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11 DE AGOSTO DE 2000

23ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO DO “JORNAL DE PIRACICABA”

 

Presidência: ROBERTO MORAIS

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 11/08/2000 - Sessão 23ª S. Solene  Publ. DOE:

Presidente: ROBERTO MORAIS

 

COMEMORAÇÃO DO CENTÉSIMO ANIVERSÁRIO DO "JORNAL DE PIRACICABA"

001 - ROBERTO MORAIS

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Anuncia que a sessão foi convocada pela Presidência da Casa, atendendo a solicitação do Deputado, ora na Presidência, com a finalidade de comemorar o Centésimo Aniversário do "Jornal de Piracicaba".  Convida todos a ouvirem o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - JOÃO HERRMANN NETTO

Deputado federal, cumprimenta o Presidente Roberto Morais e demais autoridades, ressaltando a figura da diretora do "Jornal de Piracicaba", Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso. Aborda a vida de homens e mulheres, nos últimos cem anos, completos a 04/08, que labutaram naquele jornal.

 

003 - FERNANDO MAURO MARQUES SALERNO

Como Presidente da Associação Paulista de Jornais e diretor-responsável pelo jornal "Vale Paraibano", congratula-se com o centenário do "Jornal de Piracicaba".

 

004 - NOBUMITSU CHINNEN

Na qualidade de Presidente do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Estado, homenageia o centenário do "Jornal de Piracicaba". Entrega uma placa do Sindjori à Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso.

 

005 - MARCELO BATUÍRA DA CUNHA LOSSO PEDROSO

Como diretor do "Jornal de Piracicaba", conta a história da imprensa em Piracicaba, e do contexto ideológico e político que a cercou.

 

006 - Presidente ROBERTO MORAIS

Solicita que sua esposa, Sra. Nilva Maria B. Morais, preste homenagem à Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso.

 

007 - ANTONIO CARLOS DE MENDES THAME

Secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras, na oportunidade representando o Governador do Estado, saúda as autoridades. Enaltece o 'Jornal de Piracicaba', que defende os mais elevados ideais da cidade e região, do Estado e do País, há cem anos, confundindo-se com a história de Piracicaba.

 

008 - Presidente ROBERTO MORAIS

Disserta sobre o tema: "Jornal de Piracicaba": Protagonista de nossa história".

 

009 - ANTONIETA ROSALINA DA CUNHA LOSSO PEDROSO

Na qualidade de Diretora do "Jornal de Piracicaba", agradece a todos que vieram comemorar a data e vieram trazer seu abraço amigo.

 

010 - Presidente ROBERTO MORAIS

Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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         - É dada como lida a ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente da Casa, Deputado Vanderlei Macris, atendendo solicitação desta Deputado, com a finalidade de comemorar o Centésimo Aniversário do Jornal de Piracicaba.

Convido todos, para, de pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro executado pela Banda da Polícia Militar.

 

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- É executado o Hino Nacional.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Esta Presidência anuncia as autoridades presentes neste ato: Exmo. Sr. Antônio Carlos Mendes Thame, Secretário Estadual de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras, representando nesta solenidade o Exmo. Sr. Mário Covas, Governador do Estado de São Paulo; Exmo. Sr. Deputado Federal, João Herrmann Netto; S.Exa. Revma. Dom Eduardo Koaik, Bispo Diocesano de Piracicaba;  Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso, Diretora do Jornal de Piracicaba.

Iniciando a sessão solene, concedemos a palavra ao nobre Deputado Federal, João Herrmann Netto.

 

O SR. JOÃO HERRMANN NETTO - Sr. Presidente, orgulha-nos muito ter um filho da nossa região, da cidade nos representando na Assembléia Legislativa de São Paulo, a exemplo do sempre Deputado Jairo Mattos, presente nesta solenidade. Na pessoa de V. Exa., Sr. Presidente, eu cumprimento o nobre Deputado Vanderlei Macris, por concordar com a iniciativa de V. Exa., nobre Deputado Roberto Morais, na homenagem que presta ao Jornal de Piracicaba.

Ao Sr. Secretário de Recursos Hídricos, Antônio Carlos Mendes Thame, peço que leve a homenagem do povo de Piracicaba ao Sr. Governador, Mário Covas. Na pessoa  de Dom Eduardo Koaik, Bispo Diocesano de Piracicaba, tenho balizado muitos dos atos sociais que me incumbiam os mandatos que o povo me concedeu. 

Deixei por último, a figura da Diretora proprietária do Jornal de Piracicaba, filha de um homem com quem durante largo período de sua vida convivi por obrigações constitucionais, eu como Prefeito de Piracicaba, ele como diretor de um órgão de imprensa, que não me poupou críticas no sentido de que o jovem que assumia a Prefeitura de Piracicaba desenvolvesse um mandato em favor das causas que em nome da cidade sempre defendeu. A você Antonieta, o abraço e o carinho de um cidadão piracicabano,  por ordem e graça da Câmara Municipal de Piracicaba, já que campineiro sou.

