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20 DE MARÇO DE 2012

013ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidentes: BARROS MUNHOZ e JOOJI HATO

 

Secretários: VINÍCIUS CAMARINHA, CARLOS CEZAR, RITA PASSOS e MAURO BRAGATO

 

RESUMO

ORDEM DO DIA

001 - Presidente BARROS MUNHOZ

Abre a sessão. Coloca em discussão o PL 687/11.

 

002 - JOSÉ ZICO PRADO

Discute o PL 687/11 (aparteado pelo Deputado Carlão Pignatari).

 

003 - JOOJI HATO

Assume a Presidência.

 

004 - JOÃO PAULO RILLO

Para reclamação, acusa o Deputado Carlão Pignatari de polemizar o discurso do Deputado José Zico Prado.

 

005 - OLÍMPIO GOMES

Discute o PL 687/11.

 

006 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência. Registra a visita do ex-jogador de futebol, Marcelinho Carioca, suplente de Deputado Federal pelo PSB; do Sr. Marcos Pilla, Presidente do Itesp; do Sr. Ernane Erbella, Prefeito de Presidente Venceslau e filho do ex-Deputado Inocêncio Erbella; do Sr. Ivanildo Sobral, ouvidor do Itesp; do Vereador Ricardo pinheiro da Assis; e do Sr. Marcos Silva, do Itesp.

 

007 - CARLOS CEZAR

Para comunicação, saúda o ex-jogador Marcelinho Carioca.

 

008 - JOÃO ANTONIO

Discute o PL 687/11 (aparteado pelo Deputado Luiz Claudio Marcolino).

 

009 - JOÃO ANTONIO

Solicita a verificação de presença.

 

010 - Presidente BARROS MUNHOZ

Acolhe o pedido e determina que se proceda a chamada de verificação de presença, que interrompe ao constatar quórum regimental.

 

011 - SAMUEL MOREIRA

Discute o PL 687/11 (aparteado pelo Deputado Mauro Bragato).

 

012 - Presidente BARROS MUNHOZ

Anuncia a visita do Secretário Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Edson Giriboni, a quem cumprimenta.

 

013 - SIMÃO PEDRO

Discute o PL 687/11.

 

014 - SIMÃO PEDRO

Solicita a verificação de presença.

 

015 - Presidente BARROS MUNHOZ

Acolhe o pedido e determina que se proceda a chamada de verificação de presença, que interrompe ao constatar quorum regimental. Convoca sessão extraordinária, a ser realizada hoje, com início dez minutos após o término desta sessão.

 

016 - CARLOS GIANNAZI

Discute o PL 687/11 (aparteado pelo Deputado Adriano Diogo).

 

017 - SAMUEL MOREIRA

Solicita o levantamento da sessão, por acordo de lideranças.

 

018 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido. Desconvoca a sessão extraordinária, prevista para hoje, 10 minutos após o término desta sessão. Levanta a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Proposição em Regime de Urgência:

Discussão e votação - Projeto de lei nº 687, de 2011, de autoria do Sr. Governador. Altera a Lei nº 11.600, de 2003, que dispõe sobre a regularização de posse em terras devolutas da 10ª Região Administrativa do Estado. Com 4 emendas. Parecer nº 1918 , de 2011, de relator especial pela Comissão de Justiça e Redação, favorável ao projeto com emenda e contrário às emendas nºs 01, 02, 03 e 04. Parecer nº 1919, de 2011, do Congresso das Comissões de Atividades Econômicas e de Finanças, favorável ao projeto e à emenda da Comissão de Justiça e Redação, e contrário às emendas de nºs 1 a 4. (Artigo 26 da Constituição do Estado).

Em discussão. Para discutir contra, tem a palavra o nobre Deputado José Zico Prado, pelo tempo regimental.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, funcionários, companheiros e companheiras do Movimento Sem Terra, aqui presente; sejam bem-vindos. A nossa Bancada do PT agradece todo o esforço de vocês por estarem aqui conosco até essa hora, porque queremos fazer com que a Assembleia Legislativa tenha um mínimo de sensibilidade para ouvir o que foi discutido hoje na audiência pública, quando várias lideranças do Movimento Sem Terra colocaram a sua preocupação. Foram muito claros; todas as manifestações foram contra o projeto de lei e tentamos fazer negociações. A Bancada do PT não foi intransigente; a Bancada do PT fez o máximo para que pudéssemos ter um mínimo de negociação que favorecesse a região do Pontal do Paranapanema.

Ouvimos atentamente a todos, inclusive o prefeito que estava lá. Ele passou o quadro da preocupação: quem tem 500 hectares não tem dinheiro para pagar mais do que 10 por cento. Nunca vi nenhum fazendeiro dizer que tem dinheiro sobrando, que possa pagar. Em relação às terras devolutas do Estado de São Paulo, com esse projeto de lei que discutimos hoje, estamos legalizando a grilagem da região. Esse é o nosso ponto de vista. Grilaram aquela área, fizeram o desmatamento, fizeram da região um deserto, e agora colocam a culpa na desvalorização da área nas costas dos trabalhadores que estão tentando recuperar aquela área, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que estão voltando para a região com muita luta, com muito sacrifício, para que possamos recuperar aquelas terras, para elas se tornarem produtivas. É uma das áreas mais degradadas do Estado de São Paulo.

Não aceitamos essa proposta do Governo porque sabemos perfeitamente que naquela região muitos fazendeiros hoje são grandes proprietários de terra no Mato Grosso e em Goiás. Eles sugaram toda aquela terra do Pontal do Paranapanema. Eles devastaram a região e foram comprar terras no Mato Grosso agora, deixando aquela terra, que não era deles, é terra devoluta do Estado, e que nós queremos recuperar e entregar para quem tem direito, que é o Movimento dos Trabalhadores Rurais.

Essa é a nossa compreensão sobre esse Projeto de lei. Por isso não aceitaremos. Vamos debater aqui, discutir até a exaustão, mas não podemos abrir mão do direito que os trabalhadores têm, porque durante todos esses anos têm lutado para que aquela terra volte para as mãos de quem tem direito, os trabalhadores que querem produzir.

Sou fruto da falta de reforma agrária no País, durante todo esse período, desde o descobrimento do Brasil. Só fui metalúrgico porque fui expulso da terra. Vim parar em São Paulo porque não havia terra para trabalhar. E aqui lutei contra a ditadura, para podermos ter mais liberdade, mais democracia, para podermos avançar no Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, para podermos fazer a reforma agrária.

Aquela área está quase toda ajuizada. A Justiça tem emperrado a reforma agrária naquela região, mas o Governo do Estado de São Paulo também não tem favorecido os movimentos. Quero dizer, com muito respeito, ao Dr. Pila, que hoje o Itesp vive de pires na mão, pedindo recurso aqui e acolá.

A Secretaria de Agricultura não tem dinheiro para implementar, para fazer os assentamentos no Pontal do Paranapanema. E qual a justificativa? Ah, não dá certo assentar todos os trabalhadores, são todos vagabundos, não trabalham. Não dão condição para os trabalhadores se fixarem na terra.

Eles querem plantar, e nós sabemos que eles sabem produzir, porque têm vocação para a terra. Essa é a discussão que estamos fazendo aqui. Queremos dar condições. Propomos aqui para a arrecadação, que os fazendeiros possam comprar, alguns que querem legalizar a sua área, que paguem por ela, para que o Estado tenha recurso.

Mas o Estado não tem recurso não é porque ele não quer. O Estado de São Paulo não tem recurso porque o Governo não tem como prioridade a reforma agrária. O Estado de São Paulo não tem como prioridade a Agricultura, principalmente a agricultura familiar.

Aquela região poderia hoje ser a maior região produtora de alimentos para os grandes centros urbanos, se nós tivéssemos tido um Governo que olhasse para aquela região, que desse recurso. Mas o que o Governo dos tucanos fez aqui no Estado? O único banco de fomento que existia, o Banespa, eles venderam. Entregaram o Banespa. E por isso não há fomento para a Agricultura.

Depois, não satisfeitos com a entrega de patrimônio público, venderam a Nossa Caixa. Ainda bem que o Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa, e ficou, para podermos fazer os financiamentos para a agricultura familiar.

