26 DE ABRIL DE 2002

12ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO “DIA DA SOLIDARIEDADE PARA COM O POVO ARMÊNIO"

 

Presidência: WADIH HELÚ

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 26/04/2002 - Sessão 12ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: WADIH HELÚ

 

COMEMORAÇÃO DO "DIA DA SOLIDARIEDADE PARA COM O POVO ARMÊNIO"

001 - WADIH HELÚ

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva da Casa, atendendo solicitação do Deputado ora na Presidência, com a finalidade de prestar homenagem ao Dia da Solidariedade para com o Povo Armênio. Convida a todos os presentes para, em pé, ouvir o Hino Nacional da Armênia e o Hino Nacional Brasileiro, pela Banda da Polícia Militar.

 

002 - HIRANT SANAZAR

Primeiro Prefeito de Osasco, declara ser impossível esquecer o massacre de armênios ocorrido em 1915. Defende que esse ato de genocídio seja julgado por um tribunal internacional.

 

003 - Presidente WADIH HELÚ

Anuncia a presença do Presidente efetivo da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, Deputado Walter Feldman. Anuncia a execução de número musical.

 

004 - Presidente WALTER FELDMAN

Homenageia a comunidade armênia. Fala da tolerância racial existente no Brasil como exemplo aos demais povos.

 

005 - SIMÃO KERIMIAN

Diretor de Relações Públicas da Comunidade Igreja Apostólica Armênia do Brasil, destaca a longa e heróica resistência dos armênios na luta de libertação do domínio turco.

 

006 - Presidente WADIH HELÚ

Anuncia a execução de números musicais.

 

007 - ACHOT YEGHIAZARIAN

Cônsul Geral da Armênia no Brasil, alerta contra o risco dos assassinatos em massa do passado tornarem a acontecer. Considera condenar qualquer crime de ontem ou de hoje como assegurar o futuro pacífico do mundo.

 

008 - Presidente WADIH HELÚ

Lê documento recordanto a trajetória do povo armênio e o papel da colônia armênia no Brasil. Anuncia a execução de número de dança. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

* * *

 

- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dá como aprovada a Ata da sessão anterior.

Presentes S.Exa. Reverendíssima Dom Datev Karibian, Prelado Titular da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Sr. Achot Yeghiazarian, Cônsul Geral da Armênia; Dom Vartan Boghosian, Exarca Apostólico Armênio para a América Latina, representado pelo Padre José Eduardo Balikian; Pastor Dimitrios Constantiniois, da Igreja Central Evangélica Armênia de São Paulo; Dr. Setrak Khachikian, Presidente do conselho Deliberativo da Comunidade Armênia de Osasco; Sr. David Tavitian, Presidente da Comunidade Armênia de Osasco; Padres Boghos Baranian e Yenig Guzelian; Sr. Camparsum Moundjian, Conselheiro Internacional da Associação Missionária Armênia da América; Sr. Housep Seraidarian, da Sociedade Beneficente e Cultural Maracha; Sr. Dr. Varusan Burmaian, Embaixador Plenipotenciário do Brasil na Armênia; Sr. Dr. Hirant Sanazar, primeiro Prefeito do Município de Osasco; Sr. Simão Kerimian, Diretor de Relações Públicas da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Sr. Dr. Gregório Tchalekian, Sr. Engenheiro Carlos Garabet Giovoglonian, Presidente da Associação Cultural Armênia de São Paulo - ACASP FRA - Tashnagtsutiun; Sr. Carlos Vieira Cotrin, representando o nobre Deputado Edson Aparecido; Reverendo Dimitri Prodromos Constantinidis, Pastor da Igreja Central Evangélica Armênia de São Paulo; Sr. Kevork Koumerian, Presidente do Club Armênio; Sra. Chake Avedisian, da Sociedade Beneficente Damas Brasil Armênia; Sr. Professor Antranik Manissatjian, Presidente do Conselho Representativo da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil, representado pelo vice-Presidente, Dr. Antranig Muradian; Sr. Carlos Mateus Der Haroutounian, Presidente da União Geral Armênia de Beneficência; Sr. Panos Nercessian, Presidente da Diretoria Executiva da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Sr. Dr. Garabed Pilavjian - Comitê Brasileiro para a Reconstrução da Armênia (Fundo Armênia); Sr. Elie Chadarenian, representando o Sr. Pedro Tchakerian, Presidente da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada por nós, Deputado Wadih Helú, e pelo Presidente da Casa, Deputado Walter Feldman, atendendo a nossa solicitação, com a finalidade de prestar homenagem ao Dia da Solidariedade para com o Povo Armênio.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos os Hinos Nacional da Armênia e Nacional Brasileiro, pela Banda da Polícia Militar.

