25 DE AGOSTO DE 2008
038ª SESSÃO SOLENE
RESUMO
001 - ROBERTO ENGLER
Assume a
Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Comunica que esta
sessão solene foi convocada pelo Presidente Vaz de Lima, por solicitação do
Deputado Roberto Engler, ora na direção dos trabalhos, com a finalidade de
homenagear o "Dia da Comunidade
Alemã". Convida o público presente a ouvir, de pé, os hinos nacionais
alemão e brasileiro, executados pela Banda da Polícia Militar do Estado de São
Paulo.
002 - Presidente ROBERTO ENGLER
Expressa o
sentimento de confraternização entre a Alemanha e o Brasil.
003 - STEFAN VON GALEN
Presidente da
Associação Escolar Benjamin Constant, cumprimenta as autoridades presentes.
Lembra a importância de se comemorar anualmente o Dia da Comunidade Alemã.
Anuncia que a comunidade alemã está preparando uma grande festa comemorativa
para o próximo ano, quando serão comemorados os 185 anos da primeira imigração.
Solicita o apoio dos deputados para a aprovação do Projeto de lei nº 196, de
2004, que institui a data de 25 de julho como o "Dia da Comunidade
Alemã" no Estado de São Paulo.
004 - ÚRSULA DORMIEN
Presidente da
Corporação Alemã de São Paulo, agradece, em nome das entidades de língua alemã
de São Paulo, ao Deputado Roberto Engler e à Assembléia Legislativa do Estado
de São Paulo, a homenagem prestada aos descendentes dos países de língua alemã.
Parabeniza os colégios e as instituições que se empenham em ensinar a cultura e
as tradições do país de origem dos imigrantes. Afirma que a língua alemã deve
ser preservada. Lembra a importância do domínio de um segundo idioma para
prosperar em diversas áreas, aprofundar os laços de amizade e contribuir para o
progresso do Brasil.
005 - HERMANN WEVER
Presidente do
Conselho Deliberativo da Siemens, lembra o dia 25 de julho de 1824, que
simboliza o início da imigração dos povos de língua alemã, no Brasil, e a
formação da Colônia de São Leopoldo. Faz um histórico do relacionamento dos
alemães com o Brasil. Comenta que durante o período colonial o Brasil ficou
isolado, mas a vinda da família real e o casamento de D. Pedro I com a
arquiduquesa Leopoldina marcaram as relações entre os povos de língua alemã e o
Brasil. Cita as principais contribuições dos imigrantes alemães para indústria
brasileira. Lembra que as imigrações ficaram prejudicadas por ocasião da
primeira e da segunda guerra mundial.
006 - HEINZ PETER BEHR
Cônsul Geral da
República Federativa da Alemanha, manifesta a honra de poder estar presente às
festividades que comemoram a origem da imigração alemã. Diz do orgulho de fazer
parte da história de um número tão grande de brasileiros. Lembra que hoje era o
dia para lembrar as conquistas dos imigrantes alemães e que todos os que
festejam esse dia realizaram muitas coisas. Parabeniza a todos por essa festa e
faz votos para que o elo com a Alemanha continue existindo.
007 - Presidente ROBERTO ENGLER
Cumprimenta as autoridades presentes e manifesta a satisfação de comemorar o "Dia da Comunidade Alemã". Cita versos de Goethe. Ressalta a importância dos alemães na construção do Brasil, lembrando Hans Staden, autor de um dos principais textos da literatura quinhentista. Diz que a característica principal dos alemães, o empreendorismo, contribuiu para o desenvolvimento do nosso País. Agradece a todos. Encerra a sessão.
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- Assume a Presidência e
abre a sessão o Sr. Roberto Engler.
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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.
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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.
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O Sr. Presidente - Roberto Engler - PSDB - Boa-noite, senhoras e
senhores. Inicialmente, para fazer parte da Mesa deste evento, convido o Sr.
