24 DE MARÇO DE 2006

006ª SESSÃO SOLENE PARA HOMENAGEAR O “DIA DA COMUNIDADE ÁRABE”

 

Presidência: ROMEU TUMA


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 24/03/2006 - Sessão 6ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: ROMEU TUMA

 

COMEMORAÇÃO DO DIA DA COMUNIDADE ÁRABE

001 - ROMEU TUMA

Assume a a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de comemorar o Dia da Comunidade Árabe. Convida todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional.

 

002 - RESKALLA TUMA

Presidente do Conselho de Ex-Presidentes da Fearabe-América e Ex-Presidente do Conselho da Fearabe, aborda a aproximação e integração do mundo árabe com a América do Sul, particularmente com o Brasil.

 

003 - CELSO RUSSOMANO

Deputado Federal, parabeniza a comunidade árabe, que muito tem feito pela Nação brasileira.

 

004 - ROMEU TUMA

Senador, recorda a trajetória de sua família desde a imigração do seu pai, no início do século passado.

 

005 - ALI DIAB

Embaixador da República Árabe Síria, expressa o orgulho de estar presente representando o povo e o governo sírio. Transmite a saudação do Presidente sírio Bachar Al Assad. Critica a política externa americana e de Israel para o mundo árabe. Reafirma o compromisso dos árabes com a paz.

 

006 - DAMASKINOS MANSOUR

Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa de Antioquia para todo o Brasil, defende a união dos árabes para que sua voz tenha força e seja ouvida no mundo.

 

007 - Presidente ROMEU TUMA

Informa que no dia 22 de março foi aprovado o PL 173/04, de sua autoria, que institui no Estado de São Paulo o "Dia da Comunidade Árabe", a ser comemorado no dia 25 de março, o qual apenas aguarda a sanção do Governador. Menciona as contribuições árabes na economia, cultura e culinária do Brasil. Homenageia a memória do Ex-Deputado Federal Nicolau Tuma, falecido em fevereiro deste ano. Destaca que no Brasil configurou-se o convívio harmonioso acalentado pelos primeiros imigrantes árabes. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Comunicamos e agradecemos pela presença de Dom Damaskinos Mansour, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa de Antioquia para todo o Brasil, Sr. Ali Diab, Embaixador da República Árabe Síria; Ilustre Senador da República Romeu Tuma - meu querido pai, uma das poucas reservas morais deste País; nobre Deputado Federal Celso Russomano, meu amigo, meu companheiro, batalhador como nós na defesa do consumidor; Sr, Ghazi Deeb, Cônsul-Geral da República Árabe Síria; Sra. Raya Mourad, Presidente da Ligas das Senhoras Muçulmanas; Dr. Rubens Anauate, Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Homs; Sr. Roberto Cabariti, Presidente do Esporte Clube Sírio; Dr. Renato Tuma, meu querido tio, vice-Presidente do Esporte Clube Sírio; Dr. Reskalla Tuma, meu querido tio, Presidente do Conselho de Ex-Presidentes da Fearabe-América e Ex-Presidente do Conselho da Fearabe; meu querido amigo Eduardo Felício Elias, da Federação de Entidades Árabes do Estado de São Paulo, Fearab-SP; Sr. Salim Tawfic Schahin, Presidente do Lar Sírio; Sr. Ademar Aschar, Presidente do Conselho Deliberativo do Esporte Clube Sírio; Sr. Mohamad Al Kaddah, Diretor do Centro Cultural Árabe-Sírio do Brasil; Sr. Jorge Washington de Paula, da Sociedade Beneficente Muçulmana de Brasileiros e Divulgação do Islam; Sr. Hassen Abbas, Professor do Centro Cultural Árabe-Sírio.

Recebemos inúmeras correspondências de Secretários de Estado, ilustres autoridades, ilustres Deputados desta Casa e gostaria de destacar uma mensagem, que tem um significado especial para todos nós da comunidade árabe, encaminhada pelo Presidente Lula: “O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradece o amável convite para a Sessão Solene em homenagem ao Dia da Comunidade Árabe e cumprimenta a comunidade pela data. Em razão de compromissos já assumidos, infelizmente, não poderá comparecer, mas envia votos de paz, felicidade e progresso.”

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear o Dia da Comunidade Árabe.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro PM Músico Cleber de Azevedo.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

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O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na pessoa do Maestro PM Músico Cleber de Azevedo.

Esta Presidência gostaria de anunciar a presença do Dr. Luiz Chede Maluf, Presidente do Clube Atlético Monte Líbano. Gostaria ainda de saudar minhas queridas tias, irmãs do Dr. Nicolau Tuma, que nos honram com sua presença - afastando-se momentaneamente da dor que sentem - nesta solenidade à qual ele nunca faltou. É muito importante a presença das senhoras, a quem agradeço especialmente.

Quero citar também a presença do Dr. Celso Jubram Sawaia, representante da Sociedade Rachaia Al Fokhar; Sr. Abdul Nasser El Rafei, Presidente da Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil.

