25 DE SETEMBRO DE 2006

034ª SESSÃO SOLENE PARA HOMENAGEAR OS “40 anos da UNICAMP”

 

Presidência: RENATO SIMÕES


DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 25/09/2006 - Sessão 34ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: RENATO SIMÕES

 

HOMENAGEM AOS "40 ANOS DA UNICAMP"

001 - RENATO SIMÕES

Assume a Presidência e abre a sessão. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de homenagear os 40 anos da Unicamp. Suspende a sessão às 20h19min, para a exibição de vídeo institucional, reabrindo-a às 20h27min. Anuncia as autoridades presentes. Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional.

 

002 - EDUARDO ROBERTO JUNQUEIRA GUIMARÃES

Professor, Presidente da Comissão dos 40 Anos da Unicamp, informa que no dia 05 de outubro serão comemorados os 40 anos da Universidade. Lembra o papel da Unicamp no desenvolvimento nacional e aborda a evolução da comunidade científica brasileira e a criação de organismos de fomento como a Capes e Fapesp.

 

003 - MESTRE-DE-CERIMÔNIAS

Anuncia autoridades presentes e lê justificativas de ausências.

 

004 - JOÃO RAIMUNDO DE SOUZA

Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, fala do orgulho dos funcionários da Unicamp por sua participação nas atividades universitárias. Fala da origem da organização sindical naquela Universidade e de suas demandas.

 

005 - Presidente RENATO SIMÕES

Anuncia a execução de números musicais.

 

006 - ALEXANDRE BAQUERO LIMA

Estudante, representante da coordenação do Diretório Central dos Estudantes da Unicamp, fala da luta dos estudantes nesta Casa por mais verbas e mais democracia para as universidades públicas, revertendo o descaso que permanece nos últimos doze anos.

 

007 - MAURO ANTONIO PIRES DIAS DA SILVA

Professor, Presidente da Adunicamp, traça paralelo entre a Unicamp e a Adunicamp, que completa 30 anos de existência. Fala sobre a luta da entidade por mais verbas e melhores salários e, principalmente, pela autonomia universitária.

 

008 - Presidente RENATO SIMÕES

Anuncia a execução de números musicais.

 

009 - FERNANDO FERREIRA COSTA

Coordenador Geral da Universidade, representando o Reitor Professor Doutor José Tadeu Jorge, comenta que, aos 40 anos, a Unicamp já adquiriu tradição e pode ombrear, em muitos aspectos, as universidades mais antigas do mundo, e destaca seus feitos.

 

010 - Presidente RENATO SIMÕES

Fala sobre os preparativos e a importância desta sessão solene, e informa que haverá nesta Casa debates sobre a questão das universidades públicas, destacando o sobre a Lei de Inovações Tecnológicas. Convida a todos para a sessão solene do Conselho Universitário, convocada para a comemoração do 40º aniversário da Unicamp, a realizar-se dia 5 de outubro, às 15 horas, em Campinas. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Boa noite. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Esta Presidência dá como lida e aprovada a ata da sessão anterior.

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear os 40 anos da Unicamp.

Antes de compor a Mesa Diretora dos trabalhos esta Presidência suspende esta sessão solene para a apresentação do vídeo institucional dos 40 anos da Universidade Estadual de Campinas, preparada pela coordenação das comemorações dos 40 anos da Unicamp.

Está suspensa a sessão.

 

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- Suspensa às 20 horas e 19 minutos, para exibição de vídeo institucional, a sessão é reaberta às 20 horas e 27 minutos, sob a Presidência do Sr. Renato Simões.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pelo Grupo de Câmera da Escola Livre de Música - Unibanda, do Núcleo de Integração e Difusão Cultural da Unicamp, sob regência do Professor Israel de Souza Calixto.

 

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 - É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta Presidência agradece ao Grupo de Câmera da Escola Livre de Música - Unibanda, na pessoa do seu regente, Prof. Israel de Souza Calixto, e nomina também os demais professores que integram essa apresentação de hoje na Assembléia Legislativa: Prof. Clóvis Beltrame, Prof. Flávio Ricardo Floriano, Prof. João José Leite, Prof. Leandro dos Santos Coleone, Profª Luana Oliveira Lima, Prof. Manoel Falheiros e Prof. Rogério Perus.

A Assembléia Legislativa agradece a presença dos senhores nesta noite, abrilhantando esta Sessão Solene.

Esta Presidência informa que o Sr. Presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Rodrigo Garcia, convocou esta Sessão Solene justamente pela importância que a Unicamp representa no cenário do ensino, da pesquisa e da extensão universitária de São Paulo. Já há um bom tempo esta Casa busca estreitar suas relações com as universidades estaduais paulistas. Em particular neste momento em que o debate sobre o financiamento das universidades se encontra bastante aberto ainda nesta Casa, sentimo-nos honrados em recebê-los nesta noite. Agradecemos a presença de todos.

Informamos que esta Sessão Solene, em virtude das limitações da legislação eleitoral, não está sendo transmitida como de costume pela TV Assembléia, no entanto, registrará todo o evento para posterior exibição, logo após as eleições.

Informa também que os Anais da Casa receberão todos os discursos e pronunciamentos e a Ata desta Sessão Solene justamente para garantir que fique registrada na história da Assembléia Legislativa esta homenagem à Unicamp na data de hoje.

Gostaria de convidar para compor a mesa o Sr. Prof. Eduardo Roberto Junqueira Guimarães, Presidente da Comissão dos 40 anos da Unicamp. (Palmas) Convido também, representando o Magnífico Reitor, Prof. Dr. José Tadeu Jorge, o Prof. Fernando Ferreira Costa, Coordenador-Geral da Universidade. (Palmas) Representando o corpo docente da Universidade, convido o Prof. Dr. Mauro Antonio Pires Dias da Silva, Presidente da Adunicamp. (Palmas) Representando o corpo discente, convido o acadêmico Alexandre Baquero Lima, membro da coordenação do Diretório Central dos Estudantes da Unicamp. (Palmas) Representando o corpo de funcionários da Universidade, convido o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, João Raimundo de Souza. (Palmas)

A Presidência concede agora a palavra ao Prof. Eduardo Guimarães, Presidente da Comissão dos 40 anos da Unicamp, que situará a importância da Universidade no contexto das instituições e da produção científica do país, uma vez que o objeto principal desta sessão é justamente a valorização daquela contribuição singular que a Unicamp dá ao estado e ao país em todas as áreas da vida universitária.