Qual é a linha de fomento para aquela região, para os agricultores irem ao banco e pegarem empréstimo de médio e longo prazos? Não existe esse projeto. E o Itesp não tem recurso. Quem tem colocado recurso no Itesp aqui, muitas vezes na nossa discussão no nosso orçamento, é a Bancada do PT, porque sabe da importância que tem o Itesp para os assentamentos no Estado de São Paulo.

Quando o Governador Franco Montoro criou o Itesp, para fazer a regularização das terras, os tucanos viraram as costas para o projeto do Montoro, que tinha naquela época uma política de assentamento. E no decorrer do tempo, cada vez mais, o PSDB foi virando as costas para o Movimento, cada vez mais bloqueando e colocando o Movimento Social e o Movimento dos Sem Terra num beco sem saída.

Vamos começar em maio a discutir a LDO. Queremos saber qual o recurso a ser destinado para o Itesp, para podermos fazer o debate. Quanto o Itesp precisaria hoje para atender todos os assentamentos do Estado de São Paulo? O superintendente do Itesp sabe disso. Não escondemos do Dr. Marco Pila que nós colocamos recurso, que queremos que o Itesp seja fortalecido.

Sabemos que lá, quando vem o Movimento para São Paulo, para pedir o conserto de uma bomba de poço, não para fazer irrigação da terra, mas para fazer que os pequenos possam, pelo menos, tomar água e dar água para seus animais. Não têm dinheiro para consertar, e muito menos para comprar bomba ou para furar poços artesianos nos assentamentos.

Essa é a realidade do Itesp. Queremos o Itesp forte, com recurso. Por isso o Governo do Estado de São Paulo não faz assentamentos mais.

E não é só com o Itesp que o PSDB faz essa política. A Agricultura do Estado de São Paulo não tem um por cento, é 0,72 do orçamento. Como fazer a Agricultura no Estado de São Paulo, com a política de arrocho para os funcionários da Secretaria, e com uma política que não tem um desenvolvimento que consideramos que a Secretaria de Agricultura deveria ter.

Estamos aqui discutindo o projeto do Pontal, mas queremos discutir todo o problema da Agricultura no Estado de São Paulo, porque nossa intenção é que cada um dos hoje assentados, e daqueles que estão ainda sem assentamento, que um dia eles se tornem produtores rurais. Essa é a nossa intenção.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Carlão Pignatari.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Sr. Deputado, V.Exa. sabe do grande respeito que tenho por V.Exa., um Deputado combativo, que combate o Governo de São Paulo, o Governo do PSDB, respeito pelo tempo em que fui prefeito, tanto que V.Exa. me ajudou.

O PSDB quer fazer o assentamento, quer continuar investindo na terra, e por isso o PSDB quer a aprovação desse projeto. Queremos fazer que V.Exa. venha sempre aqui fazer as defesas que V.Exa. tem que fazer, mas nós queremos fazer o assentamento, como sempre foi feito no Governo do PSDB: sério, decente. E todas as pessoas assentadas estão com suas propriedades. Queremos, sim, que eles se transformem em produtores rurais, disso V.Exa. pode ter certeza.

Não entendi até agora a sua fala nesse sentido. Gostaria de saber o porquê disso.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - Porque o Governo do Estado de São Paulo não põe dinheiro para fazer reforma agrária, para fazer assentamento.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Isso não é verdade.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - Tem que haver recurso. Mas 0,72% do orçamento?

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Isso não é verdade. Secretaria da Agricultura é uma coisa, e o Instituto de Terras é outra.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - O Instituto de Terras tem ligação direta com a Secretaria da Agricultura.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Tem, tem orçamento.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - Ou não tem?

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Tem orçamento e está fazendo um belíssimo trabalho.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - Vossa Excelência sabe perfeitamente que 0,72% do orçamento do Estado de São Paulo não dão condições para uma Agricultura que V.Exa. diz que o PSDB quer fazer.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Vossa Excelência sabe que tem, Deputado.

 

O SR. JOSÉ ZICO PRADO - PT - Com 0,72? Prove.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - O senhor sabe, está fazendo, Deputado. O senhor sabe.

 

O SR. José Zico Prado - PT - Eu acho que não está.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Está bem. Muito obrigado, Deputado.

 

O SR. José Zico Prado - PT - Não estou aqui só criticando, porque essa não é a política que defendemos. Não defendemos a política de uma secretaria, da importância da Secretaria da Agricultura no Estado de São Paulo, ter 0,72% de orçamento.

Mais do que isso. O Itesp já não tinha recursos em outubro do ano passado. Várias vezes, fui com o movimento à fazenda que tem os assentamentos. Em Cordeirópolis, uma bomba de poço passou seis meses parada e o Itesp não tinha recursos para mandar arrumá-la.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Jooji Hato.

 

* * *

 

O senhor acha que estou fazendo porque estou falando mal do PSDB? Estou contando uma realidade do que está acontecendo lá. É isso que estamos vivendo. No Pontal do Paranapanema, a recuperação de um açude até hoje não foi feita!

Não queremos só fazer o debate e ficar negociando pontualmente. Queremos que o PSDB, pelo menos, aceite minimamente o que foi discutido hoje, na audiência pública. A nossa maior indignação é a seguinte. Fazemos audiência pública. Vêm os companheiros do Mirante do Paranapanema, do Pontal. Chegando aqui, o PSDB não cede uma vírgula porque se sente ofendido ao tratar com qualquer dos senhores do movimento.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Não diga isso, Deputado.

 

O SR. José Zico Prado - PT - Qual é a proposta? Cadê o Líder do Governo? O Deputado Simão Pedro fez várias propostas.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Deputado, estamos falando de regularização fundiária. Não estamos falando de reforma agrária, que é de responsabilidade do Governo Federal. Hoje, estamos discutindo um projeto de lei...

 

* * *

 

- Manifestação nas galerias.

 

* * *

 

O Sr. Presidente - Jooji Hato - PMDB - Esta Presidência informa à plateia que há orador na tribuna.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - Deputado, o senhor sabe muito bem que estamos discutindo hoje regularização fundiária. Essa é a discussão que temos que fazer.

 

O SR. José Zico Prado - PT - Acho que V. Exa. está confundindo regularização com doação. Vocês estão doando terra para aqueles...

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - O que é isso, Deputado? O senhor sabe que não é isso. O senhor está fazendo um jogo com a plateia. O senhor vai me desculpar.

 

O SR. José Zico Prado - PT - Deputado Carlão Pignatari, pegue o projeto de lei e leia, por favor!

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - São terras que estão lá há 30, 40, 50 anos! O senhor é contra o projeto, Deputado?

 

O SR. José Zico Prado - PT - Não!

 

O SR. João Paulo Rillo - PT - Sr. Presidente, o Deputado Carlão Pignatari não pode atrapalhar dessa maneira o raciocínio do Deputado Zico, de uma maneira deselegante. O senhor é deselegante!

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - O senhor está sendo deselegante!

 

O SR. João Paulo Rillo - PT - Sei qual é o lado do senhor. O senhor está do lado daqueles que massacraram os moradores do Pinheirinho.

 

O SR. CARLÃO PIGNATARI - PSDB - O senhor sabe qual é o meu lado, sim senhor! Eu tenho lado, por favor!

 

O SR. José Zico Prado - PT - Sr. Presidente, quero encerrar o meu pronunciamento.

Estamos tentando negociar esse projeto, desde que ele chegou a esta Casa. Não é verdade que não o conhecemos e que isso não é assentamento, que é regularização fundiária. É doação do patrimônio público; estão sendo privilegiados aqueles que ocuparam as terras tantos anos atrás! Ou eu estou mentindo? Muito obrigado. (Palmas.)

 

O Sr. Presidente - Jooji Hato - PMDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, para falar a favor, tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. Olímpio Gomes - PDT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, funcionários desta Casa, cidadãos que nos acompanham pela TV Assembleia, muito embora tenha um posicionamento de franca oposição ao Governo, venho discutir favoravelmente à aprovação desse projeto: a regularização fundiária do Pontal do Paranapanema, no extremo Oeste do Estado de São Paulo, que é a minha terra, a minha região.