Escrevi dois artigos sobre o aniversário do jornal de Piracicaba e fiz um discurso que não é do meu feitio, escrito, para a sessão de terça-feira próxima futura em Brasília, onde por orientação do Deputado José Machado -  aliás me esqueci aqui de citar o nome do meu Prefeito de Piracicaba e meu ex-professor, Humberto de Campos a quem na diagonal não havia visto e me omiti - mas, como dizia, por homenagem que o Deputado José Machado faz, terça-feira haverá uma sessão solene na Câmara dos Deputados, em Brasília e  preparei um discurso onde abordo assuntos da história do jornal de Piracicaba e, mais ainda, da história  da imprensa brasileira. Aqui eu me permitiria abordar, de forma diferente, o jornal de Piracicaba e a vida de homens e mulheres nos últimos cem anos completos a 4 de agosto. Afinal de contas aqueles que não são do interior como eu - e vejo aqui no pessoal da Assembléia e alguns juizes que aqui estão - estamos falando de 20% da história do Brasil, um país que completa quinhentos anos,  Aliás completou de forma não muito sobranceira para a história do nosso povo, já que se festejou o colonizador e não o homem que habitou e que habita esta terra, mas de qualquer forma comemoraram-se quinhentos anos em que o Brasil teve a presença do português em nossas costas.  O jornal de Piracicaba completa cem anos, portanto, 20% e no interior, onde nem sempre as forças da liberdade puderam quebrar os grilhões que os poderosos impunham. Falo porque o senti há menos de vinte anos; saber o que é representar interesses - e permanecer vivo - que não são os interesses daqueles que desejam a sua liberdade de expressão exposta, num país tão castigado pela sua falta de liberdade, é essa história de cem anos. E eu a posso freqüentar, quem vos fala daqui desta tribuna, numa Casa como esta, pode dizer que freqüenta. De quando cheguei à Presidência do centro acadêmico de Piracicaba, de 1968 até hoje,  são trinta e dois anos da história desse jornal. Foi o Jornal de Piracicaba - e aqui vai o velho e cansado comunista, hoje nem mais o sou, mas ainda perseguidor das idéias sociais - o primeiro, talvez a Antonieta nem se lembre disso, a falar de Biafra. Lembram-se os senhores de Biafra.   Levei o embaixador da Nigéria até o Jornal de Piracicaba que abriu um debate em 1968 sobre discriminação racial, segregação social e miséria no mundo, feito junto com o centro acadêmico Luiz de Queirós. Se forem olhar lá atrás nos anais do Centro Acadêmico Luiz de Queirós, numa Mesa Presidida por um jovem Deputado de então, líder do MDB na Câmara dos Deputados, chamado Mário Covas Júnior, verão que a peça de abertura foi de um preso em Mobuto chamado Nelson Mandela. Esse é o começo de uma história onde se pode dar risada de como, numa terra já atingida, e duramente atingida, pelos grilhões ditatoriais que nos acometiam, vinha um jornal, um órgão de imprensa, comandado por um médico, um senhor libertário, pudesse num rincão tão longe angariar causas tão humanitárias, como essa que nos freqüenta hoje os olhos, como vemos no Zimbábue, no Congo, na Namíbia, tutsis e utsis, à margem do Lago Vitória, mas ao mesmo tempo resplandecendo com uma vida liberta de negros e brancos em comum, numa África do Sul, numa homenagem que se fez a Desmond Tutu e a Mandela pelo Prêmio Nobel da igualdade entre os homens.

Começava lá atrás, 32 anos antes, dentro do Jornal de Piracicaba.  E daí afora, não sempre em casamentos - muitas vezes em divórcios, que não se transformaram em reconciliáveis - mas em todos os instantes da luta deste País, quando por exemplo, já eleito Prefeito de Piracicaba, numa homenagem onde antigamente havia o marco das três bandeiras, em frente ao antigo Fórum, em que fizemos o ato pela democracia contra o regime, no dia em que se fechou o Congresso Nacional, em abril de 1977. Saindo da Câmara Municipal de Piracicaba fizemos o ato em que participaram figuras que fazem falta hoje na nossa história, presidido por Teodoro Mendes, de Sorocaba, comigo enquanto Prefeito, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Covas, novamente. Lá estávamos. E o único jornal que cobriu a manifestação antiditatorial contra a promulgação do novo código do Judiciário brasileiro, e ao mesmo tempo a nova Constituição outorgada e o fechamento do Congresso Nacional, foi o “Jornal de Piracicaba.”

Outros anos que freqüentei a Prefeitura, tive o divórcio, quando não me apoiaram pelos atos que eu havia feito como Prefeito Municipal de Piracicaba. Mas, no final do meu mandato, em muitas e muitas conversas com o Dr. Lúcio Neto, sem recuar um instante das críticas às vezes altamente austeras, duras e cáusticas a mim feitas - merecidas ou não, a história dirá - ele fazia questão de manter o jornal aberto a todos os atos da Prefeitura e do Prefeito Municipal, porque o jornal não se calava à voz das autoridades. Esse é o período em que vi e vivi o que havia de mais intenso no regime ditatorial, que fazia “O Estado de S. Paulo” publicar “Os Lusíadas”, que fazia a “Folha de S. Paulo” publicar páginas em branco, que fazia “O Globo”, censurado, não ir às ruas, que fez com que o “Jornal do Brasil” fosse empastelado.  O “Jornal de Piracicaba” manteve a liberdade de imprensa ao seu último gesto e à sua última conseqüência.  E pagou caro por isso, porque não se servindo ao senhor, o “Jornal de Piracicaba” também não tinha o pasto do conforto das verbas institucionais que abundavam aos que de joelhos se faziam prostrados perante o golpe ditatorial neste país. Portanto, fazer imprensa livre, gestos altaneiros e responsáveis, na história de um país tão acometido de tais como o nosso, é um gesto que se faz alguém mandatado como eu de vir aqui, numa noite como esta, respeitá-lo e homenageá-lo.  Porque sabemos nós, do mais humilde que aqui se encontra ao mais mandatado, sabemos como é duro e às vezes quase insano resistir aos mais fortes.  E sabemos mais ainda,  como é duro resistir ao poder econômico que emascula e traz à sombra o poder de exibir as suas próprias idéias.

            É nessa homenagem, nessa chama que a cada dia se alevanta das páginas de alguém que preza a liberdade e a história deste País,  que venho eu, muitas vezes em divórcios, outras tantas em casamentos, tantas e tantas vezes no convívio, trago uma palavra do meu povo, uma palavra daqueles que pensam da forma e da sorte como muitos dos que acreditam em mim, de que é pesaroso ver o órgão que se debruça sobre o leito fácil daqueles que se assoberbam ao poder.

