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13 DE MAIO DE 2011

010ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AO “DIA DO ISLAMISMO”

 

Presidente: SIMÃO PEDRO

 

RESUMO

COMEMORAÇÃO DO "DIA DO ISLAMISMO"

001 - SIMÃO PEDRO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene fora convocada pelo Presidente Barros Munhoz, a requerimento do Deputado Simão Pedro, na direção dos trabalhos, pelo "Dia do Islamismo". Convida o público para, de pé, ouvir o "Hino Nacional Brasileiro".

 

002 - PROTÓGENES QUEIROZ

Deputado Federal, cumprimenta a ex-Deputada Haifa Madi, autora do projeto de lei que resultou na criação do Dia do Islamismo. Saúda as autoridades presentes. Tece comentários sobre o significado da data. Defende a fraternidade entre os povos. Dá conhecimento de projeto federal que cria o Dia do Povo Muçulmano. Comunica audiências públicas em São Paulo e em Brasília para deliberar assuntos da cultura islâmica. Faz agradecimentos gerais.

 

003 - Presidente SIMÃO PEDRO

Lê mensagens alusivas ao evento, encaminhadas por autoridades. Comunica que esta sessão solene seria transmitida pela TV Assembleia em data oportuna. Anuncia a recitação do Alcorão Sagrado e a leitura da Surata Al-Fatiha, em homenagem ao falecido juiz, Xeique Faisal Almawlawi, ouvidas de pé pelos presentes.

 

004 - MOHAMMAD ALBUKAI

Xeique, recita o Alcorão Sagrado e faz a leitura da Surata Al-Fatiha.

 

005 - Presidente SIMÃO PEDRO

Anuncia a apresentação de cantos islâmicos, por crianças da Sociedade Muçulmana de São Bernardo do Campo. Agradece as crianças e as professoras pela apresentação.

 

006 - HAIFA MADI

Ex-Deputada Estadual, faz pronunciamento como autora da lei instituindo o dia 12 de maio como o "Dia do Islamismo". Agradece ao Deputado Simão Pedro pela atenção dada à comunidade islâmica. Cumprimenta as autoridades presentes. Ressalta a alegria em voltar à tribuna para comemorar a data. Fala da apresentação infantil, enfatizando a simplicidade do grupo. Comenta o objetivo da lei. Relata a história do Islamismo.

 

007 - Presidente SIMÃO PEDRO

Agradece a ex-Deputada Haifa Madi pela iniciativa na criação da lei.

 

008 - RUI MELATTI

Padre, representando o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, saúda os presentes. Fala da importância da data. Destaca a amizade entre cristãos e islâmicos. Retransmite saudações fraternas de Dom Odilo aos homenageados. Discorre sobre a relação da Igreja Católica com as demais religiões. Cita semelhanças de crenças entre as duas comunidades. Lamenta a discriminação racial e religiosa, além da injustiça e da violência. Convida à reconciliação e vida pacífica. Sugere o respeito às diferenças, com base na aceitação mútua. Deseja saúde, paz e vida longa a todos.

 

009 - Presidente SIMÃO PEDRO

Anuncia a apresentação de cantos islâmicos pelo Coral dos Jovens Islâmicos e a exibição de  vídeo da União Nacional Islâmica.

 

010 - VERÔNICA HANNIS

Representando a mulher muçulmana no Brasil, saúda os presentes com as bênçãos de Deus. Reflete sobre a situação dos muçulmanos. Afirma que há perseguição da mídia sobre as mulheres islâmicas. Enfatiza a espontaneidade com que elas usam as roupas e obedecem aos costumes. Descreve os males da humanidade, atribuídos à desobediência a Deus. Combate os padrões de moda estabelecidos. Ressalta a felicidade e a força da mulher muçulmana. Repudia a atitude dos EUA pelo assassinato de Osama Bin Laden. Indigna-se com a falta de direito de defesa do chefe da Al Qaeda, além da ausência de provas concretas contra ele. Relembra Fidel Castro. Defende o Estado de Direito. Nega o ritual islâmico de jogar o corpo ao mar e atribuiu aos EUA o crime de ocultação de cadáver. Critica a imprensa brasileira por divulgar os fatos sob a ótica dos norte-americanos. Fala da divulgação silenciosa da religião islâmica por meio do uso do lenço, pelas mulheres.

 

011 - Presidente SIMÃO PEDRO

Anuncia a apresentação de Cantos Islâmicos pelo Coral dos Jovens Islâmicos.

 

012 - JIHAD HAMMADEH

Xeique, representando o Presidente do Conselho dos Teólogos do Brasil, Xeique Khaled Taky El Din, aconselha os fiéis a serem seguidores dos profetas. Agradece ao Deputado Federal Protógenes Queiroz pela defesa do povo muçulmano. Destaca projeto de lei, de autoria deste Parlamentar, que instituirá o Dia do Povo Muçulmano no País. Lamenta a morte de Xeique precursor do islamismo na França. Enfatiza que o Dia do Islamismo comemora-se diariamente. Relembra a chegada de membros da religião ao Brasil. Discorre sobre a história dos islâmicos.

 

013 - JAMAL EL BACHA

Presidente da União Islâmica, faz agradecimentos gerais, especialmente ao Presidente deste Parlamento, Deputado Barros Munhoz. Discorre sobre a importância da data. Comenta o crescimento da religião no Brasil. Repudia a associação feita pela mídia entre Islamismo e terrorismo. Condena o racismo e o preconceito da sociedade, ao comparar crimes cometidos por cidadãos muçulmanos à religião islâmica. Faz a entrega de placas, homenageando autoridades.

 

014 - OMAR ASSAF

Ex-Presidente  da Abras - Associação de Supermercados do Brasil, e ex-Presidente da Comunidade Islâmica de Santos, declara sentir-se duplamente honrado, pela homenagem e por representar os colegas. Enaltece a ex-Deputada Haifa Madi pela autoria da lei que prestigia a comunidade. Exalta o discurso do Padre Rui Melatti. Fala de seu trabalho à frente de entidade islâmica. Comenta sua atuação no setor de supermercados. Narra fatos da economia brasileira. Enfatiza a responsabilidade em representar a comunidade islâmica na sociedade.

 

015 - Presidente SIMÃO PEDRO

Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a Sessão o Sr. Simão Pedro.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Boa - noite. Eu vou nomear a Mesa que já está constituída: ao meu lado, Xeique Khaled Taky El Din, Presidente do Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos no Brasil. Uma salva de palmas. (Palmas.)

Aqui, ao meu lado esquerdo, Senhor Jamal El Bacha, Presidente da União Islâmica. (Palmas.). Ao lado do Xeique, Dr. Nilton Barbosa Lima, Senador e Conselheiro Diplomático do Parlamento Mundial para Segurança e Paz. (Palmas.). Aqui à minha esquerda, ao lado do Senhor Jamal, Deputado Federal pelo PCdoB, Protógenes Queiroz.

Sras. Deputadas, Senhores Deputados, minhas Sras. e meus Senhores, essa Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Barros Munhoz, atendendo a uma solicitação deste Deputado, Simão Pedro, com a finalidade de homenagear o Dia do Islamismo.

Eu convido a todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Subtenente PM Aguiar.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Esta Presidência agradece a Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que muito nos engrandece com a sua presença. É uma alegria, e agradeço muito na pessoa do subtenente PM Aguiar. Muito obrigado pela presença. Quero agradecer também a presença, já estão aqui conosco, o Padre Mealatti, representando o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Muito obrigado. (Palmas.)

Está aqui conosco, também, a Deputada Haifa Madi, do Estado de São Paulo, autora da Lei que criou o Dia do Islamismo no Estado de São Paulo. Obrigado, Deputada. (Palmas.)

Sr. Abdul Nasser El Rafei, Presidente do Conselho Deliberativo da União Islâmica. (Palmas.) Sr. Mohamad Osman, Presidente do Conselho da Escola Islâmica Brasileira. (Palmas.) Hayat Ali Abdala, Presidente do Departamento Feminino da Associação Beneficente do Brasil. (Palmas.)

Xeique Jihad Hammadeh, representando o Presidente do Conselho dos Teólogos do Brasil, Xeique Khaled Taky El Din. (Palmas.) Xeique Rami El Zammar, vice- Presidente da Liga da Juventude Islâmica do Brasil, no bairro do Brás. (Palmas.) Xeique Mohammad Albukai, da Liga da Juventude Islâmica do Brás. (Palmas.)

Xeique Ibrahim El Kurdi, do Curso de Língua Árabe da MABAT – Mesquita Ali Ben Abi Taleb. Amir Hachem, líder religioso. (Palmas.). Verônica Ramis de Lima, representando a mulher muçulmana do Brasil.  Ziad Ahmad Saifi, do Centro de Divulgação do Islã para a América Latina. (Palmas.) Xeique Fahd Alameddine, do Lar Druzo Brasileiro. (Palmas.)