 

O SR. PROF. EDUARDO ROBERTO JUNQUEIRA GUIMARÃES - Boa noite, Excelentíssimo Sr. Renato Simões, digníssimo Deputado Estadual de São Paulo; Exmo. Sr. Prof. Dr. Fernando Costa, Coordenador-Geral da Unicamp, aqui representando o Magnífico Reitor, Prof. Dr. José Tadeu Jorge; Ilmo. Sr. Prof. Dr. Mauro Antonio Pires Dias da Silva, digníssimo Presidente da Adunicamp; Ilmo. Sr. João Raimundo de Souza, digníssimo Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp - STU; Ilmo. Sr. Alexandre Lima, representante da coordenação do DCE da Unicamp; prezados senhores funcionários, estudantes e professores da Universidade, demais autoridades presentes, senhoras e senhores.

A Unicamp faz no dia 5 de outubro 40 anos. E é este fato que nos reúne aqui hoje, a partir da generosa iniciativa do Exmo. Sr. Deputado Renato Simões. Comemorar é olhar o passado, mas principalmente pensar, projetar e abrir um novo futuro. Neste gesto, o de projetar o futuro ao comemorar o passado, não é de forma nenhuma indiferente à Unicamp receber a homenagem da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, inclusive porque se trata do reconhecimento de um dos lugares do Poder do Estado, responsável pela gestão da coisa pública, de um passado que é visto como justificando uma previsão positiva do futuro. E por isso a Universidade muito agradece ao Exmo. Sr. Deputado Renato Simões e à Assembléia Legislativa pela iniciativa desta cerimônia.

Sem me deter numa exaustiva apresentação de aspectos da vida da Unicamp, que o vídeo que antecedeu esta cerimônia já mostrou, gostaria de lembrar que a Unicamp teve sempre uma grande participação no desenvolvimento nacional, desde os aspectos relacionados ao desenvolvimento tecnológico como a reflexão sobre a sociedade, a gestão pública, o desenvolvimento das ciências sociais de um modo geral e das artes.

Outro aspecto importante na universidade, na Unicamp em particular, é o reconhecimento hoje da exigência de se desenvolverem políticas de inclusão baseadas em aspectos de avaliação de qualidade. A Unicamp, no nosso ponto de vista, encontrou uma fórmula bastante interessante de ação afirmativa que corresponde não simplesmente a indicar a procedência de um aluno, mas, por meio de um sofisticado procedimento de análise, dar-lhe uma avaliação que corresponde àquilo que ele pode fazer posteriormente dentro da universidade.

São ganhos que a universidade traz para si e para a sociedade como experiência na busca desse aspecto extremamente importante dos procedimentos de inclusão que as universidades e os instrumentos institucionais da sociedade devem ter neste momento.

No seu recente “Era dos Extremos”, Hobsbawn (1994), ao fazer uma história da ciência nos mostra como, em vários momentos, os cientistas, no século XX, se viam desobrigados de justificar sua participação em projetos de pesquisa ou de justificar seus interesses, independentemente de seus resultados sobre o mundo "até tornar-se evidente, na década de 1970, que não se podia divorciar a pesquisa das conseqüências sociais das tecnologias que ela agora, e quase imediatamente, gerava" (p. 534).

Ou seja, passa a fazer parte da questão científica, e os cientistas têm consciência disso, não só produzir conhecimento, mas saber que sua produção não é inseparável daquilo que o tomou possível nem do que passa a poder ocorrer ou ocorre como uma decorrência quase necessária.

Nas condições históricas de hoje põe-se para o próprio campo da ciência a questão de seus limites de modo claro. E aqui gostaria de trazer dois aspectos colocados também por Hobsbawn. O primeiro deles formulado quando ele nos fala da criação do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), na década de 1930, na França. Diz-nos ele: "Na verdade, tornou-se cada vez mais óbvio, pelo menos para os cientistas, que era necessário não apenas financiamento público, mas uma pesquisa organizada publicamente" (p.525). No segundo deles avança o historiador britânico: “...Como sabiam todos os cientistas, a pesquisa científica não era ilimitada e livre, quando nada porque exigia recursos que não eram limitados. A questão não era se alguém devia dizer nos pesquisadores o que fazer, mas quem impunha esses limites e orientações, e por quais critérios" (p. 535). Ou seja, quem deve formular e realizar políticas científicas e por que critérios?

Podemos dizer que na história brasileira, e especificamente na do Estado de São Paulo, o Estado teve a sabedoria de criar os instrumentos adequados para esta organização. E isto é parte fundamental da capacidade das Universidades públicas do Estado de São Paulo e de sua produção científica e tecnológica e de ensino de alta qualidade. Estes instrumentos são, de uma parte, as Universidades públicas do Estado e, de outra, a Fapesp, ao lado de um conjunto de outras instituições, como os institutos de pesquisa, por exemplo. E estas instituições funcionam aliadas a outras da esfera federal, como o CNPq, a Capes e a Finep. Ou seja, é porque o Estado reconhece a necessidade de a comunidade científica ser responsabilizada publicamente pela gestão da produção de conhecimento e da formação de pessoal de alta qualidade que o Brasil alcançou o lugar a que chegou. E o Estado de São Paulo é líder neste aspecto no Brasil.

Pensando esta relação entre o Estado e a comunidade científica, feita decisivamente por instituições específicas e autônomas (criadas pelo discernimento do Estado - de que faz parte esta Assembléia Legislativa), poderia dizer que observando, brevemente, uma história das instituições científicas no Brasil e o modo de constituição da comunidade científica brasileira, podemos reconhecer três movimentos fundamentais.

No primeiro movimento, que podemos localizar no século XIX, chegando até os anos 1930, os brasileiros se voltam para fora do Brasil em busca de procedimentos de trabalho e a constituição do mundo das idéias. Todos nós conhecemos as histórias dos brasileiros que iam estudar na Europa (incluindo Portugal) para se formarem.