Duro é aquele que fica de pé ao lado do seu povo na resistência e na luta inquebrantável dos que acreditam na liberdade.  Foi difícil, mais dura foi a vida do “Jornal de Piracicaba.”  E a homenagem que a história lhe tributará é a história dos que devem, como nós devemos ao “Jornal de Piracicaba” a parcela da democracia que o Brasil vive hoje.

Salve o “Jornal de Piracicaba”.  Salve aqueles que acreditam na liberdade.  Salve a democracia.  Salve acima de tudo a imprensa brasileira.

Muito obrigado.  (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO  MORAIS - PPS - Registramos a presença do Exmo. Sr. Abdo Haddad, ex-Deputado Estadual, membro do Conselho Curador da Fundação Cásper Líbero, do Exmo. Sr. Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso, sócio-proprietário do “Jornal de Piracicaba”, do Exmo. Sr. Lourenço Jorge Taiara, diretor-executivo do “Jornal de Piracicaba”, do ex-Deputado Jairo Ribeiro de Matos, do Exmo. Sr. Gualdo Amaury Formica, Juiz Corregedor do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, do Exmo. Sr. Prefeito de Piracicaba, Professor Humberto de Campos.

Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Fernando Mauro Marques Salerno, Presidente da Associação Paulista de Jornais e diretor responsável pelo jornal “Vale Paraibano”.

 

O SR. FERNANDO MAURO MARQUES SALERNO - (Entra leitura)

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Tem a palavra o Sr. Nobumitsu Chinnen, Presidente do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Estado de São Paulo.

 

O SR. NOBUMITSU CHINNEN - (Entra leitura)

 

Gostaria de entregar à Dra. Antonietta uma placa do Sindjori.

 

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-         É feita a entrega da placa do Sindjori à Dra. Antonieta com os seguintes dizeres:

“O Sindjori cumprimenta o jovem companheiro pelo primeiro centenário conquistado com dedicação, ética e informação”. (Palmas.)

 

                                                           *     *     *

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Também presentes aqui o Sr. Amauri Morais Lima, assessor para assuntos internacionais da Fundação Cásper Libero, neste ato representando os Srs. Sérgio Felipe dos Santos e Paulo Camarda, superintendente e presidente da Fundação Cásper Libero; Luís Carlos Furtuoso, vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba; Sérgio Antônio Furtuoso, diretor de Relações Públicas da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba; jornalista Antônio Mattos Anceto, assessor de imprensa do Semai- Serviço Municipal de Água e Esgoto, representando na oportunidade o presidente José Edgar Camolesi; Sr. Carlos Correia de Oliveira, presidente da Associação Paulista de Imprensa; Vamir Skiavuso, Secretário de Planejamento do Governo Municipal de Piracicaba; Wilson Titis, vereador da Câmara de Charqueada; Edvaldo Titis, do Sindi Areia.

Com a palavra o Sr. Marcelo Batuíra da Cunha Losso Pedroso, diretor do Jornal de Piracicaba.

 

O SR. MARCELO BATUÍRA DA CUNHA LOSSO PEDROSO - Srs. Deputados presentes, não vou elencar o nome um a um porque os que me antecederam já o fizeram, então não quero ser cansativo ou repetitivo.

Narra o célebre escritor russo Leon Tolstói em suas memórias: “Quando era oficial, numa dessas caminhadas do exército russo, ele se volta para trás e vê um outro oficial da mesma patente que ele batendo, sem qualquer dó ou piedade, desmesuradamente num soldado subalterno. Indignado, Tolstói se volta, vira-se para ele e é compelido a lhe dizer “mas o que estás fazendo? Por que fazes isso? Não lestes o evangelho?” Ao que o outro, muito espantado, lhe retruca “e tu, não lestes os regulamentos militares?”

Essa pode ser a melhor história do que pode representar o que é, de certo modo, o jornalismo. Essa é a resposta que o intelectual recebeu e que todos os intelectuais vão receber quando eles tentarem regular assuntos mundanos. Está aí a grande diferença do jornalismo: o jornalismo intelectual, aquele voltado para fins humanitários, aquele que não se pode omitir á crítica social, muito embora as leis ou os regulamentos ou qualquer que seja, seja legítimo, válido e até correto diferentemente do jornalismo não intelectual, que é aquele em que se esforça grandemente em conduzir as pessoas do evangelho para os regulamentos militares e não o inverso.

Qualquer jornalismo que se diga intelectual, que diga que tem um cunho de crítica social precisa necessariamente voltar-se para aquelas coisas e muitas adversidades que encontra e que tem que lutar. Muitas vezes contra a lei que é escrita, contra a lei incontestável, inclusive até a legítima. Esse jornalismo que, ao longo desses 100 anos, o jornal de Piracicaba procurou fazer, procurou se espelhar.

Podemos lembrar que é justamente esse jornalismo o que mais causa problemas, o que mais incomoda e do que mais as pessoas sentem-se ressentidas. Nesse caminho, inevitavelmente, muitas vezes a crítica pode sair pela tangente e criticar-se o que não deve ser criticado e, às vezes, não criticar o que deve ser criticado. Mas é um risco natural de quem resolveu assumir que a interpretação mais favorável ao progresso da humanidade, progresso esse não meramente material mas também espiritual da dignificação do ser humano e da proteção de suas mais comezinhas e básicas liberdades deve ser trilhado por um jornal que pense que o jornalismo está acima de qualquer vinculação político-partidária ou mesmo até ideológica.

