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08 DE MARÇO DE 2005

007ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidência: MAURO BRAGATO

 

Secretário: JOSÉ CARLOS STANGARLINI

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 08/03/2005 - Sessão 7ª S. EXTRAORDINÁRIA  Publ. DOE:

Presidente: MAURO BRAGATO

 

ORDEM DO DIA

001 - MAURO BRAGATO

Assume a Presidência e abre a sessão. Põe em discussão o PL 02/05.

 

002 - CAMPOS MACHADO

Discute o PL 02/05 (aparteado pelos Deputados Milton Flávio, Sebastião Arcanjo e Arnaldo Jardim)

 

003 - HAMILTON PEREIRA

Discute o PL 02/05 (aparteado pelos Deputados Adriano Diogo e Carlinhos Almeida).

 

004 - ROSMARY CORRÊA

Discute o PL 02/05 (aparteada pelo Deputado Ítalo Cardoso).

 

005 - ENIO TATTO

De comum acordo entre as lideranças, pede o levantamento da sessão.

 

006 - Presidente MAURO BRAGATO

Acolhe o pedido. Levanta a sessão.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - MAURO BRAGATO - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado José Carlos Stangarlini para, como 2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º  SECRETÁRIO - JOSÉ CARLOS STANGARLINI - PSDB - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - MAURO BRAGATO - PSDB - Srs. Deputados, Proposição em Regime de Urgência - Discussão e votação adiada - Projeto de lei nº 2, de 2005, de autoria do Sr. Governador. Altera a Lei nº 9.361, de 1996, que criou o Programa Estadual de Desestatização e dispôs sobre a Reestruturação Societária e Patrimonial do Setor Energético. Com 14 emendas. Pareceres nºs 10, 11 e 12, de 2005, de relatores especiais, respectivamente, pelas Comissões de Justiça, de Obras Públicas e de Finanças, favoráveis ao projeto e contrários às emendas. Com 17 emendas apresentadas nos termos do inciso II do artigo 175 do Regimento Interno. Parecer nº 65, de 2005, do Congresso das Comissões de Justiça, de Obras Públicas e de Finanças, contrário.

Srs. Deputados, para discutir a favor, tem a palavra o nobre Deputado Campos Machado, pelo tempo de 17 minutos.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Cedo um aparte ao nobre Deputado Milton Flávio.

 

O SR. MILTON FLÁVIO - PSDB - Deputado Campos Machado, eu não poderia deixar de externar aqui o meu agradecimento pela defesa que V. Exa. fez dessa tribuna dos parlamentares desta Casa. Vossa Excelência, como sempre faz, assomou à tribuna em defesa do direito de expormos aqui nossas posições, embora contraditórias, embora nem sempre indicando a mesma solução. É muito importante, nesta Casa, que tenhamos a oportunidade de exercitar o direito que nos foi conferido pelo mandato, mas sobretudo pela vontade majoritária dos eleitores de São Paulo. Da mesma maneira, eu gostaria, neste momento, de me dirigir ao Presidente do Sindicato dos Eletricitários, Antonio Carlos dos Reis, o Salim: Salim, há muito tempo nos conhecemos. Reconheço seu trabalho e queria de público me desculpar com você - em razão do respeito que tenho pela sua pessoa, pela amizade que nos liga há tanto tempo - pela manifestação desrespeitosa que tive desta tribuna e deste microfone. Pela nossa amizade, acredito que a sua luta não merecia o comentário deste Deputado. Embora agredido em muitos momentos com palavras de baixo calão de outros manifestantes, você merece o meu respeito; os seus companheiros merecem meu respeito. Faço questão de amanhã, de público, mais uma vez, devolver esse respeito a você, tendo a TV Assembléia como nossa testemunha. Muito obrigado, sucesso e boa luta para vocês.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, Srs. Deputados, confesso que, na sessão anterior, não entendi muito bem a posição do nobre Deputado Sebastião Arcanjo. Nesse intervalo, eu me esforcei, Deputada Rosmary Corrêa. Comecei a meditar, a refletir e a indagar: qual o verdadeiro sentido da manifestação do Deputado Tiãozinho? Será que S. Exa. imagina que é o único parlamentar que tem respeito pelos sindicatos e pelos trabalhadores? Será que S. Exa. imagina que é o patrono dos eletricitários? Que nós não gostamos dos eletricitários?

