29 DE MARÇO DE 2010

010ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS “PROFISSIONAIS DA ADVOCACIA E TRIBUTO AO DOUTOR MÁRCIO THOMAZ BASTOS”

 

 

Presidentes: BARROS MUNHOZ e FERNANDO CAPEZ

 

RESUMO

001 - Presidente BARROS MUNHOZ

Abre a sessão. Anuncia a presença de convidados. Comenta que a presente sessão fora convocada pelo Deputado Barros Munhoz atendendo a solicitação do Deputado Fernando Capez, com a finalidade de prestar homenagem aos profissionais da advocacia e tributo ao doutor Márcio Thomaz Bastos. Convida todos para, de pé, ouvir o Hino Nacional Brasileiro. Dá ciência de que a sessão será presidida pelo Deputado Fernando Capez. Atesta que a Advocacia é a mais nobre das profissões e presta homenagem a todos os advogados de São Paulo. Parabeniza o Deputado Fernando Capez. Faz elogios ao Doutor Mário Thomaz Bastos.

 

002 - FERNANDO CAPEZ

Assume a Presidência. Anuncia a presença de várias autoridades. Enaltece o Doutor Márcio Thomaz Bastos. Tece considerações sobre a importância da advocacia para o Estado. Faz leitura do currículo do homenageado e ressalta períodos importantes da carreira deste.

 

003 - LUIZ FLÁVIO BORGES D´URSO

Presidente da OAB do Brasil - Secção São Paulo, faz elogios aos Senhores Deputado Barros Munhoz, Fernando Capez e Campos Machado. Anuncia a presença de autoridades diversas.  Presta homenagem aos colegas de profissão. Lembra passagens de sua vida acadêmica e de sua atuação como Presidente da OAB São Paulo. Enaltece a fidelidade na relação entre o advogado e o acusado.

 

004 - PAULO DIMAS DE BELLIS MASCARETTI

Presidente da Associação Paulista de Magistrados, comenta que os jovens que preparam-se para carreira jurídica devem se inspirar em pessoas competentes e se preparar para uma vida digna e honrada. Tece considerações sobre sua atuação como promotor de justiça.

 

005 - RICARDO DIAS LEME

Secretário-adjunto de Estado da Justiça e Defesa da cidadania, representando o Senhor Governador José Serra, dá ciência de conquistas alcançadas por meio da Constituição de 1988. Relata que as ditaduras não convivem com a liberdade de imprensa e nem com uma advocacia combativa e atuante. Afirma que o direito de defesa, indispensável no regime democrático, busca o ideal de justiça. Alega que a OAB vem tornando cada vez mais rigorosos os exames para admissão de seus quadros.

 

006 - Presidente FERNANDO CAPEZ

Presta homenagem ao Senhor Adalberto Coutinho e ao Doutor Márcio Thomaz Bastos.

 

007 - MÁRCIO THOMAZ BASTOS

Advogado criminalista, agradece a homenagem. Comenta momentos difíceis por que passam os profissionais da categoria. Diz que esta é uma celebração da advocacia e do direito de defesa. Tece comentários sobre o Instituto de Defesa do Direito de Defesa. Afirma que a Advocacia é uma tensão dialética entre o bem e o mal e que não existe a verdade absoluta, e nem a mentira absoluta.

 

008 - Presidente FERNANDO CAPEZ

Anuncia a apresentação musical. Faz homenagem a Senhora Leonor Bastos. Lê e comenta trecho da obra "O Dever do Advogado", de Rui Barbosa. Enseja êxitos à profissão da advocacia. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Abre a sessão o Sr. Barros Munhoz.

 

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O SR. PRESIDENTE – BARROS MUNHOZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - É com muita honra que eu anuncio as presenças nesta Mesa: do Dr. Márcio Thomaz Bastos, o homenageado desta noite; do Dr. Benedito Gonçalves, ministro do Superior Tribunal de Justiça; do Exmo. Sr. Ricardo Dias Leme Secretário-Adjunto de Estado Justiça e Defesa da Cidadania, representando o Governador José Serra; e do Exmo. Dr. Luiz Flávio Borges D´Urso, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo. Também cito como presentes na extensão da Mesa o Dr. Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, presidente da Associação Paulista de Magistrados; o Desembargador Heraldo de Oliveira Silva, representando o presidente do Tribunal de Justiça, Dr. Antonio Carlos Viana Santos; e o Dr. José de Souza de Moraes, procurador do Estado representando o Procurador - Geral do Estado, Dr. Marcos Fábio de Oliveira Nusdeo.

Sras Deputadas, Srs Deputados, minhas Senhoras e meus Senhores, esta Sessão Solene foi convocada por este Presidente atendendo solicitação do Deputado Fernando Capez com a finalidade de prestar “Homenagem aos Profissionais da Advocacia, Tributo ao Dr. Márcio Thomaz Bastos.”

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do maestro, Subtenente PM Edson Jesus de Oliveira.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar.

É praxe em Sessão Solene como esta, o Presidente da sessão ser o autor da sua convocação, e nesta sessão o Presidente será o Deputado Fernando Capez. Mas, eu fiz a mais absoluta questão de aqui estar presente como Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para prestar também a minha homenagem à minha profissão, à minha classe, à classe dos advogados. Eu disse na posse do Dr. D´Urso na Presidência da OAB na semana passada, que a política é a mais sórdida das profissões, e a mais nobre das artes. Mas, queria fazer questão de dizer hoje aqui, que a mais nobre das profissões é a Advocacia. É como alguém que acredita nisso que eu presto também a minha homenagem à profissão de advogado, a todos os advogados de São Paulo.

E quero parabenizar esse extraordinário Deputado que tem se revelado como um dos mais brilhantes da atual legislatura, o Deputado Fernando Capez. Brilhante, jurista, e por isso mesmo um brilhante e competente presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, a mais importante Comissão Permanente. O Deputado Fernando Capez tem se destacado em todos os aspectos da complexa atividade parlamentar, inclusive nesta, que faz parte também da vida do parlamentar, a de enaltecer perante a sociedade paulista e brasileira aqueles que merecem ser enaltecidos. E eu parabenizo a iniciativa do Deputado Fernando Capez de homenagear alguém como o Dr. Márcio Thomaz Bastos.

Sou suspeito para falar do Dr. Márcio Thomaz Bastos, porque o admiro desde jovem, e, inclusive, pela admiração que meus parentes tinham por ele. Meu irmão, José Caetano Ferreira Munhoz, que foi juiz de Direito no Vale do Paraíba, tinha pelo Dr. Márcio Thomaz Bastos uma grande admiração. Mas, sou suspeito para dizer.Parabéns ao Dr. Márcio Thomaz Bastos pelo grande advogado que é, por representar tão bem a nossa classe, por ter sido o grande ministro da Justiça que foi, por ter dado a sua colaboração para que este governo do Presidente Lula fosse bem sucedido como foi e como vem sendo. Porque nenhum governo que é aprovado por mais de 75% da população é mal sucedido. Por tudo isso, Dr. Márcio, receba os cumprimentos deste Deputado e os cumprimentos de todo Parlamento de São Paulo, que respeitosamente o reconhece como um paradigma do profissional do Direito, um brilhante, competente, íntegro advogado.