Gostaria de lembrar, antes de tudo, que esse papel do jornal também, inevitavelmente, choca-se com qualquer tipo de abuso de poder, do poder público e da autoridade instituída. Não é essa também a função desta Casa quando Montesquieu definiu a divisão dos três poderes. Não cabe ao Legislativo frear os arroubos do Executivo. O jornal também, muito bem colocado como sendo o quarto poder nessa tríade, está fora. É o ombudsman político da sociedade. É ele que procura controlar o Legislativo, averiguar o que está fazendo o Judiciário e criticar o Executivo. Cabe ao jornal e aos jornalistas que estão por trás dele refrear o intuito de qualquer tipo de abuso da autoridade. Todo abuso da autoridade, abuso do poder ou  meramente esquecimento das responsabilidades comuns vem calcado talvez na falta da necessária conscientização dos direitos básicos do cidadão, daqueles que uma vez elegeram esse mesmo Poder Constituinte.

No ano de l819 estava para fazer um discurso célebre no Atenée Royale de Paris o célebre filósofo Benjamin Constant. Naquele dia proferiu o seguinte discurso que veio mais tarde a se tornar célebre: “De la liberté des anciens comparée à celle des modernes”, “A liberdade dos antigos comparada a dos modernos”.

Que importância hoje tem esse discurso e o que ele faz sendo mencionado aqui? É simples. Naquela época, Benjamin Constant, com seus olhos de lince, viu longe e fez a primeira distinção que hoje pode nos parecer até tão óbvia mas muitas vezes é esquecida. A liberdade propagada pelos antigos, principalmente os gregos, com a democracia, não é a mesma  nem deve ser a mesma da dos modernos. A grande diferença está no respeito às liberdades individuais. A principal liberdade não é a liberdade política mas a liberdade individual de cada cidadão na medida em que a liberdade política faz com que todos os cidadãos livres e espontaneamente elejam seus representantes, os representantes desta Casa e os representantes que eles desejam governar. Segundo a regra democrática, vinda da Grécia, a maioria elege e tendo a maioria o voto passa a governar. Mas isso não basta. E aí foi a grande observação luminosa de Benjamin Constant. Uma vez instituído o poder, se ele for meramente, muito embora legítimo, porque eleito pela maioria, ele será uma ditadura da maioria.

Foi assim que Sócrates foi condenado à morte. Foi condenado legitimamente, democraticamente porque falava coisas que a maioria não entendia, coisas contra a maioria. O direito de expressão, o direito de opinião das minorias, o direito de culto são umas das principais virtudes e garantias que se deve respeitar. Não basta que haja a liberdade meramente política do cidadão. É necessário que ele tenha a sua liberdade individual respeitada, mesmo que a maioria tenha sido eleita contra a sua ideologia ou contra o seu pensamento. O mais importante é que essas liberdades, que se desdobram - liberdade desde o ir e vir, liberdade de expressar-se, liberdade de opinar, liberdade de se manifestar, quer verbalmente, quer por escrito, e principalmente liberdade de contratar, de instituir, de exercer dignamente a sua profissão, a profissão que escolher - mesmo que seja contra o pensamento da maioria -, de manifestar os seus cultos, de escolher a sua religião e de professar inclusive não ter nenhuma.

Essas liberdades individuais são as chamadas ‘liberdades modernas’. E aqui está o grande papel do jornal. O jornal está não só para zelar a licitude de uma eleição, os direitos políticos, pois já temos o juiz eleitoral para tal função, mas precisamos de alguém que esteja lá, naquele determinado momento, e aponte que essas liberdades estão sendo violadas, esquecidas, não levadas em conta. É esta a função do jornal, uma função nobre mas, ao mesmo tempo, extremamente espinhosa. Qual é o maior bem do cidadão hoje - é poder eleger o seu representante? Não, o maior bem do cidadão é manter a sua liberdade, a sua liberdade individual. É o maior bem que ele pode ter.    

Benjamin Constant, mais tarde, em outro escrito, célebre também, quando fala da liberdade de imprensa, coloca, com muita propriedade: “O homem, para se expressar, só pode utilizar-se de duas coisas - ou da palavra verbal ou da escrita. Por nenhum desses outros modos ele poderá manifestar-se. É assim que ele manifesta seus anseios, suas esperanças, sua ideologia e seu modo de pensar. Se tolhermos esse modo de pensar do cidadão e de qualquer pessoa comum, estaremos tolhendo sua mais íntima liberdade, que é a liberdade de foro íntimo e a liberdade de ser, exercer e viver condigna e livremente. A liberdade de imprensa, portanto, é fundamental. Mais fundamental do que por ela própria, é fundamental para garantir as outras liberdades: as liberdades individuais”. 

Benjamin Constant também assevera duas posições e duas funções que a liberdade de imprensa tem e deve ter. As duas são com relação ao poder público, e a primeira é a seguinte: ela deve ser um zeloso vigia, para não permitir que o poder público e a autoridade constituída caiam em engano ou em equívoco. Ela deve alertá-los quando isso acontecer. Mas também deverá ser aquela que naquele momento esclarece e não permite ao poder público e à autoridade constituída que fechem voluntariamente os olhos às suas responsabilidades e obrigações. Se só isso fosse a função da imprensa, só por isso valeria a pena manter a liberdade de imprensa.

Para citar um pouco atrás, nessas idas e vindas, Benjamin Constant não inovou. O primeiro tratado de liberdade de imprensa foi escrito por um inglês - John Newton -, um poeta que, em 1644, nomeado censor da Câmara dos Lordes, faz um discurso justamente contra sua própria função de ser censor. E ele pondera uma coisa muito interessante sobre a censura. Se censurarmos não chegaremos à verdade. Nunca  poderemos chegar à verdade se objetivarmos a censura porque, em primeiro lugar, devemos considerar a possibilidade de a outra parte ter razão. E mais: nunca poderemos desconsiderar que a outra parte também pode ter razão, pouco importando o que ela venha a dizer. E se for um primeiro fundamento da liberdade de imprensa? Críticas que vieram depois colocam que a liberdade de imprensa não passa de uma liberdade de jornais, não passa de uma liberdade do dono da imprensa ou de uma liberdade de jornalistas, mas não é. A liberdade de imprensa e a batalha por ela são muito mais importantes, porque a liberdade de imprensa é, no fundo, a liberdade de o cidadão comum expressar-se.