O que eu trouxe aqui, de maneira muito simples, muito clara e cristalina, foi a posição em defesa a esta Casa. O Deputado Rafael Silva, por exemplo, tem um defeito que não nasceu com ele. Num acidente de carro, S. Exa. perdeu a visão. É justo chamá-lo de ceguinho? É justo tripudiar um homem que tem uma deficiência física, quando a maior deficiência é a de caráter? O Deputado Rafael Silva jamais vai poder ver a cor do vento, primeiro, porque o vento não tem cor e segundo, porque ele não pode enxergar.

Deputado Tiãozinho, Martin Luther King dizia “Podemos ter vindo de navios diferentes, mas, agora, estamos no mesmo barco.” Não é apenas V. Exa. que tem preocupação com a Cesp. Não é apenas V. Exa. que tem preocupação com os trabalhadores. Como já disse, não é só V. Exa. que defende a reforma agrária.

O que eu quis dizer aqui, Deputado Tiãozinho, é que devemos respeitar as pessoas que aqui vêm, os sindicatos, os diretores, os presidentes, os trabalhadores. O que peço é a contrapartida do respeito. Propus que plantássemos sementes de respeito. É isto, Deputado Tiãozinho.

V.Exa. se aproxima do microfone de apartes e eu, ao contrário de outros Deputados da chamada oposição que não dão aparte e pedem que a gente vá lá naquele cantinho se inscrever para falar, eu concedo um aparte a Vossa Excelência.

 

O SR. SEBASTIÃO ARCANJO - PT - Confesso que tenho muita dificuldade em entender algumas das suas posições.

Como eu disse, em 1995 V. Exa. estava aqui neste plenário e as bancadas do PMDB e do PTB naquela ocasião votaram contra o Programa Estadual de Privatização. Ingenuamente, como alguns companheiros que estavam na plenária, comemoramos. Não tínhamos conhecimento do Regimento Interno, tínhamos pouca informação sobre as manobras regimentais. Constatado o resultado da votação, chegamos a comemorar que a Bancada do Governo na época não havia obtido quorum suficiente para a aprovação da matéria. Depois fui informado que os votos que V. Exas. manifestaram, em que pese terem sido contrários, foram os votos que possibilitaram a aprovação do projeto, porque conferiram o quorum regimental à Assembléia, viabilizando, portanto, a aprovação do Programa Estadual de Privatização.

Então, ainda que este Deputado não chame para si como único interlocutor, como o único que conhece esta matéria, eu gostaria que as posições do PTB fossem mais claras para mim e para os trabalhadores que estão nesta Casa, para que pudéssemos entender de fato qual a posição do PTB em relação ao programa estadual de privatização do Governador de São Paulo. Será aquela posição que até entendi como solidária à nossa luta ou será a posição que vai fazer o jogo da tribuna, mas que no fundo a intenção será de colaborar com a ação do Governo de São Paulo rumo à privatização da CTEEP desta vez?

V. Exa. nos pediu que ocupássemos a tribuna para apresentar as propostas, inclusive disse que queria ouvir as propostas da oposição. Se V. Exa. me permitir, vou apresentá-las.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Lembro V. Exa. que tenho apenas nove minutos. V. Exa. poderá se inscrever depois e apresentar as propostas.

 

O SR. SEBASTIÃO ARCANJO - PT - V. Exa. como democrata - e conforme combinamos estar aqui para o debate - sugeriu que eu apresentasse uma posição, que não é minha. Aliás, foi este o sentido da minha fala durante todos estes dias. Inclusive invoquei como testemunhas aqueles que não são parlamentares do PT, não são do PCdoB e não são de aliados como o PMDB, porque a nossa proposta é construir uma proposta da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Que esta Assembléia - e V.Exa. reivindica que todos sejamos respeitados no cumprimento do nosso mandato - que o nosso Parlamento, como força política importante, tenha a capacidade de juntar numa mesa Governo Federal e Governo Estadual e apresentar uma proposta para São Paulo.

V. Exa., Deputado Campos Machado, sabe da proposta que estamos apresentando, porque leu atentamente tanto as revistas que foram lançadas pelo Sinergia/CUT como pelos eletricitários de São Paulo. Elas apontavam uma outra saída para o problema elétrico no Estado de São Paulo.

O que estamos apresentando - e a imprensa já falou disto várias vezes - é uma idéia superior à que está sendo colocada pelo Governador de São Paulo: é a constituição de uma holding. Mas, resumindo, é um modelo muito parecido com o sistema Petrobras e o sistema Eletrobrás, que na nossa opinião preserva os interesses maiores do povo de São Paulo e não faz com que o nosso patrimônio seja dilapidado por interesses menores. Inclusive gostaria que V.Exa. me respondesse se este atual modelo conseguiu dar qualidade e segurança para os consumidores de energia elétrica. Gostaria que me respondesse se o modelo que V.Exa. apóia deu tarifas acessíveis, sobretudo, à população de baixa renda. Gostaria que me respondesse também se o modelo que V. Exa. defende conseguiu equacionar o problema do endividamento público do Estado de São Paulo, porque este era um dos pilares que naquela ocasião sustentava o programa de privatização.