Ahmad Abdul Ghani El Hayek, ex-Presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo. (Palmas.) Omar Assaf, ex-Presidente da Comunidade Islâmica de Santos. (Palmas.) Dra. Soraia Smaili, Farmacêutica e Bioquímica da USP. (Palmas.) Salem Hikmat Nasser, Professor da Fundação Getúlio Vargas. Ismail Gomes dos Santos, Xeique em Carambeí – Paraná. (Palmas.)

Xeique Jihad Hammadeh, Presidente do Conselho de Ética da União Nacional Islâmica, UNI. (Palmas.) Professora Nadia Hussein, Biomédica. (Palmas.) Sr. Marcelo Cury, representando, nesta ocasião, o Deputado Estadual Antonio Salim Curiati. (Palmas.) E Paulo Rios, Delegado Chefe da Assembleia Legislativa, representando o Dr. Marcos Carneiro Lima, que é o Delegado Geral da Polícia Civil de São Paulo. (Palmas.) A todos, muito obrigado pela presença.

Também entre nós, Hamze Taha, Presidente da Sociedade Islâmica de São José dos Campos. (Palmas.) Quero convidar o Dr. Paulo Rios, que é o Delegado Chefe aqui da Assembleia Legislativa, para subir à Tribuna conosco. Quero passar a palavra ao Deputado Federal Protógenes Queiroz, para fazer a sua saudação. (Palmas.)

 

O SR. PROTÓGENES QUEIROZ - Salaam Aleikum. Presidente dessa sessão, Deputado Simão, respeitada Deputada Haifa Madi, meus cumprimentos, de coração, por essa iniciativa que muito nos honra de criar o Dia do Islamismo aqui no Estado de São Paulo. As autoridades islâmicas religiosas que aqui se fazem presentes, cumprimento na pessoa do Xeique Kalede, e estendo esse cumprimento ao símbolo de paciência e religiosidade e compreensão, e, sobretudo, bondade, que é o Xeique Jihad Hammadeh, a qual eu divido nossas honras aos nossos irmãos e irmãs aqui presentes.

Essa data, que representa o Dia do Islamismo, não só simboliza a nossa ligação com Deus, mas, sobretudo, a nossa religiosidade, a nossa profissão de fé, o nosso respeito ao semelhante, o amor, a paz e, sobretudo, da compreensão da diversidade dos povos.

Para nós, estarmos aqui hoje, congregados, unidos entre jovens, crianças, idosos, homens, mulheres, é, sobretudo, um símbolo maior, um símbolo maior de congregação de estarmos ligados a esse infinito de bondade que é o Islã. E, para nós, é também um símbolo de respeito de que nós temos que fazer parte desse mundo que nós vivemos, de uma forma fraterna, amiga, em que esse entendimento do nosso dia a dia, do nosso trabalho, do nosso desenvolvimento, não só pessoal, mas social e comunitário perante os desafios do mundo moderno, nos traz essa realidade que muitas das vezes é mal compreendida por alguns, a tristeza por outros, mas, sobretudo, honradez no olhar para frente e ademais, sobretudo, no respeito da compreensão. Porque aqueles que não nos compreendem, hoje, talvez necessitem de um olhar, de uma mão ou talvez de um sentimento, e, talvez que sejam sempre incluídos nas nossas rezas, nas nossas mesquitas.

Deputada Haifa Madi, esse nível de compreensão que a Senhora teve, que a sua família teve, de idealizar esse Dia do Islamismo para nós, se entende também no Congresso Nacional e na Câmara dos Deputados. Para nós, espelhamos, nessa sua iniciativa, não só de bondade, mas de reconhecimento do que representa a família do Islã para o mundo. Para nós, tomamos a mesma iniciativa não só, sobretudo, na extensão desse glorioso trabalho que a Senhora fez ao longo de quatro anos como Deputada Federal, e criamos um Projeto semelhante, que é o Projeto de Lei que tombou pelo número 1077/2011, criamos a Proposição de criar o Dia do Povo Muçulmano nessa mesma data simbólica, em nível nacional. (Palmas.)

E, para isso, temos que comemorar. Temos que ser felizes. Para isso, esse respeito que hoje nós precisamos, que hoje nós compartilhamos com todos os povos, com todos aqueles que professam a sua fé religiosa, dos diferentes matizes, das diferentes etnias, queremos estar incluídos nesse mesmo sentimento. E é para isso que criamos essa data, em que vamos realizar, ao contrário de procedimentos de outras casas legislativas, mas o Congresso Nacional nos exige a precedência pública. Então, já em articulação com as nossas autoridades religiosas, nós vamos fazer duas audiências públicas, já praticamente planejadas. Uma aqui no nosso Estado de São Paulo, que é o nosso Estado, mãe do nosso mandato de Deputado Federal, e outro em Brasília, em data oportuna, a ser divulgada para todos os irmãos e irmãs.

Encerro com sentimento de coração e de alma ao nosso Islã, ao nosso povo muçulmano, de respeito às nossas crianças, aos nossos pequeninos, que é o futuro desse Brasil amanhã. Que vocês, povo árabe, muçulmano, povo libanês, que ajudou muito a construir esse País e devemos muito a essa força de trabalho e inteligência que esse povo sempre se dedicou. Àqueles primeiros familiares, que pisaram nesse território brasileiro e que fizeram dessa pátria a sua pátria, a sua pátria mãe, o seu verdadeiro lar, para que o nosso País seja essa potência de liberdade, de austeridade que é hoje. Muito obrigado a todos e tenham uma boa noite. Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado, Deputado Protógenes Queiroz. Quero colocar também aqui a Assembleia Legislativa à disposição para realizar essa audiência pública. Recebi duas cartas que eu vou ler rapidamente.

Sr. Deputado, tem o presente a finalidade de acusar o recebimento do convite para a Sessão Solene para comemorar o Dia do Islamismo, a segunda maior religião do mundo. Agradecemos pela gentileza e peço desculpas pela impossibilidade de estar presente. Deputado Estevam Galvão, líder dos Democratas”.

E também um ofício da Dra. Maria Alice, Chefe do Cerimonial, nos enviando uma correspondência da Dra. Linamara Rizzo Battistella, Secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência no Estado de São Paulo, também se congratulando com essa atividade.

Lembro também que essa Sessão Solene está sendo transmitida, ao vivo, pela Internet no web link do Plenário Juscelino Kubitschek e essa Sessão Solene será retransmitida no domingo, dia 15 de maio, às 21 horas, pela TV Assembleia, que nós dividimos o tempo com a Câmara Municipal de São Paulo. Então, não foi possível a transmissão ao vivo.

Teremos, nesse momento, a leitura do Alcorão Sagrado, pelo Xeique Mohammad Albukai, da Liga da Juventude Islâmica do Brás, em homenagem ao falecido Juiz, Xeique Faisal Almawalawi, pedindo para a plateia ficar de pé para fazer a leitura da Surata-Al-Fatiha, a oração mais importante do Islã.

 

O SR. MOHAMMAD ALBUKAI - Faz a leitura do Alcorão Sagrado.

 

O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Assistiremos, agora, a exibição de cantos islâmicos por crianças da Sociedade Muçulmana de São Bernardo do Campo.

 

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- É feita a apresentação dos cantos islâmicos. 

 

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O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT -  Muito obrigado às crianças apresentando cantos islâmicos e, obrigado, também, às professoras da Sociedade Muçulmana de São Bernardo do Campo.

Eu quero convidar, agora, para fazer uso da palavra, dando continuidade à nossa Sessão Solene, a ex-Deputada Estadual Haifa Madi, autora da Lei instituindo o dia 12 de maio como Dia do Islamismo. Hoje, evidentemente, é dia 13 de maio. É que essa Assembleia Legislativa realiza Sessão Solene somente às segundas-feiras e sextas-feiras. Mas, o Dia do Islamismo foi instituído por Lei no dia 12 de maio. Com vocês, a ex-Deputada Haifa Madi.

 

A SRA. HAIFA MADI - Salaam Aleikum. Quero cumprimentar aqui o Presidente, Deputado Simão Pedro, e agradecer, Deputado, a vossa atenção que sempre tem dado à nossa comunidade.

Eu, quando entrei aqui há quatro anos atrás, V. Exa. fazia esses eventos para a nossa comunidade. Então, em nome de todos os irmãos que estão aqui presentes, eu quero agradecer o carinho que V. Exa. tem com a nossa comunidade. (Palmas.)

Cumprimentar o Deputado Federal Protógenes Queiroz, agradecer pelas suas palavras, pelo carinho. V. Exa. sempre defendeu a nossa comunidade. Eu tenho acompanhado o seu trabalho.

Quero agradecer, e agradeço também em nome de todos os nossos irmãos, pelo seu empenho e pela sua luta de sempre defender a nossa comunidade. Agradeço. (Palmas.)