 

* * *

 

- São executados os hinos Nacional da Armênia e Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Esta Presidência agradece à Banda da Policia Militar e ao Sr. Maestro, 1º Sargento Músico Elto Abadio.

Tem a palavra o Sr. Hirant Sanazar, primeiro Prefeito de Osasco, a convite deste Deputado.

 

O SR. HIRANT SANAZAR - Excelentíssimo Sr. Dr. Wadih Helú, muito digno, ilustre e altivo Presidente desta sessão comemorativa, ao saudar todas as autoridades que foram enunciadas, faço-o concentrando a nossa saudação nestas criaturinhas escolares que representam o futuro e a esperança da comunidade armênia de São Paulo.

Querido Presidente, permita-me saudá-lo perante este brioso auditório, e o faço calcado na homenagem que lhe é devida por este povo graças ao trabalho constante, concreto, inspirado que V.Exa. tem desenvolvido como o mais genuíno e mais fiel prócer político, o que mais se aproxima desta tríplice união étnica armênia, árabe e brasileira. Wadih Helú tem vinculações as mais sentimentais com a nossa comunidade. E a cada ano preside ele, solenemente, esta memoração do genocídio perpetrado em 1915. Por todo o seu devotamento, pela sua amizade, pela sua cultura sócio-jurídica e pelo seu alevantado patriotismo, nós o homenageamos, querido Presidente, pedindo ao povo aqui presente para que o saudemos com uma salva de palmas. (Palmas.)

Caríssimos Sras. e Srs., desta consagradora tribuna têm ecoado as vozes de oradores que exprimiram a cada ano o incorformismo, as lamentações e até a repulsa do povo armênio, face ao negrume e à vergonha do primeiro genocídio do Século XX, perpetrado pelos turcos otomanos.

Daqui deste parlatório temos ouvido inspirados oradores a desfiarem o elenco de valores espirituais cívicos e históricos do povo armênio. Não só a respeito do Monte Ararat, em cujo cimo pousou a Arca de Noé, dando início ao repovoamento da humanidade. Depois perpassaram a respeito da adoção do cristianismo como primazia no mundo inteiro, no ano 301, por parte do povo armênio. Mais tarde os oradores descreveram aqui a usurpação das terras, da ala e do hemisfério ocidental da Armênia, por parte dos turcos, que desceram as colinas da Anatólia e se assenhorearam de grande parte da Armênia.

Falaram também, desta tribuna, a respeito da criação dos partidos políticos armênios que levantaram a bandeira da causa armênia, numa tentativa tresloucada de recuperar a liberdade perdida. Assim foi a criação do Hanshaskian, do Hanghavar e do Taknashikushiun.

Falou-se aqui, também, durante sucessivos anos, a respeito do genocídio de 1915, quando a Turquia, aproveitando-se da circunstância da Primeira Guerra Mundial, acabou se assenhoreando e conquistando manu militari a nossa Armênia.

Porém, aqui também se falou sobre a impostura dos chamados tratados internacionais, a começar do Tratado de Santo Estéfano, do Bret Liposvk, de Berlim, do utópico e empírico Tratado de Sèvres, arbitrado pelo Presidente Hudro Wilson, em 1920, e, finalmente, o fulminante Tratado de Lausanne, na Suíça, no ano de 1923. Até que, setenta anos depois da Revolução Bolchevista, no ano de 1991, a Armênia conseguiu recuperar a sua independência.

Mas sobretudo aqui se falou do feito heróico de 28 de maio, uma sksanout, de 1918, quando se rechaçou o Exército Turco. E saudarabt, e bachaparant e harakirissé, que houveram-se com armas domésticas, conseguiram vencer o efetivo do Exército Turco.

