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07 DE MARÇO DE 2012

007ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidente: BARROS MUNHOZ

 

RESUMO

ORDEM DO DIA

001 - Presidente BARROS MUNHOZ

Abre a sessão.

 

002 - DONISETE BRAGA

Destaca a presença, nesta Casa, do comunicador Osmar Santos. Manifesta seu apoio à manifesto que defende que a bola de futebol da Copa do Mundo de 2014 seja denominada "gorduchinha", em homenagem ao comunicador.

 

003 - MARIA LÚCIA AMARY

Saúda a presença de Osmar Santos neste plenário. Pede aos demais parlamentares apoio ao manifesto que propõe que a bola da Copa do Mundo de 2014 seja chamada de "gorduchinha".

 

004 - BETH SAHÃO

Saúda a visita do comunicador Osmar Santos. Demonstra seu apoio para que a bola da Copa do Mundo de 2014 seja conhecida por "gorduchinha".

 

005 - ADRIANO DIOGO

Agradece ao comunicador Osmar Santos, presente nesta Casa, por sua atuação no movimento "Diretas Já" e por seu posicionamento favorável ao restabelecimento da democracia no País.

 

006 - CAMPOS MACHADO

Lembra o apoio de Osmar Santos à candidatura deste Parlamentar para a Prefeitura de São Paulo. Enaltece a atuação pessoal e profissional do comunicador.

 

007 - Presidente BARROS MUNHOZ

Associa-se às manifestações dos demais parlamentares quanto à presença de Osmar Santos nesta Casa. Enaltece a figura do comunicador e defende que a denominação oficial da bola de futebol na Copa do Mundo de 2014 seja "gorduchinha", em sua homenagem. Coloca em discussão o PLC 48/09.

 

008 - CARLOS GIANNAZI

Discute o PLC 48/09.

 

009 - ADRIANO DIOGO

Discute o PLC 48/09 (aparteado pelo Deputado Antonio Salim Curiati).

 

010 - Presidente BARROS MUNHOZ

Anuncia a presença do vereador Luciano Durães de Vasconcelos, Presidente da Câmara Municipal de Agudos, das Vereadoras Neusa Vicente e Maria Antônia da Silva, e do assessor parlamentar Aparecido Dantas, do mesmo município.

 

011 - CAMPOS MACHADO

Discute o PLC 48/09.

 

012 - JOÃO ANTONIO

Discute o PLC 48/09.

 

013 - Presidente BARROS MUNHOZ

Encerra a discussão do PLC 48/09. Coloca em votação e declara aprovado o substitutivo do Congresso de Comissões, restando prejudicado o PLC 48/09. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

O SR. DONISETE BRAGA - PT - Sr. Presidente, tenho a satisfação de anunciar que se encontra entre nós nosso grande amigo, companheiro, grande comunicador do rádio brasileiro Osmar Santos. (Palmas.)

Juntamente com a Deputada Maria Lúcia Amary estamos apresentando um manifesto para o qual gostaríamos de contar com a assinatura dos 94 deputados da Casa. O manifesto tem como objetivo denominar de ‘gorduchinha’ a bola da Copa de 2014, uma grande campanha hoje no Brasil.

Osmar Santos é um democrata. Quem não se lembra das Diretas Já, em que Osmar Santos liderou vários comícios no Brasil pelo processo democrático. Hoje ele visita este Parlamento pedindo apoio para que em 2014 tenhamos a ‘gorduchinha’ como a bola da Copa do Mundo.

 

A SRA. MARIA LÚCIA AMARY - PSDB - Sr. Presidente, quero saudar não só um dos maiores locutores esportistas que o Brasil já teve, mas também sua participação como cidadão brasileiro na luta pelas Diretas Já. Hoje, mais do que nunca, temos de apoiar a sua reivindicação, que é a reivindicação de todos nós brasileiros.

Portanto, juntamente com o Deputado Donisete Braga, queremos homenagear este homem que é um exemplo de superação e de vida, presente entre nós hoje pedindo a todos os pares que assinem este manifesto denominando a bola da Copa do Mundo de ‘gorduchinha’, um nome que já está no coração e na cabeça de todos os brasileiros.

É um orgulho, é um prazer enorme recebê-lo. Você é um exemplo de vida para todos nós. Muito obrigado Osmar Santos por tudo o que você fez pelo esporte brasileiro. (Palmas.)

 

A SRA. BETH SAHÃO - PT - Sr. Presidente, eu não poderia deixar de cumprimentar o querido Osmar Santos. Ele tem estado muito em Catanduva. Aliás, no jogo do grêmio catanduvense nós fortalecemos a ideia da ‘gorduchinha’ como o nome da bola da Copa. Espero que dê certo e consigamos emplacar. Quero cumprimentar o Deputado Donisete Braga e a Deputada Maria Lúcia Amary proponentes da ideia.

Ter Osmar Santos nesta Casa é motivo de orgulho, ele que é um companheiro, muito simpático e um ícone do esporte brasileiro. Seja bem-vindo. (Palmas.)

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Sr. Presidente, Deputado Donisete Braga, Deputada Maria Lúcia Amary, estou emocionado. Obrigado por tudo o que você fez por nós na campanha das Diretas Já. Muito obrigado pelo que você fez pela democracia e pelo povo brasileiro.