Quero cumprimentar o Senador Nilton e, em seu nome, cumprimentar todas as autoridades aqui presentes. Jamal El Bacha, todos os representantes religiosos, representantes de entidades, irmãs, irmãos, é um prazer estar aqui de volta. Voltar a essa Tribuna, a essa Casa de Leis nesse dia, nesta festa em que comemoramos, já pelo segundo ano, o Dia do Islamismo.

Eu estava olhando essas crianças cantando e lembrei de uma frase. “O simples é mais”. E essas crianças, uma apresentação tão simples, mostraram tanta coisa para nós. Mais. Mais respeito, mais paz, mais amor, e essa apresentação resumiu tudo isso. A simplicidade dessas crianças mostraram o que é essa religião. Eu tenho orgulho de fazer parte dessa religião. (Palmas.) E essa Lei, ela tem por finalidade prestar a devida homenagem a uma comunidade muito presente e atuante em nosso País. E também uma religião que, apesar de sua imensa contribuição para o progresso científico, cultural e espiritual da humanidade, sua história extremamente bela e rica e de sua participação na história do Brasil desde o seu descobrimento até os dias de hoje, permanece, ainda, como uma grande desconhecida para a grande parcela do povo brasileiro.

Fundada pelo nosso profeta, a religião islâmica é, hoje, a segunda maior em número de adeptos. Sua doutrina está contida no Alcorão, o Livro Sagrado, revelado por Deus ao Profeta através do anjo Gabriel, que serve como guia e orientação a toda a humanidade, com a sua mensagem de paz e amor. Aliás, o Alcorão inteiro é de uma beleza intensa e luminosa.

A ciência e o conhecimento sempre tiveram um lugar de destaque no teu seio, e o próprio Profeta sempre incentivou a busca pela ciência e o conhecimento em todos os campos. Disse ele: “Busque a ciência do berço ao túmulo”. E essa busca nunca tem fim, pois cada nova descoberta sobre algo leva a outra, e outra, e assim por diante, até o infinito.

Sobre o Islã, o conhecimento humano avançou tanto, e tão rápido, como jamais havia acontecido na história. Em cada lugar aonde chegava essa linda mensagem, vinha acompanhada de muita iluminação e progresso. Não eram simples conquistas para subjugar povos ou tomar seus bens, longe disso. Era para trazer uma nova mensagem e um novo conceito de vida, de política, da relação entre os homens e o Criador. Enfim, uma nova visão de mundo.

Jamais o Islã foi imposto a povo algum. Todos os que abraçaram, o fizeram por vontade própria. Por ter o privilégio de acesso a uma crença extremamente simples e bela, com uma linguagem de fácil acesso a todos os povos.

Esse foi o verdadeiro motivo da incrível expansão da religião islâmica no mundo. E assim, com forma de incentivar o diálogo inter-religioso e fazer uma homenagem a essa grande religião, é que comemoramos, hoje, o Dia do Islamismo. Para isso, é necessário informar as pessoas de uma forma séria, sem propagandas, apenas mostrando, de uma forma honesta, o que é e o que prega a nossa religião. Salaam Aleikum. Obrigada, Presidente. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado, Sra. Haifa Madi. Parabéns pela iniciativa. Ouviremos, agora, as palavras do Padre Rui Melatti, que, nessa ocasião, representa o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de São Paulo. (Palmas.)

 

O SR. RUI MELATTI – Excelentíssimo Sr. Jamal El Bacha, saudando-o, saúdo todas as entidades islâmicas aqui representadas. Excelentíssimo Sr. Xeique Khaled Taky Eldin, Presidente do Conselho de Teólogos Islâmicos, saudando-o, homenageio todos os Xeiques aqui presentes e todos que estão no nosso País. Excelentíssimo Sr. Presidente da Mesa, Deputado Simão Pedro, saudando-o, também homenageio as autoridades civis, particularmente as legislativas, também autoridades militares.

Senhores e Senhoras, estamos felizes pela celebração do Dia do Islamismo, criado, então, em 21/10/2009, pela ilustre Deputada, em Lei aprovada nesta Casa. Este encontro vai se tornando não só um costume, mas um momento esperado e amistoso que nos permite colocar considerações em comum, propiciando partilhas abertas e confiantes. São sinais de uma trajetória de amizade que vai amadurecendo e deitando suas raízes entre nós e, pelos quais, devemos dar graças a Deus.

Sua eminência Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Católico de São Paulo, impossibilitado de estar presente, quis enviar sua palavra fraterna e carinhosa a todos os amigos e amigas das diferentes tradições religiosas aqui presentes, particularmente dos nossos irmãos islâmicos reunidos nesse grande dia.

O Concílio Ecumênico Vaticano II, na declaração Nostra Aetate, Nosso Tempo, promulgada no dia 28 de outubro de 1965, declaração sobre a relação da Igreja Católica com as religiões, se dirigia à comunidade islâmica com simpatia e coração aberto quando afirmava: "A Igreja tem grande apreço pelos muçulmanos, que adoram a Deus, único, vivo, subsistente, misericordioso e onipotente, Criador do céu e da terra, e que falou aos seres humanos, chamados a se submeter inteiramente aos seus decretos, mesmo ocultos, como a ele se submeteu Abraão, a quem a fé islâmica claramente se refere. Embora não reconheçam Jesus como Deus, veneram-no como Profeta, prestam homenagem à maternidade virginal de Maria e a ela se dirigem,às vezes, com grande devoção. Vivem na expectativa do Dia do Juízo, em que Deus recompensará a todos os ressuscitados. Valorizam, pois , a vida moral e prestam culto a Deus, especialmente pela oração, com esmolas e jejum. No decorrer dos tempos, verificaram-se inúmeras dissensões e lutas entre cristãos e muçulmanos. No entanto, o Concílio convida todos a superarem esse passado e a cultivar sinceramente a compreensão mútua, a fim de protegermos e promovermos, juntos, em favor de todos os seres humanos, a justiça social, os bens morais, a paz e a liberdade."

Quarenta e seis anos depois desta declaração, estamos passando, gradativamente, da intolerância ao encontro, a partir da vivência comum e de preocupações que são partilhadas.

Esta é uma importante etapa que já alcançamos, visto que conhecer é amar e desconhecer é temer. No ano passado, aconteceram várias reuniões entre muçulmanos e  cristãos, inclusive a do Comitê Misto para o Diálogo, instituído pelo Conselho Pontifício e o Comitê Permanente de Al-Azhar para o diálogo com as religiões monoteístas. Recolhemos de um desses eventos realizados nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2010, no Cairo, algumas considerações.

Desconhecemos a intolerância com suas consequências de violência que hoje tanto aflige o mundo, pois no Brasil, desde a chegada dos primeiros grupos islâmicos, vindos da Síria, Líbano e Palestina, no século XIX, estamos em perfeita harmonia e co-responsabilidade pelo bem social e prosperidade nacional. Em nós transparece um código ético comum, radicado no respeito mútuo originado na lei natural inscrita pelo Criador na consciência de todo ser humano. No entanto, o desrespeito à vida humana e o cerceamento da liberdade tem levantado grupos e até mesmo multidões em alguns países tão queridos para nossas comunidades étnicas e religiosas. Lamentavelmente, entre as causas de violências entre crentes, encontramos a manipulação da liberdade com fins políticos e de outros tipos, a discriminação baseada na etnia e na pertença religiosa, as divisões e as tensões sociais, a falta de acesso à educação, a pobreza, o subdesenvolvimento e a injustiça são também fontes diretas ou indiretas de violência entre comunidades religiosas e no interior das mesmas.

As autoridades civis e religiosas devem contribuir para resolver estas situações lá onde elas estejam, em vista do bem comum social. Aqueles que detêm responsabilidades e boa vontade devem fazer prevalecer à superioridade do direito, garantindo verdadeira justiça e coibindo os autores e promotores de violência. Neste segundo ano em que comemoramos o Dia do Islamismo, somos convidados a abrir nossos corações ao perdão mútuo e à reconciliação para um convívio pacífico e frutífero, em São Paulo, no Oriente Médio, na África ou na Ásia, e em outras partes do mundo, reconhecendo o que temos em comum e respeitando nossas diferenças, como base para uma cultura do diálogo.

E reconhecemos e respeitamos a dignidade e os direitos do ser humano, sem nenhuma discriminação étnica ou restrição à liberdade religiosa. Necessitamos de leis justas, que garantam a igualdade fundamental de todos os cidadãos. Desejamos uma formação para o diálogo, o respeito e a fraternidade nos diferentes campos. Educativo, nas famílias, nas escolas e universidade, nas igrejas e nas mesquitas. Assim poderemos nos opor a toda intolerância e violência entre fiéis de diferentes tradições religiosas.

A formação que nós, líderes religiosos, damos para que nossas comunidades sejam complementadas pelos livros escolares. Estes devem ter a preocupação de apresentar as religiões de forma objetiva e atualizada, pois terão importância decisiva na formação e na educação das futuras gerações.

