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21 DE SETEMBRO DE 2011

031ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidentes: CELSO GIGLIO, BARROS MUNHOZ e VINÍCIUS CAMARINHA

 

Secretários: ROBERTO MORAIS e CARLÃO PIGNATARI

 

RESUMO

ORDEM DO DIA

001 - CELSO GIGLIO

Assume a Presidência e abre a sessão. Coloca em discussão o PL 300/06.

 

002 - CAMPOS MACHADO

Solicita verificação de presença.

 

003 - Presidente CELSO GIGLIO

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada da verificação de presença.

 

004 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência. Interrompe o processo de verificação de presença ao constatar quórum regimental.

 

005 - CAMPOS MACHADO

Discute o PL 300/06 (aparteado pelos Deputados Vitor Sapienza, João Antônio e Olímpio Gomes).

 

006 - RAFAEL SILVA

Discute o PL 300/06 (aparteado pelo Deputado Campos Machado).

 

007 - OLÍMPIO GOMES

Discute o PL 300/06 (aparteado pelo Deputado Edinho Silva).

 

008 - MILTON VIEIRA

Discute o PL 300/06 (aparteado pelos Deputados Campos Machado e Pedro Bigardi).

 

009 - VINÍCIUS CAMARINHA

Assume a Presidência.

 

010 - JOOJI HATO

Discute o PL 300/06.

 

011 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência.

 

012 - CAMPOS MACHADO

Discute o PL 300/06 (aparteado pelo Deputado Milton Vieira).

 

013 - CAMPOS MACHADO

Requer o levantamento da sessão, com assentimento das lideranças.

 

014 - Presidente BARROS MUNHOZ

Registra o pedido. Manifesta-se sobre o projeto ora em debate, bem como sobre a deliberação de projetos parlamentares. Levanta a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Celso Giglio.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - Proposições em Regime de Urgência:

1 - Discussão e votação - Projeto de lei nº 300, de 2006, de autoria do deputado Marcelo Bueno. Declara o município de Cubatão como "Capital das Bandas e Fanfarras" no Estado. Pareceres nºs 237 e 238, de 2007, respectivamente, das Comissões de Justiça e de Cultura, favoráveis.

Em discussão. Inscrito para falar a favor, tem a palavra o nobre Deputado Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, preliminarmente requeiro uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - CELSO GIGLIO - PSDB - O pedido de V.Exa. é regimental. Convido os nobres Deputados Roberto Morais e Carlão Pignatari para auxiliarem esta Presidência.

 

* * *

 

- É iniciada a chamada.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Srs. Deputados, esta Presidência constata número regimental de Srs. Deputados em plenário, pelo que dá por interrompido o processo de verificação de presença e devolve a palavra ao nobre Deputado Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente Barros Munhoz, a quem saúdo, como sempre, como um dos melhores presidentes desta Casa, enquanto perdurar esse burburinho no plenário, não posso começar a me manifestar.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência solicita silêncio no plenário para que o orador possa se manifestar.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, sou amplamente favorável à aprovação desse projeto por duas razões. A primeira é que Cubatão é uma cidade de trabalhadores, progressista e que quer se transformar na Capital de bandas e fanfarras. Por falar em banda, Presidente Barros Munhoz, vou tomar o trem da saudade. Vou viajar até a minha pequena Cerqueira César, encravada na Média Sorocabana. Uma cidade doce, simples e encantadora. Uma cidade que tem um jardim e, nesse jardim, tem uma banda que toca aos domingos aqueles dobrados maravilhosos que encantam o pessoal do interior. O pessoal interiorano é simples, que adora o orvalho, que gosta de ver o pôr do sol e gosta de ver o sol nascer.

Na minha cidade tem um grande jardim, onde tem um coreto, e lá, todo domingo a banda toca, e de quando em quando lá vai o locutor e diz que Maria oferece a João a música “Como vai você”, de Roberto Carlos; e lá vai Maria, que retribui a João a música Detalhes, de Roberto Carlos, como prova de carinho e apreço. Na minha cidade os meninos passeiam da direita para a esquerda e as meninas da esquerda para a direita para se encontrarem no meio. Essa é a razão pela qual sempre gostei de bandas.

Há muita gente do interior aqui. A deputada Rita Passos nasceu em Indaiatuba e foi criada em Itu, sabe o que digo em relação a bandas; a deputada Heroilma sabe o que digo do encanto que a banda tem.

E também tem outro detalhe, deputada Leci Brandão, estrela do samba, o autor deste projeto é um evangélico, é um temente a Deus. Tenho um respeito muito grande pelos evangélicos, a tal ponto que o PTB é o único partido desse país e desse universo que é inter-religioso, com mais de 20 igrejas evangélicas, católicos carismáticos, candomblecistas. Tenho que reconhecer que o autor da proposta é o ex-deputado Marcelo Bueno, da Assembleia de Deus, Ministério de Santos, presidido pelo pastor Paulo Correia.

Há pouco, falava em Roberto Carlos. Ele não é apenas um cantor, é um compositor, é um escriba da alma, é um homem que canta com o coração. Deputado Rafael Silva, V.Exa. que é dado às letras, que adora poesia, sabe que Roberto Carlos canta a vida e o amor.

 

O SR. VITOR SAPIENZA - PPS - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Vejo com uma simpatia muito grande V.Exa. defender o projeto do ex-deputado Marcelo Bueno. Quero fazer uma ressalva e um destaque. Existe no Estado de São Paulo uma lei que disciplina o concurso de bandas e fanfarras, de minha autoria. Na época dos concursos, realizados pela TV Record, praticamente o Estado de São Paulo todo se movimentava no sentido de fazer com que as bandas que representam os diversos municípios tivessem uma representatividade.

Também quero informar a V.Exa. que o Colégio Jardim São Paulo, aqui na capital, foi campeão do Estado de São Paulo e campeão nacional do concurso de bandas. Orgulho-me de fazer parte de todo o sistema de bandas e fanfarras do Colégio Jardim São Paulo.

Como V.Exa. basicamente representa a capital e conhece bem a nossa zona norte, V.Exa. deve vibrar com essa informação.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Quero agradecer ao deputado Vitor Sapienza e dizer a S.Exa. que sou um caipira do interior, que adora música sertaneja. Uma grande rádio de Avaré se dedica muito às canções sertanejas.

Também quero prestar uma homenagem ao deputado Vitor Sapienza, fiscal de rendas que se tornou parlamentar, presidiu esta Casa nos momentos mais difíceis, quando a galeria, sem a grade protetora, ficou lotada de professores liderados pelo PSTU que invadiram o plenário e aqui permaneceram 15 dias acampados. O deputado Sapienza não recuou, enfrentou o acampamento nesta Casa. O deputado Vitor Sapienza é um homem de coragem. E coragem sempre vence o medo. O deputado Vitor Sapienza presidiu esta Casa com muita determinação, com muita coragem. Foi a época em que este parlamentar, como advogado do bispo Edir Macedo, advogou a justiça, empunhou a bandeira da liberdade religiosa, da liberdade das pessoas professarem a fé que quiserem. Quando perseguido por alguns membros do Ministério Público e por alguns policiais, o bispo Edir Macedo, que tem uma missão na vida, acabou sendo preso, vítima de uma grande injustiça. Uma das honras que tive foi ter sido o advogado que conseguiu liberar um homem que nasceu para servir, um homem que tem fé profunda no coração. Nessa época do arbítrio, o deputado Vitor Sapienza teve a coragem de enfrentar todo esse movimento grevista e agressivo.

Peço a atenção dos senhores deputados. Bárbara Gancia escreveu um artigo no jornal "Folha de S.Paulo" sob o título “Sai do armário, Sócrates!”, no último dia 16, que dizia que Sócrates, o corintiano, que era alcoólatra, deveria assumir a sua condição de alcoólatra. Não deveria esconder essa condição do povo, líder que é. Vejam a insensibilidade desta pseudo-jornalista que escreveu o seguinte texto: “Até entendo querer dispor da vida, mas que tipo de mensagem Sócrates estará enviando aos bebedores problemáticos que o admiram? Como pode um sujeito com 30 anos de balcão de bar não saber que uma vez alcoólatra será sempre alcoólatra? Sócrates” - vejam o absurdo - “lembra Roberto Carlos. O sujeito é deficiente físico. Em vez de sair do armário e mostrar a adversidade, fica escondendo a perna mecânica e ainda chega ao cúmulo de processar quem ousa falar dela”.

Pelo amor de Deus, senhores, desse jeito não é possível conviver. Quem é Bárbara Gancia? Que falta de sensibilidade ao dizer que Roberto Carlos deveria exibir sua perna mecânica. Essa jornalista é igual ao pessoal da Veja, é aplaudida pela tal de esquerda, mas o que é esquerda mesmo? Quem sabe aqui o que é esquerda? O que é ser centro, direita ou esquerda?

