29 DE MAIO DE 2009

025ª SESSÃO SOLENE EM homenagem A “LOUIS BRAILLE POR OCASIÃO DO BICENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO”

 

Presidentes: CÉLIA LEÃO e BARROS MUNHOZ

 

 

RESUMO

001 - CÉLIA LEÃO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que o Presidente Barros Munhoz convocara esta sessão solene, a requerimento da Deputada Célia Leão, na direção dos trabalhos, para prestar "Homenagem a Louis Braille, por ocasião do Bicentenário de seu Nascimento". Convida o público a ouvir, de pé, o Hino Nacional Brasileiro. Faz histórico sobre a biografia de Louis Braille, que nasceu a 4 de janeiro de 1809, ficou cego aos três anos e, por volta de 1825, criou o método que utiliza seis pontos em relevo, que formam 63 símbolos diferentes. Ressalta que a efeméride é incentivada pela União Mundial dos Cegos, que atua junto à ONU. Comunica que, no Brasil, os eventos terão como presidente de honra Dorina de Gouvêa Nowill, cuja fundação que leva seu nome, imprimiu 33 milhões de páginas em 2007.

 

002 - REGINA FÁTIMA CALDEIRA DE OLIVEIRA

Coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos, e Coordenadora da Comissão Brasileira Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille, fala de sua gratidão ao gênio de Braille. Destaca a emoção das crianças cegas ao poder ler contos de fadas. Ressalta a melhora da autoestima dos cegos que dominam o método Braille de leitura. Enaltece a qualidade dos textos da Fundação Dorina Nowill.

 

003 - Presidente CÉLIA LEÃO

Dá conhecimento de mensagem alusiva ao evento, encaminhada pelo Deputado Rafael Silva.

 

004 - ANA MARIA MICHELE

Professora e coordenadora, que representa a Irmã Madalena, Tesoureira do Instituto de Cegos "Padre Chico", discorre sobre a importância de os cegos terem acesso amplo à cultura. Acrescenta que, a partir da independência proporcionada pela leitura em Braille, as pessoas desenvolvem o espírito crítico e os valores da cidadania.

 

005 - ROBERTO BRAGUIM

Presidente do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, destaca os propósitos de sua posse, de lutar pelo meio ambiente e pela acessibilidade. Informa que as instalações do Tribunal de Contas estão sendo adaptadas às pessoas com necessidades especiais. Acrescenta que são feitos cursos aos servidores sobre o tema. Dá conhecimento de iniciativas para que os prédios públicos sejam acessíveis, sob pena de não receberem alvará. Cita parcerias nessa direção.

 

006 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência. Saúda as autoridades presentes, especialmente a Sra. Lyla Egydio, esposa do ex-Governador Paulo Egydio, de quem lembra a atuação política. Recorda melhorias feitas em bairro da cidade de Itapira, da qual foi prefeito. Elogia a iniciativa da Deputada Célia Leão. Ressalta a importância do método Braille.

 

007 - CÉLIA LEÃO

Assume a Presidência.

 

008 - MARCOS BELIZÁRIO

Secretário Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida do Município de São Paulo, dá conhecimento de providências tomadas pelo prefeito Gilberto Kassab nas adaptações dos espaços desta Capital. Recorda leis sobre o assunto. Informa a realização de campanha, a partir do mês de julho, no sentido de serem identificadas as necessidades dos portadores de deficiência. Pede que sejam apresentadas sugestões sobre o tema. Informa que existe urna eleitoral para os cegos.

 

009 - ANTONIO JOSÉ FERREIRA

Presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil, fala de sua alegria em participar desta solenidade. Enaltece o trabalho dos pioneiros que lutaram pela causa dos cegos. Cita sua participação em evento realizado no Panamá.

 

010 - LINAMARA RIZZO BATTISTELLA

Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que representa o Governador do Estado de São Paulo José Serra, elogia a atuação dos componentes da mesa dos trabalhos. Saúda os homenageados. Enfatiza a necessidade da modernização plena das escolas, para integração das pessoas com deficiência.

 

011 - RICARDO SIGOLO

Bibliotecário da Biblioteca Louis Braille do Centro Cultural São Paulo, informa que há 35 anos trabalha na biblioteca, que foi criada há 62 anos. Ressalta a importância da inclusão dos deficientes visuais. Dá conhecimento da adoção do nome de Louis Braille, por decreto de 2008. Fala de sua emoção ao ouvir a execução do Hino Nacional. Informa o conteúdo do acervo com o qual trabalha.

 

012 - Presidente CÉLIA LEÃO

Faz homenagens a instituições e personalidades.

 

013 - DORINA NOWILL

Presidente Emérita e Vitalícia da Fundação Dorina Nowill para Cegos, e Presidente de Honra da Comissão Brasileira e da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille, ressalta a importância histórica de Louis Braille, cujo método, acrescenta, é insuperável, tendo em conta as novas tecnologias. Recorda a sua atuação como professora para deficientes visuais. Enaltece o significado da atuação do Legislativo, na preservação da democracia. Apresenta sugestões sobre a acessibilidade.

 

014 - Presidente CÉLIA LEÃO

Enaltece a necessidade de se buscar a justiça com a promoção da igualdade. Saúda familiares da Sra. Dorina Nowill. Recorda atividades teatrais das quais participou há 20 anos. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Célia Leão.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE – CÉLIA LEÃO - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

* * *

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD - Senhoras e Senhores, bom-dia, sejam bem-vindos ao Plenário Juscelino Kubitschek da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para esta Sessão Solene com a finalidade de prestar homenagem ao Bicentenário de Nascimento de Louis Braille, por solicitação da nobre Deputada Célia Leão.

Compondo a mesa a Deputada Célia Leão, a Sra. Dorina de Gouvêa Nowill, presidente emérita e vitalícia da Fundação Dorina Nowill para Cegos e presidente de honra da Comissão Brasileira e da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille; Dra. Linamara Rizzo Battistella, Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Dr. Roberto Braguim, Presidente do Tribunal de Contas do Município; Sr. Marcos Belizário, Secretário Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida do Município de São Paulo; Dr. Luiz Baggio Neto, Secretário-Adjunto dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Gostaríamos de cumprimentar todos os presentes.

Quero registrar que esta sessão deveria estar sendo aberta pelo nosso Presidente Barros Munhoz, que tem mais de 40 anos de vida pública, já foi deputado estadual várias vezes, já foi prefeito de seu município, Itapira, por mais de três vezes, já foi Ministro de Estado, deputado federal, secretário estadual na época do Governador André Franco Montoro, enfim, tem um currículo extenso. Suas ideias e seu trabalho demonstram o respeito com esta Casa e com a nossa sociedade. Mas o Deputado Barros Munhoz, que gostaria muito de abrir esta sessão, está cumprindo uma outra tarefa que não poderia delegar a ninguém, dada sua condição de Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Pediu-me que o fizesse em nome dele e trouxesse seu abraço e respeito pela causa da pessoa com deficiência, uma causa que tem de ser de todos nós.

Esta Sessão Solene tem a finalidade de prestar uma homenagem a Louis Braille por ocasião de seu bicentenário. Louis Braille foi um dos grandes precursores do Braille para integrar a pessoa com deficiência visual na história da humanidade ao longo dos últimos 200 anos: inclusão social, inclusão cultural, integração em todos os sentidos. Esta Casa não poderia se furtar de homenagear e marcar nos Anais da história da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo esses duzentos anos.

Queremos agradecer a presença das instituições, associações.

É uma alegria ver mais uma vez o Secretário Belizário, uma pessoa sempre presente com suas ideias, seus projetos, agradecemos muito pela sua presença.

Com a mesma importância, Dr. Braguim, Presidente do Tribunal de Contas do Município, que tem trabalhado no sentido não só da adaptação do próprio Tribunal, fisicamente falando, mas de fazer um trabalho junto com todos os municípios do Estado de São Paulo, para que haja de fato essa integração na prática com as pessoas com deficiência, uma vez que ele tem acesso, na Capital de São Paulo, com o Tribunal de Contas do Município, e também, por meio do Tribunal de Contas do Estado, aos 644 municípios do Estado.

Quero registrar a presença dela, que está modificando a história do Estado de São Paulo no quesito evolução, em todos os sentidos, da pessoa com deficiência no Estado de São Paulo. A Dra. Linamara Rizzo Batistela é médica, fisiatra, e Secretária de Direitos da Pessoa com Deficiência, e colocou sua vida ao serviço e a servir.

Com a mesma importância, o Dr. Luiz Baggio, Secretário-Adjunto, um homem que ao longo de sua história tem feito muito, antes até de assumir essa função nobre que hoje lhe compete, tem um trabalho diferenciado também em relação às pessoas com deficiência.

Por último, com a importância de todos, sintetizando o que significa a luta e a vitória das pessoas com deficiência, particularmente na questão dos deficientes visuais, ela que não só encanta, mas registra uma história na prática, na realidade da integração na sociedade das pessoas que têm alguma diferença.Permita-me, Dra. Dorina, não sei se tenho autorização, mas acabo de me dar essa autorização. Ela que ontem completou 90 anos de idade, concentrou-se totalmente na sua sabedoria, na sua inteligência. Uma pessoa que, no seu visual, aparenta muito jovem; na vontade de viver, aparenta uma menina; na vontade de trabalhar, começando na idade madura, na juventude. Com seus 90 anos, é professora de todos nós. Quero registrar a presença da presidenta de honra desse bicentenário tanto no Estado quanto no Brasil, a Dra. Dorina Nowill.

Quero dizer da alegria de ter essa mesa composta por pessoas como vocês. Quero pedir uma salva de palmas para vocês e para as autoridades que acabei de nomear, são grandes figuras para São Paulo e para o Brasil. Muito obrigada pela presença de vocês. (Palmas.)

Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do maestro 2º tenente PM Jassen Feliciano.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Agradecemos a Banda da Polícia Militar pela oportunidade de tê-los conosco abrilhantando esta Sessão Solene.

Gostaríamos de registrar um breve histórico do que significam esses 200 anos do Sistema Braille para que os telespectadores da TV Assembleia, os leitores do Diário Oficial e quem esteja nos acompanhando possam conhecer essa informação.

Há cerca de cinco mil anos, a humanidade obtinha uma de suas maiores conquistas: a invenção da escrita. Por meio de caracteres gráficos adaptados pelas diferentes civilizações, os seres humanos passaram a receber e a transmitir conhecimentos, o que, sem qualquer sombra de dúvida, foi fundamental para que chegássemos ao nosso atual estágio de evolução intelectual, social, cultural, científica e tecnológica.

Até o século XVI, a reprodução dos textos escritos fazia-se de forma artesanal, o que tornava a leitura um privilégio de poucos. Porém, com o advento da imprensa de Gutenberg, em 1455, a difusão da informação e da cultura tornou-se mais fácil e mais rápida.

Buscando permitir que também as pessoas cegas tivessem acesso ao conhecimento e, consequentemente, à socialização, foram feitas muitas tentativas, em diferentes partes do mundo, para o desenvolvimento de um alfabeto tátil. Essas tentativas, ora desenvolvidas por pessoas videntes, ora desenvolvidas pelas próprias pessoas cegas, fracassaram por não se adequarem às especificidades da leitura tátil.

Em 1784, Valentin Haüy (1745-1822) fundou, em Paris, a primeira escola para cegos do mundo, o Instituto Real dos Jovens Cegos. Nela, os alunos aprendiam a ler por meio da impressão dos caracteres latinos em relevo linear, porém, esse processo não lhes permitia a prática da escrita.

Em 1819, entrou para a escola de Haüy o pequeno Louis Braille (1809-1852), de apenas dez anos de idade, que havia perdido a visão aos três anos em razão de um acidente na selaria de seu pai. O garoto, dono de uma inteligência brilhante, foi alfabetizado pelo método de Haüy, mas teve sua atenção despertada quando, em 1821, o capitão Charles Barbier de la Serre apresentou aos alunos da escola um sistema de escrita e leitura que havia desenvolvido para a comunicação noturna entre os soldados do Exército Francês, e que poderia também ser utilizado pelas pessoas cegas.