Que estas considerações e as reações que despertam em seus corações, bem como as partilhas com os amigos islâmicos, cristãos ou de outras tantas tradições religiosas que formam o rico mosaico da realidade de São Paulo e do Brasil, contribua para o aprofundamento e progresso do diálogo, sempre respeitoso, sereno e fecundo.

Que Deus, o misericordioso, o clemente, dê a todos a saúde, paz e vida longa. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado, Padre Rui Melatti, que nesse ato representa o Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Quero anunciar que já está entre nós o Sr. Farid Madi, exp Prefeito da cidade de Guarujá. (Palmas.)

E teremos, agora, uma apresentação de cantos islâmicos pelo Coral dos Jovens Islâmicos.

 

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- É feita a apresentação dos cantos islâmicos. 

 

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O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado ao Coral dos Jovens Islâmicos. E, agora, teremos um vídeo da União Nacional Islâmica, muito importante, e gostaria de convidar a todos para que pudéssemos assisti-lo.

 

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- É feita a exibição do vídeo. 

 

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O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Parabéns. Muito bom. Quero convidar para fazer uso da palavra a Senhora Verônica Hannis, representando a mulher muçulmana no Brasil.

 

A SRA VERÔNICA HANNES DE LIMA - Em nome de Deus, o clemente, misericordioso, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com o profeta Mohammad e com todos os mensageiros de Deus, entre eles, Abraão, Ismael, Moisés, Davi, Jesus, e os demais mensageiros e profetas.

Que Deus abençoe a todos os convidados, organizadores do evento, as demais pessoas que aqui trabalham nos seus corredores. Que Deus abençoe o CIB – Colégio Islâmico Brasileiro – Colégio onde eu trabalho e dirijo, e todos os funcionários e colaboradores que fazem dessa escola uma grande família. Agradecemos, também, ao Deputado Estadual Simão Pedro, à Deputada Haifa Madi, nossas autoridades religiosas e entidades islâmicas.

Creio que esse seja um dia que deve ser por nós comemorado, assim, também, como se deve constituir em um momento de reflexão, em mais um momento de reflexão, sobre o que estamos passando no último século, especificamente, nas últimas décadas. Poderia até pensar em palavras cheias de flores, embora esse País nos trate com muito respeito, mas as palavras que aqui se seguem são muito mais um desabafo, um manifesto, em relação ao que estamos passando.

Como nós, mulheres muçulmanas, somos as mais perseguidas pela mídia, uma grande parte do que aqui relato se refere, justamente, às mulheres muçulmanas. E somos mais perseguidas, justamente, por sermos suficientemente fortes em levar nossa religião em nossas vestes, em nossa cabeça. E, por mais que isso perturbe a sociedade ocidental, nos orgulhamos disso. Fazemos porque queremos.

Fazemos por sermos submissas a Deus e, principalmente, fazemos porque temos clareza de que somos os alicerces de nossos lares. Os grandes homens que aí estão, foram por nós formados, o que nos pode causar muito orgulho, se feito com amor e fé, ou vergonha, se feito de maneira relapsa e leviana. Alguns nos chamam de fracas. Quem é fraca? A mãe palestina que entrega o seu filho ao seu País a serviço da religião? A mulher afegã, filipina? Não somos fracas. Temem a nossa força. Fraqueza é crer que criar um bom homem é salvaguardá-lo de suas responsabilidades, tornando-o tão fraco e incapaz que, certamente, ouvir o que lhe falam, lhe causa indignação.

Ouço, repetidamente, de muitas mães do ocidente, que jamais entregariam seus filhos a serviço de Deus ou a serviço do seu País. O amam demais para isso. Lhe damos carros, dinheiro, os jogamos no mundo para serem felizes, como se felicidade fosse sinônimo de responsabilidade. Resultado, filhos sem pais, frutos de alguns momentos de felicidade. Acidentes horrendos de carro, frutos de bebedeiras e de tantas outras coisas que podem ser causadas por momentos que marcam as vidas para sempre.

Homens com poucas perspectivas, uma vez que são movidos única e exclusivamente pelos seus supostos momentos de felicidade. Chegamos ao esperado século XXI. Muitos avanços foram conquistados pela medicina, muitas novas tecnologias, muito tempo para pensar. Mas, para pensar em que mesmo? Na roupa que se está usando, no cabelo, na moda, no sapato certo para se usar em cada ocasião.

Boa parte do mundo se tornou extremamente superficial. Homens que acreditam que as imagens perfeitas produzidas pela TV são reais, e mulheres loucas em se tornarem ou se aproximarem daquele modelo, que alguém diz que é o certo, o melhor. E acreditem, essas mulheres, justamente essas mulheres, são as que mais nos perseguem. Se julgam menos submissas que nós, basta saber a quem são submissas.

Quem é mais escrava dos dizeres do capital, quem se submete mais a esses mecanismos que dão a falsa sensação de liberdade, quando, na verdade, os fazem prisioneiras de padrões inalcançáveis? O que resta? Um monte de excêntricos que não se encaixam a nada. Por isso, cobrem a cabeça, deixam as barbas crescerem, usam aquelas roupas que mais escondem do que mostram. O que fazer com esse povo que mais insiste com costumes e hábitos do século passado?

Massacrem-nos. Chamem-nos de ignorantes, fundamentalistas, radicais. Humilhem-nos. Quem sabe eles cedam à força esmagadora do capital e da mídia, quem sabe assim eles arranquem aquelas suas roupas e comecem a usar as grandes marcas. Certamente, esses monstros da moda sabem muito melhor do que Deus o que é certo para o homem.

 Eles não sabem. A maioria das famosas atrizes que circula nos mais cobiçados círculos sociais são trocadas sempre que a paixão acaba. Ou quando surge algo que corresponde melhor aos anseios do que alguns poucos ditam para a maioria. Que, embora se acha a nata da sociedade, nada mais são do que seres humanos descartáveis.

Fechem os olhos por alguns instantes e pensem em alguma bela atriz que conseguiu manter sua família por mais de dois ou três anos. Mas sejam sinceros consigo mesmos. Será que eles são mais felizes do que nós? Será que elas são menos submissas do que nós? O fato é que sabemos a quem seguimos e seguimos a Deus. Se olharmos verdadeiramente para a mulher muçulmana, sem preconceitos, veremos que são menos afetadas por esses mecanismos que grande parte das mulheres do ocidente.

Queremos reconhecimento e respeito sim, mas pelo que carregamos em nossas mentes, não em nossos corpos.

É lógico que temos os nossos momentos, é obvio que também sofremos, mas são por outros motivos. Sofremos para alicerçarmos os nossos filhos. Queremos um mundo melhor para eles. Sofremos para mantermos a nossa fé quando todo mundo em torno grita “vão viver suas vidas, vão curtir, pensem no momento”.

Clamo a vocês, muçulmanos, clamo a vocês, crentes, não façam isso. Somos muito mais fortes do que isso. Eles nos agridem porque não sabem mais como nos atingir. Não conseguem fazer com que nos dopem com suas bebidas. Não conseguem ditar normas de conduta. Não conseguem nem nos vender o que o mundo está usando. Conseqüência? Atacam-nos. Arranquem os lenços delas. Façam com que eles se sintam trancafiados dentro dos seus próprios países. Novamente, não conseguem. Resistimos. Governo algum vai nos despir por querer que sigamos os nossos padrões. Homem algum fala mais alto aos nossos ouvidos do que entendemos aos olhos de Deus.

Não sei quem elegeu os EUA como o policial do mundo. Não sei quem lhe deu o direito de invadir o Paquistão e matar o Xeique Osama Bin Laden (Palmas.) sem nenhum julgamento. Gostaria muito de saber que País invade a soberania de outro País livre com o seu exército, seus helicópteros, suas armas, e assassinam, assim, o homem, sem lhe conceder o mínimo, ou seja, o direito de defesa. Pior, nunca conseguiram provar que as Torres Gêmeas foram atentado comandado por Bin Laden. Assim como nunca acharam as armas de destruição em massa, que disseram que estava no Iraque. Assim como nem a morte do suposto demônio do mundo fez com que os protetores das Américas, que por sinal não são só deles, também fazemos parte da America Latina, graças a Deus, deixassem em paz mais de um milhão de iraquianos e afegãos assassinados no último ano. E o que fazemos? Nada.

Sinceramente, não sei dizer o que dá para fazer para lutar contra essa força tão esmagadora. Só sei que resistir os deixam loucos. Mulheres muçulmanas, continuem com seus lenços. As mulheres muçulmanas de fé, coloquem. Imponham nossa presença, e isso é o bastante para o momento. Mostrem a ele que somos donos das nossas vidas, que somos servos de Deus e que eles não vão nos domar, nem agora e nem nunca.

Estamos sendo mortos na Síria, no Iraque, Paquistão, África, Chechênia, Líbia, meus Deus, nossas irmãs palestinas estão sendo massacradas e vem o País da liberdade, igualdade e fraternidade, se preocupar com o que usamos na cabeça? Só rindo mesmo. Mas rindo muito, porque isso é um crime leviano e sem nenhum fundamento. Se a preocupação desses homens fosse com a nossa suposta submissão, e com o suposto sofrimento que o lenço nos traz, nos deixaria seguirmos o que cremos, nos respeitando, primeiramente.

