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26 DE AGOSTO DE 2011

034ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AOS 30 ANOS DO AFOXÉ ILÊ OMO DADÁ”

 

Presidente: JOSÉ CÂNDIDO

 

RESUMO

001 - JOSÉ CÂNDIDO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Informa que o Presidente Barros Munhoz convocara a presente sessão solene, a requerimento do Deputado José Cândido, na direção dos trabalhos, para "Homenagear os 30 Anos do Afoxé Ilê Omo Dadá". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Dá conhecimento de mensagens alusivas à efeméride. Anuncia a entrada do pavilhão do Afoxé - ao som da charanga - com interpretação feita pela Mãe Wanda de Oxum. Justifica a razão da homenagem ora prestada. Ressalta a preservação das tradições afrodescendentes, em festividades como a Folia de Reis e a Festa do Divino. Recorda evento que comemorou os 70 anos de Mãe Juju, quando conheceu Mãe Wanda. Lembra sua formação católica. Enaltece seus ancestrais africanos e a prática de rituais antes escondidos. Anuncia a exibição de vídeo institucional sobre o Afoxé Ilê Omo Dadá. Informa que esta solenidade seria transmitida pela TV Assembleia, oportunamente.

 

002 - FELIPE BRITO

Mestre de Cerimônia, anuncia homenagens aos amigos do Afoxé Ilê Omo Dadá, tendo alguns usado da palavra para agradecimentos. Anuncia homenagem aos Obafoxés e às Iyafoxés. Solicita que seja observado um minuto de silencio em memória de três personalidades que integravam o Afoxé.

 

003 - OGÃ GILBERTO DE EXU

Presta homenagem à memória de Valdomiro de Xangô. Lembra a resistência dos "Filhos da Coroa de Dadá", como também é conhecido o Afoxé. Saúda o representante nigeriano, presente nesta sessão. Cita princípios da mitologia iorubá.

 

004 - Presidente JOSÉ CÂNDIDO

Anuncia apresentação cultural da charanga.

 

005 - FELIPE BRITO

Mestre de Cerimônia, faz saudação à Mãe Wanda.

 

006 - Presidente JOSÉ CÂNDIDO

Entrega placa em homenagem à Mãe Wanda.

 

007 - MÃE WANDA DE OXUM

Lamenta a ausência de muitos convidados. Enfatiza a necessidade da presença em eventos dessa natureza. Fala de sua emoção pela honraria recebida. Faz agradecimentos gerais. Informa que, depois dos "Filhos de Gandhi", o Afoxé Ilê Omo Dadá é o maior do País.

 

008 - FELIPE BRITO

Mestre de Cerimônias, faz saudação ao Ogã Gilberto de Exu, de quem louva a sabedoria e o pioneirismo.

 

009 - Presidente JOSÉ CÂNDIDO

Presta homenagem, com a entrega de placa ao Ogã Gilberto de Exu.

 

010 - OGÃ GILBERTO DE EXU

Saúda as pessoas que ajudaram a fundar o afoxé. Agradece ao Presidente Barros Munhoz e ao Deputado José Cândido pela solenidade.

 

011 - FELIPE BRITO

Mestre de Cerimônia, faz histórico sobre o Afoxé Ilê Omo Dadá. Enaltece a resistência do afoxé, por preservar o candomblé. Recorda os valores multiétnicos da cultura afrodescendente, bem como o propósito de cantar e dançar a cultura ioruba. Ressalta as vinculações com as religiões de matrizes africanas.

 

012 - CHIBUZOR THEODORE NWAIKE

Presidente da Associação Nigeriana do Brasil, elogia os fundadores e os integrantes do afoxé, por preservar no gestual, na imponência e nas vestimentas as tradições, que recordaram a sua infância. Lembra que é de origem católica. Faz reflexão sobre o crescimento populacional e a distância física entre Brasil e Nigéria. Tece considerações sobre questões político-econômicas. Justifica a necessidade de intercâmbio entre os dois países.

 

013 - Presidente JOSÉ CÂNDIDO

Dá conhecimento da 4ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, a ser realizada dia 18/09, às 11 horas, na orla de Copacabana. Cita projeto, de sua autoria, que cria o "Dia da Festa da Achiropita", bem como o que trata do reconhecimento do Afoxé Ilê Omo Dadá como patrimônio imaterial do Estado de São Paulo. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. José Cândido.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Boa-noite, Senhoras e Senhores.

Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão anterior.

Quero chamar as autoridades presentes.

Está aqui, ao meu lado direito, o Ogã Gilberto de Exú, fundador e atual Presidente do Afoxé.

E, ao meu lado esquerdo, a Mãe Wanda de Oxum, fundadora do Afoxé.

Quero dar as boas-vindas a vocês e dizer que é muito bom ter vocês dois ao meu lado.

Senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente Efetivo desta Casa, o nobre Deputado Barros Munhoz, atendendo à solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear os 30 anos do Afoxé Ilê Omo Dadá.

Convido, neste momento, todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela seção da Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Subtenente músico PM Rogério de Carvalho.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro. (Palmas.)

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Quero agradecer à Banda da Polícia Militar, na pessoa do músico PM Rogério Carvalho e à sua equipe. Muito obrigado pela homenagem de vocês cantando o Hino da nossa pátria.

Quero, antes de chamar para a entrada do Pavilhão do Afoxé, quero convidar aqui ao meu lado, alguns membros da diretoria, para que venham sentar aqui nas cadeiras de honra.

Queria convidar a Sra. Elaine Lopes, que é tesoureira.

Queria convidar a Sra. Lúcia Helena, que é conselheira.

O Sr. Marcelo, que também é conselheiro.

Se tiver mais alguns diretores, é só avisar ao Cerimonial ou vir sentar aqui ao meu lado.