Há 200, 300 anos, a Revolução Francesa surgiu. E aí houve uma grande reunião no Congresso. Coincidentemente, aqueles que se sentavam à esquerda pretendiam fazer mudanças. Aqueles que se sentavam à direita não queriam mudança nenhuma. E os do centro não enxergavam o bem e nem o viam ficar no centro.

Essa é a explicação de centro, direita e esquerda. É coisa de Telê Santana, é coisa de Luxemburgo, de Felipão, de Tite. Que história é essa, eu sou esquerda? Mas que esquerda? É esquerda, centro-esquerda, meia-esquerda, centro-direita, o que é isso? Estamos no Século XXI e o cara chega e diz: eu sou esquerda. Ótimo! E daí? É canhoto? O que é ser esquerda? O que é ser direita? Aponte um exemplo de direita.

A Bárbara Gancia é adorada pela tal da esquerda. E como é que fica isso? Quem está neste plenário, ou fora do plenário, que é favorável à crítica de Bárbara Gancia a Roberto Carlos? Quem? Quero ver se existe alguém neste mundo que possa fazer uma afronta a um homem respeitado e amado por todas as famílias brasileiras. Isso não é ser cristão, não. Isso é ser bandoleira moral.

Mas ela é da esquerda. Vai ter o apoio da esquerda. Uma mulher que chega a esse absurdo? Deputada Heroilma, esta é a Bárbara Gancia. Mas quem é mesmo Bárbara Gancia? Uma mulher agressiva, insensível.

Há muito tempo eu quis ser jornalista. Meu sonho de menino. Hoje eu vejo que jornalista desse naipe não pode se chamar jornalista. A senhora é intérprete, é compositora. Há dias venho ouvindo no meu carro, idas e vindas da minha casa, ouvindo o seu CD. Nele encontro sentimento. Nele encontro carinho, amor e afeto. É justo o que Bárbara Gancia diz do Roberto Carlos?

Essa é a pergunta que deixo a este plenário. Na próxima fala minha, pelo tempo que me vai ser cedido pela Deputada Heroilma, vou tratar do porquê da minha presença nesta noite, nesta tribuna, nessa palavra que eu não gosto de usar, a tal obstrução. Quero que V. Exas. entendam o que é justiça.

Há meses venho ouvindo o Deputado João Antonio falar com propriedade de direito e justiça. Quero que V. Exa. seja o intérprete do que vou dizer daqui a pouco, a respeito de injustiça.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar a favor, tem a palavra a nobre Deputada Heroilma Soares.

 

A SRA. HEROILMA SOARES - PTB - Sr. Presidente, passo o meu tempo ao nobre Deputado Campos Machado.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - É regimental. Tem a palavra o nobre Deputado Campos Machado, por cessão de tempo.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, Guimarães Rosa, e todos sabem quem foi Guimarães Rosa, dizia: não sei de nada, mas desconfio de muita coisa.

Eu também não sei de nada, mas estou desconfiando de muita coisa ultimamente. Por que estou aqui hoje? Será que nesta Casa há Deputados de primeira e de segunda classe? Deputados classe A e classe B? Qual é a razão, Sr. Presidente, de um Projeto de Decreto Legislativo, de responsabilidade desta Casa, não  do Governo, ou seja, não veio do Executivo, é de lavra de um Deputado, que se atreveu a dizer que decreto vale menos que lei.

Qual o crime que eu cometi? Onde está no Código Penal que eu cometi um delito, ao afirmar que lei vale mais que decreto? Os projetos foram aprovados. Na minha vez, um sai por uma porta, outro sai pela outra, outros ficam enfartados, outros cai a ponte quando vinha para cá, e o projeto não teve número.

Dê-me uma razão para eu concordar em votar projeto de outros parlamentares, se eles não concordam em votar o meu. Não tenho propensão a Jesus Cristo, que leva bofetada e apenas vira o rosto para levar outra.

Sr. Presidente, é impossível continuar com o burburinho. Sr. Presidente, eu não queria atenção. Um pouquinho de educação não faz mal a ninguém. Não precisa atenção. Eu não quero a atenção de Vossas Excelências. Eu quero um pouco de educação, para que eu possa terminar.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência reitera o pedido de silêncio.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Isto posto, quero indagar de V. Exas. por que razão o projeto, por exemplo, do Deputado Pedro Bigardi, é aprovado, e o meu não. Por que razão o projeto do Deputado Sapienza é aprovado, e o meu não? Não se trata de questão de Governo. Não se trata de projeto do Governo. Por que motivo não?

Concedo um aparte ao nobre Deputado João Antonio, porque tenho a certeza de que V. Exa. vai interpretar, dentro dos padrões morais de V. Exa., exatamente aquilo que estou querendo dizer nesta noite.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - Muito obrigado, Deputado Campos Machado.

Quem não quer votar nesta Casa o projeto de V. Exa. é a base governista, e por uma razão simples. Eles têm divergência da matéria. Eles querem que a Corregedoria continue onde está. Então, objetivamente os partidos de oposição, e os Deputados de oposição, e aqui está um na fila para falar, não fazem nenhuma objeção.

Digo a V. Exa. que não significa que estamos 100% de acordo com a matéria que V. Exa. propõe. Nós entendemos, inclusive, que a Corregedoria, quanto mais independente, melhor para o povo de São Paulo, para fazer exatamente o papel de fiscalização e de corregedoria. Essa é a nossa posição, quanto à matéria.

Mas V. Exa. tem razão. Se nós permitirmos, nesta Casa, que o Governador comece a governar por decreto, e não respeite a hierarquia das normas, que começa pela Constituição Federal, leis federais, pelas Constituições estaduais, estaremos contribuindo para esvaziar este Parlamento. Então, V. Exa. tem toda razão, é isso que eu gostaria de registrar.

Nós não concordamos com a forma. Se o Governador quiser corrigir, quiser debater conosco, do PT, a matéria, que envie um Projeto de lei para esta Casa. E através de um novo Projeto de lei nós vamos debater, emendar, discutir, melhorar e provavelmente sairá um produto da maioria dos Deputados aqui.

Mas uma lei objetivamente aprovada nesta Casa não pode ser modificada por um decreto, nobre Deputado. E esta Casa admitir que uma lei aprovada nesta Casa seja modificada por um decreto é aceitar o esvaziamento político da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Essa é a razão da nossa concordância com a votação do PDL de autoria de Vossa Excelência.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Mas queria lembrar o nobre Deputado João Antonio que a Bancada do PT tem 24 deputados nesta Casa. Só 11 votaram. Onde estavam os outros treze? Saindo pelos cantos também? É preciso que, quando defendemos um princípio, todos estejam presentes. Vossa Excelência tem razão. Mas 24 menos 11 são 13, faltaram 13 deputados. É por isso que quero deixar claro que na próxima votação vou fazer questão de contar os deputados do PT. Assim, teremos as posições claras definidas. Alguém já ouviu falar de meia gravidez? Não existe meia gravidez, como não existe meia posição. A bancada votou, mas só metade. Para mim, não votou. Só 11, onde estavam os outros treze? Tenho certeza de que na próxima votação teremos aqui os 24 deputados do PT para mostrar convicção, para mostrar certeza. Vejam como é a política. Vejam o meu parceiro político. Vejam como as coisas mudam nesta Casa.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Nobre Deputado Campos Machado, vim a este microfone para hipotecar solidariedade a seu posicionamento até porque já me vi nessa situação. Confesso que jamais pensei vê-lo nessa situação, abandonado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Abandonado, não. Abandonado é um termo forte demais. Estou com as minhas convicções. Não mudei de lado. Quem mudou de lado, em 2008, foi o PSDB-2, que trabalhou contra nós em São Paulo. Eu estava aqui, como vice de Geraldo Alckmin. O PSDB-2 é quem mudou de posição. Eu não. Eu sempre estou aqui na contramão. Seria mais fácil, para mim, apoiar. Para que vou querer equiparar investigadores e escrivães? Para que vou querer me posicionar pela manutenção da prova oral dos delegados de polícia? Vou ter de brigar com meu amigo Samuel Moreira? Vou ter de me posicionar contra um homem que é meu irmão, meu amigo, Geraldo Alckmin? É mais fácil, para mim, ficar do lado dele. Eu nunca vou ficar abandonado, porque tenho minhas convicções e meus sonhos. Todo homem que tem sonho nunca vai ficar só.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Nobre Deputado Campos Machado, realmente estranhei o dia da votação porque vi tanto leão de bastidor abraçando V. Exa., dizendo “estamos juntos”. Acho que qualquer um pode ter um mal súbito a qualquer tempo, uma diarreia estratégica é possível que aconteça com qualquer ser humano. Mas confesso que, quando vi o que estava mobilizado contra a votação do PDL, não há nenhuma dúvida em relação ao que é o poder da lei e o poder de um decreto, a Assembleia não pode se apequenar em relação a isso.