A bola, ‘gorduchinha’ e o símbolo da Copa, Saci-Pererê. (Palmas.)

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Meu amigo, meu irmão Osmar Santos, voltando ao relógio do tempo quero dizer que em 1996 eu saí candidato a prefeito em São Paulo e lançava como candidato a vereador o estilista Tomazini. Sabem quem nos acompanhava, numa campanha de Dom Quixote? Osmar Santos, que abraçou a causa com dedicação, fervor e o coração grande que tem.

Sabe, meu amigo Osmar Santos, é difícil conviver com dificuldades. Nas facilidades todo mundo vive. Há muitos políticos que são acostumados às rosas, não aos espinhos e quando sentem a dor dos espinhos eles buscam a calúnia, a difamação e a injúria. Você sempre foi um homem que soube distinguir tristeza, alegria e sofrimento, o que lhe deu a força que você tem.

A sua presença hoje aqui - e vejo que você está emoldurado pelo Deputado Donisete Braga e por esta menina mulher chamada Maria Lúcia Amary - engrandece esta Casa.

Se há alguém, Sr. Presidente, que merece o nosso respeito, se há alguém para quem não existe nenhum obstáculo, esse alguém chama-se Osmar Santos. A qualquer reunião que seja convidado, o primeiro a chegar é Osmar Santos. Ele comparece, prestigia e mostra sua grandeza em saber enfrentar os obstáculos que a vida lhe deu.

Que Deus lhe proteja meu amigo, meu irmão Osmar Santos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência não pode deixar de se associar a todas as manifestações feitas e tenho certeza de que muitas deixam de ser feitas única e exclusivamente em função do tempo e da necessidade de votarmos um projeto extremamente importante.

Esta Presidência não pode deixar de dizer que se sente extremamente emocionado e honrado com a visita deste brasileiro que todos podemos dizer é uma unanimidade nacional. O Brasil tem poucas coisas em que se é unânime. É da natureza humana discordar. Quase tudo tem quem defenda, tem quem goste, tem quem não goste. Há uma pessoa que neste País é unanimemente querida, respeitada e admirada e ela hoje dá a honra a este Parlamento de nos visitar: o querido Osmar Santos.

Obrigado, Maria Lúcia Amary, obrigado Donisete Braga por trazerem a este Parlamento este exemplo de cidadão, de desportista, de homem, esse exemplo de democrata como vocês bem disseram. Não tenham dúvida de que os 94 deputados assinarão esta indicação à Fifa pleiteando que a nossa bola se chame ‘gorduchinha’ e assim a gente vai se lembrar daqueles tempos tão gostosos em que Osmar nos brindava com o seu ‘ripa na chulipa e pimba na gorduchinha’.

Que Deus lhe abençoe querido Osmar Santos. (Palmas.)

Proposição em Regime de Urgência:

- Discussão e votação - Projeto de lei Complementar nº 48, de 2009, de autoria do Tribunal de Justiça. Dispõe sobre a criação de cargos no Quadro do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Parecer n° 282, de 2012, do Congresso das Comissões de Justiça e Redação e de Finanças, favorável com substitutivo.

Em discussão. Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi, por 15 minutos.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público presente, telespectador da TV Assembleia, venho a esta tribuna para discutir o Projeto de lei Complementar 48 de 2010 que dispõe sobre criação de 2.199 cargos de assistente jurídico para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Esse projeto foi apresentado ainda em 2010, no ano em que ocorreu a greve histórica dos servidores do Judiciário. A greve durou 127 dias e chamou atenção da opinião pública, da Assembleia Legislativa para as mazelas, para as contradições e para as muitas denúncias em relação ao Tribunal de Justiça. Denúncias, inclusive, que hoje são anunciadas e publicadas na grande imprensa e que são feitas, sobretudo, pelo Conselho Nacional de Justiça pela ministra corregedora Eliana Calmon, que tem feito um trabalho excepcional, brilhante de enfrentamento dos feudos nos tribunais de justiça de todo o Brasil e principalmente no de São Paulo. Ela tem feito um trabalho de investigação e de enfrentamento com as oligarquias dos tribunais de justiça.

As denúncias foram feitas em 2010 e até anteriormente. Não foi à toa que nós, na Assembleia, por conta das denúncias feitas pelos servidores, pelas suas entidades representativas encaminhamos pedido para instalar uma CPI do Judiciário. Conseguimos as 32 assinaturas, protocolamos o pedido, mas estranhamente, 2 ou 3 dias depois, alguns deputados retiraram suas assinaturas. Exatamente após o processo eleitoral de outubro de 2010.

Tenho certeza de que muitos deputados assinaram o pedido de CPI pressionados em suas cidades pelos servidores que estavam em greve e denunciando as mazelas, as contradições e, sobretudo, as denúncias que hoje veem à tona pela grande imprensa. Na mesma Folha de S. Paulo há uma matéria falando das denúncias dos servidores do Judiciário em 2010. “TJ julga hoje pagamento de benéficos sob suspeita. Desembargadores de São Paulo receberam entre 15 e 36 mil por tempo que atuaram como advogados.” Ou seja, alguns desembargadores receberam o valor da licença-prêmio de quando ainda estavam fora do Tribunal de Justiça, quando eram advogados e não eram concursados, não eram servidores públicos. Essas pessoas ainda não tinham ingressado na magistratura, mas receberam entre 15 e 36 mil reais.