No segundo movimento, que podemos considerar como se desenvolvendo dos anos 1930 aos anos 1960, o Brasil se põe a constituir instituições específicas para a formação de seus cidadãos. E criada em 1934 a Usp, em 1939 a Universidade do Brasil. Ao lado disso, são criadas em 1950 o CNPq e a Capes. O Estado de São Paulo estabelece na sua Constituição, na década de 1940, a obrigação de criar um organismo próprio de fomento à pesquisa. Neste período o Brasil traz para suas novas instituições cientistas capazes de ajudar a constituir no país novos métodos, novas práticas e novas exigências.

No terceiro movimento, que podemos considerar iniciando-se nos anos 1960 e estendendo-se até nossos dias, a Capes constitui o sistema nacional de pós-graduação, e em São Paulo cria-se a Fapesp, em 1962, e em seguida a Unicamp, em 1966. Criam-se, neste momento, nos organismos de fomento (Capes e Fapesp, por exemplo), programas próprios para a isso. O Brasil torna, assim, possível a ida sistemática de pessoas para uma formação no exterior em áreas sem pessoal qualificado no Brasil, assim como pode sustentar a vinda de pessoas qualificadas de modo sistemático para a formação de pessoas no País. Isto torna possível o desenvolvimento da pós-graduação brasileira e a qualificação massiva dos docentes e pesquisadores de nossas universidades que passam a se tomar responsáveis pela formação aqui no Brasil de pessoal de alta qualificação. E isso tem conseqüências fundamentais na pesquisa e no ensino universitário.

Em outras palavras, o que vemos é, e nisto o Estado de São Paulo tem papel decisivo, uma história em que o Brasil, a partir de suas instituições e de suas questões, promove o seu domínio crescente dos meios de produção de conhecimento e de constituição de uma comunidade científica própria.

Esta história de relação entre instituições responsáveis e o desenvolvimento da formação qualificada dos cidadãos, aliada à produção de conhecimento científico e tecnológico é um valor constituído no Estado de São Paulo de forma exemplar para o Brasil. A Unicamp sem dúvida faz parte desta história, ciente da sabedoria dos organismos de Estado, como esta Assembléia Legislativa, na criação de instituições autônomas e, para usar as palavras de Hobsbawn, sabedoras de que é necessário não apenas financiamento público, mas uma pesquisa organizada publicamente, ou seja, organizada com uma objetividade e visibilidade pública. Muito obrigado.

 

O SR. MESTRE-DE-CERIMÔNIAS - Anunciamos a presença do Professor Doutor Armando Corboni Ferraz, Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP, neste ato representando a Reitora Professora Sueli Vilela; do Professor Doutor Paulo Moreira Rodrigues da Silva, Pró-Reitor de Desenvolvimento Universitário da Unicamp; da Professora Doutora Teresa Zambom Atvars, Pró-Reitora da Pós-Graduação; do Professor Doutor Mohamed Habib, Pró-Reitor de Extensão; do Professor Doutor Roberto Lotufo, da Agência de Inovação da Unicamp; do Professor Jorge Tapia, Coordenador do Cocen; da Professora Rosa Inês Costa Pereira, Assessora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação; do Professor Doutor João Francisco Duarte Lima, Diretor associado do Instituto de Artes.

Justificaram a ausência nesta solenidade o Dr. Antonio Carlos Caruso, do Tribunal de Contas do Município de São Paulo; o Professor Carlos Vogt, Presidente da Fatesp; a Dra. Mary Ângela Parpinelli, Diretora Executiva do Caism da Unicamp; o Sr. Reinaldo Antonio de Oliveira, Gerente-Geral do Banespa Unicamp; a Professora Doutora Rita de Cássia Montilha e Professora Doutora Maria Elizabete Gasparetto, do Cepre, Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; a Exma. Secretária de Estado da Educação, Professora Maria Lúcia Vasconcelos; o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Dr. Alberto José Macedo Filho.

Dr. José Aristodemo Pinotti, Deputado Federal, enviou carta de cumprimentos, justificando também sua ausência: “Caro Presidente, sinto não poder estar presente na justa homenagem que a Assembléia Legislativa de São Paulo presta aos 40 anos da Unicamp. Nela tive oportunidade de vivenciar os seus anos de infância e adolescência sob a batuta de Zeferino Vaz e posteriormente, nos anos 80, ser seu Reitor. Conseguimos naquele tempo então tirá-la de uma crise profunda, dar-lhe estatutos, terminar sua construção e entregar funcionando seu Hospital das Clínicas e o Hospital da Mulher.

Hoje, festeja-se o quadragésimo aniversário da Unicamp, colocada entre as três melhores do Brasil. Moderna, bem equipada, dinâmica, com um corpo docente de excelente qualidade. É justo recordar seu nascimento e seus primeiros 20 anos de atividade contínua, inovadora e ousada, que contaram com a colaboração entusiasta dos funcionários da Unicamp, todos da área pública, hoje tão injustamente execrada. Os resultados estão aí para mostrar que, quando há vontade política, seriedade e ousadia, tudo é possível.

Estou certo que a Unicamp usará sua contemporaneidade, seu passado e sua tradição para vencer os perigosos obstáculos que se colocam a frente da Universidade Pública Brasileira e, novamente, dar um exemplo ao País. Parabéns pelos 40 anos, dizem q a vida começa aí!”

Também a Sra. Izalene Tiene, ex-Prefeita de Campinas, enviou uma carta justificando sua ausência: “Caro Deputado Renato Simões, caro Reitor da Unicamp. Em virtude de compromissos assumidos anteriormente, infelizmente não poderei estar presente na Sessão Solene em homenagem aos 40 anos da Unicamp.

Contudo, quero manifestar meus cumprimentos e apoio à iniciativa do Deputado Renato Simões (PT) pela justa homenagem a esta Universidade Pública, patrimônio de todo o povo do Estado de São Paulo. Que a Unicamp, no limiar do século XXI e na era da informação e do conhecimento, possa continuar sendo um centro de excelência cujas pesquisas ajudem nosso Estado e o Brasil a superar a pobreza, a concentração da renda e, sobretudo, a desigualdade social, cultural e regional, construindo uma nação onde caibam todos (as). Atenciosamente, Izalene Tiene - Ex-Prefeita de Campinas”

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Esta Presidência agradece ao Cerimonial e convida os representantes das entidades da comunidade universitária para que possam dar seu testemunho sobre o significado para as pessoas que constroem a universidade nesses 40 anos. Iniciamos com o depoimento do Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, João Raimundo de Souza.