Embora alguns segmentos da política tentem me desqualificar como alguém da região, sou um filho da terra, que acompanhou desde a infância um total sentimento de terra arrasada na região, aonde não chega o progresso, onde não há evolução da economia, onde a indústria não quer se estabelecer, onde há uma diminuição do mercado de trabalho.

Não tenho a menor dúvida e, com a consciência absolutamente tranquila, digo que temos que caminhar para uma solução em relação à questão fundiária da região. A solução dos homens de bem, a solução no processo democrático não está na demonstração de quem é mais forte, de quem pode empreender mais força, e sim diretamente relacionada com a capacidade de argumentação das pessoas, principalmente das lideranças.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

Encareço aos representantes de Governo que ainda temos a condição do acolhimento de emendas a esse projeto, que podem contemplar muito mais pessoas - e de maneira mais efetiva, harmônica e abrangente -, fazendo com que haja perspectiva de crescimento.

De fato, há um esquecimento geral em relação ao Orçamento do Estado de São Paulo. Os 53 municípios da Região Oeste do Estado são contemplados com 0,8% do Orçamento, quando a população da região, 800 mil pessoas, corresponde a 2% da população do Estado. Ali se omite a União; ali se omite o Estado. As prefeituras vivem desesperadas, de canequinha na mão, muitas vezes esperando emenda parlamentar do senador, do deputado federal, do deputado estadual.

Essa é uma verdade! Não dá para dizermos quais órgãos, quais áreas e quais Poderes têm se omitido mais! A Região Oeste do Estado de São Paulo só foi contemplada, nos últimos 40 anos, com pedágios e presídios! É possível, sim, ter perspectiva de crescimento e progresso para a região, na medida em que temos uma grande melhoria na economia brasileira, no momento em que nos tornamos a sexta potência econômica do mundo, não podemos ser o 84º em Índice de Desenvolvimento Humano, inclusive a Região Oeste do Estado de São Paulo. É necessário que se dê legitimidade, se promovam circunstâncias para dar solidez àquele que quer ousar, cultivar a terra, ter a criação de gados e suínos na terra.

Como bem dizia agora pouco, com propriedade, o prefeito de Presidente Venceslau, Ernane Erbella aqui presente e que participou de audiência pública - inclusive o dirigente do meu partido em Presidente Venceslau, Rodolfo Seddig -, da pobreza da terra da região, principalmente além-Presidente Prudente, a terra chamada Areia de Bauru, carente e que precisa de muito investimento e irrigação para dar um mínimo de retorno. Precisam de alento.

Eu vi as crianças da minha geração, da geração do Hernani, Seddig e Ataíde, que tiveram de deixar a região porque não tinham a menor possibilidade de trabalho ou constituir famílias na região. Nós podemos ainda melhorar este projeto, temos a obrigação - o Governo de São Paulo, a Liderança do Governo, os líderes partidários. O Deputado Simão Pedro, um dos parlamentares que mais respeito nesta Casa, apresentou emendas e sugestões para fazer de forma escalonada, conforme o volume de hectares, como uma forma de aperfeiçoamento do projeto. Tenho a certeza de que todos os partidos são favoráveis à regularização fundiária na região, que se resolva a questão das intermináveis demandas judiciais. O que estão é produzindo o sucateamento, a fome e a pobreza cada vez maior na região.

No processo democrático, muitas vezes, a Assembleia Legislativa, verdadeiramente, aperfeiçoou projetos originários do Executivo. E para que isso aconteça, está muito próximo de uma solução em que haja a contemplação maior, que é o pleito governamental. Aliás, é o justo reconhecimento ao Deputado Mauro Bragato, que está no plenário, pelo esforço em todos os momentos para que se encontre a solução. Temos um projeto e as emendas que foram apresentadas principalmente pelo Deputado Simão Pedro pela bancada do PT. Elas não descaracterizam o projeto, dando até uma condição maior para ampliar, inclusive com mais recurso, o fundo a ser criado para a própria questão fundiária, reforma agrária e dar suporte. Muito próximo de termos uma situação em que não haja pólo partidário vencedor, nem vencido: “Olha, o Governo venceu uma queda de braço.” É natural vencer a queda de braço com a oposição, haja vista a oposição ser significativamente menor nesta Casa.

Podemos ter um avanço maior em que o ganho para a população seja maior. O Estado de São Paulo, os entes governamentais têm uma grande dívida com a população do Pontal, do extremo Oeste do Estado de São Paulo, no momento em que foram instalados 35 presídios, se tornando a maior concentração de presídios numa região do mundo. E não se estruturou para isso, a saúde da região.

Temos em Presidente Venceslau dois grandes presídios, e a Santa Casa de Presidente Venceslau é obrigado a dar suporte e atendimento de todas as formas a quase três mil presos. O Orçamento do Estado de São Paulo tem de focar aquela região. Não são só os pleitos dos Deputados Mauro Bragato, Reinaldo Alguz, e do Deputado Ed Thomas, que também tem sido um leão nessa questão, de buscar progresso para a região. Vejo Ed Thomas se desdobrando: “Veja as Fatecs, a Unesp!”, e uma série de coisas.

Este não é o momento para discutirmos se Bragato está no PSDB, se estou no PDT, se Ed está no PSB, se Alguz está no PV. É hora de darmos as mãos e dizermos “Vamos tentar fazer alguma coisa por aquela região.” Eu seria o mais covarde dos homens se usasse nesse momento a força do mandato, ou da liderança, para criar um impeditivo que possa gerar pelo menos um sonho de melhoria para a região. Seja o que acontecer, tomara Deus que haja sensibilidade do Governo, e que a proposta do Deputado Simão Pedro, e da bancada do Partido dos Trabalhadores, seja acolhida porque ela contempla, amplia.

Mas, de qualquer forma, a edição dessa lei - e a lei não pode ser para inglês ver - tem de trazer melhoria para a região, um foco para que se tenha uma sinalização mínima. “Quando tem concurso, deputado, para a Polícia Militar, para agente penitenciário, para que eu possa sonhar, ter emprego e sustentar a minha família?”, “Mas olha, deputado, dá para ajudar depois para ser agente penitenciário, ou ser policial na minha região?” É o pleito que os deputados da região acabam recebendo o tempo todo. Pelo amor de Deus, com todo respeito às carreiras públicas.

Eu fui um adolescente que saiu de Presidente Venceslau e foi para a Polícia Militar com uma expectativa, um sonho que pudesse ter uma profissão. Porque naquele momento já, em 1978, tínhamos terra arrasada, discussão e luta intermináveis onde todos têm razão. E talvez tenha faltado. Estamos chegando perto de chegar ao bom termo na democracia.

Portanto, votarei favoravelmente a este projeto. A minha pobre Região Oeste do Estado de São Paulo, o Pontal, assim o merece. Mas encareço que dentro do processo de discussão ainda é possível uma emenda aglutinativa, é possível que os líderes acolham algumas pretensões e que ganhe o povo paulista, que ganhe o povo - que mais do que merece - do extremo oeste do Estado de São Paulo, o Pontal do Paranapanema (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência quer anunciar a presença entre nós, para nossa honra e nossa satisfação, do suplente de deputado federal o grande craque, para nós corintianos inesquecível craque, um dos maiores artilheiros da história do Corinthians e um dos melhores jogadores da história de São Paulo e do Brasil Marcelinho Carioca, o nosso querido Marcelinho.

Receba as homenagens do Poder Legislativo. (Palmas.)

Esta Presidência também quer saudar o Presidente, o brilhante Diretor Executivo do Itesp - Instituto de Terras do Estado de São Paulo - funcionário de carreira, Marco Pilla; o Prefeito de Presidente Venceslau Ernane Erbella a quem pedimos que transmita um grande abraço a um deputado que pontificou aqui na Assembleia, especialmente na Constituinte, o inesquecível Deputado Inocência Erbella, o senhor seu pai; Ivaldo Sobral, Ouvidor do Itesp; o Vereador Ricardo Pinheiro de Assis e o Marco Silva também do Itesp.

Recebam as homenagens do Poder Legislativo. (Palmas.)