Pois, caríssimos, nós, armênios, somos amigos de Platão, o filósofo da República Grega, mas somos muito mais amigos da verdade. Sobretudo da verdade histórica que envolve o povo armênio. Por isso precisamos implantar essa verdade no conceito internacional, a começar pela necessidade imperiosa e inadiável de criar-se um tribunal penal internacional permanente para julgar os genocidas, os criminosos de guerra, os que atentam e violam os direitos humanos e praticam delitos contra a humanidade. É hora de olharmos o Tribunal de Nuremberg, na Alemanha, quando os nazistas foram justiçados por decisão dos judeus. Ora, nós temos uma história, um país, uma renovação de esperanças. E o que haveremos de fazer? Não é à toa que os poetas disseram que tentaram exterminar a raça armênia, que queimaram inocentes refugiados nas igrejas, que semearam a morte nas estradas, que tingiram de sangue o rio Eufrates. Mas as suas cinzas espalhadas pelo vento pousaram sobre a terra e a fecundaram. E seus frutos, que são seus filhos, florescem hoje em toda a parte.

Como, então, esquecer, olvidar, negligenciar o trágico genocídio de 1915? Será que o mundo vai fazer ouvidos moucos, de mercador, de surdo-mudo que não atinge o coração humano? Pois vamos dormir sobre as cinzas de um milhão de vítimas inocentes? Ora, é preciso saber que não estamos sozinhos, porque congressos de outros países, parlamentos como a Argentina, o Uruguai, a Suécia, a Itália, o parlamento europeu e o senado estadual de Huiskinson, lá dos Estados Unidos, todos já se manifestaram; sobretudo a nossa querida França. Já disseram que é preciso julgar o genocídio de 1915 e estão solidários com os armênios. E nós, filhos, netos e bisnetos, não vamos somar os nossos esforços, os nossos sonhos?

Esta é a maneira de se indagar como fazer doravante, se vamos nos limitar apenas à comemoração fúnebre do massacre. Pois instalemos esse tribunal penal internacional.

Terminando, o Profeta Isaías dizia que a paz é fruto da Justiça. O próprio Rui Barbosa, brasileiro, disse em 1907, em Haia, na Capital da Holanda, que era preciso lutar pela força do direito e não deixar que prevaleça o direito da força. Disse mais, na Argentina, que diante do direito e do crime não pode haver neutralidade. Ou se é a favor do crime ou se é a favor do direito. São Paulo, o Apóstolo dos gentios, dizia: que os fracos digam eu sou forte; que os pequenos vençam pela audácia. Esta e a missão da pequena Armênia e nós contamos com a juventude, com os adultos, com a inteligência, com dignidade dos nossos queridos compatrícios. (Palmas)

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Vou pedir a todos os Srs. presentes que reiterem essas palmas em homenagem à Armênia e aos Srs. presentes, e às autoridades, porque acabou de chegar o Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, o Deputado Walter Feldman. (Palmas)

Parece que a propósito. Numa homenagem ao nosso Presidente que, reitero, veio aqui expressar sua satisfação pela sessão solene de hoje, assistiremos agora à apresentação do Coral de Alunos do Externato José Bonifácio da Comunidade da Igreja Apostólica armênia do Brasil Hai Has Tain Turian Varjaran, com a música Huis Haiastani “Esperança da Armênia”:

 

* * *

 

- É cantada a música. (Palmas.)

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Esta Presidência agradece aos jovens componentes do Coral e, para homenagear a nossa Armênia, usará da palavra o Presidente desta Casa, Deputado Walter Feldman.

 

O SR. PRESIDENTE - WALTER FELDMAN - PSDB - O meu queridíssimo amigo Wadih Helú teve a brilhante iniciativa de convocar esta sessão solene em homenagem ao povo, à comunidade e à história armênia. Quero cumprimentar todos os componentes da Mesa, meus amigos que representam a tradição religiosa ortodoxa, Sr. Cônsul, senhoras e senhores, crianças que nos homenageiam com suas canções e sua cultura, hoje fiz uma peregrinação pelo Estado de São Paulo. Fui a Bauru, onde tive uma forte relação com a comunidade árabe. Atrasei-me para este evento a despeito de uma homenagem, neste instante, no Museu de Arte Moderna, feita pela Universidade Romena à Sra. Milú Vilela, Presidente do Centro do Voluntariado Brasileiro. Agora venho à Assembléia para uma homenagem a nossa queridíssima comunidade armênia.

