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06 DE AGOSTO DE 2004

35ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO MOVIMENTO CULTURAL DA COMUNIDADE DE SANTO AMARO “SAMBA DA VELA”

 

Presidência: VICENTE CÂNDIDO

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 06/08/2004 - Sessão 35ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: VICENTE CÂNDIDO

 

HOMENAGEM AO MOVIMENTO CULTURAL DA COMUNIDADE DE SANTO AMARO SAMBA DA VELA

001 - VICENTE CÂNDIDO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que a presente sessão foi convocada pelo Presidente efetivo da Casa, Deputado Sidney Beraldo, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de homenagear o Movimento Cultural da Comunidade de Santo Amaro Samba da Vela. Convida todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - MARCO ANTÔNIO DE FREITAS

Membro da Velha Guarda da Nenê da Vila Matilde, fala que o Samba da Vela garante espaço para a velha guarda apresentar sua música.

 

003 - MÁRIO LUIZ WILSON DIAS DE TOLEDO

Membro da Velha Guarda Musical da Camisa Verde e Branco, cumprimenta o Samba da Vela em nome de sua entidade.

 

004 - OSVALDINHO DA CUÍCA

Músico, considera que as portas abertas desta Casa permitem ao samba atingir sua dignidade plena.

 

005 - MOISÉS DA ROCHA

Embaixador do Samba Brasileiro, agradece à cantora Beth Carvalho por descobrir e incentivar novos sambistas. Ressalta que hoje o samba possui maior respeito como movimento cultural.

 

006 - ROSEMAR LOPES

Representante da Barroca da Zona Sul, deseja que o samba possa cada vez mais estar presente na Assembléia Legislativa, nas Câmaras Municipais e outros órgãos públicos.

 

007 - IRMA PASSONI

Ex-Deputada Federal, entende que fazer samba é fazer política pública de cultura, a ser estendida para todo o país.

 

008 - TITA DIAS

Vereadora de São Paulo, parabeniza a comunidade Samba da Vela pelos seus quatro anos de trabalho.

 

009 - BETH CARVALHO

Sambista e cantora, recorda seu encontro com os de criadores do Samba da Vela e suas ligações afetivas e musicais com São Paulo.

 

010 - NABIL BONDUKI

Vereador de São Paulo, declara que o Samba da Vela é uma tradição na cidade de São Paulo a ser reforçada o tempo todo. Diz que a identidade da cultura brasileira é fundamental para que a sociedade possa progredir valorizando as nossas raízes e a nossa identidade.

 

011 - Presidente VICENTE CÂNDIDO

Historia a criação do movimento Samba da Vela. Aponta a importância da cultura para a sociedade e a nação. Defende a maior aplicação de recursos públicos na produção cultural.

 

012 - JOSÉ ALFREDO GONÇALVES MIRANDA

Também conhecido por Paqüera e um dos criadores do Samba da Vela, relaciona os motivos que levaram o movimento a ser criado. Destaca o papel histórico do samba como elemento da identidade cultural brasileira.

 

013 - Presidente VICENTE CÂNDIDO

Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Senhoras e senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de homenagear o Movimento Cultural da Comunidade de Santo Amaro denominado “Samba da Vela”.

Gostaria de convidar as seguintes personalidades para comporem a nossa Mesa: o representante da comunidade da Escola de Samba Vai-Vai, nosso companheiro Osvaldinho da Cuíca, que vai em seguida tocar o Hino Nacional na cuíca; a Ex-Deputada Federal Irma Passoni; Mário Luiz Wilson Dias de Toledo, da Velha Guarda Musical da Camisa Verde e Branco; Marco Antônio de Freitas, da Velha Guarda da Nenê da Vila Matilde; Wander Geraldo, representando a Direção Municipal do PCdoB; do Tobias da Vai-Vai.

Convido agora os nossos homenageados de hoje, pioneiros do projeto do “Samba da Vela”: Magno de Oliveira Souza; José Alfredo Gonçalves Miranda, o Paqüera; José Marilton da Cruz, o Chapinha; Maurílio de Oliveira Souza; Rosemar Lopes, da Barroca Zona Sul, a quem convido, juntamente com a sua esposa, para comporem a nossa Mesa; Sérgio Luiz Carnelós, da Ducto Consultoria e Engenharia, que está patrocinando o primeiro CD da Comunidade “Samba da Vela”; Moisés da Rocha, do “Samba Pede Passagem”; Evaristo de Carvalho, da Rádio 105 FM, apoiador da música de qualidade; Júlia Yamamoto, também da Rádio 105 FM; quinteto “Branco e Preto”, fruto do trabalho do “Samba da Vela”.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com a regência do Maestro 1º Tenente Maurício Ferreira de Menezes e do Osvaldinho da Cuíca.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar.

Convido neste momento, para também fazer parte da Mesa, a nossa companheira Vereadora Tita Dias, apoiadora da cultura.

Coloco o microfone à disposição daqueles que gostariam de se manifestar em homenagem aos nossos convidados.