 

O SR. JOÃO RAIMUNDO DE SOUZA - Em nome do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, quero cumprimentar o Deputado Renato Simões pela iniciativa de comemorarmos nesta Casa os 40 anos da Universidade Estadual de Campinas. Cumprimento o Professor Mauro, Presidente da Adunicamp; Professor Guimarães; Professor Fernando Costa, aqui representando a Reitoria; Alexandre, representando o DCE e todos os presentes.

Existe um orgulho muito grande dos funcionários quando se comemoram os 40 anos da Unicamp. Os funcionários, junto com os demais segmentos, têm uma participação fundamental na história da Unicamp. Muitos já se aposentaram, muitos são mais recentes, participam dessa história em um período mais recente, mas todos têm muito orgulho de trabalhar na Unicamp.

Penso que essa construção dos 40 anos da Unicamp tem um sentido importante na forma como o Professor Guimarães colocou, mas também tem o sentido do envolvimento, do engajamento, da participação da comunidade universitária nesses 40 anos da existência da Unicamp. A Unicamp começou em 1966. Já em 1967 teve o primeiro embrião da organização dos trabalhadores, professores e funcionários, que foi a constituição da SUC, uma das primeiras entidades das universidades, uma entidade que surgiu logo no começo da Unicamp e que, ao logo da sua história, representando inicialmente professores e funcionários, teve um papel destacado na luta e na construção da universidade.

Cabe destacar o período de ditadura, de muitas dificuldades, mas já em 1979 houve uma participação efetiva da organização de professores, funcionários e estudantes na defesa da universidade contra a intervenção que ocorreu naquele período. A própria luta pela institucionalização da Unicamp é parte importante desse calendário.

Em 1988, após uma greve importante dos funcionários, dos professores, conseguiu-se um processo de autonomia, uma situação nova para as universidades, muito importante e que, de uma certa forma, contribuiu bastante para o desenvolvimento da universidade numa perspectiva de andar com as próprias pernas. Aqui está o Edson, que presidia a SUC naquele momento.

Do ponto de vista sindical e das entidades, temos questionamentos que permanecem até hoje em função do estrangulamento e dos recursos destinados para esse processo de autonomia, mas é importante lembrar que a autonomia é uma conquista das universidades paulistas. Existe uma ligação muito profunda da luta da comunidade em defesa da universidade. Há uma participação muito importante nesses 40 anos.

Vivemos um cenário hoje de muitas dificuldades. Estamos aqui na Assembléia Legislativa, o Deputado Renato Simões tem tido uma participação efetiva na discussão do estrangulamento das universidades, da necessidade de mais investimentos no ensino superior público do Estado de São Paulo e do Brasil, a necessidade de ampliação de novas vagas, de mais investimentos, inclusive com a ampliação de novos campi e da necessidade de tratar problemas sérios que vivem as universidades não na perspectiva do seu estrangulamento.

A Unicamp hoje, por exemplo, tem um sistema de saúde fundamental para a nossa cidade, para a nossa região e que precisa de investimentos. Temos a necessidade de investir em ampliação. Há a perspectiva de constituição de um campus em Limeira que é importante para a cidade, para a região, para constituir novas oportunidades para que novos estudantes tenham acesso ao ensino público e gratuito. São demandas, debates que passam necessariamente por esta Casa. E, obviamente, questões como aposentadoria de servidores públicos, que está em pauta aqui, são questões que devem ser discutidas com as entidades dos servidores públicos.

E, do ponto de vista da universidade, temos de continuar a nossa permanente luta para que a universidade continue pública, gratuita, de qualidade, e que a expansão que ocorra na universidade respeite o tripé ensino, pesquisa e extensão. Mas deve-se também trabalhar e se abrir para novas perspectivas, que são demandas concretas da sociedade de hoje, como a universidade se incorporar mais nesse debate da questão das políticas de cotas tanto para alunos egressos da escola pública quanto para negros e vivenciar experiências novas que podem abrir mais perspectivas para a democratização da Unicamp, além de permanentemente debater sua estrutura, para que possamos ter mais participação, mais democratização e, com isso, podermos comemorar os 40 anos da Unicamp com a perspectiva de comemorar seus 80 anos. Esta é a manifestação do STU neste encontro.

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Vamos fazer um intervalo nas intervenções para outra forma de expressão, a apresentação de obras de Henry Purcell e Johann Pachelbel executadas pelo Grupo de Câmara da Escola Livre de Música Unibanda.

 

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-         É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Convido agora para fazer o uso da palavra, o aluno Alexandre Baquero Lima, representando a coordenação do Diretório Central dos Estudantes da Unicamp.

 

O SR. ALEXANDRE BAQUERO LIMA - Boa noite a todas e todos aqui presentes, que assistirão esse ato pela televisão, principalmente àqueles que assistem a Universidade Pública de longe. Agradeço a vocês, contribuintes, que proporcionam a minha graduação na Unicamp, pagando impostos ao Estado de São Paulo.

Não estou aqui para falar de mim. Estou aqui na Assembléia Legislativa de São Paulo, mesmo com uma perna quebrada, falando em nome de todos os estudantes da Unicamp, o que é até irônico.

No ano passado e este ano, nós, estudantes, viemos à Assembléia Legislativa de São Paulo lutar por mais verbas públicas para a universidade pública. No ano passado, o então Governador Geraldo Alckmin vetou mais verbas para a Unicamp, Unesp e USP. Estivemos aqui fazendo atos, passeatas, para que a Assembléia Legislativa derrubasse esse veto e para que o Governo do Estado de São Paulo fizesse o que negou a fazer nos últimos 12 anos, que é aumentar as verbas para Unicamp, USP e Unesp. Como a Assembléia Legislativa recebeu os estudantes, funcionários e professores? Certamente não foi com falas em auditórios mas, sim, com a Tropa de Choque.

Qual o resultado desses 12 anos de descaso do Governo do Estado de São Paulo com a USP, Unesp e Unicamp? Por exemplo, no curso de Farmácia, na Unicamp, em que os alunos estão no terceiro ano e não há nenhum professor graduado em Farmácia. Mas, nessa hora a Unicamp dá um jeito e coloca um professor de Biologia, ou um de Química, para dar aula, faz pesquisa de cosmético para a Avon porque, afinal, para a Unicamp é mais importante a sua autonomia financeira e, conseqüentemente, o lucro da Avon, do que pesquisar medicamento mais barato para a população.