Confesso: é necessário reconhecer. Talvez eu fosse o único deputado sem projeto nenhum votado nesta Casa no ano. Acabei tendo um projeto votado - e vetado, que é o lógico nesta Casa, independentemente do conteúdo, o Executivo não tem grande respeito mesmo pela produção legislativa da Casa. Devo dizer que meu projeto foi colocado em Pauta para votação graças ao Deputado Enio Tatto, líder do PT, graças ao Deputado Carlos Giannazi e graças a Vossa Excelência. Até porque não houve nenhuma mobilização de quem era líder do meu partido. Naquela reunião do Colégio de Líderes, foi dito que todo deputado ia ter um projeto votado - não necessariamente aprovado - e, depois, vi o esvaziamento técnico da Casa na votação do projeto de V. Exa., que é projeto de deputado.

Quero dizer a V. Exa. que minha solidariedade não é só sobre o conteúdo do projeto, senão estaria traindo minha história de vida, mas muito em respeito a V. Exa. que, num momento em que não se vota projeto do Olímpio porque a liderança do partido dele não está nem aí com os projetos dele, o líder do PT, o Deputado Carlos Giannazi e V. Exa. se lembraram da minha condição de parlamentar. Quero agradecer e dizer a V. Exa. que até em solidariedade também sou grande apreciador de fanfarras e bandas, tanto que até me inscrevi para debater o tema em solidariedade a V. Exa. e ao Deputado Marcelo.

 

 O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, Guimarães Rosa, e todos sabem quem foi Guimarães Rosa, dizia: não sei de nada, mas desconfio de muita coisa.

Eu também não sei de nada, mas estou desconfiando de muita coisa ultimamente. Por que estou aqui hoje? Será que nesta Casa há Deputados de primeira e de segunda classe? Deputados classe A e classe B? Qual é a razão, Sr. Presidente, de um Projeto de Decreto Legislativo, de responsabilidade desta Casa, não  do Governo, ou seja, não veio do Executivo, é de lavra de um Deputado, que se atreveu a dizer que decreto vale menos que lei.

Qual o crime que eu cometi? Onde está no Código Penal que eu cometi um delito, ao afirmar que lei vale mais que decreto? Os projetos foram aprovados. Na minha vez, um sai por uma porta, outro sai pela outra, outros ficam enfartados, outros cai a ponte quando vinha para cá, e o projeto não teve número.

Dê-me uma razão para eu concordar em votar projeto de outros parlamentares, se eles não concordam em votar o meu. Não tenho propensão a Jesus Cristo, que leva bofetada e apenas vira o rosto para levar outra.

Sr. Presidente, é impossível continuar com o burburinho. Sr. Presidente, eu não queria atenção. Um pouquinho de educação não faz mal a ninguém. Não precisa atenção. Eu não quero a atenção de Vossas Excelências. Eu quero um pouco de educação, para que eu possa terminar.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência reitera o pedido de silêncio.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Isto posto, quero indagar de V. Exas. por que razão o projeto, por exemplo, do Deputado Pedro Bigardi, é aprovado, e o meu não. Por que razão o projeto do Deputado Sapienza é aprovado, e o meu não? Não se trata de questão de Governo. Não se trata de projeto do Governo. Por que motivo não?

Concedo um aparte ao nobre Deputado João Antonio, porque tenho a certeza de que V. Exa. vai interpretar, dentro dos padrões morais de V. Exa., exatamente aquilo que estou querendo dizer nesta noite.

 

O SR. JOÃO ANTONIO - PT - Muito obrigado, Deputado Campos Machado.

Quem não quer votar nesta Casa o projeto de V. Exa. é a base governista, e por uma razão simples. Eles têm divergência da matéria. Eles querem que a Corregedoria continue onde está. Então, objetivamente os partidos de oposição, e os Deputados de oposição, e aqui está um na fila para falar, não fazem nenhuma objeção.

Digo a V. Exa. que não significa que estamos 100% de acordo com a matéria que V. Exa. propõe. Nós entendemos, inclusive, que a Corregedoria, quanto mais independente, melhor para o povo de São Paulo, para fazer exatamente o papel de fiscalização e de corregedoria. Essa é a nossa posição, quanto à matéria.

Mas V. Exa. tem razão. Se nós permitirmos, nesta Casa, que o Governador comece a governar por decreto, e não respeite a hierarquia das normas, que começa pela Constituição Federal, leis federais, pelas Constituições estaduais, estaremos contribuindo para esvaziar este Parlamento. Então, V. Exa. tem toda razão, é isso que eu gostaria de registrar.

Nós não concordamos com a forma. Se o Governador quiser corrigir, quiser debater conosco, do PT, a matéria, que envie um Projeto de lei para esta Casa. E através de um novo projeto de lei nós vamos debater, emendar, discutir, melhorar e provavelmente sairá um produto da maioria dos Deputados aqui.

Mas uma lei objetivamente aprovada nesta Casa não pode ser modificada por um decreto, nobre Deputado. E esta Casa admitir que uma lei aprovada nesta Casa seja modificada por um decreto é aceitar o esvaziamento político da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Essa é a razão da nossa concordância com a votação do PDL de autoria de Vossa Excelência.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Mas queria lembrar o nobre Deputado João Antonio que a Bancada do PT tem 24 deputados nesta Casa. Só 11 votaram. Onde estavam os outros treze? Saindo pelos cantos também? É preciso que, quando defendemos um princípio, todos estejam presentes. Vossa Excelência tem razão. Mas 24 menos 11 são 13, faltaram 13 deputados. É por isso que quero deixar claro que na próxima votação vou fazer questão de contar os deputados do PT. Assim, teremos as posições claras definidas. Alguém já ouviu falar de meia gravidez? Não existe meia gravidez, como não existe meia posição. A bancada votou, mas só metade. Para mim, não votou. Só 11, onde estavam os outros treze? Tenho certeza de que na próxima votação teremos aqui os 24 deputados do PT para mostrar convicção, para mostrar certeza. Vejam como é a política. Vejam o meu parceiro político. Vejam como as coisas mudam nesta Casa.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Nobre Deputado Campos Machado, vim a este microfone para hipotecar solidariedade a seu posicionamento até porque já me vi nessa situação. Confesso que jamais pensei vê-lo nessa situação, abandonado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Abandonado, não. Abandonado é um termo forte demais. Estou com as minhas convicções. Não mudei de lado. Quem mudou de lado, em 2008, foi o PSDB-2, que trabalhou contra nós em São Paulo. Eu estava aqui, como vice de Geraldo Alckmin. O PSDB-2 é quem mudou de posição. Eu não. Eu sempre estou aqui na contramão. Seria mais fácil, para mim, apoiar. Para que vou querer equiparar investigadores e escrivães? Para que vou querer me posicionar pela manutenção da prova oral dos delegados de polícia? Vou ter de brigar com meu amigo Samuel Moreira? Vou ter de me posicionar contra um homem que é meu irmão, meu amigo, Geraldo Alckmin? É mais fácil, para mim, ficar do lado dele. Eu nunca vou ficar abandonado, porque tenho minhas convicções e meus sonhos. Todo homem que tem sonho nunca vai ficar só.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Nobre Deputado Campos Machado, realmente estranhei o dia da votação porque vi tanto leão de bastidor abraçando V. Exa., dizendo “estamos juntos”. Acho que qualquer um pode ter um mal súbito a qualquer tempo, uma diarreia estratégica é possível que aconteça com qualquer ser humano. Mas confesso que, quando vi o que estava mobilizado contra a votação do PDL, não há nenhuma dúvida em relação ao que é o poder da lei e o poder de um decreto, a Assembleia não pode se apequenar em relação a isso.

Confesso: é necessário reconhecer. Talvez eu fosse o único deputado sem projeto nenhum votado nesta Casa no ano. Acabei tendo um projeto votado - e vetado, que é o lógico nesta Casa, independentemente do conteúdo, o Executivo não tem grande respeito mesmo pela produção legislativa da Casa. Devo dizer que meu projeto foi colocado em Pauta para votação graças ao Deputado Enio Tatto, líder do PT, graças ao Deputado Carlos Giannazi e graças a Vossa Excelência. Até porque não houve nenhuma mobilização de quem era líder do meu partido. Naquela reunião do Colégio de Líderes, foi dito que todo deputado ia ter um projeto votado - não necessariamente aprovado - e, depois, vi o esvaziamento técnico da Casa na votação do projeto de V. Exa., que é projeto de deputado.