Quero convidar também o Sr. Chibuzor Theodore Nwaike, Presidente da Associação Nigeriana do Brasil, que também faça a honra de vir sentar ao nosso lado.

Está representando o Delegado Geral da Polícia Civil, Sr. Marcos Carneiro Lima, o Sr. Cristiano Lanfredi. Muito obrigado pela sua presença aqui representando o nosso delegado.

Quero ler também algumas justificativas. “Senhor Deputado, sirvo-me da presente para acusar o recebimento do convite para a Sessão Solene com a finalidade de homenagear os 30 anos do Afoxé Ilê Omo Dadá, por solicitação de Vossa Excelência. Parabenizando pela meritória iniciativa, agradeço pela gentileza do envio, subscrevendo o presente com reiterados protestos de estima e distinta consideração. Atenciosamente, Deputado Estevam Galvão de Oliveira, líder dos Democratas.”

“Sirvo-me da presente para cumprimentar V. Exa., e, pela oportunidade, dizer que estou impossibilitado de comparecer, posto ter assumido compromisso inadiável anteriormente. Desta forma, incumbe parabenizar V. Exa. pela realização desse importante evento, pelo que, desde já, agradeço a gentileza de me convidar. Na certeza do acerto e do êxito do evento, formulo meus sinceros protestos de elevada estima e distinta consideração. Cordialmente, Deputado Gerson Bittencourt.”

Queria convidar aqui à Mesa também o Vice-Presidente Tadeu, para que faça parte do rol dos diretores.

Assistiremos agora a entrada do Pavilhão do Afoxé ao som da Charanga, com a interpretação da Mãe Wanda de Oxum.

 

* * *

 

- Entrada do Pavilhão do Afoxé. (Palmas.)

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Queria agradecer a esses meninos e meninas por terem aceitado o convite e fazer uma apresentação, até porque homenagear o Afoxé é fazer valer mais um folclore brasileiro, que com certeza, nasceu nos nossos países da mãe África.

E é muito importante nós termos essa oportunidade de manter as nossas raízes. Existem algumas festas religiosas na Igreja Católica, que é a Folia de Reis, que é a Festa do Divino, e outras festas que são tradição, que são folclore. E muitas vezes nós, os religiosos de matriz africana têm a sua festa, onde nascem, e às vezes não são lembrados, e às vezes não têm a mesma atenção de outras festas.

Estou falando de religiões, mas tem aqui no Brasil vários costumes, vários segmentos, até dos nossos irmãos estrangeiros, que chegaram bem depois dos nossos irmãos africanos, muitas vezes são respeitados, muitas vezes as suas festas têm matérias divulgadas na imprensa, na televisão, e é por isso que, junto, eu tive a oportunidade, quando nós homenageamos os 70 anos da Mãe Juju, orientado pela minha assessora Márcia, nós fizemos uma homenagem à Mãe Juju, e lá eu tive a honra e a oportunidade de conhecer a Mãe Wanda e foi muito bom conhecer a Mãe Wanda, porque se eu não tivesse a conhecido nós não estávamos aqui hoje.

Eu quero dizer a vocês que para mim é motivo de alegria, um motivo de satisfação estar aqui hoje junto com vocês. (Palmas.)

Eu fui educado na Igreja Católica, mas os meus ancestrais, com certeza, estão nas religiões de matriz africana, porque os meus ascendentes também vieram da mãe África. Os meus ascendentes chegaram aqui no Brasil e tiveram de fingir, obrigados pelos seus opressores, tiveram de fingir que eram das religiões tradicionais, dos que vieram primeiro e dos que escravizavam. E muitas vezes tiveram de praticar as suas religiões escondidos.

E isso acontece até hoje em alguns momentos, em alguns lugares. Por isso é muito importante, aqui nesta Casa de Leis, nós registrarmos este momento. E é por isso que estou contente em estar vivo aqui, em ser eleito para representar o povo do Estado de São Paulo e estar aqui neste momento junto com vocês.

Obrigado pela presença de vocês e obrigado mesmo por este momento, os que vieram e os que não puderam vir. Agradeço de coração à Mãe Wanda de Oxum e ao Ogã Gilberto de Exú, que são os fundadores e o atual Presidente.

Nós vamos agora assistir a apresentação de um vídeo institucional. Acho que nós vamos ter a oportunidade de pôr em prática ainda mais o nosso conhecimento.

 

* * *

 

- É feita a apresentação do vídeo institucional. (Palmas.)

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Quero comunicar às pessoas presentes à sessão que esta Sessão Solene está sendo gravada pela TV Assembleia e no próximo domingo, dia 28, às 21hs, será transmitida na Net, canal 13, e também na TVA, canal 66. Se vocês quiserem convidar os amigos ou anunciar aos amigos, domingo vocês terão essa oportunidade.

Dando continuidade, agora nós vamos homenagear os amigos e amigas do Afoxé. Nós temos alguns homenageados e também vou passar a palavra ao Felipe, que conduzirá os trabalhos de homenagem.

 

O SR. FELIPE BRITO - Boa-noite a todos. Meu motumbá, kolofé, saravá.

Boa-noite, Exmo Deputado.

Ao nosso Presidente Ogã Gilberto.

E à Iyalorixá Wanda.

E a todos os presentes.

A palavra amigo, no galego arcaico, está ligada ao amor. No trovadorismo, a cantiga de amigo significava cantar ao seu amor e o amigo, na verdade, talvez seja a relação de amor mais forte que nós temos, pelo sentido de que ela depende apenas da lealdade para que ela exista.

E falar dos 30 anos do Afoxé sem falar dos amigos que participaram da história do Afoxé, não há essa possibilidade. Por isso alguns nomes aqui serão homenageados por terem participado dessa trajetória de 30 anos.

