1

 

06 DE MARÇO DE 2002

20ª SESSÃO ORDINÁRIA

 

Presidência: NEWTON BRANDÃO e WALTER FELDMAN

 

Secretário: ROBERTO GOUVEIA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 06/03/2002 - Sessão 20ª S. ORDINÁRIA  Publ. DOE:

Presidente: NEWTON BRANDÃO

 

001 - NEWTON BRANDÃO

Assume a Presidência e abre a sessão. Convoca os Srs Deputados para sessão solene, dia 25/04, às 20h, para comemoração do "Dia do Contabilista". Anuncia que, hoje, a Assembléia reverencia a memória do ex-Governador Mário Covas que morreu há 1 ano.

 

002 - CAMPOS MACHADO

Pelo art. 82 relembra atitudes de Mário Covas, quando na campanha de reeleição.

 

003 - Presidente NEWTON BRANDÃO

Registra a presença de alunos e professores da Escola Professor José Nantala El- Baduê, de Bragança Paulista, acompanhados pelo Deputado Nabi Chedid.

 

004 - RICARDO TRIPOLI

Registra seu início de carreira política junto ao então Prefeito Mário Covas, em São Paulo.

 

005 - NABI ABI CHEDID

Ressalta a importância do Parlamento Jovem e da visita de alunos à Casa. Homenageia Mário Covas.

 

006 - MARIÂNGELA DUARTE

Presta homenagens a Mário Covas e faz relato de sua trajetória política.

 

007 - DUARTE NOGUEIRA

Enaltece a figura de Mário Covas, que considera exemplo de vida pública.

 

008 - CARLINHOS ALMEIDA

Homenageia Mário Covas, considerando-o um lutador pela democracia.

 

009 - Presidente NEWTON BRANDÃO

Anuncia a visita de comitiva de Vereadores de Ouroeste, encabeçada pelo Presidente de Câmara, Antônio Carlos Gomes, e acompanhada pelo Deputado Valdomiro Lopes.

 

010 - GILBERTO NASCIMENTO

Registra a visita do Prefeito de Mariápolis. Considera Mário Covas um exemplo de homem público.

 

011 - DIMAS RAMALHO

Em nome do PPS, registra o apreço pela obra política do ex-Governador Mário Covas. Recorda sua trajetória.

 

012 - LUIS CARLOS GONDIM

Em nome do PV, relembra sua convivência política com o ex-Governador Mário Covas.

 

013 - PEDRO MORI

Havendo acordo de lideranças, solicita a suspensão da sessão.

 

014 - Presidente NEWTON BRANDÃO

Registra o pedido. Convoca os Srs. Deputados para uma sessão extraordinária, a realizar-se hoje, às 19h. Suspende a sessão, às 16h13min, por 10min.

 

015 - Presidente WALTER FELDMAN

Assume a Presidência e reabre a sessão às 16h40min, lê pronunciamento sobre o ex-Governador, Mário Covas.

 

016 - NEWTON BRANDÃO

Solicita o levantamento da sessão, por acordo de lideranças.

 

017 - Presidente WALTER FELDMAN

Acolhe o pedido. Lembra aos Srs. Deputados a sessão extraordinária, hoje, às 19h. Convoca-os para a Sessão Ordinária de 7/3, à hora regimental, com Ordem do Dia. Levanta a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Roberto Gouveia para, como 2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - ROBERTO GOUVEIA - PT - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Convido o Sr. Deputado Roberto Gouveia para, como 1º Secretário "ad hoc", proceder à leitura da matéria do Expediente.

 

O SR. 1º SECRETÁRIO - ROBERTO GOUVEIA - PT - Procede à leitura da matéria do Expediente, publicada separadamente da sessão.

 

* * *

 

-              Passa-se ao

 

PEQUENO EXPEDIENTE

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Srs. Deputados, esta Presidência convoca V. Exas., nos termos do Art. 18, inciso I, letra “r”, da X Consolidação do Regimento Interno, para uma sessão solene a realizar-se no dia 25 de abril do corrente ano, às 20:00 horas, com a finalidade de comemorar o Dia do Contabilista.

Srs. Deputados, hoje, para a nossa Assembléia é um dia muito especial, um dia triste porque faz um ano do passamento do ilustre Governador do Estado que tanto prestigiou esta Casa não só com a sua presença mas com seu espírito público incentivando, participando e dando exemplo.

Assistimos na Câmara Federal a várias manifestações de lembrança, de saudade bem como mostrando o valor e a capacidade do nosso grande estadista e ex-Governador Mário Covas.

Estamos, inclusive, acompanhando as palavras do Sr. Governador quando em boa hora lembra fatos; como dizia Tancredo Neves, na política o exemplo é mais importante do que o discurso. Realmente é e Mário Covas sempre foi um orador brilhante.

Temos não só um conhecimento teórico, mas várias vezes no início da sua carreira vinha da Baixada Santista até o Planalto, no ABC, para incentivar a população, mostrando seus direitos e abrindo trilhas, mostrando o caminho que deveríamos percorrer.

Nós mesmo já apresentamos nesta Casa uma sugestão para que os discursos aqui proferidos por S. Exa., no período em que era Governador, fossem fechados em volume e entregues aos Srs. Deputados e às pessoas que tivessem participação cívica no nosso Estado. É um exemplo que deveria percorrer todos os lares.

S. Exa. sabia como ninguém conquistar apoios e empolgar as pessoas com aquela voz grave que oscilava do brado ao sussurro, seguindo sempre e segurando a máxima atenção dos ouvintes. Portanto, acredito e posso até antecipar que tenho certeza de que oradores se farão ouvir, lembrando esse homem público que foi uma grandeza para o Brasil e para o Estado de São Paulo.

Nós, que sempre achamos o ex-Governador Mário Covas um grande estadista, não poderíamos deixar de prestar a nossa homenagem. Cada brasileiro, cada paulista, há de homenageá-lo neste dia seis de março, multiplicando o seu exemplo de honradez e dignidade.

Em relação ao discurso do nobre Governador do Estado, Dr. Geraldo Alckmin, em boa hora publicado pelo “Diário Oficial”, estamos certos de que será não só aceito, mas aplaudido por todos, porque é uma reverência que o Estado tem que prestar ao nosso grande ex-Governador do Estado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - PELO ART. 82 - Sr. Presidente Newton Brandão, orgulho e honra desta Casa. Srs. Deputados, caminho hoje para o passado. Caminho pelo trem da saudade para me situar em 1998, num pequeno apartamento localizado atrás do Shopping Center Iguatemi, num prédio de classe média. O mês era setembro e o candidato à reeleição do Governo de São Paulo era Mário Covas, que reunia, num sábado à noite, os seus amigos, aqueles que estavam empenhados na sua luta. Oswaldinho era o Secretário de Comunicação, o Tião Faria, o José Maria Monteiro era o coordenador, o atual Governador Geraldo Alckmin, o Deputado Nabi Chedid, pelo PSD, e este Deputado, pelo PTB, também estava presente. O clima era de tristeza e apreensão. Estávamos em quarto lugar, discutíamos o que fazer e como agir para que a situação pudesse se inverter.

Lembro-me de que Covas se encontrava estirado num sofá; parecia dormir. Fomos para um outro canto da sala e falávamos baixo, para que Covas não ouvisse.

Este Deputado dizia que tínhamos que fazer comícios, carreatas, minicomícios, colocar ‘outdoors’, pintar  os muros, etc. De repente, aquele homem que parecia dormir, alquebrado e cansado, levantou-se, veio em minha direção e disse: “Campos Machado, para ganhar as eleições precisamos de três coisas: primeiro, precisamos acreditar, porque sem acreditar na nossa luta nem adianta continuar. Em segundo lugar, precisamos lutar por aquilo que acreditamos. Em terceiro lugar, é preciso ganhar. E para ganhar temos que ter alma e coração.” Saímos dali envolvidos em outra atmosfera, atmosfera de que essas três palavras mágicas tinham que ser aplicadas: acreditar, lutar e sonhar.

Eu, que não pertenço ao PSDB, conheci ali um grande homem, um homem que subiu nas selas dos seus sonhos para cavalgar pela humanidade.