Quero dizer a V. Exa. que minha solidariedade não é só sobre o conteúdo do projeto, senão estaria traindo minha história de vida, mas muito em respeito a V. Exa. que, num momento em que não se vota projeto do Olímpio porque a liderança do partido dele não está nem aí com os projetos dele, o líder do PT, o Deputado Carlos Giannazi e V. Exa. se lembraram da minha condição de parlamentar. Quero agradecer e dizer a V. Exa. que até em solidariedade também sou grande apreciador de fanfarras e bandas, tanto que até me inscrevi para debater o tema em solidariedade a V. Exa. e ao Deputado Marcelo.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Queria dizer que a Assembleia Legislativa precisa ser a âncora moral da sociedade. O que é âncora moral? É a base da sociedade. Os evangélicos vão me entender perfeitamente. A base moral tem de ser esta Casa. Quando esta Casa cai de joelhos - só se deve ajoelhar para rezar, para orar para Deus, não perante terceiros. Dizia pouco no Colégio de Líderes: não temos condições de ficar batendo à porta do Judiciário. Quem tem de rever as leis e decretos somos nós, não é o Judiciário. Estamos passando para outros a nossa responsabilidade. É por medo? “Ah, mas se votar contra o projeto do Campos, que não é do Governador, vou perder meus espaços. Não vou ter emendas.” Deputado Barros Munhoz, esta Casa é Pão de Açúcar? É Carrefour? Aqui não tem troca, barganhas. Aqui é consciência.

Eu assumo minha responsabilidade, minha posição de parceiro até o final de Geraldo Alckmin. Chamo-o de irmão sim. Nos piores momentos da vida dele, quando nenhuma cidade queria lhe outorgar o título de cidadão, não conseguia reunir 20 pessoas no interior, lá estava o PTB de Campos Machado. Hoje, todo mundo é alckmista. Até Maluf virou alckmista. Paulo Salim Maluf é o maior alckmista que existe hoje. É fácil. O poder influencia o caráter das pessoas.

O projeto que defendo aqui é um projeto de decreto legislativo. É competência nossa, não é do governador. Senão, não votaria. Deixo, portanto, essa reflexão. Principalmente aos evangélicos, aos homens que pregam a fé, aos católicos fervorosos. É na fé que nos aproximamos de Deus. Não é escorregando e não votando aquilo que é preciso votar em função da consciência.

Sr. Presidente, brevemente estarei de volta a esta sagrada tribuna, que merece de todos nós respeito, estima, apreço e, principalmente, amor. Esta tribuna precisa de amor, que é o que estamos sentindo nesta Casa, ultimamente.

 

O Sr. Presidente - Barros Munhoz - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Rafael Silva.

 

O SR. Rafael Silva - PDT - Sr. Presidente, nobres colegas: O nobre Deputado Campos Machado disse-me para falar de Sócrates, de Platão. Em atendimento a essa sugestão, vou um pouco atrás. Licurgo, que teria vivido cerca de 800 anos antes de Cristo, era um legislador de Esparta. Um espartano sério, determinado, voltado para os interesses maiores da população daquela cidade-estado.

Licurgo fazia as leis, duras, sim, em favor do povo. Ele foi solicitado a fazer a espécie de uma constituição de Esparta. Num dos artigos ele colocou que aquelas leis só poderiam ser mudadas com sua presença. Ele não queria que as leis fossem alteradas porque, se assim acontecesse, o povo poderia perder e os interesses mesquinhos poderiam vencer.

Deputado Campos Machado, Licurgo era bem intencionado. Pode ter sido até uma figura lendária. Quem criou Licurgo criou com boas intenções. Depois de aprovar essas leis, ele desapareceu, fugiu, sumiu, porque não queria ser encontrado. Assim, as leis permaneceriam daquela forma, de acordo com sua vontade.

Quem é Licurgo nesta Casa ou neste Estado? Quem está contra os ideais de Licurgo? Ou será que não tem nada a ver? Vossa Excelência falou do Sócrates, jogador de futebol, o profeta do futebol. Sábio com os pés, talvez, nem tanto com a cabeça, apesar de ter uma inteligência privilegiada. Mas o outro Sócrates respondia perguntando. Ele tinha o discurso aporético, de aporia, de impasse, inconclusivo. Ele falava para despertar nas pessoas a reflexão.

Vossa Excelência, Deputado Campos Machado, usou um pouco aqui desse discurso socrático. Fez perguntas, fez questionamentos. O que vale mais: uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa ou um decreto do Governador? Uma boa pergunta. E a resposta, qual é? Começamos a ter uma reflexão. O que é a maioria? O que a maioria pensa? A maioria é envolvida por interesses? Foi dito aqui que, muitas vezes, os interesses menores se colocam de forma maior, mais poderosa. Mas, o que é interesse menor? Quando? Em que momento? Para mim, hoje, a realidade é uma; amanhã, poderá ser outra. O que muda? A realidade, ou eu mudo?

 

O SR. Campos Machado - PTB - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Deputado Rafael Silva, V. Exa. falava em Sócrates. Certa feita, Sócrates foi condenado à morte por um crime que não cometeu. Seus discípulos foram procurá-lo: “Mestre, é injusto. Vamos fugir. Temos todas as condições para o senhor fugir.” E sabe o que respondeu Sócrates? “É preciso que os bons respeitem as leis más para que os maus respeitem as leis boas.”

Sócrates deixa, efetivamente, uma lição para esta Casa.

 

O SR. Rafael Silva - PDT - E Sócrates, que foi obrigado a beber cicuta, falou que se fugisse estaria indo contra seus princípios. Ele não fugiu: enfrentou a morte, uma morte terrível. Depois, tudo isso foi dito com muita competência por seus discípulos. Ele falou que enfrentaria a morte, e enfrentou com dignidade.

Qual a dignidade que prevalece, hoje, na política? Quem é quem? Por que mudamos? Por que, de repente, estou de um lado e, num outro momento, de outro lado? Será uma metamorfose ambulante ou será um interesse passageiro, efêmero? Efêmero, para quem?

Deputado Campos Machado, tenho um projeto de lei que aprovei nesta Casa há muito tempo, que gostaria que fosse discutido. Gostaria também da atenção de Vossa Excelência. Uma vez, fui convidado para fazer uma palestra num sindicato. Eles reuniram muitas pessoas. Entre essas pessoas, encontrava-se uma advogada, brilhante, inteligente, que fez um discurso belíssimo. Ela estudou. Até os 18 anos, era considerada como pessoa de inteligência inferior. Qual o problema dela? Ela não ouvia bem. Não ouvindo bem, não acompanhava o desenvolvimento dos outros alunos e tinha complexo de inferioridade, julgava-se inferior e por outros também era considerada inferior.

Numa consulta médica, a sugestão aconteceu. Ela passou por um exame de audiometria e percebeu que escutava pouco. Aí, começou a usar um aparelho especial. Desenvolveu-se de forma brilhante. Crianças pobres que estudam na periferia dos grandes centros e mesmo nas pequenas cidades, que não ouvem bem e não enxergam bem, precisariam de um exame para poderem ter a constatação de que têm problema visual ou auditivo. Esse exame custa pouco. Monitores, funcionários da própria escola podem ser treinados e, só num caso de necessidade, a criança passaria para o exame com um médico. Num primeiro momento, é o monitor que realiza esse exame.

Isso existe em países sérios. Mesmo no Brasil, em alguns municípios sérios, já existe esse tipo de exame. A criança tem constatada a sua deficiência visual ou auditiva e passa a disputar com outras crianças, em condição de igualdade, sua posição na escola, no mercado de trabalho.

O meu projeto foi aprovado nesse sentido. No passado, foi vetado e esta Casa não votou o veto. Por que votar o veto? O filho do deputado pode pagar um médico e descobrir se tem problema auditivo ou visual. O filho do juiz, do promotor, do empresário, o filho do camarada da classe média alta e mesmo da classe média pode verificar se tem ou não um problema.

Então deixa para lá esse projeto. Mas ele não vai ter nenhum custo para o Estado, não interessa. Pois bem, é a criança pobre que está sendo penalizada, marginalizada, que não está tendo o direito e a Assembleia Legislativa não vota esta matéria, Deputado Campos Machado. Já implorei desta tribuna por muitas vezes e os grandes órgãos de comunicação de massa não estão nem aí porque não é o banqueiro, não é o grande empresário que tem esse problema. Quem faz a publicidade na grande mídia? Quem paga verdadeiras fortunas? O empresário ou o político poderoso. Pobre? Ah, o pobre é apenas um detalhe e na medida em que o pobre tiver menos e menos consciência é melhor para os dominadores.