Esta Presidência concede a palavra ao Dr. Reskalla Tuma, Presidente do Conselho de ex-Presidentes da Fearabe-América e ex-Presidente do Conselho da Fearabe.

 

O SR. RESKALLA TUMA - Sr. Presidente, Deputado Romeu Tuma; Sr. Embaixador Ali Diab, da República Árabe da Síria; Dom Damaskinos Mansour; meu companheiro Russomano; Senador Romeu Tuma; Sr. Cônsul; autoridades presentes, queridos amigos e companheiros, nossa luta já encontra um primeiro tempo vencedor. Na quarta-feira tivemos aprovada pelo Plenário, em caráter definitivo, nesta Casa de Leis, a data de 25 de março como Dia da Comunidade Árabe. Creio que em breve será levada à sanção do Governador e esta será uma data comemorativa e festiva no Estado de São Paulo de maneira definitiva.

Meus amigos, é muito difícil falar da minha comunidade sem que alguma emoção me toque. Vejo o trabalho que estamos desenvolvendo, a aproximação nesses últimos tempos do Brasil com o mundo árabe, de todo o mundo árabe com a América do Sul. É como se estivéssemos vivendo uma nova era. As entidades de São Paulo e do Brasil, com destaque a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, a Fearab-Brasil, a Fearab-São Paulo, o Centro Cultural Árabe-Sírio, o Esporte Clube Sírio, o Clube Monte Líbano, todos eles cuidando de honrar suas origens, dignificar o valor de sua gente.

Nessa integração de interesses, hoje vimos a Liga dos Estados Árabes, pela primeira vez, graças a um trabalho insano que tivemos com os irmãos da América do Sul, criar um departamento de emigrados. Há pouco discutia com o Presidente da Câmara de Comércio, meu querido Antonio Sarkis Jr., a criação de um departamento de comércio e que hoje, dentro da Liga Árabe, está voltada para os países da América Latina, com destaque para o Brasil.

A fundação definitiva da Biblioteca América do Sul - Países Árabes, que foi aprovada numa reunião singular em Aleppo, na Síria, sendo que o governo da Argélia já destinou 35 milhões no seu orçamento para construir o prédio. E o importante: conseguimos que a administração dessa biblioteca, pelo menos nos próximos anos, fique com a Universidade de São Paulo, pela mão do Paulo Farah e da Universidade Federal Fluminense, na mão do Paulo Hilu. São dois distintos filhos de árabes dedicados a essa obra. O Ministro Nahes foi o coordenador deste trabalho no Itamaraty. Este trabalho começou com um projeto e com a Embaixadora Vera Pedrosa, que hoje é a nossa embaixadora em Paris e instituído pela Fearab-América.

Realizamos em Buenos Aires, em Damasco e, por último, na Espanha, onde tivemos a oportunidade de refazer a história do período de grandeza da civilização, quando, pela ordem cronológica, judeus, cristãos e muçulmanos trabalharam juntos pela grandiosidade. Temos os grandes exemplos de Maimônides, do Rei Fernando X, homens que nos séculos XII, XIII e XIV já nos ensinavam a regra da boa moralidade, da boa conduta perante o Deus altíssimo, e que deveríamos fazer o mundo de fraternidade, amizade e irmandade porque só existe um Deus. Todos os profetas servem a Deus, desde o primeiro que enunciou Abraão, Jesus e Maomé, todos pregaram amor entre os homens. Hoje vimos religião confundida com política a ponto de se assacar o islamismo como movimento terrorista. Jamais vi um crime igualável a esse na história da humanidade. Não é por aí que se pode levar o mundo aos dias melhores que queremos.

Nós, brasileiros, estamos lutando pela América do Sul. Hoje a América do Sul compreende que o Brasil não pretende a liderança do movimento sul-americano simplesmente por ser o vanguardeiro, ele está protegendo os nossos irmãos e companheiros da América do Sul. E a nossa comunidade, seja ela de 12 ou 15 milhões, são dos melhores brasileiros que este país pode ter. Não temos diferença entre filhos de sírios, libaneses, palestinos. Nós comungamos o espírito de brasilidade. Temos conquistado vitórias no mundo árabe a favor do Brasil, integrado com esses países da América do Sul, tanto no campo cultural, no campo científico - como a exploração do espaço, no campo da pesquisa técnica da medicina.

Quem quiser acompanhar, acompanhe pelo ANBA, a única agência de notícias que traz todas as novidades e os acordos feitos entre os países árabes e o Brasil. O ANBA é a Agência de Notícia da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. Eu me louvo em homenageá-la porque realmente merece, pelo trabalho que vem desenvolvendo. E mais ainda: hoje é considerada pelo Itamaraty como um órgão representativo dos trabalhos da comunidade árabe no Brasil.

No ano passado fiz um poema ao imigrante árabe. Tantas vezes nesse poema expressei a igualdade que sentimos, sejamos filhos de sírios, ou filhos de libaneses, ou filhos de qualquer outra origem árabe.