Fesec - Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo. (Palmas.)

Uesp - União das Escolas de Samba Paulistanas. (Palmas.)

Banda do Candinho. Vamos aplaudir o nosso homenageado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Só um minutinho, Felipe. Ele gostaria de falar duas palavras.

 

O SR. CANDINHO NETO - Eu gostaria de agradecer ao Gilberto e a todos do Afoxé Filhos da Coroa do Dada.

E lembrar que nós, humildemente, pudemos contribuir segundo lembrou o Gilberto, com uma matéria no então Popular da Tarde, onde nós escrevíamos sobre carnaval, que era Diário Popular e hoje é Diário de São Paulo. E atualmente, nós escrevemos sobre carnaval no Jornal da Tarde.

Mas a lembrança maior é a do Gilberto, em nos reverenciar nesta oportunidade dos 30 anos aqui do Afoxé, e lembrar também que a Banda do Candinho é dessa época e está completando também os 30 anos, e com muita saúde para todos nós que estamos aqui vivos.

E aqueles que porventura já tenham passado para o outro lado da vida, continuando a vida espiritual, que também possamos relembrar os momentos felizes do início, mas principalmente daqueles momentos que nós passamos e que até hoje permanecem, principalmente o Afoxé abrindo o carnaval do Estado de São Paulo, na Capital de São Paulo, lá no Sambódromo do Anhembi.

Muito sucesso ao Afoxé também em 2012.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - Dando continuidade à nossa homenagem, chamar o Liberto Solano Trindade Filho para receber a homenagem como amigo do Afoxé, também em nome da Embaixada do Samba Paulistano. Por favor, em frente ao Pavilhão do Afoxé. (Palmas.)

Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo. (Palmas.)

Sociólogo Reginaldo Prandi. (Palmas.)

Julio Teixeira. (Palmas.)

In memorian, Carlos Alberto Tobias. (Palmas.)

Juarez da Cruz. (Palmas.)

Valter Guarilho Pinto. (Palmas.)

Ana Maria Bonifácio Drumond, a Naná. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Continuam as homenagens. Vamos homenagear agora os Obafoxés e Iyafoxés que também merecem a nossa homenagem. Continue, Felipe.

 

O SR. FELIPE BRITO - Os Obas Afoxés, dentro do Afoxé Ilê Omo Dadá, a todo ano representam a divindade, o Orixá que é homenageado na avenida. Eles são os representantes do Orixá homenageado.

Então, com muita honra e muito orgulho que nós homenagearemos os nossos soberanos, que há anos vêm desfilando no Afoxé, representando os nossos Orixás, a quem prestamos a nossa devoção.

Iya Juju de Oxum. (Palmas.)

Iya Vina de Oxum. (Palmas.)

Iya Daniele de Oxum. (Palmas.)

Mãe Carmem de Oxum. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE CARMEM DE OXUM - Boa-noite.

Eu gostaria, neste momento, de cumprimentar a senhora Iya Wanda Iyalorixá de Oxum. Neste momento, cumprimentando a senhora, cumprimento a todos os sacerdotes, sacerdotisas e todo o nosso pessoal, todo o nosso povo de candomblé, todo o nosso povo de santo, tomando a minha bênção e as devidas bênçãos de cada etnia.

Cumprimento o Deputado José Cândido, por toda essa iniciativa, por tudo que faz por nós dentro da religião. Agradeço esse apoio, esse favor que oferecemos e que recebemos da Assembleia em relação à nossa religião.

Tomo a bênção, Pai Gilberto, por tudo, e me senti muito honrada no dia que saí como rainha junto com o Babalorixá Karlito de Oxumarê, e foi muito importante. Acho que a todo o momento, onde nós podemos estar, onde nós podemos colocar a religião, nós sentimos assim realmente honrados.

É um prazer muito grande estar aqui.

Obrigada. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - Iya Helena de Iemanjá. (Palmas.)

In memorian, Iya Lia de Iemanjá. (Palmas.)

Aqui conosco a nossa querida Mãe Odete de Oxóssi. (Palmas.)

Os nossos aplausos. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE ODETE DE OXÓSSI - Eu gostaria de agradecer à Mãe Wanda, ao Pai Gilberto e a todos que estão aqui. Mãe Wanda, Pai Gilberto, Pai Ângelo, por eu ser uma das primeiras pessoas a desfilar no primeiro desfile do Afoxé e até hoje estar aqui com vocês.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - Iya Gemi Kemisudã, representando o saudoso Babalorixá Oronin Undembe. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Gente, quero informar que o saudoso Oronin Undembe saiu dois anos como rei e você como rainha.

 

A SRA. MÃE ODETE DE OXÓSSI - No segundo ano ele foi rei.

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Temos um respeito grande pelos nossos Babalorixás e Iyalorixás e agradecemos muito por você ter vindo receber por ele.

 

A SRA. IYA GEMI KEMISUDÃ - Quem agradece sou eu, Wanda. Agradeço a você; agradeço ao Gilberto por ter se lembrado de mim, porque eu sempre o acompanhei, mas desde que ele partiu, eu também fiquei meio sem jeito de continuar. Mas pretendo, no ano que vem continuar. Se ele estivesse aqui, ficaria felicíssimo. Ele não está em carne, mas deve estar em espírito, já que o espírito não morre. (Palmas.)

Quero agradecer a todos vocês, ao Deputado e todos aqui; e essa menina, que é filha dele, a Sambamidalê, que está presente. Filha carnal, não é filha de santo, é carnal.

Obrigada.

 

O SR. FELIPE BRITO - A nossa saudosa Iyakatesu Mãe Maria Isabel de Omolu, in memorian, mãe carnal da Iyalorixá Wanda de Oxum. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Obrigada por ela. Quem olha para mim já vê mamãe aqui, porque eu estou toda ela.