Se a preocupação desses homens fosse com o nosso bem estar, não permitiriam atrocidades que ocorrem na Palestina. Não permitiriam ao exército americano tomar o Iraque como se pertencesse a eles. Não permitiriam a desgraça na África, no Afeganistão, no próprio Paquistão, a não ser que estejam mais interessados em nossas vestes do que em nossas vidas.

Não sei se é de conhecimento de todos, mas existem muitos terroristas exilados em terras americanas. Como, por exemplo, o cubano Posada Carriles, responsável pela explosão de várias bombas em hotéis cubanos e pela derrubada de um avião, que matou 73 pessoas.

Imaginem um homem que assassinasse o tal terrorista em terras estadunidenses. O que lhes parece que aconteceria? O mundo inteiro se levantaria em um uníssono condenando o ataque, afinal de contas, é dos EUA que estamos falando. Eles podem, com certeza, e vão retalhar, cada vez mais, Cuba, País de Fidel, homem formado em Direito pelas universidades americanas, assim como Bin Laden foi armado, treinado e recrutado pelos EUA. O problema é quando esses homens não lhe servem mais. (Palmas.)

De maneira alguma estou defendendo Fidel e, tampouco, os supostos atos de Osama Bin Laden. Estou só relembrando à nossa imprensa, ao nosso povo, ao nosso País, das palavras Estado de Direito. Não se invade um País soberano quando quer, assassina um homem, como eles disseram que o fizeram, sem julgamento, desarmado, e simplesmente voltam para a casa como heróis.

Vocês não são heróis. São os maiores monstros que a humanidade já produziu. E digo humanidade por entender que o homem, como criação divina, só pode se tornar tão cruel se encontrar justificativa em seus meios sórdidos e covardes para o mesmo. A imprensa brasileira é uma piada. Completamente colonizada, não teve coragem de fazer uma única referência ao que vem a ser Estado de Direito. Abraçou a causa exatamente como os EUA a pôs. Ainda tem o alento de por nos seus meios de comunicação que Osama Bin Laden foi lavado, e supostamente jogado ao mar, como se realizam os rituais de sepultamento islâmico. Pelo amor de Deus. Nos poupem de suas lorotas.

Primeiramente, não faz parte de nenhum ritual islâmico jogar o corpo de um homem no mar. Se não me engano, isso é ocultação de cadáver. Só mais um crime que insistem em nos empurrar pela garganta. Ninguém acreditou nisso. Ninguém vai acreditar. Os mais leigos dos cidadãos vão minimamente rir de um conto tão mal elaborado.

Nossa imprensa pegou um relatório transmitido pelos EUA, e deu como fato. Não existe corpo, mas mataram. Invadiram outro País, mas eles podem. Então, não vamos falar a respeito. O que ele disser é verdade e ponto. Transmitam isso à nação brasileira. Mas façam com que não exista muito questionamento. Afinal, fato é fato. Não tem corpo, não implica em nada. Invadirem outro País, o que é que tem?

Sei que já falei bastante, mas não poderia terminar a minha fala sem me referir à revista ‘Veja’. Eu quero deixar claro também que essa oportunidade é porque eu sei que tal fato está sendo transmitido e vai ser transmitido no domingo, na íntegra, e eu gostaria muito que a comunidade nacional soubesse do nosso repúdio em relação a esses acontecimentos. Sobre as suas três últimas capas, difamatórias, o jornalista responsável por uma das reportagens disse que vinha fazendo sua pesquisa há mais de seis meses. Ou o Senhor não sabe o que é pesquisa, e isso eu posso lhe dizer com muita propriedade por ser pesquisadora, ou o Senhor juntou peças soltas de um dominó da maneira que quis, publicou sem pensar nas conseqüências, sem pensar que existem famílias sérias, boas, direitas, envolvidas nas suas calúnias? Assim como xingou nosso irmão de pitt bull, termo ultrajante utilizado por um suposto jornalista que se considera profissional, respondo-lhe que nem o mais tolo dos vira-latas rodaria tanto em torno de sua cauda e produziria algo tão ‘islamofóbico e cruel’. Nós não perdemos nada com isso, tenha clareza desse fato. Repito, não perdemos nada com isso.

Claramente, isso trouxe tristeza às famílias afetadas, mas explicar nossa religião é nosso dever, e quanto mais dúvidas vocês geram, mais convertemos. Problematizar fatos geram questionamentos que levam às pesquisas, mas pesquisas sérias. E, a partir daí, se sucedem conversões. Acreditem, cada mentira que vocês relatam, cada ato preconceituoso que vocês cometem, conscientemente arrastam multidões atrás de respostas. É justamente aí que se baseia o nosso trabalho. Mostrar a verdade. Esclarecer que o Islã, diferente do que vocês pregam, é uma religião que veio para a humanidade. Não faz parte de um único povo, pelo contrário. Atualmente, a maioria dos muçulmanos no mundo, não é de descendência árabe. E, principalmente, mostrarmos que todos são benvindos. Não existem trajes para adentrar a mesquita. Ela está aberta, justamente como a casa de Deus deve estar.

Em relação às mulheres muçulmanas que usam véu, estão sendo perseguidas em países que pregam a liberdade como fator fundante de sua sociedade livre, segue uma mensagem, resistência é o bastante. Não desistam. Não vamos desistir.

 Uma mulher de lenço incomoda muita gente, e os países de primeiro mundo sabem disso. Divulgamos nossa religião em silêncio, somos divulgadoras, mesmo quando não abrimos nossas bocas. E é exatamente isso que os assustam.

A Europa está sendo islamizada a passos largos. Existe uma estimativa das Nações Unidas que, em menos de 30 anos, grande parte da Europa seja uma república islâmica. É isso que eles querem. Não conseguirão. A verdade demora, mas pura como é, sempre aparece.

Todos os dias, ouvimos uma ou outra mulher bem formada, bem trajada, falando a respeito das coitadinhas de lenço. Por favor, não ousem falar de nós sem nos ouvir antes. Temos vozes, e se vocês nos respeitam, nos ouçam. Antes de expor opiniões tão descontextualizadas, olhem para nós de igual para igual. Não acham que são melhores porque seguem normas, só Deus sabe de quem. Antes de publicar algo a nosso respeito, nos perguntem. Também estudamos, também trabalhamos, lutamos todos os dias, assim como vocês. Não nos subestimem. Sabemos nos defender. Sabemos falar por nós mesmas. Novamente, não nos desconsiderem. Não nos prejulguem, antes de nos ouvir. Somos muito mais felizes do que pensam, e tal direito nos foi concedido há mais de 1400 anos, com o advento do islamismo.

Há mais de 1430 anos, temos direito a herança, direito de trabalhar, se necessário, direito ao divórcio. Não queremos o mal, queremos justiça. O Islã não prega a guerra, defende a paz. Mas não pensem que vamos ver nossos irmãos serem assassinados. Temos o direito divino de nos defender. O oriente vive uma nova era. Esperamos, ansiosamente, o melhor para eles, e que eles tenham um pouco de paz. Esperamos que todos os levantes que encontram forças, e são concidadãos, consigam derrubar os que até o exato momento trabalham para si e para enriquecer ainda mais quem não precisa. Seus patrões, por assim dizer. Ou alguém aqui acredita que o Governo se mantém há mais de 30 anos no poder sem o apoio dos imperadores do mundo? Talvez, o que eu tenha dito seja duro demais, mas corresponde à verdade que conhecemos, que vivemos todos os dias. Não sabemos o dia de amanhã, graças a Deus por isso. Eles também não sabem. Estamos construindo, cada um a seu passo, mas, sim, estamos construindo. E só posso afirmar que resistir, nesse momento, é a maior arma que temos.

De uma muçulmana convertida para outros milhões de muçulmanos convertidos ou não. Muito obrigada a todas as pessoas presentes. Muito obrigada pelo convite da União Nacional Islâmica. Ao ilustre Deputado Estadual Simão Pedro. Não poderia me esquecer da Deputada Haifa Madi, autora da lei Estadual que foi promulgada no ano de 2009. Aos professores e coordenadores do Colégio Islâmico Brasileiro. À coordenadora de árabe, Aline Saif, à coordenadora pedagógica, Kelly Farias, aos pais de nossos alunos, pela confiança depositada e, principalmente, aos nossos alunos, é uma honra dividir as nossas vidas com vocês. Se Deus quiser, vocês vão falar muito melhor do que eu. Se Deus quiser, vocês serão muçulmanos muito melhores do que eu. Essa é a nossa luta, essa é a nossa vida. O melhor que posso lhes oferecer é o que venho estudando há sete anos. E por Deus, dou tudo o que tenho. Vocês farão muito mais, se Deus quiser. Acreditamos em vocês. O futuro está em mãos tão pequenas, mas, se Deus quiser, serão preparadas minuciosamente para atingirem o melhor dentro de vossas possibilidades.