O tempo passou e nós vencemos as eleições. Mário Covas já estava doente, com o destino que os gregos lhe impuseram. Segundo os gregos, o destino arrasta as pessoas que o consentem e destrói as pessoas que o resistem. Esse destino que já havia decidido para onde ia o nosso Governador Mário Covas, fez com que, num outro sábado, novamente no apartamento de Mário Covas, ainda em setembro, estivéssemos reunidos novamente. S. Exa. foi gentil e desceu conosco até a calçada, quase meia noite e segurava a barriga com as duas mãos. Então eu lhe perguntei: “Dói alguma coisa, Governador?” Mário Covas respondeu: “Sabe, Campos, sentir a dor é diferente de padecer da dor.”

Só fui entender aquela frase muito mais tarde. O PTB de São Paulo jamais conheceu um homem da estatura ética e moral de Mário Covas. Profundamente gratos não esqueceremos o que fez ele pelo  PTB. Esse homem entrou na história, esse homem marcou a minha vida e a vida do PTB.

Se hoje somos - que me desculpem os parlamentares de outros partidos - o maior partido do Estado de São Paulo, devemos isso à mão generosa amiga e leal de Mário Covas.

Há pouco, mencionava Emerson, aliás, parafraseei Emerson que dizia que Mário Covas subiu nas selas dos sonhos, para cavalgar pela humanidade. E, este é o retrato da vida deste estadista.

Mas, como dizia Guimarães Rosa, homens como Mário Covas não morrem jamais. Ficam encantados. E Olavo Bilac, em uma poesia que me marcou profundamente nos tempos da Academia do Largo São Francisco, reproduz bem, dizendo o que foi Mário Covas: “Mário Covas não morreu. S. Exa. é uma estrela no céu a guiar a todos nós.

Só espero que as lições do Mário Covas permaneçam no coração do meu partido. Espero que essas lições que nos arrancaram de uma situação difícil, dando-nos o brilho ético e moral, permaneçam para sempre. A verdade é que Mário Covas não pertenceu e não pertence apenas a sua família, à dona Lila, à Renata, ao Zuzinha e ao neto Bruno; Mário Covas pertenceu a todos nós, a São Paulo e ao Brasil.

Para nós, o meu Governador,  o meu amigo, estrela de São Paulo e do Brasil,  jamais vai morrer. Mário Covas vai viver sempre, não só no coração da Assembléia e do povo de São Paulo e do Brasil, e principalmente deste Deputado que teve profundo orgulho e tem imensa honra de um dia ter dito a S. Exa.: Meu Governador, bendita hora que lhe conheci. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Estamos tendo a satisfação de receber jovens estudantes. Hoje é um dia muito especial e os senhores vão lembrar esta data tão significativa. Os senhores vieram num dia muito oportuno a esta Assembléia, quando se cultua um vulto extraordinário da nossa Pátria.

É para nós uma alegria recebê-los, hoje não é um dia de rotina; é um dia muito especial.

 

O SR. RICARDO TRIPOLI - PSDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Caro Presidente em exercício, nobre Deputado Newton Brandão a quem agradeço a gentileza nesta sessão, companheiro e amigo Deputado Alberto Calvo que havia me cedido o horário do Grande Expediente, é um orgulho estar utilizando esta tribuna, nobres Deputados Campos Machado, Paschoal Thomeu, Nabi Chedid, demais Deputados e Deputadas, como foi dito aqui, hoje é um dia especial. Aos alunos que hoje nos visitam e apreciam uma sessão plenária do Legislativo Estadual os nossos cumprimentos, bem como às mulheres que estão reunidas sob a convocação da Deputada Maria do Carmo Piunti, o Secretariado de Mulheres que hoje fazem na Assembléia Legislativa a sua reunião.

O que me traz aqui, na verdade é o motivo desta sessão - diria até que mais do que uma sessão solene - uma sessão de saudade e lembranças de uma pessoa que marcou, de maneira muito forte, a vida de cada um de nós que vive na cidade e no Estado de São Paulo, assim como no Brasil. Uma das grandes figuras que marcou a história política do nosso País. Obviamente refiro-me a Mário Covas.

Tive o privilégio e a honra de iniciar a minha vida pública com Mário Covas, nesta grande universidade que formou vários quadros do nosso partido do PSDB, aqui mesmo nesta Assembléia - o Presidente desta Casa, Deputado Walter Feldman, o Deputado Gilberto Nascimento, o Deputado Marcos Mendonça, hoje Secretário; o Deputado Federal Arnaldo Madeira. Enfim, éramos vários vereadores que iniciávamos a nossa vida pública aqui na cidade de São Paulo, acompanhando esse grande homem que foi Mário Covas.

Mário Covas foi eleito Deputado Federal, indicado pelo então Governador do Estado André Franco Montoro, para ser o Prefeito da cidade de São Paulo.

Foi votado neste plenário uma mensagem da indicação do então Deputado Federal Mário Covas para que assumisse a Prefeitura da cidade de São Paulo. E assim ocorreu. E tive a grande honra de ser convocado, no primeiro momento, por Mário Covas para ser seu Secretário de Negócios Extraordinários da Prefeitura de São Paulo, iniciando minha carreira pública e S. Exa., já com grande tempo de labuta, de trabalho no ofício público - tinha sido Deputado Federal, cassado, retornado à vida pública e iniciava a sua gestão na Prefeitura. E lá já fazia uma grande revolução. Uma revolução no bom sentido na área da interação com a população. Ou seja, Mário Covas tinha exatamente isso diferente: exercia a política na prática, não dando conselhos nem chamando a atenção, mas através de exemplos. Já na Prefeitura de São Paulo, ele como engenheiro e Prefeito, fazia nos finais de semana os chamados mutirões, onde não só os funcionários da Prefeitura participavam, mas também a população, através da chamada Sociedade Amigos de Bairro. E lá ia o Prefeito para a linha de frente, assentar guia, sarjeta, determinar o prumo de onde deveria ser assentado o piso das ruas que estariam sendo asfaltadas na cidade de São Paulo, os muros das creches que deveriam estar sendo erguidas, das escolas públicas, e postos de Saúde.

O Governador ia na ponta da linha, discutia de igual para igual com a população. E aceitava também na linha do princípio do contraditório a crítica. Parava na rua e discutia de igual para igual, sem inferiorizar as pessoas, o que era muito importante.

A discussão era muito interessante porque Mário Covas tinha essa peculiaridade, sabia, diante do cargo que exercia de Prefeito, se igualar à população e fazer o diálogo franco e sincero com as pessoas. Usava muitas vezes o seguinte mote, dizia que as pessoas preferiam um “não” discutido a um “sim” que jamais seria cumprido.

Essa era uma das grandes frases do Sr. Mário Covas, que na verdade mostrava o caráter, o tipo de conduta que tinha como político. E a população aceitava isso porque sabia que diante daquela recusa ele explicava o porquê desses motivos. Ou porque os cofres do município não tinham condições de atender àquela demanda ou porque se tinham outras prioridades.

Lembro muito bem de uma das inovações feitas pelo Prefeito Mário Covas na cidade de São Paulo, a respeito da pavimentação das ruas.

Naquela época, 1983/1984, a periferia de São Paulo ficava muito mais próxima, e a Sociedade de Amigos de Bairros se mobilizavam vem busca de benefícios para as áreas da cidade. Reunia num grande salão todas as representantes dessa Sociedade de Amigos e elas discutiam quais seriam as ruas mais importantes que seriam asfaltadas na cidade de São Paulo, quais as ruas e quais os bairros que deveriam receber os equipamentos, e elas é quem decidiam as prioridades. Mário Covas só referendava essa prioridade dizendo: “tenho uma quantia “X” para poder executar essas obras; vocês me digam quais são as obras prioritárias, quais as obras que vão atender o maior número de pessoas”, sem perguntar para essas pessoas se tinham votado nele, se tinham algum partido político de sua preferência, e se na verdade tinham interesse em acompanhá-lo politicamente.

Jamais o Prefeito Mário Covas, já naquela época fazia esse tipo de questionamento; mostrando a lisura, a independência e a maneira como tratava a população. Se quisesse ver Mário Covas feliz, alegre, era só levá-lo à periferia da cidade de São Paulo.

Quando assumiu o Senado também se destacou de forma brilhante por sua maneira de agir, pela estatura. Mário Covas era uma grande referência para cada um de nós, ele se posicionava sempre de uma maneira em que tínhamos que procurar saber exatamente o que S. Exa. queria dizer com determinadas coisas e determinados gestos. Com isso, vínhamos acompanhando a carreira e a trajetória de Mário Covas. No Senado, através de pronunciamentos sinceros, várias foram as vezes que ele conseguiu virar votações de fundamental importância para a população, principalmente a mais carente, que sempre defendeu com muita garra e coragem.