Passo a Presidência dos trabalhos com muita honra e com muita satisfação, e peço licença para me retirar, ao grande deputado, ao grande colega e companheiro Deputado Fernando Capez. (Palmas.)

 

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-Assume a Presidência o Sr. Fernando Capez.

 

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O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Boa-noite. Esta não é uma sessão qualquer, esta é uma Sessão Solene, o que significa que ela tem forma sacramental, o que significa que somente ela pode ocupar o espaço destinado aos trabalhos legislativos, que são os espaços destinados aos parlamentares. Ela só pode ser convocada pelo Presidente da Assembleia, nenhum outro deputado pode fazê-lo, e ela obedece a rígidos padrões regimentais. Não se pode instalar uma Sessão Solene para qualquer finalidade, isto tem que ser apreciado. O cerimonial é rígido. E esta Sessão Solene homenageia na pessoa deste grande advogado, deste grande criminalista, Dr. Márcio Thomaz Bastos, toda Advocacia brasileira.

Quando um advogado atua, ele defende muito mais do que aquela pessoa que está sendo acusada. Quando um advogado atua, ele não defende o acusado especificamente, ele defende um princípio: o princípio de que nenhum de nós pode ser privado da sua liberdade, ou aviltado no seu patrimônio senão mediante estrita obediência aos princípios derivados do Estado Democrático de Direito. Sem a presença do advogado, e quando eu falo advogado e vejo Dr. Márcio Thomaz Bastos é difícil não se emocionar, porque ele é uma expressão plena do que é ser advogado. Sem advogado o Estado se transformaria num Leviatã acusatório, no qual a tese da acusação não encontraria a antítese da defesa, inviabilizando síntese da justiça de um pronunciamento imparcial, equidistante e equilibrado. E é por isso, Sr. Presidente Luiz Flávio Borges D´Urso, a OAB tem razão quando ela afirma que sem advogado não se faz justiça. Para que o tripé esteja firme e bem assentado, os três pés devem ter igual força e fincados com a mesma firmeza.

Eu vi o Dr. Márcio Thomaz Bastos então ministro da Justiça, com inúmeros afazeres, tomar um avião e vir numa sexta-feira à noite, cansado, fatigado, participar de um júri simulado nas Arcadas da velha São Francisco. Arcadas - onde nos formamos o Presidente Barros Munhoz e eu - para num gesto de humildade, e mais do que isso, de amor à Advocacia se expor e mostrar àqueles estudantes um pouco da sua atuação.

Nós vamos proceder a uma breve leitura seguindo aqui o nosso Regimento Interno, da pessoa e do currículo do Dr. Márcio Thomaz Bastos.

“Márcio Thomaz Bastos, nascido em Cruzeiro, Estado de São Paulo, - e temos aqui o Dr. Guimarães, procurador de Justiça e ex-prefeito de Cruzeiro, que  está aqui prestigiando -, é formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1958. Fez curso de especialização em processo penal na Pontifícia Universidade Católica, terminando essa especialização em 1971. Participou do seu primeiro júri em 1957, ainda na condição de solicitador acadêmico.

Entre defesas e acusações, ao longo desses mais de 35 anos trabalhou em aproximadamente 700 julgamentos pelo júri. E um deles, se me permite lembrar, eu era estudante à época, 1983, num duelo de gigantes, como assistente de acusação enfrentou o saudoso Waldir Trancoso Perez que foi nosso homenageado ainda em vida neste plenário, no rumoroso caso Lindomar Castilho.

Advogado exclusivamente criminal, tem trabalhado em centenas de causas em todo o Brasil, do Rio Grande do Sul ao Acre, onde acusou os assassinos de Chico Mendes. Tem entre seus clientes Dom Luciano Mendes de Almeida, Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário Antonio Ermírio de Moraes, Sra Maria Pia Matarazzo, e a CNBB.

Publicou inúmeros artigos sobre matéria penal em várias publicações nacionais. Fez dezenas de palestras e conferências em todos os estados da Federação. Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, - Secção São Paulo, e da Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Federal. Da Secção São Paulo, se não me engano, em 1983, eu estava no segundo ano da faculdade, assisti uma palestra sua na nossa classe, junto com Severo Gomes, Jair Meneguelli, Dom Luciano Mendes de Almeida e outros, que fizeram parte do Movimento Ação pela Cidadania.

Foi coordenador da área de Justiça e Segurança do governo paralelo instituído pelo Partido dos Trabalhadores. Foi ministro da Justiça de 2003 a 2007, e como bem lembrou o nosso Presidente Barros Munhoz, um dos principais baluartes a garantir o equilíbrio do Governo Lula, sendo, portanto  co-responsável pelos frutos hoje hauridos por todo país.

Nós agora, na sequência do cerimonial, vamos nominar todas autoridades aqui presentes, e uma a uma. Eu passo a palavra neste momento ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção São Paulo, Dr. Luiz Flávio Borges D´Urso, a quem pedimos que ocupe a tribuna reservada aos parlamentares, porque hoje ela pertence aos advogados. (Palmas.)

 

O SR. LUIZ FLÁVIO BORGES D’URSO - Eminente Deputado Fernando Capez, que preside esta cerimônia, eu quero como primeira palavra saudá-lo, e mais do que isso, aplaudi-lo por esta iniciativa que, sem dúvida nenhuma, traduz o anseio não só da Advocacia, mas de muitos brasileiros, saudando a Advocacia na presença deste, que é um dos maiores ícones. Não há espaço para que qualquer óbice seja levantado a esta iniciativa de Vossa Excelência. Pelo contrário, nós estamos aqui para enaltecer tal iniciativa que, sem dúvida nenhuma, conta com o apoio de todas as entidades de advogados, de toda Advocacia, de todos que integram a família forense, e de todos os brasileiros.

Quero, também, embora ausente, saudar esta figura extraordinária de advogado e Presidente desta Casa, Deputado Barros Munhoz. E quero fazer aqui um registro, meu querido Deputado Fernando Capez, em homenagem ao Deputado Barros Munhoz como alguém atento a toda interlocução que a Ordem dos Advogados do Brasil realiza nesta Casa. São dois deputados que eu peço vênia saudar, embora ausentes, um deles o Deputado Barros Munhoz, e o outro, o Deputado Campos Machado, que preside a Frente Parlamentar de Advogados que organizamos nesta Casa de Leis. Ambos têm , juntamente com V.Exa., se prestado a esta interlocução sempre proveitosa para o Poder Público e para a Advocacia.