Se eu pudesse, Deputado Wadih Helú, definir aqui o nosso mandato, eu diria que ele é democrático e profundamente internacionalista. Talvez pelas nossas origens, pelas nossas tradições, talvez pelo reconhecimento cada vez maior que fazemos do papel extraordinário que tiveram as comunidades para construção do Estado Paulista, do Estado Brasileiro, com iniciativas tomadas pela criação dos conselhos das comunidades de raízes e culturas estrangeiras aqui na nossa Assembléia, pelas viagens que delegações de deputados têm feito a vários países do mundo. Chegamos há quatro dias da Rússia, fomos à Itália e lá recebidos com honras de Chefe de Estado pelo reconhecimento que existe hoje extrafronteiras pelo papel que é exercido pela comunidade e pela Nação brasileira. Não somos mais um povo apenas do Pelé e das telenovelas. Hoje temos acumulada uma experiência, um aprofundamento das várias culturas inter-étnicas, inter-raciais, multi- religiosas que fazem com que o Brasil e particularmente o Estado de São Paulo, seja um estado de convívio fraterno, solidário, irmão. Aqui não existe o conflito que extrapola as fronteiras do Oriente Médio e é recebido na nossa nação ou no nosso estado. Aqui, árabes e judeus convivem na mais perfeita harmonia, aqui se questionam os massacres ocorridos por holocaustos ou por guerras, acontecidos no passado ou recentemente. Temos a tarefa, a obrigação de nos manifestar e exigirmos que haja a mais completa paz na civilização humana..

Recentemente li o livro “ Esta noite é liberdade”, que trata da independência da Índia do jugo inglês e o papel extraordinário que teve Mahatma Gandhi, convicto de que a não violência e a paz eram os caminhos que deveriam ser perseguidos pelas diferenças religiosas e raciais para que pudesse ser construída uma Índia unida, solidária e fraterna. É esse o exemplo que deve dar o Brasil, exemplo de solidariedade, de apoio e de busca pela paz. Isso só se faz transmitindo conceitos e valores às novas gerações. A Assembléia se regozija com a presença de crianças e jovens nesta Casa, nas galerias, nos corredores, recebendo informações das nossas tradições, daquilo que foi acumulado do ponto de vista da organização de um estado democrático. Por isso quero parabenizá-los, recebê-los com muita alegria, cumprimentar o Deputado Wadih Helú e dizer que a homenagem armênia que já se faz há vários anos nesta Casa continuará. Temos que todos os anos nos lembrar de um passado triste que não se repetirá. Se depender da força, da união do povo brasileiro levantaremos nossa voz ao mundo inteiro para que haja uma paz definitiva entre os homens e as mulheres de bem.

Boa- noite a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Prosseguindo, tem a palavra o Sr. Dr. Simão Kerimian, Diretor de Relações Públicas da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil.

 

O SR. SIMÃO KERIMIAN - Exmo. Sr. Presidente desta Casa Legislativa, Deputado Walter Feldman; Exmo. Sr. Deputado Wadih Helú, que preside esta solenidade; Exmo. Sr Cônsul Geral da República da Armênia, Dr. Achot Yeghiazarian; Exmo. Sr. Prelado titular da Igreja Apostólica Armênia do Brasil, Arcebispo Datev Karibian; Reverendo Padre José Eduardo Balikian, representante de S.Exa. Dom Valdyr Vartan Boghosian, Exarca dos armênios católicos da Paróquia Católica Armênia São Gregório Iluminador; Exmo. Sr. Pastor Dimitri Constantinidis, da Igreja Evangélica Armênia de São Paulo; Exmo. Sr. Antranig Muradian, vice-Presidente do Conselho Representativo da Comunidade da Igreja Apostólica da Igreja Armênia do Brasil, representando o Presidente Professor Dr. Antranik Manissatjian; Exmo. Sr. Panos Nercessian, Presidente da Diretoria Executiva da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil; Exmo. Sr. Dr. Carlos Cotrin, representante do Deputado Edson Aparecido, convidado especial para esta solenidade; Exmo. Sr. Dr. Hirant Sanazar, primeiro Prefeito de Osasco; Exmos. Srs. Presidentes e representantes das entidades armênias, demais autoridades presentes, Sras. e Srs., há 87 anos que os armênios rememoram o hediondo genocídio, evocando a memória de um milhão e meio de mártires armênios massacrados pelos turcos em abril de 1915. No alvorecer de 24 de abril de 1915 estava traçado o triste destino de um milhão e meio de armênios pela ira implacável dos turcos, que lavou no sangue inocente e nossos mártires o seu primitivismo bárbaro. A alma dilacerada da Armênia milenária sangrava violada pela crueldade do bárbaro império otomano. Os insanos mentores do extermínio armênio chegaram às raias da demência satânica, da loucura inaudita, provocando uma tragédia planejada e executada com requintes de vil crueldade inimagináveis pela mente humana. Um milhão e meio de mártires pereceram na chacina ordenada pelo governo turco de então, que enlutou todo o povo armênio com o morticínio cruel, deixando suas marcas amargas gravadas indelevelmente na reminiscência de todos nós armênios e descendentes.