O Sistema de Barbier apresentava a desvantagem de ser apenas fonético, mas Louis Braille, o pequeno menino, utilizou-o como base para o desenvolvimento de um sistema de escrita e leitura, cuja primeira versão foi por ele apresentada em 1825.

O Sistema Braille, baseado na combinação de seis pontos em relevo, permitia a representação do alfabeto e dos números, da simbologia aritmética, fonética e musicográfica e adaptava-se plenamente às peculiaridades da leitura tátil, pois cada caractere podia ser percebido pela parte mais sensível dos dedos por meio de apenas um contato.

Em 1837, Louis Braille apresentou a versão final do sistema, que, embora tenha levado algumas décadas para ser aceito na França, antes do final do século XIX já havia se difundido pela Europa e por outras partes do mundo. No Brasil, o Sistema Braille foi introduzido, em 1850, por José Álvares de Azevedo, um jovem cego que havia estudado em Paris.

No início dos anos 50, por iniciativa da Unesco, tiveram início estudos visando à adaptação e unificação do Sistema Braille pelos diferentes grupos linguísticos. Considerado o meio natural de leitura e escrita das pessoas cegas, o sistema permite a representação, entre outros, dos vários códigos científicos, inclusive, da mais moderna das ciências, a Informática.

O ano de 2009 está marcado para ser o Bicentenário de Nascimento de Louis Braille e é, com grande alegria, que as pessoas cegas de todo o mundo se preparam para comemorar o grande acontecimento.

No Brasil, as homenagens estão sendo coordenadas pela Comissão Brasileira para o Bicentenário de Louis Braille, que tem, como presidente de honra, a professora Dorina de Gouvêa Nowill, que há mais de 60 anos vem prestando relevantes serviços às pessoas com deficiência visual no Brasil e no mundo.

Em âmbito local, a Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille, também presidida pela professora Dorina, fará uma série de homenagens. Entre elas, esta homenagem que propusemos aqui, a pedido da nossa querida amiga, companheira de luta, Regina Fátima Caldeira de Oliveira, que é a coordenadora da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille, integrada, em São Paulo, por várias entidades, que com honra quero registrar nos Anais desta Casa: Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais (Abedev); Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva); Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape); Biblioteca Louis Braille, do Centro Cultural São Paulo; Centro de Apoio Pedagógico Especializado - Secretaria de Estado da Educação (Cape); Centro de Emancipação Social e Esportiva dos Cegos (Cesec); Federação Paulista de Desporto para Cegos; Fundação Dorina Nowill para Cegos; Instituto de Cegos Padre Chico; Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual; Unidade para Reabilitação de Deficientes Visuais - Associação Cívica Feminina (URDV); entre outras pessoas que estão conosco neste bicentenário em São Paulo e no Brasil.

Esse é um breve histórico que não poderíamos deixar de relatar para marcarmos, em São Paulo, o bicentenário dessa história. De forma muito sucinta, esse histórico pode nos mostrar o que significou o aparecimento daquele menino, que acreditou no seu potencial e numa forma científica e nova de fazer a informação chegar, de forma direta, a milhares de pessoas que não enxergariam bem ou que seriam cegas na sua totalidade. Isso se tornou realidade, e é por isso que estamos aqui, fazendo esta sessão.

Vamos fazer algumas homenagens. Na verdade, gostaríamos de homenagear dezenas de pessoas, porque a história não se faz sozinha. Não existe história de um só. A história não se escreve a duas ou a quatro mãos, mas a milhares de mãos: por ações, inteligências, tempo de vida que se passa.

Gostaríamos, portanto, de homenagear diversas pessoas, mas, simbolizando em algumas delas, todos nós - videntes, cegos, com deficiência visual, entidades, instituições, secretarias, governos - estaremos nos sentindo homenageados.

Há pouco, recebi a informação de que o Presidente da Assembleia Legislativa, Deputado Barros Munhoz, está tentando chegar a esta sessão, antes do seu término, para saudá-los pessoalmente.

Com a palavra, a Sra. Regina Fátima Caldeira de Oliveira, coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e coordenadora da Comissão Brasileira e da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille.

 

A SRA. Regina Fátima Caldeira de Oliveira - Bom-dia a todos, autoridades, queridos amigos presentes.

Na qualidade de coordenadora da Comissão Brasileira e da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille, em primeiro lugar, quero agradecer ao Exmo. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Deputado Barros Munhoz, e à nobre Deputada Célia Leão, por terem aberto as portas desta Casa para mais um momento de celebração dos 200 anos de nascimento daquele que foi, sem dúvida, o maior benfeitor das pessoas cegas de todo o mundo.

O momento é significativo porque da Assembleia Legislativa têm sido emanados instrumentos legais importantes que contribuem para que as pessoas cegas exerçam a sua cidadania, lutando dignamente por seus direitos e cumprindo conscientemente os seus deveres.

Desde o dia 4 de janeiro, tenho tido a oportunidade de ouvir e falar, de ler e escrever muito sobre Louis Braille. Mas todas as palavras me parecem insuficientes para expressar a nossa gratidão a esse verdadeiro gênio. Graças a Braille, as pessoas cegas tiveram acesso àquela que considero a maior conquista da humanidade: a invenção da escrita. É por meio da escrita e da leitura que a espécie humana conhece o seu passado e contribui para o seu futuro, recebendo e transmitindo conhecimentos científicos, filosóficos, artísticos e tecnológicos.

Celebrar o bicentenário de Louis Braille significa celebrar a emoção de milhares de crianças cegas, de todo o mundo, ao lerem o seu primeiro conto de fadas. Celebrar o bicentenário de Louis Braille significa celebrar a dignidade dos profissionais cegos de diversas nacionalidades, que são capazes de ganhar o seu sustento e o de seus familiares, exercendo atividades que lhes proporcionam realização. Celebrar o bicentenário de Louis Braille significa celebrar a recuperação da autoestima dos milhões de pessoas que perdem a visão na idade adulta.

Mas não podemos nos esquecer de que se ainda hoje podemos nos beneficiar desse genial invento é porque existiram - e continuam a existir - pessoas que se dedicaram a estudá-lo, a difundi-lo e a torná-lo acessível.

Por essa razão, quero aproveitar este momento para também homenagear a professora Dorina de Gouvêa Nowill, que há mais de 60 anos luta incansavelmente para que livros em Braille, de qualidade, cheguem às mãos das pessoas cegas de todo o Brasil, propiciando-lhes conhecimento, cultura e lazer.

Pessoas como Louis Braille e D. Dorina, que vislumbram em seus dramas pessoais a oportunidade de amenizar as dificuldades de seus semelhantes, merecem todo o nosso respeito e devem nos servir de exemplo.

A Louis Braille, onde quer que esteja, a minha homenagem comovida pelo seu bicentenário. A D. Dorina, com quem tenho a honra de trabalhar, os meus cumprimentos carinhosos e respeitosos pelos seus 90 anos, completados ontem.

A todos, muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - Célia Leão - PSDB - Uma salva de palmas. A Regina Fátima Caldeira de Oliveira representa todos nós neste bicentenário do Braille, em São Paulo e no Brasil. Pela sua história, pela sua trajetória, ela foi levada a ser coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e coordenadora da Comissão Brasileira e da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille. Parabéns, Regina, pelo seu trabalho, pela sua obstinação e pelo resultado que você deu à sua vida e a milhares de outras vidas, junto com a fundação, junto com a querida Dorina.

Olho este plenário, para mim, diferenciado. A Assembleia Legislativa, para mim, é um espaço físico no qual muito me orgulho de estar presente como representante do povo. Peço licença às autoridades e aos convidados presentes para, rapidamente, dizer o que significa uma sessão como esta, numa Casa como esta.

Penso que seria omissão de minha parte se não falasse aos convidados que aqui estão, numa manhã diferenciada, sobre o significado do Parlamento. Quando fazemos uma sessão solene não é somente para registrar uma história, para enfatizar uma festa que está sendo realizada, consequência de um trabalho de mais de 200 anos no Brasil e no mundo, realizado por tantas instituições e pela Fundação Dorina. O local dessa sessão se dá no Parlamento de São Paulo, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que é o maior parlamento da América Latina, um dos maiores parlamentos do mundo, levando em conta os parlamentos europeus, norte-americano, canadense, enfim, parlamentos que merecem o respeito.

Todos os parlamentos do planeta merecem respeito, pois são, literalmente, o que ouvimos no dia a dia: a Casa do Povo. Mais do que isso, são a expressão da liberdade que invocamos com o nome de democracia. Os mais antigos viveram essa história. Dorina e tantos outros lembram-se - eu menina, lembro-me muito ainda - da década de 60, quando o Brasil viveu a ditadura. A ditadura era quando um mandava e todos obedeciam, não porque concordavam, mas porque seriam violentados se assim não fosse.

O Dr. Cristiano, filho da Dra. Dorina, que sabe dessa história e vive essa história da liberdade, haverá de concordar comigo em que a Assembleia Legislativa é a expressão dessa liberdade. Embora hoje a política no mundo e no Brasil não seja uma tarefa muito fácil de ser levada, embora existam grandes dificuldades nos poderes públicos - fato que reconhecemos, lamentamos e do qual nos envergonhamos -, é exatamente por isso que estamos aqui: para enaltecer e dizer da importância do parlamento e do Parlamento de São Paulo.

Costumo dizer, Dra. Dorina, que estamos pisando no chão sagrado. Outro dia, uma pessoa me contestou: “Chão sagrado é de igreja, Célia.” Eu disse: “É verdade. Igreja também tem chão sagrado.” Mas o parlamento também, porque aqui, nos 15 partidos representados nesta Casa e nos 94 parlamentares, por homens e mulheres de diversas etnias, religiões, condições socioeconômicas, são representados os anseios, os sonhos e as vontades da população.

É por isso que esta Sessão Solene tem um sabor especial, um sentimento diferenciado e uma responsabilidade maior. Literalmente, esta é a Casa do Povo, é a Casa de vocês, e é aqui que queremos registrar, para Louis Braille, onde ele estiver - sei que está conosco, de forma indireta e direta -, e para as autoridades que cuidam da questão da pessoa com deficiência, que a Assembleia de São Paulo merece e tem a obrigação de fazer esse registro.

Posto isto, quero agradecer a presença de pessoas que fazem a diferença: Sra. Lyla Byington Martins, esposa do ex-Governador Paulo Egydio Martins, que está conosco e tem uma história viva a contar; Sra. Regina Fátima Caldeira; Sr. Alberto Pereira, consultor em acessibilidade e inclusão da Associação Laramara; professora-mestre Ivete de Masi, da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais (Abedev); Sr. Markiano Charan Filho, diretor-presidente da Associação dos Deficientes Visuais e Amigos (Adeva); Sra. Maria Regina Marques Lopes, assistente social da Fundação Dorina Nowill; Sra. Márcia Regina Kretzer, coordenadora de Reabilitação da Fundação Dorina Nowill; Sr. Alfredo Weiszflog, diretor-presidente voluntário da Fundação Dorina Nowill, um homem diferenciado, a quem faço um registro especial. O Dr. Alfredo, além de competência, tem um trabalho de doação, no bom sentido, invejável por aqueles que possam seguir seus caminhos.