Convido para fazer parte dos nossos trabalhos uma pessoa que fez questão de sair do Rio de Janeiro para participar deste evento, a madrinha deste projeto, nossa companheira Beth Carvalho. (Palmas)

Esta Presidência concede a palavra ao nosso companheiro Marco Antônio de Freitas, da Velha Guarda da Nenê.

 

O SR. MARCO ANTÔNIO DE FREITAS - Boa-noite a todos os presentes. Este momento é muito importante para mim, pois me sinto envaidecido em participar desta cerimônia em homenagem ao Samba da Vela.

O Samba da Vela surgiu em um momento muito importante para nós da velha guarda, porque, através desses garotos, tivemos espaço para apresentar a nossa música simples, humilde, que não é gravada, e mostrar o nosso trabalho.

Quero, mais uma vez, em nome da Nenê de Vila Matilde, cumprimentar Maurílio, Chapinha, Paqüera e Magno, pelo Samba da Vela. Espero que continuem sempre trabalhando em nome do samba, porque o samba precisa muito de vocês. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Mário Luiz Wilson Dias de Toledo, da Velha Guarda Musical da Camisa Verde e Branco.

 

O SR. MÁRIO LUIZ WILSON DIAS DE TOLEDO - Boa noite a todos. Em nome da Velha Guarda Musical da Camisa Verde e Branco, queremos cumprimentar o pessoal da Vela, a comunidade em si, por este brilhante evento que está acontecendo hoje, no qual temos prazer de estar presente. Certificamos também nossa vontade de estar sempre juntos com essa rapaziada, que está notável nos seus objetivos para o crescimento do samba.

Deixamos aqui os agradecimentos da Camisa Verde e Branco. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Gostaria de registrar a presença dos meus filhos Kainã Rudá, Tainá Maiara, minha companheira Maria Amália, meu irmão Geraldo. A família toda aqui prestigiando este momento importante da música brasileira.

Esta Presidência concede a palavra ao nosso companheiro, patrimônio da música nacional, Osvaldinho da Cuíca.

 

O SR. OSVALDINHO DA CUÍCA - Meus amigos, hoje é mais um dia de glória da bandeira do samba. Hoje, novamente, o nosso querido Vicente Cândido abriu as portas desta gloriosa Casa, permitindo que o samba pudesse atingir sua dignidade plena. O que, para nós, é motivo de orgulho.

Não vou estender-me nas palavras a fim de que haja mais espaço para o samba, a razão deste evento. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Esta Presidência concede a palavra ao nosso companheiro Moisés da Rocha, Embaixador do Samba Brasileiro.

 

O SR. MOISÉS DA ROCHA - Em nome do samba bem brasileiro, cumprimento o Exmo. Deputado Vicente Cândido - o Vicente Cândido das rodas de samba e das andanças do “amassa-barro” pelos bairros onde há a cultura popular - por essa iniciativa.

Quero agradecer, em nome de todos, à querida madrinha do samba, Beth Carvalho, incansável na batalha para descobrir e incentivar sambistas, quer seja no Cacique de Ramos, com Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, quer seja em São Paulo, com o Quinteto Branco e Preto, com o Samba da Vela, incentivando o Samba Pede Passagem. Onde quer que seja chamada para incentivar o desenvolvimento da cultura popular, está presente, sem essa bobagem de bairrismo entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Nesta noite de alegria, lembro-me bem, como dizia um samba de Luis Carlos da Vila, de um encontro de Beth Carvalho, uma iniciativa do Eduardo Godim e do poeta Souza Neto, no Sesc Pompéia, onde houve um trabalho magnífico. Dali saíram dois LPs somente com compositores de São Paulo, prestigiando o Mestre Talismã da Camisa Verde e Branco, o meu sexto sentido, e muitos bambas, como Osvaldinho da Cuíca, Geraldo Filme, além de muitos outros.

Gostaria de prestar minha homenagem não só aos grandes baluartes do samba aqui presentes, mas também a todos de uma maneira geral, principalmente àqueles que me ensinaram a amar cada vez mais o samba, não apenas dançar, assistir, mas defendendo com unhas e dentes, até com a própria vida, se necessário for, como faz um verdadeiro sambista. Não ter vergonha de dizer: eu sou o samba, eu amo o samba; o samba é a expressão maior da cultura popular e tem de ser respeitado.

Osvaldinho da Cuíca não quis se estender, mas faço sua parte, porque é vício de locutor, e quero destacar que, antigamente, como bem disse Osvaldinho, o samba só levava borrachada e cacetada. Hoje, o samba dá dignidade, graças a iniciativas como esta do Deputado Vicente Cândido e de outros que amam e respeitam a cultura popular brasileira. Não precisa ser passista, não precisa estar na avenida, não precisa rodar baliza, não precisa tocar pandeiro ou qualquer instrumento. Basta amar, respeitar a cultura popular e entender a cultura de um povo que vem para o Brasil e, pela miscigenação, une-se a outras culturas, formando nossa Pátria, nossa cultura popular.

Ainda falta muito, porque a missão não está cumprida. Esta é uma etapa da nossa caminhada para o resgate da real dignidade do nosso samba. Viva o nosso samba! O samba pede passagem ainda. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Esta Presidência concede a palavra ao representante da Barroca da Zona Sul, nosso companheiro Rosemar Lopes.