Obrigada, gente. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - Dando continuidade: Babalorixá Zenildo de Bessen. (Palmas.)

Babalorixá Alaby. (Palmas.)

Babalorixá Kaobakessy. (Palmas.)

Pai Toninho de Xangô. Vamos aplaudir as representantes da casa dele. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Toninho está fora do Brasil, está viajando, mas se eu não me engano, é a neta dele. Isso. Motumbaxé, filha.

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Quer falar?

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - São essas coisas. É minha filha pequena. Agora que eu a vi de frente, realmente é minha filha pequena, neta de Toninho de Xangô.

Obrigada por você ter vindo.

 

A SRA. - Gostaria de agradecer pela iniciativa. Pai não pôde estar presente por motivo de trabalho, está fora de São Paulo, mas nós do Ile Axé Obauru agradecemos a homenagem, o certificado.

Obrigada. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - Mejitó Dancy de Bessen. (Palmas.) Os nossos aplausos ao nosso homenageado que se faz presente.

 

O SR. MEJITÓ DANCY DE BESSEN - Quero agradecer ao Ogã Gilberto, que é um dos Ogãs mais velhos, quase um dos mais velhos de São Paulo, que sempre organiza esses eventos, junto com a Mãe Wanda, Iyalorixá querida por todo mundo, meiga como Oxum. E agradecer a todos.

E acho que nós devíamos nos unir mais e estar todo mundo aqui. Está faltando muita gente que podia estar aqui, porque se fosse todo mundo estar aqui mesmo, isso aqui estaria muito cheio. Infelizmente hoje é um dia difícil, de quinta-feira, sexta-feira, que são dias em que o povo do Axé está fazendo suas obrigações, como eu não podia estar aqui. Esta semana tem festa em casa, mas eu acho que se não partir da gente se unir e estar junto com esses organizadores maravilhosos, que estão aí, a gente tem de se organizar e se unir mais e estar junto, porque não é para dar nome a ninguém, é para a gente mesmo.

Benção, manhinha Wanda, Pai Ogã, benção meu velho.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Benção, Dancy.

 

O SR. FELIPE BRITO - Chamo para receber, ele que também foi Obafoxé, em nome do seu Babalorixá, que foi Obafoxé, que recentemente nos deixou, chamar o Babalorixá Karlito de Oxumarê para receber a homenagem em nome do Tata Pérsio de de Airá, in memorian. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Grande amigo, gente. Tata Pérsio participou desde o primeiro desfile, em 1981. Grande amigo mesmo. Ele nos ajudou bastante. Levava as pessoas da casa dele para engrossar, para nós sairmos bonitos na avenida. Grande amigo, uma grande perda.

 

O SR. FELIPE BRITO - Dando continuidade, vamos aplaudir o nosso homenageado que está aqui. Duas vezes. (Palmas.)

 

O SR. BABALORIXÁ KARLITO DE OXUMARÊ - Boa-noite a todos.

Minha mãe, meu pai, eu quero agradecer porque no dia em que fui convidado para ser o Rei do Afoxé junto com a minha mãe, foi um presente.

É uma felicidade muito grande estar aqui, estar participando junto com vocês por este momento tão bonito e a sensação que a gente sente na avenida, junto com todo o povo do candomblé, é única. Não existe outra emoção.

Quero, em nome do meu pai, Pai Pérsio, e em nome da minha casa, do Ilê Olá Omi Axé Opò Araká, pedir que se façam 300 mil anos de Afoxé Ilê Omo Dadá, sempre, sempre e sempre.

E ao Deputado, que está junto com a gente, e não é a primeira homenagem que o senhor faz à comunidade, quero pedir aos orixás, aos voduns, aos enquis, a todos os encantados, a todas as entidades, que iluminem muito, muito esta noite de hoje aqui com a gente. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - In memorian, Obá Mukambelê. (Palmas.)

In memorian, Babalorixá Doda de Ossaim. (Palmas.)

In memorian¸ Toy Vodunon Francelino de Chapaman. (Palmas.) Vamos aplaudir o representante do nosso homenageado. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - É importante dar essas informações para vocês.

Francelino, mesmo sendo de outra nação, era um amigo e acho que todos os amigos têm de participar de todas as festas que fazemos. Obrigada pela presença.

 

O SR. FELIPE BRITO - Ogã Gilberto, na verdade, vai falar sobre o homenageado final dos nossos Obas Afoxés, das pessoas queridas do Afoxé, Valdemiro Costa Pinto, nosso Pai Baiano, in memorian. (Palmas.)

 

O SR. OGÃ GILBERTO DE EXÚ - Eu tinha programado uma outra coisa na minha fala e eu diria o seguinte:

Nós temos de levantar agora e fazer um minuto de silêncio em homenagem a três pessoas. Ao meu pai de santo, porque se ele não tivesse me feito de santo eu não estaria aqui, Seu Diniz de Oxum. O meu segundo pai, aquele que após a morte do meu pai de santo continuou me dando vida e me dando axé, que foi Valdemiro de Xangô. E acho que à pessoa que hoje, olhando lá atrás, a gente vê que talvez tenha sido a pessoa mais importante deste Afoxé, que foi dona Isabel, a mãe da Iyalorixá atual, porque ela abraçou o Afoxé, entregou a casa dela e nós podemos dizer o seguinte: nós fizemos da casa dela um inferno.

Fizemos tudo que a gente não devia fazer. Lambecamos, quebramos, pintamos e bordamos, e ela foi paciente, conscienciosa e se não fosse ela, nós não estaríamos aqui. Então, um minuto de silêncio, por favor.

Obrigado.

 

* * *

 

- É feito um minuto de silêncio em homenagem póstuma.