Quero, também, saudar o Ministro Benedito Gonçalves representando, neste ato, o Superior Tribunal de Justiça; saudar o Exmo. Ricardo Dias Leme, Secretário-Adjunto de Estado da Justiça, representando aqui Sua Excelência o Governador José Serra; saudar o Desembargador Heraldo de Oliveira Silva, representando o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Viana Santos; saudar o Desembargador Paulo Dimas Mascaretti, presidente da Associação Paulista de Magistrados; saudar Dr. José Luiz Souza de Moraes, Procurador do Estado, representando aqui o Procurador Geral do Estado; saudar o meu querido colega Márcio Kayatt que preside de maneira brilhante o Conselho da Carteira de Previdência dos Advogados do Ipesp; saudar  este aluno da Uniban Adalberto Coutinho, demais desembargadores, juizes, membro do Ministério Público, advogadas, advogados, autoridades civis e militares.

E antes de dirigir a palavra ao grande homenageado da noite, meu querido colega Márcio Thomaz Bastos, vendo aqui tantos amigos, tantos nomes importantes da Advocacia e da Advocacia Criminal, peço licença a todos para fazer três referências. Homenageando a Advocacia na pessoa deste, que foi, é e sempre será o nosso grande presidente da Ordem, Sr. Mário Sergio Duarte Garcia. Receba as nossas homenagens, meu querido Mário Sergio. (Palmas.)

Mas nós não podemos esquecer aqueles que não estão entre nós .Quero fazer uma referência especial à presença de seu filho João Carlos - da figura inesquecível dessa grande liderança Raimundo Pascoal Barbosa. (Palmas.)

Márcio, se nós parássemos por aqui eu cometeria uma impropriedade, uma injustiça, porque você sabe muito bem que a cada ano o percentual de mulheres em nossa carreira vem aumentando, e sem dúvida nenhuma nós temos uma advogada que precisa sempre ser lembrada, em nome de todas as advogadas, que é a querida Zulaiê Cobra Ribeiro. (Palmas.)

A palavra é muito breve, a saudação é muito singela e será dividida em duas partes: primeiro, a pessoal e depois a institucional. A pessoal é para revelar a todos que quando o Sr. Capez era estudante - e eu também me encontrava na Faculdade de Direito da FMU –e presidindo a comissão de formatura, deliberamos entre todos os colegas qual seria aquele que deveria trazer uma mensagem para nós que estávamos cheios de esperanças e expectativas sobre um futuro que ainda era incerto. E o nome escolhido, festivamente escolhido, foi o do, então Presidente da OAB de São Paulo, Márcio Thomaz Bastos, de quem eu já ouvia muitas vezes as palestras porque freqüentava a OAB, e até porque todas gratuitas. Como estudante, você sabe a dificuldade que se tem para dispor de alguns recursos. O Sr. Márcio já era um ícone de todos nós estudantes, especialmente por aquele júri memorável em que enfrentou o Sr. Waldir no caso Lindomar Castilho. Eu me lembro até hoje, e tenho ainda, porque gravei em fita cassete. Não sei se vai funcionar, pois  a gravei    alguns anos e já fiz nela uma limpeza ,pois chegou até a pegar um pouquinho de mofo, mas eu salvei o áudio. E isso eu gravei durante a madrugada num radinho de pilha por conta de que tudo parou.

Talvez o caso recente que foi levado a julgamento pelo Tribunal do Júri foi o caso Nardoni ,que empolgou  a opinião pública, e provocou a curiosidade de tantos. Talvez nós tenhamos algo semelhante, senão maior,  levando em consideração aquele momento histórico em que tudo parou para se ouvir Waldir e  Márcio Thomaz Bastos. Eu me encantei, e você encantou todos os estudantes de Direito. Quando estive em seu escritório, em nome dos estudantes, para buscar aquela mensagem, numa conversa muito rápida você efetivamente me conquistou. E foi ali que talvez tenha nascido a vontade de servir a nossa OAB, de servir a nossa classe. E a partir de então, Márcio, saí com o propósito de ser como você e de um dia chegar à  Presidência da OAB de São Paulo, que hoje eu ocupo com tanto orgulho.

Tudo começou ali. Faço essa revelação.Já lhe contei essa história, mas hoje o faço publicamente, porque em muitos momentos eu lhe observava, verificava a sua forma de olhar, a sua forma de colocar as mãos para ouvir alguém, a sua forma de presidir a nossa OAB, a sua forma de falar, a sua forma de articular o pensamento. Palavras que eu guardo até hoje na memória, que ouvi naquela época, em 1982. Algumas delas, quando você se referia ao belo discurso daquele que estava falando na Ordem e você usou a expressão: “Este que fala usando esse universo semântico maravilhoso da OAB”. Desde 1982, eu guardo isso, e muito mais, que você nos propiciou a mim e a tantos outros companheiros da minha geração.Por isso você se tornou modelo, por isso você se tornou o grande advogado criminal que todos nós homenageamos nesta noite.

E aqui eu compareço, não mais como aquele estudante de Direito, mas como presidente da OAB São Paulo, com muita felicidade por ter sido três vezes escolhido pela nossa classe para conduzir os destinos da nossa OAB. E creia, Márcio, eu estou à frente da Ordem não só pelo orgulho de poder presidir a maior entidade da sociedade civil deste país, mas eu estou lá também para honrar a sua gestão que foi gloriosa, e a de Mário Sergio que foi gloriosa, a de Raimundo Pascoal Barbosa, a de Bigi, a de Bisa, a de Batóquio, a de Aprobato, e tantos e tantos grandes nomes que lideraram a Advocacia como advogados operosos, embora não tivessem os seus nomes nos píncaros da fama. Eram advogados que estavam ali orbitando na OAB e construindo uma nova Advocacia.

E eu quero lembrar aqui a figura de alguém que me ensinou a Advocacia Criminal no seu dia-a-dia, e nas aulas que tivemos na sua gestão, no curso de estágio profissional que fiz na OAB. Saúdo aqui a memória do nosso querido Cleber de Menezes Dória, grande advogado criminal. (Palmas.)