Na disputa para Governo de São Paulo, recordo-me bem, um dia Mário Covas, Senador ainda, no primeiro debate político na Rede Globo de Televisão, em 1994, interpelado pelos seus opositores, ele olhou para o telespectador, se voltou para a câmera e disse: “Tem um único campo que disputo com vocês e com certeza não perco para ninguém”. Era o campo da moral, da seriedade e honestidade. Era nesse campo que ele jogava com qualquer adversário e sempre ganhou, haja vista as eleições que ganhou não só para Deputado Federal, para Senador, o Senador mais votado, para Governador. Como Governador do Estado vai para o segundo turno e ganha em 1994. Em 1998 seu Governo foi avaliado por um único aspecto: a reforma fiscal, a reforma tributária que o então Governador Mário Covas fez no Estado de São Paulo, ou seja, enxugou os recursos e otimizou os serviços, aplicando de forma correta os recursos públicos, mudando aquela cultura de que você entregando às Prefeituras, aos munícipes, enfim, a quem quer que seja, isso seria transformado em votos numa próxima eleição. Pelo contrário.

Quantas vezes assistimos pessoas dizerem: “Governador, o senhor está indo no caminho errado. Está fazendo isso sem saber exatamente a motivação, sem saber a que partido político pertencem os Prefeitos das cidades que visita.” Na verdade, ele foi advertido várias vezes sobre isso. Mas dizia: “Eu não fui eleito para atender esse ou aquele Prefeito de tal o qual partido, mas para atender a população daquele município, que elegeu aquele Prefeito de tal partido.” Isso fazia grande diferença. Sem sombra de dúvida, demonstrava que tínhamos ali um político diferente, implantando uma cultura nova dentro da política. Assim foi durante todo seu Governo.

Várias vezes chamou seus assessores de madrugada, nos finais de semana. Ouvia muito atentamente o que as pessoas tinham a lhe dizer, tinha paciência, calma para transformar a linguagem rebuscada, difícil, que muitas vezes a população mais simples não entende. Isso Mário Covas fazia com muito talento.

Passada a época da Prefeitura de São Paulo, tive o privilégio de nos primeiros dois anos do Governo Mário Covas, por deliberação dos companheiros desta Casa, assumir a Presidência da Casa e pude observar a maneira como ele conduzia, a relação e o respeito que o Governador Mário Covas tinha pelo Legislativo, o que demonstrava a capacidade dos Deputados montarem a sua base de sustentação, coisa que durante muitos anos foi diferente, onde trocavam-se cargos por espaços no Governo, por votações na Assembléia Legislativa. Isso não acontece mais porque o então Governador Mário Covas mudou esse tipo de comportamento. O Parlamento tem a função de fiscalizar os atos do Executivo, mais do que isso: se juntar ao Executivo na busca de solução para problemas comuns ao Estado de São Paulo.

Esta é uma tese de Mário Covas, fundamentalmente de Mário Covas, demonstrar que de maneira diferente, divergente, pode-se e deve-se governar. Com isso deu estabilidade, deu estatura aos Deputados estaduais, porque cada um passou a obter o respeito dos companheiros e da sua própria legenda. Com isso criou-se a base de sustentação do Governo Mário Covas na Casa, pela maneira como tratava os parlamentares. Foram fórmulas encontradas por ele que fez com que tivéssemos esse carinho, essa dedicação por Mário Covas, que muitas vezes se indispunha com seus assessores, amigos, mas sempre de forma franca e leal. Isto, para nós, foi de extrema importância para o enriquecimento da bagagem política de cada um.

Os Deputados que aqui passaram já fizeram suas referências. O Deputado Campos Machado, do PTB, da base de sustentação do Governo, acabou de mostrar como Mário Covas conduzia essas questões fazendo de maneira diferente o projeto político do Governo do Estado de São Paulo e que era uma referência nacional. Uma manifestação de Mário Covas, seja ela qual fosse, tinha cobertura da mídia, era ouvido por políticos de outros estados e Brasília parava para pensar naquilo que ele dizia, porque se sabia que no fundo Mário Covas tinha a experiência, a prática, a certeza e a verdade muito transparente no que diz respeito a seus atos e manifestações. Com isso fomos aprendendo nessa grande universidade chamada Mário Covas. Alguns já se formaram, outros tiveram o talento de ser os primeiros alunos da classe e o primeiro aluno, sem sombra de dúvida, é o atual Governador Geraldo Alckmin, que se destacou durante o período em que montamos o nosso partido, o Partido da Social Democracia. Saímos de um partido e fomos montar o PSDB sob a batuta de grandes líderes: Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, José Serra.

Aqui em São Paulo o partido foi montado basicamente pelas mãos do Governador Geraldo Alckmin, que acompanhou Mário Covas nas duas eleições e foi, na verdade, uma pessoa à altura para substituí-lo. Nos momentos em que Mário Covas tinha dificuldades, lá estava de plantão o vice-Governador Geraldo Alckmin, de maneira sempre muito cordata, tranqüila, sem açodar, sem querer aparecer - para ser mais popular na minha fala - sempre acompanhando os passos e as lições de Mário Covas.

Portanto o Governador Geraldo Alckmin, que dá continuidade a esse modelo de Governo implantado por Mário Covas, vem obtendo sucesso por conta dessa grande lição que todos aprenderam. Sem sombra de dúvida, Mário Covas faz falta a todos. O Brasil carece de Mário Covas. Dizem que algumas pessoas são insubstituíveis. Não tenho nenhuma dúvida de que Mário Covas é uma pessoa insubstituível.

Hoje os jornais publicaram uma foto muito grande, com uma frase da Fundação Mário Covas dizendo: ‘Mário Covas não se foi, pelo contrário. É extremamente atual na sua postura, no seu comportamento”, o que para nós é muito importante. Poucas pessoas conheceram o homem Mário Covas no seu dia-a-dia, a maneira como tratava as pessoas da terceira idade, aliás, quando Prefeito criou o passe do idoso, algo que mudou um pouco a relação com as pessoas de mais idade. Aos jovens, dedicava-se de forma muito próxima na busca da solução para algo, na facilidade de interlocução, na conversa, no diálogo fácil, mostrando que tínhamos de mudar o rumo político do Estado de São Paulo e do Brasil e para isso buscava forças onde fosse.

Completo neste ano 20 anos de vida pública, todo ele talhado, montado no Governo Mário Covas e jamais vi Mário Covas reclamar de quem quer que fosse, de quem pudesse aparecer como adversidade. Muito pelo contrário. Recordo-me que na sua última internação um jornalista perguntou: “Governador, o senhor não se queixa, o senhor está sofrendo demais com a doença e não reclama, não demonstra que estivesse chateado com o que está acontecendo”. E ele de forma muito tranqüila e serena disse: “Se Deus me deu o mais importante, a vida, como posso reclamar do acessório?”

Este, sem sombra de dúvida, era o Mário Covas, um grande talento que vamos guardar na nossa memória para sempre. Um homem que veio para ficar, e temos muito claro que estará presente nos atos praticados aqui nesta Casa Legislativa. Todos temos saudade dele, pois hoje completa um ano do seu falecimento, mas, sem sombra de dúvidas, a Fundação Mário Covas, que é extremamente importante para a política brasileira, não só vai mostrar os exemplos de Mário Covas, mas conseqüências dos exemplos que ele deixou a todos nós, brasileiros; mais do que isso, a sua família que sempre esteve ao seu lado, sempre entendeu a sua vida, ele que, na verdade, teve muito pouco tempo para se dedicar à família, mas sempre teve a sua família ao lado, amparando, acompanhando e de forma obstinada; Dona Lila Covas que foi nossa primeira dama, na verdade, mostrou um talento enorme, pois nos momentos difíceis estava ao lado do nosso Governador Mário Covas; seus filhos: Renata, Zuzinha, seu genro Pedro Lopes, seus netos: Gustavo e Bruno. Enfim, a toda a sua família Mário Covas fez mais do que isso, ou seja, dividiu não só com a sua família aquilo que aprendeu com a vida, mas dividiu com seus amigos, parceiros, que eram do seu partido político e que também não eram do seu partido político, mas mais do que isso eram seus amigos. Muito obrigado e que Deus o tenha. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Srs. Deputados, esta Presidência quer saudar efusivamente, de coração, e dar as boas vindas, manifestar a nossa alegria por tê-los entre nós, aos alunos da Escola Estadual “Professor José Nantala El-Baduê”, de Bragança Paulista, que estão acompanhados dos professores Sr. Antonio Carlos Regatieri e Sra. Marici Aparecida Oliveira Senoni, acompanhados pelo grande e querido Deputado Nabi Chedid.