Muito obrigada, novamente, a todos os presentes. Que a paz e a bênção de Deus estejam com todos vocês. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Teremos, agora, antes da palavra do Xeique Jihad Hammadeh, ouviremos, agora, mais um canto muçulmano pelo Coral dos Jovens Islâmicos.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE SIMÃO PEDRO - PT - Com a palavra, agora, o Xeique Jihad Hammadeh, representando o Presidente do Conselho dos Teólogos do Brasil, Xeique Khaled Taky El Din. (Palmas.) Em seguida, nós teremos as palavras do Sr. Jamal El Bacha, que fará a entrega das placas às pessoas homenageadas.

 

O SR. JIHAD HAMMADEH - Em nome de Deus, clemente, misericordioso, louvado seja Deus, o Criador do universo. E que a paz e a bênção de Deus estejam com todos os seus mensageiros e profetas. Entre eles, Noé, Abraão, Isaac, Ismael, Moisés, Jesus, Mohammad e, sobretudo, os seus familiares, companheiros e seguidores. Peço a Deus que nós sejamos seguidores dos profetas nos seus exemplos de cidadania, de hombridade, honestidade, justiça, respeito, para que sejamos felizes duplamente. Uma nessa vida, e a outra na vida eterna, com a entrada no paraíso. Amém.

Excelentíssimo Deputado Estadual, Simão Pedro, Presidente dessa Sessão Solene em homenagem ao Dia do Islamismo, através do qual gostaria de cumprimentar a todos os integrantes desta Casa de Lei, casa do povo, e todos os funcionários dela.

Excelentíssimo Deputado Federal, Dr. Protógenes Queiroz, a quem, em nome da comunidade islâmica, gostaria de agradecer a sua amizade, o seu empenho na defesa dessa parte do povo brasileiro, que são os muçulmanos, que não são estranhos a esse País, são parte desse povo. E o Senhor, no Congresso Nacional, defendeu muito bem, e vem defendendo muito bem, gostaria de agradecer, em nome da comunidade islâmica brasileira, principalmente, pelo discurso memorável que o Senhor fez no Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília. Quando o Senhor, com muita veemência, com uma postura de hombridade de um cidadão brasileiro, falando em nosso nome, defendeu a comunidade islâmica das acusações de terrorismo da Revista Veja e de uma parte da mídia, porque a grande parte da mídia é boa, é justa, respeitosa. Só que nós, pessoas de bem, temos que ocupar o nosso espaço e não deixar o espaço para outros ocuparem. O que é nosso de direito, devemos requisitá-lo e fazer uso dele. Muito obrigado, Deputado Federal, e também pelo Projeto de Lei que apresentou, 1077/2011, Projeto de Lei do Dr. Protógenes, que como ele citou aqui, “visa criar o dia do povo muçulmano”, dia nacional do povo muçulmano, federal, em âmbito nacional, e já está em andamento.

Excelentíssimo reverendíssimo Xeique Kalede Taky Eldin, Presidente do Conselho Superior dos Teólogos e Assuntos Islâmicos no Brasil, Xeique Kalede Taky Eldin, através do qual gostaria de cumprimentar todos os religiosos aqui presentes, católicos, ortodoxos, muçulmanos, todas as crenças, Senhor Jamal El Bacha, Presidente da União Nacional Islâmica, através do qual gostaria de cumprimentar a todos os representantes das entidades islâmicas e não islâmicas aqui presentes, senador Nilton Barbosa Lima, que nos honra com sua presença também, ex-Deputada, mas para nós, sempre Deputada Estadual, Haifa Madi, nossa irmã, que criou essa lei com o apoio desta Casa, está sendo possível nós comemorarmos esse segundo ano do Dia do Islamismo. Muito obrigado, Dra. Haifa Madi.

Senhoras e Senhores, meus queridos irmãos muçulmanos, em primeiro lugar gostaria de citar, com muita tristeza a morte do nosso grande Xeique, que morreu no Líbano. Um grande Xeique, que esteve na Europa e ajudou a organizar a comunidade muçulmana na França, na Europa. Ele, que agora passa para a outra vida, e que algum dia estaremos com ele. E, da mesma forma, como estamos aqui, pedimos a Deus que estejamos juntos no paraíso, amém. Que Deus o tenha, e tenha também os nossos mortos. Que Deus tenha clemência dele e aceite o seu perdão, com sua misericórdia e clemência, amém.

Senhoras e Senhores, nós, hoje, nessa data, temos um dia simbólico, essa Sessão é simbólica, o Dia do Islamismo é um dia simbólico. O Dia do Islamismo verdadeiro, é todo o dia que nós acordamos, é todo o dia no qual fazemos as cinco orações. É aqui que você honra esse dia, é aqui que você, como muçulmano, comemora esse dia. Você comemora sendo cidadão brasileiro correto, obedecendo às leis de trânsito, sendo muçulmano no seu trabalho, na sua casa, sendo muçulmano na rua e onde quer que você esteja. Você, dando um exemplo de Islã, de cidadania islâmica, você está homenageando esse dia e se comportando como muçulmano. Você está honrando o Alcorão Sagrado, porque Deus, no Alcorão Sagrado, diz: (Fala em língua estrangeira.) Deus, no Alcorão Sagrado, diz “entre os fiéis há homens – homens, aqui, não são os do sexo masculino e, sim, de hombridade, honra, dignidade - que cumpriram o compromisso que tiveram com Deus”. De que forma? Quando são corretos no seu dia a dia, no seu cotidiano, quando são exemplos da palavra de Deus.

O profeta Mohammad, foi perguntado sobre ele para a sua esposa, como era o caráter do profeta Mohammad? E ela disse que ele era o Alcorão sobre pernas, era o Alcorão andando. O caráter dele era sublime, igual ao Alcorão. Ele aplicava o Alcorão na sua conduta, no seu comportamento.

Excelentíssimo Deputado Simão Pedro, nesta Casa de Leis, nesta casa do povo, gostaria de dizer que o Islã não é estranho a essa terra, que os muçulmanos não são estranhos a essas terras. Que nós não somos estranhos, meus irmãos. Nós somos brasileiros e estivemos aqui, os muçulmanos estiveram no Brasil, e tem presença marcada no Brasil desde Pedro Álvares Cabral. E há relatos pré-descobrimento do Brasil, os muçulmanos estiveram aqui. Mas a gente se contenta em falar que estivemos juntos com Pedro Álvares Cabral, nas mesmas caravelas. O navegador de Pedro Álvares Cabral era mouro, muçulmano, árabe, e uma parte grande dos escravos eram muçulmanos capturados na Nigéria, no Sudão, no Senegal, trazidos aqui a força e eram letrados, sabiam ler e escrever. E deixaram um legado muito grande. Quem quiser visitar o Arquivo Público de Salvador vai encontrar os manuscritos que estão ali presentes até os dias de hoje. Vão encontrar uma mesquita na Lapinha. Por fora, uma igreja e, por dentro, uma mesquita. E quando os jesuítas pediram para os escravos construírem, decorarem, porque eles sabiam da decoração, ao decorarem a igreja por dentro, só sabiam fazer mesquitas. E aí decoraram como se fosse uma mesquita e os dizeres, até hoje, estão em árabe, na cúpula da igreja. E, aí, não souberam fazer um púlpito, a não ser colocar um mimbar, que é o púlpito de uma mesquita, e os jesuítas não sabiam para que servia aquilo, e colocaram uma estátua ali, um santo.

Porém, aquilo é utilizado dentro das mesquitas para o Xeique fazer o seu sermão. Os muçulmanos fazem parte essencial da cultura brasileira. A Revolta dos Malês, de 1935, brasileira. Então nós não somos estranhos, Deputado.

Por que nos tratam como imigrantes? Sim, uma parte dos muçulmanos, dos árabes, dos que vieram do Líbano, são imigrantes. Porém, aqueles que nascem aqui não são imigrantes. São tão brasileiros, e podem ser votados, e podem ocupar o cargo de Presidência da República como qualquer outro brasileiro. Nós não somos estranhos a essa terra. O Islã não é estranho a essa terra. Devem nos tratar dessa forma. Nós exigimos isso. A mídia, uma parte da mídia que nos trata como estranhos nessa terra, não deve fazê-lo porque ela estará sendo injusta com a história islâmica.

Deputado, um dos grandes nomes, ou nome de um dos grandes Estados brasileiros, Bahia, é um nome árabe. Os muçulmanos escravos, ao chegarem nessa terra, quando viram essa terra maravilhosa, chamaram, “Que terra formidável, formosa, linda, bela”. (Palmas.) E agora vemos alguns movimentos querendo tirar o h do nome Bahia para descaracterizar o nome e deixá-lo antes de ser islâmico.