Como temos tempo, porque ainda restam sete minutos e estaremos debatendo nos próximos dias, espero que V. Exa. possa responder estas questões que colocamos. Mas quero deixar bem claro que não se trata de uma proposta deste Deputado, mas que pode e deve ser uma proposta do conjunto desta Casa, basta ter vontade política, aliás, era disto que estávamos conversando com o Deputado Arnaldo Jardim na tarde de hoje.

 

O SR. ARNALDO JARDIM - PPS - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Nobre Deputado, serei breve. Realmente acho que há um mérito importante naquilo que o Deputado Tiãozinho diz neste instante, que é a oportunidade que esta Casa tem de fazer um debate aprofundado sobre o tema. Acho que até a circunstância da hora acaba favorecendo para que esta discussão se estabeleça.

Eu, de minha parte, tenho discutido isto com freqüência com o Deputado Tiãozinho desde o momento em que se estabeleceu no nosso País a discussão sobre a reformulação de todo o modelo energético, particularmente do setor elétrico. Tivemos isso pós-apagão, temos toda uma formatação do modelo de responsabilidade de como convivem as entidades públicas e privadas no que diz respeito a isto e o papel diferenciado que há nesses setores nos diversos segmentos de geração, transmissão e distribuição.

Eu e o Deputado Tiãozinho estivemos presentes quando houve a revisão tarifária das principais distribuidoras do Estado de São Paulo. Estivemos presentes, por exemplo, quando reformatamos as agências reguladoras.

Na quinta-feira, numa das agências mais conceituadas de debates do nosso País, a Agência Dinheiro Vivo, coordenada pelo jornalista Luís Nassif, haverá um dia inteiro de debates sobre o novo modelo energético com a presença da Ministra Dilma Rousseff, em São Paulo. Eu e o Deputado Tiãozinho estaremos lá. Enfim, quero dizer que há oportunidade de termos um clima de sensatez, que a par da disputa situação/oposição podemos fazer um debate profundo sobre esta questão, porque a Cesp vai continuar, independentemente de quem esteja no Governo ontem, hoje ou amanhã.

Com base nisso, quero dizer que um dos momentos mais importantes que tivemos aqui foi no dia 17 de janeiro. Neste dia, reunimo-nos nesta Casa, sob a coordenação do Presidente Sidney Beraldo. Estiveram presentes os Secretários Mauro Arce e Eduardo Guardiã; o Deputado Vanderlei Macris, Líder do Governo; este Deputado e os Deputados Cândido Vaccarezza e Sebastião Arcanjo representando a bancada oposicionista. Naquela ocasião, discutimos os cenários em que poderíamos ter uma ação propositiva para que a questão da Cesp pudesse ser enfrentada com diferentes possibilidades.

Vou também participar desta discussão. Estou somente aguardando o momento em que este debate substantivo tenha condições de se estabelecer, e não simplesmente o debate da retórica e da polêmica. Discutimos uma holding que pudesse congregar os Governos Federal e Estadual. Chegamos, inclusive, a discutir como preservar o interesse dos acionistas minoritários, já que teríamos problemas junto à CVM, para que isso pudesse congregar todo o ativo que há dos Governos Estadual e Federal no conjunto das energéticas.

Hoje, começamos a pensar numa outra idéia, que pudesse, através de uma holding, reunir a Cesp, a Sabesp. Ouvi o esboço de uma idéia que o Deputado Tiãozinho tem e sobre a qual ele me adiantou alguns pontos. Estou ansioso para que possamos debater. Ou seja, há possibilidade real de se discutir esse tema profundamente.

Espero que esta noite, a par de toda polêmica e calor, crie condições para que este debate se restabeleça novamente nesta Casa e no âmbito de São Paulo.

 

O SR. Campos Machado - PTB - O respeito que tenho pelo Deputado Tiãozinho não me traz nenhuma dúvida. Vou atribuir a um lapso de memória de S. Exa., e não me atreveria falar em leviandades, pois conheço o caráter do Deputado Tiãozinho. Vou me referir a um lapso de memória.

Deputado Carlinhos Almeida, vou tomar o trem do passado para me localizar em 1995, quando V. Exa. estava aqui no plenário. V. Exa. foi injusto com o PTB. Sabe bem V. Exa. que, naquela oportunidade, eu fui contra o projeto. Não foi um jogo armado. Expus-me e, por apenas um voto, passou esse projeto. V. Exa. deve ter mudado de opinião porque, até pouco tempo atrás, V. Exa. me enaltecia com elogios.