O nobre Deputado Nabi Chedid é uma honra não só de Bragança, mas de todo o Estado de São Paulo, pois seu nome, sua atividade de muito já ultrapassou as nossas fronteiras. Representar esta Casa é importante, sobretudo de um povo tão digno como o de Bragança Paulista. Lá na minha querida cidade de Santo André quando se admitia um trabalhador na indústria fazia-se uma ficha para apreciar quem ele era; quando era de Bragança, de Tuiuti, de Pedra Bela, de Socorro, enfim daquela região não se fazia exames. Já estavam todos aprovados, porque a origem indicava a grandeza desse povo. A grandeza deste povo se reflete nesta Casa com o nobre Deputado Nabi Chedid.

Aos jovens estudantes as nossas boas vindas, a nossa alegria em tê-los aqui conosco. Vamos saudá-los com uma salva de palmas, pois é a maneira de traduzirmos a nossa alegria. (Palmas.)

 

O SR. NABI CHEDID - PSD - SEM REVISÃO DO ORADOR - Meu caro Presidente em exercício, nobre Deputado Newton Brandão, criatura que admiramos e respeitamos, meus caros companheiros Deputados, funcionários, imprensa, inicialmente quero falar sobre a presença desses jovens aqui.

O Parlamento de São Paulo instituiu o “Parlamento Jovem”. Uma vez ao ano faz-se o exercício com relação ao funcionamento desta Casa. Decidimos fazer um trabalho cívico, de importância, procurando trazer, periodicamente, jovens que vêm conhecer como funciona a Assembléia Legislativa de São Paulo.

Então, hoje esses jovens que estão aqui, alunos da Escola Estadual “Professor José Nantala El-Baduê”, chegaram à Assembléia Legislativa e lhes foi servido um almoço. Posteriormente, foram visitar todas as instalações da Assembléia Legislativa e tiveram uma reunião com a minha assessoria, comandada pelo Professor Mauro.

Eles sentiram e nós sentimos a curiosidade deles; queriam saber como funciona a Assembléia Legislativa, o porquê de determinados assuntos que foram elucidados. Tenho certeza que eles, acompanhados dos seus professores Sr. Antonio Carlos Regatieri e Sra. Marici Aparecida Oliveira Senoni, voltam à Bragança com uma outra visão do que é o Parlamento, do que são os Deputados. É pena que eles não possam ficar aqui - e dissemos isso a eles - depois das 16 horas e 30 minutos, quando se inicia a Ordem do Dia e quando a movimentação de Deputados é maior em plenário, pois neste momento os Deputados estão atendendo mais em seus gabinetes.

Estão levando, tenho certeza, uma impressão favorável e de grande importância para a juventude. Havia muita gente que não conhecia como funcionava a Assembléia Legislativa.

Quero saudá-los e vamos renovar esses convites permanentemente a esses jovens para que eles fiquem conosco por alguns momentos. Para nós que estamos aqui há quase 40 anos é um orgulho!

Sr. Presidente e Srs. Deputados, o nobre Deputado Campos Machado - posso dizer isso - fez um histórico, que não me cabe repetir mas relembrar, do nosso relacionamento com o Governador Mário Covas, falando da figura de Mário Covas. Eu que estou aqui há quase 40 anos convivi com 11 Governadores, cada um com as suas características e com seu estilo de trabalho. Aprendi muito, mas se no passado tive um relacionamento muito grande e mais próximo com o ex-Governador Paulo Egydio, de quem fui líder durante quatro anos, posso-lhes dizer que nesses seis anos em que convivi com Mário Covas aprendi a admirar uma criatura que transformou a administração pública de São Paulo.  Um político diferenciado, um homem leal, sincero, amigo e companheiro dos seus companheiros. Convivemos com Mário Covas nos momentos de tristeza, mas convivemos também nos momentos de alegria. Compartilhamos muito dessa alegria. Ele reconstruiu São Paulo e deu essa direção que hoje está sendo complementada pelo Governador Geraldo Alckmin, que fez e faz com que São Paulo olhe de frente com relação a qualquer Estado deste País. São Paulo foi o pioneiro na reorganização administrativa, na recomposição financeira do seu Estado. E isso só foi possível com Mário Covas, porque Mário Covas foi corajoso. Nos dois primeiros anos sofreu muito a injustiça, a incerteza e, por que não dizer, a falta de confiança daquilo que ele estava fazendo por grande parte dos políticos e da própria população. Ao final da sua vida, partiu e deixou aqui um legado muito grande.

Meu caro Presidente a quem estimo muito, deixou sim e hoje o Deputado Campos nos dizia que nos momentos que vivíamos em 98 - e foi verdade - ninguém acreditava porque estava em quarto lugar, que já era carta fora do baralho; mas compartilhamos e juntos reerguemos uma campanha, participamos desse reerguimento que permitiu que São Paulo continuasse tendo à frente esse grande homem que foi Mário Covas.

Hoje, meu caro Presidente, fomos a Santos com o Presidente desta Casa, Deputado Walter Feldman; com o Presidente estadual do partido, Deputado Edson Aparecido, com o Presidente nacional, Deputado José Aníbal e com o Deputado Luisinho, da nossa querida Tatuí e com outros companheiros numa visita singela mas que veio do fundo do coração. Fomos visitar o túmulo de Mário Covas pois hoje completa um ano de seu falecimento.

V.Exa. não imagina a emoção, lágrimas escorreram em nossa face ao relembrar o grande amigo. Dedicamos as nossas orações para que ele lá, ainda distante, possa nos transmitir sempre as lições de caráter, de nobreza, de amor ao próximo, de trabalho, de dinamismo que aprendemos. Sentimo-nos aliviados e revivemos grandes momentos com o grande amigo de quem temos sempre saudades e de quem vamos ter sempre. Somos aqueles amigos - e me considero um deles - que sempre estiveram ao seu lado. Muito obrigado.

 

A SRA. MARIÂNGELA DUARTE - PT - Sr. Presidente, Srs. Deputados e de um modo muito especial alunos e seus professores de Bragança Paulista que nos visitam e, portanto, podem tomar maior conhecimento daqueles espaços públicos que decidem as nossas vidas. Antes vocês pudessem estar sempre aqui e muita coisa boa e melhor poderia estar ocorrendo.

Não poderia deixar de usar a palavra quando se completa um ano do falecimento do ex-Governador Mário Covas. Na condição de representante da Baixada Santista, de moradora de Santos há 38 anos, onde criei meus quatro filhos e agora estou com cinco netos, eu queria dizer que todos nós de Santos e região, o povo do litoral, aprendemos a fazer política com Mário Covas. No tempo da resistência à ditadura foram muitos os exemplos de grandeza que Santos deu e por esta razão foi a cidade que mais tempo permaneceu sob a égide terrível e atroz da ditadura militar, porque esteve com os seus direitos de cidadania cassados, não podendo ser cidade em plenitude, com os líderes políticos todos cassados e com a triste memória do navio Raul Soares que aportou em Santos e a praça de guerra que lá se fez. Então, realmente, Santos tem ensinado história ao estado e ao país e com certeza Mário Covas é um desses vultos inestimáveis da história de Santos e do litoral.

Eu queria dizer aqui, então, em primeiro lugar, não como uma Deputada de oposição, mas como uma Deputada de Santos e região que este ano completo 14 anos de mandato e quero dizer a esta Casa, até na condição pessoal de parlamentar, o quão próximo fomos todos nós, independente de partidos, do gabinete do ex-Senador Mário Covas. O Senador Mário Covas foi sem dúvida nenhuma um dos maiores Senadores da República e todos nós do Partido dos Trabalhadores, sobretudo as lideranças de Santos e região, independente do colorido partidário, tínhamos como quartel general das nossas reivindicações, do nosso modo de conduzir a política o gabinete no Senado Federal do falecido Senador e Governador Mário Covas. Depois, a vida foi tomando outros caminhos. Integrante do PT nesta Casa e ele eleito Governador sempre soubemos fazer oposição com lealdade e vigor, mesmo quando um batia no outro havia um profundo respeito pelo caráter e a lealdade que transcendiam as questões de momento, as batalhas daquele horizonte, porque tínhamos uma história comum da qual nos orgulhávamos, ele como mestre e nós como aprendiz.