Agradeço também a presença do Sr. Ricardo Sigolo, bibliotecário da Biblioteca Louis Braille do Centro Cultural de São Paulo; do Sr. Luiz Antônio Monteiro, Chefe de Gabinete da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, representando o Exmo. Sr. Guilherme Afif Domingos. Dr. Luiz Antônio, leve o nosso apreço ao Dr. Guilherme Afif, que é um homem que tem feito por São Paulo e pelo Brasil. De forma especial, honra-nos muito a presença dele, por meio da sua pessoa; Sr.Antonio José Ferreira, presidente da Organização Nacional de Cegos do Brasil, ONCB; Sra. Marta de Campos, representando a Dª Mara Campos, da Laramara, que não compareceu porque fez uma cirurgia de garganta, e não poderia deixar de levar o abraço a Dorina, que completou ontem 90 anos, numa singela e grandiosa festa; Sra. Serli Carvalho Rodrigues, representando a Secretaria  de Estado da Educação e a Coordenadoria do Ensino do Interior, trazendo o abraço do Secretário Paulo Renato de Souza. Muito obrigada, leve nosso apreço e reconhecimento pelo grande trabalho que realiza na Secretaria Estadual de Educação junto com o Governador José Serra; Sra. Ana Maria Michele, professora e coordenadora do Instituto de Cegos “Padre Chico”; Maria Elizabete da Costa, diretora do Serviço de Educação Especial.

Também gostaria de registrar a ausência do Deputado Rafael Silva, Deputado desta Casa, de Ribeirão Preto, que tem deficiência visual. Obviamente os senhores conhecem o Deputado Rafael Silva que não pôde comparecer por compromissos na sua cidade, cumprimenta e agradece a iniciativa de todos que realizaram esta sessão solene.

Gostaríamos ainda de registrar a presença do nosso querido Cristiano Humberto Nowill, filho de Dra. Dorina. Gostaria de registrar a presença da Mimi e do Carlos, neto da Dra. Dorina, representando toda a família. São oito netos, dois bisnetos e cinco filhos. Dessa forma, queremos mostrar a senhora, Dra. Dorina e a todos os presentes, a importância de esta sessão se realizar na Assembleia Legislativa, onde tenho a honra de ser parlamentar. Mas mais importante do que o local, são as pessoas presentes, que fazem a diferença,  porque sem elas a sessão não aconteceria.

Recebi a notícia de que o Presidente, Deputado Barros Munhoz, está chegando. Para nós, é um momento diferenciado, porque não é fácil um Presidente poder pelo menos passar ou presidir por alguns minutos uma sessão solene. As sessões solenes acontecem na Casa durante várias datas do ano e se o Presidente tivesse que participar de todas, obviamente não teria essa possibilidade - mas algumas ele não abre mão.

Queremos passar a palavra à Irmã Madalena, tesoureira do Instituto de Cegos “Padre Chico”, que traz sua história e seu trabalho, representada pela Sra. Ana Maria Michele, professora e coordenadora. (Palmas.)

 

A SRA. ANA MARIA MICHELE - Bom-dia a todos, autoridades, senhores, estou representando a Irmã Madalena, do Instituto de Cegos “Padre Chico” que, infelizmente, por estar acamada, não está aqui fisicamente, mas está em pensamento.

Exmo Sr. Deputado Barros Mendes, Exma Sra.  Deputada Célia Leão,todos os senhores e senhoras aqui presentes, o Instituto de Cegos "Padre Chíco", participante da Comissão Paulistana do Bicentenário de nascimento do ilustre e inesquecível Louis Braille, agradece a oportunidade de poder homenagear esta figura que lentamente conseguiu o reconhecimento e o valor de seu trabalho, revolucionando o mundo com seu invento, que deu ao cego a oportunidade de através do Sistema Braille, ingressar no mundo das letras, da música e da cultura e tomar-se assim um ser útil à sociedade e a si próprio.

Assim como grandes invenções revolucionaram o mundo trazendo grandes benefícios à humanidade, Louis Braille revolucionou o mundo com a sua invenção: o sistema Braille, que será sempre para o cego um instrumento que lhe dará a oportunidade de crescer no conhecimento do campo científico, tecnológico e artístico e assim poder contribuir para tomar-se um cidadão cn'tico e exercer a verdadeira cidadania.

Parabéns Louis Braille, parabéns e obrigado por este incentivo a todos nós, que estamos empenhados nesse trabalho maravilhoso, que é o desenvolvimento e integração, que o Instituto de Cegos "Padre Chico" realiza há 80 anos e que espera dar continuidade ainda por muitos anos para o crescimento cultural dos cegos que o procuram.

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Uma salva de palmas ao Instituto de Cegos “Padre Chico” e agradecemos muito a manifestação. Com muita alegria e com muita honra, convido para tomar assento à mesa, que de fato e de direito desse grande homem, que nominei no início dos trabalhos, o Deputado Barros Munhoz, que tem feito a diferença por São Paulo e para o Brasil, que tem Presidido esta Casa com maestria, responsabilidade e sensibilidade. Quero enfatizar que o Deputado Barros Munhoz saiu de um trabalho importante, mas não abriu mão de estar conosco, pelo menos, para saudar os presentes. Com muita alegria, uma salva de palmas ao Deputado Barros Munhoz, Presidente desta Casa. (Palmas.)

O Deputado Barros Munhoz, como eu disse, tem feito um trabalho muito importante no Estado de São Paulo. Um homem que tem história de vida pública, que conhece do que faz e sabe diferenciar aquilo que pode estar ausente, aquilo que precisa estar presente. Por isso, o Deputado Barros Munhoz fez questão absoluta de comparecer para cumprimentar os presentes, a Mesa Diretora e registrar sua manifestação. Não poderia deixar de fazê-lo, Dra. Dorina, porque conhece a sua história, conhece a história da Fundação,  e esse momento podemos escrever e registrar na história de São Paulo e do País.

Portanto, o Deputado Barros Munhoz, que foi convidado inclusive pelo Governador José Serra para outras atividades no Estado e no Governo, não abriu mão de estar nesta Casa, como representante do povo, como alguém que tem um trabalho para fazer no Estado de São Paulo. Já foi Ministro da Agricultura no Governo Federal, obviamente os senhores se lembram do tempo em que ele esteve frente ao ministério por quase dois anos. E naquela época, para quem o conheceu, para quem leu a história, ele fez um trabalho que marcou também Agricultura do Estado de São Paulo e do Brasil.

Gostaríamos de aguardar com paciência a presença do nobre Deputado Barros Munhoz, que pediu para falar antes dos convidados, para que pudesse depois se ausentar do Parlamento.

Enquanto aguardamos, esta Presidência gostaria de chamar o próximo orador, para registrar seu sentimento com relação ao bicentenário. Queremos convidar o Dr. Roberto Braguim, Presidente do Tribunal de Contas do Município. (Palmas.)

 

O SR. ROBERTO BRAGUIM - Exma. Deputada estadual Célia Leão, Presidente e proponente desta sessão; professora Dorina Nowill, presidente da Fundação Dorina Nowill; Dra. Linamara Battistella, eminente Secretária de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Dr. Marcos Belizário, Sr. Secretário Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida; Dr. Luiz Baggio, Secretário – Adjunto de Estado da Secretaria da Pessoa com Deficiência; Sr.Antonio José Ferreira, presidente da Organização Nacional dos Cegos do Brasil; autoridades, dirigentes, senhoras e senhores.

Inicialmente, gostaria de pedir desculpas por quebrar o protocolo. Mas como eu tenho uma agenda e a sessão atrasou um pouquinho, tenho pessoas me aguardando no tribunal e terei que me retirar a seguir, por isso pedi a gentileza  às demais autoridades para quebrar o protocolo.

Os senhores podem estar pensando: o que faz aqui o Presidente do Tribunal de Contas do Município de São Paulo?  Eu vou responder. Quando assumi em janeiro deste ano a presidência do Tribunal, assumi com o compromisso e elegi duas bandeiras: a bandeira de defesa ao meio ambiente, dentre outras, e a questão da acessibilidade. Criei uma relatoria no tribunal voltada diretamente às questões de meio ambiente e de acessibilidade, para presidi-la, para ser seu relator e para poder cuidar de todas as questões atinentes na Cidade de São Paulo.

Como disse a ilustre Deputada, nós adaptamos o tribunal, estamos progredindo cada vez mais na questão da acessibilidade. Temos todas as rampas, todas as portas, sanitários, telefones para deficientes auditivos, visuais, cadeirantes - estamos nos aparelhando. Fizemos com o Secretário Marcos Belizário juntamente com os nossos engenheiros, arquitetos e auditores, um curso para preparar o pessoal do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, que sai à rua para fazer a fiscalização na Prefeitura do Município de São Paulo, de todos os elementos necessários, para o exercício desse trabalho, por quê? Porque o tribunal entendeu que a questão da acessibilidade não pode mais ficar jogada com o tempo passando. Entendemos que as pessoas com qualquer deficiência têm direito à vida e à inclusão. Por isso vamos brigar. Os senhores podem estar certos que ainda ouvirão falar do Tribunal de Contas do Município, auxiliando as pessoas com qualquer tipo de deficiência.

Eu tenho uma parceria com a Deputada Célia Leão, em nível de Governo do Estado, de trabalho; tenho parceria com a Vereadora Mara Gabrilli, que eu a convidei para que pudéssemos apresentar inicialmente na Câmara Municipal, inúmeros projetos de lei, que visem a criar os direitos a todas as pessoas com qualquer tipo de deficiência. Depois, em nível estadual, também tentaremos avançar. Conversamos e entendemos que a Cidade de São Paulo, pela sua representatividade, seria o espelho para todo o País dessa sementinha que vamos tentar plantar. Assumimos também o compromisso com os senhores, e nos colocamos à disposição de todos os dirigentes, de todos as entidades e de todas pessoas com deficiência para que nos procurem no Tribunal, para que possamos aprender também com os senhores aquilo que melhor pudermos fazer - idéias, sugestões para que possamos enviar à Vereadora em nível municipal, à Deputada para tornar lei e ao Tribunal para fiscalizar.

Posso garantir que daqui a pouco, nenhuma casa na Cidade de São Paulo, no sentido geral, seja hotel, teatro, hospital, restaurante, edifício privado, edifício comercial, não vai receber alvará, licença de funcionamento, ou de “Habite se”, se não preencher todos os requisitos legais de toda a legislação existente no País e na Cidade de São Paulo. Garanto aos senhores, falando em nome do Procurador-Geral de Justiça do Estado, Dr. Fernando Grella Vieira, com quem mantive tratativas no sentido de firmarmos um convênio para cumprimento da lei. Nós, no Tribunal, temos a prerrogativa de se não atendida a lei, se um funcionário na subprefeitura responsável, subprefeito outorgar o alvará de funcionamento ou o “Habite se” a qualquer imóvel nessa cidade, que esteja em desacordo com a lei, ele vai responder por isso.

Podemos processá-lo por crime de desobediência e o Ministério Público irá executá-lo em parceria. Entendemos que com essa ação coercitiva eles entenderão a linguagem da acessibilidade, da inclusão das pessoas e façam com isso seu papel também.

Firmamos convênio com outras entidades como o Crea, por exemplo, porque é o conselho regional que fiscaliza a atividade dos engenheiros e arquitetos e eles são os responsáveis pelos projetos. Então, na medida em que eles elaboram os projetos, têm que estar conscientes que essa legislação de acessibilidade tem que ser cumprida. Assim, o engenheiro, o arquiteto passa a ser o nosso primeiro fiscal porque ele não vai elaborar e aprovar um  projeto em desconformidade com a lei se ele vai  responder junto ao Crea. É um contribuinte a mais para esse batalhão que estamos formando.

Nós, também, estivemos já com representantes de inúmeras entidades. Falamos com o presidente Alencar Burti, da Associação Comercial. A Associação Comercial,  eu não sei se os senhores sabem, na questão de acessibilidade avançou muito, mas muito mesmo. Fui pedir ao presidente Alencar Burti que disseminasse entre seus associados a necessidade do cumprimento das regras de acessibilidade porque aí teremos cada vez mais comerciantes na cidade imbuídos da necessidade de abrirem as portas de novas instalações comerciais com respeito a essa legislação, facilitando a vida de todas as pessoas.

Com o Prefeito Gilberto Kassab e com o Secretário Marcos Belizário temos tido tratativas, desde o ano passado, no sentido de que a cidade seja adaptada à pessoa deficiente como um todo. E vamos fiscalizar, posso dizer isso aos senhores.