Quantas e quantas vezes no jornal, hoje - não só no “Jornal de Piracicaba” mas em todos esses grandes jornais, tanto do interior como nos jornais da cidade de São Paulo - tantas páginas são abertas para que pessoas que não são jornalistas expressem sua opinião? O próprio Deputado João Hermann já colocou muito bem que dela utilizou-se para expressar a sua opinião, muito embora tenha sido, algumas vezes - ou muitas - diferente do pensamento do próprio jornal. Mas será que é só o Deputado João Hermann que merece isso - o Deputado ou o Vereador? Não, é o cidadão comum que tem o direito de se expressar. E ele só pode fazê-lo através da palavra escrita e de um órgão de imprensa que se diga livre.

Aí temos em conta essa poderosíssima distinção feita por Benjamin Constant: foi o divisor de águas da comunidade, o divisor de águas que esclareceu. Por que está aqui o nobre Deputado Roberto Morais, assim como os outros Deputados aqui presentes? Porque foram eleitos pelo povo e pela comunidade que representam. Mas o jornal está aqui para lembrá-los e dizer-lhes que não basta. Eles não vão representar somente os interesses daqueles que os elegeram, mas da comunidade de onde saíram, e principalmente daqueles que não os elegeram, porque é uma questão de respeito às minorias, que não concordam com ele, foram vencidas na eleição, não elegeram o seu representante ideológico. Mas eles, com uma responsabilidade social têm o dever de respeitar a liberdade de cada um, os seus anseios, as suas esperanças. E esta Casa, como representante do povo que é, deve pensar sempre isso: que antes não está somente a vontade dos seus próprios eleitores mas de toda a comunidade, inclusive de minorias que nunca os elegeriam, mas que merecem ser respeitadas em suas liberdades e não ser avassaladas por cima, pela vontade da maioria. Isto é inadmissível. Este é o papel de qualquer jornal, e foi o papel do “Jornal de Piracicaba” ao longo desses cem anos.   

Permitam-me agora lembrar como surgiu e como foi essa epopéia sofrida, de cem anos de jornalismo. Cem anos, como muito bem já se lembrou aqui, correspondem a 20% da História do Brasil. Aqui em frente comemoram-se os seus quinhentos anos. Cem anos são quase a metade do que já se tem em termos de notícia nos jornais do Brasil.

Piracicaba era uma cidade progressiva, calma e de belezas naturais incomparáveis. Eram os bons tempos do século XIX. Corria o ano de 1898. Desembarcou na Estação Paulista, saído da Estação Sorocabana, o Engenheiro Manuel Duarte de Macedo, vindo de Sorocaba, aquele que, encarregado pelo Sindicato das Indústrias, tinha uma missão em Piracicaba: reerguer e controlar a Fábrica de Tecidos Santa Francisca, fundada em 1876 por Luiz de Queiroz, encontrando-se em lastimáveis condições financeiras. Empreendedor e excelente administrador, Manuel Buarque de Macedo deixou marcas indeléveis na cidade, que até hoje não podemos esquecer. Naquela época havia um jornal ativo. Em 1892 funda-se a “Gazeta de Piracicaba”, jornal também diário, mas vinculado ao poder então constituído, um determinado partido e uma frente ideológica.

Buarque de Macedo, assim que chegou, vendo a grande carência no sentido de uma independência jornalística, associou-se a Alberto da Cunha Horta, e em 1900 fez o primeiro “Jornal de Piracicaba”. Mas, antes disso, escolheram uma pessoa que chefiaria a parte intelectual, a redação, e melhor escolha não poderia ter sido feita; escolheram Antoninho Pinto de Almeida Ferraz. Ele foi um dos mais brilhantes intelectuais da sua época, poeta, filósofo, advogado, culto, poliglota, foi escolhido aos 28 anos de idade para dirigir o primeiro jornal que se denominaria  independente.

Às vésperas do dia 4 de agosto de 1900 se rodava, em quatro páginas impressas, frente e verso, o primeiro “Jornal de Piracicaba”, com seu primeiro editorial extremamente significativo, contando toda a trajetória do jornal, nascido no início do século com uma missão a desempenhar junto a sua comunidade e tentando cavar, respeitosa e humildemente, um lugar ao sol junto à “Gazeta de Piracicaba”, então com 18 anos, para ser livre, independente e um crítico presente, voltado para o progresso de Piracicaba e a garantia dos direitos e liberdade dos cidadãos. Liberdade, sim, porque garantia sempre a vontade e a expressão dos seus leitores e inúmeros colaboradores. Esse triunvirato durou pouco: em novembro de 1900 Buarque de Macedo se retira da sociedade, bem como Alberto da Cunha Horta. Um por questões particulares e familiares, o outro, Buarque de Macedo, em razão das próprias dívidas da fábrica São Francisco, a qual ele também tomava conta, e que foi entregue ao Banco da República do Brasil. Portanto, sua missão em Piracicaba havia findado e ele deixa Piracicaba.

De novembro de 1900 até janeiro de 1901 o jornal passa às mãos de João Meira, tipógrafo conhecido na cidade - não se sabe ao certo se chegou a ter a propriedade do jornal nesses curtos três meses - mas o certo é que no dia 31 de dezembro de 1901 Juvenal do Amaral adquire o “Jornal de Piracicaba.” Este fica três anos apenas, até março de 1904, mas nesse período muita coisa se dá; é a flor da intelectualidade piracicabana que passa a escrever. Se lermos hoje esses artigos, estamos lendo grandes intelectuais e de grande atualidade. Foi Juvenal do Amaral, que além de proprietário era o diretor intelectual do jornal, que repetiu que esse jornal teria os mesmos desígnios e os mesmos objetivos traçados por Antoninho Pinto de Almeida Feraz.