Vieram jovens para jovens terras

Dos velhos montes para o novo chão

Olhos brilhando, brilho de esperança

E um velho cedro em cada coração.

 

Vieram com a esperança do convite

Que Dom Pedro II lhes faz, qual cupido

Atingindo forte sua emoção,

Pois, acreditava ele na emigração.

 

Foram suas palavras

“Contemplando o Damasco dos Milênios

À sombra das tamareiras de tantas

Poesias, e às margens do Bárada, sinto

O berço da civilização, e quem as

Criou, também ajudará a criar o Brasil”.

 

Vieram jovens das terras antigas,

Onde a neve eterna, o sol desafia,

E trabalharam, desde cada aurora,

Até o cansaço de cada fim de dia.

 

Sírios e libaneses, árabes e suas tradições,

De todos os cantos vieram, na certeza

De que esta seria sua nova terra, Brasil

Beleza que encanta das palmeiras, do sabiá

Onde a natureza canta os esplendores

De Allah!

 

Plantaram frutos na terra bendita,

Deram seus filhos como gratidão...

São brasileiros com brilho nos olhos,

E um velho cedro em cada coração.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Anuncio a presença do Dr. Antonio Sarkis Jr., Presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

Tem a palavra o nobre Deputado Federal Celso Russomano.

 

O SR. CELSO RUSSOMANO - Dom Damaskinos Mansour, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa; Sr. Ali Diab, Embaixador da República Árabe Síria; Sr. Senador Romeu Tuma - aqui abro um parêntese para dizer que, como o meu querido Presidente desta solenidade, Deputado Romeu Tuma Júnior, fez uma colocação, dou-me ao luxo de dizer também que me guio pelo trabalho de seu pai.

Eu e o Deputado Romeu Tuma Júnior estudamos e crescemos juntos no mesmo bairro, quero dizer que é um prazer muito grande participar desta homenagem à comunidade árabe, apesar de não ser descendente guardo amizades como a sua e de sua família, que me são muito caras. Portanto, não poderia deixar de estar presente nesta homenagem à comunidade que tem feito muito pelo Brasil.

O orador que me antecedeu disse que o Brasil é o país de todos, que recebe todos com muito carinho e dá o exemplo da amizade, da liberdade e da paz.

Na década de 40, quando uma grande leva de imigrantes árabes chegava ao Brasil, vinham para cá por questões religiosas. Aqui aportaram e se mostraram amigos fraternos uns dos outros. Essa comunidade só veio acrescer no desenvolvimento da Nação brasileira.

Então, deixo aqui meus parabéns por esta homenagem que V. Exa. faz hoje à comunidade árabe. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Quero agradecer as palavras do nobre Deputado Celso Russomano, nosso amigo de infância.

Recebemos várias mensagens, inclusive do Sr. Governador do Estado, do Presidente da Câmara Municipal, Vereador Tripoli, que faremos registrar junto à Ata desta sessão solene, a fim de que seja de conhecimento de todos. Gostaríamos também de anunciar a presença do Dr. Gabriel Sayegh, Diretor Cultural do Esporte Clube Sírio.

Tem a palavra S. Exa. o Senador da República, Dr. Romeu Tuma.

 

O SR. ROMEU TUMA - Meu querido filho, Presidente desta sessão, Romeu Tuma Júnior; Dom Damaskinos Mansour, nosso querido Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa da Antioquia para todo o Brasil; Sr. Ali Diab, querido Embaixador da República Árabe Síria, conterrâneo de Brasília, que para cá se deslocou hoje para participar desta cerimônia tão importante para os descendentes e imigrantes árabes, que hoje no Brasil ocupam um lugar de destaque em todas as atividades; meus sobrinhos; meu querido Celso Russomano; Sr. Cônsul; queridas primas e irmãs do Nicolau Tuma, eu poderia dizer, Reskalla, Romeu, Zilda, que estou vendo o Nicolau sentado nesta platéia como no ano passado. Sentimos a sua presença espiritual, com o mesmo sorriso, com a mesma alegria, já que sempre participou de todas as atividades, com todo o respeito aos descendentes de árabes, apesar de ter sido um dos grandes brasileiros na história contemporânea da nossa Pátria.

Dom Damaskinos, Vossa Eminência está no nosso coração. Nos ensina a ortodoxia na profundidade da palavra de Cristo e atravessa o nosso pensamento permanentemente todos os dias e todas as horas para sabermos que Cristo nasceu no Oriente, na terra síria. Lá espalhou pelo mundo a bondade, o perdão e a força para sabermos distinguir entre o bem e o mal.

Reskalla, antes da sua poesia, eu pensava que aqueles que emigraram em 1910, como disse o Celso, ou talvez antes, trouxeram a terra do Oriente sob seus pés e plantaram no coração de cada um de nós o espírito de brasilidade e o amor a esta terra.