Heinz Peter Behr, Cônsul Geral da Alemanha, e sua esposa, Sra. Maria Elsa Behr;
o Sr. Hermann Wever, Presidente do Conselho Deliberativo da Siemens; a Sra.
Úrsula Dormien, Presidente da Corporação Alemã de São Paulo; o Sr. Stefan Von
Galen, Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant.
Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.
Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da Ata da sessão
anterior.
Sras. Deputadas e Srs. Deputados, minhas senhoras e
meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa,
Deputado Vaz de Lima, atendendo à solicitação deste Deputado, com a finalidade
de homenagear o Dia da Comunidade Alemã.
Convido os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino
Nacional Alemão e o Hino Nacional Brasileiro, executados pela Banda da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro Segundo Tenente PM
David Serino da Cruz.
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- São executados o Hino Nacional Alemão e o
Hino Nacional Brasileiro.
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O SR. PRESIDENTE - ROBERTO
ENGLER - PSDB - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar
do Estado de São Paulo, em nome do maestro, 2º Tenente Músico PM David Serino
da Cruz. Muito obrigado.
Antes de conceder a palavra às nossas
autoridades, quero apenas externar o meu sentimento ouvindo a execução dos dois
hinos nacionais, lado a lado, mostrando o grau de confraternização entre os
dois povos, da Alemanha e do Brasil. Fico muito honrado e agradecido.
Esta Presidência concede a palavra ao Sr.
Stefan Von Galen, Presidente da Associação Escolar Benjamin Constant.
O SR. STEFAN VON GALEN -
Prezado Sr. Deputado Roberto Engler; prezado Sr. Cônsul Geral da República
Federal da Alemanha, Heinz Peter Behr; prezado Sr. Hermann Wever, Presidente do
Conselho da Siemens; prezada Sra. Úrsula Dormien, Presidente da Corporação Alemã
Para ser exato, pela quinta vez, estamos comemorando hoje o Dia da
Comunidade Alemã.
Ao Deputado Roberto Engler, uma vez mais o nosso muito obrigado
por abraçar esta nossa solicitação.
Talvez muitos se perguntem por que comemorar este evento todos os
anos. É importante esta comemoração, pois isto é igual a uma semente que deverá
ser plantada anualmente para dar frutos e que com isto a comunidade alemã,
nossos filhos, nossos netos, não se esqueçam de suas origens e de sua
importância. Assim fizeram os nossos antepassados de muitas gerações desde a
primeira imigração em 1824,
Gostaria ainda, nobre Deputado Engler, de solicitar o seu empenho
na aprovação do Projeto de lei nº 196 de 2004, que institui o dia 25 de julho
como o "Dia da Comunidade Alemã” em todo o Estado de São Paulo, e assim se
transformar
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Esta Presidência gostaria de
registrar a presença do Sr. Egon Janos, presidente da Associação das Entidades
Húngaras de São Paulo, que esteve presente em agosto do ano passado, e no dia
23 de outubro este Deputado terá a honra também de fazer aqui neste mesmo local
o evento da comunidade húngara. Muito obrigado. Sr. Alexis Pomerantzeff,
Imperador da Nação Lingüística Portuguesa; Sr. Nico Geide, Cônsul de Assuntos
Políticos e de Imprensa da República Federal da Alemanha; Sr. Leonel Aguiar, da
Associação Paulista de Imprensa; Sr. Valdemar Regio de Araújo, representando o
nosso querido Deputado Antonio Salim Curiati; Sr. Raul Luís dos Santos
Marcarenhas, do Colégio Benjamim Constant; Dr. Paulo Rios, grande amigo,
Delegado-Chefe da Assembléia Legislativa, representando o Delegado Geral de
Polícia do Estado de São Paulo, Maurício José Lemos Freire.
Neste instante, esta Presidência
concede a palavra a esta senhora que já nos conquistou, Sra. Úrsula Dormien,
Presidente da Corporação Alemã de São Paulo. (Palmas.)