Por isso que vai ter uma discussão e um julgamento no próprio Tribunal de Justiça. Essa foi uma das muitas denúncias feitas pelos servidores do Judiciário naquele momento histórico de uma greve que foi extremamente pedagógica porque nos ensinou muito e mostrou essas contradições.

O mesmo jornal Folha de S. Paulo tem um artigo do jornalista Élio Gaspari, sob o título “O descuido dos magistrados do Tribunal de Justiça” Ele fala exatamente dos juros que foram pagos em dobro para setores da magistratura em relação às dívidas como auxilio moradia e dívidas salariais.

Ou seja, todo dia tem uma denúncia contra um segmento da magistratura, porque temos certeza de que os juízes são sérios, a magistratura também, mas há juízes e desembargadores que acabam maculando a magistratura paulista.

O fato é que há várias denúncias em relação ao Tribunal de Justiça, algumas estão sendo investigadas pelo Conselho Nacional de Justiça, outras começam a ser discutidas pelo próprio desembargador Ivan Sartori. Há uma pressão da sociedade, da opinião pública da mídia em relação ao processo de democratização do Tribunal de Justiça, sobretudo o de São Paulo. Segundo a ministra corregedora Eliana Calmon é um dos piores no sentido da transparência. Ela tem dito isso exaustivamente.

É nesse cenário que vamos votar hoje esse Projeto de lei Complementar 48 de 2010 criando 2.199 cargos. O projeto original encaminhado na gestão do ex-governador José Serra foi encaminhado pelo presidente já falecido Antonio Carlos Viana e dizia que esses cargos seriam de confiança, comissionados, e o juiz poderia nomear assistentes jurídicos pessoas de fora do Poder Judiciário.

Quando o projeto foi apresentado imediatamente nós do PSOL já nos colocamos contra. Denunciamos o fato, anunciamos que votaríamos contra e faríamos a obstrução. Uma das nossas lutas, aqui, foi pela não aprovação do Projeto de lei Complementar 48. Denunciamos dizendo que seria um verdadeiro retrocesso, uma violação, uma afronta ao bom senso os cargos serem políticos, de confiança dos juízes.

Defendemos que o ingresso a todos os cargos criados sejam por meio de concurso de provas e títulos, como reza a Constituição Federal; É o instrumento mais justo no atual momento da democracia. Talvez não seja o mais perfeito, mas no momento é o mais justo. No entanto o projeto não versava sobre essa questão do concurso público. E a opinião pública também é contra esse tipo de nomeação porque favorece o nepotismo, favorece o genrismo, o compadrio, favorece, enfim, as pessoas que estão próximas do juiz e tem o favorecimento político. Então, como isso é inviável, hoje, na nossa sociedade, o próprio Tribunal de Justiça recuou.

O presidente do Tribunal de Justiça, Ivan Sartori, disse na Comissão de Líderes que apresentaria uma proposta de emenda a esse projeto para uma alteração. Realmente ele o fez. Até porque não votaríamos esse projeto se ele estivesse no seu estado original. Foi aperfeiçoado por conta da dessa pressão da opinião pública, da imprensa, das entidades representativas dos servidores do Poder Judiciário e de deputados da própria Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Acho que o projeto avançou principalmente no Art. 3º, no inciso IV, requisitos para nomeação de assistente jurídico, diz que tem que ser ocupante de cargo função atividade do quadro permanente de servidores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ou seja, esse cargo será exercido por um servidor de carreira do Poder Judiciário. Por exemplo, o escrevente será nomeado para esse cargo. O juiz não pode nomear uma pessoa de fora, um amigo, um parente muito menos, porque o nepotismo é proibido hoje no Brasil, em toda a administração pública nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Então, esse inciso do Art. 3º representa um avanço importante.

Também tenho que ressaltar aqui o próprio inciso V, que também combate o nepotismo, que diz o seguinte: “Não ser cônjuge, afim e parente em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive de qualquer dos integrantes do Poder Judiciário do Estado de São Paulo”. Esse inciso afasta qualquer possibilidade de nepotismo, mesmo nepotismo cruzado dentro do Poder Judiciário. Por isso vamos votar esse projeto.

Tínhamos uma sugestão que não foi acolhida, até porque não houve aqui um debate mais aprofundado com relação a esse projeto, nem com o Poder Judiciário, nem aqui na Assembleia Legislativa, porque já tem a emenda aglutinativa, houve um acordo. Nós do PSOL, para aperfeiçoar ainda mais esse projeto, defendemos que haja um concurso público interno entre os servidores. Acho que assim teríamos um projeto mais perfeito ainda, que os servidores de carreira concursados do Tribunal de Justiça fizessem um concurso interno para ocupar esses 2199 cargos. Mas agora, por conta da emenda aglutinativa isso não é mais possível. Entendemos que o Tribunal de Justiça tem um déficit de 15 mil cargos vagos que devem ser preenchidos imediatamente para que a nossa Justiça seja mais rápida, mais célere, menos burocrática. Temos hoje a crise dos precatórios. O Poder Judiciário não tem funcionários; tem estrutura para pagar os precatórios.