 

O SR. CARLOS CEZAR - PSB - PARA COMUNICAÇÃO - Sr. Presidente, quero saudar o nosso companheiro de partido Marcelinho Carioca. Em nome da Bancada do PSB quero cumprimentá-lo, como corintiano que sou, por todas as alegrias que nos deu e V. Exa. colocou bem: alegrou a muitos corintianos, foi o nosso pé de anjo. Deixou muitas saudades no timão. Hoje é membro do Partido Socialista Brasileiro e tenho certeza de que fará um grande papel ainda nestas eleições.

Em nome da Bancada do PSB quero agradecê-lo, pois tem emprestado o seu nome e toda sua história à política brasileira para engrandecer aqueles que se dispõem a servir a população. Seja bem-vindo.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado João Antonio.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, assisti o debate acalorado entre os Deputados José Zico Prado e Carlão Pignarati, do PSDB, este obviamente fazendo um esforço enorme para tentar justificar o injustificável: a proposta do Governo. O equívoco é enorme.

A atual ordem jurídica já possibilita essa esta questão dos 500 hectares. Nesta Casa, não esta legislatura, mas a anterior, fizeram uma amarração para que aquelas terras aptas para assentamento, para a reforma agrária, não fossem incluídas na questão dos 500 hectares. É exatamente isso que eles querem mudar. Qual a essência dessa mudança? Tirar exatamente essa trava e fazer com que todas as terras possíveis de reforma agrária, possíveis de assentamento sejam excluídas. Deputado Carlão Pignatari, não tem cabimento isso. Vossa Excelência não leu o projeto. E a proposta articulada pela Bancada do PT através do Deputado Simão Pedro de até 200 hectares resolve o problema de 93% das propriedades daquela região. O que está por trás dessa tentativa de legalizar a grilagem de terras no Estado de São Paulo? Quem V. Exas. querem beneficiar? Já estive por duas vezes no Pontal do Paranapanema visitando Presidente Bernardes, Rosana, Presidente Venceslau. Vossas Excelências excluíram não apenas os trabalhadores rurais do orçamento do Estado.

Na realidade, aquela região é completamente abandonada pelo Governo do Estado. Os cidadãos daquela região não estão incluídos no orçamento do Estado de São Paulo. Qualquer cidade que se visite, a reclamação é unânime: ali o Governo do Estado não está investindo no progresso. Pelo contrário. Existem cidades naquela região em que a população carcerária chega a ser igual ao número de habitantes. O que o Governo tem feito naquela região é construir presídios e exportar presos para aquela região, como se construir presídio fosse sinônimo de governo competente.

Governo que constrói muitos presídios é sinônimo de governo incompetente porque não investiu devidamente durante os mais de 16 anos que governa este Estado em políticas sociais decentes. Não investiu em Educação, não investiu como devia em capacitar o nosso jovem para o mercado de trabalho, não investiu como devia para fazer com que as crianças saíssem das ruas, da marginalidade.

Hoje, os traficantes disputam as nossas crianças com o Estado. Ao invés de construir escolas, ao invés de investir em medidas preventivas, o que faz? Investe em presídios. Claro, não sou contra presídios, não sou contra prender bandido. A construção de mais e mais presídios no Estado é a prova de que as políticas não estão sendo condizentes com as necessidades da população.

O que o Governo do Estado fez ao longo desse período em que está à frente do Executivo paulista naquela região onde toda uma população está completamente abandonada? Venderam um banco de fomento do Estado a preço vil. O Banespa foi entregue a uma multinacional a preço vil. Nada fizeram para alavancar aquele banco. O Deputado Luiz Claudio Marcolino, que foi presidente do sindicato dos bancários, sabe do que estou falando. A luta do sindicato dos bancários para preservar o Banespa como um banco de fomento no Estado de São Paulo foi em vão porque a vontade de privatizar aquele banco era tamanha.

O Banespa, como um banco de fomento, poderia alavancar, por exemplo, os assentamentos no Estado de São Paulo. Na realidade, o que eles fizeram foi destruir aquilo que era o instrumento dessa população para o financiamento agrário no Estado de São Paulo e se não tivesse tido um acordo entre governos, provavelmente a Nossa Caixa teria seguido o mesmo caminho. Os dois bancos de fomento do Estado de São Paulo, um vendido a preço de banana no mercado para uma multinacional. O outro, se não tivesse um acordo entre o governo provavelmente teria tido o mesmo destino. Nada, de fato, está acontecendo para alavancar, neste estado, os assentamentos. Aqui, recentemente, podemos dizer que aproximadamente 5 mil famílias foram assentadas pelo governo federal. Nos últimos anos o que foi feito de assentamento pelo governo do estado?

 

O SR. LUIZ CLAUDIO MARCOLINO - PT - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Nobre Deputado João Antonio, é apenas para falar da questão do Banespa e da Nossa Caixa. O Banespa foi o banco que teve a maior carteira do crédito rural no Estado de São Paulo. O Banespa era um banco que estava praticamente em quase todos, para não dizer em todos os municípios deste estado e tinha um papel prioritário de fortalecimento da agricultura. Por muitos anos São Paulo foi não só o estado industrial, mas que tinha uma presença muito forte na agricultura. Tanto assim que o crédito rural do Banespa era o mais forte que tínhamos entre todos os bancos. Os bancos eram obrigados a ter crédito rural, mas o único que de fato pensava no desenvolvimento do estado pela agricultura era o Banespa.

A Nossa Caixa não era diferente. A Nossa Caixa, quando foi vendida, acabou sendo para o Banco do Brasil, mas a primeira opção naquela época era passá-la para o setor privado. Quando o Banespa foi vendido já havia o compromisso de que todas as contas do funcionalismo público deste estado deveriam passar para um banco público, e o banco era a Nossa Caixa.

Então, não haveria necessidade de venda das contas do funcionalismo público do estado para o Santander ou para outro banco como o governo tentou fazer, pois já tinha compromisso com o Senado Federal de ser para a Nossa Caixa.

A Nossa Caixa, que também era um banco que tinha esse olhar para a agricultura, de atendimento aos municípios foi desmontada. A fala de V.Exa., então, direciona-se para o crédito, porque sem crédito não há agricultura, não há desenvolvimento dos municípios agrários do nosso estado. Desmontou-se, então, a possibilidade de crédito para a pequena, para a média e para a grande agricultura de nosso estado, e, agora querem por mais obstáculos com essa lei apresentada nesta Casa pelo governo. Ela acaba com a possibilidade de os trabalhadores rurais, dos trabalhadores sem-terra e de assentamentos ter condições de produzir e já acabaram até com a possibilidade de ter crédito voltado para o desenvolvimento da população agrária de nosso estado. Portanto V.Exa. está corretíssimo em sua fala.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - Não eram bancos que davam prejuízos ao estado. V.Exa. foi presidente do Sindicato dos Bancários e pode esclarecer essa questão.

 

O SR. LUIZ CLAUDIO MARCOLINO - PT - Bancos todos rentáveis, bancos com resultados. A nossa Caixa, inclusive, antes de ser vendida, reestruturou no estado inteiro. Eram agências novas, com atendimento personalizado, direcionado à população do estado e crédito voltado para micro e pequena empresa, para a agricultura, e simplesmente foi desmontada. Perdemos a chance de pensar no desenvolvimento do estado a partir de bancos como Banespa e Nossa Caixa. Eram dois bancos que hoje poderiam estar ajudando, como o Banco do Brasil e a Caixa, que criam condições de desenvolver o país. Depois de longos anos de governo do PSDB perdemos a vocação de estado que poderia se desenvolver e crescer pela ação privatista do PSDB neste estado.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - Exatamente isso. E, agora, que queremos dar uma finalidade social a propriedades naquela região, o que queremos é que não alguns, que chamei aqui de grileiros de terras devolutas, possam ser beneficiados por uma ação do Estado por meio de lei aprovada nesta Casa. Porque é isso que propõe o projeto de lei em debate.

O que queremos é que possamos fazer uma legislação, aqui, que potencialize. Em primeiro lugar ampliar o número de assentamentos naquela região utilizando terras devolutas, para que centenas, milhares de pais de famílias possam ter naquela região o seu canto para produzir, sua terra para produzir.

Então, para beneficiar e dar uma função social à propriedade naquela região, não podemos permitir que alguns somente sejam beneficiados por uma lei que no fundo legaliza algumas grandes propriedades em detrimento de uma função social dessa propriedade para ampliar o número de assentados neste estado e especificamente naquela região.