De repente, V. Exa. diz que é um jogo de palavras. Mas V. Exa. deve ter sido vítima de um lapso de memória, o que é comum, Srs. Deputados. Lapso de memória acontece, não é má-fé, não é leviandade: é lapso de memória.

Esqueceu-se o Deputado Tiãozinho que ocorreu uma liberação da bancada naquela oportunidade. Embora os Senhores não achem, no PTB há uma democracia instalada. Há Deputados que optaram por um caminho e outros, como eu, que poderia ter seguido o caminho fácil do Governo, naquela oportunidade, e ter votado favoravelmente.

Aí, indaga V. Exa.: “Mudou o Deputado Campos Machado?” Recorro ao Barão de Itararé: “Só não muda de idéias quem não tem idéias!” Não fui que falei isso, foi o Barão de Itararé. Vamos internar o Barão, então!

Estamos aqui hoje com uma nova dinâmica, Deputado Tiãozinho. Estamos no terceiro milênio, novo mundo, o Lula Presidente. Mudou o mundo, o PT é Governo Federal. Mudou o mundo e V. Exa. ainda vai cavoucar situações do passado, que V. Exa. conhece tão bem quanto eu? E me apresenta aqui, de maneira singela e simples, o milagroso plano para recuperar a Cesp.

Quando era menino, lia muito o Mandraque que, num passe de mágica, resolvia as questões. Mas o Deputado Tiãozinho não tem nada de Mandraque. É um bom Deputado, um homem sério, um homem honrado, mas que precisa fazer colocações políticas. É um direito que o Deputado Tiãozinho tem.

O Deputado Arnaldo Jardim, que como o Deputado Tiãozinho também é estudioso da matéria, busca encontrar as alternativas. Estamos na expectativa da chegada do Deputado Cândido Vaccarezza. Imagino que o Deputado Cândido Vaccarezza, como me disseram, foi a Brasília. Os jornais noticiaram que ele foi conversar com um alto diretor do BNDES e vai trazer uma proposta. Não imagino que ele tenha ido passear em Brasília. Os jornais disseram que ele foi lá para trazer uma proposta concreta para a solução da Cesp e é isso que estou aguardando.

Deputado Tiãozinho, não sou um expert no assunto, como V. Exa. é, mas desde que inventaram o tal do bom senso, imagino que todos nós - ainda que não tenhamos a experiência de V. Exa., adquirida nas últimas lides - possamos colaborar.

Estamos apenas começando este debate. Amanhã, estaremos aqui de volta. Portanto, até amanhã, às 16 horas e 30 minutos, se Deus quiser!

 

O SR. PRESIDENTE - Mauro Bragato - PSDB - Srs. Deputados, inscrito para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Hamilton Pereira, por 30 minutos.

 

O SR. HAMILTON PEREIRA - PT - Companheiro Adriano Diogo, V. Exa. foi o primeiro Deputado da Bancada do Partido dos Trabalhadores a fazer uso desta tribuna no debate sobre este projeto de lei. E o fez de forma brilhante. Nós gostaríamos de destacar que desde aquele primeiro momento tivemos a presença dos companheiros do movimento sindical - Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Sindicato dos Eletricitários de Campinas, Sinergia, enfim - de todos aqueles que se preocupam com este grande patrimônio do Estado de São Paulo, dos trabalhadores, que permanecem aqui como sentinelas, vigilantes para que não percamos este patrimônio e cumprindo o seu papel de trabalhadores combativos que não podem ser chamados de pelegos por aqueles que não conhecem a vida pregressa desses companheiros. (Manifestação das galerias.)

A minha origem remonta ao movimento sindical. Sou do Interior, da cidade de Sorocaba, metalúrgico, torneiro mecânico, fui vice-Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e região. Foi ali que ingressei na vida partidária, até vir parar nesta Casa onde o povo do Estado de São Paulo, ou pelo menos uma parcela significativa deste povo, me deu esta oportunidade e esta honra de ocupar uma das 94 cadeiras de Deputados na Assembléia Legislativa. E tendo uma origem sindical, eu não poderia deixar de manifestar aqui a minha solidariedade a vocês, companheiros do movimento sindical, pela luta que não é de hoje, pela luta que não é destes dias, pela luta que nós testemunhamos já de muitos anos em defesa da classe trabalhadora.

Portanto, a nossa solidariedade a vocês, o nosso muito obrigado por estarem aqui conosco durante o dia e também avançando noites adentro na defesa dos interesses do povo do Estado de São Paulo. (Manifestação das galerias.)