Você não imagina, meu querido Márcio, o turbilhão de ideias e de pensamentos que me ocorrem e me enchem o espírito e o coração de alegria. Eu poderia somente dizer a você obrigado. Obrigado por tudo que você representou ou representa e sempre representará para a nossa Advocacia, especialmente a Advocacia Criminal. E mais uma vez aqui, de público, eu peço vênia para aproveitar a homenagem que lhe faço, e em nome desses 300 mil advogados neste Estado de São Paulo, que tenho orgulho de representar, para dizer a este povo, a esta gente, à nossa sociedade que jamais podemos confundir a figura do advogado com a do seu cliente. Recentemente, o nosso colega que estava na tribuna da defesa foi alvo de manifestações e de uma reação de antagonismo àquele que, nada mais fazia ali do que garantir um julgamento justo àqueles acusados. É esta nova concepção que precisa permear a mídia, que precisa dominar o senso comum da nossa sociedade. A de se respeitar cada vez mais a figura indispensável daquele, que muitas vezes só é lembrado quando, efetivamente, ninguém mais está a seu lado quando sofre uma acusação.

Ah! Quantos e quantos já escreveram que ninguém senta no último degrau da escada com o acusado senão o seu advogado. Quando os amigos o abandonam, quando a família lhe dá as costas, o único que sobra é o seu advogado. É por isso que temos que exaltar esta profissão, e em especial aqueles que servem de modelo máximo da nossa Advocacia, e aí eu exalto Márcio Thomaz Bastos.

Com essas palavras, Márcio, do coração, eu venho aqui com um pedacinho daquele estudante de Direito que tanto o admira, e venho aqui como Presidente da Ordem trazendo um pedacinho dos corações deste povo todo que tanto o admira, para dizer a você que você foi, é e sempre será este grande líder da Advocacia que nós respeitamos, que nós admiramos e que nós cultuamos. Aqui, nesta Casa de Leis, o cumprimento pela iniciativa, e  em todos os espaços onde a sua presença é um referencial da importância da Advocacia.

Você teve a sua incursão política e honrou a Advocacia enquanto lá esteve. Tivemos momentos difíceis durante o período em que você esteve no Ministério, na nossa relação com a Polícia Federal, e você foi um interlocutor atento. Foi de sua iniciativa as Portarias para tentar coibir alguns abusos que nós verificamos naquele momento. Mas, felizmente, ultrapassamos este período.

E mais uma vez, eu só poderia aqui encerrar esta manifestação repetindo o que sempre digo em tantos  espaços: que todas as profissões são importantes. Todas elas o são, sem dúvida nenhuma, e nós sabemos que no convívio com sociedade dependemos de todas as profissões. Mas, a nossa é a mais linda que existe. Esta profissão que nos transforma, que transformou você, Márcio, que transforma as pessoas que estão ao seu entorno, e que faz com que juntos possamos transformar o mundo. John Lennon disse certa vez na sua canção “Imagine”: “Eu sou um sonhador, mas eu não estou sozinho”. Eu queria aqui dizer que você é um sonhador, Márcio, mas você nunca esteve sozinho. Você teve os seus colegas do seu tempo, e você fez escola, e tem hoje essa legião de advogados e de estudantes a lhe fazer companhia, dividindo os seus sonhos de justiça, de igualdade, de liberdade. Parabéns Márcio. Viva a Advocacia. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Parabéns D´Urso.

Então, só para ter uma ideia das autoridades e amigos que vieram homenagear o Dr. Márcio Thomaz Bastos: o Governador José Serra aqui se faz representar pelo Secretário-Adjunto da Justiça e Defesa da Cidadania e também Procurador de Justiça, Dr. Ricardo Dias Leme; o Procurador-Geral do Estado, Dr. Marcos Fábio de Oliveira Nusdeo se faz representar pelo Dr. José Luiz de Souza Moraes, Procurador do Estado, seu chefe de gabinete; a Polícia Científica se faz representar por seu diretor Dr. Carlos do Valle Fontinhas, representando o Instituto de Criminalística, que recentemente chegou a receber elogios internacionais. O  Instituto de Criminalística e a prova pericial marcam uma das maiores conquistas do mundo civilizado, que é a transição das provas irracionais do direito germânico as chamadas ordálias, para as provas racionais e a persuasão motivada do juiz na concepção do seu raciocínio e aprovação da sentença. Parabéns ao Instituto de Criminalística e, especialmente, ao Dr. Celso Perioli.

O Superior Tribunal de Justiça se faz aqui representar com a mui honrosa presença de sua Excelência o Sr. Ministro Dr. Benedito Gonçalves. O Presidente do Tribunal de Justiça Dr. Antonio Carlos Viana Santos, se faz aqui representar pelo Desembargador Heraldo de Oliveira Silva, que aqui também se faz presente.

Terá logo mais a palavra, e aqui representando a Associação Paulista dos Magistrados, o seu presidente Desembargador Paulo Dimas de Bellis Macaretti. Também estão presentes aqui, do Tribunal de Justiça, o Exmo. Desembargador Carlos Teixeira Leite Filho; o Exmo. Desembargador Paulo Dias de Moura Ribeiro, também diretor do Curso de Direito da Universidade de Guarulhos; Sua Excelência Dr. Edgard Silveira Filho, eminente Desembargador Federal; a sempre Deputada Federal, quiçá senadora e grande advogada, principalmente tribuna do júri, Zulaiê Cobra Ribeiro, que eu, como promotor do júri, não tive oportunidade de enfrentar. “Thanks, God.” Graças a Deus.

O nosso Presidente, sempre Presidente, talentosíssimo com sua paixão contagiante, Dr. Luiz Flávio Borges D´Urso; o Dr. Márcio Kayatt, Presidente do Conselho da Carteira de Previdência dos Advogados; Dr. Marcos César Amador Alves, auditor do Tribunal de Justiça Desportiva - TJD, e advogado. E falando de Esporte, temos aqui Luciano Faccioli, da TV Record, grande repórter, que enquanto repórter esportivo da nossa Rádio Jovem Pan tanto me criticou, mas sempre com independência, com imparcialidade, com amor, com ternura; Querido Dalmo Pessoa, que eu aprendi a admirar lá da nossa Mesa Redonda, também ilustre advogado; o Sr. Sérgio Everton, hoje repórter da TV Assembleia que apresentava o Globo Esporte. O Sr. Sérgio Everton, eu me lembro, eu era criançinha e já o via  apresentando o Globo Esporte.

Dr. Alexandre Curiati, representando o Deputado Antonio Salim Curiati, 10 mandatos de deputado; Sr. Sinvaldo José Firmo, representando o Deputado José Cândido que é o presidente da Comissão de Direitos Humanos; Dr. Hermínio Marques Porto Junior, Diretor-Adjunto da Universidade Paulista – Unip, também nos honra; Dr. Américo Calandriello Júnior, Vice-Presidente da Fundação Uniban; Dr. Décio Lencione Machado, Conselheiro Estadual da Educação, e Diretor do Instituto Jurídico da Uniban e a nossa diretora do curso de Direito Dr.a Laura de Figueiredo, também da Uniban.