Segundo: com a emenda que estamos propondo, de 200 hectares, queremos legalizar os pequenos e os médios proprietários em detrimento de meia dúzia que utilizam aquilo cada vez mais para o seu enriquecimento pessoal em detrimento da reforma agrária na região. E se até 200 hectares podemos beneficiar 93%, por que não aceitar a emenda do Deputado Simão Pedro? Vamos beneficiar 93% das propriedades.

O Deputado Simão Pedro tem conhecimento amplo e diagnóstico mais preciso desse problema, virá falar, mas quero dizer aos deputados desta Casa que, se quisermos de fato, em primeiro lugar, pacificar aquela região, que é tensa o tempo inteiro, porque o povo mais pobre e os pequenos proprietários daquela região e as pessoas que ainda não foram contempladas em assentamentos não suportam e protestam contra o fato de o Estado dar para grandes proprietários terras do Estado ao invés de beneficiar a todos.

Não admitimos isso e queremos objetivamente queremos que a nossa emenda seja aceita para, com justiça social naquela região, contemplar a maior quantidade possível e pequenas propriedades, manter preservadas as áreas aptas aos assentamentos, porque assim vamos beneficiar, de fato, os que mais precisam. O Estado vai ter uma função social agindo naquela região e interagindo com a necessidade do povo mais pobre da região.

Sr. Presidente, requeiro um verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V.Exa. é regimental. Esta Presidência solicita aos nobres Deputados Vinícius Camarinha e Carlos Cezar para auxiliar na verificação de presença.

 

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- É iniciada a chamada.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência constata quorum regimental pelo que dá por interrompido o processo de verificação de presença, agradecendo a colaboração dos nobres deputados Vinícius Camarinha e Carlos Cezar.

Para falar a favor, tem a palavra o nobre Deputado Samuel Moreira, pelo tempo regimental.

 

O SR. SAMUEL MOREIRA - PSDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, pessoas presentes nas galerias, funcionários da Casa, telespectadores da TV Alesp, quero começar minha fala destacando o trabalho de alguns deputados com relação a esse projeto, que tiveram papel de protagonistas, que lideraram esse processo de discussão que estamos fazendo, a construção desse projeto e até mesmo alterações que ele possa sofrer em função de negociações futuras.

Quero destacar a atuação dos deputados Mauro Bragato, Reinaldo Alguz e Ed Thomas que são da região, major Olímpio, Simão Pedro e José Zico Prado. Também quero citar os demais deputados e lideranças da Casa que fazem essa discussão sobre esse projeto. Também quero saudar a presença e a participação do Marcos Pilla, do Itesp, que tem ajudado muito nessas discussões e também destacar a participação do prefeito Ernane Erbella, que tem atuado muito nos esclarecimentos necessários para que possamos conduzir a discussão desse projeto com todos os deputados.

O que estamos discutindo? Estamos discutindo a possibilidade de regularização, de titulação de áreas inferiores a 500 hectares. O primeiro aspecto desse projeto de lei é a possibilidade de consonância com a Lei federal nº 8.629, de 1993, que diz claramente que não são passíveis de reforma agrária as pequenas propriedades, que são quatro módulos fiscais e as médias propriedades de até 15 módulos fiscais. Na área do Pontal, 15 módulos ficais equivalem a 450 hectares. O projeto trata exatamente nisso. Não se trabalha nas áreas passíveis de reforma agrária que são aquelas acima de 15 módulos fiscais, que equivalem a 450 hectares. Nesse projeto trabalha-se a possibilidade de regularização e titulação, e não de reforma agrária, das áreas inferiores a 15 módulos fiscais, que são 450 hectares.

Ao mesmo tempo em que se trabalha com essa expectativa de regularização e titulação, trabalha-se a possibilidade de beneficiar os assentamentos criando um fundo a ser utilizado em benefício dos assentamentos com investimentos em infraestrutura. Essa lei regulariza as áreas menores de 500 hectares, mas nessa regularização tem uma contrapartida de que tem essa área, que vai pagar em dinheiro 10% do valor da área para um fundo que beneficiará os assentamentos. Mas ela regulariza áreas inferiores a 500 hectares, que na região do Pontal somam-se 31 mil propriedades. É isso que esse projeto traz, ou seja, a possibilidade de titulação, de regularização de 31 mil propriedades. Traz a possibilidade de regularização de 50% das áreas do Pontal. Traz a possibilidade de 31 mil de regularizar dez mil propriedades até 4 hectares.

Então, esse é um projeto que tem uma função social importante, porque a regularização e a titulação permitem a função social da terra, pois quando a pessoa tem o seu título, quer a sua identidade. Isso lhe permite produzir, ter segurança jurídica, acesso a novos financiamentos, gerar empregos, facilita o desenvolvimento econômico da região beneficiando as áreas menores que 500 hectares, que são 31 mil propriedades, beneficiando aqueles que menos têm, que são os donos das pequenas e médias propriedades.

Estamos aqui fazendo uma discussão no sentido de encontrarmos um caminho que dê consonância com a lei federal, que dê compatibilidade com a legislação federal, porque não trata aqui de áreas passíveis de reforma agrária.

A lei federal já diz que só são aquelas acima de 500 hectares. Mas estamos tratando aqui da possibilidade, da regularização e titularização, com contrapartida de pagamento pelo proprietário, porque não é de graça. O proprietário vai pagar 10% do valor da sua terra para um fundo, e esses 10% de uma área que vale menos, paga menos e de uma área que vale mais, pagará mais porque é pelo valor da área. E esse fundo, inclusive, que a lei trouxe uma modificação, que era para ser pago em seis anos, está trazendo agora o pagamento em três anos, reduzindo inclusive esse prazo de pagamento para que esse fundo possa ser constituído o mais rápido possível, para que esse fundo possa ser utilizado em benefício dos assentamentos, com infraestrutura, o mais rápido possível.

Esse é o projeto que está sendo discutido aqui. Não se trata aqui de uma discussão ideológica, mas sim de verificar o grau de justiça que está sendo feito. Aqui traz a possibilidade da titularização e da regularização de 31 mil propriedades, mas traz a constituição de um fundo para beneficiar os assentamentos nas áreas acima de 500 hectares - só para os assentamentos. Então, eu não vou me alongar.

 

O SR. MAURO BRAGATO - PSDB – COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Nobre Deputado Samuel Moreira, o nobre Deputado Simão Pedro, com muita competência, hoje na audiência pública, fez algumas propostas. E a minha presença aqui é justamente para nesse debate tentar buscar saídas para que haja um consenso aqui na Casa.

Vossa Excelência colocou com competência a questão dos módulos fiscais e foi bastante didático na explicitação do significado deste projeto.

Não se trata da questão de reforma agrária no sentido de buscar dezenas de famílias, mas acima de tudo de fazer justiça social. Conheço muito bem essa região.

Quero lhe dizer que acompanho essa questão agrária desde o meu primeiro mandato aqui na Assembleia Legislativa, e posso dizer que o Estado de São Paulo, em todos os momentos em que se fez necessário, que se conseguiu junto ao Judiciário, assentou famílias. Prova disso, que a nossa região tem 6 mil famílias assentadas, 95 ou 96 assentamentos do Estado. Temos também alguns do Governo Federal. O importante é que estamos aqui buscando regularizar uma situação.

Estou muito à vontade porque a questão agrária no Pontal tem a ver com a minha luta também; não é a luta ideológica, ou a luta de pessoas que apareceram agora. Estou muito à vontade com isso. E quem vota em mim, muitos dos assentados, ou não, tem a ver com esse compromisso.

Portanto, quero dizer aos Deputados desta Casa, que acompanho essa questão desde o início, conheço o assunto profundamente, participei do primeiro assentamento, ajudei na gestão Franco Montoro, e temos que separar o que é terra para ser regularizada, e o que é terra para ser efetivamente de assentamento rural. O restante é um debate ideológico, infelizmente eivado de questões muitas vezes partidárias e que não interessa no momento.

O Projeto de lei 578 que demanda regularizar terras acima de 500 hectares é um debate mais complexo, tanto assim que não prosperou nesta Casa.