A SRA. ÚRSULA DORMIEN
-
Exmo. Sr. Deputado Roberto Engler, Exmo. Dr. Heinz-Peter Behr, Cônsul Geral da
República Federal da Alemanha, Exmo. Sr. Stefan Graf von Galem, Presidente da
Associação do Colégio Benjamin Constant, Exmo. Sr. Hermann Wever, Presidente do
Conselho Deliberativo da Siemens, demais autoridades presentes, senhoras,
senhores e amigos, em nome das entidades de língua alemã de São Paulo, quero
agradecer à Assembléia Legislativa e, em especial, ao nobre Deputado Roberto
Engler pela homenagem prestada à comunidade alemã, aos descendentes dos
imigrantes dos países da Europa de língua alemã. Aliás, modéstia à parte,
homenagem merecida, lembrando os pioneiros que com muita garra, não medindo
esforços, contribuíram para o progresso do nosso Brasil, o país que os acolheu
de braços abertos.
Com grande satisfação, também quero
parabenizar os colégios, as
instituições, enfim a todos que se empenharam e empenham em ensinar e transmitir o idioma, a cultura e
as tradições do país de origem dos imigrantes.
É um trabalho muito importante, pois estou convicta de que a
língua alemã - aliás, como qualquer outro idioma estrangeiro - é uma dádiva
preciosa para os descendentes de imigrantes desde a sua infância e deve ser
preservada.
O domínio da língua dos antepassados, juntamente com a da
nova pátria, representa estima e respeito a ambos e não impede de forma alguma
de ser um bom cidadão brasileiro, até muito pelo contrário. Creio que todos
descendentes de imigrantes podem ser considerados mediadores entre o Brasil e o
País de seus ascendentes, e assim cooperar nas mais diversas áreas, bem como
aprofundar os laços de amizade entre ambos, prestando, desta maneira,
significativa contribuição para o progresso de nossa amada Pátria Brasil.
Encerrando, também não quero deixar de agradecer aos
patrocinadores do coquetel, que será oferecido em seguida para dar continuidade
à comemoração desta data magna. Obrigada!
O SR. PRESIDENTE - ROBERTO
ENGLER - PSDB - Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Hermann
Wever, Presidente do Conselho Deliberativo da Siemens.
O SR. HERMANN WEVER - Exmo, Deputado Roberto Engler, Exmo
Sr. Cônsul Geral da República Federal da Alemanha
O dia 25 de julho passou a ser, com toda justiça desde 1824,
o dia da imigração dos povos de língua alemã e também o “Dia do colono”.
No entanto, o relacionamento dos cidadãos de língua alemã com
o Brasil teve início bem antes, poucos anos após o seu descobrimento. Com
efeito, Pero Lopes de Souza no seu “Diário de Navegação”, onde descreve a
viagem da armada de cinco navios comandada por seu irmão Martim Afonso de Souza,
menciona a existência de vários alemães entre os membros da tripulação, um dos
quais ajudou na construção do primeiro engenho de açúcar em terras brasileiras
em 1532 na Ilha de São Vicente. Casas de comércio alemãs construíram nas
décadas seguintes novos engenhos na região e enviaram para administrá-los
técnicos alemães.
Assim, quando Hans Staden em sua segunda viagem ao Brasil em
1550 - tendo naufragado nas proximidades de Itanhaém chegou a São Vicente
caminhando com alguns companheiros pela costa - encontrou um pequeno núcleo de
compatriotas e foi convidado para terminar a construção em alvenaria do Forte
São Felipe, em Bertioga, o primeiro forte do Brasil meridional, e nomeado pelo
primeiro Governador do Brasil, Tomé de Souza, para ser o seu comandante. Estava
ocupando esse cargo quando foi feito prisioneiro dos índios Tupinambás e viveu
as incríveis aventuras que relata em seu famoso livro publicado pela primeira
vez em Margburg, em 1577. O estilo realista do livro e suas gravuras em estilo
primitivo, mas de absoluta fidelidade, deram ao mesmo um extraordinário
sucesso, sendo reeditado em várias línguas e tornado o Brasil foco de interesse
e atenção em toda a Europa. É, pois, com inteira justiça que o Instituto
Martius-Staden, que tem como missão a divulgação da língua e cultura alemãs no
Brasil e ao mesmo tempo a divulgação da cultura brasileira entre os povos de
língua alemã, o adotou como um dos seus patronos. Sobre o segundo Martius vamos
falar daqui a pouco.