Só vim aqui para dizer que estou à disposição. Colocamos também o Tribunal à disposição da comemoração do Bicentenário do Louis Braille e para, se quiserem, também fazer exposição no nosso Tribunal para que nossos funcionários tomem conhecimento e se aproximem mais do método. Quero dizer aos senhores que podem cobrar do Tribunal porque vamos colaborar para que a vida das pessoas que têm deficiências melhore a  partir já deste ano. Muito obrigado

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Uma salva de palmas ao Presidente Dr. Braguim. (Palmas.) Obrigada pelas suas bravas e corajosas palavras e pelas atitudes que frente ao Tribunal de Contas do Município como presidente, autoridade máxima que é, tem  a possibilidade, o poder, a caneta e autorização legal e constitucional de fazê-lo. Portanto, nos sentimos muito agradecidos e, mais do que isso, atendidos.

Muito obrigada, Dr. Braguim. Sei que V. Exa. tem que se retirar daqui a pouco.

O Sr. Presidente Barros Munhoz está entrando no plenário. Uma salva de palmas ao nosso Presidente.(Palmas.) 

Agradecemos muito, de coração, a presença aqui do Deputado Barros Munhoz.

Passo a  Presidência da Mesa  e a palavra ao Presidente Barros Munhoz.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Senhoras e senhores, peço desculpas por não estar convenientemente trajado porque eu estava com uma viagem atrasada e não vinha para a Assembleia Legislativa hoje. Tenho um compromisso em Santo Antonio da Posse, quase agora, mas recebi um telefonema de minha assessoria de um convite da Deputada Célia Leão, que é muito mais que um convite é até uma ordem. Ela é uma deputada especial para todos nós desta Casa. É uma deputada que merece mais do que amizade, mais do que carinho, merece muito respeito pela sua combatividade, pela sua luta, pela sua dedicação à causa pública.

Quebrei o protocolo e peço desculpas por isso. Mas acho que é uma falha menor do que a falha de não vir aqui. Fiz questão de aqui estar para trazer um grande abraço à Deputada Célia Leão, essa nossa paradigma de política, e vou repetir isso à exaustão.

Toda vez que eu puder falar, falo que há muitos políticos que dão mau exemplo neste País, infelizmente, e que denigre a atividade política. Precisamos realçar sempre os bons políticos, os exemplos daqueles que se dedicam, que se sacrificam, que se esforçam como o faz, nobremente, a nossa querida companheira, Deputada Célia Leão.

Faço este registro com muito orgulho, Deputada Célia. Você sabe que é de coração e que já vem de longe essa admiração.

Quero dizer que, chegando aqui e lendo a relação das autoridades, a minha emoção foi ainda maior porque revejo aqui uma grande senhora que foi a primeira-dama extraordinária do Estado de São Paulo. Fui testemunha do seu trabalho porque na minha terra, Itapira, ela desenvolveu um projeto piloto que marcou época. Tínhamos lá um bairro muito pobre, que era tristemente chamado de Risca Faca. Ninguém sabia o nome do bairro, era o Risca. Aonde você mora? Moro no Risca. Onde você foi? Fui no baile lá no Risca. Crimes, um bairro triste, abandonado e a D. Lyla Martins, que aqui está presente, plantou lá um projeto piloto do Fundo Social de Solidariedade. Era esposa de um dos maiores governadores da história de São Paulo, Dr. Paulo Egydio Martins. Pena que interrompeu jovem sua carreira. São Paulo e o Brasil perderam uma figura política extraordinária, um homem magnânimo que sabia dirigir, sabia usar a autoridade sem ser autoritário. Ele fez um grande governo mas tinha ao seu lado essa mulher extraordinária.

Hoje, se alguém aqui for a Itapira e dizer: aonde é o Risca, ninguém vai saber. Aonde é o Risca Faca? Ninguém vai saber. Agora se perguntar aonde á a Vila Ilze. Todo mundo vai saber onde é. Hoje é um bairro onde as pessoas moram com dignidade, com respeito e se chama, para nosso orgulho, Vila Ilze, nome bonito de uma senhora muito querida da nossa cidade.

Saúdo a Dona Dorina, que é a presidente emérita e vitalícia da Fundação Dorina Nowill para Cegos. É uma honra recebê-la aqui, Dona. Dorina, nós que conhecemos sua história e sabemos da importância da fundação que a senhora dirige.

Essa nossa Secretária, Dona Linamara, é um orgulho de todos nós. Nós todos aqui da Assembleia Legislativa temos um respeito muito grande pela senhora. Às vezes, a vida política traz dissabores pequenos, mas é o sal que dá o sabor às coisas grandes que são feitas. Essas pequenas contrariedades, na verdade, enobrece a grandiosidade de um trabalho como o que a senhora faz, reconhecido por todos de São Paulo, pelos deputados da Assembleia Legislativa, pelo Governador Serra que não se cansa de elogiar seu trabalho. Aliás, é gostoso para um dirigente acertar em escolher uma pessoa e dar certo, como deu certo e vem dando certo e, se Deus quiser, continuará  sempre dando certo a Secretária Linamara, que vem dirigindo com brilhantismo uma Pasta tão importante quanto a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Quero saudar todas as demais autoridades, o Sr. Marcos Belizário também, a secretária da Secretaria Especial de Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Quero deixar aqui o meu abraço.

É importante comemorarmos essa data porque quem não tem noção do que é o Braille, enfim, a  importância para as pessoas com deficiência visual essa figura extraordinária da humanidade? Assim que é bonito. Temos mesmo que homenagear as pessoas que fazem o bem porque neste País temos tudo para tudo dar certo: terra, clima, solo, mata, água e o melhor povo do mundo.

No dia que tivermos juízo e valorizarmos as coisas boas em detrimento das coisas ruins vamos ser o melhor País do mundo, indiscutivelmente. E para gente como vocês, gente como essa querida Deputada Célia Leão, um grande e fraternal abraço.

Volte à Presidência, Deputada Célia Leão! (Palmas.)

 

* * *

 

- Assume a Presidência a Sra. Célia Leão.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB -  Mais uma vez uma salva de palmas ao Deputado Barros Munhoz, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que muito agradecemos da forma que ele é, forma simples e por isso um grande homem. (Palmas.) Existe um velho ditado que diz que a grandeza de um homem está na sua simplicidade. Exatamente assim é o Deputado Barros Munhoz, que muito nos honra com sua presença neste tempo. (Palmas.)

Dando continuidade às nossas falas que tem marcado esta manhã e a história dos 200 anos do Louis Braille no Brasil e no mundo, queremos convidar, para também partilhar conosco seu sentimento com esta causa que é de todos e particularmente dele, nosso Secretário de Direitos da Pessoa com Deficiência, Dr. Belizário, do  Município de São Paulo.

Muito obrigada pela sua presença e parabéns pelo trabalho que tem feito na Cidade de São Paulo!

 

O SR. MARCOS BELIZÁRIO - Bom dia a todos os meus amigos, às minhas amigas. Sra. Presidente, nossa querida sempre Deputada Célia Leão, uma guerreira, uma leoa; Dorina Nowill, quando falamos em Braille, em dedicação, não podemos esquecê-la; nossa querida Secretária Linamara; enfim, todas outras autoridades presentes aqui, especialmente vocês, fiquei feliz quando o Presidente da Assembleia Legislativa chegou sem gravata porque também estou sem. Acho muito bacana isso porque são coisas peculiares em nossas vidas. Eu, como advogado a vida inteira, sinto-me enforcado com a gravata e com aquele monte de agenda. Ontem, por exemplo, eu estava engravatado e hoje estou à vontade e sinto-me melhor. Quando a minha esposa falou: “Olha, você tem evento hoje  na Assembleia Legislativa. Você não vai usar o terno?” Eu disse: “Não. Vou com coração.”

Se bem que muitas pessoas não estão me vendo, quero que elas me sintam e que eu expresse a verdade e aquilo que é mais importante. Quando cheguei aqui com o carro de Secretário na portaria, as pessoas olharam e disseram: “E o Secretário? Cadê o Secretário?” Gostaria de falar aqui uma particularidade. Eu dei para nossa amiga uma pequena entrevista, quando começamos este evento. Ela falou: “Qual a importância desse evento e tudo o mais?” Eu acho que sempre devemos estar homenageando e nunca esquecendo aquelas pessoas que sempre dedicaram a sua vida a seus irmãos. Independente disso tudo, acabamos nesses encontros sempre aprendendo, reencontrando pessoas, discutindo, enfim, toda essa parte bacana.

Quero dizer que quando assumi a Secretaria pela primeira vez e conheci a Dona Dorina, sentei ao lado dela. Apresentaram-me a ela e eu humildemente disse: “Dona Dorina, como devo pronunciar o seu nome? Dorina Nowill, Nouill,  Novil e tal”. Como hoje ninguém falou Novil, ela disse: “Olha, Secretário, pronunciar  Dorina Novil é a mesma coisa falar “Alberto Eisten”. Ela respondeu de uma forma bacana.  Mas, o mais importante, no final ela disse que isso tudo não importa. Enfim, importa é estar conhecendo as pessoas, importa é estar sendo lembrado. Então, essa é a Dorina. Dona Dorina que ontem fez 90 anos, e num cartãozinho escrevi em homenagem a ela algumas palavras,  que o mais importante na vida pública é poder fazer pela nossa cidade, pela nossa gente, especialmente conviver com pessoas como a Dona Dorina. Esse é o lado bacana e bom de a gente poder participar da vida pública.

O Prefeito da Cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, está empenhado nessa questão de acessibilidade e da inclusão, que é o que o Presidente do Tribunal Roberto Braguim colocou de uma forma até humilde. Roberto Braguim, tomou posse como presidente uma ou duas semanas após a minha posse de Secretário. Eu estive com ele, e ele me disse: “Belizário, nós precisamos conversar. Quero trabalhar com você constantemente para que possamos fazer uma São Paulo melhor e especialmente fazer cumprir as leis”. Ele vem sendo extremamente dedicado e parceiro à causa de uma forma muito humilde, especialmente com o resultado. Ele colocou todos os seus técnicos, todas as pessoas que têm a função de investigar primeiramente para tomar conhecimento em conjunto. Eu disse a ele: “Presidente, precisamos ser práticos”. Aquilo que ele disse aqui de fazer com que toda a cidade tenha seu comércio, as residências, especialmente o comércio ou um departamento público que receba pessoas, por obrigação tem de ter acessibilidade. Temos na Cidade de São Paulo pequenas - e muitas vezes não divulgadas - ações, mas de grande importância. Por exemplo: a Lei Federal 5296/04 - a maioria de vocês conhecem - é a obrigatoriedade da acessibilidade no Brasil. Em São Paulo temos também um decreto municipal que infelizmente estava sendo utilizado de maneira protelatória por muitas pessoas porque dizia da obrigatoriedade de acessibilidade para locais públicos a partir de 150 pessoas. Isso é um absurdo, é uma vergonha.

Nós, juntamente com a Procuradoria municipal, em cumprimento à lei, determinamos na Cidade de São Paulo acessibilidade ainda que para uma única pessoa. Então, não tem mais como advogado ou comerciante querer protelar a questão da obrigatoriedade de acessibilidade. Todo e qualquer comércio, todo e qualquer órgão público e privado deve ter acessibilidade. Portanto, cabe-nos fiscalizar e trabalhar para que essa acessibilidade chegue. Sabemos das dificuldades nos bens públicos e estamos trabalhando em todos eles. Vamos começar a fazer um levantamento minucioso com a CPA para darmos o exemplo em nossas casas, não por obrigação, mas por respeito, por respeito moral. Não podemos fiscalizar e punir se as nossas casas também não estão adequadas. Isso vem sendo feito pela Cidade de São Paulo.