Deputado Samuel Moreira, Líder do Governo, que de fato busquemos um entendimento aqui para que possamos, efetivamente, ao aprovar o projeto, venha significar um ganho para a nossa região.

Tenho certeza de que falo aqui não só em meu nome, mas em nome dos Deputados que moram na região, lutam na região e têm um compromisso de fato com aquele povo que está morando lá há muitos anos e que quer ter o seu título, a sua segurança jurídica.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência saúda o nosso colega, o nosso companheiro que honra o Governo de São Paulo à frente da Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento, Deputado Edson Giriboni. Tem a palavra o nobre Deputado Samuel Moreira.

 

O SR. SAMUEL MOREIRA - PSDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Nossa saudação ao Deputado Edson Giriboni. Quero dizer aqui, Deputado Mauro Bragato, do orgulho que temos em tê-lo como representante daquela região, e destacar o seu trabalho nesse projeto, a sua atuação nessa área, e também destacar a atuação do Deputado Ed Thomas e do Deputado Reinaldo Alguz naquela região. Assistimos a participação de vocês hoje nas negociações. Dizer, também, aos amigos do Partido dos Trabalhadores, que nós entendemos que algumas colocações feitas pelo Deputado Simão Pedro, pelo Deputado José Zico Prado e pelos seus líderes, Deputado Alencar Santana, que nós somos passíveis de entendimento.

Queremos construir essa unidade e entendemos que a proposta feita pelo Partido dos Trabalhadores pode ser acolhida pelo Governo no sentido de compatibilizar os 15 módulos fiscais, que foi uma proposta trazida pelo Partido dos Trabalhadores, pelos Deputados Simão Pedro e José Zico Prado.

Não poderemos atender e compatibilizar todas as questões que nos foram colocadas. Mas esta de transformar os 500 hectares no projeto para 450 hectares é possível de unidade, é possível de aceitação. Isso para que não só compatibilizemos, mas também possamos procurar dentro dessa compatibilização com a legislação federal, fazermos mais justiça ao projeto.

Deputado Mauro Bragato, nós estamos nessa linha que V. Exa. falou, ou seja, na busca desse entendimento para, inclusive, melhorar o projeto com o diálogo que foi feito, com a presença de V. Exa., como também, de vários Deputados.

Essa é a nossa posição no sentido de estabelecer a votação desse projeto para que possamos dar um encaminhamento para um desenvolvimento melhor da região do Pontal. Esse é um fator de desenvolvimento da região do Pontal. As questões relacionadas à Saúde, à Educação, à infraestrutura, são muito importantes naquela região. Mas, talvez não haja nada mais importante do que darmos início à regularização às áreas do Pontal. E esse é um grande começo. É o primeiro passo para que possamos contribuir com o desenvolvimento daquela região tão carente e que V. Exas. tão bem representam aqui na Assembleia. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Em discussão. Para discutir contra, tem a palavra o nobre Deputado Simão Pedro, pelo tempo regimental.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Deputado Barros Munhoz, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público que ainda se encontra nas galerias; quero cumprimentar as lideranças dos movimentos sociais. Infelizmente uma grande parte das pessoas, que desde a hora do almoço está aqui para participar da audiência pública, estava acompanhando os debates até agora, evidentemente precisou se retirar sem que conseguíssemos chegar a um acordo.

Sr. Presidente, nós votamos uma lei aqui na Assembleia Legislativa em 2003, oriunda do Governo do Estado; na ocasião o Governador era o atual Governador Geraldo Alckmin, que inclusive teve o nosso voto. Com aquela lei, o Estado está autorizado a regularizar as propriedades ocupadas irregularmente no âmbito das terras públicas do Estado no Pontal do Paranapanema, desde que elas não sejam aptas à reforma agrária.

Qual era o objetivo dos legisladores, naquela legislatura, com essa proposição votada aqui? Que aquelas terras do Pontal do Paranapanema, aliás um dos poucos remanescentes de terras públicas no Estado, que têm vocação para a reforma agrária, cumpram essa função social. Há uma grande demanda de famílias que precisam e querem ser assentadas, querem ter oportunidade para trabalhar, viver na terra, produzir, que foram para aquela região com essa expectativa, sabendo que aquelas áreas eram áreas públicas, que o próprio Estado estava protocolando ações no sentido de recuperá-las. Ali foram assentadas, através de um processo de luta muito intenso, quase cinco mil famílias, que hoje são assentadas, produzindo, tendo sua vida ali naquela região.

Então aprovamos essa lei. Essa foi a ideia que presidiu a Assembleia, que foi acordada aqui, que foi consensual. O Governo não conseguiu fazer nenhuma ação de regularização ali. Na legislatura passada, o Governador era o Serra, que mandou um projeto de lei para a Assembleia - já havia aquela lei dos até 500 hectares, ele mandou uma outra que está tramitando aqui, ainda não foi arquivada, pelo que tenho conhecimento - que propõe regularizar as propriedades acima de 500 hectares. Hoje um professor da Unicamp, Doutorando Antonio Storel Jr., formado na Esalq, esteve na audiência pública e disse que o Governo pretendia “comer pelas bordas” o Pontal: primeiro regulariza as pequenas, depois vai partir para a regularização das grandes.

Agora o Governador Geraldo Alckmin resolve fazer o seguinte: manda um projeto de lei para cá querendo mudar aquela configuração da lei que aprovamos em 2003, retirando a essência do projeto. A lei dizia o seguinte: regulariza as terras não aptas à reforma agrária. Ele quer tirar no sentido de regularizar completamente as terras devolutas do Pontal do Paranapanema. Aqui o bom senso deve prevalecer, está prevalecendo nos debates, na audiência pública. Ninguém é contra, em sã consciência, ao processo de regularização fundiária. Estamos fazendo isso, num acordo entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Itesp para dar títulos de propriedade no Vale do Ribeira - o Deputado Samuel Moreira, líder do Governo sabe disso. Mais de 20 mil pequenos agricultores estão sendo beneficiados com essa ação, mas lá no Pontal as áreas que estão sendo regularizadas são as áreas de pequenas propriedades. Isso é uma política boa, precisamos regularizar de fato. Aliás, defendo a regularização fundiária, inclusive nas áreas urbanas, porque desse jeito vamos fazer a nossa economia se desenvolver.

Agora, por que não conseguimos chegar a um entendimento? Estava ouvindo o Deputado João Antonio, que é um morador da Zona Leste, operário, ex-militante da Pastoral Operária, ex-metalúrgico, grande vereador, grande líder na Câmara, dizendo o seguinte: a proposta que apresentamos ao Governo, em troca de retirar aquela trava que protege a região para as áreas de reforma agrária, é colocarmos um limite, regularizarmos as pequenas e médias propriedades de até 200 hectares, que configuram 93% das áreas do Pontal do Paranapanema. Mais de 350 mil hectares serão regularizados, beneficiando, nos meus dados, 20 mil propriedades - nos dados que o Deputado Samuel Moreira apresentou 31 mil. Só com isso vamos fazer uma mudança substancial naquela região.

Qual é o problema? São 900 propriedades, ou 1000, mais ou menos, que se situam nessa faixa de 201 a 500 hectares. Daí para cima, o que significam 18% das terras públicas do Pontal, há um setor aqui que quer privilegiar a regularização desses mil grandes proprietários, e coloco isso acima de tudo.

Estamos querendo propor um avanço, um acordo: regularizamos as áreas de até 200 hectares, e o remanescente o Governo vai continuar arrecadando para a reforma agrária, para fazer assentamentos, para contemplar as 2000 famílias, que é mais ou menos a demanda instalada naquela região. Aquela região pode se desenvolver. Eu dialogava com o prefeito de Presidente Venceslau que nos visitou hoje, terra do nosso querido líder do PDT, Major Olímpio, que disse que precisamos votar esse projeto, regularizando até as de até 500 hectares para desenvolver aquela região.