René Descartes, que nasceu em 1596 e morreu em 1650, falou, Deputado Campos Machado, que na medida em que conscientizamos um indivíduo, outro indivíduo, outro e outro temos uma sociedade consciente que não aceita ser enganada nem escravizada.

O alemão Immanuel Kant, que nasceu em 1724 e morreu em 1804, fala da maioridade do indivíduo, não a maioridade cronológica, mas a maioridade psicológica, mental, intelectual. Somente quando o indivíduo atinge essa maioridade ele tem condições de se comportar como um verdadeiro cidadão.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Deputado Rafael Silva, apenas quero dizer que V. Exa. é um exemplo de vida. Vossa Excelência é um guerreiro, um lutador, que luta com poucas armas e conseguiu sobreviver a todos os obstáculos. Vossa Excelência aprendeu muito antes que os outros, porque a maior deficiência que existe não é a física, mas a de caráter. Vossa Excelência cita estes autores com propriedade. Vossa Excelência é um homem culto, preparado e dotado de extrema sensibilidade. Portanto eu o cumprimento, eu o saúdo, Deputado Rafael Silva. Vossa Excelência é um vencedor e esta palavra se aplica a poucos nesta Assembleia, neste Estado e neste País.

 

O SR. RAFAEL SILVA - PDT - Agradeço a intervenção de V. Exa.; são palavras de um verdadeiro irmão, que são carregadas de amor, como V. Exa. disse desta tribuna.

Então Immanuel Kant entende que a maioridade verdadeira é a mental, intelectual, a mentalidade da reflexão.

No preâmbulo da Carta dos Direitos do Homem, isso depois da Revolução Francesa, os representantes do povo francês reunidos numa assembleia especial, escolhidos pelo povo da França, entenderam que a ignorância, o esquecimento e o desprezo pelos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos governos. Vossa Excelência falou também na necessidade da reflexão.

Aristóteles, que nasceu no ano de 384 e morreu no 322 a.C fala ‘nosso objetivo é tornar-nos homens bons ou alcançar o grau mais elevado do bem humano.’ Esse bem é a virtude, é a felicidade, melhor dizendo, é a felicidade e a felicidade consiste na atividade da alma de acordo com a virtude. Na medida em que usamos nossa força, grande ou pequena, puxando para o lado da virtude nós podemos dizer, segundo Aristóteles, somos felizes. Vossa Excelência defende essa ideia, este ideal - tenho certeza por conhecê-lo bem - pela virtude e pela necessidade de construir algo melhor.

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes, para falar a favor.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, o projeto em discussão faz parte dos projetos de deputado, é um projeto do Deputado Marcelo Bueno que declara o município de Cubatão como capital das bandas e fanfarras do Estado de São Paulo. Ele tem apenas dois artigos: “Artigo 1.º - Fica declarado o Município de Cubatão como ‘Capital das Bandas e Fanfarras’ no Estado de São Paulo,

Artigo 2.º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

O município de Cubatão foi fundado há mais de 470 anos e sua história remonta à época da colonização portuguesa, quando Martim Afonso de Souza, em 1532, desembarcou em São Vicente, fazendo as primeiras doações de terras aos colonos portugueses, as sesmarias, que coincidem, em grande parte, com o atual território de Cubatão.

O município de Cubatão é conhecido como a Capital das Bandas e Fanfarras - a partir da nossa votação se tornará oficialmente - pelo trabalho que há muitos anos desenvolve neste segmento, com o objetivo de resgatar uma forma muito importante de participação na formação moral dos indivíduos.

Quem não se lembra, em sua infância, dos desfiles da cidade, com toda a pompa e circunstância, onde as pessoas se aglomeravam em grandes avenidas para assistir a apresentação de agremiações civis e militares. Era um momento especial, principalmente para as crianças. As instituições de ensino passavam meses ensaiando, durante as aulas de Educação Física e Educação Moral e Cívica, para a apresentação dos alunos nos desfiles.

Isso me faz lembrar com muita saudade da minha Presidente Venceslau, à época em que ensaiei em alguns momentos na fanfarra da Escola Estadual de 1º e 2º Graus Antonio Marinho de Carvalho Filho, mas era tão ruim de coordenação que nem na fanfarra eu consegui participar. Mas era um momento sublime.

Lembro-me que a fanfarra da Antonio Marinho de Carvalho Filho vinha participar aqui em São Paulo dos concursos de fanfarras e bandas e entravam 300, 400 jovens - crianças e adolescentes - no trem e partiam para São Paulo para mostrar com júbilo as cores da bandeira da cidade para disputar e saber quais eram as melhores fanfarras. Lembro-me até de uma intoxicação alimentar devido à alimentação sofrida que foi servida aos jovens e crianças que partiram para uma competição dessas. Todos foram acometidos por diarréia e vômito. Não as diarréias estratégicas a que assistimos muitas vezes nesta Casa, mas realmente intoxicação alimentar devido à alimentação servida. Isso para dizer que realmente o pensamento do Deputado Marcelo Bueno, que não é mais deputado desta Casa, mas mais de uma vez já vim aqui defender vetos e dizer que não podemos jogar fora a história da Assembleia Legislativa e vamos votar favorável ao projeto.

Mas também venho a esta tribuna para deixar muito bem claro que, como deputado que é, pelo acordo que vi, ouvi, que o Deputado Campos Machado, como uma grande liderança desta Casa, o líder do seu partido, o PTB, alguém que se preocupa o tempo todo com a grandeza do Legislativo, alguém que, talvez, na maioria das situações, esteja debatendo numa trincheira em apoiamento a projetos governamentais e eu numa outra trincheira. Mas guardo o respeito, a amizade e a consideração. E tenho que ser solidário neste momento e posso dizer que a Assembleia Legislativa toda seria injusta. No dia da votação do projeto do Deputado Campos Machado 24 Srs. Deputados, inclusive a maioria dos deputados do PT, estavam presentes. Mas devo dizer que me surpreendi, porque, se eu contasse o número de abraços e de apoiamentos de bastidores que o Deputado Campos Machado teve com relação ao seu projeto daria muito mais do que os 48 votos necessários para aprovação de um projeto. E mais ainda. Se levarmos em consideração que até a questão do mérito, que poderia ser discutido, torna-se menor nesse contexto quando vai se mostrar como o Poder Executivo interferiu de forma indefensável, através de decreto, ferindo frontalmente uma lei e uma instituição.

Concedo um aparte ao nobre Deputado Edinho Silva, presidente estadual do PT.

 

O SR. EDINHO SILVA – PT - Muito obrigado, nobre Deputado Major Olimpio. Ocupo este microfone, deputado, para expressar aqui um sentimento que talvez não seja só meu. Talvez seja um sentimento de boa parte dos deputados em plenário neste momento. Primeiro, ratifico a minha posição, a posição da bancada do PT em solidariedade ao Deputado Campos Machado, em relação à questão que ele levantou aqui sobre como foi criada Corregedoria da Polícia Civil junto à Secretaria de Segurança Pública. Já registramos que temos concordância com o mérito. Nós achamos que a Corregedoria tem de ser autônoma, mas também discordamos do método porque o governador de São Paulo não pode criar órgãos públicos por decreto, passando por cima das atribuições da Assembleia Legislativa. Então, somos solidários, e seremos favoráveis a esse debate sempre que ele aparecer em plenário.

Agora, com todo respeito, nobre Deputado Major Olimpio, sou um deputado recém chegado a esta Casa, é o meu primeiro ano de mandato e confesso que cheguei aqui muito estimulado para ser um bom parlamentar, para honrar a votação que obtive nas urnas. Desde o primeiro momento sinto que esta Casa pode ser muito mais do que ela é. Eu não conheço o Deputado Marcelo, autor desse projeto. Cubatão é governada pela companheira Márcia Rosa, prefeita por quem temos o maior respeito, mas não posso falar de um deputado que não conheço nem das suas intenções ao elaborar esse projeto.

Fico pensando no público que nos assiste. Nós, com todo respeito – sei que não preciso fazer essa ênfase, mas quero enfatizar na ata desta Casa todo o meu respeito ao deputado e à iniciativa dele, mas a Assembleia não pode perder horas e horas debatendo um projeto de lei que institui a cidade de Cubatão a Capital das Fanfarras do Estado de São Paulo. Não é possível que o público de casa que nos assiste aumente o seu respeito pela Assembleia com esse debate. Não é possível. Estou aqui com muitos deputados para manter o quorum e para que não haja obstrução da sessão porque queremos que projetos de parlamentares sejam votados. Mas, efetivamente, chegamos ao limite da política, da aceitação política. Não podemos ficar em plenário para manter essa sessão em pé, debatendo um projeto de lei que institui Cubatão a cidade Capital das Fanfarras. Esse projeto tinha que ser votado de forma simbólica, e nós tínhamos que estar debatendo questões fundamentais para o Estado de São Paulo, como a segurança pública, a saúde, a educação e tantos projetos de parlamentares que tramitam e dizem respeito a esses temas fundamentais para a vida do povo de São Paulo.