Quanta coisa aprendemos ali no gabinete do Senador Mário Covas. Era efetivamente um homem que nos ensinava sobre o porto. Ninguém conseguia dar uma aula sobre o porto como o Senador Mário Covas. Esse homem gozava de respeitabilidade nos gabinetes de Brasília qualquer que fosse, à época, o Governo .

Como santista precisávamos prestar este pleito ao Senador e ex-Governador. Tive sempre um carinho muito especial pelo Governador e todas as mulheres do PT detentoras de mandato sempre tivemos esse carinho com o Governador. Mas temos de exercer mandatos populares, com identidades próprias e partidárias e sempre soubemos fazer um bom combate. Mas como santista tenho buscado honrar, no exercício da política, o exemplo dos grandes santistas - José Bonifácio de Andrada e Silva, Esmeraldo Tarquínio, ex-Governador Mário Covas - só para darmos um salto enorme, pois seria impossível enumerar a grandeza dos políticos daquela terra. Sem dúvida Mário Covas foi um luminar nesse caminho.

Portanto, solidarizo-me à sua família, que tem profundas raízes em nossa terra, a sua filha Renata mora muito próximo ao local onde habito, sabemos onde a família mora, uma família digna, sempre amiga, que sempre soube entender o papel que representávamos. Temos de ter identidade mas nunca perder a lealdade de caráter.

Então, queria dizer que como qualquer santista, como qualquer cidadão, mas sobretudo como uma política de Santos e da Baixada, estamos muito tristes hoje quando lembramos um ano sem a presença do homem público Mário Covas.

Queremos estender a nossa solidariedade a todos os seus companheiros de partido e de jornada na presença do Líder do Governo Alckmin, Deputado Duarte Nogueira. Queremos estender a nossa solidariedade a toda família de Mário Covas e queremos dizer que Santos e seus políticos todos têm um tributo com este homem, com a sua história e jamais nos deixaremos abater em relação à missão que ele delegou a todos nós que é a luta pela democracia, a luta pela igualdade social. Se mudamos de caminhos o fizemos ambos com lealdade.

Portanto, como integrante do Partido dos Trabalhadores que tenho certeza de que sempre cumpri com lealdade o meu papel e nunca faltei com a responsabilidade pública na hora em que o Governador enviava para cá projetos que fossem importantes à comunidade, nunca cobramos, a não ser aquele que se restringia a direito à melhoria das condições de vida da nossa população. Portanto, descanse em paz, ex-Senador e ex-Governador Mário Covas, que a sua família e os seus companheiros saibam sempre que todos nós o admiramos, que a sua lição não foi vã, que hoje Santos, o litoral e todo Estado de São Paulo se encontram de luto.

Nós o respeitávamos como homem público e é este o respeito que venho manifestar em relação a um ano do seu falecimento. Muito obrigada.

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Srs. Deputados, pelo Regimento da Casa, entraríamos agora no Grande Expediente e concederíamos a palavra ao nobre Deputado Edson Aparecido. No entanto, esta sessão está se transformando em uma sessão homenagem. Aplaudimos, e muito, esta orientação que o Plenário deu a esta sessão.

Tem a palavra o nobre Deputado Duarte Nogueira.

 

O SR. DUARTE NOGUEIRA - PSDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, visitantes da Assembléia Legislativa e telespectadores da TV Assembléia, nesta tarde a Assembléia de São Paulo utiliza deste Parlamento, que é uma conquista da democracia e da sociedade e que, portanto, com todos os esforços, deve ser mantido não só sob o seu aspecto institucional, mas pelo que ele significa do ponto de vista da liberdade e das garantias dos cidadãos, sejam elas de natureza individual ou coletiva.

O nobre Deputado Newton Brandão, que explicou há instantes que esta sessão é uma sessão/homenagem, dá-nos a liberdade, sem o regramento do tempo, de podermos falar sobre os nossos sentimentos, a nossa relação, o nosso convívio com o nosso saudoso e inesquecível Mário Covas.

Sr. Presidente, inicialmente tive a oportunidade de conhecer o extraordinário Mário Covas, como cidadão comum, como estudante, como jovem do interior, pela literatura e pelos fatos que sempre foram contados, sobretudo por aqueles que participaram mais ativamente da vida política do nosso País, que sempre encontraram não no homem Mário Covas, mas nas ações do homem Mário Covas, homem de luta e de fibra, uma postura e uma coerência inigualáveis. Ao mesmo tempo, Mário Covas foi um fervoroso, eterno perseverante defensor da democracia e, sobretudo, da liberdade.

Defesa essa que inclusive, em determinado instante da vida pública, ainda na sua fase tenra da luta política enquanto Deputado federal, em Brasília, com trinta e poucos anos de idade, era líder da oposição e pela sua postura franca, aberta, leal e democrática, num momento de exceção no nosso País, num momento de cerceamento das liberdades, teve aquilo que deve ser sempre abominado por qualquer cidadão que sobrevive numa democracia e que por ela luta. Teve o seu mandato cassado de maneira autoritária e arbitrária, quase que uma afronta aos direitos da sociedade em escolher os seus representantes no conjunto das instituições políticas.

Nesse período, o povo brasileiro esteve ceifado da sua vida política durante alguns anos até o início da abertura, o início das liberdades, o início da redemocratização do País, então o povo brasileiro, em especial o povo de São Paulo, fez de Mário Covas o Deputado federal com uma das maiores votações que este Estado já consagrou, um filho ilustre da cidade de Santos, posteriormente o Governador Montoro o fez Prefeito da Capital, em seguida foi eleito Senador, com a maior votação nas urnas de 1986 até então não obtida por nenhuma outra pessoa. Posteriormente, fez de Mário Covas seu Governador por duas vezes consecutivas, eleito pelo voto popular.

Mais do que as vitórias eleitorais, o nosso estimado Mário Covas nos deu uma verdadeira lição de vida, não só sob os aspectos da sua coerência, dos seus ensinamentos enquanto ardoroso defensor daquilo que é mais caro para o povo, mas sempre com muita obstinação e pertinácia. Mário Covas demonstrou nos cargos executivos que teve oportunidade de ocupar, como Prefeito da maior cidade da América Latina e, sobretudo, como Governador, a sua vocação para a vida pública e ao mesmo tempo uma vocação para ser um grande professor de todos nós.

Pessoalmente, sinto-me privilegiado, talvez um privilégio que possa classificar como um dos maiores da minha vida, o fato de ter sido seu Secretário de Habitação do Estado no seu primeiro Governo, a partir de 1995.

Naquela oportunidade, tive o prazer de conviver diariamente com a administração de São Paulo ao lado do Governador, observando a sua firmeza e a sua obstinação em realizar coisas que hoje quase são corriqueiras, como a questão do ajuste fiscal e o equilíbrio de contas. Mário Covas já fazia isso lá atrás, desde que começou a ser Governador do Estado.

Portanto, nesta tarde, quero reverenciar a memória dessa figura ilustre. O Brasil há um ano perdia Mário Covas, perdia do ponto de vista da sua presença física, mas os seus ensinamentos, não aqueles que foram inseridos na literatura do processo administrativo ou político do nosso País, mas os ensinamentos que foram realizados na prática diária de quem faz da militância política algo sério, com decência e seriedade, serviu e continuará servindo para todos nós de baliza, de exemplo, para que a ética, a decência e a seriedade na condução das coisas públicas possam ser cada vez mais utilizadas na direção do bem comum, que as práticas do mau uso dos cargos públicos possam de fato ser cada vez menos utilizados por pessoas mal intencionadas e que acabam ingressando na vida política.

Deixo aqui a certeza de que Mário Covas foi um dos maiores políticos e um dos maiores homens públicos que este País já teve oportunidade de possuir, porque deixou para todos nós um legado e uma vida de luta constante. Fica aqui de todos nós, seus amigos, seus admiradores, a mais profunda gratidão e ao mesmo tempo a saudade.