Grande advogado, ex - Secretário da Segurança Pública, ex - juiz do Tribunal Regional Eleitoral e tantos outros, Dr. Eduardo Augusto Muylaert Antunes; ex- Presidente a OAB, como disse Dr. D´Urso, Dr. Mário Sérgio Duarte Garcia, por quem nutro um carinho todo especial, e uma relação que nos une, meu saudoso irmão, foi advogado no escritório Mário Sérgio Duarte Garcia, e de lá guardamos as melhores recordações. O senhor. sabe do carinho e do afeto que tenho por sua pessoa. Dr. Manuel Alceu Afonso Ferreira, grande Secretário da Justiça, um dos maiores advogados também do Brasil. Dr. Edgar Ermelindo Leite Neto, aqui presente também nos honrando com a sua prestigiosa presença.

Também um grande administrativista, Dr. Luciano Cardoso Engholm, um dos maiores especialistas em Direito Administrativo aqui presente; Dr. Bruno Sanches Belo representando o Escritório Noronha Advogados; Dr. Lincoln Queiroz, representando o Escritório Mesquita Barros; nossa Polícia Civil, representando aqui o Departamento de Homicídios de Proteção à Pessoa, Dr. Francisco Norberto Rocha de Moraes; Dr. Paulo Rios, representando a Assessoria da Polícia Civil daqui da Assembleia; Dr. Adalberto Coutinho a quem faremos uma homenagem bonita de superação, um exemplo de superação aqui hoje. E a dona Yeda, com 60 anos de Assembleia Legislativa e ainda aqui. Numa das Sessões Solenes que realizamos, a dona Yeda rapidamente tentava se deslocar e fraturou o fêmur.Eu fui à enfermaria enquanto ela estava sendo transportada e pela amizade que nós temos, o carinho que eu tenho por ela, ela viu que eu estava me perturbando, e ela pediu: “Por favor, tirem ele daqui - com uma expressão de dor- porque vai atrapalhar a sua concentração para a Sessão Solene.” Isso que é paixão, devoção, e amor pelo que faz.

Com a palavra o grande Presidente da Associação Paulista dos Magistrados, desembargador e professor de Direito, Dr. Paulo Dimas de Bellis Mascaretti, representando aqui uma Associação pujante e todo o Poder Judiciário. Com a palavra o grande Paulo Dimas de Bellis Mascaretti. (Palmas.)

 

O SR. PAULO DIMAS DE BELLIS MASCARETTI - Boa-noite a todos. Deputado Fernando Capez, em seu nome cumprimento todos os presentes.

Quero dizer que não estava preparado, mas aceitei o desafio de suceder aqui na tribuna o eminente Presidente da Ordem e orador Luiz Flávio Borges D´Urso, porque o nosso homenageado é uma pessoa a quem a Magistratura muito admira.

Nós, juizes, temos aprendido demais com os eminentes advogados. Eu sempre digo que o advogado é o primeiro juiz da causa. É em cima do trabalho sério e competente do advogado que a Magistratura irá decidir os conflitos de interesses. Esse trabalho a gente tem acompanhado, eu sou professor, como disse o Deputado Fernando Capez, da Faculdade Metropolitanas Unidas, e lá nós vemos a nossa juventude se preparando para uma carreira jurídica, e nós sempre colocamos que os nossos alunos devem se inspirar em pessoas competentes, em pessoas honradas -  que não devem simplesmente se preocupar com uma vida de ganhar dinheiro, de sucesso fácil. Na verdade, têm que se preparar para uma vida digna e honrada, construir um nome honesto, e construir um exemplo de trabalho.

E quando nós estamos diante de um grande advogado, como Dr. Márcio Thomaz Bastos, outros tantos advogados aqui presentes que foram mencionados pelo Dr. Luiz Flávio Borges D´Urso, vejo aqui o Dr. Mário Sérgio Duarte Garcia, o Dr. Manoel Afonso Ferreira e outros tantos advogados que nós admiramos e  com quem aprendemos, no dia-a-dia da Magistratura, como agente do Direito a respeitar e admirar.

Vim aqui para dar a nossa palavra em nome da Magistratura, de apreço, de admiração, de carinho, de respeito. Eu fui promotor de justiça de 1979 a 1983, tive oportunidade de fazer até algum júri, e me deparei com advogados simples, mas corretos, combativos, advogados com ideal, com fé, e é isso que marca a nossa existência. Em outras oportunidades, já como magistrado, presidi júris, fui juiz criminal da Infância, enfim, acabei atuando em todos os ramos do Direito, e sempre me deparei com advogados sérios, honestos, como é do feitio dos advogados que estão aqui no Estado de São Paulo filiados à nossa Secção da OAB de São Paulo.

E posso dizer, eminente advogado Márcio Thomaz Bastos, que de tudo que a gente pode apontar para essa juventude, para quem começa uma carreira jurídica é de que vale a pena ter fé, vale a pena ter ideal, vale a pena ser honesto, vale a pena estudar e vale a pena trabalhar com dignidade. Vale a pena seguir exemplos como o de V.Exa. e de outros tantos advogados ilustres como nós temos aqui. Fica aqui a homenagem e a saudação da magistratura paulista à grande Advocacia de São Paulo.

Um grande abraço, e que Deus continue abençoando os caminhos de todos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - E agora, no último discurso, antes de darmos sequência à palavra ao homenageado, à entrega das homenagens, representando aqui o Governador do Estado de São Paulo, e o titular da pasta, o nosso querido e estimado Secretário da Justiça, Luiz Antonio Guimarães Marrey; o Dr. Ricardo Dias Leme, que é Secretário-Adjunto da Justiça e Cidadania, e eminente procurador de Justiça. A presença de V.Exa. representa aqui, neste momento, o Governador do Estado, que  não pode vir, mas fez questão de avisar, através do Dr. Marrey,que se encontra em viagem.

 

O SR. RICARDO DIAS LEME - Exmo. Deputado Fernando Capez, em nome de quem me permito saudar todas as autoridades já declinadas pelo Cerimonial, minhas senhoras e meus senhores, em nome do Governador José Serra, que eu represento nesta solenidade, eu gostaria de me associar à justa homenagem prestada aos profissionais da Advocacia e ao tributo ao Dr. Márcio Thomaz Bastos, por iniciativa do Deputado Fernando Capez. Em boa hora a Constituição de 1988 inseriu a Advocacia entre as funções essenciais da Justiça, estabelecendo a indispensabilidade do advogado, a administração da justiça e garantindo, nos termos da lei, a inviolabilidade dos seus atos e manifestações no exercício da profissão.