O nosso Cônsul, há pouco, me perguntava por que ele não podia falar com os filhos de árabes na língua original de nossos pais.

Meu pai - talvez Dom Damaskinos e outros embaixadores poderiam explicar melhor do que eu - que aqui chegou com dez anos de idade com sua família, foragido do domínio otomano, só teve uma visão durante toda sua vida: fazer com que seus filhos se adaptassem ao país em que viviam, mas sem esquecer a pátria-mãe, sabendo que daqui não mais poderiam se afastar. E tinham só um objetivo: que seus filhos amassem este país, respeitassem-no e soubessem que teriam a sua vida definitivamente no Brasil.

Hoje os filhos de imigrantes primeiro aprendem a língua de seus pais para depois aprender o Português. Na época de meu pai era diferente: queriam que os filhos logo aprendessem Português para enfrentar a vida e dar um pouco de tranqüilidade a sua família. Esta é a história de quase todos os imigrantes.

Lembro-me que eu e o Renato, meu irmão que aqui está, estudamos no Liceu Acadêmico São Paulo, na Rua Oriente, em São Paulo. Era difícil uma escola pública para filhos de imigrantes. Precisava carta de deputado, carta de governador, era uma dificuldade enorme. Então os pais, para que os filhos tivessem o diploma, que era o grande objetivo dos imigrantes árabes, tinham de se sacrificar e colocá-los em escolas particulares.

Lembro-me de um dia que tinha um bonde, acho que quase ninguém aqui ainda se lembra do tempo do bonde. Ele nos trazia de casa, no Brás, até a rua Oriente, para que pudéssemos ir para a escola. O Reskalla infelizmente, pelo sacrifício de nos educar, teve de interromper seus estudos durante a sua vida, completando posteriormente com a idade mais ou menos avançada, de adolescente para frente. Mas lembro-me de que ele desceu do bonde para nos colocar na calçada. E o bonde cheio, o estribo repleto, uns por cima dos outros, porque era o único meio de transporte à época; o bonde saiu, ele correu, mas não conseguiu pegar porque não havia espaço no estribo. E ele tinha dado uma moeda para que a gente pudesse comer um sanduíche no intervalo do curso. Então nos chamou de volta e pediu a moeda, porque não ia conseguir andar a pé da escola até a 25 de Março, onde ele tinha o seu comércio.

Essa é a estória de praticamente todos aqueles que hoje nos colocaram aqui, com cargo político ou não. Hoje temos em toda a estrutura política do país, nas melhores qualidades se inserem descendentes de árabes.

Não é uma vitória nossa, Dom Damaskinos Mansour, é uma vitória de nossos pais, de nossos antecedentes que aqui vieram tentar a sorte. Conseguimos ajudar este país a crescer.

Celso, estive uma vez a serviço em Brasiléia, na fronteira da Bolívia, e praticamente desci num aviãozinho monomotor e muita gente queria tirar foto comigo e o delegado dizia: “Cuidado, esse moço é envolvido com a coisa.” A coisa era tráfico de drogas, porque a região era passagem. Repentinamente chegou um rapaz e me disse: “Sou descendente de árabe. Sou dentista aqui nesta cidade, uma cidade pobre e tal.” Fui conversando e ele era da família Tuma. Depois fiquei sabendo em Belém, só num jantar que me ofereceram tinha setenta membros da família Tuma, isso em Belém do Pará. Eles se espalharam por todo este país.

Acho que aquela estória que conto, onde havia um padre e um árabe, nascia uma cidade. Os árabes, sem dúvida nenhuma, foram os bandeirantes contemporâneos. Se os bandeirantes abriram os sertões, unificaram geo e politicamente este país, unificando a língua, quebrando a linha de Tordesilhas, os árabes fixaram toda a sociedade civilizada do mundo moderno. Por isto hoje é um dia maravilhoso.

E ‘25 de Março’ fala forte no nosso coração. Eu e o Renato nascemos na 25 de Março. E lá crescemos. E todos brincavam conosco, porque tomávamos banho de bacia, porque a mãe da gente tinha que dar banho no fundo do seu comércio; assim crescemos e hoje, sempre que podemos, comemos um quibe na 25 de março. Que Deus abençoe a todos.

Dom Damaskinos está aqui para nos dar a benção e a certeza, dizia ele, que o ano que vem, dentro do projeto e planejamento que ele está fazendo, esta Casa estará cheia, não haverá lugar para ninguém para comemorar esta data tão importante. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Esta Presidência registra também a presença do Sr. Marcelo Audi Cateb, Diretor Tesoureiro do Esporte Clube Sírio; Dr. Antonio Sarkis, Presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; Sr. Ahmad Dib Yassine, da Liga Cultural Árabe-Brasileira; Dr. Tamin Daaboul, da tv Síria;e Dr. Raul Tarek Fajuri, da revista Chams.

Concedemos agora a palavra ao ilustre Embaixador da República Árabe Síria, Dr. Ali Diab.