 

* * *

 

O SR. OGÃ GILBERTO DE EXÚ - Obrigado. (Palmas.)

Falar de Baiano, falar de Valdemiro de Xangô é muito complicado. É muito complicado porque Valdemiro de Xangô era uma pessoa única e sui generis. Era uma pessoa que talvez fosse aquilo que os iorubás diziam, ele não era de Xangô, ele era Xangô.

Ele era um homem que eu brincava muito, que eu dizia para as pessoas que meu pai de santo não sabe escrever o “o” com o fundo do copo, mas ele vota no Roberto Freire. Quer dizer, isso é uma discrepância. Um homem que veio das camadas mais simples de Salvador, Bahia, passando pelo Rio de Janeiro e se o grande ícone de São Paulo na medida em que o candomblé de São Paulo, hoje, para ser bem estudado, tem de passar pelo nome de Valdemiro de Xangô.

E foi Valdemiro de Xangô, num momento em que já não existia Seu Diniz de Oxum, meu pai de santo que tinha ido, Baiano, Valdemiro de Xangô foi quem apoiou o Afoxé Filhos da Coroa de Dadá. Naquela época praticamente não se sabia nada desse orixá em São Paulo; tampouco eu sabia. Eu não era mais sabido que ninguém.

Então, eu nunca esqueço que foi Baiano quem disse que se tem de ter um Afoxé em São Paulo, esse Afoxé tem de ser chamado da Coroa de Dadá, porque foi a Coroa de Dadá que chegou a São Paulo e trouxe o candomblé. E foi a Coroa de Dadá que resistiu. E se hoje nós estamos aqui, é por causa da Coroa de Dadá.

Mas quem era Dadá, afinal de contas? E aí eu tive um professor e eu vou abrir um parêntese. Eu me sinto honrado porque de repente está aqui conosco Chibuzor Theodore, representando os nigerianos, ou seja, representando o país nigeriano. Muito embora eu não seja de etnia iorubá, creio que ele está entendendo.

E o meu professor na época, na USP, professor Camoruden Ajibola (inaudível), foi quem me trouxe, na realidade, a história de Adi Aká Dadá. Ele que vem me trazendo a história, e aí eu uni o útil ao agradável. Quer dizer, o histórico, a mitologia iorubá, que pela primeira vez eu tinha contato com mais profundidade, e o saber ancestral que estava no Brasil.

Então, esse foi Valdemiro de Xangô, e não só isso. Acho que a contribuição maior é quando ele sai de São Paulo e diz assim: Afoxé sem Axé não existe. Eu vou trazer o Axé. Foi ao Gantois e trouxe o Axé que até hoje está conosco.

Quer dizer, são todas essas contradições que eu vivia com meu pai de santo, na medida em que nós éramos amigos hoje, inimigos amanhã, mas é muito claro. Eu perdi um pouco da minha referência porque hoje fica difícil nós conversarmos com outras pessoas no mesmo nível que a gente conversava com Valdemiro de Xangô.

Kioloru Consipuré. Axé. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Vocês gostaram da entrada da Charanga, ao som, com a interpretação da Mãe Wanda de Oxum? Então agora nós vamos assistir uma apresentação cultural da Charanga.

 

* * *

 

- É feita a apresentação cultural da Charanga. (Palmas.)

 

* * *

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Obrigada, meninas. Obrigada, gente.

Matar um pouquinho a saudade e me desculpar pelas pessoas que não compareceram. Mais uma vez a gente diz, casa de candomblé é um problema sério. Talvez cada um tenha tido os seus problemas.

A gente fica triste porque tudo que a gente faz no Afoxé, quando a gente chama um Oba Afoxé para participar, a gente está chamando com o coração e com carinho, porque a gente acha que essa pessoa merece. Sentimos muito a ausência de todos eles e eu me desculpo no lugar.

Obrigada, gente. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Para encerrar, temos mais três homenagens. À nossa madrinha Fabiana Cozza, à nossa Mãe Wanda de Oxum e ao nosso Ogã Gilberto de Exú.

 

O SR. FELIPE BRITO - Antes de realizar a homenagem aos fundadores do Afoxé e ao próprio Afoxé, vou pedir que se levantem Luciene de Iemanjá, Elaine de Iemanjá, Ekedi Karen de Oxum, Iguilolá de Oxum, Juliana de Ioá, Azekedis do Afoxé, mulheres que foram as portas-estandarte do Afoxé. Ou seja, aquelas que carregaram o nosso maior ornamento, que é o nosso pavilhão. Aplausos. (Palmas.)

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Com licença.

Karen, Ekedi de Oxum, lá do Ilê Iyamim Oxum Iyuá, sumida, apareceu, mas está sempre presente no nosso coração e foi uma das primeiras portas-bandeira que o Afoxé teve, e com muito carinho ela levou o Afoxé por muitos anos.

Obrigada, Karen. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - A nossa madrinha olutojufoxé, guardiã do Afoxé Ilê Omo Dadá, Fabiana Cozza entrou em contato conosco. Por motivos de ordem de trabalho pessoal, ela não pôde estar nesta Sessão Solene, mas está de coração e com todo carinho que ela tem pelo Afoxé. Aplausos. (Palmas.)

Antes de falar do Afoxé, temos de falar das pessoas fundamentais para a criação desta entidade.

Mãe Wanda de Oxum, Iyalorixá, dona de uma senhoridade que só as mulheres de Oxum podem ter. Ela leva consigo o legado do Afoxé. É através da voz dela, da suavidade das notas que ressoam pela sua voz que nós embalamos o nosso corpo, a nossa alma e o nosso espírito, todos os anos no Afoxé Ilê Omo Dadá.