Vítima da crueldade turca o povo armênio pagou alto preço em vidas humanas, num genocídio sem precedentes, o primeiro registrado no Século XX. Embora se sucedessem os chefes turcos, a determinação era uma só, o extermínio do povo armênio, pois entendiam que exterminando os armênios acabariam com a questão armênia e riscariam a Armênia do mapa.

Os armênios tiveram uma longa e heróica resistência na luta de sua libertação do despótico jugo dos turcos. Os fatos precedentes foram uma matança contínua contra pacatas populações civis armênias. A intensidade máxima desse genocídio se fixou em 24 de abril de 1915. Os sobreviventes dessa hecatombe têm gravado nas suas retinas o desfilar sangrento dessa crueldade que martirizou todo um povo cristão amante da paz e da liberdade. A Turquia, que deveria se redimir de seus crimes praticados por seus antepassados, tem negado sistematicamente os fatos históricos fartamente comprovados, falseando a verdade do ocorrido, na vã tentativa de apagar da memória da humanidade a recordação dos seus bárbaros crimes.

Essa mesma Turquia não deu demonstração de arrependimento nem puniu os algozes das atrocidades cometidas. Nem ao menos reparou os sobreviventes armênios pelo assassinato de um milhão e meio de mártires, nem tampouco procedeu à devolução dos territórios armênios usurpados e destruídos. Agora, quando ocorre o reconhecimento do genocídio praticado pelos turcos contra os armênios por diversos a países do mundo, como recentemente a França o fez, o Parlamento europeu, que já adotara resolução de 1987, na qual foi estabelecida como condição sine qua non, para que a Turquia pudesse fazer parte como membro da Comunidade Européia, o seu prévio reconhecimento do genocídio armênio. Reafirmou: a Turquia deve reconhecer o genocídio armênio antes que possa fazer parte da União Européia, tendo Gaünter Warhagem proclamado: “Não pode haver paz sem justiça”.

Não se justifica mais a impunidade e para resgatar a dignidade humana dessa hecatombe um mínimo é o reconhecimento do genocídio contra o povo armênio. E, nesta oportunidade, a Diretoria do Conselho Executivo da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil expressa seus agradecimentos ao excelentíssimo Sr. Presidente desta Casa, Walter Feldman, ao excelentíssimo Sr. Deputado Wadih Helú, que preside esta solenidade, ao excelentíssimo Sr. Deputado Edson Aparecido, representado pelo Sr. Carlos Cotrin, aos Srs. Deputados, autoridades civis, eclesiásticas e militares presentes e a todos que nos honraram com sua presença. Uma agradecimento especial ao Coral da Sociedade Artística Melodias Armênias, Clube Armênio Sama, ao grupo de danças da Escola Regina Basarian, da União Geral Armênia de Beneficência, o Gab, e ao Coral dos alunos do Externato José Bonifácio, da Comunidade da Igreja Apostólica Armênia do Brasil.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Assistiremos, agora, à apresentação do Coral Vahatan Minassian, da Sociedade Artística Melodias Armênias, com a música Yerevan Yrepuni, sob a regência do Maestro Edgard Akira Yoshida, do Clube Armênio.

 

* * *

 

- É apresentada a música. (Palmas.)

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Prosseguindo, usará da palavra o excelentíssimo Sr. Dr. Achot Yeghiazarian, cônsul geral da Armênia no Brasil.

 

O SR. ACHOT YEGHIAZARIAN - Excelentíssimo Sr. Deputado Wadih Helú, S.Exa. Arcebispo Datev Karibian, senhoras e senhores, permitam-me agradecer a esta Assembléia Legislativa e ao seu respeitável Presidente, Sr. Walter Feldman, pois desde 1989 esta Casa não poupa esforços e tempo para renovar e reconfirmar o seu respeito e solidariedade para com o povo armênio e a coletividade armênia de São Paulo.