 

O SR. ROSEMAR LOPES - Quero cumprimentar todos, especialmente o Deputado Vicente Cândido, por mais esta iniciativa e por ceder a Casa para a Barroca Zona Sul, quando a nova diretoria da Barroca tomou posse aqui para o triênio 2004/2007. O Deputado Vicente Cândido pode ser apadrinhado por todos nós como “Deputado do samba”.

Quero cumprimentar ainda o Chapinha, o Paqüera, essa moçada que vem tocando por quatro anos o Samba da Vela, e todos os sambistas. Estamos firmes com nossa bandeira erguida. Queremos ainda agradecer a presença de Beth Carvalho, “madrinha do samba” e de vários artistas do cenário nacional, como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho; do nosso embaixador do samba Osvaldinho da Cuíca; de Moisés da Rocha, cidadão-samba de São Paulo, abrilhantando sempre com o Samba Pede Passagem na rádio; de Tita Dias, Vereadora, assim como Irma Passoni e de todas as autoridades presentes.

Boa-noite para todos e que o “Samba da Vela” possa vir cada vez mais a esses órgãos, Assembléia Legislativa, Câmara Municipal, Palácio dos Bandeirantes, Prefeitura Municipal. São as casas do povo, temos de usar esse espaço, o samba está sempre pedindo passagem. Boa-noite a todos.

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Registro também a presença de Reginaldo Rodrigues Filho, do Projeto Oficina de Percussão, Barracão dos Sonhos, de Paraisópolis. Quero registrar a presença ilustre do meu amigo Osmar Marson, do Sindicato das Pedreiras de São Paulo. O sindicato e as empresas são parceiros de vários projetos de cidadania. Muito obrigado pela presença.

Passo a palavra para a Ex-Deputada Federal Irma Passoni.

 

A SRA. IRMA PASSONI - Muito obrigada, nobre Deputado Vicente Cândido, e a todos que estão aqui fazendo uma homenagem da maior justiça ao povo brasileiro. Quando trazemos aqui as pessoas que organizaram o “Samba da Vela”, apadrinhados também pela Beth e todos os que fazem um esforço de construir o samba, a música, a cultura brasileira e homenageamos publicamente essas pessoas e essas ações, reconhecemos publicamente a importância dessa ação e esforço culturais dessas pessoas. Parabéns.

É muito importante fazermos com que os poderes públicos do Brasil, sejam as Câmaras Municipais, as Assembléias Legislativas, a Câmara dos Deputados, reconheçam essa força viva da cultura brasileira. Quero homenagear a pessoa do nobre Deputado Vicente Cândido, que tem conseguido unificar, convidar, valorizar e trazer para esta Casa a consagração da homenagem do “Samba da Vela”. O samba é a alegria e a cultura, e a vela, a luz de todos nós.

Parabéns ao Maninho, ao Chapinha, ao Magno e à Beth Carvalho, que hoje são as pessoas homenageadas em nome de toda essa cultura. A Assembléia Legislativa, o Poder Legislativo do Estado de São Paulo, reconhece a importância do que vocês fazem. Vocês não fazem alegria, vocês fazem a política pública da cultura, que esperamos seja estendida para todos os recantos do Brasil. Parabéns.

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Estou vendo as pessoas do gabinete do nobre Vereador José Américo, o Tadeu, o Januário, o Osmar. O José Américo é um dos apoiadores do CD que a garotada vai anunciar.

Hoje não é discurso, hoje é uma sessão diferente, de muita energia, muita alegria. Depois dos discursos a garotada vai descer, acender a vela e o plenário não vai ser mais agitado do que o dia em que os estudantes estiveram aqui protestando por verbas para educação, mas vai ser tão caloroso quanto.

Quero convidar a nobre Vereadora Tita Dias para fazer uso da palavra.

 

A SRA. TITA DIAS - Boa noite a todos. Quero cumprimentar os aniversariantes do dia, cumprimentar o nobre Deputado Vicente Cândido, mais uma vez provando que é muito sensível às causas da cultura.

Não vou falar do samba, o samba foi muito falado. Quero falar do trabalho do “Samba da Vela”. São quatro anos de muito trabalho, de muita batalha para que uma cultura dessa qualidade chegasse à Assembléia e fosse vista e reconhecida na cidade de São Paulo como é hoje. Conseguiram isso não procurando brechas no mercado, não procurando ganhar a simpatia da indústria cultural. Conseguiram com a qualidade do trabalho, mostrando que essa cultura, tão boa, não deixa a dever a ninguém em profundidade e qualidadeporque não é vista pela grande mídia.

Queria, cumprimentando a comunidade “Samba da Vela” por esses quatro anos de batalha, homenagear essa cultura maravilhosa que temos na nossa cidade, que chamo de cultura invisível, pois não é vista pelos olhos da grande mídia. É essa cultura que temos de batalhar com políticas públicas, para que sejam cada vez mais apreciadas pela nossa população. Parabéns, comunidade “Samba da Vela” por esse trabalho.