Recife, o nome de Recife, meio fio, que são os nomes dos recifes que impedem que os animais, tubarões, peixes grandes e navios cheguem até a costa brasileira, é um nome árabe. E assim vai. Os muçulmanos fazem parte essencial do dicionário brasileiro, do dicionário da língua portuguesa. Nós estamos aqui não para destruir, como alguns nos acusam. E aqui, nesta Casa de Leis, eu peço a todos os meios de comunicação, políticos, influentes, multiplicadores e formadores de opinião, que sejam justos. Não queremos parcialidade, somente justiça com a história brasileira e com a história da presença islâmica. O que nós ajudamos a construir o Brasil, é nosso País, e dever dos muçulmanos protegê-lo. É dever dos muçulmanos conviver com as demais crenças da melhor forma possível, porque Deus ordenou isso dentro do Alcorão. E deste púlpito, deste local, gostaria de abrir ao Padre Rui que leve essa mensagem ao Dom Odilo Scherer, que se abra um diálogo formal islamo-católico, para que a gente possa realizar tantos projetos comuns a todas as religiões, como também os nossos irmãos ortodoxos, a todos. (Palmas.) 

Nós temos uma crise financeira mundial? Não. Nós temos uma crise mundial de valores. E o Islã, como as demais religiões, nós podemos juntos, combatê-los. Quando zombam de um profeta, quando fazem piada de Jesus, nos ofendem como muçulmanos, não são só os cristãos que se ofendem, ofendem aos muçulmanos, porque faz parte essencial da crença islâmica proteger pelo nome dos profetas. (Palmas.)

Meus irmãos, acredito que se formos falar, ficaremos até de manhã para falar da presença islâmica na história brasileira. Porém, basta o que nós sabemos agora. Basta o que nós sabemos da nossa religião para podermos ficar cidadãos brasileiros melhores. Não ache, meu irmão, que você veio do Líbano, seus filhos estão aqui, se alguém te ofender, você não tem direitos. Tem direitos. Se alguém te ofender, você é um cidadão brasileiro. Você tem o direito de se defender, todos são iguais perante a lei. Nós estamos aqui porque essa Casa também é uma parte de direito nosso ocupar. Estamos aqui ocupando nosso espaço também, porque os Deputados agradecem nossa presença quando estão aqui, acompanhando o nosso trabalho. Nós somos cidadãos brasileiros e, como tais, nós estamos aqui exigindo os nossos direitos. Mas, também, para cumprir com nossas obrigações e deveres.

Vamos, cada vez mais, ser cidadãos muçulmanos, brasileiros, para que esse País esteja à frente de todos os países no seu exemplo de justiça, respeito e pluralidade religiosa e de crenças. Muito obrigado, e que Deus guie a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado (Palmas.) Jihad Hammadeh. E, agora, nossa última parte da Sessão Solene. Convido o nosso querido Jamal El Bacha, Presidente da União Islâmica, que fará uso da palavra e, em seguida, entregará a placa a cidadãos muçulmanos que serão homenageados nesta noite. (Palmas.)

 

O SR. JAMAL EL BACHA - Salaam Aleikum. Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso. Primeiro, eu gostaria de agradecer a presença de todos e as autoridades aqui presentes, como o Deputado Estadual Simão Pedro, Deputado Federal, Delegado Protógenes, Senador Nilton Barbosa Lima, e a todas as autoridades religiosas. Agradecer ao Deputado Barros Munhoz, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por nos honrar com a comemoração do Dia do Islamismo neste Plenário.

Agradecer ao Deputado Simão Pedro pela demonstração de respeito junto à sociedade islâmica, em abraçar essa data importante para nós, e abrilhantando os trabalhos com a sapiência que lhe é peculiar.

Parabenizar, ainda, a Deputada Haifa Madi, pela iniciativa do precioso Projeto de sua autoria, que se transformou em uma importantíssima lei para toda a sociedade paulista. 

Essa data é importante para nós porque é mais uma demonstração de que neste País todo o cidadão ou cidadã tem o direito e a liberdade de professar ou seguir sua fé. E nós, muçulmanos, com essa data solene, nos sentimos honrados pela demonstração de respeito e igualdade com as demais religiões.

As religiões existentes no Brasil são várias. E o islamismo, como uma delas, vem crescendo de uma forma surpreendente entre os brasileiros. Hoje, no Brasil, os brasileiros muçulmanos representam 95% e os imigrantes, 5%. Nesse sentido, gostaríamos de manifestar nossa indignação com alguns veículos de imprensa, preocupados com o crescimento do islamismo, tentam associá-lo ao terrorismo, querendo denegrir a nossa imagem.

Um veículo de imprensa racista e preconceituoso é um perigo para a sociedade, pois ele propaga a discriminação, buscando alcançar a insegurança e a desordem da sociedade. Atitudes tendenciosas, que o foco são interesses financeiros para vender equipamentos de segurança. Um racismo e preconceito que não podemos mais aceitar é quando associam uma religião a um criminoso. Não é porque um padre comete pedofilia, que o Cristianismo tem culpa. Não é porque um cônsul judeu violenta crianças, que o Judaísmo tem culpa. Não é porque um médico pediatra judeu anestesia crianças em seu consultório e as estupra, que o Judaísmo tem culpa. E não é porque um elemento muçulmano comete crimes, que o Islamismo tem culpa. Afinal, aqui no Brasil, cada cidadão responde pelos seus crimes. E nos seus sobrenomes não está sua religião.

Gostaríamos de pedir que, através das mãos das autoridades aqui presentes, incluíssem na lei de racismo e preconceito o uso da religião como referência a um cidadão ou uma cidadã. Temos orgulho de sermos filhos do Brasil, pátria da democracia, do direito, do respeito e da liberdade.

Para finalizar, quero dizer que somos brasileiros muçulmanos e somos soldados dessa pátria, e defenderemos o Brasil a qualquer custo, e que confiamos na nossa Justiça, que é soberana. Também quero deixar aqui um recado. Não é uma revista ou um livro que vai mudar as leis no Brasil. São as leis do Brasil que vão mudar as revistas e livros desse País. Muito obrigado. (Fala em língua estrangeira.) (Palmas.)

Agora, gostaria de homenagear algumas personalidades da nossa comunidade. E primeiro, me desculpar pelo tempo, mas assim é, quando todos têm muito para falar, acabam ocupando o tempo dos outros. Mas, foi muito bom, (Fala em língua estrangeira.) A gente pôde expressar aquilo que tínhamos vontade e como o chefe Jihaf falou, se formos estender, um dia, dois, um ano, é pouco para falar o que representa o islamismo para o mundo. Afirmou Ahmad Abdul Ghani El Hayek, ex-Presidente da SBM e membro mais velho da nossa comunidade islâmica. Parabéns pelos 104 anos de idade que o Sr. está fazendo. Uma salva de palmas para esse nosso mestre. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA - Em seguida, gostaríamos de homenagear Sr. Ismael Gomes dos Santos, ex-pastor evangélico convertido ao islamismo em 1996, com mais 17 membros de sua família. Estudou seis anos de teologia na faculdade El Fateh, na Síria, e atualmente, é Xeique em Carambeí, no Estado do Paraná. (Palmas.) (Faz pronunciamento em língua estrangeira).

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA - Vou ler a frase que é para todos, segue a mesma frase. A UNI – União Nacional das Sociedades Islâmicas concede essa homenagem ao ilustre Sr. Ismael Gomes dos Santos pelo seu trabalho e dedicação em prol do Islã, União Islâmica, São Paulo, 13/05/2011. (Palmas.)  

O próximo, nosso Xeique Jihad Hammadah, Presidente do Conselho de Ética da União Islâmica, e é porta-voz da Comunidade Islâmica no Brasil. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA – É com muita satisfação, Xeique Jihad. Salaam Aleikum. Agora, eu gostaria de homenagear o nosso irmão, Dr. Salem Hikmat Nasser, advogado e jornalista, formado pela USP, e professor de Direito Internacional da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, e defende, em sua coluna do jornal Folha de São Paulo, questões relacionadas ao Islã. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA -  Agora, vamos homenagear a nossa irmã, Dra. Soraia Smaili, graduada pela USP, mestrado e doutorado em Farmacologia na Universidade Paulista de Medicina e pós-doutorada na Universidade Thomas Jeferson, nos EUA. Fundou e foi a primeira Presidente da ICARAB – Instituto da Cultura Árabe. Realizou várias conferências sobre a mulher árabe e a mulher no Islã. Por favor. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA -  Agora, homenagear nossa irmã também, Senhora Nadia Hussein, biomédica e coordenadora do Núcleo de Estudos Árabe Islâmicos da Faculdade Anchieta, palestrante e conferencista de temas relacionados ao islamismo. Por favor, nossa irmã Nadia. (Palmas.). Parabéns. (Fala em língua estrangeira.)