O Prefeito Gilberto Kassab está promovendo uma grande campanha, como nunca se viu na Cidade de São Paulo, de acessibilidade e inclusão através da Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Estive na agência trabalhando com eles como a campanha será feita, mas quero pedir a vocês, vocês que têm ideia daquilo que mais precisam, daquilo que realmente seja interessante, para que procurem a nossa Secretaria e façam sugestões, porque ainda dá tempo de trabalharmos juntos com as agências para que essa campanha, que deve acontecer a partir do mês de julho, possa levar aquilo que a gente de repente não enxerga e que nós podemos divulgar. Digo isso por quê? No último evento aqui na Assembleia Legislativa você disse: “Gostaria de agradecer o Belizário, que está lá no fundo.” Eu tinha saído e conversando com algumas pessoas após o evento...

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Permita-me, Secretário: era do Instituto Paradigma e a Corde fazendo empregabilidade e curso de conscientização para pessoa com deficiência.

 

O SR. MARCOS BELIZÁRIO - Conversando com algumas pessoas deficientes visuais eles disseram: “Secretário, nós queremos fazer uma sugestão, nós queremos fazer um pedido ao Secretário sobre as eleições. Nós queremos ter oportunidade de não obrigatoriamente estar acompanhado. Nós sabemos que podemos levar alguém.”Eu falei, mas vocês podem levar. Eles disseram: “Nós podemos, mas gostaríamos de estar sozinhos. E se eu quiser votar sozinho? A urna tem o Braille, muitas vezes não tem a conferência, era importante o som e tudo o mais.”Eu disse a eles o seguinte: “Isso veio numa boa hora porque semana que vem tenho uma reunião com o presidente do Tribunal para discutir exatamente a questão da acessibilidade nas eleições. É importante discutirmos agora para não termos problemas no ano que vem.”

Nós já tínhamos feito dois trabalhos com o Tribunal, a equipe do Tribunal com a Secretaria. Fui a ele e discutimos a questão. Eles até nos procuraram interessados na acessibilidade no próprio Tribunal e cartórios eleitorais e levei a questão da acessibilidade no dia das eleições em todos os colégios eleitorais. Alguns chegam a desligar a energia elétrica para o elevador. Fiz uma proposta: “Por que vocês não colocam uma urna em cada escola?” Se der algum problema em qualquer das seções, vamos supor que eu quebre a minha perna. Não existe essa possibilidade e me comprovaram. Por questão de segurança, o sistema não permite essa habilidade de você incluir ou excluir dados nas urnas. Enfim, não somos nós que vamos mudar esse sistema agora nem para a próxima eleição, mas vamos fazer um trabalho preventivo pelo menos para que na Cidade de São Paulo não tenhamos alguns problemas, exceto de força maior - não por omissão - nas próximas eleições.

Estamos levantando os colégios, a CPA vai correr esses colégios, são centenas. Naqueles em que acharmos que a acessibilidade não está condizente, pediremos a substituição do colégio e uma coisa me chamou a atenção, eu também não sabia. Falei: “Presidente, fui procurado por algumas pessoas com deficiência visual e elas me disseram que gostariam de poder votar com fone de ouvido.” Para minha surpresa, isso é permitido. Basta as pessoas comunicarem ao cartório eleitoral da sua deficiência visual que ele terá uma urna sonora, com o fone de ouvido. Isso já existe no Tribunal e nós precisamos divulgar. Por quê? Porque eu também, mesmo como Secretário na Cidade de São Paulo, não sabia e algumas pessoas com deficiência visual - inclusive tinha alguém ali de algum instituto - vieram me pedir esse tipo de contato junto ao Tribunal.

Finalizo dizendo que isso é bacana. Estamos trocando informações, estamos discutindo, estamos aprendendo e eu me coloco à disposição de vocês para receber, num curto espaço de tempo, sugestões a fim de termos na Cidade de São Paulo uma campanha de inclusão, especialmente uma campanha de conscientização. Sabemos que ainda não temos uma cidade cem por cento acessível, falta muito, mas se fizermos uma campanha contínua e envolvendo todos teremos uma cidade melhor, um Estado melhor e um País muito melhor. (Palmas.) 

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Parabéns Secretário Belizário pelo seu trabalho.

Queremos, com muita alegria, registrar a presença da Sra. Stella Machado de Sá, representando o presidente da Pró-Visão da Cidade de Campinas Dr. Messias Marques Rodrigues. Leve o nosso abraço, o nosso carinho a todo o pessoal pelo trabalho que o Pró-Visão tem feito em Campinas e região.

Quero também registrar a presença da Federação de Entidades de Cegos do Estado de Santa Catarina, Celcun, mais precisamente do Município de Chapecó.

Convidamos para fazer uso da palavra o nosso querido amigo e companheiro Sr. Antonio José Ferreira, da Organização Nacional de Cegos para o Brasil.

 

O SR. ANTONIO JOSÉ FERREIRA - Bom-dia a todos. Comecei meu pronunciamento fora do microfone para que os companheiros deficientes visuais possam, pelo som da minha voz, se posicionar para olharem em nossa direção. Geralmente nós, cegos, quando estamos num espaço muito grande, a tendência é sempre olhar para a caixa de som.

Deputada Célia Leão, é com muita alegria que participamos desta Sessão Solene de grande importância às comemorações do Bicentenário de Louis Braille. Quero saudar o nobre Secretário Belizário, da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida; a nossa Secretária Estadual Dra. Linamara Rizzo Battistella; a nossa querida Dorina Nowill - que ontem completou 90 anos - e especialmente a nossa querida Regina Caldeira, coordenadora nacional da comissão que articula as comemorações do bicentenário de Louis Braille no Brasil, senhoras e senhores, para nós da Organização Nacional de Cegos, ONCB, é motivo de grande alegria estarmos aqui no Parlamento do Estado de São Paulo. Esta Casa sempre tem se pautado em trazer temas relevantes e importantes para a melhoria da qualidade de vida do povo de São Paulo e temas como o objeto desta solenidade ressalta a qualidade de vida e a melhoria da vida das pessoas cegas do Estado de São Paulo e do Brasil. Serei rápido nas minhas palavras, pois acredito que outras pessoas da Mesa também deverão falar.

Quero destacar que nós, os cegos, estamos aqui hoje porque pessoas que nos antecederam foram diferenciais em nossas vidas. Poderia citar para os cegos brasileiros algumas pessoas de grande importância: Louis Braille, que na sua infância já se preocupava com a melhoria de vida das pessoas com deficiência visual - e aí peço desculpas àqueles que não têm deficiências aparentes. Nós, pessoas com deficiência, temos encontrado soluções para os nossos problemas ao longo da história. Nós é que temos sido os protagonistas em resolver os nossos problemas, claro que com a ajuda de nossos familiares e amigos. Mas Louis Braille deu essa demonstração e ainda na sua infância se preocupou em criar um método que nos possibilitasse ler e escrever com autonomia.

Outra pessoa que destaco como relevante para as nossas presenças aqui hoje é José Alves de Azevedo, que saiu do Estado de Minas Gerais e foi à França. Quando voltou, quis compartilhar aquilo que tinha aprendido: o sistema Braille, primeiro cego brasileiro a aprender o sistema. A partilha desse conhecimento se deu com a filha do médico de Dom Pedro, que o motivou a criar o Instituto Benjamin Constant no Rio de Janeiro, à época Instituto Imperial dos Meninos Cegos do Brasil.

Outra pessoa - e a mais importante porque está entre nós - é a Profa. Dorina Nowill. Ela não quis só ensinar. Ela quis ampliar esse conhecimento para que todos os cegos brasileiros pudessem de alguma forma, em alguma parte do País, receber os serviços da Fundação. E assim fez em 1946, quando criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que de forma bastante justa recebe seu nome: Fundação Dorina. E o trabalho da Fundação Dorina tem reforçado bastante a importância de Louis Braille porque ela tem feito com que todos os cegos deste País  tenham em algum momento de sua vida tido contato com os livros produzidos pela Fundação dando o acesso digno à leitura.

Louis Braille para mim e para nós, cegos, é tão importante como gênios que passaram pelo planeta Terra. Talvez tão importante como Alberto Einstein, como José Alves de Azevedo, como Oswaldo Cruz, como Santos Dumont. Mas para mim, a maior virtude de Louis Braille foi compartilhar o seu feito com outros companheiros.

Encerro minhas palavras dizendo que nós, os cegos brasileiros, estamos de parabéns por termos tido oportunidade de alcançar os efeitos do sistema Braille em nossas vidas, por termos tido oportunidade de conviver com Dona Dorina e desfrutar de todo o seu trabalho no Brasil.

Quero ainda dizer a vocês que cheguei recentemente de uma viagem que fiz ao Panamá, onde tive oportunidade de me encontrar com lideranças do movimento de cegos de 17 países e orgulhosamente digo aos senhores que graças ao trabalho feito desde Dom Pedro, desde Álvares de Azevedo até hoje, o Brasil, no que se refere a tecnologias e ao avanço no sistema Braille, é Primeiro Mundo na América latina.

Um grande abraço a todos e parabéns à Casa. Parabéns à nobre Deputada pela iniciativa. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Leve o nosso abraço a todo pessoal da Federação lá de Santa Catarina.

Queremos informar que no próximo domingo, dia 31 de maio, às 21 horas, esta Sessão Solene estará sendo transmitida pela TVA Canal 66 e pela Net Canal 13.  

Com muita alegria, com muita emoção, convidamos para registrar mais uma vez a sua inteligência, a sua sensibilidade para uma causa que é dela e de todos nós a nossa Secretária Dra. Linarama Rizzo Battistella, representando o Sr. Governador José Serra.

Secretária, a tribuna é de V.Excelência.Aliás, a tribuna e a vida de todos nós nas mãos da Secretária que é a maior e melhor secretária do Estado de São Paulo.

 

A SRA. LINAMARA RIZZO BATTISTELLA - Bom-dia a todos e a todas. Quero cumprimentar a nossa querida Deputada Célia Leão, proponente desta Sessão Solene em comemoração ao Bicentenário de Louis Braille e lembrar quantas vezes estamos aqui reunidos por iniciativa dela para celebrar os avanços conquistados pelo movimento de luta pelos direitos das pessoas com deficiência, graças a este Parlamento, graças a essa forma absolutamente harmoniosa que ela tem de juntar o Legislativo e o Executivo. Então, meus cumprimentos, meu abraço muito afetivo a essa grande liderança que luta por uma sociedade mais justa para todos.

Quero dizer da minha alegria de abraçar, hoje, a dona Dorina Nowill, presidente emérita e vitalícia da Fundação Dorina Nowill que nós, da Faculdade de Medicina da USP, conhecemos de longa data. A trajetória da Fundação e a trajetória de vida da Dorina Nowill se confundem com a história do atendimento, da atenção ao deficiente visual no Estado de São Paulo e provavelmente no Brasil.

Tenho uma admiração imensa por dona Dorina e hoje vou até me dar o direito de falar que admiro por tudo que vocês conhecem e por uma particularidade muito pitoresca de hoje. Além de ser uma mulher que faz, ela é uma mulher que não esconde a idade, ela está de parabéns.

Quero cumprimentar o Sr. Marcos Belizário, Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, e vou me dar o direito de fazer uma audiodescrição. Para quem não conhece o Marcos Belizário, a forma como um audiodescritor falaria seria jovem, bonito, uma tez transparente, um coração generoso e uma incrível vitalidade na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Esta seria a audiodescrição que o audiodescritor faria se tivesse que explicar às pessoas com deficiência visual a importância de ele ter chegado nessa área e a força que tem trazido, dentro do Município de São Paulo, para que as conquistas permaneçam, se ampliem, e possamos efetivamente ter parcerias e ter vitórias em todos os segmentos.

O Luiz Baggio Neto, Secretário - Adjunto de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, muito conhecido pela luta nessa área, tem toda uma trajetória de presidente de Conselho Municipal até a Secretaria, e tem sido um colaborador incansável.

Quero dizer para o Antonio José Ferreira,  presidente da Organização Nacional dos Cegos do Brasil, da alegria e do prazer que nos dá ouvir um jovem como ele falando com essa energia e trazendo essa consagração internacional para dentro do Brasil, dizendo o quanto o Brasil, hoje, é reconhecido entre os países latino-americanos. Essa força da juventude que deve permanecer na luta para a manutenção desses direitos.