 

O SR. ALI DIAB - Discurso proferido em árabe, com tradução consecutiva - Sr. Deputado Romeu Tuma, Presidente desta sessão; Dom Damaskinos Mansour, Arcebispo Metropolitano de São Paulo; Deputado Federal Celso Russomano; Senador Romeu Tuma; Sr. Reskalla; Sr. Cônsul; senhores e senhoras, gostaria de expressar meu orgulho de estar aqui presente entre vocês hoje, representando o povo e o Governo da Síria. Tenho a honra de transmitir a todos vocês a saudação e o amor do Exmo. Sr. Presidente Bachar Al Assad.

Gostaria de apresentar meu agradecimento também para a Assembléia Legislativa de São Paulo, para todos os Srs. Deputados, especialmente ao Deputado Romeu Tuma Júnior, que tomou a iniciativa de organizar esta sessão solene para homenagear a comunidade árabe. Comemoramos hoje o dia da comunidade árabe, 150 anos depois do início da imigração dos árabes para este grande país, Brasil.

O Brasil recebeu e acolheu esses imigrantes que estavam passando por condições difíceis. Eles retribuíram dando os filhos para a construção desse grande país, o Brasil. Nós nos orgulhamos muito dos descendentes de árabes quando ouvimos, especialmente das autoridades brasileiras, tudo que eles contribuíram para a construção do Brasil. Nós contamos muito com o espírito de vocês para defender as causas árabes, pois estamos sofrendo uma campanha feroz da administração americana, a mando do Estado de Israel, especialmente depois dos acontecimentos de setembro de 2001.

Sob a bandeira de antiterrorismo e o emblema de combater o terrorismo, começaram a olhar os árabes, especialmente os muçulmanos, como terroristas. Com a justificativa de combater o terrorismo, eles mataram, roubaram, ocuparam países. Centenas e milhares de inocentes pagaram um preço caro. Eles querem ditar uma democracia própria.

O próprio Sharon cometeu um crime de guerra. E o próprio governo de Israel - ele era Ministro da Defesa - acabou demitindo-o. Porém, quando ele venceu as eleições, todo mundo começou a olhá-lo como um herói da paz. De um criminoso de guerra, passou a ser um herói da paz, e consideraram que era a democracia, porque o povo queria Sharon. Mas quando o Hamas venceu as eleições, eles consideraram terrorismo e estão ameaçando cortar todos os judeus do povo palestino.

Meus irmãos, todos os árabes querem a paz. O último projeto de paz foi colocado em pauta na Cúpula de Beirute, em 2002, incluindo os países que já tinham assinado acordo de paz com Israel. Foi combinado de fazer a paz com a base para Israel voltar às fronteiras antes da Guerra de 1967, a criação do Estado Palestino com Jerusalém capital e a volta dos refugiados palestinos. Assim, a paz reinará naquela região. Mas uma paz justa e duradoura.

Infelizmente, o Estado de Israel e o seu grande aliado, os Estados Unidos, que têm direito de veto na ONU, não querem essa paz. Israel quer pegar tudo, mas não quer oferecer nada.

Em resumo, quero dizer que a Síria, o coração de arabismo, não temerá as ameaças dos Estados Unidos nem de Israel. A posição política síria comprovou que estava certa, e os últimos acontecimentos realmente comprovam o fracasso da política americana na região.

Hoje, a administração americana tenta, a todo custo, criar uma guerra civil entre etnias na região para dividir a região em Estados pequenos e fracos. Na região, o único Estado dominador forte seria o Estado judeu de Israel. Eles querem um Estado judeu para excluir os árabes, considerados cidadãos israelenses - hoje, que são antes de 1948. Foram as palavras do próprio Sharon e Bush.

Mas garanto a vocês que estou otimista. A vitória seria nossa porque estamos defendendo uma causa justa. Eu não sou o inimigo que vai sofrer o fracasso. Como representante da Síria, digo que os árabes em geral, e os sírios especialmente, vivem dentro da Síria numa união nacional, com a liderança do Presidente Bashar Al-Assad e o apoio dos sírios dentro e fora do país.

Viva a Síria! Viva o Brasil! Viva a amizade árabe-brasileira! Desculpem se meu discurso foi longo. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Concedemos a palavra, neste momento, a Dom Damaskinos Mansour, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa de Antioquia para todo o Brasil.

 

O SR. DAMASKINOS MANSOUR - PRONUNCIAMENTO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA COM TRADUÇÃO consecutiva - Boa-noite a todos. Vou quebrar um pouco o protocolo.

Quero, em primeiro lugar, saudar o Senador Romeu Tuma, apesar de o seu filho, Deputado Romeu Tuma Júnior, ser o autor dessa solenidade; Deputado Romeu Tuma, Presidente desta sessão solene; Embaixador Ali Diab; Deputado Celso Russomano; Sr. Cônsul; senhoras e senhores representantes de todas as entidades; queridos amigos, primeiramente quero agradecer, de coração, ao Deputado Romeu Tuma por esta iniciativa nobre.