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Vamos ouvir a madrinha do projeto, nossa companheira Beth Carvalho.

 

A SRA. BETH CARVALHO - Que coisa mais bonita está acontecendo hoje. Vamos bater palmas para o “Samba da Vela”. (Palmas.) Bater palmas para o “Samba da Vela” é bater palmas para o povo brasileiro. Esses meninos são de um valor extraordinário. Amo São Paulo desde que nasci. Tive meu pai e minha mãe, mas tive um pai e uma mãe paulistas. Talvez por isso esse grande amor a essa cidade desde criança. Sempre gravei compositores paulistas, pois sempre acreditei que samba é brasileiro, não é carioca, nem baiano.

Até que um dia encontro o Quinteto em Branco e Preto se formando. Eles estavam se conhecendo naquele dia. Os três branquinhos de São Mateus, Yvison, Everson e Victor Hugo, e os pretinhos de Santo Amaro, Magno e Maurílio. Cheguei nesse momento em que eles estavam se conhecendo, ele me adoravam, seguiam toda minha carreira e por isso me pediram para ser sua madrinha. Dei a eles o primeiro nome, “Café com Leite”, mas não deu, pois existia um grupo com esse nome. Pediram-me para dar um outro nome, três anos depois dei o nome de Quinteto em Branco e Preto.

Tenho 36 anos de carreira, conheci tanta gente maravilhosa nesse meio artístico, o Quinteto em Branco e Preto foi presente que Deus me deu. Não encontrei ninguém parecido com as pessoas que eles são no meio artístico: de caráter, talento, bondade, são comunitários, são amigos, são preciosos. Acho que foi um presente que Deus me deu. Desse dia em diante comecei a trabalhar com o quinteto, eles são meus músicos em diversos lugares que eu vou, sou madrinha com muito orgulho.

De alguns desse quinteto surgiu a idéia de criar o “Samba da Vela”, o mais importante movimento de samba deste país. Magno, Maurílio, Paqüera, Chapinha, Edvaldo, Galdinho, Graça e muitos outros fizeram o resgate da auto-estima do povo paulistano, não samba, mas o resgate desse trauma que o paulista tem, de uma frase infeliz que dizem que Vinícius disse um dia, nem sei se disse, nem vou citá-la pois acho muito infeliz. Mas, isso traumatizou São Paulo. O “Samba da Vela” trouxe essa auto-estima para o povo paulistano, para a periferia de São Paulo, que sempre foi muito desprestigiada neste país.

Conheci a periferia através desses meninos. Tenho um orgulho imenso de ir para São Mateus, dormir , ficar , conhecer aquela comunidade maravilhosa, e ir para o “Samba da Vela”, curtir os novos compositores que estão surgindo neste país, todos felizes por poder mostrar seu trabalho.

Foi assim que vi o Cacique de Ramos crescer, que já é um bloco de bastante tradição no Rio de Janeiro. Quando cheguei , em 1977, estava completamente decadente. Dali surgiu o grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Marquinho PQD, Sombrinha, Sombra, tive um orgulho imenso de ser madrinha de todos eles. Vejam , um bloco que era consagrado no Rio de Janeiro, estava decadente. Esse movimento conseguiu fazer essa revolução, que é a revolução do samba no país. O “Samba da Vela” está dando essa continuidade. É o Cacique de Ramos daqui de São Paulo, sem dúvida alguma.

Parabéns, Vicente Cândido, por esta iniciativa! Você está de parabéns e o samba merece. Esta Casa é do povo e o samba tem que estar aqui mesmo. Você teve esta coragem. Lindo, maravilhoso, parabéns! Obrigada, Moisés da Rocha, pelas palavras! Obrigada Osvaldinho da Cuíca, meu querido, e a todos os presidentes de escolas de samba de São Paulo!

Também quero dizer uma coisa que vai acontecer comigo: além desta homenagem que estão me prestando hoje, também irei receber uma outra muito linda. Quando fiz o disco “Beth Carvalho canta o samba de São Paulo”, em 1994, gravei 25 sambas de compositores paulistas. Nenhum paulista fez isso, mas foi uma carioca que fez. É verdade e acho que vocês merecem! (Palmas).

Vou receber três títulos no dia 19 de setembro. Fiquei sabendo que só paulistano é quem recebeu esses três títulos. Nunca, ninguém que não fosse paulistano, recebeu os três títulos e eu vou receber os três: de Cidadã Honorária Paulistana, a Medalha Anchieta e a Medalha de Gratidão do Povo de São Paulo.

Gente, não agüento tanta emoção! Obrigada ao Quinteto Branco e Preto! Obrigada, Samba da Vela! Viva o samba! E viva o Vicente! (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Tem a palavra o nosso companheiro, Vereador e grande apoiador da cultura na Câmara Municipal, Nabil Bonduki para fazer o registro de suas emoções nesta noite. (Palmas).