Simultaneamente a esses fatos ocorridos no sul
do Brasil, também no norte e nordeste do país era ativa a presença de alemães
dedicados principalmente à cultura da cana-de-açúcar e que se integraram
totalmente às sociedades locais, construindo famílias numerosas entre cujos
descendentes encontram-se pessoas de destaque da história brasileira.
A
invasão holandesa, primeiro na Bahia, em
A partir da retomada e consolidação do
território brasileiro pelos portugueses, e particularmente a partir da
descoberta das ricas jazidas de ouro
Foi um período em que muito pouco foi escrito
ou se divulgou em língua alemã sobre o Brasil. Mesmo assim, a intensa
utilização no Exército de Portugal, de oficiais e engenheiros originários de
países de língua alemã, fez com que muitos desses oficiais participassem de
missões de demarcação de limites, tanto no Norte do Brasil, incluindo a região
amazônica, como também no Sul, particularmente a região das missões.
Entre esses oficiais deve ser destacada a
figura de João Henrique Böhm, nomeado em 1767, comandante de todas as tropas no
Brasil, e que foi o fundador e organizador do Exército brasileiro.
Outro oficial alemão do Exército português
João Carlos Augusto Von Oeynhausen, que chegando ao Brasil em 1802 administrou
sucessivamente as províncias do Ceará, Mato Grosso e finalmente, a partir de
1818, São Paulo, sempre com grande eficiência de dinamismo destacou-se entre
esses engenheiros.
A invasão de Portugal
pelas tropas napoleônicas, e a chegada ao Brasil, em 18008, do então príncipe
regente e mais tarde rei D. João VI, tirou o Brasil de forma rápida do estado
letárgico em que se encontrava. O primeiro ato do príncipe regente ainda em sua
escala na Bahia, de abrir portos brasileiros às nações amigas combinado com a transferência da corte
portuguesa para o Rio de Janeiro, gerou um surto de desenvolvimento econômico e
cultural que o Brasil ainda não tinha experimentado.
Junto com a corte vieram diversos oficiais e
engenheiros de língua alemã que deram enorme contribuição para o
desenvolvimento da nova pátria. Entre eles destacaram-se Frederico Luis
Guilherme Varnhagen pai do maior historiador brasileiro Francisco Adolfo
Vanhagen visconde de Porto Seguro, que dirigiu os trabalhos de construção da
real fábrica de ferro São João de Ipanema, em Sorocaba, na província de São
Paulo, onde em 1818 foi inaugurado o primeiro alto forno do Brasil.
Grande contribuição à geologia e à siderurgia
brasileiras foi dada por Guilherme Luis Barão Von Eisheweig, que na Fábrica
Patriótica, próxima a Congonhas do Campo,
O casamento, em 1817, do então príncipe herdeiro, mais
tarde primeiro imperador D.Pedro I, com a princesa austríaca arquiduquesa
Leopoldina de Habsburgo, foi um fato marcante no desenvolvimento das relações
entre os povos de língua alemã e o Brasil.
A jovem princesa, dona de uma educação esmerada,
amante das artes e das ciências, e de um caráter extraordinariamente firme e
puro, ganhou logo o respeito e a admiração do povo brasileiro. Através de sua
influência, concordou o imperador da Áustria, Francisco II, em financiar uma
expedição científica ao Brasil com o objetivo de estudar sua flora e sua fauna,
que além dos notáveis cientistas austríacos Natterer, Pohl, Mikan, Schott, e do
pintor Thomas Ender, trouxe consigo dois cientistas bávaros, Carlos Frederico
von Martius e João Batista von Spix.