O Projeto de lei 02/05 vem nos seguintes termos: “Tenho a honra de encaminhar, por intermédio de V. Exa., à elevada deliberação desta Assembléia, o incluso projeto de lei que altera a Lei 9.361, de 05 de julho de 1996, que criou o Programa Estadual de Desestatização e dispôs sobre a reestruturação societária e patrimonial do setor energético. A medida encontra-se plenamente justificada nas razões expostas pelos titulares das Secretarias de Energia, Recursos Hídricos, Saneamento e Fazenda, no Ofício 1112/2004, a mim encaminhado, que faço anexar à presente mensagem para conhecimento dessa ilustre Casa Legislativa. Enunciados assim os fundamentos de minha iniciativa, solicito que a apreciação do projeto se faça em caráter de urgência nos termos do Art. 26 da Constituição do Estado.

Reitero a V.Exa. os protestos de minha alta consideração. Geraldo Alckmin, Governador do Estado. À Sua Excelência, Sr. Sidney Beraldo, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado.”

Este projeto está vazado nesses termos, porque existe um ritual que estabelece a forma como os projetos devem ser redigidos para serem enviados a esta Casa. Se não fosse esse ritual, na realidade, este projeto poderia ser muito mais simples. Poderia ser escrito apenas e tão-somente: “A imobiliária Bandeirantes apresenta a sua mais nova proposta de liquidação: a venda da CTEEP.” Porque, depois de tantas privatizações que já foram feitas, chegamos à conclusão de que o Palácio dos Bandeirantes se tornou, na realidade, uma grande imobiliária que, infelizmente, tem contado com os agentes dessa empresa imobiliária aqui nesta Casa, atendendo as vontades da Imobiliária Bandeirantes, e votando junto com o proprietário da Imobiliária Bandeirantes, pela privatização dos ativos do Estado, em prejuízo da economia do Estado de São Paulo que, em última análise, significa um prejuízo para o nosso povo.

Nobre Deputado Carlinhos Almeida, é com muita satisfação que concedo um aparte a V. Exa. porque sei que contribuirá muito com este debate.

 

O SR. CARLINHOS ALMEIDA - PT - Nobre Deputado, Hamilton Pereira, em primeiro lugar, quero cumprimentar V. Exa. pela qualidade do seu pronunciamento.

Vendo V. Exa. , o nobre Deputado Mauro Bragato, Deputado pelo qual temos grande respeito, pela sua história, olhando os trabalhadores do setor energético, assistindo esta sessão, a sensação que temos é realmente a que V. Exa. colocou, é mais ou menos como se fosse uma liquidação.

Os tucanos quase acabaram com o Brasil, com essa política entreguista do Fernando Henrique Cardoso. Quase acabaram com o Brasil, e com o setor energético também. Quanto à Cesp realmente, quebraram a Cesp.

E vemos desfilar por essa tribuna, Deputados que chegam a dizer o seguinte: Os tucanos quebraram a Cesp; os tucanos quase quebraram o Brasil e os tucanos querem o quê agora? Dinheiro do BNDES, para enfiar no saco sem fundo, sem projeto. Queria dizer que o clima é esse, clima de imobiliária Bandeirantes.

O Sr. Governador Geraldo Alckmin já deve estar com as malas prontas, porque ele só pensa na campanha dele. Parou de governar o Estado de São Paulo, fica procurando momentos para se contrapor ao Presidente da República, preparando para no início do ano que vem, sair, entregar para o Cláudio Lembo, que vai ficar um tempinho também e depois vem outro governador.

Quer o quê? Quer nesse período rápido, ver o que mais dá para queimar nessa liquidação da imobiliária Bandeirantes. E a CTEEP é que vai para essa liquidação, para ser vendida na bacia das almas da privatização.

Acho que é importante, Deputado Hamilton Pereira, apesar do horário avançado, desse clima de liquidação, que realmente caia a ficha da Assembléia Legislativa de São Paulo, e que sustemos esse processo, como disse o nobre Deputado Adriano Diogo, dos vendilhões do patrimônio público. Esperamos que caia a ficha e que a Assembléia Legislativa suste esse processo, para que possamos discutir de maneira séria o setor energético que precisa de um projeto estratégico de desenvolvimento e não de uma liquidação como estamos vendo agora. Muito obrigado.

 

O SR . HAMILTON PEREIRA - PT - Muito obrigado, nobre Deputado Carlinhos Almeida.