Não é apenas irônico eu estar falando aqui na Alesp. Irônico é o ato de falar, porque na Unicamp, desde 2004, a reitoria não quer que os alunos falem, se expressem. Em 2004, eles retiraram dos estudantes as eleições para a representação discente nos órgãos colegiados máximos de decisão da Unicamp tais como o Conselho Universitário e Comissão Central de Graduação. Eles tiraram porque não gostavam do que falávamos nesses órgãos.

Hoje, eles até querem punir as pessoas que falam, se expressam e estão reivindicando não apenas a representação discente real, mas também mais verbas para a assistência estudantil e contra uma expansão inconseqüente de vagas como no campus de Limeira, por exemplo, em que estão sendo construídas mais 700 vagas para o ano que vem, sem prever nenhuma assistência estudantil e com cursos que não são exatamente voltados para a construção da sociedade, são cursos mais voltados para o mercado de trabalho.

Se na ditadura militar os estudantes eram torturados e mortos, hoje, eles são expulsos da universidade. Eles ainda não fizeram na Unicamp, mas já fizeram na Unesp. Não quero comparar uma coisa com a outra, mas só queria dizer que o cerne de ambos os problemas é o mesmo: a falta de democracia na universidade pública. Hoje, seguindo a mesma lógica da ditadura militar, as únicas pessoas que têm o poder de decisão nas universidades públicas são os professores. Por exemplo, no Conselho Universitário da Unicamp, o órgão máximo de decisão, dos setenta e um membros, cinqüenta são professores, o que, inclusive, desrespeita a LDB, a Lei de Diretrizes e Bases, visto que os funcionários não são sequer 10% do Conselho Universitário.

Assim, meus amigos contribuintes do Estado de São Paulo, vocês se lembram que eu disse que seria injusto eu falar de mim? Pois bem, o justo seria perguntar o que vocês querem da universidade pública. Vocês querem uma universidade pública - que vocês mantém - voltada para a sociedade, voltada para as pessoas para quem ela foi construída? Ou vocês querem uma universidade pública voltada para a Microsoft, para a Aji-no-moto, que podem pagar para usufruir a universidade pública e, ao final, poder lucrar com ela?

Se escolhida a primeira opção, só nos resta um caminho, camaradas: informar-se e lutar por nossos direitos. Sem isso, a universidade pública só irá atender uma parcela ínfima da população e vocês continuarão assistindo-a apenas pela TV. Muito obrigado. (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Obrigado, Alexandre. Convido, agora, para fazer o uso da palavra, Prof. Mauro Antonio Pires Dias da Silva, presidente da Adunicamp, em nome dos docentes da universidade.

 

O SR. MAURO ANTONIO PIRES DIAS DA SILVA - Deputado Renato Simões; Dr. Fernando Costa, representando o Dr. Tadeu Jorge; Dr. Luiz Eduardo Guimarães; João Raimundo, o Kiko; acadêmico Alexandre, senhoras e senhores, em primeiro lugar, quero parabenizar a iniciativa do Deputado Renato Simões por esta comemoração da nossa universidade. Segundo, quero fazer um breve paralelo entre a Unicamp e a Adunicamp.

A Adunicamp surgiu 10 anos após o surgimento da Unicamp. No passado, ela foi - e isso lemos nos próprios livros da Adunicamp - parte responsável pela própria institucionalização da Unicamp. A Adunicamp completará agora 30 anos. As lutas da Adunicamp aparentemente têm sido por mais verbas, é claro e evidente que associadas a salários, mas ela tem lutado também por algumas bandeiras há 30 anos que se estendem até hoje, como a autonomia.

A palavra autonomia tem algumas confusões que são estudadas dentro da própria instituição. A diferença entre autonomia e soberania é que a soberania se deve ao Estado, e a autonomia à universidade. Sobre essa discussão da autonomia universitária, já estive várias vezes nesta Casa pedindo mais verbas para a educação. Vale a pena discutirmos que autonomia nós queremos. Evidentemente, para ter autonomia precisamos ter dinheiro. E sou um dos representantes no Fórum das Seis, que é bem freqüente nesta Casa. Na semana passada, inclusive, estávamos aqui quando a Assembléia suspendeu uma discussão que queria contemplar a discussão da LDO. O Fórum das Seis ficou indignado com essa insistência para que os 10,46 que a Comissão de Finanças e Orçamento aprovou fosse discutido nesta Casa.

Por quê? Porque na universidade, além de mentes brilhantes precisamos de dinheiro público para manter essas mentes brilhantes. Nós, docentes da Unicamp, entendemos hoje que a Adunicamp, Associação dos docentes, no passado, era muito movimentada e presente pelos seus associados, até porque era praticamente o único canal de comunicação que a universidade detinha para que os professores pudessem se manifestar publicamente. Hoje, com a expansão da universidade, vários canais foram criados. E a Adunicamp, aparentemente, tem-se fragilizado como um vínculo, ou como um canal de comunicação.

Geralmente professores se mobilizam quando salários ficam muito pequenos ou insuficientes para manter o seu cotidiano. Talvez, no próximo ano, iremos presenciar uma grande manifestação de docentes. Este ano foi 0,75 e, no ano que vem, se continuar 9,57, provavelmente teremos um zero pela frente de aumento de salário. Então nós, docentes, estamos apreensivos com o futuro da universidade não somente no sentido salarial, mas no sentido de verbas para manter essa estrutura gigantesca. Estamos presenciando o quanto ela cresceu. É uma preocupação, tenho certeza, dos reitores e gestores da universidade.

Presenciamos uma tentativa de expansão que, de uma maneira consciente, foi suspensa porque as verbas não foram aprovadas. Então nós, da Unicamp, entendemos que sem verba, sem dinheiro público não tem solução. As gestões futuras vão ter complicadores, sim.

Um dado interessante: hoje somos 1.700 docentes na Unicamp. Já fomos dois mil. O professor da Unicamp, hoje, está trabalhando muito mais que outrora. Quer dizer, o professor hoje está produzindo muito mais. O número de alunos aumentou muito. Acredito que o professor deve estar no limite da sua carga de trabalho, em todos os segmentos. São palavras que vamos repetir porque o corpo docente também está envelhecendo. A Profª Tereza, outro dia, falou que a média de idade do corpo docente é de 50 anos. Considerando que o homem se aposenta com 60 anos e a mulher com 55 anos, poderemos ter aposentadorias em massa, embora, evidentemente, tenhamos jovens se preparando para ocupar esses espaços. Mas quantos estamos contratando para ocupar esses espaços?