Em 1901 o jornal faz um ano e muitos são os cumprimentos, entre eles do grande músico e pintor Joaquim Dutra, que compõe uma valsa. Um dos últimos cumprimentos é de José Rosário Losso, então proprietário de uma casa lotérica chamada “Chalé Guarani”, e depois “Chalé Ao Gato Preto”, que em 1939 irá assumir o “Jornal de Piracicaba”.

Em 1901 celebra-se o primeiro aniversário do “Jornal de Piracicaba”, onde se transcreve o mesmo editorial de Antoninho Pinto de Almeida Ferraz, com as diretrizes básicas que tinha um jornal, no começo do século, de independência. Notem que isso é uma coisa rara. Muitos jornais morrem porque são vinculados a partidos, a agremiações acadêmicas e não têm a mentalidade de serem independentes, passarem ao largo de várias gestões,  ideologias e governos.

Juvenal do Amaral vende o jornal por 20 contos de réis em 1904 para o Professor Alvinho, Álvaro de Carvalho, filho de fazendeiros da região. Ele assume não só sua diretoria como intelectualmente. Novamente em editorial repetem-se as mesmas promessas e o mesmo objetivo do editorial de 1900, de Antonio Pinto de Almeida Ferraz, até que nesse curto período de tempo, de 1904 a 1912, Álvaro de Carvalho decide vender o jornal. Aí começa uma das mais importantes eras do jornal. Um triunvirato muito interessante passa a comprar a propriedade, composto por João Franco de Oliveira, Pedro Crembo e Manoel Prates. Manoel Prates se encarregava da tipografia, Pedro Crembo assumiu a direção redacional e João Franco a gerência administrativa.

Eram os idos de 1912. Inicia-se a era João Franco. Quem era João Franco e de onde vinha? Sujeito de origens humildes, começou trabalhando nas próprias fábricas dos Crembo, em Piracicaba. Acusa-se como proprietário primo de Pedro Crembo, e depois João Melo Morais, que veio a ser reitor da USP, mais tarde professor titular da Esalq, mas a personalidade marcante de 1912 a 1939 é de João Franco, sem dúvida.

Pedro Crembo deixa o jornal em 1929, quando em 1933 Pedro Crembo e João Franco passam a ser os únicos proprietários. Manuel Prates fica até 1918 e as cotas são passadas para João Franco.

O Professor Leandro Guerrine, historiador de Piracicaba, que de 1933 a 1939 assumiu a chefia da redação, narra com certo saudosismo e em tom muito fidedigno que João Franco era um homem de poucas luzes - não era um intelectual -, mas tinha capacidade admirável de administrar e uma capacidade empreendedora impressionante. Foi graças a ele que o “Jornal de Piracicaba” tomou forma como empresa numa época em que não se pensava nisso, que com jornal não se ganhava dinheiro, não se tinha independência e vivia-se de outros recursos.

João Franco muda completamente essa mentalidade. Empreendedor que era, toma a seguinte providência: o jornal, com os parcos anúncios e as poucas assinaturas, não se pagava. Era necessário que tivesse fonte de renda, para ser independente. A primeira providência que tomou foi comprar tipografias das mais modernas de modo que as grandes encomendas vieram em profusão graças à qualidade técnica do maquinário. Por meio de uma arrojada campanha de vendas, aumentou os anúncios no jornal e sua vendagem, de modo que passou para um fluxo de caixa que possibilitasse a sua sobrevivência. Prova disso, que foi em sua gestão que o jornal de Piracicaba adquiriu seu prédio próprio.

Em 1921 comprou uma máquina de compor, a primeira no interior do Estado de São Paulo, por 16 contos de réis, e uma máquina de impressão italiana de último tipo. Foi ele que abriu a papelaria e a  livraria do jornal e sua mentalidade comercial e empreendedora logo se notou, porque na papelaria e na livraria não só se vendiam impressos e livros, mas também artesanato, roupa e até mesmo obras de arte, com o sistema de colocar grandes espelhos na sua entrada, e em todas as prateleiras onde os fregueses pudessem manusear. Esse impulso deu nova vida e nova forma às fontes de renda do jornal, e ele pode ser independente, de 1912 a 1939.

E a linha editorial, como é que era? Sobre a linha editorial, João Franco tinha o seguinte pensamento: um jornal, para sobreviver, é necessário que seja imparcial, e tanto quanto possível neutro. Tenha a sua opinião, mas que seja imparcial. Estamos vivendo época de grande turbulência. Não esqueçamos que em 1912, estamos em plena véspera da guerra mundial, na época de tempos conturbados, e que depois se seguiriam tempos de recessões financeiras difíceis. Nessa época, nada mais adequado do que ter uma independência para sobreviver aos tempos difíceis. Coincidentemente, era a mesma linha de imparcialidade e neutralidade, muito embora dando a sua opinião, mas sem vinculação com nenhum partido, empresa, ou qualquer fonte de poder que seja, que fez com que o jornal passasse límpido e sobrevivesse a esses tempos.

João Franco, em 1939, já estava pensando na aposentadoria, e pôs o jornal à venda. Naquela época, ele era o único proprietário. Surge a figura de Fortunato Losso Neto, não de José Rosário Losso, ainda, mas suspeitam os historiadores de que Fortunato Losso teria sido o grande pivô, porque ele deve ter seduzido o pai, então comerciante de casa lotérica, homem sem grande cultura, mas muito interessado na sua cidade, que  fizesse uma empresa e adquirisse o jornal. José Rosário, convencido disso, formou uma empresa, J. R. Losso, junto com o seu filho mais velho, Eugênio Luiz Losso, e Fortunato Losso, filho mais novo, e adquiriu então por 250 contos de réis, pagos em curtas prestações, o “Jornal de Piracicaba”.