Desejo expressar meus agradecimentos especiais ao nobre Deputado Wadih Helú, esse experiente político, bom conhecedor da história do nosso povo, homem sábio com ampla visão da vida nacional e internacional.

Não entrarei em detalhes sobre o assunto visto que os demais oradores, nesta noite, já tiveram oportunidade de se manifestar a respeito. Gostaria de citar apenas que, para todas as pessoas que se encontram neste recinto, existe sempre uma força motriz que as induz a comparecerem aqui anualmente. O nome dessa força, além de ser memória, é inconformidade, o receio do subconsciente quanto ao dia de amanhã.

O que aconteceu há duzentos, trezentos ou oitenta e sete anos pode se repetir hoje, pode acontecer novamente amanhã ou a qualquer momento. A humanidade, cuja história se emparelhou tragicamente às guerras e confrontos, ainda não conseguiu alcançar a concretização prática do princípio de coexistência pacífica. O derramamento de sangue que ocorre hoje no Oriente Médio ou na Kachemira, e que ainda ontem ocorria na ex- Iugoslávia, no Iraque ou no Nagorno Karabagh, aperta nossos peitos com temor e as nossas mentes com interrogações quanto ao destino da humanidade: o que acontecerá? Haverá aprofundamento da incompreensão? A destruição apocalíptica do mundo? Ou o estabelecimento da paz e prosperidade dos povos em condições seguras?

A síndrome permanente do perigo e os contínuos conflitos acumulam, ainda mais, os enormes problemas com os quais se debela o mundo e certo número de Estados, como a fome, a miséria a privação e outros.

Se os filmes de terror se transformam em realidade, se os símbolos da potência americana se transformam em pó em questão de segundos, então, a realidade do mundo é bem séria. E é dever de qualquer Estado, de qualquer pessoa de boa índole não apenas pensar e se preocupar mas ter atos concretos para mudar a situação para melhor.

A vida é única e é irreversível. Nenhuma mãe poderá substituir a mãe daquela criança que morreu em conseqüência dos bombardeios de Bagdá; nenhum filho poderá substituir aquele filho que perdeu a sua mãe nas tragédias de Nova Iorque ou na Palestina; nenhum milagre poderá fazer reviver os seis milhões de homens, crianças e anciãos judeus que pereceram queimados pelos nazistas e nada poderá nos devolver os um milhão e meio de mártires inocentes do Genocídio Armênio.

O genocídio e o assassínio não são fatos do passado. Eles estão sempre presentes hoje. Isso não é uma novela mas uma árdua realidade que de fato aconteceu no passado e a nossa memória mantém vivo esse acontecimento.

Como homem político faço um pedido a todas as respeitáveis pessoas aqui presentes e dirijo meu apelo principalmente ao órgão Legislativo máximo deste grande Estado de São Paulo: que una a sua voz à voz da Justiça, condenando o Genocídio perpetrado contra o povo armênio, ao lembrar que esse foi um dos raros crimes cometidos contra a humanidade cuja solução ainda não se concretizou. Condenar genocídio, condenar qualquer crime de ontem ou de hoje significa assegurar o futuro pacífico do mundo, assegurar o futuro de nossos filhos e de nossos descendentes.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Meus senhores, minhas senhoras, Sr. Cônsul Geral da Armênia, Dr. Achot Yeghiazarian, na pessoa de quem saúdo todos por nós enunciados no início dos nossos trabalhos,

Renovando mais uma vez o profundo respeito e sincera admiração pelo povo armênio o Poder Legislativo Paulista tem a satisfação de receber no seu Plenário os senhores e as senhoras que integram com muito realce a Comunidade Armênia do nosso Estado para, juntamente com as autoridades presentes, realizar uma Sessão Solene de comemoração do "Dia da Solidariedade para com o Povo Armênio" instituído pela Lei nº 6468, de iniciativa do nobre Deputado Abdo Antonio Hadade e por nós requerida.

É mais uma manifestação pública da amizade fraterna que une a população do nosso Estado e os irmãos armênios, tão integrados em todas as áreas de atividade da nossa sociedade, particularmente, na cidade de São Paulo, onde o reconhecimento e respeito pela comunidade ora homenageada está inscrito na denominação "Armênia" dada a vários logradouros públicos, tais como a Estação Armênia do Metrô, o viaduto Armênia e várias praças em outras cidades brasileiras.