Gostaria ainda de registrar que após a entrega do Banespa, após a passagem da Fepasa para a Rede Ferroviária Federal, e do desmonte do nosso parque ferroviário, com toda a resistência que fizemos, que os trabalhadores da empresa Comgás fizeram, tivemos nesta Casa a privatização da Comgás. Tentou-se ainda a privatização da Codasp. Desta vez, fomos vitoriosos, embora em minoria. Travamos uma batalha histórica nesta Casa e impedimos a privatização da Codasp.

Companheiros do movimento sindical, acredito que esta luta, esta resistência, pode garantir que a CESP continue nas mãos do Estado, e que a CTEEP não seja vendida.

Permaneçam firmes na luta. Gostaria de louvar o esforço das entidades sindicais, que contribuíram apresentando propostas, porque ao projeto de lei original que recebemos do Palácio dos Bandeirantes, foram apresentadas 31 emendas, e pasmem, 31 emendas elaboradas por várias bancadas de Deputados, por vários Deputados, e muitas emendas sugeridas pelos representantes das entidades sindicais, e das 31 emendas, todas, todas, foram recusadas. Nenhuma foi acatada pelo relator especial do projeto, que achou que as emendas não mereciam a atenção.

Estou chamando a atenção para esse fato, para dizer que os trabalhadores não são apenas críticos do processo de privatização, mas contribuem também apresentando propostas, tentando construir uma proposta alternativa para a saída da Cesp dessa dívida, uma proposta feita por aqueles que mais conhecem a Cesp e mais conhecem a CTEEP, aqueles que vivem na pele o dia-a-dia dessas empresas, e que justificadamente, temem pelo seu futuro, como trabalhadores que são, e que construíram esse patrimônio.

Gostaria de parabenizá-los. Fui testemunha aqui que os dirigentes sindicais apresentaram-se no Colégio de Líderes, apresentaram propostas concretas que, infelizmente, não foram levadas em consideração. Para citar, um dos boletins do Sindicato dos Eletricitários, onde o Antônio Carlos, presidente do sindicato, Salim, diz que entende que a privatização da CTEEP pode representar a demissão imediata de um grande número de trabalhadores e, conseqüentemente, a queda da qualidade do serviço de energia elétrica prestado à sociedade, além do aumento brutal das energias. É a palavra de quem conhece, de quem conhece do setor e que representa os trabalhadores do setor.

Portanto, quero me congratular com o Antonio Reis, com o Wilson Marques, pela luta que estão travando na condução desses trabalhadores, dos interesses do movimento sindical, e de todos os trabalhadores da Cesp, da CTEEP, e agradecer por essa cruzada cívica que vocês estão travando aqui na Assembléia Legislativa, ombro a ombro conosco. Muito obrigado pelo trabalho de vocês, porque, quem sabe, essa persistência, essa perseverança de vocês, até o esgotamento de todas as horas de debate, até o último minuto, consigamos convencer os adversários do Estado de São Paulo, os nossos adversários de que o Estado de São Paulo, a economia e a classe trabalhadora merecem respeito e consideração por parte desta Casa, em que todos nós fomos eleitos,para representarmos e defendermos os interesses do povo do Estado de São Paulo, não nos omitindo nessas questões estratégicas para o desenvolvimento do nosso Estado.

Sr. Presidente, para encerrar,gostaria de parabenizar a todos os sindicalistas e a todos os trabalhadores pela luta. Parabéns a vocês. Vamos em frente. Até a vitória, companheiros!

 

O SR. PRESIDENTE - MAURO BRAGATO - PSDB - Tem a palavra a nobre Deputada Rosmary Corrêa, inscrita para falar a favor.

 

A SRA. ROSMARY CORRÊA - PSDB - SEM REVISÃO DA ORADORA - Sr. Presidente, Srs. Deputados, senhores que ainda aguardam heroicamente das galerias, leitores do Diário Oficial, vamos falar a respeito do projeto em pauta, mas, antes, gostaria de pedir licença para falar a respeito do nosso Dia Internacional da Mulher.

Participamos hoje, pela manhã, de um evento na Avon Cosméticos, extremamente importante para nós mulheres, principalmente para as mulheres vítimas de violência física e sexual no sentido de que a Avon está patrocinando, junto com o Instituto Patrícia Galvão e a Unifem, um “disque denúncia” de violência contra a mulher.