E a nossa querida Lyla Byington Martins, esposa do ex-governador Paulo Egydio Martins, em nome de quem cumprimento todos os presentes eu digo que comemorar o bicentenário de Louis Braille nos remete a uma ação que hoje, no mundo contemporâneo, tem nome e sobrenome, que é a tecnologia assistiva. Mas é também uma questão entusiasmante ver como a comunicação, os registros sempre foram prioridade para a pessoa humana.

Louis Braille, quando conseguiu transportar a comunicação escrita para esta sistematização, ele ajudou no registro histórico, ele ajudou na inclusão social, ele ajudou a fortalecer os  mecanismos de comunicação e ajudou a criar esse conceito que hoje está dentro da educação, do trabalho, da saúde, que são as ajudas técnicas, as tecnologias assistidas. E a gente trata esse assunto como se fosse novo. O assunto não é novo. Ele vem dessa história mesmo quando nós não temos a dimensão da trajetória dessa luta das pessoas com deficiência no país todos nós identificamos.A sociedade em geral identifica, reconhece e sabe da importância do sistema Braille, como foi importante a ação dessa pessoa, e quantos ela conseguiu beneficiar.

É verdade que ainda não temos o sistema Braille apoiando os 16 milhões de cegos do Brasil, ou os 2 milhões e 600 mil cegos que vivem no Estado de São Paulo. Mas aqueles que têm acesso identificam a riqueza de vocabulário que lhes é facultada, a facilidade de aprender o Português e de rever as regras da nossa ortografia. Colocam-se com muito mais facilidade no aprendizado, ganham espaço no mercado de trabalho. É uma ação complementar que precisa ser valorizada não como único instrumento de comunicação mas como fortalecimento do aprendizado.

Hoje a escola se moderniza, a escola se coloca na vanguarda da preparação do jovem para o ensino e precisamos oferecer todas as possibilidades, todas as opções, e que aqueles jovens com ou sem deficiência possam escolher aquela que melhor se ajuste ao seu perfil, à sua condição de aprendizado, traduzindo tecnologias, apoios, ajuda para que a educação seja completa. Por isso que no bicentenário de Louis Braille em que a nossa secretaria teve o prazer de integrar o subcomitê em São Paulo, temos todos que celebrar Louis Braille, mas homenagear Dorina Nowill que certamente, na sua luta em defesa das pessoas com deficiência visual fortaleceu esse processo, apostou nessa iniciativa.

Queria fazer aqui um registro afetivo de uma pessoa que teve uma importância enorme nessa trajetória, que foi o Victor. Que pena que ele não está aqui. (Palmas.) Ainda me emociona pensar na ausência dele aqui, um empresário que teve um trabalho imenso e que trouxe a oportunidade de ter a impressora Braille fabricada aqui no País a um custo menor, em que pese o grande desafio de combater o poder econômico, que são as multinacionais. E nós estamos nessa luta para evitar que o poder econômico impeça essa ação de trazer para dentro da tecnologia nacional, da indústria brasileira, a produção dessas máquinas. Enfim, um recorte numa história tão bonita de um momento difícil que os empreendedores desse projeto estão vivendo.

Queria mandar um abraço especial para o Ricardo Silva, da Biblioteca Louis Braille do Centro Cultural São Paulo. Que bom que as bibliotecas assumem isso como uma garantia de direitos. Precisamos ter todas as bibliotecas com todas a acessibilidades. Queremos uma nação culta, queremos uma nação educada. A educação começa na escola mas termina em qualquer ponto da sociedade. Uma sociedade acessível tem que reservar espaço para que o Braille, a linguagem de sinais, a áudio-descrição, a subtitulação estejam presentes de maneira absolutamente tranquila e harmoniosa. Não precisamos esperar o cego chegar para sair correndo atrás do recurso. Ele precisa estar presente, chamando o deficiente para dentro daquela ação que significa cultura, significa ampliação do conhecimento, significa promoção do indivíduo.

A Regina Fátima Caldeira de Oliveira, que é coordenadora da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille, e que eu cansei de encontrar milhões de vezes, ela deve lembrar, nos aeroportos deste país e de países que muitas vezes não conseguimos lembrar o nome, está sempre na batalha em defesa da difusão desse conhecimento, dessa tecnologia. Vê-la aqui hoje é para mim uma lembrança querida. Há algum tempo eu não a via e quero que ela receba meu abraço muito afetivo, muito apertado porque sei quanto ela está empenhada nesse projeto que significa não apenas os nossos brasileiros com deficiência visual. Significa levar  uma mensagem para todos os países que precisam muito do conhecimento, da ciência e dos profissionais do Brasil.

O maestro Zoilo Lara de Toledo, responsável por fazer os transcritos musicográficos para o sistema Braille há mais de 50 anos merece ser lembrado numa hora como esta. Foram pessoas que marcaram a trajetória e a possibilidade de vida dos que, com deficiência visual, podem encantar o mundo com a música, com o canto. Cada uma dessas pessoas eternizou o sistema Braille em diferentes momentos e de diferentes maneiras. Eternizaram o poder de comunicação; uma comunicação que vai além da escrita, além do registro de uma história, mas a comunicação que significa cultura, significa falar de coisas que nós amamos, que nós respeitamos, significa estarmos presentes na vida dos outros.

E a nossa querida Ana Maria Michele, a nossa querida irmã que sempre esteve presente pelo Instituto de Cegos Padre Chico, a primeira escola especializada para cegos no Estado de São Paulo e que ao longo de muitos e muitos anos educou jovens de famílias muito carentes preparando-os de uma maneira brilhante do ponto de vista da formação pessoal, da formação para a utilização dos recursos óticos e das ajudas técnicas e transformando jovens carentes e com deficiência em cidadãos responsáveis, capazes de produzir e de apoiar o país através do implemento de riquezas, serviços que são oferecidos para toda a sociedade. Isso é inclusão. Somos todos trabalhando para que a sociedade seja cada vez melhor.

Parabéns à Célia pela iniciativa, parabéns ao subcomitê paulista pelo trabalho que estão desenvolvendo dentro desse calendário de celebração do Bicentenário de Louis Braille, e parabéns a toda a sociedade brasileira que tem dado exemplo de quanto a inclusão é um valor. Um valor da família, um valor de toda a nação brasileira. Obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Secretária Linamara Rizzo Battistella, não é só o carinho, a amizade que nos nutrem mas de fato a competência, a seriedade, a responsabilidade que tem com a causa pública, com a coisa pública à frente da Secretaria de Assuntos de Direitos da Pessoa com Deficiência. Muito obrigada, Dra. Linamara.

Já que a nossa sessão é solene, formal, e ao mesmo tempo informal no que diz respeito a carinho, amizade, respeito pela história dos 200 anos de Louis Braille e das pessoas que lutam pela integração, as pessoas que são cegas ou que têm deficiência visual,  com muita honra, com muito carinho e com alegria damos a palavra ao Sr. Ricardo Sigolo, da Biblioteca Louis Braille, do Centro Cultural de São Paulo. Por favor, uma salva de palmas. (Palmas.)

 

O SR. RICARDO SIGOLO -  Bom-dia a todos, autoridades presentes, Deputada Célia Leão. Quero aproveitar esta ocasião para parabenizá-la por essa iniciativa que para nós, cegos e deficientes visuais, representa algo muito importante.

Pensei em não escrever nada para falar porque hoje vim aqui trazendo o coração para falar de uma biblioteca que existe há 62 anos. Fundada por idealização de Dona Dorina de Gouvêa Nowill hoje faz  parte do Centro Cultural São Paulo. Lembro-me de que quando utilizei essa biblioteca eu ainda não era funcionário e agora sou funcionário da biblioteca há 35 anos e um pouquinho. Lembro-me do primeiro livro que peguei em Braille, produzido pela Fundação para o Livro dos Cegos do Brasil. É uma emoção ter um horizonte aberto através de seis pontos criados por esse gênio, o grande amigo dos cegos Louis Braille, que é um cego de grande visão futurista e que propiciou o nosso desenvolvimento, integração, inclusão e mudo a vida de milhões de cegos no planeta e com certeza mudará sempre. Louis Braille está dentro do nosso coração e somos gratos a ele eternamente por essa possibilidade de abrir horizontes para os deficientes visuais.

Quero dizer também que por iniciativa dos funcionários da Biblioteca Braille e empenho do nosso diretor Martin Grossman e do nosso Secretário Municipal de Cultura, professor Carlos Augusto Calil, o Prefeito Gilberto Kassab assinou um decreto no dia 18 de setembro de 2008, o Decreto nº 50.038, que alterava o nome da Biblioteca Braille do Centro Cultural para Biblioteca Louis Braille do Centro Cultural São Paulo. Nesse evento foi feita a inauguração da placa no dia 24 de janeiro de 2009 como um marco, uma singela homenagem nossa, dos funcionários da Biblioteca Louis Braille, a esse gênio do nosso sistema que propiciou esse funcionamento da nossa Biblioteca. São 62 anos de trabalhos ininterruptos.

Quero então agradecer em primeiro lugar ao Louis Braille, idealizador desse sistema, e a você, Deputada - permita-me chamá-la de você -, por essa iniciativa, e a esta Casa, por ter dado essa oportunidade de prestarmos essa homenagem ao Louis Braille.

Agradeço igualmente à Dona Dorina de Gouvêa Nowill a quem, pela idealização da nossa biblioteca e da Fundação para o Livro dos Cegos, atual Fundação Dorina Nowill, da qual muito me utilizei na minha vida. A cada lembrança, é uma emoção; desde minha alfabetização utilizando os livros da fundação e hoje os livros da Biblioteca Braille.

Temos um convênio com a Secretaria da Cultura. Recebemos livros da fundação e livros que produzimos no nosso pequeno centro de produção Braille no centro Cultural também, somando esse acervo às obras que disponibilizamos para atender a nossa comunidade de deficientes visuais.

Para mim, como deficiente, trabalhar pelo deficiente, sempre foi uma gratificação, sempre foi um carinho muito grande. A maior alegria é poder falar para o usuário: existe essa obra. Você pode pegar essa obra, levar para sua casa, você tem a possibilidade da leitura e de estar se integrando sempre, através do sistema Braille na nossa sociedade, mudando a vida através da possibilidade de uma conscientização maior.

 Quero agradecer. Muito obrigado. Fiquei emocionado desde o início com a execução do Hino Nacional Brasileiro, o hino mais lindo do mundo, que nos remete a uma introspecção maior e nos deixa mais sensíveis para homenagear um ser que permanece eternamente em nossos coração que é Louis Braille. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE – CÉLIA LEÃO – PSDB – Muito obrigada. Uma salva de palmas para o nosso querido amigo Ricardo Sigolo, da Biblioteca Louis Braille, do Centro Cultural São Paulo. Parabéns pelo seu trabalho, pelos seus quase 30 anos fazendo com que milhares de pessoas possam se beneficiar da leitura Braille.

Queremos registrar a presença da Sra. Eliana Nardelli, que está representando a Sra. Celi Carvalho de Rodrigues, dirigente regional de ensino do município de São Vicente. Muito obrigada, Sra. Eliana. Leve nosso abraço à nossa dirigente regional de São Vicente. Obrigada pela sua presença.

Gostaríamos de aproveitar para divulgar um programa na TV Senado sobre o Bicentenário de Louis Braille que vai ao ar no próximo sábado, 30 de maio, às 11:30 horas e às 22:30 horas; no domingo, 31 de maio, às 9 horas e às 17 horas.

Gostaríamos de convidar nosso mestre-de-cerimônias, Hugo Daniel Rotschild, para que chame as pessoas que vão ser símbolos das homenagens. Na verdade, como foi dito pelo Ricardo, milhares de pessoas trabalharam ao longo desses dois centenários para que muitas pessoas pudessem ter uma vida comum junto com sua deficiência. Poderíamos homenagear a todos, mas sabemos que homenageando essas pessoas, todos nos sentiremos homenageados.