Esse laço de amizade foi formalmente concretizado pelos atos oficiais que declararam como "cidades co-irmãs" as cidades de São Paulo, capital do Estado, e de Yerevan, capital da Armênia, cuja Prefeitura deu a denominação de "Brasil" a uma de suas destacadas praças.

Porém, outro sentimento nos move ao prestarmos esta homenagem ao sofrido povo armênio, com o qual sempre seremos solidários na dor que traz a lembrança do genocídio de 1915 e os massacres indiscriminados, destruição de lares e cidades causados pelo Império Otomano, iniciados em 1895, e até hoje não reconhecidos internacionalmente, com exceção da França que, através da sua Assembléia Nacional, reconheceu oficialmente o caráter de genocídio dos massacres ao aprovar por unanimidade decisão já adotada pelo seu Senado. Foi a primeira grande potência a reconhecer publicamente, no inicio do ano de 2001, a matança de armênios.

Além das vidas humanas selvagemente dizimadas, os invasores destruíram igrejas, manuscritos de grande valor histórico, saquearam cidades de uma nação indefesa que se destacou por ter sido a primeira a adotar o cristianismo, no ano 301 da nossa era, antes mesmo do Império Romano.

O sofrimento histórico da Armênia tem sido uma constante, mas a tenacidade do seu povo tem superado as adversidades.

Após a sua última anexação às repúblicas soviéticas e, posteriormente, com o fim do comunismo, o seu Parlamento declarou a independência da Armênia, com a eleição do seu Presidente em outubro de 1991, tomando-se a única das ex-repúblicas soviéticas a ser dirigida por um governo democrático livre, desvinculado do Partido Comunista.

As contingências históricas que causaram a dispersão geral dos armênios pelo mundo, chamada "grande diáspora", levaram-nos aos mais diversos países, tendo chegado ao Brasil por volta do ano de 1920, intensificando-se nessa década os grandes contingentes de imigrantes. Aqui encontraram o seu refúgio seguro diante da impossibilidade de voltarem à sua terra e reconstruírem os seus lares.

Foram recebidos de braços abertos e logo se integraram à hospitalidade do povo brasileiro, que deu margem a projeção dos armênios em diversos segmentos industriais, comerciais, políticos e nas várias carreiras profissionais, como juízes, médicos, financistas, astros e estrelas do teatro e televisão, onde trouxeram destacada contribuição para o progresso do Brasil.

Aqui mesmo, neste Parlamento, descendentes de armênios exerceram mandatos outorgados pelo povo paulista, e, recentemente, lamentamos o falecimento do saudoso ex-deputado Ubirajara Keutenedjian, inserindo na ata dos nossos trabalhos um voto de profundo pesar como nossa homenagem ao falecido e aos irmãos armênios.

Temos a certeza de que o povo armênio ainda verá o reconhecimento pelas demais nações da terrível verdade do genocídio que vitimou o seu País no início do Século 20, e que, independentemente desse fato, continuará enfrentando a sua saga de forma altaneira, como vem fazendo até hoje com sua efetiva participação na vida desta terra que os acolheu de forma fraterna.

Hoje reiteramos nossa solidariedade para com o povo armênio.

Com estas palavras, na presente solenidade, procuramos transmitir a tradição e a cultura do povo armênio, com sua história, música e dança, fundamentais para a exata compreensão do "Dia da Solidariedade", mostrando a todos nós que, apesar da tentativa de dizimação ocorrida nos primórdios do século XX, o povo armênio e seus descendentes permanecem íntegros com seus costumes, cultura e religião, fortalecidos pela generosidade da nossa amada Pátria Brasileira.

Assistiremos, agora, à Dança das Donzelas, da Ópera Gaianê, de Aran Katchadurian, pelo Grupo de Dança da Escola Regina e Paren Bazarian, da União Geral Armênia de Beneficência - UGAB.

 

* * *

 

- É executada a dança. (Palmas).

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - WADIH HELÚ - PPB - Agradeço as palavras dos oradores que de forma bondosa se referiram a nossa pessoa, Dr. Hirant Sanazar, o Dr. Simão Keremian, o Exmo. Sr. Dr. Achot Yeghiazarian, aos Corais e por esse espetáculo final, da dança, que com certeza tocou profundamente o coração dos presentes. É a Armênia que está aqui conosco com a sua musicalidade e ao mesmo tempo com seu sentimento de saudade, de solidariedade.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

* * *

- Encerra-se a sessão às 21 horas e 48 minutos.

* * *