Em segundo lugar, quero homenagear nossos antepassados, nossos avós, que vieram para o Brasil e levantaram o nome árabe neste país.

Senhoras e senhores, quando falamos do Dia da Comunidade Árabe ou da festa da comunidade árabe, paramos para olhar tanto para o passado como para o futuro. Podemos falar muito do passado, pois nossos antepassados criaram muitas instituições grandiosas aqui no Brasil.

Atualmente, aqueles que falam árabe, aqueles que vivem nos países árabes estão sofrendo uma pressão externa muito forte. Infelizmente isso os está separando. Isso atualmente. Para o futuro, queremos pensar na união para sermos uma só voz e uma só força.

Se olharmos para a comunidade árabe no Brasil, pessoa por pessoa, poderemos ver que cada uma delas é um leão, com uma força muito grande e muito valor. Só que, infelizmente, a união de todos não é uma grande coisa. Temos de estar unidos para sermos ouvidos. Esta comemoração, esta data, não terá significado se não estivermos juntos e unidos. Nunca se esqueçam de que vocês são descendentes de uma terra sagrada, uma terra de profetas, uma terra de santos. Se Deus quiser, vamos chegar a isso. Não estou medindo esforços para colaborar com todos os diplomatas e empresários, em todos os campos, para formarmos uma única voz, uma única força e sermos ouvidos.

Encerro falando uma coisa que já citei na semana passada: meu sangue é árabe-ortodoxo. Como é árabe e como é ortodoxo?

Tenho sangue árabe porque nasci em Damasco. A capital da Síria é a capital mais antiga habitada do mundo. Tenho sangue árabe porque fui criado, porque vivi no Líbano também. Tenho sangue árabe porque carreguei a causa palestina desde o dia em que nasci. Hoje, como árabe-brasileiro ou como brasileiro-árabe, tenho a honra de servir à comunidade árabe no Brasil. Depois de um exame de sangue num laboratório de análise em São Paulo, esse foi o resultado.

Falei também que meu sangue é ortodoxo. Sou ortodoxo também porque espiritualmente vivo minha ortodoxia seguindo os ensinamentos do Cristo, que disse: “Tomai, este é o meu sangue. Tomai, este é o meu corpo.” Este é o meu objetivo na vida. Basta só falar desse sangue árabe-ortodoxo e levantar a nossa palavra em todas as circunstâncias, em todo local e todos sempre juntos.

Sr. Romeu Tuma, V. Exa. se lembra, dia 25 de março, na Igreja Ortodoxa, para nós é o dia em que o anjo Gabriel veio para Nossa Senhora e disse que trouxe para ela a Boa Nova, pelo nascimento de Jesus Cristo e a salvação da humanidade. Esse dia foi o começo, como cantamos na Igreja de Nossa Salvação. Espero que este evento, que a cada ano repetimos, transforme-se no evento de nossa salvação de toda ditadura no mundo que pressiona os povos fracos deste mundo. Muito obrigado a todos. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - ROMEU TUMA - PMDB - Gostaria de registrar a presença do Dr. Alfredo Cutait, Exmo. 1º Suplente do Senador Romeu Tuma, membro da Associação Comercial de São Paulo e da Câmara de Comércio Líbano-Brasileira; do meu amigo Stefan von Graaf, Secretário geral do Conscre e representante da comunidade alemã, que nos honra com a presença; Dra. Claude Hajjar, da Fearab-América; Dr. Mauro Fadul Kurban, Secretário da Fearab-São Paulo.

Caras autoridades presentes já nominadas, Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, hoje é um dia muito importante para o Parlamento paulista e especialmente para este Deputado, porque na última quarta-feira, dia 22 de março, foi aprovado o Projeto de lei 173, de 2004, de minha autoria, que institui no Estado de São Paulo o “Dia da Comunidade Árabe”, que passará a ser comemorado anualmente no dia 25 de março, passando a integrar o Calendário Oficial do Estado. (Palmas) Agora só falta o Governador do Estado sancionar a lei. É bom salientar que é o primeiro projeto que vira lei que homenageia uma comunidade no Estado de São Paulo e quero crer que no Brasil também.

Ao homenagearmos os imigrantes árabes e seus descendentes, estamos homenageando uma das civilizações que mais contribuiu para o progresso da humanidade, bem como aqueles seus filhos que vieram para o Brasil e adotaram nossa pátria como sua para aqui viverem, trabalharem, criarem seus filhos, contribuírem com o nosso desenvolvimento e repartirem com os brasileiros os sonhos por um mundo melhor.

No Brasil, a imigração árabe começou na segunda metade do século 19. Naquela época os imigrantes concentraram-se nas regiões de produção de borracha (Norte) e de café (Sudeste). No início do século 20, os relatos do sucesso econômico do Brasil e, principalmente, a instabilidade política do Império Otomano (que dominava o Oriente Médio) intensificou a vinda dos árabes para cá.