 

O SR. NABIL BONDUKI - Boa noite a todos e a todas. Boa noite, Vicente. Quero cumprimentá-lo pela iniciativa, uma iniciativa importantíssima porque o Samba da Vela já é uma tradição na cidade de São Paulo. Uma tradição que precisamos o tempo todo reforçar, porque a identidade da nossa cultura brasileira é fundamental para que a nossa sociedade possa progredir e possa progredir valorizando as nossas raízes, valorizando aquilo que é mais importante para todos nós, que é a nossa identidade.

Vicente é um grande estimulador da cultura em nossa cidade, seus projetos de lei são fundamentais tanto na Câmara como agora na Assembléia. Estamos junto com ele batalhando pela criação do Fundo Estadual de Cultura e Comunicação, que é um instrumento que certamente será um dos mais importantes para poder apoiar as atividades culturais na cidade de São Paulo como o teatro, o cinema e também a música, o samba.

Dizem que São Paulo é o túmulo do samba, mas percebemos claramente - e o Samba da Vela é uma mostra disso - que São Paulo tem um samba tão bom e até melhor do que o do Rio de Janeiro.

Assim, parabéns para o Samba da Vela! Parabéns, Vicente! Parabéns para todos nós que defendemos a cultura de São Paulo! (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Antes de passar a palavra aos nossos homenageados, também quero dirigir as minhas palavras aos presentes aqui, nesta noite.

Inicio agradecendo toda a equipe do gabinete, que se empenhou para que este evento acontecesse, na pessoa da Eneida. Agradeço a todos os assessores e a Eneida foi quem mais se dedicou a este evento. Quero agradecer à assessoria daqui da Mesa, que nos ajudou muito, na pessoa da nossa companheira Yeda. Também quero agradecer aos homenageados, que trabalharam muito para que isto acontecesse, ajudaram na convocação, acreditaram nesta noite, reconheceram a importância da noite e também se envolveram muito. E o Chapinha foi o representante desta tarefa.

Fico aqui bastante contente e emocionado por poder, através do mandato, abrir as portas desta Casa para reconhecer o trabalho dessa garotada. Inicio lembrando aqui o nosso velho Cartola, que dizia que quem gosta de homenagem póstuma é estátua e a nossa decisão, nesta noite, é homenagear as pessoas vivas, as pessoas que fazem o dia-a-dia, a história e a cultura para a sociedade e para a comunidade.

Neste momento, lembro-me muito dos primeiros dias e do Chapinha, ali na rua Antonio Bento, em Santo Amaro, quando ele teve a coragem de alugar um galpão para iniciar este projeto. Como todo bom projeto comunitário, coletivo, democrático, ele se endividou. Chapinha, não sei se você já pagou as dívidas, se não pagou, passe o chapéu aqui para ver se o ajudam a pagar as dívidas. Sei que você, como tantos outros, foi protestado e deve ter perdido conta bancária. Lembro-me muito disso. Estive presente lá com você e o Tadeu foi o pioneiro em nos aproximar há quatro anos.

Quem conseguiu viver aquele período talvez jamais acreditaria que chegaríamos aqui, neste dia importante, depois de quatro anos e esta Casa tendo a obrigação de reconhecer esse esforço, essa coragem, essa aventura e essa maluquice, pois as pessoas normais não fazem isso. Só faz isso quem é maluco e maluco para o bem.

Toda vez que vou lá no Samba da Vela, às 20 horas, em Santo Amaro, na Casa de Cultura, sinto-me irradiado de energia com aquela garotada, com as pessoas também já idosas, com os talentos que estão despontando. As pessoas que vão lá assistir não deixam nunca mais de voltar ali.

Aquela roda de samba é uma das coisas mais bonitas que já vi e já participei na minha vida. Ouço vários recados dali. Quando vou lá, encho-me de orgulho, de coragem e de energia em continuar colocando o mandato de Deputado Estadual a serviço da cultura brasileira.

Há vários recados de lá. Acho que vocês mandam vários recados para a sociedade brasileira. Vocês estiveram aqui no dia 2 de dezembro de 2003 e, juntamente com outros 700 artistas, disseram para esta Casa: “Olhem para a cultura brasileira. Olhem para esse povo. Olhem para o projeto de país que vocês são responsáveis aqui, neste plenário.”

Vocês estiveram aqui no dia 2 e ficaram por aqui durante 15 dias. Aliás, vocês voltaram aqui, agitaram esta Casa, tocaram, cantaram, juntamente com o pessoal do circo, do teatro, do cinema. No dia 15 de dezembro, quando estávamos fechando o ano legislativo, vocês nos deram um outro recado, neste plenário lotado, nesta galeria lotada e o Moreira foi o porta-voz do Movimento Arte contra a Barbárie, dizendo para os Deputados que não quiseram votar o Fundo Estadual de Arte e Cultura, que vocês fizeram juntos, que vocês escreveram juntos, que vocês debateram e brigaram juntos item por item, artigo por artigo.

Vocês deram um recado muito forte, que está gravado para sempre nos Anais desta Casa: “Srs. Deputados, fizemos nossa parte. Esta Casa, como uma Casa de Leis, é uma Casa que tem a obrigação de produzir políticas públicas. A palavra agora está com vocês”. Está gravado e acho que isso sensibilizou a maioria desta Casa. O projeto deixou de ser do Deputado Vicente Cândido e passou a ser da sociedade cultural paulista.