O Estado de São Paulo tem uma dívida de 20 bilhões de reais com os precatórios, principalmente alimentares. E a prefeitura de São Paulo tem mais de 10 bilhões de dívida. Uma parte desse dinheiro está disponível no Tribunal de Justiça e ele não consegue pagar porque não tem estrutura, não tem funcionários, e sabemos disso. Por isso fazemos um apelo para que haja contratação de servidores pelo instrumento do concurso público, de mais oficiais de justiça, de mais escreventes, em todas as áreas. No mínimo, precisamos de mais 15 mil servidores trabalhando no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. e logicamente é preciso melhorar o salário dos servidores porque a greve de 2012 mostrou claramente isso: o quanto a política salarial do Tribunal de Justiça para os servidores é aviltante, de arrocho e compressão dos salários. Muitos acordos feitos nem foram cumpridos. A data-base dos servidores do Poder Judiciário também não é respeitada, como não é respeitada a data-base do Poder Executivo. O governador Geraldo Alckmin não cumpre a data-base, o Tribunal de Justiça não cumpre a data-base salarial. É um desrespeito. O Tribunal de Justiça não cumpre a lei. Um absurdo. É um poder que tem que dar exemplo de cumprimento da lei e não cumpre a lei da data-base salarial dos nossos servidores.

Sr. Presidente, vamos votar a favor do projeto logicamente e reivindicamos que haja concurso público para a nomeação de outros setores do Poder Judiciário. Precisamos de mais funcionários. O Poder Judiciário passa por uma crise de estrutura, de falta de funcionários, de sucateamento. Nós aqui na Assembleia Legislativa já aprovamos vários projetos criando cargos que nem foram preenchidos, como o de oficial de justiça. Há um déficit de três mil vagas. Aprovamos o projeto autorizando o Tribunal de Justiça a realizar os concursos. No entanto, o Tribunal de Justiça só contratou 300 oficiais de justiça no último concurso. Um absurdo.

Aprovamos aqui projetos de lei criando os fóruns da zona sul, da Capela do Socorro e da região de M’Boi Mirim. Em 2006, foi aprovado um projeto de lei criando o fórum de São Mateus. E até agora nada. Os fóruns não foram construídos nem instalados. Temos mais de 300 varas para ser implantadas no Estado de São Paulo e isso não acontece, mesmo com a aprovação de projetos d elei pela Assembleia Legislativa. Por isso a Justiça do Estado de São Paulo está um verdadeiro caos, Sr. Presidente. Ela precisa de mais investimento, sobretudo investimento nos seus servidores. Até porque os desembargadores estão até em dobro. Recomendo a leitura do artigo do jornalista Elio Gaspari, no jornal "Folha de S.Paulo" de hoje: “Descuido dos magistrados do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo”, dando conta das regalias, das irregularidades em relação à magistratura do Estado de São Paulo, que recebe os seus atrasados. Mas os servidores não recebem nada. Estão na fila de espera há milhões de anos. Não recebem licença-prêmio, não recebem as férias vencidas, os atrasados, e os acordos feitos no último dissídio também não são cumpridos. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Adriano Diogo, pelo tempo regimental.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Deputado Barros Munhoz, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, o Projeto de lei Complementar nº 48, de 2009, do Poder Judiciário, assinado pelo presidente do Tribunal de Justiça, Dr. Roberto Antonio Vallim Bellocchi, o projeto original, dispõe sobre a criação de cargos no Tribunal de Justiça.

À época era o governador era o Dr. José Serra. O que dizia o Art. 1º?

“Artigo 1º - Ficam criados, no Subquadro de Cargos Públicos do Quadro do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, 2.199 (dois mil, cento e noventa e nove) cargos de Assistente, na Tabela I, SQC-1, enquadrados na Referência 1 da Escala de Vencimentos - Comissão, para atender à estrutura dos gabinetes dos Juízes de Direito de Entrância Final, Auxiliares Fixos da Capital, Auxiliares da Capital, Auxiliares do Interior, de Entrância Intermediária e de Entrância Inicial.

Parágrafo único - Aplica-se aos cargos ora criados o disposto nas Leis nºs 7.451, de 19 de julho de 1.991, e 8.126, de 11 de novembro de 1.992, especialmente a vedação prevista no parágrafo único do artigo 4º da primeira delas.”

Pois bem, era outubro de 2009.

A Assembleia Legislativa, nessa legislatura, conseguiu atenuar o impacto do projeto. Porém, hoje estamos criando os mesmos 2199 cargos de livre provimento. Mudou o presidente do Tribunal de Justiça, mudou o governador, e a Assembleia fez o que melhor podia fazer para aprimorar esse projeto. Qual foi a contribuição da Assembleia Legislativa? Com a criação de 2.199 cargos de livre provimento, o provimento seria feito pelos funcionários do próprio Tribunal. Mas eu faço a seguinte pergunta: se na área da Saúde o servidor é concursado para ser auxiliar de enfermagem e faz uma faculdade de nível superior de enfermagem, ele pode ser contratado, pelo concurso que o admitiu como auxiliar de enfermagem, para enfermeiro nível superior? Não. Se você faz um concurso para a Polícia Militar como suboficial e ascende nas carreiras até sargento, por livre provimento você pode virar capitão, major, tenente-coronel? Não. Se você faz um concurso para escrivão de Polícia, você pode ascender na carreira por livre provimento a delegado? Não. Se você faz um concurso para ser funcionário administrativo de uma escola, você pode ascender na carreira num cargo de livre provimento como professor? Não, não, não e não.