Ora, na concepção de desenvolvimento, temos diferença. Eu acho que o desenvolvimento vai chegar naquela região se o Governo do Estado investir em infraestrutura viária. Precisamos melhorar as estradas daquela região. Com exceção da rodovia que chega até Presidente Prudente, não está tão contaminada pelos pedágios ainda, porque até Presidente Prudente é um festival de pedágios. É caro para ir para lá, o que impede o desenvolvimento da região, porque encarece o frete, as empresas estão indo embora de lá. Mesmo em Presidente Epitácio, no ano passado, fixemos aqui uma audiência pública para debater a saída da Friboi de lá, que eliminou 1200 empresas, porque o ICMS é caro, mas o custo da produção naquela região é muito alto.

Então precisamos resolver esse problema da infraestrutura, de permitir o acesso da produção local. Segundo: investir em infraestrutura de conhecimento. O Deputado Mauro Bragato, que é da região, estava dizendo que lá há um campus da Unesp que agora foi contemplado com um novo curso de engenharia. Isso é bom. Lutei muito junto ao Conselho Universitário para que conseguíssemos contemplar novos campi e conquistamos o campus de São João da Boa Vista com dois cursos, uma luta de dez anos que tenho apoiado. Precisamos levar Fatecs para lá. Precisamos levar o Instituto Federal; precisamos levar infraestrutura de conhecimento, para atrair empresas, formar mão de obra, cursos que têm a ver com o desenvolvimento daquela região, levar cidadania, hospitais. É isso que vai levar o desenvolvimento àquela região, evidentemente que regularizando a situação fundiária.

Nossa proposta é que regularizemos 93% das propriedades daquela região, regularizando até 200 hectares. Não é proposta sectária, não é proposta radical. É uma proposta de bom senso, viável. Mas estamos aqui travando um debate em cima do interesse de mil grandes proprietários naquela região, que querem se beneficiar.

Perguntei hoje ao superintendente do Itesp, Dr. Marco Pila, sobre o valor do fundo que vai ser constituído, para podermos entender quanto vai ser investido, como vai ser revertido esse dinheiro na região. Ele não tem o cálculo, infelizmente.

Estamos propondo, então, o seguinte: o Governo propõe que o proprietário que vai ter a terra regularizada pague por ela o montante de 10% do valor da terra nua, como se ali fosse uma área de floresta, como se o Governo não tivesse feito estradas, escolas, cidades, não tivesse levado investimentos para lá.

Sugiro fazer um diálogo sobre esse aspecto. Por exemplo, a pequena e a média propriedade, que temos um acordo em regularizar, até 200 hectares, que paguem os 10%, e acima disso é preciso haver uma taxação maior. Os Deputados vão dizer que lá são todos pobres, que não têm condições.

Sabemos que por trás disso, regularizando, já está a Odebrecht, com a usina de cana. O que está por trás desse projeto é a possibilidade do arrendamento das terras para as usinas, ao invés de levarmos o desenvolvimento àquela região pela agricultura familiar, pela produção de alimentos, pela pequena e média propriedade, que geram empregos. Todos sabemos que a pequena agricultura, a pequena propriedade, a pequena produção agrícola é que gera emprego. De cada 10 empregos no campo, oito vêm da agricultura familiar. O Deputado José Zico Prado é mestre nisso, e sabe muito bem do que estamos falando.

A agricultura familiar segura as famílias, ela gera dignidade, gera produção, e atua numa área estratégica para o País e para o mundo, que é a produção de alimentos. Todos sabemos que mais de 70% do que consumimos, na mesa dos brasileiros, vêm da agricultura familiar. O grande agronegócio, que é importante para a nossa economia, primeiro, quase não gera emprego. Segundo, é altamente destrutivo em relação ao meio ambiente. Temos poucas usinas que concordam em se enquadrar na legislação ambiental trabalhista.

E qual é o modelo de desenvolvimento que queremos para aquela região? A vocação ali é a pequena agricultura, essa que gera emprego, essa que gera trabalho, essa que segura as famílias na região.

Faço aqui um apelo ao Deputado Samuel Moreira, que sabe da importância disso - também ao Deputado Barros Munhoz, ao Deputado Mauro Bragato, ao Deputado Ed Thomas, que é da região e conhece muito bem, ao Deputado Reinaldo Alguz, que é morador da região de Dracena, e conhece também a região, atua ali -, para que façamos um acordo aqui: votemos esse projeto amanhã. Vamos regularizar as terras até 200 hectares. Isso é razoável, é uma proposta para a qual estamos estendendo a mão para o Governo.

Esse projeto é caro para nós, da Bancada do PT, do PSOL, do PCdoB, da oposição. Esse projeto é caro para nós. Então, vamos fazer um acordo: votamos amanhã. O Governo sai satisfeito, atinge 93% dos seus objetivos. E o restante deixamos para discutir depois.

Sr. Presidente, solicito regimentalmente uma verificação de presença, porque o plenário está bastante esvaziado, e ainda tenho algum tempo para continuar discutindo sobre esse importante Projeto de lei, que propõe a regularização das terras devolutas do Pontal.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental. Convido os nobres Deputados Rita Passos e Mauro Bragato para auxiliarem a Presidência na verificação de presença ora requerida.

 

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- É iniciada a chamada.

 

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O Sr. Presidente - Barros Munhoz - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, a Presidência constata número regimental de Srs. Deputados em plenário, pelo que dá por interrompido o processo de verificação de presença e agradece a colaboração dos nobres Deputados Rita Passos e Mauro Bragato.

Continua com a palavra o nobre Deputado Simão Pedro.

 

O SR. Simão Pedro - PT - Sr. Presidente, para encerrar a minha intervenção, quero dizer que esse projeto, do jeito que foi enviado pelo Governo, não tem condições de ser votado. O projeto não vai levar desenvolvimento, regulariza uma situação com a ideia de fazer justiça para uma série de famílias, mas visa a regularizar de forma indevida a grande propriedade de pessoas que ocuparam aquela região de forma irregular.

O nosso apelo é para que esta sessão seja suspensa e amanhã façamos um acordo no sentido de avançar nas propostas que apresentamos, as quais, tenho certeza, têm o apoio de inúmeros deputados que hoje compareceram na audiência pública para ouvir os argumentos de lideranças sociais, como Delveque Mateus, da Direção Nacional do MST, técnicos de universidades e dirigentes de órgãos do Governo.

É razoável que se proteja e regularize a pequena e média propriedade, mas não do jeito que o Governo enviou. Esse projeto não tem qualquer parâmetro, não tem qualquer base legal, não tem qualquer justificativa. É um número exato, que não encontra justificativa e amparo em nenhuma lei.

Precisamos avançar no sentido de adequar à legislação federal. Mais ainda, adequar um projeto de desenvolvimento que beneficie a pequena propriedade, que assegure as terras, principalmente as maiores propriedades, para novos assentamentos, para dar oportunidade para a agricultura familiar naquela região. Obrigado.

 

O Sr. Presidente - Barros Munhoz - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, nos termos do Art. 100, inciso I, do Regimento Interno, convoco V. Exas. para uma Sessão Extraordinária a realizar-se hoje, dez minutos após o término da primeira Sessão Extraordinária, com a finalidade de ser apreciada a seguinte Ordem do Dia: Projeto de lei 687/2011, que altera a Lei nº 11.600/2003.

Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. Carlos Giannazi - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Presidente Barros Munhoz, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público presente, telespectadores da TV Assembleia, venho à tribuna para discutir o Projeto de lei 687, de 2011, que foi encaminhado para a Assembleia Legislativa pelo Executivo estadual.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Adriano Diogo.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - É apenas para dar uma boa notícia. Acabou de sair o habeas corpus do Zé Rainha e ele vai ser posto em liberdade. Já que estamos falando de Pontal, a justiça foi feita e Zé Rainha está livre. Viva liberdade, viva Zé Rainha, viva MST! Obrigado, Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - Este projeto nos remete a uma discussão muito importante no Brasil, sobretudo no Estado de São Paulo, que é da reforma agrária, assentamento dos trabalhadores rurais sem-terra que foram expulsos das suas terras e perderam seus empregos por conta do crescimento do agronegócio, da concentração de terras e de renda do nosso país. O Brasil tem uma grande dívida com esse tema.