São reflexões para, em hipótese nenhuma, diminuirmos o brilhantismo dos 40 anos da Adunicamp. Mas é o momento de refletirmos sobre algumas questões que são ponderadas e consideradas pela Associação dos Docentes. A Associação luta por uma expansão, maior participação no ICMS e tem discutido insistentemente. E o Fórum das Seis está presente diariamente aqui. Na semana passada estivemos aqui presentes várias vezes insistindo nesse aumento do ICMS, importante para manter essa universidade com essa qualidade atual.

Em nome da Adunicamp eu me sinto muito agradecido por estar aqui neste momento e ter participado desses 40 anos dessa magnífica universidade, da qual faço parte como docente. Muito obrigado pela atenção. Não quis me alongar, era mais para fazer uma saudação e contar os aspectos com que temos trabalhado. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Quebrarei um pouco a ordem e pedirei ao pessoal do grupo de Câmera para apresentar mais duas obras, agora de autores brasileiros - de Carlos Gomes e de Heitor Villa-Lobos, para que possamos fazer, então, um bloco final, que é o encerramento dos nossos trabalhos. Em seguida retornaremos com as palavras do Prof. Fernando Ferreira Costa.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Muito obrigado. Quero, na pessoa do Prof. Israel de Souza Calixto, agradecer a todos os membros do Grupo de Câmera da Escola Livre de Música, a Unibanda do Grupo de Integração e Difusão Cultural da Unicamp. Sempre, para nós, é uma alegria ver como a universidade, nas várias modalidades do conhecimento, do pensamento e da expressão consegue comunicar coisas importantes, como vocês nos trouxeram através da música na noite de hoje. Muito obrigado pela presença de vocês.

Passo a palavra ao Professor Fernando Ferreira Costa, Coordenador Geral da Universidade, representando o magnífico Reitor Professor Doutor José Tadeu Jorge.

 

O SR. FERNANDO FERREIRA COSTA - Boa noite a todos. Sr. Presidente Deputado Renato Simões, proponente desta homenagem à Unicamp; componentes da Mesa Sr. João Raimundo de Souza, coordenador do STU, Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp; Prof. Eduardo Roberto Junqueira Guimarães, colega da Unicamp e responsável pelos festejos dos 40 anos da Unicamp; aluno Alexandre Lima, membro do Diretório Central dos Estudantes; Prof. Mauro Antônio Pires Dias da Silva, Presidente da Adunicamp, em nome de quem cumprimento todos os meus colegas de administração, Prof. Paulo, Profª. Tereza, Prof. Mohamed, demais professores; senhoras e senhores, gostaria de dizer, em primeiro lugar, que o Prof. Tadeu, magnífico Reitor da Unicamp, lamenta profundamente não poder estar presente nesta solenidade, uma vez que tinha compromisso previamente agendado.

Em nome do Prof. Tadeu, em meu nome e em nome da administração da Unicamp quero dizer que é significativo para a Unicamp que no ano de seu quadragésimo aniversário a primeira homenagem institucional que a universidade recebe - ou seja, de instituição para instituição - parta justamente desta Casa. É significativo porque aqui estão os cidadãos, os representantes da sociedade paulista que balizam o caminho normativo de nosso Estado e pavimentam a estrada para o seu desenvolvimento, o que inclui muito particularmente a educação, a ciência, a saúde e todos os vetores sociais em que a universidade está presente.

A Unicamp vai completar 40 anos de vida no próximo 5 de outubro, que é a data do lançamento de sua pedra fundamental. Para o padrão cronológico da universidade européia ou dos Estados Unidos, cuja história se conta por séculos, 40 anos correspondem talvez a uma primeira infância. Mesmo para os padrões brasileiros, cuja universidade mais antiga, a Universidade de São Paulo, ainda não completou 80 anos, a Unicamp continua sendo uma universidade jovem. Mas, por um desses milagres que às vezes acontecem no Brasil, a Unicamp é uma universidade jovem que rapidamente adquiriu tradição e pode ombrear, em muitos aspectos, com as universidades mais antigas do mundo. Mas vamos nos ater ao cenário brasileiro, onde me permito fazer algumas contextualizações para dar uma idéia do papel peculiar que a Unicamp desempenha no panorama universitário atual.

Aos 40 anos, a Unicamp é responsável por aproximadamente 15% da pesquisa brasileira; por 12% da pós-graduação nacional (tanto em número de alunos quanto em produção de teses); seus pesquisadores lideram o ranking de publicações per capita em revistas científicas internacionais; a Unicamp é, de longe, a universidade brasileira com maior número de patentes registradas e licenciadas. Atualmente, a Unicamp tem cerca de 17 mil alunos em 57 cursos de graduação e 16 mil em 127 programas de pós-graduação. Nossos 1.700 docentes desenvolvem cerca de 3.500 projetos de pesquisa nas áreas de ciências exatas, tecnológicas, biológicas, humanidades e artes.

Freqüentemente se pergunta quais as razões que permitiram à Unicamp, ainda nos seus primórdios, no início da década de 70, destacar-se na pesquisa e oferecer um ensino de primeira qualidade, com indicadores que só fizeram crescer nas últimas décadas. Vou me arriscar a apontar algumas dessas razões:

1 - A existência de um plano-piloto inicial arquitetado por seu fundador, o professor Zeferino Vaz. Isso permitiu à Unicamp fugir à tradição brasileira de crescimento cumulativo e não-planejado de suas universidades. Ou seja, a Unicamp nasceu com uma filosofia definida e capaz de abranger de modo equilibrado as diferentes áreas do conhecimento; soube juntar ensino, pesquisa e serviços; rapidamente adquiriu peso específico na produção de pesquisa científica e tecnológica; destacou-se igualmente na formulação de políticas públicas de grande alcance e logo se acoplou ao processo de desenvolvimento paulista e brasileiro.