Os resultados desta missão foram extraordinários e,
sob o ponto de vista científico e artístico, podem ser considerados como uma
redescoberta do Brasil pelo mundo de então.
Entre as extraordinárias contribuições desses
cientistas destaca-se, no entanto, a obra realizada por von Martius, tendo
permanecido cerca de três anos no Brasil, durante sua viagem, percorrendo com
seu colega von Spix, grande parte do território brasileiro, e pode von Martius
acumular uma quantidade tal de informações sobre a flora brasileira, que acabou
dedicando o quase meio século de existência que teve após o seu retorno à
Alemanha à divulgação das coisas do nosso País. Entre suas obras, destaca-se
“Flora Brasiliensis”, com 40 volumes, que só foi terminada em 1906, 40 anos
após sua morte.
A sua obra sobre as palmeiras brasileiras lhe deram o
codinome de “Pai das Palmeiras”, e sobre ele disse Humboldt: “Enquanto existir
uma palmeira em nossa terra, o nome de Martius não será esquecido”. De fato, no
dia 17 de abril de 1992, dia em que foi comemorado o 200º aniversário de seu
nascimento, o governo brasileiro decretou que nesta data passasse a ser
comemorado o “Dia do Botânico”, em sua homenagem.
Foi a Imperatriz Leopoldina, com apoio de José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, que havia na sua juventude estudado na Alemanha, que conhecia e admirava a classe dos pequenos proprietários rurais existentes na Áustria e na Alemanha, que incentivou através do trabalho do Major Jorge Antonio von Schaffer, a vinda dos imigrantes alemães para o Brasil. Em sua homenagem foi dada a primeira colônia no rio Grande do sul o nome de São Leopoldo. Diga-se de passagem que já em 1818, havia sido fundada por três alemães e dois suíços uma colônia no sul da Bahia, às margens do rio Caravelas, à qual foi dado o nome de Leopoldina. Essa colônia, no entanto dedicada à produção de café, utilizava o trabalho escravo e não representava verdadeiramente um projeto de imigração.
O movimento imigratório de
países de língua alemã, depois da iniciativa bem sucedida da colônia de São
Leopoldo, continuou a se desenvolver com altos e baixos, em diversas regiões do
País, mas com preponderância marcante para as províncias da região sul. Muitos
projetos foram, infelizmente, abandonados pela má escolha do local, pelas
difíceis comunicações, pela baixa qualidade das serras e principalmente pelas
falhas da administração pública na recepção dos emigrantes na organização das
fases iniciais dos trabalhos. O descontentamento gerado por esses casos acabou
por se refletir na imprensa, nas populações e nos governos dos países de origem
dos imigrantes, ocasionando uma redução significativa do fluxo imigratório
nessa metade do século XIX. Felizmente, o sucesso de alguns novos projetos como
Joinvile e Blumenau,
Essa nova estrutura social constituiu a base do rápido
processo de industrialização dos estados do sul do País no século XX e, sem
dúvida nenhuma, explica a renda per capita desses estados bastante superior à
média nacional.
Contribuição muito importante nesse processo foi dada por
diversas colônias que à vista das deficiências do ensino público fundaram
escolas particulares, muitas delas dirigidas por ordens religiosas das igrejas
locais, tanto católicas quanto protestantes. Infelizmente o advento das duas
guerras mundiais no século passado teve uma influência muito negativa na
continuidade dos trabalhos dessas instituições. Uma estimativa do número de
brasileiros descendentes de imigrantes de língua alemã apresenta certamente uma
grande dificuldade em vista da falta de estatísticas adequadas. Podemos, no
entanto, usando métodos de correlação, estimar esse número entre três a três e
meio milhões de pessoas, ou seja, próximo a 2% do total da população
brasileira. Entre esses representantes - e que nos emocionou muito vê-lo na
apresentação das delegações dos vários países nos Jogos Olímpicos de Pequim
como portador da bandeira brasileira - temos Robert Scheidt, já ganhador de
medalhas olímpicas anteriormente e que novamente ganhou uma medalha de prata.