Estamos em março de 1939. Mas, por que eu lhes mencionei que Fortunato Losso teria sido pivô disso? Porque, muito embora ele sempre foi e sempre escolheu a medicina como profissão, estudou em Niterói, na Faculdade Fluminense de Medicina, mas sua paixão pelo jornalismo se fez notar desde pequeno, quando publica um artigo sobre Machado de Assis, aos 14 ou 15 anos de idade, no próprio “Jornal de Piracicaba”, e que seguindo a sua vocação para ser médico, em Niterói, ele foi o fundador da primeira revista da Faculdade Fluminense de Medicina, a primeira revista acadêmica, e que ele dirigiu e fundou na época em que ele era estudante. Idos de 1929 a 1934.

No Rio de Janeiro de então, foi convidado pelo hoje célebre jornalista, Danton Jobim, para trabalhar como revisor no jornal de Assis Chateaubrian, o jornal, no Rio de Janeiro. Célebre depois. Mas, sua experiência não pára por aí. Morou posteriormente, em Botucatu, onde exerceu a medicina, e lá colaborava assiduamente para o jornal local, e que, por coincidência, pertencia ao seu cunhado, irmão de sua irmã mais velha, casado com  sua irmã mais velha.

Fortunato Losso sempre teve esse atrativo pelo jornalismo. E desde então, em 1939, aos 29 anos de idade, assume o “Jornal de Piracicaba”. Na parte da manhã, era radiologista da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, e na parte da tarde dava expediente no jornal até à noite, ou às vezes, de madrugada. Esses tempos foram a segunda era do jornal. A era em que Fortunato Losso dirigia a redação e com auxílio de seu irmão, Eugênio Luiz Losso, que cuidava da parte tipográfica do jornal e de toda a clicheria. O “Jornal de Piracicaba”, em 1945, foi o primeiro jornal do Interior a ter uma clicheria, feita e montada pelo irmão Eugênio Losso, num talento de artes incrível, mas toda a linha editorial de 1939 a 1985, quando faleceu, portanto, quase 46 anos de jornalismo, foi de Fortunato Losso.

E podemos lembrar entre várias e outras batalhas, conquistas ou opiniões, célebres são os seus editoriais, os seus atritos, suas fases passadas, mas não podemos esquecer de que, num editorial, ele confessa: “É muito dura esta vida cheia de desenganos que é a vida que a imprensa nos traz. Mas somente uma verdadeira vocação jornalística é possível suportar e agüentar esses desenganos que a imprensa nos traz.” Mas ele acrescenta: “Temos nossas compensações, que foi ver muitas dessas batalhas frente à comunidade sendo realizadas e vencidas.” E acrescenta Losso Neto: “E valeu a pena.”

Essa é, em modo resumido, espero não muito cansativo, a história do “Jornal de Piracicaba” e de seu ideal, e de sua filosofia, porque pretendemos seguir da mesma maneira como Antoninho Pinto Ferraz delineou no dia 4 de agosto de 1900. E podemos repetir, como o Antoninho Pinto Ferraz: “a nau está emparelhada. Vamos levantar a âncora e abrir resolutamente as velas à embocadura dos ventos”. Essa é nossa missão, essa será sempre a nossa missão. Obrigado.(Pausa.)

           

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Esta Presidência gostaria de prestar, agora, uma homenagem à Diretora-Presidente do “Jornal de Piracicaba”, Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso.

 

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-         É prestada a homenagem.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Gostaria que a minha esposa, Sra. Nilva Maria B. Morais viesse aqui para prestar uma homenagem à Dra. Antonieta Rosalina da Cunha Losso Pedroso.

 

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 - A Sra. Nilva Maria B. Morais faz a entrega do buquê de flores à homenageada.

 

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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Tem a palavra o Dr. Antonio Carlos de Mendes Thame, Secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras, na oportunidade representando o Governador do Estado, Dr. Mário Covas.

 

O SR. ANTONIO CARLOS DE MENDES THAME - Nobre Deputado Roberto Morais, digno representante de Piracicaba na Assembléia Legislativa e autor da oportuna e feliz idéia desta justa homenagem ao ““Jornal de Piracicaba” Revmo. Don Eduardo Koaik, nosso tão respeitado e tão querido Bispo Diosesano, Dra. Antonieta Losso Pedroso, Dr. Marcelo Pedroso, Dr. Lourenço Taiar, Diretores do “Jornal de Piracicaba”. Deputado Federal João Hermann Neto, Prefeito Humberto de Campos, Deputados Jairo Mattos, Abdo Hadade, Vereadores Wilson Tietes e Antonio Messias Galdino, Dr. Fernando Salermo, Dr. Bumitso Knen, Dr. Carlos Corrêa, representantes, presidentes de associações e órgãos diretores dos jornais e da imprensa paulista, Dr. Joacir Cury, jornalistas e funcionários do “Jornal de Piracicaba”, senhoras e senhores, a internacionalização da economia tem gerado um intenso questionamento sobre as condições determinantes do desenvolvimento das nações. Os economistas têm feito um grande esforço para explicar por que, numa economia aberta, alguns países têm conseguido evoluir e oferecer melhores condições aos seus povos, enquanto outros, aparentemente com as mesmas condições, com as mesmas determinantes, não conseguem.

