola? Metade dos nomes de ruas de Campinas passaram pela escola.

Eu fui para o Vitor Meirelles. Havia dois colégios na cidade que, de forma sadia, se chocavam. Era o Vitor Meirelles e o Culto à Ciência.

Ano após ano disputávamos quantos anos do 3º colegial entravam na universidade. E eu ouso dizer para vocês, com orgulho, que nenhum dos dois colégios precisava de cursinho para colocar o seu estudante na universidade. Eu não fiz cursinho. Terminei o 3º colegial, entrei diretamente na universidade. Quantos colegas meus fizeram a mesma coisa. Quantos colegas meus do Culto à Ciência fizeram a mesma coisa. Era sadio. Nós disputávamos qual era o melhor colégio.

Mas, sobrava sempre uma ponta. A coisa era a seguinte. O Vitor Meirelles era um colégio de esquerda. O Culto à Ciência, para nós, era da burguesia, era aristocrata. Nós é que éramos os revolucionários. Constituímos um grêmio, escrevemos um jornal. O nome do jornal ‘Diálogo’. A diretora, Dona Maria Teresa, olhou o jornal e disse “Impossível publicar isto.” Por quê? Diálogo é subversivo. Não publicamos o jornal com o nome de Diálogo. Tivemos de colocar um outro nome. Dois dos meus colegas, no ano de 1969, desapareceram.

Era assim que nós vivíamos o nosso processo de estudos. De um lado, o Vitor Meirelles, de outro, o Culto à Ciência.

Na verdade, é que nós tínhamos uma pontinha de ciúme que não dava para esconder. Nós estávamos lá no São Bernardo e o Culto à Ciência lá no centro da cidade. Vocês não imaginam como aquela rua era.

O Renato, vinha lá do Botafogo. Eu ia pelo Mercadão. Essas são as diferenças, por isso é que a gente tem grandes diferenças na vida. Do lado direito você tinha verdadeiras mansões. Aí chegava-se à frente do Culto à Ciência, nós nem sabíamos nos portar, porque aquilo era magnífico. É como se nós precisássemos limpar os pés antes de entrar. Era assim que nós enxergávamos o Culto à Ciência.

Eu não estou falando como aluno. Não sou o Rondino, não sou o Renato, não sou o Bicalho. Eu estive fora para dizer a vocês do respeito que tivemos por aquele colégio, enquanto estudantes que éramos. Disputávamos sadiamente, mas tínhamos um respeito profundo e um suave ciúme de não estarmos lá.

É isto que vocês trazem nas costas: esta história não pode, em hipótese alguma, ser perdida ou de alguma forma ser desviada. Foi com a reforma - posso estar equivocado no número - com a Lei 5692, de 71/72, que começou o declínio da Educação Pública no Brasil. Alguns professores devem se lembrar desta lei, porque estudamos para prestar o concurso. Foi ela que tirou do Culto à Ciência a autonomia administrativa quer tinha. A partir da Lei 5692 ele deixou de ter autonomia administrativa e passou a ser uma escola estadual. A partir daí a escola estadual deixou de ser celeiro e tudo isso foi transferido para as escolas particulares.

Vocês sabiam que a Educação pública não foi feita para levá-los a lugar algum? No fundo parece que todos nos enganamos. A impressão é de que lá não se quer estudar, de que lá não se tem importância nenhuma. Foi isso que fizeram conosco, que não temos nenhuma importância, que a importância máxima está nas escolas particulares. Os professores adoram ser professores das escolas particulares. Ganham muito mais, às vezes têm mais “status”. Os alunos gostariam de freqüentar uma escola dessas. Os pais, às vezes, deixam de colocar comida na mesa para pagar uma escola particular para os seus filhos.

Não é verdade que lá é melhor do que aqui. Importa dizer que se não construirmos um outro tipo de Educação não teremos futuro como nação.