E a visão importante do Prof. Zeferino Vaz fez com que ele recrutasse para os docentes da Unicamp o que houvesse de melhor nas universidades brasileiras e brasileiros no exterior, de estrangeiros, onde quer que eles estivessem, para virem a Campinas, participarem da fundação de uma universidade.

3 - A Unicamp inovou também ao acoplar laboratórios de pesquisa e laboratórios de ensino a cada curso implantado, propiciando o desenvolvimento imediato de projetos científicos e tecnológicos. Paralelamente buscou no exterior, jà em seu período inicial, 230 pesquisadores de primeira linha, estrangeiros e brasileiros, e 180 outros trazidos de instituições brasileiras. Isso permitiu uma base de pesquisa já no começo, com forte ênfase na produção de conhecimento e na pós-graduação. No início da década de 70, a Unicamp já apresentava pesquisas nas áreas de laser, fibra óptica, raios cósmicos, telefonia digital etc.

Essa base estrutural consistente teve conseqüências imediatas e duradouras, cujos resultados potencializaram a produção acadêmica da Unicamp e permitiram outras opções que são uma característica de nossa universidade. Por exemplo, a Unicamp fez uma opção primordial para uma pós-graduação de alta qualidade. A pós-graduação tem a propriedade de conferir densidade e universalidade à pesquisa científica, que, por sua vez, tem como conseqüência primordial realimentar o ensino, a Educação.

Graças a essa conjugação, a Unicamp atraiu para o seu entorno inúmeras empresas e vários centros de pesquisa, modificando o perfil produtivo da região e potencializando a interação da universidade com a sociedade, com a indústria e com a pesquisa não localizada na universidade.

Além disso, a Unicamp, de maneira pioneira muitas vezes, fez uma política de qualificação extracurricular do aluno de graduação, destacando-se um extenso programa de iniciação científica que atrai para os laboratórios alunos com vocação para a pesquisa. É preciso registrar que o investimento próprio da universidade na assistência permanente estudantil é da ordem de 24 milhões de reais anuais, investimento não igual proporcionalmente em qualquer universidade brasileira.

Temos uma estrutura de empresas juniores também sem paralelo em outras instituições universitárias. São 20 ao todo hoje na Unicamp e integram os valores vocacionados para o empreendedorismo. A conseqüência no primeiro caso é o fortalecimento da qualidade não só dos alunos que a universidade forma, mas também do sistema de pós-graduação, pois a maioria dos alunos que fazem iniciação científica dão seqüência rapidamente a sua formação de pós-graduação, em tempo de formação de mestrado e doutorado muito menor do que o habitual.

No segundo caso das empresas juniores, muitos dos alunos que integram essas empresas vão ocupar funções importantes no mercado e parte deles se transformam em empresários. Exemplo disso são as aproximadamente cem empresas de ex-alunos e de pesquisadores que se nuclearem em torno do campus de Campinas, às quais chamamos, de maneira carinhosa, de filhas da Unicamp e cujo faturamento global atualmente já ultrapassa um bilhão de reais. Essas empresas contribuem de maneira significativa para a continuidade de empregos, para a riqueza, para o progresso e para a independência tecnológica e científica do Estado de São Paulo e do Brasil.

A existência de uma cultura de interação com o setor de produção de bens e serviços e a adoção de uma política de parcerias estratégicas, fazem parte da política da Unicamp. O exemplo mais notável é o convênio com a Petrobras, que já rendeu mais de 250 teses na área de engenharia do petróleo e que, sem dúvida, contribuiu, juntamente com outras universidades brasileiras, para o progresso da Petrobrás, para a independência energética na área do petróleo, para o progresso deste País.

Essa cultura, como eu ressaltei, é exemplificada com a criação da agência de inovação, com uma incubadora de empresas e com o incremento grande da produção de patentes ao topo do “ranking” brasileiro, como já mencionei. Tudo isso permitiu que a Unicamp se tornasse uma formadora contínua de quadros de excelentes graduados em todas as suas áreas de conhecimento.

Graduados e professores da Unicamp foram capazes - e são capazes - de formular políticas públicas de grande alcance que estão em atuação em estados, municípios e no próprio País como um todo.

A partir de meados da década de 80, que se poderia tomar como a década de amadurecimento do projeto da Unicamp, esse fenômeno passou a ocorrer nos três níveis federativos, o que pode ser expresso pelo alto número de ministros, secretários de estado, prefeitos, secretários municipais e técnicos de alta qualificação, além de um certo número de parlamentares que emergiram dos quadros da universidade.

Merece menção também que alunos formados na pós-graduação da Unicamp fazem parte importante de numerosas universidades federais e estaduais por todo o Brasil e até no exterior, fornecendo quadros fundamentais para o ensino superior no Brasil.

De vital importância para o momento que a Unicamp vive hoje foi a conquista da autonomia de gestão financeira em 1989. Menciono esse fato para destacar o papel fundamental que teve, na sua viabilização, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. A autonomia veio trazer para as universidades estaduais paulistas - a Unicamp, a USP e a Unesp - a possibilidade de planejar seu presente e seu futuro a partir da possibilidade de prever os recursos com que contarão no dia seguinte, pondo fim à desgastante e política do "pires na mão".

O resultado foi que, nestes 17 anos de vigência da autonomia, todos os indicadores de qualidade da Unicamp subiram expressivamente. Basta ver que, de lá para cá, o número de vagas no vestibular mais que dobrou - passando de aproximadamente 1.400 para 3.000; em 1987, primeiro ano do vestibular próprio da Unicamp, houve 13 mil inscritos - hoje a média é de 50 mil inscritos; o volume de publicações científicas internacionais, que era de três centenas por ano no início da década de 90, está hoje no patamar de 2.000 artigos; do mesmo modo, cresceu exponencialmente a produção de pesquisa, de dissertações de mestrado, de teses de doutorado e o registro e licenciamento de patentes. Outros números comparativos poderiam ser alinhados aqui, mas não quero me estender demasiado.

Gostaria de agradecer enfaticamente esta homenagem que a Assembléia Legislativa e o Deputado Renato Simões fizeram à Unicamp, dizer do orgulho da Unicamp por participar do progresso do ensino superior deste Estado e contar com o apoio dos representantes da Assembléia. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RENATO SIMÕES - PT - Obrigado, Prof. Fernando. Queria, antes de encerrar a sessão, de dizer a V. Sa. que discutimos muito com o Prof. Tadeu como fazer esta homenagem. Estávamos diante de duas alternativas difíceis: fazer agora, porque temos duas datas livres nesta semana que antecede as eleições, ou então no final da segunda semana de dezembro quando teríamos já a universidade desmobilizada de todo o seu cronograma de homenagens mais intensas realizadas.