Todos nós sabemos que o exercício da Advocacia com ampla liberdade é um dos marcos do Estado de Direito Democrático. Não é por outra razão que as ditaduras não convivem nem com a liberdade de imprensa, nem com uma advocacia combativa e atuante. É preciso valorizar as garantias do advogado, porque, a exemplo da Magistratura e do Ministério Público, essas garantias não constituem privilégio pessoal ou corporativo, mas alavancas indispensáveis ao bom desempenho do mandato conferido aos advogados por seus constituintes. E no exercício da sua profissão o advogado merece respeito, mesmo quando defende causas impopulares, porque o advogado não existe apenas para patrocinar causas que encontrem respaldo na opinião pública, as chamadas “causas justas”. Isso porque o direito de defesa indispensável no regime democrático não se confunde com a visão maniqueísta da vida ou da história, ao contrário, é na dialética da contradição que muitas vezes se chega à síntese criativa, distribuindo a cada um o que é seu, a punição ou a absolvição, mas mais próxima possível do ideal de justiça.

No mundo paradisíaco não haveria conflitos, e não havendo conflitos, não haveria necessidades de juízes, promotores e nem de advogados. Felizmente, a sociedade humana é mais complexa do que a visão idílica, o que torna a presença dos advogados indispensável para a resolução dos conflitos. E nesta perspectiva, é preciso que os advogados estejam sempre atualizados, e buscando aperfeiçoamento intelectual e profissional. Preocupa a banalização dos cursos de Direito, e seus reflexos na formação dos profissionais de Direito. Preocupação esta que também é da OAB, que vem tornando cada vez mais rigorosos os exames para admissão a seus quadros, como forma de evitar que, ao invés de auxiliar a resolução dos conflitos, o advogado os agrave.

De outro lado é sabido que a Advocacia contenciosa é a que carrega uma carga maior, vamos dizer assim, de glamour aos que a ela se dedicam. Mas, a Advocacia não se resume ao contencioso, muitas vezes a orientação jurídica correta evita lide. Porque é preciso salientar que a existência do processo não é indispensável para a distribuição da justiça, mas a presença do advogado certamente é.

A Advocacia paulista e brasileira tem sabido dignificar a profissão. Dela surgiram grandes vultos para as atividades profissionais, assim como para a vida pública, e um desses vultos é um dos nossos homenageados de hoje Márcio Thomaz Bastos. Tomo aqui a liberdade de fazer um registro pessoal. Conheci Márcio Thomaz Bastos nos, já longínquos anos 80, quando nos cruzávamos nos elevadores e nos corredores da antiga Procuradoria de Assistência Judiciária, no velho prédio da Avenida Liberdade, nº 32. Naqueles anos eu iniciava na Procuradoria do Estado, e Márcio, permita-me chamá-lo assim, dedicava-se a fazer alguns júris pela Assistência Judiciária. Posteriormente ele veio ser Presidente da Secção São Paulo da OAB, do Conselho Federal da OAB, Ministro da Justiça. E apesar do reconhecimento profissional, e de ter ocupado um dos mais altos cargos da República, Márcio manteve a sua simplicidade, gentileza, humildade, e a sua enorme simpatia. Nunca, mas nunca foi contaminado pela soberba, mantendo-se sempre acessível e cortês com todos aqueles que com ele tiveram alguma convivência ainda que singela. O que é uma característica dos homens privilegiados pela inteligência. Sem qualquer exagero, ele está hoje  incorporado aos grandes ícones da Advocacia Criminal, como Marrey Júnior, Noé Azevedo, Raimundo Pascoal Barbosa, Dante Delmanto, e Waldir Trancoso Peres, para citar alguns que se destacaram em São Paulo. Também, na vida pública, Márcio deu sua contribuição inestimável com sua capacidade de diálogo com os mais diversos atores do mundo jurídico e político, e certamente auxiliou a dissipar tensões, a fomentar a liberdade de imprensa, a reforma do judiciário, o aperfeiçoamento da Polícia Federal, e inúmeras outras obras quando ele esteve à frente do Ministério da Justiça.

Não são muitos aqueles, que já consagrados nas suas atividades profissionais, ingressam na vida pública com todos os riscos, que não são poucos . Márcio Thomaz Bastos enfrentou com sucesso este desafio, e, tenho certeza que continuará a dignificar a Advocacia paulista e brasileira com sua inteligência, com sua perspicácia e com seu alto espírito público. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Na sequência, nós faremos uma singela homenagem a um jovem bacharel em Direito. Nós estamos aqui colocando lado a lado um nome já consagrado na Advocacia, Ministro da Justiça que tão bem colocou o Dr. Ricardo Dias Leme, aperfeiçoou, aparelhou e transformou a Polícia Federal no órgão eficiente, combativo que é hoje. Estabeleceu mecanismos de aperfeiçoamento do Poder Judiciário e que deu pleno equilíbrio ao Governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Neste mesmo ato, nós vamos homenagear um jovem que é um jovem de superação. Eu me refiro ao bacharel Adalberto Coutinho. Eu fui patrono de uma turma da Universidade Bandeirantes de São Paulo, cuja cerimônia de formatura foi muito bonita. Vi na  cerimônia festiva vários alunos já aprovados no exame da Ordem, felizes, começando a sua carreira, começando a sua vida. E o Adalberto Coutinho, um aluno que se beneficiou do ProUni e a duras penas conseguiu graduar-se em Direito. Ele, morador de uma comunidade menos aquinhoada, morador de uma favela, foi catador de papel na rua, profissão que exerceu para garantir a própria subsistência, mas jamais desistiu de sonhar, de ter esperança, de ter fé e de acreditar. Ele jamais desistiu porque o seu sonho sempre foi ser advogado. Como disse o presidente D´Urso, não há profissão mais bela que essa. E nós estamos aqui, então, para pedir que venham os diretores do curso da Uniban, Dra. Laura de Figueiredo, Dr, Décio Lencione Machado, trazerem aqui à nossa presença o aluno Adalberto Coutinho. (Palmas.) E eu acho que  nada mais justo que o grande Márcio Thomaz Bastos - que jamais perdeu dentre todos os atributos a virtude da humildade - faça essa entrega num dos momentos mais emocionantes desta Sessão Solene.

 

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-É feita a entrega de placa. (Palmas.)

 

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O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Pergunto onde está o Dr. Américo Calandriello Júnior, Vice-Presidente da Uniban, está por aqui? Muito bem.

Vamos dar seqüência então. Parabéns querido Adalberto.

Agora nós vamos fazer a entrega da placa ao grande homenageado da noite, uma placa com os seguintes dizeres: “A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em Sessão Solene, presta esta homenagem ao advogado e ex-ministro da Justiça Dr. Márcio Thomaz Bastos em reconhecimento ao seu trabalho em prol do Direito, da Justiça e da defesa dos direitos humanos. Fervoroso defensor das garantias fundamentais do cidadão, atuou de modo exemplar e contundente na defesa de seus ideais perante a tribuna do júri, e em momentos importantes da vida política nacional. Contribuindo para o fortalecimento das instituições deste país o que o eleva ao posto de um dos grandes baluartes na defesa do Estado Democrático de Direito. Representando a Assembleia Legislativa, Fernando Capez, Deputado Estadual, 29 de março de 2010.”