Então a Justiça é a base da democracia e nós nos orgulhamos da Justiça brasileira. Nós nos orgulhamos da Justiça paulista. Nós nos orgulhamos dos juízes, do Poder Judiciário. As exceções não são as regras. Isso também vale para o Poder Legislativo, vale para qualquer segmento. As exceções não são a regra. As exceções são a minoria, a minoria, a minoria, porém embora a Assembleia Legislativa tenha dado a máxima contribuição que podia para melhorar esse projeto de lei, amarrando o livre provimento aos funcionários já concursados do tribunal, não conseguimos resolver o problema original de um projeto mandado pelo Poder Executivo para que pudéssemos aprovar.

O Deputado Giannazi, meu irmão, meu amigo, que tem uma íntima relação com as carreiras do funcionalismo do Poder Judiciário, fez uma belíssima defesa de sustentação, que respeito e considero. Mas o livre provimento para funcionários já concursados sem que seja estabelecido um novo concurso fica muito difícil de defender. Fica muito difícil. Todos os dias nós, os deputados, somos submetidos a uma bateria de desmoralizações: salários, estrutura dos gabinetes, veículos, transportes, mordomias. É certo isso? Não. É certo generalizar? Não. Mas como vamos justificar a criação de 2.199 cargos? Que o Poder Judiciário precisa de estrutura para trabalhar, que a essência da democracia é a celeridade da análise dos projetos, tudo, tudo de bom que for para o Poder Judiciário, para o Poder Legislativo, pela modernidade, pela democracia devemos aprovar, mas 2.199 cargos de livre provimento para repor vagas e reabsorver funcionários concursados em outras categorias, fica muito difícil para explicar.

Muito obrigado, Presidente, pelo esforço enorme, enorme, enorme que V. Exa. faz todos os dias, sem nenhuma mesura, sem nenhum exagero para manter a face pública da nossa instituição. Parabéns pelo esforço que fez para melhorar esse projeto, com toda a sinceridade, mas são 2.199 cargos! Vamos obedecer mais uma vez essa orientação política do Poder Executivo.

 

O SR. ANTONIO SALIM CURIATI - PP - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Realmente estou frequentando hoje este plenário para aprovar com entusiasmo este projeto que está aí. Mas estamos engatinhando e V. Exa. - até anotei aqui - falou na bateria de desmoralização deste Poder. Temos que reagir a tudo isso. Não podemos ficar indiferentes ao que está acontecendo com o Poder Legislativo de São Paulo, e do Brasil. Por isso fizemos uma PEC. Ouvi todos os deputados que me antecederam e vou ouvir também o Deputado Campos Machado. É importante que nos unamos para reagir a tudo isso. Não podemos ficar indiferentes! O Poder Legislativo não pode continuar desmoralizado e o Poder Judiciário também não.

Quero aproveitar esse projeto, hoje, para solicitar a V. Exa., Presidente, o seguinte: temos duas PECs para fazer com que o Poder Legislativo e o Poder Judiciário sejam respeitados. Não podemos continuar com essa indiferença, nessa apatia. A Constituição é clara, a Constituição é definida: harmonia e independência dos poderes, mas não existe harmonia e nem independência. Quem manda é o Executivo. O Poder Judiciário e o Legislativo estão apensos ao Executivo. Vamos modificar isso.

Há duas PECs, Sr. Presidente, fazendo com que efetivamente o Poder Legislativo e o Poder Judiciário fossem igualados ao Poder Executivo. Solicito a V. Exa. que as coloque na Ordem do Dia para que possamos valorizar este Poder, esta Casa. Beneficiamos uma entidade lá em Presidente Prudente, demoram quase um ano para fazer com que essa entidade seja atendida. Eles falam de quem? Falam do Deputado, não falam do Poder Executivo.

Vossas Excelências estão de parabéns, mas precisamos reagir a tudo isso.

Estou de saída; estou completando dez mandatos, mas desejo fazer isso, Sr. Presidente, nobres Deputados, fazer com que esta Casa seja efetivamente valorizada, porque aí todos serão valorizados. E não vamos ficar aqui no plenário pedindo aumento, ajoelhando para o Poder Executivo para que atenda as reivindicações deste Poder.

Deus o abençoe e a todos os deputados. Muito obrigado.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Muito obrigado, Deputado Curiati, muito obrigado a todos. Viva o Poder Judiciário, viva a justiça, viva a democracia. Mas que a justiça seja para todos e não para alguns, os privilegiados. Justiça para todos, democracia!

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência quer anunciar com muito prazer a presença neste plenário do nobre Vereador Luciano Durães de Vasconcelos, Presidente à Câmara Municipal de Agudos; da nobre Vereadora Neusa Vicente, também de Agudos; da nobre Vereadora Maria Antonia da Silva; e do Sr. Aparecido Dantas, assessor da Câmara Municipal.

A todos as homenagens do Poder Legislativo do Estado de São Paulo. (Palmas.)

Em discussão. Para discutir a favor, tem a palavra o nobre Deputado Campos Machado, pelo tempo regimental.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, nobre Deputado José Antonio Barros Munhoz, um dos melhores Presidentes que esta Casa já teve em toda a sua história, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, começo dizendo que há um grande equívoco nessa discussão.