É ela a Iyalodê Afoxé, é ela a senhora que carrega e ostenta a senhoridade do Afoxé. Ela é a mãe, ela é a esposa, ela é a filha do Omo Dadá, ela é a senhora do Omo Dadá. Aplausos à nossa Iyalorixá Wanda de Oxum. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Chega aqui, Mãe Wanda. Deixa eu te dar um abraço.

Mãe Wanda de Oxum, pelo seu incansável trabalho para a manutenção e valorização da cultura de matriz africana, tanto pela dança e canto, como pela fé e devoção aos orixás.

Parabéns, você merece. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - A história do candomblé de São Paulo e da afro-religiosidade de São Paulo se confunde com a trajetória de Iya Wanda e do Ogã Gilberto.

Ogã Gilberto de Exú. (Palmas.) Fundador, presidente do Afoxé Ilê Omo Dadá. Eu acho que em poucas palavras nós podemos resumir o que é Ogã Gilberto. Conhecimento todos nós temos, cada um à sua maneira, o que nos admira em Ogã Gilberto é a sua sincera e sutil sabedoria.

Axé babá. O senhor que cuida dessa entidade, e que cuida de todos aqueles que chegam no Afoxé. Aquele que compõe esses cânticos maravilhosos que todos estão ouvindo. É a genialidade de quem realmente é um dileto filho de Exú, daquele que chega na frente, daquele que desbrava, daquele que vem na vanguarda, porque foi o primeiro Afoxé de São Paulo.

Só poderia ter nascido no encanto de Oxum e, com certeza, na ironia, na brincadeira, mas na maneira séria e peculiar que só um filho de Exú poderia levar a vida. Axé! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Ogã Gilberto de Exú. Por zelar por uma parte da cultura iorubá, que é o Afoxé, e pela vida dedicada aos orixás.

Você merece. Parabéns. (Palmas.)

 

O SR. OGÃ GILBERTO DE EXÚ - Desculpem. É difícil essa cerimônia, porque a todo momento a gente precisa fazer jus e honra àqueles que também estavam junto conosco.

Nós não podemos deixar, não podemos esquecer que nos idos de 1980 existia um Babalorixá em São Paulo muito complicado, mas um cara extremamente generoso chamado Kajaidê. Alguém aqui representaria Kajaidê? Alguém aqui se lembra de Kajaidê? Sim.

Foi um grande amigo do Afoxé Filhos da Coroa de Dadá e se vocês pegarem ou tiverem acesso aos primeiros documentos, lá está o nome dele, Airton Olívio Martins.

Entre nós existia um cara, de origem polaca, chamado João. Dois metros de altura, óculos fundo de garrafa, e nós brincávamos com ele chamando-o de João Grandão, porque realmente era grandão. Mas tinha o coração de um menino. E foi um amigo que nós não podemos deixar passar em branco, João Daujotas.

Ao lado de João, a primeira Iyaô de Mãe Wanda de Oxum, Dofona de Oxum, que foi a nossa primeira secretária, Elisabete Daujotas.

Junto com essa turma existia um cara muito bacana chamado José Roberto, feito de santo de Oxóssi, que também já se foi e que deixou saudades. Não era muito atuante, porém foi uma pessoa que nos deu muita força.

E uma pessoa que sem ele, este Afoxé não teria saído do papel. Muito embora ele tenha chegado um pouquinho, um pouquinho só, depois, tornou-se meu amigo, meu aliado, meu irmão e nas madrugadas difíceis da Uesp e, posteriormente, da Liga, nos encontrávamos sempre pelos caminhos daquele sambódromo, quando ele estava ou mesmo quando ele não estava. Eu gostaria que vocês se levantassem, sinceramente, para render um minuto de silêncio em homenagem a Alexandre Melo Silva, meu irmão Alaby. (Palmas.)

E é bom, porque a esposa dele está aqui e a filha deve estar também.

 

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- É feito um minuto de silêncio em homenagem póstuma.

 

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O SR. OGÃ GILBERTO DE EXÚ - Obrigado.

Nós temos de agradecer ao Deputado Barros Munhoz, Presidente desta Casa, que, através da solicitação do nobre Deputado José Cândido, consentiu que se realizasse - acho que pela primeira vez nos Anais desta Casa - uma homenagem a uma entidade de origem afro-brasileira, uma entidade de matriz africana. Então senhores, acho que vocês estão fazendo parte da história.

E não podemos deixar de falar desta figura equânime que é o Deputado José Cândido. Falava eu antes que este é um homem de muitos credos. Não que ele tenha várias religiões. Ele tem a religião dele, mas credo no sentido de crer, no sentido em que ele cre nas pessoas, no sentido em que ele coloca a crença através do coração dele. E isso está posto aqui hoje. Este homem é um homem de grandes crenças, tanto que acreditou, creu em nós. Então, nós temos, todos nós agora, de levantar e aplaudir muito o nosso nobre Deputado José Cândido.

Obrigado. (Palmas.)

 

O SR. FELIPE BRITO - Dando continuidade a esta homenagem, temos de nos lembrar de todas as pessoas do Afoxé. Essa Charanga, que tanto nos emociona, muito tem do talento de mestre Ângelo, que está aqui. (Palmas.)

Ogã Alisson. (Palmas.)

Babá Anderson. (Palmas.)

A dança não se faz presente sem Flávia e sem Omo Adelekê. (Palmas.)

E sem a Capulanas Arte Negra e Cia. (Palmas.)

Legado, herança e posteridade. O Afoxé Filhos da Coroa de Dadá ou Omo Dadá é, sem dúvida, não só um foco de resistência da cultura afro-brasileira em São Paulo, como a continuidade dos preceitos e tradições religiosas do candomblé, como base de costumes do povo brasileiro em toda a sua multiplicidade étnica e cultural.