Nós, que já acompanhamos aqui o sucesso do “Disque Denúncia”, que existe na Secretaria de Segurança Pública e que tem ajudado a resolver tantos crimes, seqüestros e tantas outras situações, vimos, com muita satisfação, a participação de uma empresa como a Avon para criar esse serviço de denúncias de violência contra a mulher. Eles estarão treinando funcionários, pagando-os para estar no atendimento às mulheres vítimas de violência. E em parceria com a própria Secretaria de Segurança, através das 125 delegacias de defesa da mulher que temos no nosso Estado de São Paulo, através de parcerias com a Secretaria de Saúde, através de um atendimento à mulher, principalmente da mulher vítima de violência sexual, como temos no Hospital Pérola Byngton, estará sendo implementado o “Disque Denúncia” sobre violência contra a mulher. É extremamente importante para todas as mulheres e foi um presente muito especial que a Avon deu hoje a todas as mulheres no nosso Dia Internacional da Mulher.

Tivemos uma mesa redonda, cujo mediador foi o jornalista Gilberto Dimenstein. Contamos com a presença da presidente da Unafem, da Dra. Albertina Duarte, enfim com uma plêiade de pessoas que discutiram violência contra a mulher em todos os seus níveis.

 

O SR. ÍTALO CARDOSO - PT - COM ANUÊNCIA DO ORADOR - Quero parabenizar todas as atividades que V. Exa. tem desenvolvido ao longo de seus mandatos em torno da questão da mulher, principalmente na questão da violência, experiência que V. Exa. colocou para este Estado como a primeira delegada da mulher do Estado.

Hoje, participamos também de uma atividade na Av. Paulista que juntou mulheres de todo o país, de todas as centrais sindicais, de todas as entidades. Fizeram uma passeata até a Praça da República e lá fizeram um ato chamando a atenção para a questão da violência contra a mulher, para a discriminação, para o preconceito, a questão salarial, que ainda tem diferença, e tantas outras bandeiras que as Deputadas da Casa sempre também colocam na frente de seus mandatos.

Quero cumprimentar também o Deputado José Dílson, do PDT, porque hoje consta na pauta da Casa que, às 19 horas, ocorreu um ato em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Na pauta diz “evento discute um projeto cultural em defesa da raça negra por iniciativa do Deputado José Dílson”.

Essa atividade ocorreu no Auditório Franco Montoro. O que ainda estou por saber - perguntei a V. Exa. e a várias outras Deputadas da Casa, procurei na pauta, procurei em todas os locais de informações - é sobre uma atividade que ocorreu agora, há pouco, no Hall Monumental desta Casa. Pelo que me consta, não tem nada a ver com a programação alusiva ao Dia Internacional da Mulher.

Perguntei ao Deputado Sebastião Arcanjo, que é coordenador da frente que cuida da luta contra a discriminação e preconceito racial, e ele também não sabia. Indago à Mesa desta Casa: que atividade foi essa, a pedido de quem, autorizada por quem e em nome de quem?

Temos que zelar por esta Casa. Nós, Deputados, quando saímos, somos indagados dos atos que acontecem aqui, da sua justeza e do seu alcance. Mesmo não participando, nós subscrevemos, porque, afinal, somos 94 Deputados responsáveis pelos acontecimentos desta Casa.

Esse ato, como disse, nobre Deputada, não sei a origem; até gostaria de saber. Perguntei a V. Exa., que é atenta a todas as ações desenvolvidas nesta Casa alusivas ao direito da mulher, também não soube me informar e procurou indagar no Hall Monumental, ao lado deste plenário. No momento, estamos discutindo um projeto de tanta importância, e não havia nenhuma segurança, nenhum resguardo, nenhuma precaução.

Aquele público poderia adentrar a este recinto sem nenhum constrangimento. Acredito portanto, que este plenário deve ser informado o porquê desse ato e quem autorizou. Por conta dessas indagações, mais uma vez, quero cumprimentar V. Exa. pela sua história de luta em defesa dos direitos da mulher. Muito obrigado.

 

A SRA. ROSMARY CORRÊA - PSDB - Deputado Ítalo Cardoso, V.Exa. realmente me indagou, aqui no plenário, ainda há pouco, se eu tinha conhecimento do ato que se desenrolava no Hall Monumental. Eu disse a V.Exa. que não tinha nenhum conhecimento porque inclusive a nossa Sessão Solene, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, aconteceu ontem, aqui neste plenário, na segunda-feira, às 10 horas da manhã. É o único ato oficial de que esta Deputada tem conhecimento, de comemoração do Dia Internacional da Mulher.

Cabe razão a V.Exa., de se preocupar com aquilo que possa estar acontecendo no Hall Monumental, tendo em vista até a nossa fragilidade, a nossa segurança frágil dentro deste plenário, discutindo assuntos de tamanha importância, e não sabendo, pelo menos não consta na pauta da Casa que o ato que se realiza no Hall Monumental tenha sido solicitado por algum Deputado, dos 94 Deputados desta Casa.