O Brasil proclamou a República em 1889 e, antes disso, em 1888, libertou os escravos e não realizou a reforma agrária. É um dos poucos países do mundo, talvez, há quem diga, que seja o único país do mundo que ainda não efetivou a sua reforma no mundo capitalista. Não estou falando dos países do leste europeu que tiveram a passagem do Capitalismo para o Socialismo. Japão, Estados Unidos, França, Inglaterra, Argentina e todos os países capitalistas, em algum momento das suas histórias, fizeram a reforma agrária. O Brasil saiu da escravidão, proclamou a República em 1889 e não realizou a reforma para incluir as populações marginalizadas no processo social brasileiro. Essa dívida é histórica e não foi paga até agora.

Tivemos sucessivos governos que não tiveram a coragem de enfrentar os grandes latifundiários, e, agora, de enfrentar o agronegócio que vem tomando conta da nossa agricultura, destruindo a agricultura familiar, e concentrando cada vez mais as terras no nosso país. Essa é a discussão que queremos fazer. Por isso, continuamos com a luta em defesa do assentamento, da reforma agrária em todo o Brasil. Estamos num verdadeiro retrocesso em relação a esse tema. O Brasil não está efetivando a reforma, que sempre foi uma bandeira histórica dos partidos de esquerda, dos setores progressistas da nossa sociedade. E há um retrocesso em relação a esse tema. Este projeto apresentado também representa um retrocesso, com a justificativa de beneficiar alguns setores do Pontal, e traz embutida uma grande armadilha, que é uma doação. O projeto autoriza a doação do patrimônio público do Estado de São Paulo para os grandes latifundiários. Isso é muito grave.

O ex-Governador José Serra já tentou fazer isso na gestão passada. Ele encaminhou um projeto que está ainda dentro da Assembleia Legislativa. Está aqui, encostado e escanteado, mas está ainda aí e não foi arquivado. O projeto autorizava a regularização para os acima de 500 hectares. É um projeto altamente comprometido com os grandes latifundiários, com especuladores de terras, sobretudo com os grandes grileiros que ocuparam as terras devolutas, terras públicas do Estado de São Paulo. Eles seriam contemplados pelo ex-Governador José Serra, do PSDB, com a aprovação deste projeto que não prosperou aqui porque nós resistimos junto com o movimento organizado, com o MST e vários outros segmentos. O projeto não foi adiante.

O Governador Geraldo Alckmin agora envia o projeto com algumas mudanças, mas a tonalidade é a mesma. Não podemos aceitar que ele seja aprovado dessa maneira porque ele vai beneficiar também os grandes latifundiários, o agronegócio, e vai fazer coro com esses setores conservadores que querem entregar o patrimônio público para os que já têm um grande benefício econômico, em detrimento sempre dos pequenos, dos trabalhadores rurais e desempregados que precisam ser assentados, que precisam de terra para poder trabalhar. Com a mecanização da agricultura e com o crescimento do agronegócio estamos tendo um grande prejuízo para os trabalhadores rurais, que ficam acampados em estradas, abandonados, comendo a poeira das estradas do interior paulista.

O Governo estadual precisa ter uma política de assentamento e de reforma agrária para os pequenos, e não para os grandes. Mas essa tem sido a cara e a prática do PSDB no Estado de São Paulo. Dois projetos foram apresentados aqui para beneficiar os grandes proprietários. Para os pequenos não tivemos nenhum projeto do PSDB que tenha sido enviado pelo Executivo. Ao contrário, para os pequenos a repressão, a Tropa de Choque da Polícia Militar, como aconteceu no massacre social do Pinheirinho. Deputado Marco Aurélio estava presente na luta contra aquele massacre, o Deputado Adriano Diogo também, e estivemos lá juntos testemunhando aquele massacre contra seis mil trabalhadores no bairro do Pinheirinho. E aquele massacre foi organizado para beneficiar o especulador financeiro e criminoso, que já foi preso várias vezes, e que se chama Naj Nahas. O Governo do PSDB é muito rápido e prestativo para beneficiar os setores que já são beneficiados do ponto de vista econômico. Para beneficiar os grandes latifundiários, o grande negócio e um mega investidor, um especulador financeiro que já foi preso várias vezes, o Governo utiliza todo o seu aparato jurídico e legislativo, até repressivo como fez no Pinheirinho, desapropriando. O Governo não quis regularizar. Por que o Governo não apresentou uma proposta desapropriando pelo menos uma parte do terreno do Pinheirinho para acomodar, do ponto de vista da habitação popular, os seis mil moradores? Porque é um governo comprometido com as elites econômicas, com os latifundiários, com o grande negócio. É isso.

É inconcebível que um projeto seja encaminhado com esse disfarce, de que vai beneficiar setores importantes da região do Pontal, quando, na verdade, traz embutido no seu seio essa proposta de entregar as terras do Estado, que são de toda a população, para os grandes grileiros, de pessoas que ocuparam aquelas terras e usufruem dela economicamente. São terras que não cumprem uma função social, apenas a função da mais valia e do lucro.

É nesse sentido que nós, do PSOL, nos manifestamos contrariamente ao PL 687, de 2011. Queremos que ele seja modificado e nos somamos à luta do PT, do PCdoB, das bancadas de oposição, no sentido de que esta sessão seja suspensa, e que possamos chegar a um acordo e elaborar uma emenda aglutinativa diante do que foi apresentado pela audiência pública. Tivemos há pouco uma grande audiência pública com técnicos, especialistas, trabalhadores rurais onde várias propostas foram apresentadas para que este projeto possa ser melhorado, sobretudo para que beneficie de fato a pequena e média propriedades. Do jeito que está nós do PSOL não votaremos a favor. Por isso fazemos um apelo à Assembleia Legislativa para que o projeto seja revisado e podemos fazer isso com tranquilidade. Nós podemos retomar a discussão que foi iniciada na audiência pública. Existem várias propostas para solucionar este problema. Agora não podemos votar num projeto que quer beneficiar o grande negócio e os grandes latifundiários, sobretudo aqueles que ocuparam as terras devolutas do Estado. Refiro-me às pessoas que exploram essas terras de forma indevida. São terras públicas, terras devolutas do Estado. O tratamento dado aos grandes latifundiários aos grandes proprietários não é dado aos pequenos. O projeto apresenta uma grande contradição e não podemos aceitar essa situação.

É por tudo isso que nós do PSOL, se esse PL 687 não for modificado, votaremos contra porque o Estado tem de estabelecer uma prioridade, que é beneficiar os pequenos, a agricultura familiar, os trabalhadores rurais sem-terra, que são milhares no nosso Estado. Não há política, na verdade, de assentamento no Estado de São Paulo. Há muito tempo que se pleiteia uma reforma agrária. O Deputado Adriano Diogo acabou de citar o caso do José Rainha, que teve um “habeas corpus” concedido pelo STF e isso nos remete a uma outra discussão: a criminalização dos movimentos sociais, principalmente do movimento ligado à luta pela terra, um movimento altamente reprimido, criminalizado pelo Estado tanto do ponto de vista político como do ponto de vista jurídico e, sobretudo, do ponto de vista policial. A tropa de Choque é acionada sistematicamente contra os trabalhadores rurais sem-terra. A tropa de Choque vira quase que um braço dos latifundiários, dos grandes proprietários do nosso Estado. Existem mortes, perseguições dos nossos trabalhadores rurais no Estado, sem contar as milícias organizadas pelos latifundiários, pelos donos do agronegócio. Essas milícias perseguem e matam e exterminam os trabalhadores que ousam lutar pela reforma agrária no Estado. Esta é uma discussão também nacional. Isso acontece em todo o território nacional.

Diante deste quadro esta é a posição do PSOL. Nós defendemos reforma agrária, assentamento dos pequenos e a regularização jurídica das terras dos trabalhadores rurais sem-terra.

 

O SR. SAMUEL MOREIRA - PSDB - Sr. Presidente, em função de acordo entre os líderes no plenário, solicito o levantamento da presente sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental, antes, porém, esta Presidência desconvoca a segunda Sessão Extraordinária e lembra as Sras. Deputadas e os Srs. Deputados da convocação da Sessão Ordinária de amanhã com a mesma Ordem do Dia de hoje.

Em face do acordo entre as lideranças esta Presidência dá por levantada a sessão.

 

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- Levanta-se a sessão às 21 horas e quatro minutos.

 

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