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD – O primeiro homenageado nesta Sessão Solene é o Sr. Victor Siaulys, “in memorian”, ele que foi empresário que prestou relevantes serviços aos deficientes visuais. Convidamos a Sra. Marta Campos para representá-lo e receber a homenagem. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD – A próxima homenagem vai para a Biblioteca Louis Braille, na pessoa do Sr. Ricardo Sigolo, do Centro Cultural São Paulo. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD – A próxima homenageada é a Sra. Regina Fátima Caldeira de Oliveira, coordenadora da Comissão Paulistana para o Bicentenário de Louis Braille. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD – O próximo homenageado é o maestro Zoilo Lara de Toledo, responsável por fazer transcritos musicográficos para o sistema Braille há mais de 50 anos. Ele está representado por sua filha, Sra. Stella Regina Lara de Toledo. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD – O próximo homenageado é o Instituto de Cegos Padre Chico, primeira escola especializada para cegos no Estado de São Paulo, situado no bairro do Ipiranga. Recebe a homenagem a Sra. Ana Maria Michele. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - HUGO DANIEL ROTSCHILD – Retoma a palavra a Presidente desta sessão, Deputada Célia Leão.

 

A SRA. PRESIDENTE – CÉLIA LEÃO – PSDB – Obrigada. De forma absolutamente carinhosa, respeitosa e agradecida, como se fosse um muito obrigado a todas essas pessoas que direta ou indiretamente ajudaram a construir esse bicentenário dando dignidade a milhares de pessoas cegas, com deficiência visual ou outras, peço uma salva de palmas aos homenageados. (Palmas.) Recebam essas homenagens com muito carinho de todos nós da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Queremos registrar e agradecer a presença do Dr. Eduardo Castanheira, Delegado de Polícia, representando o Dr. Paulo Rios, delegado de polícia, Chefe da Assessoria Policial Civil da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Como toda a sociedade que segue normas a Assembleia segue as legislações municipais, estaduais e federais. Ninguém está acima da lei, nem acima dos nossos regimentos e das nossas orientações quando se vive em sociedade. Aqui na Assembleia também existem regras que hoje, de forma carinhosa e respeitosa, foram mudadas. Não diria quebradas porque não há quebra de regras quando algo é feito para o bem, para enaltecer e parabenizar quem fez e quem faz a história. Com a vinda do Deputado Barros Munhoz - que justificou o seu atraso e o fato de não estar de paletó - acredito que neste país e no planeta Terra, com sete bilhões de habitantes, alguém poderia fazer alguma insinuação pelo fato de o Presidente desta Casa vir aqui respeitar, aplaudir, enaltecer, agradecer e parabenizar pelo trabalho que centenas de pessoas estão fazendo para resgatar a dignidade das pessoas. Da mesma forma, queremos fazer uma mudança singela mas significativa e dizer da alegria de poder homenagear esses grandes homens e mulheres que aqui receberam um diploma, de forma singela mas grandiosa, e o compartilharão com dezenas de pessoas, em suas casas, instituições ou associações, porque sabem do valor da união e do apoio das pessoas para que o resultado seja positivo. Fizemos uma pequena mudança para registrar de forma mais próxima ao coração de vocês que estão no plenário da Assembléia que, como disse, é um chão sagrado. Para os deficientes visuais, para quem não enxerga, o plenário é formado por mesas duplas, onde alguns sentados, com poltronas confortáveis. Atrás do plenário temos uma galeria onde as pessoas podem sentar e assistir as sessões. Aqui na frente, na mesa diretora, senta-se o presidente dos trabalhos.

Pedimos para fazer nossa última homenagem. Não é que seja mais importante que as outras; todas são importantes. Sei que assim ela sente e faz da vida dela uma missão. Mas ela, na minha visão, é um símbolo máximo de alguém que passou a vida toda trabalhando e continua até hoje para mostrar que não tem limite. Se pudesse aqui dizer, diria – já ouvi, só estou repetindo, não é frase minha – que o céu é o limite. Quando queremos, quando acreditamos, quando fazemos, quando temos a intenção de mudar, de fato mudamos.

Então, deixamos por último a homenagem à nossa Dorina, que nunca aceitou ser chamada de doutora, de professora, de mestra, de líder. E ela é tudo isso. Ela é doutora sim, ela é professora, ela é mestra, ela é líder, ela é o que pensar que ela pode ser e mais um pouco. Ela é o que a sociedade brasileira puder delegar a ela de adjetivos e muito mais. Porque a Dorina construiu, primeiro a sua vida, porque ninguém constrói se não tiver os seus valores incutidos na sua idéia, na sua cabeça, na sua inteligência e gostando de si própria – e ela sempre se gostou e se amou para poder gostar e amar os outros. Ela construiu a sua família. É bem casada, tem cinco filhos, oito netos, dois bisnetos. Ela construiu amigos. De fato ela quebrou o preconceito e o tabu de dizer que os amigos não podem ser contados em uma mão ou em duas mãos. Não é verdade. A Dorina precisa de dezenas de braços com muitas mãos e com muitos dedos para contar os seus amigos. E ela construiu isso tudo de forma singela, de forma amiga, de forma verdadeira, obstinada. Então, minha amiga Dorina, se assim posso chamá-la – porque é a única forma que a senhora doutora, professora, líder, me permite chamá-la -, esta homenagem é feita de forma carinhosa para dizer o quanto a amamos, para dizer o quanto a sociedade do Brasil e a sociedade do mundo agradece pela sua vida, pela sua trajetória. Sei que minhas palavras são de todos que estão neste plenário, nesta tribuna de honra. Na Mesa dos trabalhos, temos pessoas de todos os lugares, até mesmo de Santa Catarina.

Queremos chamá-la à frente. No plenário da Assembleia a senhora vai receber o prêmio para que as pessoas fiquem próximas da senhora, das mãos da nossa Secretária Dra. Linamara Rizzo Battistella, que vai fazer esta homenagem. Primeiro, é o quadro que vamos entregar a ela. Uma salva de palmas para a Dra. Linamara, que vai fazer a entrega. (Palmas.) E uma salva de palmas para a Dra. Dorina, acompanhada de seu filho Cristiano, que está recebendo o diploma. (Palmas.)

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE – CÉLIA LEÃO – PSDB -  Podemos todos ficar de pé para aplaudi-la com amor, com carinho, com emoção, pelo trabalho que ela vem fazendo ao longo de 90 anos de vida. Ela já nasceu trabalhando. E agora ela recebe um diploma. Quero justificar e dizer a todos aqueles que receberam os diplomas e que também são cegos que fizemos de propósito, depois podemos mudar o diploma deles Dra. Dorina. Agora ela vai ler o diploma que ela está recebendo porque está em Braille.

 

A SRA. DORINA NOWILL - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Além da emoção, vou contar para vocês um segredo um pouco triste para mim: leio em Braille muito devagar, mas leio com o coração também.

O Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Deputado Barros Munhoz, e a Exma. Sra. Deputada Célia Leão sentem-se honrados pela homenagem ...

Peço desculpas pela minha dificuldade em ler em Braille.

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Dra. Dorina, já está lido. O que eu queria é que a senhora recebesse, querida, esse diploma com muito carinho, com muito amor, da Assembleia e de todos que estão aqui. Uma salva de palmas para a Dra. Dorina, por tudo que ela é, por tudo que ela faz. (Palmas.)

Obrigada, Secretária, por entregar este prêmio a D. Dorina.

Meu querido Cristiano vai levar sua mãe até a tribuna de honra, para que ela faça uso da palavra.

Quero pedir a Regina que entregue as flores para a Dra. Dorina, um buquê de flores, muito lindo. (Palmas)

O quadro foi pelo trabalho que ela fez - e faz - ao longo desses anos, e as flores, pelo seu aniversário de 90 anos, ontem.

 

* * *

 

- É  feita a entrega das homenagens e entoado “Parabéns a Você”.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Receba os nossos parabéns, Dorina, pelo seu aniversário. Como foi dito ontem, os estudos da Ciência hoje dizem que chegaremos aos 120, e você será uma das primeiras a quebrar essa barreira.

Na tribuna de honra, a nossa queridíssima Professora Dorina.

 

A SRA. DORINA NOWILL - Senhoras e senhores, gente formidável deste meu Estado, deste meu país, que é o Brasil, quero, antes de tudo, agradecer a todos vocês. Antes de tudo, quero pedir desculpas a uma freirinha chamada Irmã Vicenzia, que, no parlatório do Instituto Padre Chico, pegou o livro “História da Minha Vida”, de Helen Keller, e pôs nas minhas mãos. Pela primeira vez, tentou me ensinar como perceber as letras em Braille. Estou pedindo desculpas a ela porque eu li muito feio agora.

Estou sempre com Braille. Acredite se quiser, as minhas gavetas são marcadas em Braille. Pedi ao meu marido um cofre, e ele teve que andar Seca e Meca, porque eu queria que o cofre tivesse segredo, e era em Braille. Mas isso é para vocês acreditarem que eu leio direitinho.

Os meus agradecimentos a todos. Com 90 anos, nós sentimos, profundamente, dentro do coração, a presença daqueles que realmente nos querem bem, que sempre procuraram estar conosco. Penso que trabalhar é estar com alguém nas horas de alegria e nas horas de tristeza.

Mas hoje só vamos falar das alegrias. Outro dia, ouvi um padre terminar um sermão dizendo: “Não se esqueçam de que Cristo disse que nossa religião é a religião da alegria, e é alegria que devemos ter no coração”. É isso que peço a Deus, que encha meu coração de alegria neste momento, para eu poder, de alguma forma, transmiti-la a todos que estão aqui.

Sei que a maioria aqui é constituída por pessoas que trabalham, que já trabalharam, que estudaram e que têm se dedicado. Inclusive as próprias autoridades que aqui estão, assistindo a esta cerimônia. A presença das autoridades permanente aqui conosco é histórica.

A Deputada Célia chamou esta Assembleia de solo sagrado. É uma bênção especial fazer com que todos reconheçam o valor da leitura e da escrita para as pessoas cegas, graças a um dos maiores inventores que a humanidade conheceu até hoje: Louis Braille. O seu ensino nos permitiu estudar, ter horas maravilhosas de lazer da leitura, do conhecimento e da grandeza de Deus, da beleza das almas que sabem dedicar-se ao bem-estar de um grupo, de uma cidade, de um Estado, de uma nação.

Ouvi dizer que cada pessoa feliz gera mais duas felizes. Então, hoje, todos vão ser responsáveis pela existência de muitas outras pessoas felizes. Muitos se dedicam neste país à educação das pessoas com deficiência, ao bem-estar das pessoas idosas que têm uma deficiência, além de tantos outros.

O que fica escrito nas paredes desta Assembleia, nos livros importantes desta Casa, é a essência da grandeza do nosso povo, que sabe ver sua felicidade completa quando contempla o irmão que está ao seu lado, uma característica do nosso povo, da nossa gente.

Não estou depreciando nenhum outro povo, muito pelo contrário, mas é preciso mostrarmos o que temos procurado construir, em matéria de benefício para as pessoas que necessitam da colaboração. O dever não é apenas do governo, do Poder Legislativo, mas de todo o País e de todos os cidadãos. Todos devem formar fileiras junto com seus concidadãos, procurando fazer mais feliz, mais construtiva, a vida de cada brasileiro, seja ele perfeitamente anatômico ou não.

Quero dizer a vocês da minha admiração pelo Poder Legislativo. Quando comecei a lecionar, a minha cadeira foi lotada no Instituto Padre Chico. Conversando com os meus alunos, todos cegos, nos primeiros dias, comecei a falar sobre os Poderes, sobre o país. O homem precisa saber o quanto é importante ter nascido no nosso Brasil. Se ninguém lhe contou o valor disso, esse homem não é plenamente feliz. E eu queria que os meus alunos fossem felizes.