Mas tenho absoluta certeza de que após as indagações de V.Exa. à Mesa Diretora desta Casa, a Presidência efetiva desta Casa poderá, amanhã, esclarecer não só a V.Exa. mas a todos os Deputados, sobre a origem ou sobre quem autorizou ou quem solicitou o ato que estaria acontecendo no Hall Monumental.

 

O SR. ÍTALO CARDOSO - PT - Até que tipo de comenda que foi oferecida aos laureados nesta noite, Deputada.

 

A SRA. ROSMARY CORRÊA - PSDB - Vossa Excelência informou inclusive que haveria comendas a serem distribuídas. Esta Deputada realmente não sabe. Soube e fui até o Hall Monumental, não tive absolutamente nem a curiosidade, nem sabia que se desenvolveria um trabalho desse no Hall Monumental e portanto não sei do que se tratou.

Mas é importante, Deputado Ítalo Cardoso, e quero aproveitar aqui para relembrar V.Exa., que me cumprimentou pelo trabalho na luta contra a violência à mulher, no pioneirismo da Delegacia da Mulher, do momento em que estivemos juntos. Acredito eu já era Deputada de primeiro mandato, V. Exa. vereador, e estávamos tratando de um assunto extremamente importante e que diz respeito principalmente à mulher trabalhadora, que era o problema do assédio sexual. Eu, nesta Casa, entrei com projeto de lei para criminalizar o assédio sexual ou criar punições, mesmo que fossem administrativas, para o assédio sexual, não tinha tido a satisfação de ver esse projeto aprovado e transformado em lei e V. Exa., enquanto vereador, apresentando o mesmo projeto na Câmara Municipal, teve o seu projeto aprovado por aquela Casa com a conseqüente sanção. E tivemos oportunidade de na associação de secretárias ou sindicato das secretárias fazermos um debate justamente no Dia Internacional da Mulher a respeito do assunto. Portanto, é de longa data tanto o trabalho de V. Exa., quanto o trabalho desta Deputada, no tocante à luta contra a violência, discriminação ou qualquer tipo de sujeição contra sua vontade.

Agradeço a V. Exa., é um prazer contar com V. Exa. nesta Casa hoje para que juntos possamos empunhar nossa bandeira na luta contra qualquer violência e qualquer forma de discriminação contra a mulher.

 

O SR. PRESIDENTE - MAURO BRAGATO - PSDB - Nobre Deputada Rosmary Corrêa, a Presidência pede vênia a V. Exa. para dizer, em função da solicitação feita pelo Deputado Ítalo Cardoso, que esta Presidência em exercício recebe a indagação de S. Exa. e encaminhará à Presidência da Casa.

 

A SRA. ROSMARY CORRÊA - PSDB - Mas Sr. Presidente, Srs. Deputados, gostaria ainda de comentar a pesquisa feita pelo Instituto Patrícia Galvão, através da pesquisadora Fátima Jordão, que trouxe dados extremamente interessantes a respeito da violência contra a mulher. Para nossa preocupação inclusive, no sentido de verificarmos a nossa posição no tocante à violência contra a mulher, nessa pesquisa feita com duas mil mulheres, 30% delas manifestaram que a sua maior preocupação é com a violência, principalmente com a violência que sofrem dentro de casa, a chamada violência doméstica. Depois dessa preocupação vem, com 17%, a preocupação da mulher com o câncer de mama ou o câncer de útero. Vejam, Srs. Deputados, como é difícil para a mulher esta situação de violência.

Gostaria que todos os eventos que tivéssemos no Dia Internacional da Mulher não contássemos essencialmente só com a presença do público feminino, com muito poucos homens. Acho que vamos começar a mudar alguma coisa a partir do momento em que tivermos numa platéia que fale sobre violência e discriminação contra a mulher, uma grande maioria de homens, porque entre nós mulheres - e as mulheres aqui presentes sabem disso - conhecemos os nossos problemas. Nós precisamos fazer com que os nossos companheiros estejam com a gente nessa luta que enfrentamos no dia-a-dia contra a violência e discriminação.

 

O SR. ENIO TATTO - PT - Sr. Presidente, havendo acordo entre as lideranças presentes em plenário, solicito o levantamento da presente sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - MAURO BRAGATO - PSDB - Em face do acordo entre as lideranças esta Presidência, antes de dar por levantados os trabalhos, comunica que a nobre Deputada Rosmary Corrêa dispõe ainda de 17 minutos para a próxima sessão e lembra da convocação da sessão ordinária de amanhã.

Está levantada a presente sessão.

 

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- Levanta-se a sessão às 23 horas e 54 minutos.

 

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