Primeiro: esses estudos têm tentado explicar por que países com grandes riquezas naturais, com capital físico, minérios, solos férteis, sol o ano inteiro, não conseguem ter um desenvolvimento social e econômico igual ao de outros países que têm capital natural muito menor. A primeira condição imediatamente citada é que faltam recursos financeiros. Falta o capital financeiro, caracterizado sempre por duas condicionantes. Primeiro, por países que têm uma economia forte, uma moeda estável e que têm tido recursos para estimular os empreendedores, estimular o setor privado da economia a gerar empregos, gerar melhores condições de vida para a população e dessa forma diminuir a necessidade de o Estado prover políticas sociais compensatórias para aplacar a miséria, diminuir a pobreza e a desigualdade. Mas mesmo assim, na prática se vê que países que têm capital natural e capital físico às vezes se desenvolvem, enquanto outros não. E os estudos apontam uma terceira condição: ter capital humano, investir no capital mais precioso que um país possui, que é o homem, principalmente em Educação e Saúde, para que todos, e não apenas uma minoria, possam compartilhar das riquezas produzidas por esse país com capital físico e riquezas naturais. Ainda assim, há países com essas três condições que não conseguem se desenvolver. Recentemente, estudos desenvolvidos por um economista indiano chamado Amar Thiassen, Prêmio Nobel, tentou mostrar que a esse países faltava uma quarta condição, o capital social. E toda a linha dos seus estudos caminhou sempre nessa direção: o que é um país ou como é um país sem capital social?

É um país em que cada um tenta sobreviver por si, onde prevalece o egoísmo, o “jeitinho”, a corrupção, a máfia, não há autoridade constituída, as instituições são fracas, cada um faz aquilo que pode para enriquecer independentemente dos demais. Nos seus estudos, ele define com muita clareza o que entende por capital social.

Capital social é a capacidade da sociedade, de um povo, de criar os corpos intermediários da democracia, se nuclear, criar associações, sindicatos, comunidades de bairros, associações das mais diversas tendências, para que não haja uma sociedade amorfa, massa de manobra que não consegue postular, reclamar seus direitos, criar dutos com o Estado e com o governo. E o resultado dessa nucleação é que começa a nascer a solidariedade, as pessoas começam a ter idéias em função do núcleo e aí surgem dois efeitos. Um externo, que é criar dutos, formas de se manifestar com o Estado, com os governos e outro interno, que é ter melhores lideranças, porque os líderes são aqueles que conseguem expressar melhor aquilo que o grupo, que a comunidade pensa e não apenas os seus desejos pessoais, puramente de ambição.

Como resultado desses dois efeitos surgem instituições mais fortes e com melhores lideranças. Dentre essas instituições, ele coloca que uma das mais importantes é ter uma imprensa livre e independente. A imprensa livre e independente é fundamental, porque ela fornece a informação, a informação indispensável para a formação da opinião pública. Por outro lado, ela permite que os homens justos conheçam e possam combater os corruptos e defender posturas éticas. Permite assim que se fortaleça a cidadania e a democracia. Ela é condição fundamental para consolidar a democracia. Não há democracia que se consolide sem uma imprensa forte, livre e independente.

Na nossa região, afortunadamente, podemos nos orgulhar do “Jornal de Piracicaba”, um jornal com um século de independência, um século de decência, defendendo os mais elevados ideais e lutando pelo real desenvolvimento sustentado não apenas da nossa cidade e região, mas do nosso Estado e do nosso país. Um século de vida, que se confunde com a própria vida da cidade. Portanto, um século de história. Aliás, ao completar-se um século de história, o “Jornal de Piracicaba” acaba sendo o próprio registro, o próprio arquivo municipal, o próprio depositário de nossa história. Ao deixar aqui o meu abraço à Dra. Antonieta, ao Marcelo, ao Lourenço, ao Joacir, a todos os integrantes deste jornal, que se espelhando no exemplo da família Losso, dos atuais diretores, exemplo fundamental, porque ele percola e condiciona o comportamento de todos, mas acima de tudo porque um jornal é a soma de todos, cada um dando a sua contribuição para que ele tenha uma linha, uma cara, tenha realmente uma expressão definida, ao deixar a todos o meu abraço, permito-me lembrar as palavras do nosso Papa, que comentando também a internacionalização da economia dizia que apenas a abertura da economia é insuficiente para melhorar a condição de vida dos povos. É fundamental que haja a globalização da solidariedade.

Ao cumprimentá-los, quero dizer que sou testemunha do quanto este jornal, ao lutar contra as iniqüidades, contra as injustiças, defendendo uma sociedade mais justa, tem contribuído para estender a solidariedade.

Meu grande abraço a todos vocês.  (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS -

 

(entra leitura - 4 páginas - Jornal de Piracicaba...”)

 

A Dra. Antonieta queria fazer uso da palavra final desta sessão.

 

A SRA. ANTONIETA ROSALINA DA CUNHA LOSSO PEDROSO - Quero agradecer a nímia gentileza de todos os amigos que vieram comemorar esta data e vieram nos abraçar. Fico imensamente grata. Estou muito emocionada, de modo que não posso falar muita coisa mesmo porque todos sabem que não sou uma mulher de microfone, só sei a palavra escrita. Meu filho diz que existem duas maneiras de se falar; a minha sempre foi através da escrita. Quando falo de improviso, dá um branco e não sai coisíssima nenhuma.

De qualquer maneira, estou felicíssima de estar aqui e muito contente porque estou vendo que nós todos, a família Losso e o “Jornal de Piracicaba”, na pessoa de seus funcionários, de seus diretores, de todos, têm grandes amigos, grandes mesmo! Estou muito feliz com a presença de todos vocês. Essa é a maior recompensa. Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ROBERTO MORAIS - PPS - Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la esta Presidência agradece às autoridades e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade e convida para um chocolate no café dos deputados e falar um pouco mais sobre o “Jornal de Piracicaba”.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e 19 minutos.