Desde o início do século XIX era bastante
claro que as economias dos países de língua alemã na Europa e a economia
brasileira eram parceiras naturais. Já em 1827 representantes de Bremen, em
Hamburg, depois de cinco meses de negociações, concluíram com o Brasil um
tratado de comércio com a cláusula de nação mais favorecida, igual à concedida à Inglaterra 20 anos antes.
O comércio entre as duas partes cresceu rapidamente e já em 1830, além dos embaixadores
da Áustria e da Prússia e de alguns cônsules, havia junto à corte de D. Pedro I
17 representações comerciais dos estados alemães. Enquanto seus maiores
concorrentes na Europa, Inglaterra e França, abasteciam-se de matérias primas
de suas colônias, os países de língua alemã estavam interessados num comércio
de duas mãos, exportando produtos industrializados e importando produtos
primários que evidentemente era também interesse do Brasil na ocasião.
O comércio bilateral cresceu durante o Século
XIX e no início do Século XX. A Alemanha sozinha já ocupava o segundo lugar no
comércio exterior com o Brasil, tanto na exportação, depois da Inglaterra, como
na importação, pouco abaixo dos Estados Unidos. Para esse sucesso contribuiu
sem dúvida a existência no Brasil de um significativo grupo populacional de
origem alemã. Casas comerciais importadoras, exportadoras foram fundadas por
alemães no Brasil com filiais na Europa e deram uma alta contribuição à
consolidação desse fluxo de comércio.
Infelizmente a 1ª Guerra Mundial, em
1914, interrompeu essa evolução em vista das pressões exercidas pelos países
aliados contra a manutenção do comércio com a Alemanha. Data desse período a
criação das câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, no Rio em 1916, e
Após o término da Guerra, em 1918, o comércio
entre o Brasil e a Alemanha voltou a crescer de forma especial, a partir de 34,
com o Acordo de Moedas entre os dois países. A Segunda Guerra Mundial evidentemente
interrompeu novamente esse desenvolvimento.
O sucesso do programa de reconstrução da
Alemanha do pós-guerra e o processo de industrialização brasileira, que tinha
tido um impulso grande durante a Guerra, e acelerou-se ainda mais durante a
década de 50, criaram novamente as bases para uma profícua parceria. Novamente
a existência de uma comunidade numerosa, fluente na língua alemã, aliada à
complementaridade dos interesses econômicos dos dois países, fez que
significativos investimentos alemães viessem a ser realizados na indústria
brasileira, em particular nos ramos químico, eletroeletrônico, mecânico, e de
forma muito especial no setor automobilístico, atendendo aos interesses do
Governo, de criar uma indústria automobilística nacional.
Hoje existem no Brasil cerca de duas mil
empresas com participação de capitais alemães, austríacos e suíços, num
investimento total superior a 18 bilhões de dólares. Essas empresas empregam
cerca de meio milhão de pessoas. O comércio bilateral entre o Brasil e a Alemanha
aproxima-se dos 16 bilhões de dólares, nas duas direções.
Nesse processo de industrialização, a cidade e
o Estado de São Paulo deram uma enorme contribuição. Depois de uma não muito
bem sucedida tentativa de colonização, em 1829, nas proximidades de Itapecerica,
o sistema de parceria introduzido pelo senador Vergueiro apresentou resultados
positivos com a imigração de suíços e alemães, entre os anos de 1847 e 1855.