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA – E para finalizar, agora, gostaria também de homenagear nosso irmão querido, Omar Ahmad Assaf, ex-Presidente da APPAS e ex- Presidente da Sociedade Islâmica de Santos, diretor da Câmara de Comércios Árabe Brasileira, e que presta vários serviços até hoje, vários trabalhos relevantes à comunidade islâmica. Também gostaria que recebesse essa homenagem, o nosso irmão Omar Assaf. (Palmas.).

 

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- É feita a entrega da homenagem. 

 

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O SR. JAMAL EL BACHA -  Omar, gostaria que você desse uma palavra, e pudesse falar em nome de todos os homenageados. Se possível, por favor.

 

O SR. OMAR AHMAD ASSAF - Salaam Aleikum. Boa-noite a todos. Eu me sinto duplamente honrado no dia de hoje. Primeiro, por ser lembrado  por algum trabalho que eu tenha feito em prol da nossa comunidade islâmica e em prol da nossa população brasileira, para ser homenageado no dia de hoje. E a segunda satisfação é poder falar em nome dessas ilustres pessoas que me antecederam e que foram agraciadas no dia em que comemoramos o Dia do Islamismo, a quem eu quero render as homenagens. À nossa Deputada Haifa Madi pela iniciativa, e agradecer aos seus companheiros desta Casa de Leis amplamente democrática e que fez escrever através de Leis, no calendário de São Paulo, um dia dedicado a nós muçulmanos, que também somos brasileiros.

Quero, em primeiro lugar, cumprimentar o Deputado Simão Pedro, Presidente da Mesa dos trabalhos de hoje, e que seja transmitida ao meu amigo, Presidente desta Casa, Deputado Barros Munhoz, o agradecimento dessa comunidade que, com certeza, ajuda todos os dias a construir um País melhor para a nossa população.

Quero, em seu nome, Deputado, cumprimentar todas as autoridades aqui presentes. Meu caro amigo, Presidente da UNI, Jamal Bacha, agradecer pela presença e parabenizar pelo trabalho em frente ao mundo. Em seu nome, quero agradecer a presença de todos os representantes das entidades islâmicas aqui presentes. Padre Rui Melatti, representante aqui do Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer. Quero, em vosso nome, cumprimentar todas as autoridades religiosas e dizer da satisfação de recebê-lo aqui e dividir com a gente, nesse dia tão importante, e através das suas palavras, através da mensagem do nosso Arcebispo, que mostra o quão devemos ser democráticos, tolerantes, e que essa grandeza só acontece em um  País como o nosso, onde se dá liberdade a todos, de pensar e de falar em nome de Deus da maneira e da forma que nós nascemos. Eu quero parabenizá-lo pelas palavras e agradecer por dividir esse momento conosco.

E agradecer a presença feminina, aos Senhores e Senhoras presentes, e dizer que essa comunidade agradece pelo reconhecimento do seu trabalho dentro dessa Casa de Leis do maior Estado, da pujança do Estado de São Paulo. E eu vou pedir desculpas porque não é do meu feitio, é da minha ética não falar do que eu fiz. Mas, como fui agraciado e acredito que estaria falando de alguma coisa que eu prestei de serviços, e eu também estaria representando o trabalho daqueles que foram homenageados. Eu tive o prazer de iniciar com o meu falecido pai um trabalho, onde fora instituída a Sociedade Beneficente Islâmica de Santos,  onde nós tivemos, ao lado dos meus irmãos, à frente dessa entidade até que fosse construída a nossa mesquita. O trabalho público, eu quero dizer da satisfação de ter sido porta-voz do setor de supermercados nesse País, por 10 anos. É uma grande contribuição para o setor, mas, também, de outra forma, é e foi um grande trabalho para a nossa comunidade e para a nossa sociedade.

Quero dizer que por seis anos eu também liderei a diretoria da Associação Paulista de Supermercados e que pude levar até a nossa comunidade alguns trabalhos que refletem até os dias de hoje. Felicidade de ter conduzido os trabalhos da Associação, justamente no momento em que se instituía, nesse País, o plano econômico que estabilizava a nossa economia, e mais do que isso, trazia justiça social porque valorizava o dinheiro suado do trabalhador, dando a ele real valor todos os dias, e eliminando a inflação.

Tive a sorte e a felicidade de liderar essa entidade no momento crucial e reconhecimento das maiores autoridades daquele momento, como do falecido e amigo Governador Covas, e do então Presidente, Fernando Henrique Cardoso. Muita gente talvez tenha me visto através da televisão, mas não sabem o dia a dia da gente. Só vou colocar para vocês uma passagem que marcou muito. Foi no momento crucial do valor estabelecido no começo do plano do dólar, e ali, chamado até o Palácio dos Bandeirantes, o então Governador me questionava o que ele poderia levar até Brasília, de compromisso. Eu disse que ele poderia ter essa certeza, de que o setor de supermercados continuaria trabalhando pela estabilidade. E vocês devem lembrar que naquele momento o setor de supermercados trazia, nas suas prateleiras, às vezes vazias, uma placa dizendo que determinados produtos só voltariam quando tivessem seus preços negociados, dentro de um preço justo. Essas foram as iniciativas que nós tivemos para contribuir com essa nação, com essa população.

E a grata felicidade de receber uma entidade e liderar uma diretoria, que eu tive nas mãos, recebi, nas minhas mãos, uma sede com 600 metros quadrados que entreguei. E recebi uma feira, que ontem foi o último dia, o dia de encerramento na edição desse ano, que era a terceira feira do Brasil, e eu entreguei como sendo a primeira feira do mundo. E ontem se encerrou a edição de 2011, trazendo do mundo todo, e de todos os Estados brasileiros, mais de 80 mil profissionais para discutir o abastecimento desse País em outros lugares do mundo.

Eu tenho a satisfação de falar nisso porque sempre pautei o meu dia a dia como todos os que são homenageados aqui, pensando em duas coisas fundamentais, por ser muçulmano e por ser libanês. E sempre tive todo o cuidado, como todos os que foram homenageados aqui, e foram reconhecidos pelo que fizeram pela nossa comunidade, pela comunidade brasileira, eu sempre pautei que qualquer coisa que você fizesse de errado, não que eu não erre, não que os Senhores não errem, todo ser humano erra, mas eu sempre tive o cuidado de saber que ali eu não representava a minha pessoa. Como todos os que foram homenageados, eu tenho certeza que agem dessa forma. Ali, eu representava a nossa comunidade muçulmana, e a nossa comunidade libanesa. Por isso, eu quero deixar aqui uma mensagem, principalmente ao meu amigo Jamal, que hoje está à frente da UNI, da União Nacional das Entidades Islâmicas. Nós precisamos, urgentemente, porque eu sei dessas necessidades e eu sei o que foi escrito nos estatutos da nossa entidade, e o porquê foi instituída a UNI, é para que venhamos a ter, entre outros trabalhos, e que tenhamos um instituto de estudos e divulgação do Islã. E, ao invés de sermos considerados os coitadinhos e os atacados, nós temos que partir para a ofensiva e mostrar para toda a sociedade quem é o Islã, o que pensa o Islã, e o que nós somos. Nós somos iguais a todas as religiões. Pregamos o bem, pregamos a paz, e queremos que a religião cresça, que a população tenha condição de vida e de justiça, isso é o que prega a nossa religião e todas as religiões que falam e que a gente sabe que são iguais. Porque a palavra de Deus pode vir nesse ou naquele livro, mas, com certeza, ela traz justiça, paz e traz uma mensagem para que os homens se respeitem e para que façam, principalmente, algo pelo seu semelhante. Eu acredito que todas as pessoas, é claro, todas as pessoas que estão aqui, e principalmente aquelas que tiveram o seu trabalho reconhecido, sempre pautaram o seu dia a dia nesse principio.

E espero que nós tenhamos, nós, não só muçulmanos, mas nós, brasileiros, tenhamos sempre o dia de amanha melhor do que o de hoje. Muito obrigado e boa noite a todos. (Palmas.)

 

O SR. JAMAL EL BACHA - Obrigado a todos. Salaam Aleikum.

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Eu não vou aqui dizer o que o Islã não é. Só dizer que essa noite nós aprendemos o que o Islã é, acima de tudo, paz e amor para com o mundo.

Esgotado o objeto da presente Sessão, a Presidência agradece as autoridades e a todos que, com suas presenças, colaboraram com o êxito desta solenidade. Quero agradecer, em especial, à equipe da TV Assembleia, à equipe que está transmitindo o Cerimonial pela web. Agradeço à equipe dessa Casa, na pessoa do Edgar Amaral, a todos os meus assessores que me ajudaram junto com o Sr. Jamal e sua equipe, e ao Abdul Nasser, que organizaram esta Sessão.

E esse Presidente também convida para um coquetel aqui no Salão dos Espelhos, com a saída aqui aos fundos. Serviremos um coquetel para terminarmos a confraternização do Dia do Islamismo aqui na Assembleia Legislativa. A todos, uma boa noite.

Está encerrada a Sessão.

 

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- Encerra-se a Sessão às 23 horas e 35 minutos. 

 

 

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