Quero deixar também aos seus familiares, à Dona Lila e aos seus filhos, o conforto da esperança de que onde quer que ele esteja, ao lado do Criador, possa estar nos olhando e orientando as nossas atividades em função daquele espírito de muita luz que sempre o conduziu.

Tive a oportunidade de participar de um evento na Câmara dos Deputados, em Brasília, local onde o Governador teve a sua vida pública mais aguerrida como Deputado e como Senador. Alguns marcos ficaram, pela sua firmeza, pela sua conduta e pelo seu uso da palavra que era algo que ele sempre colocava como a coisa mais importante que um político tem que preservar.

Uma vez dada a palavra, uma vez a palavra solta e dita, ela deve ser da melhor maneira possível preservada e honrada. Não há lugar na vida política de um país democrático onde a palavra tem de ser empenhada e utilizada, ao máximo possível, na busca do debate das idéias, no confronto do contraditório, mas com o objetivo de buscar o bem comum, que é no Parlamento. No Parlamento, onde Mário Covas se consagrou, no Parlamento onde sempre defendeu a democracia e a liberdade.

Quero encerrar meu pronunciamento com uma frase utilizada pelo Governador Mário Covas em seu discurso, quando fazia a defesa do então Deputado Márcio Moreira Alves que tinha sido cassado pela ditadura. Discurso esse que foi a gota d’água para que o próprio Mário Covas também tivesse o seu mandato político ceifado.

Ali ele invocava a sua crença nos valores maiores do nosso País; invocava a sua crença nos valores maiores da democracia, e com toda a certeza, aquele discurso, pela credibilidade que Mário Covas sempre teve, aquele discurso pela maneira com que ele ecoou, atravessando as paredes do Congresso Nacional, tomando as ruas e causando grande preocupação naqueles que tomavam conta do País naquele instante, e que fez com que Mário Covas fosse cassado.

Num determinado instante Mário Covas pronunciou as seguintes palavras: “Creio no Parlamento, apesar de todas as suas demasias e fraquezas, que só se resolverão se o sustentarmos livre, soberano e independente - 12 de dezembro de 1968.”

Com essas palavras encerro o meu pronunciamento, no desejo de que não só a nossa geração, não só os nossos contemporâneos possam se espelhar na figura, obra e trajetória desse homem Mário Covas, mas espero que as futuras gerações possam honrar este País, como o fez Mário Covas, tenham nele um exemplo que todos nós temos e continuaremos a ter durante toda nossa vida. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. CARLINHOS ALMEIDA - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, cidadãos de São Paulo que acompanham através da TV Assembléia esta sessão de homenagem à memória do ex-Governador Mário Covas, não poderia deixar de usar a palavra nesta cerimônia porque todos sabem que o Partido dos Trabalhadores, durante os dois Governos, sobretudo o primeiro Governo Mário Covas fez oposição nesta Casa, ao Governo Mário Covas e do PSDB.

Sempre questionamos, apresentando alternativas; questionamos as prioridades, a linha, o projeto político de Governo implementado pelo Governador Mário Covas, com o qual não concordávamos.

Há pouco este Deputado conversava com o Deputado Duarte Nogueira que apesar disso o PT, através das suas mais importantes lideranças, expressou uma opção de voto a Mário Covas no segundo turno das eleições de 98, superando até mesmo dificuldades muito grandes em função de como se deu aquele processo em que a então candidata Marta Suplicy, por muito pouco, não esteve no segundo turno.

Lideranças como a própria hoje Prefeita Marta Suplicy, o Senador Eduardo Suplicy, Deputado José Genoíno, o Presidente de Honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, externaram em 98 voto em Mário Covas, que foi inclusive na minha opinião muito importante para que pudéssemos naquele momento derrotar o risco que tínhamos do retorno do malufismo ao Governo de São Paulo.

Por que fizemos essa opção naquele momento? Não foi uma posição partidária, mas as principais lideranças do PT assim procederam. O que nós, em primeiro lugar queríamos evitar, aquilo que entendíamos que seria muito ruim para o Estado, o retorno do malufismo.

Em segundo lugar, porque, apesar de todas as diferenças e divergências que tivemos de projeto com o Governador Mário Covas, sempre reconhecemos nele qualidades fundamentais para um homem público.

Queria ressaltar aqui apenas uma dessas qualidades: Mário Covas era um homem da democracia; era um político que durante toda a sua vida defendeu a democracia, que foi uma conquista dura do povo brasileiro, em que muitos inclusive perderam a sua vida; muitos tombaram neste País, no regime militar, lutando para que pudéssemos ter eleições diretas, partidos livres, debate, casas legislativas funcionando e alternância no poder.

Este que foi um compromisso da vida do Governador Mário Covas é algo que o distingue em nosso País e o coloca, sem dúvida alguma, no elenco dos grandes homens públicos desta Nação.

Sem dúvida, Mário Covas deu uma contribuição com a sua vida e seu trabalho à democracia do Brasil. Só por isso já mereceria uma justa homenagem neste um ano após o seu falecimento.

Sr. Presidente, encerramos dizendo que cada vez mais os homens públicos, os partidos políticos e as casas legislativas têm que buscar exercer a sua missão e o seu trabalho com uma grande visão buscando o interesse público. Buscando também construir o interesse público através do diálogo e do debate; num debate muitas vezes com bastante energia e calor; é fundamental para o nosso País e para o aperfeiçoamento da nossa democracia.

Sempre encontramos no Governador Mário Covas esta qualidade e este compromisso e sempre travamos com S. Exa. o debate, dialogamos, e esse diálogo sempre se manteve nos marcos do interesse público e da sociedade, no marco das idéias, no marco que eu acho que deve pautar sempre a atuação de todos os partidos políticos, de todos aqueles de alguma forma têm uma atuação na vida pública.

Acho que este legado Mário Covas deixa para São Paulo e para o Brasil. De maneira que não poderíamos também deixar aqui de prestar esta homenagem ao Governador Mário Covas.

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Antes de o próximo orador assomar à tribuna, queremos com satisfação informar a presença entre nós dos ilustres Vereadores Antônio Carlos Miola Júnior, Amarildo Angelo Martini. Para manifestar a nossa alegria, vamos saudá-los com uma salva de palmas. (Palmas.)

Tem a palavra o nobre Deputado Gilberto Nascimento

 

O SR. GILBERTO NASCIMENTO - PSB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, telespectadores da nossa TV Assembléia, leitores do “Diário Oficial”, Sr. Presidente, quero registrar também a presença do Prefeito de Mariápolis, acompanhado do vice-Prefeito e um dos mais influentes vereadores da cidade. Levem o nosso abraço, a nossa saudação a todo aquele povo trabalhador de Mariápolis. Peço uma salva de palmas aos nossos colegas. (Palma.)

Hoje completa-se um ano em que o Brasil perdeu um grande homem, um amigo, alguém que trouxe muita esperança ao povo brasileiro e a São Paulo. Há um ano o Brasil perdia o grande Governador Mário Covas. Dizia Tancredo Neves: “Na política o exemplo é mais importante que o discurso”.

Mário Covas foi exemplo de homem púbico a ser seguido. Conheci-o ainda no MDB, em 79, início dos anos 80, pelos seus discursos, pelo seu trabalho, pelos seus exemplos, nas reuniões do partido, já PMDB, quando foi Presidente do partido.

Mário Covas tinha idéias firmes, pensava e trabalhava para diminuir as distâncias sociais. Aquilo que impressionava muito. Na época tinha 24 anos e comecei a ver em Mário Covas alguém em quem poderia me mirar e nos ajudar com seus exemplos.

Logo depois fui candidato a vereador e Mário Covas a Deputado federal, tendo sido eleito o Deputado federal mais votado.

Eu eleito Vereador, Mário Covas foi indicado pelo ex-Governador Franco Montoro, com aprovação desta Casa, para ser o Prefeito de São Paulo. Foi aí que travamos um relacionamento mais próximo, eu como líder do PMDB e Mário Covas Prefeito, homem do PDMB. Naquela época passei a ser um grande admirador de Mário Covas pelo seu trabalho de mutirão nesta cidade. Questionávamos que esses mutirões não levavam a nada e ele me disse: “Gilberto, olha como o vizinho do lado esquerdo se comunica com o vizinho do lado direito, eles não se conheciam e através do mutirão estão conversando, tornaram-se amigos. A sociedade fica mais justa, o relacionamento fica melhor.” Mário Covas foi nos ensinando com sua história, com seus exemplos.