Optamos, portanto, apesar das limitações da Lei Eleitoral no transporte e na divulgação da sessão, em fazê-la nesta noite para que tivéssemos realmente esse simbolismo da Assembléia Legislativa em prestar esta homenagem institucional antes da própria data da solenidade principal, que será a Sessão Solene do Conselho Universitário no próximo dia 5 de outubro, e entendendo essa solenidade como início de uma homenagem maior que se estenderá no mês de outubro em algumas iniciativas que a Assembléia fará.

A primeira delas, um conjunto de debates na TV Assembléia, utilizando, inclusive, o vídeo institucional produzido pela universidade, para que pudéssemos abordar a contribuição da Unicamp para o ensino, para a pesquisa e para a extensão universitária no Estado de São Paulo. Esses debates serão programados pela TV Assembléia, a partir da semana que vem, e acontecerão com a participação em alguns casos de representantes de outras universidades e da comunidade científica com o objetivo de fazer um balanço, uma avaliação desse processo de 40 anos.

Eu diria que temos imediatamente três grandes questões, que exigem a presença das universidades públicas nesta Casa. A primeira delas, a mais imediata, aquela que mobiliza mais as pessoas, é realmente a questão da definição orçamentária porque a autonomia universitária se baseou, em São Paulo, não só num decreto, que é um instrumento bastante precário de institucionalização desse mecanismo, mas principalmente na definição de que o orçamento da universidade é da competência da própria universidade, através de seus órgãos colegiados, a partir da definição de um percentual do ICMS definido em junho, para que se possa, justamente ao longo do segundo semestre, consultar várias instituições da universidade com vistas à aprovação do orçamento pelo conselho universitário.

Essa instituição da autonomia vem, com essa formatação, sendo claudicante no último período, em primeiro lugar por uma série de mudanças na legislação do ICMS que foge inclusive à competência desta Casa Legislativa. Tivemos recentemente mudanças federais na legislação sobre o ICMS. Também estamos com uma discussão encruada ainda no Congresso Nacional sobre a reforma tributária, que faz com que devamos, se possível, nos antecipar ao debate sobre qual a formatação adequada para a definição dos recursos atribuídos às universidades públicas de forma que isso possa ser uma garantia de estabilidade maior para a universidade programar as suas atividades.

Por outro lado, a definição do valor do ICMS a ser outorgado às universidades vem sendo altamente polêmico entre esta Casa e o Poder Executivo, razão pela qual ficamos, no ano passado, durante todo o segundo semestre, com essa decisão em suspenso até a votação do Orçamento, que aconteceu em fevereiro deste ano, e não temos ainda nesta data de hoje votada e sequer sem a perspectiva de votação da LDO para este ano.

Então, esse mecanismo também deveria ser objeto de um debate para que possamos ter, como foi dito na gênese da universidade, um plano diretor a ser seguido e, também, um plano diretor financeiro a assegurar os recursos necessários e adequados ao interesse do povo de São Paulo em ter universidades de excelência como temos nas três paulistas.

Ainda hoje, lia uma matéria publicada no jornal de Limeira, uma entrevista com o ex-Governador Quércia que dizia que ele tinha dado 8,3% do ICMS sob uma garantia de que não se pediria mais nada, ou seja, que ele é contra a aumentar qualquer coisa porque, quando deu, foi dado para sempre. É evidente que isso não se sustenta. Temos uma série de interesses da própria sociedade que demanda das universidades novos serviços, novas vagas, novas instituições nas três áreas de atuação das universidades. E isso, evidentemente, não se faz sem recurso.

Um segundo tema importante - parece-me digno de registro nesta noite - é o da pesquisa. E, aí, acredito que foi muito importante a lembrança na introdução desta noite, porque esse tema da pesquisa financiamento público e sob controle público, sob direcionamento público, sob inspiração pública é um dos mais importantes para que possamos pensar num projeto de nação e na constituição de um verdadeiro sistema nacional de produção científica e tecnológica para o país. Não haverá nação sem um sistema dessa natureza, e não haverá esse sistema sem que a produção científica possa se nortear com critérios absolutamente públicos, transparentes, democráticos que correspondam a esse projeto de nação.

E, por fim, quero mencionar também o debate nesta Casa sobre a Lei de Inovações Tecnológicas. Estamos num impasse bastante grande nessa discussão. Recentemente solicitamos uma audiência dos líderes partidários com a Secretária Marilena Guimarães Castro, para que possamos discutir os grandes nós que impedem o Estado de São Paulo de ter um instrumento que o Congresso Nacional já constituiu e que aqui ainda estamos com problemas importantes, acredito de concepção e de estrutura, para o que gostaríamos muito também de contar com a participação das universidades de maneira geral.

Esse assunto foi objeto também de uma reunião que tivemos na Comissão de Finanças e Orçamento, com o Presidente da Assembléia e o Cruesp, no mês de julho. Portanto, são temas da maior relevância para o momento. E, para o futuro, é inegável que uma universidade que completa 40 anos tenha vocação de muitos 40.

Gostaríamos muito que a Assembléia Legislativa fosse de fato um grande fórum de apoio àquelas forças que são plurais, que são múltiplas. Vimos aqui abordagens bastante diferenciadas, algumas complementares, outras contraditórias, mas que, com certeza, compõe esse grande universo das universidades públicas que têm justamente o papel de suscitar o contraditório, a polêmica e a construção de teses que vão se consolidando ao longo dos anos como contribuições ao povo brasileiro.

Antes de encerrar esta Sessão Solene, gostaria de agradecer a todas as pessoas que se envolveram na sua organização, aos funcionários da Casa, aos músicos que nos brindaram com as apresentações na noite de hoje, às autoridades que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade. Quero convidar novamente os presentes para a Sessão Solene do Conselho Universitário, especialmente convocada para a comemoração do 40º aniversário da Unicamp, no dia 5 de outubro de 2006, às 15 horas, no Auditório 1 do Centro de Convenções da Universidade.

Está encerrada a sessão. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 55 minutos.

 

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