Hoje, esta Casa reconhece isso. Hoje, a Secretária de Cultura do Estado de São Paulo reconhece isso. Neste mês de julho, estive com o Governador e ele reconhece isso. Ele assumiu o compromisso de, ainda neste mês, enviar o projeto para cá para ser votado, criando o Fundo Estadual de Arte e Cultura, e são pelo menos 100 milhões de reais para a produção cultural na sociedade de São Paulo (Palmas).

Quando assumi o mandato de vereador pela primeira vez em 97, conversei com vários companheiros artistas, principalmente com o Movimento Arte contra a Barbárie, e ali estava o embrião de um movimento de teatro em São Paulo. O Tadeu, que está aqui, foi muito responsável por isso. Traçamos uma meta e discutimos a seguinte linha: “Pense que é natural, que é próprio do movimento cultural. Elabore, organize e aja.”

No dia 6 de dezembro de 2000, 400 artistas ocuparam o plenário da Câmara Municipal, protocolaram o projeto de lei que um ano depois se tornou realidade. A cidade de São Paulo até então gastava muito com produção de teatro: cerca de 1 milhão de reais por ano. Através desta lei, em que fui apenas o signatário, passou-se a investir pelo menos sete milhões de reais por ano na produção de teatro.

Depois, vieram outras conquistas, como a Turma da Dança, que também se organizou, pensou e agiu. Depois, veio o pessoal do cinema e o meu compromisso durante o ano de 2002 - aliás, não estava fazendo questão pessoal de ser candidato a Deputado Estadual - foi o de trazer a esta Casa a Cultura, o debate, sensibilizar os Deputados desta Casa, colocar nesta tribuna o discurso em defesa da cultura. Fizemos isso durante o ano, escrevemos juntos, brigamos juntos, perdemos noites de sono juntos, no Fundo Estadual de Cultura.

Lembro-me de uma reunião com os artistas organizados. Estavam lá Raul Cortez, Regina Duarte e vários outros artistas conhecidos.  Havia um certo descrédito, principalmente do Raul Cortez: “Será que vai dar?” disse ao Raul: “o governo, o Parlamento, não têm o direito de falar ‘não’ para vocês.”

Quando candidato, da mais simples cidade deste país, de Vereador a Presidente da República, a cultura é lembrada, mas, às vezes, apenas como fundo musical, como depoimento, comício. A cultura faz parte da vida política das pessoas; faz parte da vida dos partidos políticos; faz parte da vida política de qualquer campanha eleitoral. Às vezes, isso não é o bastante para traduzir em políticas públicas.

O estado que tem o maior orçamento do país, 62 bilhões de reais, que aprova projetos, às vezes com muita facilidade - como já votamos neste ano a renovação de empréstimo para a Cesp de um bilhão e duzentos milhões de reais; o projeto do Tietê, de 350 milhões de dólares; o Metrô, de 500 milhões de dólares,, quando vai discutir 100 milhões de reais para a cultura diz: “Não sei de onde tirar!”

O Estado de São Paulo, que oito ou dez anos atrás arrecadava 20 bilhões de reais, hoje, arrecada 62 bilhões de reais. Qual a dificuldade de separar 100 milhões de reais para a produção cultural? Isso ainda é muito pouco.

Fui a Goiás, participar de uma audiência pública de um projeto semelhante ao nosso. Goiás já investe 1%, aqui, investe-se 0,15%, quer investir mais um por cento.. Até o final da gestão do atual Governador, São Paulo estará arrecadando 70 bilhões de reais. Qual a dificuldade de separar 100 milhões para a produção cultural? Precisamos convencer a sociedade brasileira, os pparlamentos do Brasil inteiro, as Câmaras Municipais, os Governadores, os Prefeitos.

Outro dia, na abertura da Conferência Municipal de Cultura, relatei ao Ministro Gilberto Gil: “Gil, você gritou sozinho no Congresso, quando pediu pelo menos 1% do orçamento do tseu Ministério para a produção cultural. Temos a obrigação moral e política de fazer coro ao tseu discurso no CCongresso, ndo ano passado. A sociedade cultural tem que assumir isso. Temos que mostrar à sociedade brasileira que não há país decente, sociedade democrática, em que a cultura não seja uma questão de Estado.”

O movimento cultural está pedindo três coisas:. Ggarantir em lei o nosso direito ao acesso à produção cultural. Há cinco leis que preservam a Educação, várias que preservam a Saúde, o direito à Justiça, à Segurança. A Cultura só tem três artigos na Constituição Federal. Precisamos fazer leis ordinárias, extraordinárias, para suportar eventuais turbulências que vêm dos governos. Independentemente desse ou daquele partido, temos que ter a garantia.

Tenho convivido com os companheiros produtores de cultura, de teatro, das ONGs. É o maior sufoco. Ganha-se um projetinho àsa duras penas. É uma burocracia terrível para se conseguir 100 mil reais. Acabou o projeto, não se sabe mais o que fazer, está-se desempregado, no mundo da rua! Como é que vive a produção cultural desse jeito? Não se tem estabilidade, segurança, não se sabe o que vai acontecer com a sua vida no dia seguinte! Precisamos regulamentar as profissões inerentes à cultura, à produção cultural.