O maior contingente de imigrantes é proveniente do Líbano e da Síria. São bem menores as correntes saídas de outros pontos do antigo Império Otomano, como a Turquia, Palestina, Egito, Jordânia e Iraque. Até 1920, mais de 58.000 imigrantes árabes haviam entrado no Brasil, sendo que o Estado de São Paulo acolheu 40% desse total.

Ao desembarcarem no Rio ou em Santos, a opção de trabalho para as primeiras levas de imigrantes foi o comércio. Embora pobres e, em geral, afeitos ao trabalho agrícola, poucos foram os árabes que após o desembarque, optaram pela agricultura.

Na cidade de São Paulo, na década de 30, eles se concentravam nos bairros da Sé e Santa Ifigênia, ou seja, entre as ruas 25 de Março, da Cantareira e Avenida do Estado. Quando os árabes aqui chegaram já existiam mascates portugueses e italianos, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. Entretanto, a mascateação se tornou uma marca registrada da imigração árabe. Nessa atividade, esses imigrantes introduziram inovações que, hoje, são vistas como traços mercantes do comércio popular: eles redefiniram as condições de lucro, introduziram as práticas da alta rotatividade e alta quantidade de mercadorias vendidas, além das promoções e das liquidações.

Nos primeiros anos de atividade, os mascates visitavam as cidades do interior, principalmente as fazendas de café, levando apenas miudezas e bijuterias. Mas com o passar do tempo e com o aumento do capital, começaram também a oferecer tecidos, lençóis, roupas prontas e outros artigos. Conforme acumulavam os ganhos, os mascates contratavam ajudantes ou compravam carroças; o passo seguinte era o de estabelecer uma casa comercial e o último passo, a indústria.

Em São Paulo (na Rua 25 de Março) e no Rio de Janeiro (na Praça da República e no bairro da Tijuca), o comércio árabe imprimiu um caráter popular à paisagem de algumas áreas da cidade. Em 1901, na capital paulista, já eram mais de 500 casas comerciais na região. Seis anos depois, um levantamento indicou que de 315 firmas de sírios e libaneses, 80% eram lojas de tecidos a varejo e armarinhos. A eclosão da Primeira Guerra Mundial aumentou os lucros do comércio e da indústria com a interrupção da importação dos produtos europeus.

O sucesso mais ostensivo dos imigrantes árabes foi a sua entrada no setor industrial, o que ocorreu principalmente nas duas primeiras décadas do século XX, quando deslanchou o processo de substituição das importações através da industrialização. Um caso significativo desse sucesso é o da família Jafet.

Nas últimas décadas, a contribuição cultural dos árabes tem se dado também pela culinária, embora haja outros campos em que sua presença é marcante. O aumento das cadeias de "fast-food" nos grandes centros urbanos aproximou a população do quibe, da esfiha, do tabule e da coalhada seca, antes circunscritos aos restaurantes típicos. A popularização, sobretudo do quibe e da esfiha, fez com que fossem incorporados a outros locais de alimentação, como as tradicionais pastelarias chinesas e até mesmo pelos bares e padarias portugueses e brasileiros.

Quero realçar, também, a importância de nossos clubes, o Sírio, o Homs, o Monte Líbano, as associações esportivas e sócio-culturais de grande conceito na sociedade, onde aprendemos na convivência a importância de se viver em comunidade.

O mundo árabe é formado hoje por um conjunto de países da Península Arábica, do Oriente Médio e do Norte da África: Arábia Saudita, Argélia, Barhein, Comóres, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Eritréia, Etiópia, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Qatar, Síria, Somália, Sudão e Tunísia.

Berço de toda a civilização ocidental, os árabes assimilaram a cultura helênica antiga e fizeram uma harmonização do pensamento grego com os ideais islâmicos, civilização essa que teve a sua maior conquista no campo lingüística: a língua árabe.

E neste momento, eu quero prestar uma homenagem a um grande paulista e brasileiro, filho de imigrantes: Nicolau Tuma, meu "tio", primo do Senador Romeu Tuma, que faleceu no dia 11 de fevereiro deste ano.

Nicolau Tuma nasceu em Jundiaí, Estado de São Paulo, no dia 19 de janeiro de 1911, filho de José e Emília Tuma, imigrantes libaneses que escolheram este país para fazer uma nova vida e criar seus filhos. A família quis que ele estudasse, e assim Nicolau veio para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito, onde se formou.

Ele trabalhou em grandes jornais e em 1929 entrou para o rádio. Sua voz, sua dicção e sua capacidade de improvisação sempre foram elogiadas. Desde o início do rádio brasileiro, além da política, o esporte teve muito espaço, e no ano de 1932 Nicolau Tuma foi quem narrou a primeira partida de futebol pelo rádio. Até então faziam-se flashes, contava-se como ia o jogo, mas não se transmitia a partida passo a passo. Nicolau Tuma inovou, descrevia os pormenores, falava sem parar, criando um estilo, que, de certa maneira, perdura até hoje, em transmissões radiofônicas.