Mário Covas quando assumiu a Prefeitura, reduziu os preços de todas as obras em 40%. Abriu a possibilidade para que as pequenas empresas pudessem realizar obras na cidade. Mário Covas conversou com todos os segmentos da sociedade.

Passados 33 meses de Governo no Município de São Paulo, quando fez desta cidade um canteiro de obras, ganhou para Senador com a maior votação que um Senador teve até hoje em São Paulo e no Brasil. No Senado foi Líder da Constituinte. Enfrentou momentos de dificuldades. Como líder da bancada majoritária na Assembléia Nacional Constituinte, ignorou todo tipo de pressão e conseguiu com que as votações que se estabeleciam na nova Carta mantivessem coerência com a vontade expressa da maioria do povo. Mário Covas, orador vibrante e convincente, exemplo das melhores virtudes que um estadista pode ter.

Será que estas são as imagens mais fortes deixadas por Mário Covas? Não. Creio que há outra mais vigorosa, mais cheia de calor humano: a imagem de Mário Covas amigo das pessoas mais simples.

Quando Prefeito, íamos aos mutirões, entrávamos em favelas. Às vezes, vendo que no fogão não havia sequer panelas, percebendo que a pessoa não tinha um centavo para comprar um pãozinho - isso chamava muito a minha atenção - ele nunca saía sem antes deixar à pessoa alguns reais para que pudesse, pelo menos, comprar o pãozinho às crianças no fim do dia.

Mário Covas era amigo das pessoas mais simples, com quem conversava de igual para igual, gostava de conviver com os mutirões, que eram centenas pela cidade ou no que mais gostava de fazer como Governador: entregar milhares de casas populares na Capital e Interior.

Deputado Dimas Ramalho, quando V.Exa. foi Secretário da Habitação, pôde ver a felicidade de Mário Covas ao entregar a chave de uma casa para alguém. A pessoa batia no peito e dizia: agora tenho onde morar.

Amigo que não era menos amigo quando discutia, quando enfrentava, quando era atingido por ovos ou por pedras para não abrir mão do direito de governar junto do povo, sem deixar de ouvir protestos, reclamações, sem se calar quando precisava dizer a verdade.

Amigo que não era menos amigo quando dizia não às reivindicações que considerava justas mas impossíveis de serem atendidas, quando se mantinha intransigente na defesa da austeridade do Governo, enfim, quando precisava ser duro, embora tivesse o coração mole.

Mário Covas, amigo sincero e leal. Continuará presente em nossas vidas e em nossos corações por seus exemplos de luta. Nunca se dobrou na defesa da liberdade, da verdade, da seriedade, presente por seu exemplo de atenção e amor aos menos favorecidos. A medida de um homem público é dada por suas obras, sobretudo por seus valores.

A verdadeira dimensão de Mário Covas não foi apenas construída com cimento e cal, mas também por princípios, aos quais foi incondicionalmente fiel ao longo de toda vida; a dedicação à causa pública; o amor à justiça; o apreço à democracia, a coragem pessoal e política. Cada brasileiro, cada paulista há de homenageá-lo neste seis de março, multiplicando o seu exemplo de honradez e dignidade.

Senhores, lembro que naquele dia seis de março, quando Mário Covas veio a falecer, o Brasil chorou. As pessoas sofreram juntas durante todos aqueles dias em que ele passou lutando contra a enfermidade, contra aquela doença que acabou por vencê-lo, mas Mário Covas em nenhum momento dava o braço a torcer; em nenhum momento ele deixava que a tristeza, a angústia e a falta de esperança pudessem contaminar as pessoas que estavam ao seu lado.

Lembro-me ainda de Mário Covas despachando no Palácio já nos seus últimos dias, com muita dificuldade, trazendo uma mensagem de otimismo, de coragem. Enfim, a nossa vida pública tornou-se mais pobre, perdeu um grande batalhador, aquele que era o referencial para muitos de nós. Porém, o que nos resta neste dia seis de março, quando se completa um ano da morte desse homem Mário Covas, resta-nos estar pedindo a Deus que realmente venha dar muita força à nossa querida Dona Lila, aos seus filhos e para que possam, mesmo nas suas lágrimas, entender que o Brasil chora com eles por lembrar-se, nesta data, daquele que nos faz muita falta.

Portanto, muito obrigado, boa tarde aos senhores e que Deus possa estar realmente abençoando cada um de nós e fortalecendo os nossos corações!

 

O SR. DIMAS RAMALHO - PPS - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, senhores funcionários, senhores telespectadores, assomo a esta tribuna em meu nome pessoal e em nome do PPS, partido do qual sou líder nesta Casa, para, assim como fizeram tantos Srs. Deputados nesta tarde, registrar o nosso respeito, o nosso apreço, a nossa doce lembrança de um brasileiro paulista, santista, que, com certeza, marcou e marcará muito a vida política institucional pública do nosso País.

Sr. Presidente, tive a oportunidade de acompanhar à distância, durante um período, a luta do Governador Mário Covas e ainda leio a sua biografia, acompanhando a sua atuação enquanto líder da oposição ao regime militar, com 30 e poucos anos, no Congresso Nacional como Deputado federal. Cassado que foi, voltou à sua cidade, voltou ao seu Estado para exercer a função de engenheiro, na vida privada, criar a sua família. Posteriormente, foi de fundamental importância na construção de partidos democráticos que lutaram pela redemocratização do nosso País. Eleito Deputado federal, foi Secretário dos Transportes, foi Prefeito da Capital, foi Senador da República com uma votação recorde em todo o nosso País. Na Constituinte, a voz do Senador Mário Covas sempre foi a voz do equilíbrio, do bom senso, junto do interesse público.

Posteriormente, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o Governador Mário Covas foi eleito Governador e construiu uma forma muito importante de administrar o dinheiro público, com seriedade, com dignidade, sendo muito firme nas posições que sempre defendeu de que o dinheiro do povo deve ser aplicado com todo o cuidado e respeito.

Quero dizer, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que neste momento, após um ano da morte de Mário Covas, muitas pessoas começam a se esquecer, não se lembram mais dos fatos, mas é assim mesmo porque o tempo passa muito rapidamente; as pessoas mudam, as preocupações são outras, o dia-a-dia nos leva a não olhar para trás com o cuidado que devemos olhar. O tempo sempre vai dar a dimensão exata do tamanho das pessoas. Se há um ano vimos multidões chorando pela morte do Governador, é evidente que, passado um ano, devemos rememorar a todo o instante que a sua memória deve ser preservada, cultuada, divulgada, porque neste momento estamos aqui vendo o quanto é difícil ter uma atividade política correta, defendendo princípios e idéias. Nesse sentido, o Governador Mário Covas foi um político por excelência.

Quero dizer que na biografia política há um fato que muito me orgulha e que, com certeza, é motivo de muito respeito e satisfação que é ter sido auxiliar do Governador Mário Covas como Secretário da Habitação. Além de todas as qualidades do Governador Mário Covas, homem sério, honesto, nunca discriminava qualquer partido político, tendo claro na sua cabeça, no dia-a-dia, o que era ser Governador de todos os paulistas, para todos os partidos. Mas se alguém me perguntasse também de um lado que muita gente não conheceu ou não teve a oportunidade de conhecer - e eu tive a oportunidade de conhecer - era o lado afetivo, humano, de um pai, de um amigo que tinha diante de si desafios enormes e os vencia com muita tranqüilidade.

Mais do que isso, uma coisa que sempre chamou a atenção durante o tempo em que trabalhei com o Governador Mário Covas: o profundo respeito que ele tinha para com as pessoas mais carentes. Era um Governador que odiava o elogio fácil, que não gostava das festas em que eram louvadas personalidades; era um Governador que tinha contato direto com a população nos mutirões, nas entregas de casas populares, enfim era um Governador que tinha um respeito profundo pelo maior sentimento de democracia que era o respeito ao voto popular, ao contato com o povo e com a população.

Por isso, neste momento em nosso País, de encruzilhadas, momento pré-eleitoral em que vamos, sim, para embates políticos com todos os partidos, Deputados e Governadores, será bom para o Brasil e para a democracia que comecemos a nossa disputa política tendo como lembrança um democrata que disputou todos os cargos mas que tinha diante de si a capacidade de entender, de transigir e, sobretudo, de respeitar o princípio de que é do povo que vem o poder que nos elege.