Então, Deputado Major Olimpio, o meu sentimento e o sentimento de boa parte dos deputados é que queremos manter esta sessão de pé, mas, efetivamente, se o tema for esse, penso que todos nós chegamos ao limite da nossa paciência política e que é um desrespeito à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Muito obrigado.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES – PDT – Eu concordo com V.Exa., mas não fui eu quem colocou o projeto na Ordem do Dia para ser votado, não o destacou. E, tão logo eu termine a minha fala, porque regimentalmente posso usar o tempo e vou utilizá-lo em solidariedade a uma coisa muito mais ampla que a Casa teria que estar discutindo. Não vou ficar dando quorum, aqui, para discussão nem desse projeto nem de projeto nenhum enquanto não for respeitada a condição do Deputado Campos Machado de também ter o seu projeto debatido e votado.

A Assembleia Legislativa já ficou extremamente limitada após a Constituição. E vejo, sim, Deputado Edinho, como tamanha inutilidade; sinto-me muitas vezes inútil dentro do processo que o povo paulista nos colocou.

Mas a população tem que entender que muitas vezes é uma das formas de obstrução. Por exemplo, não posso pedir verificação de votação muito embora, há 22 dias, meu partido, por 13 votos a 2, na executiva estadual, decidiu que o líder do partido sou eu. E Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo não acolhe a pretensão do meu partido porque se não pensam “o Olímpio vai com o partido para a oposição”. Olhem que a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo está fazendo com a autonomia de um partido. Gostaria de debater questões mais importantes sim. Se pudesse, estaria eu pedindo verificação de votação e verificação de presença. Mas enquanto não puder, e o Regimento me facultar, vou falar. Não apresentaria esse projeto, gosto do Marcelo, mas uso o tempo que for necessário e que eu puder para defender, como V.Exa., uma Assembleia que possa ser mais dinâmica, mais livre, menos atada, menos amordaçada, menos acovardada, com parlamentares que coloquem nos seus santinhos de campanha a coragem que têm e manifestem isso nos seus atos, vindo aqui votar contra o projeto do deputado que for mas digam por que estão votando.

Quero aproveitar o restante do tempo para me dirigir à família policial. Está tudo dominado, como diz o funk. Por enquanto as emendas parlamentares para melhorar os projetos da polícia estão sendo completamente desconsideradas. Policiais - no nosso jargão - vocês estão sendo tratados como trouxas. Não digam os representantes do governo e o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo que a responsabilidade total em relação a isso é do PT, do deputado major Olímpio, do PCdoB, do deputado Carlos Giannazi e do deputado Campos Machado. Eles estão fazendo obstrução pela melhoria da condição dos policiais. Não tem nada a ver esse assunto com o projeto do Marcelo, mas enquanto o Regimento me facultar, e onde houver uma injustiça, a covardia estampada de alguns que deveriam vir para o debate, vou me posicionar em respeito também aos meus eleitores e em respeito ao povo paulista. Que o povo paulista saiba que às vezes temos que dizer “bem-vindo ao mundo encantado Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”, onde parece que realmente estamos legislando e alterando os destinos da população. Mas para fazer isso, verdadeiramente, vamos ter que assumir uma postura isenta, independente, às vezes dizer “não” ao Executivo - e como é duro isso - e dizer “não” a alguns segmentos da mídia que distorcem informações.

Deputado Campos Machado e todos os 93 deputados desta Casa que forem menosprezados no vosso direito como parlamentar, estarei junto, muitas vezes até fazendo o papel de palhaço, colocando nariz de palhaço, mas para defender a autonomia do Legislativo, de qualquer parlamentar, de qualquer partido, porque já vi e sei quanto é duro ser paspalhado, ser desconsiderado pelos próprios colegas para fazer graça com o governo.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para discutir contra, tem a palavra o nobre Deputado Milton Vieira, pelo tempo regimental.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Vinícius Camarinha.

 

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O SR. MILTON VIEIRA - DEM - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados e Sras. Deputadas, ouvi atentamente os discursos dos deputados Campos Machado, major Olímpio e Edinho Silva. Concordo que nosso país e nosso estado vivem um momento difícil. Há pouco conversei com o deputado Jooji Hato sobre vários assuntos. Pelo menos tivemos a boa notícia que o Congresso Nacional votou a Emenda 29, que vai dar condições melhores para a área da Saúde dos estados e dos municípios. Porém, estamos discutindo um projeto do colega Marcelo Bueno.

Dias atrás fui barrado nos corredores desta Casa por pessoas da imprensa que perguntaram se era justo existir a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, se era justificável ter 94 deputados recebendo salários, tendo assessorias e verbas para custear despesas com gabinete. Naturalmente, todos nós sabemos que é necessário.

Estamos nesse plenário discutindo esse projeto. Já passei madrugadas nesse plenário e no plenário da Câmara Federal por interesse dos meus eleitores e da população como um todo. O problema não é o horário, mas já vi projetos de suma importância sendo discutidos nesta Casa. Não tivemos diálogo sobre esse projeto de fanfarras e bandas. Gosto de banda e fanfarra, mas como bem colocou V.Exa. esse projeto deveria ser votado simbolicamente, por respeito ao parlamentar que não está mais nesta Casa. Tive projeto meu de 2006 que foi aprovado agora. Concordamos em aprovar projetos de ex-deputados. Mas precisa ter relevância, precisamos ter respeito aos nossos eleitores. Estamos aqui ao vivo, até essa hora, numa transmissão da TV Alesp e nossos eleitores estão vendo tudo que está acontecendo, amanhã o Diário Oficial vai fazer publicações para que a população saiba o que estamos fazendo nesta Casa.

Quero cumprimentar esta Casa pelo projeto votado ontem, de proibição de venda de bebida alcoólica aos menores de 18 anos. Isso vai trazer resultados para nossa população.

Mas o que vai mudar essa discussão sobre Cubatão ser a capital das bandas e fanfarras? Não é justo com nossos eleitores.

Faço um apelo para votarmos essa matéria, vou pedir verificação de votação nesse projeto porque todos os deputados deverão estar aqui. Não podemos aceitar que os nossos eleitores se sintam envergonhados ao olhar para nós. Vou me sentir envergonhado. Meu filho poderá dizer: Pai, vocês estão discutindo um projeto de banda e fanfarra enquanto estão matando pessoas na rua, estão matando policiais na rua, não se tem segurança, não se tem saúde pública com dignidade, as pessoas estão jogadas nos corredores dos hospitais, as escolas não têm segurança para nossos filhos. Talvez para nós, sim porque temos uma condição um pouco melhor e os filhos estudam em escola particular. Mas a maioria não estuda em escola particular, não tem segurança, não tem qualidade de educação, não tem transporte digno, vamos ficar aqui até essa hora e ainda temos que fazer silêncio no plenário para discutir sobre banda e fanfarra? Não é justo isso, Sr. Presidente, Srs. Deputados.

Temos que tomar uma providência. Ou tiramos isso da pauta agora e vamos partir para o item seguinte, ou então vamos todos enfiar a viola no saco e aceitar, aceitar que a imprensa e mídias venham aqui a esta Casa dizer que nós não merecemos ter um salário de Deputado, que São Paulo não merece ter um Parlamento, o maior do País. Vamos ter que aceitar ficar ouvindo aí fora, e até dos nossos próprios familiares, dizerem que Deputado não faz nada. Não é justo isso.

Um projeto como esse, como disse o Deputado Edinho, tem que ser votado? É uma honra, ah, vai ser capital? Tudo bem, vamos votar simbolicamente aqui. Mas não é justo. Eu me recuso a continuar neste plenário para falar mais sobre esse projeto.

O Deputado Campos Machado falava aqui do Judiciário. Existem projetos que nós votamos aqui nesta Casa, aprovamos em 2001, do Tribunal de Justiça, o PLC 41, para criar varas nos tribunais. A Deputada Heroilma esteve comigo lá em Itaquaquecetuba e viu a situação dos fóruns. Vimos recentemente a juíza ser assassinada lá no Rio de Janeiro, porque eles não têm condições, é precário o trabalho dentro dos fóruns. E outras coisas, mas é que o Deputado Campos citou aqui a Justiça. Vossa Excelência, se não me engano, tem até um filho que é juiz.

Vossa Excelência é uma pessoa voltada para essa questão do Judiciário. Estão vivendo um drama, porque não existem funcionários, não têm condições, os fóruns estão abandonados em alguns lugares. E temos um projeto aqui para ser votado, sobre a criação de cargos. Está engavetado aqui nesta Casa, e nós aqui discutindo isto aqui. São processos e mais processos empilhados, para serem julgados, na questão de família, infância e juventude, enfim, tudo empilhado porque faltam juízes, faltam funcionários. Não estou aqui só fazendo defesa para juiz, não.