Não há criação de cargos de assessores, não. Há transformação de cargos de escreventes para assessores, e a nomeação de escreventes vai ser por concurso. Onde está a criação de cargo de assessoria? Ao contrário do que se afirmou aqui, é um estímulo, um incentivo ao servidor. Fosse eu atendente e vivesse a expectativa, e enxergasse no horizonte que posso ser nomeado assessor jurídico, eu estaria feliz. Eu estudaria mais, trabalharia mais.

O que não dá é aceitar essa conclusão ilógica e irracional de que estamos criando vagas de assessores jurídicos. Estamos criando expectativas para os atendentes, para os escreventes, que se encontram lá trabalhando há 20 ou 30 anos, que podem se transformar, sim, em assessores jurídicos, com melhores salários. E através de concursos a nomeação de milhares de escreventes que vão fazer concurso público.

Desfeito esse equívoco, vamos às falas dos nobres Deputados, meu amigo Carlos Gianazzi, pai da Leila, e meu amigo Adriano Diogo. A Magistratura de São Paulo é a mais qualificada e a mais preparada Magistratura do País. Quero aqui, neste momento, fazer uma saudação especial ao novo Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Dr. Ivan Sartori, um homem de extrema sensibilidade, um homem determinado, um homem corajoso, um homem sonhador, um homem que tem um profundo amor pelo Judiciário.

Na defesa do que ele ama, que é o Judiciário, o Dr. Ivan Sartori está fazendo uma revolução. No atendimento aos Deputados, por exemplo, ele respeita os Poderes. Ele respeita este Poder. Trata os Deputados com urbanidade, com dignidade, com respeito.

E na parte funcional, a primeira preocupação que ele teve foi com o funcionário do Judiciário. Ele se preocupou não em criar novos cargos, como era o projeto inicial, em que se criavam 2.000 a 2.500 assessores jurídicos. Lado a lado com nosso Presidente Barros Munhoz, e esse projeto deve muito a V.Exa., eles construíram um novo caminho. E esse novo caminho é de que os escreventes foram valorizados.

Como dizia o Deputado Ary Fossen, pai de um grande juiz, há um equívoco muito grande na sociedade. É a valorização do funcionário do Judiciário, ele vai ser promovido. Ao invés do que se canta por aí, o Presidente Ivan Sartori, a primeira preocupação que teve, quando veio aqui no Colégio de Líderes, não foi com os juízes, não, foi com os funcionários do Judiciário.

Fala-se que na Magistratura de São Paulo há juízes que não são dignos. Quero apresentar o meu repúdio. Se houvesse um fato isolado, e não há nenhum fato comprovado, não se pode, em função de uma laranja podre, conturbar e incriminar todo o laranjal. Não é fácil ser Juiz de Direito. Não é fácil julgar, limita-se muito o seu cargo.

Fazem uma acusação, sem eira nem beira, e se quer atribuir a todo o Judiciário, todos os juízes, todos os magistrados? Ouvi atentamente os meus colegas. Eles falaram no plural, não no singular: desembargadores, juízes. Temos que, primeiro, verificar se efetivamente houve alguma falha, alguma irregularidade na concessão desse benefício. Não podemos prejulgar: “foi irregular a verba dada ao desembargador”. Mas quem disse isso? Onde está provado isso? Temos que ter prova.

A palavra tem sangue, às vezes. A palavra é dura. É tão dura que às vezes expede sangue e não volta mais. Já se falou. É como honra. Se eu apanhar um papel em branco aqui agora, rasgar em 100 pedacinhos, subir no mais alto prédio desta cidade, e jogar fora esses pedacinhos, se eu conseguir recompor a folha, eu consigo recompor a honra de um homem que foi atingido. Por isso, não podemos prejulgar uma ou outra pessoa que recebeu uma verba a que ele tem direito.

Ah, mas foi descumprida a ordem cronológica. Mas você sabe disso? Já se provou isso? Já se comprovou isso, ou se ouviu falar? Ah, eu li no jornal. Ah, você leu no jornal? Então não fale, meu amigo. Temos que verificar se é verdade. Temos que verificar se há responsabilidade nessa acusação. Mas, não. Desde logo temos que, a priori, nos rendermos à tal da presunção da inocência. Não se pode culpar alguém sem estar devidamente comprovado e provado.

Não há um caso comprovado de que algum magistrado ou algum desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo tenha cometido alguma irregularidade. Há insinuações. Há palavras de pessoas que não se incomodam com a honra alheia.

Vejam, por exemplo, a Corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Desembargadora Eliana Calmon: temos que expulsar alguns vagabundos de toga. Ela não dá nome. Se eu vier aqui e afirmar que temos que expulsar um Deputado da Casa, todos os 94 ficam sob suspeita. Isso é leviandade. Quais são os meios legais utilizados, ou que teriam sido utilizados pela Corregedora, Dra. Eliana Calmon? Escuta telefônica. Será que isso é legal? Será que os tais grampos são legais? Será que é justo grampear o telefone de alguém, violar correspondência? Com base nisso foram instalados procedimentos no Tribunal de Justiça em outros Estados.

O Ministro Ricardo Lewandowski e o Ministro Marco Aurélio concederam liminares para impedir que procedimentos lastreados em meros indícios, em nenhuma prova concreta, se transformassem em muralhas que impedissem a luz da verdade.