Quando assumi a minha cadeira, nesse primeiro dia, todos falavam “disputado”. Eu disse para eles que “disputado” não era bem a expressão. Tive de começar conversando sobre a Assembleia Legislativa, democracia, o direito, o que faz o homem que se dedica a legislar: ele assume perante Deus uma grande responsabilidade, que é a felicidade e o bem-estar do seu semelhante.

E contei aos meus alunos sobre a Assembleia Legislativa e o Senado. Confesso que os meninos sabiam muito pouco. Às vezes sabiam mais das críticas do que das grandes realidades. E as paredes das salas das Assembleias Legislativas do Brasil, dos Senados e das Câmaras de todo o mundo, podem contar os benefícios da verdadeira democracia na vida de cada um de nós.

Quero dizer aos senhores que estamos aqui hoje na Assembleia Legislativa, e a minha homenagem, o meu agradecimento, é para aqueles que se dedicam a legislar preocupando-se com o bem-estar dos seus conterrâneos, das pessoas de todo esse país.

A minha homenagem hoje é para os nossos legisladores. Estou falando a uma Assembleia Legislativa que está procurando demonstrar a sua responsabilidade, a responsabilidade de suas decisões para com as pessoas com deficiência visual. Os homens que assumem essa responsabilidade fazem parte da nossa vida e contribuem para a felicidade de todas as pessoas, com qualquer tipo de deficiência, porque precisamos, sim, de leis boas, que levem em consideração o homem e suas necessidades, como poder andar com segurança pelas ruas, aprender a ser independente e poder trabalhar para a felicidade de todos.

Eu quis prestar uma pequena e humilde homenagem à Assembleia Legislativa, porque acredito nas leis. Muitas delas, talvez, foram conseguidas com sacrifício e muito trabalho, mas vieram a tempo de beneficiar as pessoas cegas do Brasil, que hoje contam com livros, organizações, leis que nos favorecem.

Sabemos que hoje, se necessário, podemos bater à porta dos nossos representantes que seremos atendidos. Tive algumas decepções nesta minha lide, tive a tristeza de receber algum político mal avisado, mas é com reverência que saúdo nosso Poder Legislativo. Graças a Deus, gozamos de uma democracia, apesar de muitos não estarem plenamente satisfeitos. Isso é normal, porque sempre queremos mais.

Que Deus proteja todos, na pessoa daqueles legisladores que têm contribuído para facilitar a acessibilidade das pessoas cegas deste país.

Peço licença para fazer um parêntese. Falei com o Sr. Prefeito e expliquei um aspecto que me tem impressionado ultimamente na acessibilidade: nos prédios públicos - notei isto aqui em São Paulo, em São José do Rio Preto, em todos os lugares -, as escadas internas dos nossos grandes edifícios têm paredes lisinhas. A mão da pessoa cega escorrega e não encontra nunca o corrimão necessário. Falei com o Sr. Prefeito, que me ouviu e prometeu que falaria sobre o assunto com a pessoa responsável.

Ele pediu sugestões, assim como os senhores nesta Casa, do que, realmente é necessário. Não poderia deixar de me manifestar, porque meus cabelos - que  só não são brancos porque não deixo - permitem essa liberdade.

Nesses locais, minha mão escorrega constantemente. Se não houver uma pessoa ao meu lado, posso cair. Todas as pessoas idosas concordam comigo: mais de cinco degraus, por favor, coloquem corrimão. Muitos não admitem sua necessidade, mas rendo minha homenagem a Ele, que já me salvou de alguns tombos. Como foi pedido que eu desse uma sugestão, tomei a liberdade de fazê-la neste momento.

De todo meu coração, rendo minha homenagem ao nosso grande Louis Braille, que deixou tantos seguidores no mundo. Inúmeras pessoas cegas ilustres puderam aprender a ler e escrever como todos os alfabetizados, graças ao seu sistema, que tem no Brasil muitos seguidores.

Tomo a liberdade de dar um nome que resume o de todos os homenageados de hoje. Conheço essa pessoa desde criança e sempre admirei a veneração verdadeira que ela tem por Louis Braille. Essa pessoa especial é a Regininha, como a chamo. A Regina que vocês acabaram de homenagear, muito justamente.

Regina é, para mim, o símbolo dos seguidores, das pessoas cegas que sabem agradecer e engrandecer a memória de um grande homem como Louis Braille, com a verdadeira prova do valor da sua descoberta e da sua dedicação à cultura, à informação, tão preciosas para nós, cegos.

Na pessoa de Regininha, que, para mim, é o símbolo de todos nós, cegos, que nos utilizamos do sistema Braille,  quero agradecer a todos. Que Regininha tenha um altar dentro de si mesma para homenageá-lo, principalmente neste ano. Que todos contribuam para que a memória de Louis Braille seja lembrada.

Dúvidas passam pela mente de muitos sobre os novos sistemas, se não irão superar nosso método. Eu acho que não, porque o Braille favorece muito a pessoa cega. Eu sou uma das pessoas que mais trabalham, falo sobre o livro falado, uso o livro falado, leio muito mal o Braille, como os senhores viram, mas não posso deixar, neste Bicentenário, de dizer o quanto ele é importante para todos nós.

Por isso, as nossas homenagens a Louis Braille. As pessoas cegas, ao se deitarem à noite devem se lembrar, em suas orações, de Louis Braille pelo que ele fez por elas. Vamos festejá-lo, para que o mundo não o esqueça. Personalidades como Louis Braille não podem ser esquecidas jamais, precisam ser veneradas pelas pessoas cegas que receberam tanto da mente, do coração e do saber de uma mentalidade privilegiada: Louis Braille.

Quero pedir desculpa por ter alongado o meu tempo, mas, como todos sabem, mulher fala demais. E, aos 90 anos, falamos um pouquinho mais.

Muito obrigada a todos, de todo meu coração. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - CÉLIA LEÃO - PSDB - Dorina, a senhora não fala demais, não. Fala o que a senhora precisa falar, e nós precisamos ouvir. Parabéns a senhora pelo seu trabalho, seu aniversário e obrigada pelas palavras que todos nós ouvimos com muita atenção, porque a senhora deu uma verdadeira aula.

Quero, antes de encerrar nossos trabalhos, agradecer à Pró-Visão de Campinas, na pessoa de Stella Machado de Sá - que fez a confecção do quadro em Braille para a Dra. Dorina Nowil - uma entidade fundada em Campinas em 1983, que, assim como as outras, promove o bem-estar, educação, habilitação e reabilitação de bebês, crianças, adolescentes e adultos cegos e com baixa visão.

Queremos fazer um agradecimento especial ao Andrei, nosso jovem que está fazendo a tradução em Libras, pelo carinho, competência. 

Queremos agradecer de maneira especial a todos os funcionários da Assembleia que possibilitaram a realização desta sessão: pessoal do Som, da Ata, da Taquigrafia, do Cerimonial, ao Hugo, D. Yeda, Secretaria Geral Parlamentar, TV Legislativa, nossa imprensa, Polícia Civil e Militar.

Quero agradecer a presença de Adriana Perri, representando nossa vereadora Mara Grabilli, a quem enviamos nosso abraço; Ariane Duarte, da Diretoria de Ensino – Centro; Regina Célia Cirillo, representando Maria do Nascimento Barreto, professora e dirigente da Diretoria de Guarulhos Sul; Professora Cleusa Novaes, que representa a Professora Vera de Guarulhos Norte.

Agradecemos as homenagens, as palavras das pessoas que fizeram uso da tribuna. A Assembleia ganha, o Estado de São Paulo se fortalece com as informações que nos chegam, não apenas dos 200 Anos do Braille, que possibilita que milhares de pessoas possam ler, escrever. Há uma integração real, verdadeira, embora hoje a tecnologia nos reporte a outras possibilidades. Mais do que isso, meu querido Dr. Cristiano, se todos nós queremos justiça, só existe um caminho para isso: a promoção da igualdade.

Estão conosco a Secretária Linamara, o Secretário Belizário, pessoas do Poder Público que lutam e trabalham para garantir a dignidade, a qualidade de vida e os direitos das pessoas. Mas apenas quando nós promovermos a igualdade é que alcançaremos a justiça.

Exatamente com isso, Mimi, quero dizer a você, como nora da D. Dorina, que você tem suas competências, habilidades, qualidades - uma pessoa bonita por fora e por dentro -, por si só já é uma pessoa realizada e feliz. Tenho que dizer a você que ser nora de D. Dorina é uma diferença. Portanto, casar com o Cristiano é uma diferença. Um homem que também tem suas competências, habilidades, qualidades inerentes a si, mas também por ser filho da D. Dorina. Leve isso como um troféu, porque ter uma mãe como D. Dorina faz a diferença. A você, Carlos, que é neto, todo carinho e reconhecimento a sua família.

Aqui passaram entidades, associações, instituições, que cuidam, ajudam e integram milhares de pessoas. Digo sempre que uma grande orquestra - que são os senhores - tem de ter um grande maestro. E, na mão desse grande maestro, uma grande batuta. E, na cabeça, no coração e nas mãos de quem tem essa batuta, capacidade de lidar com essa batuta. Na minha opinião, Dra. Dorina é exatamente esse maestro, a liderança que levou centenas de pessoas a entender a vida.

Costumo dizer que meu querido Secretário-Adjunto Baggio, que também está em uma cadeira de rodas há muitos anos - teve uma paralisia por pólio -, quanto menos se movimenta mais faz acontecer. Posso afirmar aos senhores que o tamanho da deficiência, nós é que damos; o tamanho da deficiência, nós é que fazemos.

Quero dizer aos senhores que fiz teatro há 30 anos com um grupo de profissionais e não-profissionais, atores normais e atores deficientes. Dentre eles, havia uma pessoa deficiente visual, Deise, que também fazia a peça. Viajamos pelo Brasil todo, Secretário Belizário, apresentando a  peça em vários lugares. Estou falando de década de 80.

Um dia, no camarim onde nos trocávamos, eu disse à Deise: “Deise, eu tenho de confessar uma coisa a você. Se eu não falar, não vou conseguir me apresentar. Nós viajamos pelo Brasil todo, vamos a teatros diferentes, você apresenta bem a peça, não cai no palco. É cega, mas parece que enxerga. É que nós vemos tantas coisas e você não enxerga, não vê as coisas que eu vejo. Eu fico incomodada com isso, porque você não vê, você é cega. No fundo, eu fico com pena.” Depois que acabei, ela perguntou se eu já havia falado tudo o que queria. Em seguida, me disse: “Faz anos que viajamos, trabalhamos, apresentamos a peça juntas. Normalmente, os teatros têm escadas e os palcos são com escadas. Quando vamos para a praia, tem areia para chegar no mar. Quando vamos para a montanha, tem altura para chegar no seu topo. Em todos esses lugares, eu também sempre me incomodei porque você não andava. Ficava imaginando quanto era difícil não andar; chegar no palco, ter de ser carregada no colo; a mesma coisa na montanha, no mar. No fundo, no fundo, Célia, esse tempo todo, eu pensava em como deveria ser ruim não andar, que deveria ser horrível ser paraplégico. É melhor ser cego, eu pensava.”

No fim, demos muita risada, porque ali entendemos que não existe deficiência de ser cego, de não andar, de não ter perna, não ter braço, de não ouvir. Quero dizer aos senhores que não existe dificuldade quando acreditamos na vida, não existe limitação quando, realmente, queremos fazer algo, e não existe barreira quando queremos realizar nosso sonho.

Para mim, a Dorina, os cegos, as pessoas com deficiência, os institutos, são exatamente esses sonhos realizados. Por isso, Regina, a seu pedido e de muitas outras pessoas, realizamos esta Sessão Solene para engrandecer não as pessoas com deficiência, mas a vida dessas pessoas e das demais. O mais importante da vida é a vida. É o maior presente que temos, o maior talento que recebemos. Não importa como é a vida de cada um. Importa que todos nós tenhamos vida. E essa vida foi demonstrada hoje aqui.

Parabéns a todos os senhores que acreditam e defendem a vida.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência, mais uma vez, agradece a todos que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

* * *

 

- Encerra-se a sessão às 13 horas e 09 minutos.

 

* * *