Por isso volto para o nosso Culto à Ciência. Que consciência temos hoje do processo educacional?

Às vezes, pensamos ser fantasticamente bem preparados. Se nos lembrarmos daqueles professores do Culto à Ciência, das décadas de 40 e 50, diremos "mas não tinham pedagogia, didática nem metodologia".

Lembro de um certo professor de Inglês, de lá, que era terrível! Não tinha nenhuma didática; nunca foi meu professor aqui; entretanto, ali se ensinava, ali vivia-se o processo educacional.

Os alunos se queixavam? É lógico que se queixavam! Qual o aluno que não se queixa de um professor que é duro e exigente. Eu era tido como carrasco das escolas, porque era professor de Matemática. Mas respeitávamos e cumpríamos o ritual de ser alunos e professores do colégio estadual.

Por isso, ao terminarmos nossa vida de colegiais mantínhamos o respeito pela escola e tínhamos saudades de tudo aquilo que tínhamos feito.

Por isso conclamo vocês a se mirarem nesta instituição da qual hoje vocês fazem parte. Vocês devem procura entender que este passado de 130 anos é todo um apanhado de lições que devem ser vividas. Ele permaneceu na história da cidade de Campinas, não porque é um prédio, mas porque nele se viveu o saber, se buscou o saber, construíram-se consciências e essas consciências, de alguma maneira, construíram nossa cidade.

Por isso esse passado, essa história chamam vocês de novo a esta consciência. A cidade de Campinas precisa voltar a ter respeito por si própria. Nós, aqueles que como eu nasceram lá ou aqueles que vieram de outros lugares e estão morando lá, precisamos retomar nossa auto-estima, olhar para nós mesmos com orgulho e respeito. A primeira coisa que fazemos quando queremos sustentar a estrutura é tomar consciência e respeito pelo nosso próprio valor, por aquilo que podemos fazer. Quando olhamos para nós mesmos e dizemos "O que sou eu? Que tenho a fazer?", é aí que não fazemos nada, que não contribuímos com nada.

            Esta nossa história tem de trazer para todos nós, mas principalmente para vocês, que vão prosseguir essa história, a consciência de que não estamos neste mundo para sermos colocados de lado, mas que temos de construir nossa história a partir das nossas necessidades, dos nossos desejos, das nossas aspirações. Temos de construir nosso caminho a partir de nós mesmos, a partir dessa consciência que temos de assumir quanto ao nosso valor, quanto ao respeito por nós mesmos. É a partir daí que vamos construir ao nosso redor uma sociedade diferente e mais justa.

            Esse é o exemplo de 130 anos de história. Passaram-se os anos. A partir de agora, os construtores dessa história são vocês. (Palmas.)

 

            O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta Presidência agradece ao nobre Vereador Carlos Signorelli e quer dizer que hoje muitos de vocês que vêm a São Paulo pela primeira vez, que vêm a esta Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo pela primeira vez, talvez vão se lembrar desta sessão solene no futuro, lembrar-se de que estiveram na Assembléia Legislativa por ocasião da comemoração dos 130 anos do Culto à Ciência, da mesma forma como eu também estive quando se comemoraram os 100 anos.

Vivemos de marcas. Que a marca deste dia, um dia que inicia as comemorações que com certeza vão continuar ao longo do ano, se associe à lembrança de terem estado nesta Casa, quando o Estado de São Paulo pelo menos numa noite nesses 130 anos, parou seu Poder Legislativo para homenagear nossa escola.

Bom retorno para vocês.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades e a todos aqueles que com sua presença colaboraram para o êxito desta solenidade, à equipe de funcionários da Assembléia Legislativa que está conosco contribuindo para que esta sessão pudesse se concretizar e convida a todos para que em seguida nos dirijamos com calma para os ônibus.

Bom retorno para Campinas.

            Está encerrada a sessão.

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-Encerra-se a sessão às 21 horas e 34 minutos.

 

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