Fez-se uma acusação a toda a Magistratura. Ou não? Aos defensores. Tenho muita preocupação com a falsa moralidade, com aqueles que pregam a ética, a moral de Platão, como dizia noite dessas o Deputado Rafael Silva. O que é moral? O que é caráter?

De quando em quando me surge uma expressão: sociedade civil organizada. Quem sabe o que é sociedade civil organizada? O que é sustentabilidade? Apóio o projeto do Deputado João Paulo Rillo, em virtude da governabilidade. O que é isso? Um dia desses, ouvi um deputado federal falando grosso: “Em nome da sociedade civil organizada, quero prestar o meu depoimento.” O que seria sociedade civil organizada? Espero que algum parlamentar desta Casa venha um dia à tribuna e diga o que quer dizer sociedade civil organizada.

A moda, agora, é criticar juízes. A sociedade civil organizada virou modismo, e o modismo agora é criticar o Judiciário. Quem tem uma prova insofismável, incontestável de algum juiz? Quero uma única prova. Ah, mas eu li no jornal... Você viu o procedimento? Você ouviu as testemunhas? Você examinou o processo, meu amigo? Temos que acreditar na Justiça!

Piero Calamandrei, que escreveu “Eles, os juízes, visto por nós, os advogados”, dizia que a Justiça, como todas as divindades, só aparece aos nossos olhos quando cremos nela. Se não cremos no nosso Judiciário, como vamos aguardar a Justiça?

É por isso que, nesta noite, venho aqui para cumprimentar esta Casa; cumprimentar o Presidente Barros Munhoz, que conversa animadamente com o Líder do PT, Deputado Enio Tatto; cumprimentar a Bancada do PT; cumprimentar a Bancada do PSOL, na pessoa do meu amigo, Deputado Carlos Giannazi. Leila, filha do Deputado Giannazi, é uma menina encantadora. Giannazi só tem cara de bravo: é um pai dedicado, amoroso, que se deslumbra com as músicas de Roberto Carlos. Esse é o verdadeiro Carlos Giannazi, um romântico. Quero cumprimentar todos os parlamentares desta Casa, especialmente o Presidente Barros Munhoz, responsáveis pela chegada deste dia, pela aprovação desse projeto que é muito importante para o Judiciário.

Quero terminar fazendo uma saudação, no instante em que entra no Plenário o meu amigo, Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, Deputado Rui Falcão, uma das referências desta Casa. Quero cumprimentar o Presidente Ivan Sartori. Deixo consignado o meu reconhecimento pelos seus sonhos e pela maneira efetiva com que vem conduzindo o Tribunal de Justiça.

Daqui a pouco, ouviremos o Deputado João Antonio Infelizmente, por questões políticas e partidárias, não terei a honra de ouvi-lo. Desde já, deixo as minhas felicitações porque V. Exa. é uma das pessoas que creem na Justiça e defendem o nosso Judiciário com a alma, com o coração. Vossa Excelência tem história. Nunca se esqueça: só muda a história quem tem história. Amanhã, vou ler o depoimento de V. Exa. para que possa dizer a mim mesmo: estava certo quando me referi ao Deputado João Antonio.

 

O Sr. Presidente - Barros Munhoz - PSDB - Esta Presidência quer esclarecer ao Deputado Campos Machado que estava comemorando com o Deputado Enio Tatto, por breves instantes, a grande alegria de o Vereador Arselino Tatto ter obtido a vitória no Poder Judiciário, ontem. (Palmas.)

Para falar a favor, tem a palavra o nobre Deputado João Antonio.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, nobres Srs. Deputados, não podia deixar de vir a este microfone. A Bancada do Partido dos Trabalhadores já nos orientou a votar favoravelmente a esse projeto de lei.

O Deputado Campos Machado fez um brilhante discurso, falando do Poder Judiciário neste País. Quero concordar com o Deputado Campos Machado quando ele fala que, numa democracia, para que possamos alcançar a harmonia social, é indispensável um Poder Judiciário forte.

Aliás, essa é a essência da Teoria de Freios e Contrapesos, que trata de um Poder fiscalizando o outro, para que, nessa relação de equilíbrio, tenhamos um Poder Público voltado para o seu objetivo maior: a defesa dos interesses da coletividade. Ou melhor, para que possamos viabilizar, de fato, o papel do Estado, que é o desenvolvimento integral do ser humano. Pelo menos, isso é o que penso.

No Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, temos que registrar alguns defeitos dessa democracia que vivemos. Primeiro: superpoder do Executivo. Assiste razão o meu mestre nesta Casa, Deputado Antonio Salim Curiati, ex-Prefeito da Cidade de São Paulo, em dizer que, objetivamente, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário andam de pires nas mãos, solicitando ao chefe do Poder Executivo algum dinheiro para viabilizar minimamente o exercício das suas funções. O poder concentra-se todo nas mãos do Executivo.

Minha mãe, lá atrás, já era feminista, defendia os direitos das mulheres. Numa crítica ao machismo, dizia que as mulheres têm que se libertar economicamente dos homens para se tornarem independentes. E falava para mim: “Quem controla o poder econômico controla o poder de comando, controla o poder político.” Minha mãe estava certa ao resgatar o valor e a dignidade da mulher. E eu traço um paralelo e faço analogia: se o Executivo controla todo o poder do dinheiro, e o Legislativo e o Judiciário têm de estar de pires na mão catando as migalhas que caem da mesa do Executivo - que libera ou não, de acordo com as conveniências -, temos então uma relação de harmonia e de autonomia dos poderes relativos.