Foi cognominado "o locutor-metralhadora", pois não deixava o silêncio perdurar, fato que ensejava o ouvinte a mudar de estação. Ao mesmo tempo em que advogava pelo interior de São Paulo, seguia com sua atuação no rádio. Seu pai, José Tuma, tinha sido pioneiro em publicidade de rádio. Nicolau Tuma criou o termo "radialista", quando foi fundada a Associação Brasileira de Rádio, com sede no Rio. "Radialista é a soma de rádio com idealista, pois trabalhávamos muito e não ganhávamos nada", dizia ele.

Nesse período ele ingressou também na política. Em 1947 foi eleito vereador no município de São Paulo, tendo sido reeleito em 1951 e em 1955. Em 1956 foi nomeado por Jânio Quadros para ser o diretor de trânsito. Foi eleito por três vezes Deputado Federal, em 1958, 1962 e 1966. Deixou a Câmara Federal em 1968, sob os aplausos unânimes de seus pares de todo o Brasil, consagrado por sua inteligência e retidão de caráter.

Presidiu o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Foi de Tuma também a elaboração do Código Nacional de Trânsito, que vigorou no Brasil por 32 anos. Participou ainda da grande obra que é o Código Brasileiro de Telecomunicações, da criação do DDD e do DDI, com a Embratel, sempre defendendo os interesses do povo brasileiro.

Personalidade ímpar, dotado de uma inteligência privilegiada, esse foi Nicolau Tuma, a quem todos os "radialistas", os políticos e os brasileiros por certo muito devem, pois ele uniu e engrandeceu essas categorias e o país.

Muito obrigado, Nicolau Tuma, pelos seus exemplos, que sempre dignificaram os brasileiros e os imigrantes árabes e seus descendentes.

Por ironia do destino, a cadeira que ele ocupava em todas as Sessões Solenes, hoje aparentemente, encontra-se vazia, fisicamente. Mas, provavelmente, ele está ali nos prestigiando com a sua presença.

Poderia passar horas falando dos feitos dos representantes da cultura árabe em nosso país, nos mais variados campos do conhecimento, tal como um contador de histórias, recitando as proezas dos personagens das “Mil e Uma Noites”. Mas, quero me ater num ponto que considero fundamental: os imigrantes árabes conseguiram vislumbrar neste país querido, que é o Brasil, o sonho de seus antepassados. Aqui, em solo brasileiro, os imigrantes árabes e seus descendentes puderam trabalhar, progrediram com o fruto do seu trabalho e ocuparam lugar de destaque em nossa sociedade, em todos os poderes do estado brasileiro. Nesta pátria configurou-se o sonho da união, da integração, do convívio harmonioso, acalentado pelos primeiros imigrantes árabes.

Parabéns a todos os imigrantes árabes e aos seus descendentes, brasileiros de sangue árabe que, como eu, trazem na sua formação moral a importância da família, a força dos valores sociais e religiosos, a dignificação pelo trabalho, a soberania através do conhecimento e da cultura, o amor ao próximo pelo sentimento e pela sensibilidade da alma, características essas que os árabes generosamente compartilham com os brasileiros.

Parabéns ao Brasil por contemplar a convergência de ideais, por não tolerar a eclosão de conflitos e de guerras, país onde a paz, a harmonia e a concórdia se constituem no nosso maior patrimônio.

Talvez um dos maiores ensinamentos que os árabes deixaram durante todos esses anos e deixam no dia-a-dia, desde nossos bisavós, que deixaram para os seus filhos, nossos avós, que deixaram para os nossos pais, que transmitiram para nós, que nós procuramos transmitir para os nossos filhos, e assim para toda a sociedade, mais do que a esfiha e do que o quibe, mais do que o trabalho, mais do que muitas outras coisas inovadoras na área cultural, comercial, mais do que a própria dança do ventre,os árabes ensinaram, ensinam ao povo brasileiro, ao povo paulista, alguns custam a aprender, mas ensinamos no dia-a-dia que mais vale o fio do bigode do que a assinatura. (Palmas.)

Que ser honesto, ser digno, ser leal, não é virtude, é obrigação. Que a força da verdade supera tudo. Que honrar a palavra dada vale mais do que qualquer cheque assinado.

Para encerrar, quero conclamar a todos para que unidos, nós que temos sangue árabe possamos celebrar uma grande confraternização para cultuar o amor, a união, a integração, a amizade, sobretudo a paz. E acima de tudo, fazer com que aqueles que conosco convivem, quer no trabalho, quer nas nossas casas, quer nos clubes, quer no nosso dia-a-dia, aprendam que a ética está acima de tudo. Muito obrigado e boa-noite a todos. (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa, ao Cerimonial, à Secretaria Geral, e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade e convida a todos para um coquetel no Hall Monumental. Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 52 minutos.

 

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