Pediria que fosse trazida aqui a dona Leonor, sua sempre leal companheira em todos os momentos, sua eterna namorada, para acompanhá-lo na entrega .

 

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- É feita a entrega de placa. (Palmas.)

 

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O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Agora eu peço ao Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. Luiz Flávio Borges D´Urso, que juntamente com o Presidente desta sessão façamos a condução do nosso homenageado à tribuna que por todo direito é dele para suas palavras.

 

O SR. MÁRCIO THOMAZ BASTOS - Eu devia ter trazido um discurso escrito, porque realmente estou emocionado.

Excelentíssimo Deputado Fernando Capez, que para nossa honra preside esta sessão, demais integrantes dessa egrégia Mesa, meus amigos, minhas amigas, minhas senhoras e meus senhores, vejo tanta gente aqui que eu conheço, com quem eu vivi experiências, lutei lutas, travei batalhas, enfrentei dificuldades, vivi momentos de felicidade - que eu gostaria de saudar a todos com um grande abraço. Um abraço de agradecimento desta tribuna, que eu me lembro, foi ocupada há mais de 60 anos, por dois mandatos de deputado estadual, - ainda no velho Palácio Nove de Julho lá no Parque D. Pedro - foi ocupada pelo meu pai José Diogo Bastos. (Palmas.)

Agradeço esta homenagem que eu sei que não é pra mim, é para a Advocacia. O nosso presidente D´Urso lembrou que apesar das dificuldades que temos enfrentado no exercício da profissão, e ainda recentemente um colega nosso, que foi de tal maneira confundido com os seus clientes, que tentaram agredi-lo na porta do Tribunal do Júri. Numa situação parecida com essa, na França, cujo “barreau” sempre nos inspirou nas atitudes, nas posições, nos nomes, quando achou o grande advogado que defendia alguém acusado de um grande e de um repugnante crime, e a opinião pública se voltava contra o seu cliente, e se atirou contra ele que estava junto do cliente. E ele levantou a mão e disse: “Eu não me chamo (Ininteligível.), eu me chamo a defesa.”

Reunidos aqui hoje nós estamos fazendo um hino à defesa, e um hino à Advocacia. Uma celebração da Advocacia e o direito de defesa. Temos um instituto, e o Presidente D´Urso sabe bem disso, que tem exercido um papel extremamente importante nisso e vai crescer nesse papel, que é o Instituto de Defesa do Direito de Defesa, cuja presidente é Flávia Rahal Bresser Pereira. Eu apresento a minha saudação a ela com a certeza de que os rumos deste Instituto hão de mostrar a sua importância, porque ele se baliza pela importância do direito de defesa.

Estamos aqui hoje, então, para comemorar essa homenagem que o eminente Deputado Fernando Capez, amigo, companheiro, irmão de armas, resolveu em boa hora fazer à Advocacia brasileira e à Advocacia paulista. Eu sei que eu não mereço, a não ser pelo tempo passado, representar os advogados de São Paulo. Eu sei que estou aqui apenas na condição simbólica, porque era preciso alguém que representasse a importância da Advocacia, a dificuldade da Advocacia, a necessidade de que os advogados façam jus ao mandamento constitucional, que diz que nós somos indispensáveis à administração da Justiça. E num momento em que se travam lutas apaixonadas, num momento em que muitas vezes o furor punitivo, muitas vezes o aparelho do Estado se atira contra os acusados. É nesse momento que o advogado precisa estar presente ao lado do réu. Contra tudo e contra todos, a nossa profissão é, efetivamente, uma profissão difícil, espinhosa, trabalhosa, com problemas e momentos difíceis. Mas nesse mundo cada vez mais cheio de computadores, em que a liberdade se esquadrinha e se torna mais e mais difícil, talvez seja a Advocacia, a Advocacia Criminal a última profissão que se torna uma clareira de liberdade no meio disso tudo. Porque nós trabalhamos na Advocacia, mas a Advocacia também trabalha em nós, e encontrando frequentemente um homem ou uma mulher no limite da condição humana. Como diz Rubens Fonseca: “Há três profissões em que se encontra o homem ou a mulher no seu limite: o padre diante do pecado mortal; o médico diante da doença e da morte; e o advogado diante da acusação de crime que pode tolher e arrancar a liberdade de um cidadão.” E isso é que nos ajuda a amadurecer, porque na medida em que vamos conhecendo a condição humana de perto, no seu limite, deslizada para aquele momento de desespero, é ali que nós vamos aprendendo, também, a nos conhecer. Nós somos uma tensão dialética entre o bem e o mal, e não existe a verdade absoluta, e nem a mentira absoluta. E nem a verdade existe em toda parte, e nem a mentira existe em toda parte. É esse o amadurecimento que a Advocacia nos dá a nós todos.

É por isso que eu aceito ser o representante transitório para uma Sessão Solene da Assembleia Legislativa da Advocacia de São Paulo, da Advocacia Criminal de São Paulo, dessa profissão ligada fortemente ao regime democrático. A Advocacia e a Democracia são gêmeas que se dirigem para o mesmo destino. Quando nós começamos a advogar sabemos que não temos a última palavra. Depois da petição inicial vem a contestação no civil. Depois da denúncia vem a defesa, e isso vai depois para a sentença do juiz, isso vai depois para o tribunal, e chega muitas vezes ao Supremo Tribunal Federal que, como dizia Rui Barbosa, tem o duvidoso privilégio de errar por último. E a Democracia então se parece com a Advocacia. Pode-se dizer que nós não temos a ideologia do ditador, que nós não temos o discurso do terrorista, mas que nós temos a linguagem da paciência, o respeito pela opinião do outro, a vontade de trabalhar sabendo que não somos  donos da verdade, que temos que esperar, e que temos que ter paciência. É por isso que os dois conceitos se parecem tanto. Assim, nós não encontramos grandes organizações de advogados, e nem grandes advogados, pessoalmente, nos regimes ditatoriais. Nós vamos encontrá-los, sim, nos regimes democráticos, com hábeas corpus, com a plenitude do direito de defesa, com a possibilidade de trabalhar e defender.

Por isso eu quero agradecer por essa placa maravilhosa. Agradecer a todos, ao Fernando Capez especialmente, aos oradores que me honraram com sua palavra, a essas amigas e amigos que vieram aqui celebrar a Advocacia, e lhes dizer que continuamos juntos. Eu estou na profissão há 54 anos, e o Mário Sérgio está há mais tempo que eu, mas estamos juntos. Estamos comemorando, às vezes, com algum derramamento, às vezes gostando demais de grandes palavras, mas sempre trabalhando na direção da dignidade, da liberdade, da honra, do crescimento da cidadania, na direção de um país melhor, de um país mais bonito, de um país mais justo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Também está presente a Dra. Tereza Cristina Della Mônica, Procuradora do Estado representando a Comissão da Mulher Advogada.