Srs. Deputados, Sras. Deputadas, temos aqui matérias importantes, engavetadas. Faço um apelo ao Presidente, aos Srs. Líderes, que levem essas matérias para discussão e coloquem em votação. No ano de 2000, votamos a criação de varas para os fóruns do Estado de São Paulo; depois de onze anos veio o projeto para cá, para criar os cargos para essas varas. É uma vergonha. E nós falando de banda e fanfarra! Pelo amor de Deus, vamos chamar uma banda aqui e vamos pedir para tocar uma música para nós, em homenagem a esta Casa.

Eu me sinto envergonhado de ter que estar aqui numa hora destas, discutindo. Tomara Deus que os meus filhos não estejam vendo, porque eu chego em casa e vou falar o quê?

Cedo um aparte ao nobre Deputado Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Deputado Milton Vieira, são duas questões. Vossa Excelência não está acompanhando as demais políticas desta Casa. Não se trata do projeto do Deputado Marcelo Bueno. Estamos discutindo posições políticas. Não é justo que V. Exa. tenha um projeto, ou vai ter um projeto aprovado, e outro Deputado não tenha. Essa é a questão de fundo.

Não estamos discutindo o mérito do projeto do Marcelo Bueno, e nem fui eu que pautei o projeto. Quem pauta projeto nesta Casa é a Presidência. Estamos discutindo aqui a questão política: por que razão os Deputados, uma parte tem os projetos aprovados, e outra não tem. Vossa Excelência consegue me explicar isso aí? Não é questão de projeto do Marcelo Bueno, ou Bueno Marcelo. Trata-se da questão política. Estou aqui no plenário para evitar a catalogação de Deputados de classe A e de classe B.

Quanto à Justiça, quero lembrar V. Exa. que votamos recentemente o PL 41, que cria os cargos. Já fui acusado nesta Casa de ser maquinista do Judiciário, só porque defendo esse Poder.

Mas essa questão do projeto de banda, de jardim, de sirene, de fogos de artifício, isso é uma questão que esse projeto veio ao acaso. Discute-se aqui uma questão política. Vossa Excelência tem razão, como tem razão o Deputado Edinho, de tratar do mérito e da grandeza desta Casa, em tratar de assunto sério. Só digo a V. Exa. que não se trata de uma questão de mérito. Não vamos votar a favor desse projeto, e também não tenho a menor condição de deixar a aprovação de projetos de outros parlamentares, quando existem projetos desta Casa - não do Executivo - que foram rejeitados.

Agradeço publicamente a V. Exa., que votou favoravelmente ao projeto desta Casa, mesmo podendo sofrer retaliações.

 

O SR. MILTON VIEIRA - DEM - Deputado Campos, não estamos aqui por acaso. Esse projeto pode ter vindo por acaso, como V. Exa. colocou, mas mesmo assim fica aqui o desabafo de um pai de família, de um avô, de um cidadão brasileiro, que vê todos os dias os noticiários: de manhã, de noite, no meu gabinete, na internet.

E vejo nosso Governador indo para cá, indo para lá, vai à cidade A, cidade B, anuncia recursos para isso, recursos para aquilo, mas eu não estou vendo uma eficácia no que diz respeito ao fato de nós trazermos condições melhores para o cidadão do nosso Estado. Temos que fazer jus àqueles que nos colocaram aqui.

Cedo um aparte ao nobre Deputado Pedro Bigardi.

 

O SR. PEDRO BIGARDI - PCdoB - Deputado, quero me solidarizar com suas palavras, concordar plenamente. A Bancada do PCdoB também está indignada com essa situação da Assembleia.

Não conseguimos avançar na discussão dos projetos. Aliás, começa na origem. Só vêm para o plenário projetos que são definidos, que não têm qualquer nível de polêmica. Os projetos são definidos pela Liderança do Governo, quando deveriam ser definidos pela Mesa Diretora. Projetos polêmicos deveriam vir ao plenário para serem debatidos, aprovados, rejeitados ou não, e os grandes temas não estão sendo discutidos nesta Casa, e ficamos por conta desta situação absurda, até altas horas.

E digo como quem votou favoravelmente ao projeto do Deputado Campos Machado, na questão da Corregedoria. Votei favoravelmente porque acredito que realmente não se pode mudar uma legislação desse porte por decreto.

Não podemos ficar nessa situação, sem votar projeto de Deputados, sem aprofundar temas importantes. Portanto, a sua indignação é a indignação da nossa Bancada do PCdoB. Nós nos sentimos envergonhados por ficar até altas horas discutindo esse tipo de coisa, que tem valor, mas não para esse tipo de discussão.

Vamos discutir outros temas, debater, trazer projetos de uma maneira geral aqui para o plenário, e fazer um debate livre, aberto, cada um colocando a sua posição. Não podemos continuar nessa situação, inclusive uma situação vexatória, que cada Deputado tem que ter um projeto aprovado por ano; se não vota de um, não vota de outro.

É uma situação deprimente. Ou muda essa situação na origem, ou vamos continuar nessa situação, infelizmente muito ruim para todos nós.

 

O SR. MILTON VIEIRA - DEM - Agradeço a V. Exa. pelo aparte.

Reforço aqui a minha posição. O Deputado Campos Machado citou aqui os evangélicos. Não é questão de evangélicos ou de católicos, seja lá qual for a religião. É uma questão moral, uma questão de caráter de cada um, de personalidade.

Nós não podemos ser hipócritas. A pior coisa que existe na face da terra é a hipocrisia, a pessoa hipócrita. Nós estamos aqui, Vossa Excelência para cá, Vossa Excelência para lá, tapa nas costas, por conta do quê? Por conta, como disse bem o Deputado Campos Machado, por causa das emendas, por causa de uma posição A, por causa disto e daquilo.

Não é isso. Não estamos aqui por causa disso. Embora façamos política, precisamos atender as nossas bases, enfim, mas não é isso. Votei com V. Exa. o projeto porque entendo que era necessário, que tinha que se mudar. Porém, Deputado Campos Machado, por que não, se ele era o item 1 da pauta, por que então não permaneceu? Deixasse ele no item 1 de pauta, para nós virmos aqui à tribuna e discutir o mérito, discutir o projeto, até dar um final nesse projeto. É isso?

Discutiríamos, mas pegar um projeto para ficarmos discutindo aqui, para a sociedade toda, ao vivo, na televisão, para o Diário Oficial, para falar sobre bandas e fanfarras? Não. Vamos procurar outro projeto com substância que traga benefícios para as nossas famílias, os nossos eleitores, para os nossos netos e para os nossos filhos. Assim poderemos nos tranquilizar e dizer que a parte que nos cabe foi feita.

Estou aqui para fazer a minha parte, mas infelizmente “uma andorinha não faz verão.” Sugiro que cada Deputado se conscientize que precisamos mudar a situação dessa Casa, porque em oito meses mandato a sociedade e os eleitores, que estão sofrendo, precisam de respostas.

 

O SR. PRESIDENTE - VINÍCIUS CAMARINHA - PSB - Tem a palavra o nobre Deputado Jooji Hato, para discutir a favor.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Barros Munhoz.

 

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O SR. JOOJI HATO - PMDB - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente Vinicius Camarinha, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, senhores telespectadores, venho a essa tribuna, discutir um projeto de lei do nobre Deputado Marcelo Bueno, o. Projeto de lei, n° 300/06, que declara Cubatão como a capital das bandas e fanfarras. V. Exa. deve saber, porque foi largamente divulgada a grande contaminação de Cubatão. Se alguém tiver dúvidas pode constatar a contaminação na descida à cidade de Cubatão, próxima a São Vicente, o forte odor de petróleo, que é sentido no carro com o ar condicionado ligado. Temos que passar rapidamente esse trecho porque a contaminação é altamente cancerígena.

Cubatão, infelizmente, possui grandes indústrias, inclusive indústrias petrolíferas. No Governo de André Franco Montoro, que pertencia ao mesmo partido que o meu, batalhamos para que essas grandes indústrias colocassem filtros em suas chaminés, mas podemos perceber que ainda atualmente exalam o forte odor de petróleo. Estão presentes no petróleo e seus derivados, substâncias que são altamente cancerígenas: Benzeno, Tolueno e Xileno, BTX.

Frequentemente presenciamos adolescentes, comendo e fazendo uso de bebidas alcoólicas e outras drogas em postos de gasolina, nas lojas de conveniência, porque infelizmente não conseguimos aprovar uma lei que proíba a venda de bebidas nesses locais. Postos de combustível não é local para se alimentar, postos de combustível são lugares de passagem rápida, para o abastecimento de carros. A rodovia Piaçaguera é uma área altamente contaminada, que provoca câncer.