Há 30 anos o Afoxé Filhos da Coroa de Dadá reúne inúmeras pessoas para cantar, dançar e legitimar a permanência da cultura iorubá em solo brasileiro.

Hoje estamos diante de um marco, um divisor no tempo e na história, não só do Omo Dadá, mas da cultura em São Paulo. O Afoxé é diretamente vinculado a uma casa de religião de matriz africana, o que faz dessa instituição uma extensão natural do terreiro de candomblé que ele se origina, Ilê Iya Mioxum Muiyá.

Podemos dizer, sem quaisquer questionamentos, que estamos diante da primeira Sessão, atos solenes já houve outros, a primeira Sessão Solene para um Afoxé e, portanto, a primeira solenidade dessa magnitude para uma casa de candomblé. É a conquista do Parlamento do Povo de um espaço que é nosso por direito. É ascensão notória de uma comunidade afro-brasileira por meio da religiosidade, o principal tronco da resistência da cultura negra.

O Afoxé está na Assembleia, logo os orixás estão também. Os Filhos da Coroa de Dadá construíram uma trajetória de resistência, respeito às tradições dos seus ascendentes, e perpetuam a cada cântico, gestual, vestimenta, dança e rufar de um tambor, uma herança cultural para as futuras gerações que estejam dispostas a cultivar e colher frutos de uma árvore que tem sólido tronco e profundas raízes.

Ireô!

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Nós temos aqui no nosso meio, um representante da nossa mãe África, que é o Presidente da Associação Nigeriana do Brasil, o Sr. Chibuzor Theodore.

Ele vai falar umas palavrinhas para nós e dizer o que achou da nossa sessão.

 

O SR. CHIBUZOR THEODORE NWAIKE - Boa-noite, senhores e senhoras.

Não sei se vocês sentem o que eu sinto. Vindo daquele outro lado, vindo da África, ouvindo, hoje, esta noite, todas as homenagens, os nomes, e tudo que nós já dissemos aqui hoje com referência à África e, indiretamente à Nigéria, o país de onde eu vim para o Brasil.

É incrível. Primeiro vendo as roupas, os trajes de todo mundo. Exatamente igual lá. Vendo o Sr. Liberto Trindade, lembro-me dos meus irmãos mais velhos, os nossos pais também. Vendo a Mãe Odete, verdadeiramente a rainha, é incrível. Vendo dona Wanda, a Mãe Wanda, com essa imponência, gesticulação, irradiação, você está irradiando a beleza que eu costumava ver quando era criança.

Sim, estamos falando de iorubá, mas também entre os ribos, região de onde eu vim, também tem candomblé. Eu nasci dentro de Igreja Católica, diria, nesse meio, fui batizado, feito tudo que é possível, até casamento. Mas também minha mãe foi tudo isso.

Mas no fim, espiritualmente, quando o espírito leva você para esse lado, é uma chamada. Você não consegue fugir. Mas também quando você vai para esse lado, se você não crê em Deus, o criador do homem, do céu e da terra, tudo que você estiver fazendo, oferecendo, não vai ter êxito. Então, tudo nós devemos a ele.

Essa senhora, por ser verdadeiramente (expressão estrangeira) na língua Igbo, e pela tradição do candomblé, verdadeira (expressão estrangeira) eu vi, e para você, Sr. Gilberto, Ogã, é verdadeiro Ogã, na língua Igbo.

Mas não vou tomar muito tempo. Hoje você mencionou uma coisa que eu não sabia, mas já sei quem é, que é arquiteto Bolaiyeme, formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo, USP. Foram eles os primeiros que vieram para cá. Meu grupo também, que veio como aluno de convênio, veio depois, eu vim anos depois.

Depois parou esse convênio e hoje, com a evolução, crescimento populacional, procura de uma ou outra, as coisas vêm andando para o lado errado, negativamente.

Eu gostaria que todo mundo, inclusive nós da minha terra, nos esforçássemos. A comunidade está tentando. Não é fácil controlar. Vocês sabem a que estou me referindo

Mas, muitas coisas nos dividem, ou nos separam demais. O que eu vi aqui hoje está muito longe. Quando digo muito longe, estamos muito separados, não tem facilidade em aproximação, meios de transporte especialmente, que é o que mais nos liga. Custo. Por não ter esse meio de transporte, às vezes afasta aquele grupo, vamos usar a palavra grupo, que tem bastante interesse e tem muita ligação com a África.

Tudo isso é problema político também, a política que resolve isso. E econômico. Isso nos separa muito.

Estamos também tentando lutar na comunidade, mas não quero tomar muito tempo de vocês, porque se me deixar falar, falaria muita coisa. A Sessão é demais e estou muito feliz de estar no meio de vocês. Eu gostaria de aproximar a comunidade nigeriana para perto de vocês, porque nós temos muitas coisas em comum.

Vamos para o lado bom da coisa. E indo para o lado bom, naturalmente combatemos o lado ruim, que nos atola hoje. Mas creio em Deus e creio que com o tempo, com o esforço, vamos chegar lá.

Não posso deixar também de agradecer ao Presidente desta Casa, Deputado Barros Munhoz. Não é uma única vez que já permitiu coisas desse gênero, ou do outro gênero, mas com o mesmo sentimento. Agradeço muito, em nome da Nigéria, por esse esforço.

E não posso deixar de agradecer, não é porque estou aqui hoje, mas já estive com ele em vários lugares, que é o nobre Deputado José Cândido. Você já deu ajuda para várias entidades com interesse - negro, religião, seja o que for, mas que não tem ou não teve chance de poder chegar numa casa desta. Agradeço muito e continue fazendo isso, porque nós precisamos que isso continue.

Esperamos poder homenagear você, pelo menos na minha comunidade, em breve.