Acho que é essa uma questão fundamental. Lendo recentemente um livro, “O Futuro da Democracia”, de Norberto Bobbio, filósofo e jurista italiano, li duas frases importantes. A primeira delas que gravo na memória, e porque é fundamental para entendermos o processo da democracia, é: “Está em transformação é o estado natural da democracia.” Bela frase. Diz mais: “A democracia é o poder público em público.” E aí acho que para nós avançarmos na democracia temos de garantir a transparência de todos os atos de quem exerce a governança do governo, seja no Judiciário, no Executivo ou no Legislativo.

Meus cumprimentos a nossa grande Eliana Calmon, que tem feito um trabalho brilhante para que tenhamos também no Poder Judiciário a transparência dos seus atos. Nada pode ser escondido no regime democrático, pois a transparência é a essência da democracia. Quando nós escondemos do público atos praticados por pessoas do poder, estamos cerceando a participação do povo e diminuindo a capacidade deste povo de interferir no poder. Portanto, o poder público em público e a transparência são a essência da democracia. Vale para nós, para o Executivo e para o Judiciário, assim como este projeto que aqui está. Espero que se algum dia o Legislativo, por analogia, resolva copiar este projeto do Poder Judiciário, Deputado Rui Falcão, Deputado Barros Munhoz, nosso Presidente democrático desta Casa, não tenha nenhum impedimento. Porque sempre há dois pesos e duas medidas. Lá pode muitas coisas, tem uma interpretação da lei de certo jeito, mas aqui não pode. Parece que as pessoas que são eleitas pelo povo para exercer o mandato público chegam aqui já com um carimbo: desvio de conduta, como se todos que chegam nesta Casa tenham desvio de conduta.

Então vamos antecipar determinados tipos de decisões para evitar que tenhamos algum tipo de desvio de conduta - não pode ser dois pesos e duas medidas. Se valer para o Judiciário tem de valer também aqui nesta Casa, e também no Executivo as mesmas regras. Não existe um poder melhor que outro, mas existe harmonia e autonomia. Ao mesmo tempo um trabalho em conjunto porque, se o objetivo do Estado é o desenvolvimento integral da pessoa humana, esse trabalho tem de ser feito em harmonia e na mesma direção. Mas com autonomia, o que pressupõe dotação orçamentária própria e capacidade própria em fazer a gestão. Sem isso, não há autonomia. Às vezes, você quer realizar algo, mas não consegue porque o dinheiro está em outro departamento, outro poder, e vai liberar de acordo com a conveniência.

O Deputado Salim Curiati tem inclusive uma PEC nesta Casa sobre essa questão da autonomia financeira dos poderes e tem solicitado na Comissão de Constituição e Justiça, insistentemente, para que pautemos esta PEC para debatermos essa questão. Aliás, a Comissão de Constituição e Justiça, na sua penúltima sessão, aprovou um ofício ao nosso Presidente Barros Munhoz pedindo para pautar esta PEC. Vossa Excelência está de parabéns. Acho importante isso tanto para o Poder Legislativo, como para o Poder Judiciário. É fundamental que tenhamos o Judiciário trabalhando para melhorar a sua atuação e a sua eficiência, mas não para o Poder Executivo porque eles já estão com a caneta e estão sentados no dinheiro.

Este projeto cria 2.199 cargos no Poder Judiciário, de livre provimento, para serem ocupados por funcionários de carreira. Acho que dá autonomia bastante grande para que o Poder Judiciário possa promover funcionários que têm a competência para exercer outros cargos de chefia e tal. O ideal seria fazer essa correção aumentando o número de funcionários, fazendo concurso público interno para que o funcionário tenha acesso a outros cargos, mas, na ausência dessa metodologia, nós, da bancada do Partido dos Trabalhadores, somos favoráveis a este projeto por orientação do nosso líder. Pode ser uma ferramenta importante para tornar o Poder Judiciário ainda mais eficiente e para que possamos ter de fato um Judiciário que promova a harmonia da sociedade brasileira e da coletividade. Este é o nosso desejo: tornar o Judiciário mais eficiente. E isso implica obviamente, cada vez mais, se tornar mais transparente em seus atos. Tenho ouvido e lido as posições do atual Presidente do Tribunal de Justiça e tenho certeza de que também vai caminhar nessa direção. A transparência do Poder Judiciário e o controle cada vez maior do público, de todos os poderes, Judiciário, Executivo e Legislativo, são fundamentais para que tenhamos uma democracia fortalecida. E isso, repito, depende da transparência de todos aqueles que ocupam a função pública. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, não havendo mais oradores inscritos, está encerrada a discussão. Em votação o Substitutivo apresentado pelo Congresso de Comissões. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovado. Fica, portanto, prejudicado o projeto.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência a dá por encerrada, lembrando-os antes da Sessão Extraordinária convocada para daqui a 10 minutos. Portanto, às 20 horas e 20 minutos.

Está encerrada a presente sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 20 horas e 10 minutos.

 

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