Outro ponto que a sociedade cultural está querendo é que a cultura vire uma questão de Estado, que fique na pauta dos governos, do Pparlamento, e que sensibilize a sociedade. Aí, vamos criar um pensamento em defesa da Cultura. Setenta por cento dos municípios brasileiros sequer têm um departamento cultural constituído na estrutura administrativa. Quando o têm, não possuem dinheiro para a produção cultural, como é o caso da Secretaria de Estado, com todo o respeito à Cláudia Costin - e ela sabe disso. Nós a defendemos como uma grande Secretária, mas ela precisa de dinheiro. Portanto, Cultura tem que virar uma questão de Estado. Esse é o nosso papel, de parlamentares, de executivos e de produtores culturais.

Por último: a Cultura tem que estar no Orçamento. Tudo cresce, o Orçamento cresce, pagamos milhões de dívida. Não se pode tirar um ou dois por cento para a produção cultural? Estamos discutindo aqui um projeto de país, de nação, de identidade, de auto-estima das pessoas, de jogar de lado o lixo cultural, de valorizar qualidades, talentos, esperança da juventude. Toda criança, quando começa a se desenvolver, tem dentro de si um artista. Se ela vai à roda de samba, vai poder desenvolver o talento. No dia em que tivermos outras rodas de samba como essa, teremos tantos Pixinguinhas, Cartolas, Adoniran Barbosas por aí, perdidos nessas bimbocas, nessas favelas e nos Morumbis da vida, também. Por que não? Os governos têm que se convencer disso.

A ONU está dizendo, através da Unesco, que o que gera mais empregos no mundo atualmente é a Cultura. Não dá para por um robô substituindo o Tobias, da Vai-Vai, cantando e puxando samba no Sambódromo. Até agora, não inventaram. Não dá para por um robô dançando balé, não dá para por um robô tocando cavaquinho. Ainda não inventaram e espero que não inventem.

Então, na A Cultura e a Ttecnologia não sãoé cruéiels ao ser humano;, não substitui a criação. A Volkswagen do Brasil, há 20 anos, tinha 44 mil trabalhadores. Hoje, ela tem 12 mil trabalhadores e diz que vai mandar mais três mil embora, produzindo o triplo do que produzia há 20 anos. Lá, a tecnologia é prejudicial ao desenvolvimento humano. Cabe aos governos criarem políticas e mecanismos para taxar o lucro e, assim, investir-se na Cultura.

A ONU diz que a cada um milhão de reais investidos na cCultura - esse estudo já foi abrasileirado - são gerados 160 empregos. Na Iindústria,o gerados 30. O estudo brasileiro mostra empregos, com salários acima do mercado. Temos todo esse rol de argumentos para convencer os nossos governos.

Gostaria de relatar o que ouvi, da Ramona de Sá, Ex-Diretora da Escola Nacional de Balé de Cuba, que trouxe um vídeo, através da escola da minha filha, com o depoimento do Presidente Fidel Castro. Não vou entrar no mérito do regime, pelo qual não tenho simpatia, mas esste não é o momento. O Presidente Fidel Castro exigia um plano de reforma da Escola Nacional de Balé,, que possuía 600 alunos. O primeiro plano que lhe apresentaram, de 1.100 alunos, ele devolveu dizendo que era pouco. Refizeram o plano, mostraram-lhe novamente, propondo 2.100 alunos. Ele disse que era pouco, devolvendo novamente o plano. Quando chegou a 4.100 alunos, ele disse que estava bom, razoável, e foi inaugurar a Escola de Balé.

Espero que um dia ouçamos, em todos os cantos do Brasil, daqueles que se elegem, que fazem orçamentos, coisa parecida com essa. Tem que se investir na Cultura porque aqui está definido o meu projeto de nação, de país, que serve até para combater a violência urbana. Não quero relegar a Cultura a isso, mas estão usando como dique social, o que não é correto, mas se serve como argumento para convencer, vamos usá-lo.

Todas as vezes que vou à roda de samba - Chapinha, Paqüera, Magno, Mauríllio - não vejo outro caminho para a sociedade brasileira. Gostaria que, um dia, tivéssemos um movimento cultural no Brasil forte, reivindicativo, que os governos respeitassem. Como é hoje o MST que, muitas vezes, levanta a dignidade do povo brasileiro. Na Cultura, é esse o caminho em que acredito. É por isso que homenageio vocês nesta noite e abro as portas da Assembléia Legislativa para que este Parlamento reconheça em vocês um exemplo para a sociedade brasileira. (Palmas.)

Tenho em mãos um convite da Barroca da Zona Sul para a festa de comemoração dos seus 30 anos de fundação, a realizar-se amanhã, às 22 horas, na quadra, na Rua Barão de Morais, 1.800, Água Funda. Amanhã, às 22 horas, estarei lá, participando desse momento importante da história da escola de samba.