Tivemos alguns casos em Cubatão e São Vicente de crianças que nasceram anencéfalas por causa da Rhodia, a grande indústria farmacêutica, que produzia organoclorado. Para se ter ideia, de 1974 a 1993, depositaram 20 mil toneladas dessa substância. Essa substância quando incinerada, libera furano, que é altamente cancerígeno. Como Presidente da CPI Municipal investigamos a Shell e outras empresas e descobrimos que na Vila Carioca - onde inclusive morou nosso ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que o condomínio Auriverde, que possui 500 apartamentos, foi contaminado através de um lençol freático.

A Shell foi a empresa responsável por essa contaminação, ela produzia esse pesticida, o organoclorado. A empresa, ao invés de drenar para o Córrego dos Meninos, que divide São Caetano e São Paulo, drenou para um poço no condomínio Auriverde contaminando mais de 2000 pessoas. A CPI Municipal, infelizmente, não tinha condições de pagar os exames que os moradores desse condomínio precisariam realizar. Consegui junto a dois laboratórios a realização gratuita dos exames em 30 moradores e constatamos a contaminação. Imediatamente interditamos o poço tubular profundo, pois o ramal que estava localizado embaixo de um restaurante e de um parque infantil dos funcionários da Shell foi o responsável pela contaminação, pois passava pelo condomínio.

Fomos a Secretaria de Saúde do Estado e não tivemos apoio, fomos a Secretaria da Saúde Municipal e não tivemos apoio. Parecia que eram três Governos contra esse vereador, sem nenhuma imunidade parlamentar, e fui até processado. A Shell começou a fazer as remediações que exigimos.

Levaram inicialmente o organoclorado para ser incinerado em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba, mas a cimenteira não aceitou fazer a incineração. Posteriormente levaram para Camaçari, no Estado da Bahia, além da distância percorrida pelos caminhões, esse produto quando incinerado produz furano, que é altamente cancerígeno, prejudicando os nossos irmãos baianos.

Gostaria de dizer que em Cubatão ainda existem esses produtos e que a remediação não foi feita. A cidade nunca voltará ao normal, por isso dizemos em remediação.Quero aprovar esse projeto, que credito ser extremante importante, pois essa contaminação merece devida importância por ser muito agressiva e maléfica à Saúde Pública. A remediação não foi feita em Cubatão. Os caranguejos, os siris, os peixes de Cubatão e São Vicente foram contaminado, assim como gestantes, crianças, por isso ocorreram malformações congênitas.

Gostaria de aprovar este projeto, meu caro Deputado. Campos Machado, para que possamos andar de banda e fanfarra sobre um chão limpo, sem contaminação, diferente do que existe hoje em Cubatão.

Nobres Deputados, temos uma tarefa muito grande pela frente, o nosso país não tem consciência ambiental. Segundo dados, os exames foram feitos no Hospital Albert Einstein. Vieram muitos exames distorcidos. Famílias até hoje sofrem.

Através da aprovação desse projeto, se Deus quiser, que possamos construir lá uma usina do plasma, uma tecnologia inovadora.

Aliás, acredito que seja uma tecnologia nacional, do IPT. Sugeri à Shell que acatasse, fosse ao IPT, entrasse em contato com os técnicos e engenheiros do IPT e fizesse o tratamento nessa terra contaminada com organoclorado, na Vila Carioca, através do plasma. Uma reação com gás hidrogênio eleva a temperatura até 5 mil graus. Essas terras transformam-se em gases, que depois se solidificam e viram um piso que pode ser aproveitado em pavimentações.

Poderíamos estar fazendo isso em Cubatão, na Rhodia. Em outros países, quando alguém contamina, a empresa ou quem contamina é que tem que ser o responsável. Aqui, parece que somente se joga nas costas - e nas costas do Governo, que tem costas largas.

Sugiro trazermos a tecnologia que têm essas usinas de plasma e falar que é da Westinghouse, da Alemanha. Mas essa tecnologia é nacional. Instalando uma usina de plasma, fazendo a remediação do solo em Cubatão e São Vicente, possamos, talvez, denominar Cubatão como a capital ecológica, como a capital do resgate da vida, do respeito ao meio ambiente.

Sr. Presidente, cedo meu tempo restante ao nobre Deputado Campos Machado. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Por cessão, tem a palavra o nobre Deputado Campos Machado, pelo tempo restante.

 

O SR. Campos Machado - PTB - Sr. Presidente, gostaria de responder ao nobre Deputado Milton, meu amigo.

Por questões políticas - e esta é uma Casa política - estamos discutindo não o projeto das bandas e fanfarras, mas os espaços políticos, as garantias dos parlamentares, o princípio de equidade. A vida é feita de princípios, Deputado. Estou aqui por um princípio: o princípio de que nesta Casa somos iguais. Não há como se pretender a desigualdade enquanto eu estiver aqui.

Louvo a sua posição e a do Deputado Edinho Silva. Evidentemente, esta Casa precisa crescer; tem um Presidente dinâmico, competente e sério. Mas há ocasiões, Deputado Milton, em que a dignidade fala mais alto do que o mérito. Vossa Excelência entendeu bem todos os meus pronunciamentos feitos nesta noite.

Diz um provérbio que só o sapo não olha para cima porque não aprendeu a amar as estrelas. Eu amo as estrelas. Se eu amo as estrelas, amo o respeito à dignidade. Não há como a minha bancada - por mim liderada nesta Casa, assim como partido, por mim liderado neste Estado e neste País - sujeitar-se a essas questões.

É preciso fazer justiça. Não foi o Colégio de Líderes. Quem estava lá, hoje, sabe a minha posição. Não queria que se votasse um projeto, porque disse que não havia clima político para isso. Vossa Excelência é meu amigo e eu o respeito muito. Vou parar por aí e pedir o levantamento da sessão, Sr. Presidente.

 

O SR. MILTON VIEIRA - DEM - Nobre Deputado, com todo o respeito a V. Exa., entendo que a questão seja política. Para que a imprensa e a sociedade entendam o que V. Exa. diz, teremos que chamar uma coletiva para que o Colégio de Líderes, para que todos nós expliquemos o porquê de, para se discutir espaço político, discutir sobre banda e fanfarra. Desculpe, mas pautaram errado esse projeto.

 

O SR. Campos Machado - PTB - Deputado Milton, dignidade não tem ocasião.

 

O SR. MILTON VIEIRA - DEM - É do que o nosso povo precisa, dignidade.

 

O SR. Campos Machado - PTB - A dignidade é interior. Não posso discutir com V. Exa. a dignidade hoje ou amanhã. O dia em que eu perder esse objetivo, essa meta, esse horizonte, não há porque continuar mais parlamentar. É dignidade, e ninguém pode abrir mão de dignidade.

Vossa Excelência não estava acompanhando desde o início. É o respeito que tenho por V. Exa., repito, que me impede de continuar. Jamais quero magoar Vossa Excelência.

Requeiro o levantamento da presente sessão.

 

O Sr. Presidente - Barros Munhoz - PSDB - Antes de levantar a sessão, esta Presidência quer dizer que concorda inteiramente com a colocação feita pelo nobre Deputado Milton Vieira de que pautar esse projeto nesta noite foi, no mínimo, uma estupidez.

Esta Presidência assume a sua parte de responsabilidade por ter feito isso e quer dizer que, a partir de amanhã, o tratamento a projetos de deputados vai deixar de ser o que se tentou fazer até agora. Não vamos mais tentar fazer entendimento para, numa sessão, colocar a Assembleia Legislativa numa posição vexatória, para dizer o mínimo.

Esta Presidência concorda inteiramente, assume a responsabilidade pelo erro que cometeu e vai tentar corrigi-lo, a partir de amanhã, colocando projetos de todos os deputados. Quando completar os 94, começa de novo.

Repito o que disse ao aceitar a candidatura a Presidente. Tenho um currículo a zelar, tenho uma história de 35 anos de vida pública que não vai ser manchada. Tenho lutado diuturnamente para preservá-la. Por isso, os projetos de deputados não serão garantidamente aprovados, mas todos os deputados terão os seus projetos votados.

Desculpe, Assembleia Legislativa. Desculpe, população de São Paulo, pela posição vexatória em que nos colocamos hoje. Peço desculpas.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, havendo acordo entre as lideranças presentes em plenário, esta Presidência vai levantar a sessão. Antes, porém, convoca V. Exas. para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, informando que a Ordem do Dia será a mesma da sessão de hoje.

Está levantada a sessão.

 

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- Levanta-se a sessão às 20 horas e 48 minutos.

 

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