Agora, já encaminhando para o encerramento, nós vamos brindar o nosso homenageado, o ministro, perdão, o advogado - eu sei que o senhor prefere assim ser chamado, Márcio Thomaz Bastos - com uma apresentação da Orquestra Experimental Pró-Morato. Ela  foi formada a partir do trabalho de moradores de Francisco Morato reunindo jovens para, através da música e da cultura,  promover o seu desenvolvimento. Realizam inúmeros concertos em escolas públicas, praças, estações de trem e feiras livres.Apresento o maestro Adriano Adelino Aragão, e a senhora Valéria Maria Ortiz Jimene que é vice-presidente da organização. A cerimônia hoje é uma das mais emocionantes que nós já tivemos a honra de presidir nesse mandato. Vamos nos emocionar um pouco mais com a apresentação da vossa orquestra.

 

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- É feita apresentação musical. (Palmas.)

 

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O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Agradecemos a Orquestra Experimental Pró-Morato, e em especial ao maestro Adriano Adelino Aragão. (Palmas.) Agradecemos o doutor Misael Antonio de Souza que nos proporcionou a vinda desta Orquestra. Muito obrigado doutor Misael mais uma vez.

Encaminhando agora para o último ato. Nós vamos fazer uma homenagem a essa primeira dama da Advocacia, a dona Leonor Bastos, e chamo aqui dois ícones da Advocacia criminal e civil, o nosso homenageado e o doutor Mário Sérgio Duarte Garcia para procedermos a esta simbólica entrega.

 

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- É feita a homenagem. (Palmas.)

 

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O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Perdoem-nos fazer uma foto, mas precisamos registrar.

Muito bem, nosso fotógrafo Salane, conhecido como o maníaco da máquina fotográfica, não pára quando começa.

Para encerrar, nós vamos ler um texto,  que minha assessoria retirou da obra nada mais nada menos que de Rui Barbosa, cujo título é “O Dever do Advogado”. É um trecho de uma carta escrita por Rui Barbosa ao grande Evaristo de Moraes, um dos maiores advogados do Brasil de todos os tempos, fez inclusive a defesa do jovem Dilermando no rumoroso caso em que foi vítima Euclides da Cunha, um crime passional, e acabou absolvido por legítima defesa.

Eu deixei alguns trechinhos, porque eles tinham separado 20 páginas para o final, e eu reduzi para cinco parágrafos. Não foi fácil selecionar.

Querido doutor Jaber, que durante tanto tempo foi o superintendente com competência ímpar, da nossa Polícia Federal, que tanto nos honra com sua presença, com o seu trabalho - e cujo sobrinho doutor Ricardo Saad tem feito um grande trabalho na nossa Polícia Federal. Parabéns ao senhor, doutor Leandro, a todos policiais federais.

“Rui Barbosa para Evaristo de Moraes. A ordem legal se manifesta necessariamente por duas exigências, a acusação e a defesa. Das quais a segunda, a defesa, por mais execrado que seja o delito não é menos especial a satisfação da moralidade pública do que a primeira. A defesa não quer o panegírico da culpa ou do culpado, sua função consiste em ser, ao lado do acusado inocente ou criminoso, a voz dos seus direitos legais. Ninguém, por mais bárbaros que sejam os seus atos decai do abrigo da legalidade. Todos se acham sob a proteção das leis, que para os acusados assenta na faculdade absoluta de combaterem a acusação, articularem a defesa e exigirem a fidelidade à ordem processual. Esta incumbência, a tradição jurídica das mais antigas civilizações a reservou sempre ao ministério do advogado. A este pois, revela honrá-lo, não só arrebatando a perseguição aos inocentes, mas também reivindicando no julgamento dos criminosos a lealdade, as garantias legais, a equidade, a imparcialidade, a humanidade. O acusado reveste, aos olhos do clamor popular, a condição de monstro sem traço de procedência humana. A seu favor não se admite uma palavra, contra ele, tudo que  se alega ecoará em aplausos. Desde então, começa a justiça a correr perigo, e com ele surge para o sacerdócio do advogado a fase melindrosa, cujas dificuldades poucos ousam arrostar. Eis porque, seja quem for o acusado, e por mais horrenda que seja a acusação, o patrocínio do advogado, assim entendido e exercido, terá foro meritório e recomendará como útil a sociedade. Finalmente, por mais atrozes que sejam as circunstâncias contra o réu, ao advogado sempre incumbe o dever de atentar, para que  o seu cliente não seja condenado, senão de acordo com as regras e formas, cuja observância a sabedoria legislativa estabeleceu como tutelares da liberdade e segurança individual”. Rui Barbosa, texto selecionado pela professora Maria Estela Prado Garcia, com quem eu tenho a honra de dividir a autoria do livro Código Penal Comentado.

Como que repetindo, poucos anos mais tarde - essa carta foi escrita em 1911 - o promotor das Américas, César Salgado, ao elaborar o Decálogo do Promotor de Justiça,  nos fez destacar aqui dois mandamentos. “Ama a Deus acima de tudo e vê no homem, mesmo desfigurado pelo crime, uma criatura à imagem e semelhança do Criador. Sê nobre. Não convertas a desgraça alheia em pedestal para teus êxitos e cartaz para a tua vaidade”.

Que a abençoada profissão da Advocacia, expressada aqui pelo nosso homenageado Márcio Thomaz Bastos, possa seguir sempre à frente na defesa dos ideais do Estado Democrático de Direito.

Esgotado o objeto da presente sessão, a Presidência agradece a todas autoridades. Agradeço à minha equipe de assessores que com trabalho valoroso tornou possível chegarmos a esta sessão em pleno êxito; aos funcionários do Serviço de Som, da Taquigrafia – que são silenciosos e pouco aparecem, mas são imprescindíveis para esse sucesso - ao Serviço de Atas, ao Cerimonial, à dona Vitória, à dona Yeda, a todas essas moças e rapazes maravilhosos; à Secretaria Geral Parlamentar: à Imprensa, à TV Legislativa, às assessorias policiais Civil e Militar, bem como agradecemos a todos que estão aqui, todos, vários estudantes da Uniban, futuros advogados, a quem desejamos muita sorte, toda proteção, e que sigam uma carreira também abençoada. E a todos que colaboraram para o êxito dessa solenidade, convidamos agora a todos para que apreciem um saboroso coquetel, aqui ao lado, no Salão Valdemar Lopes Ferraz.

Terminada a solenidade, está encerrada a sessão. Boa noite a todos. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e dois minutos.

 

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