Vou passar a palavra ao nosso homenageado, representando os homenageados da noite, nosso companheiro e irmão José Alfredo Gonçalves Miranda, o Paqüera. (Palmas.)

 

O sr. José Alfredo Gonçalves MIRANDA -- boa- noite, gente, boa-noite comunidade do samba do Brasil! Obrigado, Deputado Vicente Cândido, por essa iniciativa, por essa homenagem. A comunidade do Samba da Vela agradece, de coração.  Obrigado a esta Casa por nos homenagear!

Começo dizendo uma coisa muito simples. O Samba da Vela é um reduto do povo; é o encontro do povo com o próprio povo. Nasceu de uma necessidade. Eu,  Magno, Chapinha e Maurílio encontramo-nos para cantar samba porque, até então, estávamos perdidos no mundo fonográfico, no mundo da mídia construída para ganhar dinheiro. Sabemos que todos precisam ganhar dinheiro, mas não precisam perder identidade por isso. E o samba tinha perdido a sua identidade.

É triste, mas é verdade. São cem anos de luta. O samba é um menino de 100 anos. Durante 60 anos, ele reinou, poderoso, tomou conta deste país nas décadas de 20, 30, 40, 50 e 60. Aí, houve uma revolução mundial da cultura. Não temos que dizer que isto está errado ou certo. É o povo que manda e aceitou a proposta que veio de fora e colocou o nosso samba num outro patamar: mais embaixo.

O samba, nesse período, viveu no submundo. E vemos isso claramente. Os nossos grandes mestres, aqueles com quem aprendi - também o Chapinha, o Magno e o Maurílio - que ouvimos tanto, todos debaixo do tapete. O samba era muito marginal. O que podíamos fazer? Tínhamos de seguir o barco. E seguimos o barco. Até a hora em que houve uma mudança. E essa mudança partiu do próprio povo.

Nós nos encontramos para cantar samba, samba da gente, com uma linhagem antiga, uma tradição lá de trás. Fizemos essa função. Cantar o samba. Começaram a vir duas, três, quatro, cinco, veio a Beth, nossa madrinha, que nos abraçou e disse que nos levaria até onde pudesse. Agradecemos de coração, Beth. Foi um empurrão não somente para nós, que somos músicos e compositores, mas para muitas pessoas, crianças e jovens que esperam um pouco mais de atenção e de valor. E aí a coisa foi para frente mesmo. Todos resolveram escrever, todos abraçaram a idéia e nasceu a comunidade “Samba da Vela”.

Hoje estamos vendo o samba novamente lá em cima, começando a subir os degraus, tentando resgatar a sua identidade. Estão tentando derrubar, mas vamos embora. É nosso dever e nossa obrigação construir este caminho de novo para a nossa identidade cultural. O samba é a nossa identidade. O mundo conheceu o Brasil através do samba e do futebol, não da mulata. Foi através do samba e do futebol. Em qualquer parte do mundo que você for, todos relacionam o Brasil ao carnaval e ao samba. O samba é a nossa identidade cultural.

Temos de assumir posições. Chega de esperar que os outros nos digam o que temos de fazer. Não, eu faço aquilo que gosto. Eu faço samba. Eu gosto de samba. Eu vivo pelo samba. O Samba da Vela hoje é o que é porque as pessoas acreditaram. As meninas, os rapazes que vão lá todas as segundas-feiras e fazem parte daquele ritual, que contribuem voluntariamente para tomar uma sopinha no final ou para montar um caderno, acreditam que aquilo realmente é o caminho para a nossa conquista maior, que é a nossa representatividade.

Espero, de coração, que esta chama que colocamos naquele castiçal que veio da África do Sul, dos nossos ancestrais, ilumine muitos caminhos. Demos, simplesmente, o primeiro passo, plantamos a primeira semente. A árvore está crescendo. Os frutos ainda são pequenos, mas tenho certeza de que quando começarem a brotar, ninguém segurará este país, se Deus quiser!

Viva o samba brasileiro! Viva o samba de São Paulo! E vamos embora, minha gente! (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - VICENTE CÂNDIDO - PT - Quero registrar a presença e dizer da satisfação de ter entre o nós o companheiro, o Vereador José Américo, ele que também é um apoiador do projeto do CD do Samba da Vela. (Palmas.)

Agora teremos talvez a parte mais esperada do evento. Pelo Regimento da Casa eu teria de ficar aqui em cima, sentado nesta cadeira, assistindo à sessão enquanto os meninos cantam aí embaixo. Contudo, estou fazendo um rearranjo regimental e encerrarei a sessão para que todos possam descer e participar do show.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência, antes de encerrá-la, agradece a todos os presentes, a todos os colaboradores, a todos os funcionários desta Casa e àqueles que acreditam no projeto, como a empresa Ducto Engenharia, representada pelo Sérgio, como o Osmar Masson, do Sindicato das Pedreiras, enfim, a todos os voluntários que apóiam a cultura brasileira. Muito obrigado e um boa-noite a todos. Agora vamos cantar para extravasar as nossas energias positivas. (Palmas.) Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 59 minutos.

 

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