Meus irmãos e minhas irmãs, tenho tanta coisa para dizer, mas acho que eu aproximando a sua entidade, Afoxé Ilê Omo Dadá, nós vamos trocar muitas coisas. O que me trouxe aqui, como estudante de convênio, em acordo cultural, intercâmbio cultural, foi tratar somente a parte acadêmica. Tratou um pouco de parte cultural, parou. Não sei. Mas o que liga uma nação com outra são várias ou muitas coisas, inclusive religião, cultura e tudo aquilo que vocês estão pregando hoje.

Espero que nós possamos trabalhar mais junto um ao outro, para aumentar mais esse intercâmbio para o lado cultural.

E muito obrigado e não posso falar muito, porque senão nós vamos perder a noite aqui. Mas, obrigado e prometo que nós vamos procurar vocês e vamos aproximar as duas entidades e todos aqueles que eu não me lembrei, aqueles que eu não lembrei o nome, tenham certeza que dentro de mim, ou no meu espírito, eu me lembro de vocês, um por um.

Não posso esquecer você que sentou comigo, do lado, e também não posso deixar de agradecer ao orador da noite. Suas palavras foram fantásticas. Achei fantástico. Fluiu muito bem.

É só isso e muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - A Mãe Ada de Omolum não pôde vir por compromissos já assumidos, mas ela deixa aqui, está deixando um abraço a todos que vieram e está agradecendo o convite.

Vai se realizar a 4ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que tem o tema Caminhando a Gente Se Entende, Eu Tenho Fé. Vai acontecer no dia 18 de setembro de 2011, na Orla de Copacabana, às 11 horas. Temos aqui alguns cartazes, alguns folhetos. Se vocês quiserem levar e divulgar, tenho certeza que alguns paulistas que já foram na primeira, na segunda e na terceira, deverão também ir na 4ª Caminha em Defesa da Liberdade Religiosa, que é realizada no Rio de Janeiro.

Em função até da minha autoestima e da autoestima das religiões de matriz africana, dos militantes, dos participantes, estou tendo uma oportunidade de fazer alguns projetos de lei como legados nesta Casa. No meu mandato passado, consegui decretar um dia da festa de Nossa Senhora Achiropita, que já há mais de 300 anos se realiza, e não tinha um dia dedicado.

Hoje protocolei mais um documento, mais um projeto de lei, que tenho certeza que esta Casa vai aprovar, porque na Constituição Federal de 1988 houve uma nova redefinição de patrimônio cultural. Antes, declarava-se patrimônio cultural alguns prédios e alguns fatos históricos, algumas pessoas já falecidas; e hoje, com a nova Constituição, podemos declarar também patrimônio imaterial, ou seja, declaramos patrimônio pessoas vivas famosas e os movimentos ou então o que nós estamos vendo aqui hoje, que é o Afoxé. Então, eu protocolei e espero que vire lei. É um projeto muito simples, com uma justificativa muito grande. A justificativa fala por que é patrimônio imaterial do Estado de São Paulo.

Mas o artigo diz, tem dois artigos. “Fica declarado patrimônio imaterial do Estado de São Paulo do Afoxé Ilê Omo Dadá. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.” (Palmas.)

A Mãe Wanda vai falar umas palavrinhas antes de a gente dar o encerramento final da nossa sessão. Sem choro e sem emoção, Mãe Wanda.

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - É um lembrete. Não foi tão fácil colocar o Afoxé onde ele está hoje.

E é nesse ponto que quero pegar o que o Presidente falou, de algumas pessoas, e tem aqui uma pessoa que quero agradecer e acho que ele chegou atrasado, Toninho. Toninho, gente, é irmão do Rogério, in memorian.

Se hoje existe uma ala dos Babalorixás e Iyalorixás, quem colocou foi o Rogério. Ele rodava São Paulo convidando os Babalorixás e Iyalorixás, Ekedis e Ogãs para participar. Temos um amor imenso, Toninho. Obrigada pela sua presença. (Palmas.) Eu não poderia deixar de falar sobre o Rogério. E não só o Rogério.

Nós temos Sueli, que participou, in memorian Avantes de Oxóssi. Tivemos várias pessoas. Quer dizer, naquela época, em 1981. Hoje nós temos aqui vários, Dancy, Mãe Carmem, Claudinho de Oxum, de Oxumarê. É tanto nome. Desculpa.

Quero agradecer a todos. Levem um abraço de Mãe Wanda a todos que não puderam comparecer, mas o agradecimento continua o mesmo. E quero agradecer ao meu grupo Omo Adelekê, às Capulanas, à Charanga, que sem vocês esse Afoxé não existiria. (Palmas.)

É pena que não veio ninguém do pessoal antigo, porque chamei várias pessoas para vir, mas é uma dificuldade, realmente, de locomoção.

Mas, esse Afoxé começou com criançinhas do tamanho do meu neto, três anos, quatro anos, e a gente viajava muito. Então, a gente levou esse Afoxé para muito longe. Igual os africanos falam, batendo tambor a gente mandava recados que o Ilê Omo Dadá estava sendo criado aqui em São Paulo.

Então, Bahia pode ter os seus Afoxés, mas São Paulo, tirando Gandhy, Ilê Omo Dadá é o maior Afoxé, depois do Gandhy. Está bom para vocês? Obrigada. (Palmas.)

E agora o pessoal vai fazer uma apresentação, as Capulanas, o grupo. Nós vamos homenagear o nosso patrono e aí termina.

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Vou dar por encerrada a Sessão. Estou louco para ficar junto de vocês.

 

A SRA. MÃE WANDA DE OXUM - Vamos todo mundo participar agora.

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Sob a proteção de Deus e da nossa pátria, está encerrada esta Sessão Solene de hoje. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação cultural da Charanga.

 

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- Encerra-se a sessão às 22 horas 25 minutos.

 

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