Neste momento, Srs. Deputados, nobre Deputado Luis Carlos Gondim, Líder do PV nesta Casa, em nome do PPS, em meu nome pessoal, como ex-Secretário de Estado do Governador Mário Covas quero dizer que, passado um ano, resta uma lembrança muito forte da sua força, da sua presença e cada dia mais ele nos mostra que os homens não são iguais e por isso mesmo os políticos não são iguais.

Se um dia pudermos escrever a biografia dos grandes políticos deste País não tenho dúvida nenhuma de que pelo exemplo, pela vida, pela luta, pela obra, pela coerência - sobretudo coerência, tão difícil no meio partidário - , poderemos dizer que Mário Covas realmente foi um grande exemplo.

Fica aqui registrada esta homenagem a esse grande estadista, esse grande homem público. Sem dúvida nenhuma todo ano estaremos aqui invocando a sua memória e reiterando que queremos ver este País crescendo, este Estado crescendo. Tenho certeza de que o Governador Geraldo Alckmin, que herdou este Estado, continua com os princípios do Governador Mário Covas, e queremos deixar claro a todo instante que é com homens assim que construímos a democracia e é com exemplos assim que queremos consolidar a democracia social em nosso País. Obrigado, Sr. Presidente e Srs. Deputados.

 

O SR. LUIS CARLOS GONDIM - PV - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente e Srs. Deputados, senhoras e senhores durante aproximadamente três anos como candidato a Deputado estadual e depois já eleito como Deputado estadual convivemos com o Governador Mário Covas e tínhamos a informação do seu caráter, da sua grandeza, da sua dureza como Vereador que fomos na cidade de Mogi das Cruzes.

Realmente passamos a ter um respeito por essa pessoa que nos deixou há um ano, por este homem público até pela maneira de nos tratar e de tratar a todos. Algumas vezes, ao despachar com o Governador, ele dizia: “ Não faço. Eu faço. Posso. Não posso.” Ele dizia “ na lata “o que tinha a dizer.

A princípio ficávamos chocados e tentávamos argumentar no sentido de que o que nós estávamos pedindo era interessante para a população e ele fazia o julgamento do que poderia ser bom para a população mas imediatamente dizia que a condição financeira não permitiria. O Governador sempre elogiou o nosso Partido Verde e os nossos dirigentes e o Partido Verde tem um sentimento muito grande para com ex- Governador Mário Covas que nos deixou há um ano.

Usamos a palavra, hoje, para demonstrarmos os nossos sentimentos pelo seu falecimento ocorrido há um ano e dizer que foi muito bom conviver com um homem tão ilustre como o Governador Mário Covas. Obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PEDRO MORI - PSB - Sr. Presidente, havendo acordo entre as lideranças presentes em plenário, a suspensão da sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - NEWTON BRANDÃO - PTB - Convocação : “Srs. Deputados, nos termos do artigo 100, inciso I, da X Consolidação do Regimento Interno, convoco V.Exas. para uma sessão extraordinária a realizar-se hoje, às 19 horas, com a finalidade de ser apreciada a seguinte Ordem do Dia: - PEC nº1, de 2002, do Deputado Arnaldo Jardim e outros, que versa sobre imunidade parlamentar.”

Srs. Deputados, esta Presidência pede licença a V. Exas. para suspender a sessão por 10 minutos.

Está suspensa a sessão.

 

* * *

- Suspensa às 16 horas e 15 minutos, é reaberta às 16 horas e 39 minutos, sob a Presidência do Sr. Walter Feldman.

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - WALTER FELDMAN - PSDB - Esta Presidência agradece a todos os Srs. Deputados que aproveitaram esta oportunidade para fazer uma grande homenagem ao amigo, político, ao ser humano Mário Covas, sempre Governador do Estado de São Paulo.

Deputado Newton Brandão, V. Exa. que tem sido contumaz na defesa dos interesses da população, não só da sua região, mas do povo do Estado de São Paulo, peço permissão, neste momento, para ler um pronunciamento a respeito daquele que dignificou a vida pública em nosso País.

 

“Covas e as palavras

 

A tradição brasileira é a de considerar como belos discursos aqueles feitos com metáforas inusitadas, longas citações, do tipo que arranca lágrimas da platéia.  Retórica assume na nossa cultura o inusitado significado de fazer discursos que emocionam o público e, no limite, são demagógicos.

Inusitado porque o sentido exato é exatamente o contrário.  Retórica, tal como era concebida pelos gregos, era justamente a capacidade de argumentar de forma racional e lógica, afastando de todo o caráter emocional da discussão para se ater apenas ao que era essencial e concreto.  Não foi por outro motivo que Aristóteles traçou uma oposição entre a Arte Retórica e a Arte Poética, a primeira sendo a arte de falar à razão, a segunda à emoção.  Uma pertencente ao campo da política, a outra às artes estéticas.

Mário Covas, que há um ano nos deixou fisicamente, mas cuja presença e exemplo jamais nos deixará, era talvez um dos poucos capazes de fazer esta distinção com grande competência.  Era um homem da palavra, uma liderança que inúmeras vezes conseguiu alterar as decisões com a palavra, com um discurso mudou mais de uma vez os rumos do país.

Mas a palavra para ele não era algo que pudesse ser usado fora dos padrões da ética e dos princípios da verdadeira retórica.  A verdade estava para ele indissoluvelmente ligada à palavra, uma não era capaz de se distinguir da outra.  Não cultivava a palavra fácil, não utilizava de sua capacidade no manuseio da palavra nem para só dizer as palavras fáceis que todos querem ouvir nem para ludibriar os ouvintes, adorava discutir porque acreditava em todo o potencial da discussão para que a luz fosse encontrada.

Muitas vezes seus adversários ironizaram sua voz e seu jeito de falar, também não faltaram aqueles que tentaram domar sua capacidade de usar as palavras, mas Covas manteve-se fiel ao seu estilo.  Homem pautado pela razão, sua famosa teimosia que tanto comentam nada mais era que seu apreço a ela, só bons argumentos muito bem demonstrados eram capazes de dar a ele motivos para mudar de opinião.

Não era turrão, como dizem, mas obstinado em fazer o que achava certo e em defender os pontos de vista que considerava adequados.  Tinha aquela qualidade rara que só os verdadeiros líderes têm que é a de guiar, não ser guiado.  Para ele o poder não faria sentido se não fosse para cumprir um programa que considerava o melhor para todos, em especial para os mais humildes.

Era, enfim, um bom exemplo a qualquer um que sinta o chamado para se tornar homem público preferindo o caminho da solidez aos atalhos fluidos que tanto se abrem à frente.  Orador brilhante que não prostituía a palavra com apelos emocionais ou falsos, democrata que não confundia servir o povo com adular as massas, Estadista que entendia que o poder era apenas um meio e não um fim em si; este é o legado de Covas para todos aqueles que compreendem a importância de seu papel na história.”

 

Agradeço a todos os Srs. Deputados pela contribuição histórica que deram à sessão de hoje.

 

O SR. NEWTON BRANDÃO - PTB - Permita-me, Sr. Presidente, cumprimentá-lo pelas belas e inesquecíveis palavras.

Acredito que os Srs. Deputados, como este que está aqui, vão levar no coração e na memória o seu pronunciamento.

Sr. Presidente, havendo acordo entre as lideranças presentes em plenário, solicito o levantamento da presente sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - WALTER FELDMAN - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental, antes, porém, por acordo dos senhores líderes, quero reiterar a convocação da sessão extraordinária a realizar-se às 19 horas com a finalidade de apreciar a PEC nº 1, 2002, do Deputado Arnaldo Jardim e outros, que trata da imunidade parlamentar. Mais um avanço no sentido do que se denominou de pacote ético que está sendo produzido em todo o país e dá aos políticos o instrumento de tamanho adequado para fazer valer a sua opinião, a sua voz e o seu voto.

Diz o Sr. Auro que é mais um ato pioneiro da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

Esta Presidência convoca V. Exas. para a sessão ordinária de amanhã, à hora regimental, com a mesma Ordem do Dia e dá por levantada a sessão.

            Está levantada a sessão.

 

* * *

 

-         Levanta-se a sessão às 16 horas e 46 minutos.

 

* * *