O crescimento rápido da cidade de São Paulo na
segunda metade do século XIX já começava a atrair novos imigrantes, e também
imigrantes transferidos de outras regiões. Em 1864 foi fundada a Sociedade
Beneficente Alemã, que até hoje presta bons serviços à comunidade alemã de São
Paulo.
Novas levas de imigrantes chegaram a São Paulo
entre as duas guerras, e depois de 45. São Paulo tem hoje a maior representação
de habitantes originários e descendentes de países de língua alemã no Brasil, à
frente mesmo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Não há nenhuma outra cidade
no mundo com o número de empregados em indústrias de capital alemão, como tem
São Paulo, e aí incluímos qualquer cidade alemã, inclusive Berlim, München,
Hamburg e outras.
Além dessa atividade intensa na área
econômica, devemos destacar que existe um esforço enorme e muito bem sucedido
de colaboração na área cultural. Tanto a cultura alemã vem sendo divulgada com
grande sucesso no Brasil, como a cultura brasileira vem sendo divulgada na
Alemanha. Para isso muitos contribuíram; um grande exemplo é o do Instituto
Goethe, que vem fazendo um trabalho admirável nesse sentido.
É para nós todos aqui presentes hoje uma
satisfação saber que um artista brasileiro, de origem alemã, Heinz Butrick,
teve um dos seus quadros - um excelente artista, por sinal, admirado por todos
nós - instalado aqui nesta Casa. Para nós é uma homenagem e uma honra muito
grande, e agradecemos.
Se
por um milagre de Deus pudéssemos mostrar aos primeiros imigrantes que aqui
chegaram o muito que eles ajudaram a construir, com certeza, eles ficariam
orgulhosos, assim como todos aqui presentes estamos orgulhosos da contribuição
legada por eles para a constituição da nação brasileira que tanto amamos.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE - ROBERTO ENGLER - PSDB - Nós que agradecemos pela
bela aula que nos foi dada.
Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Heinz Peter
Behr, Cônsul Geral da República Federativa da Alemanha.
O SR. HEINZ PETER BEHR - Prezado Deputado e amigo
Roberto Engler, Sra. Úrsula Dormien, Sr. Hermann Wever, Sr. Stefan Von Galen, é
uma honra e, ao mesmo tempo, uma grande alegria para mim, poder estar presente
nestas festividades em comemoração ao Dia da Imigração Alemã.
Este é um dia no qual vocês brasileiros de origem
alemã e alemães aqui presentes se recordam da imigração que faz parte da sua
história e da sua terra de origem. Tudo isso tem a sua razão de ser.
Nós, humanos, somos criaturas culturais e sabemos que
a história também faz parte da cultura. Somos apenas aquilo que é visível aos
olhos dos outros neste momento, mas, na nossa existência atual, somos marcados
pela nossa história, uma parte inseparável de nós.
A Alemanha, os alemães e eu, como representante
daquele país e de seu povo, temos orgulho de fazer parte da história de um
número tão grande de brasileiros. Esse fato cria um laço permanente, e todos
devemos lidar com isso da melhor forma possível.
Nesse sentido, nós, alemães, estamos muito satisfeitos
com os grandes feitos que remetem a nomes de imigrantes alemães no Brasil. Ao
mesmo tempo, sabemos que nem todos imigrantes tiveram sucesso, assim como
sabemos das necessidades e privações pelas quais muitos tiveram de passar.
Hoje é um dia para lembrarmos principalmente das
conquistas. Na minha opinião, todos os senhores que festejam este dia
alcançaram muita coisa. Os senhores e as senhoras devem ter orgulho de seu
passado e podem olhar seu futuro com confiança.
Da minha parte, quero cumprimentá-los por esta festa,
fazendo votos de que o elo com a Alemanha continue existindo, pois consiste em
uma importante contribuição para as boas relações entre o Brasil e a Alemanha.
Prezado Deputado Roberto Engler, peço permissão para
pronunciar algumas palavras em alemão.
* * *
-
Pronunciamento em língua estrangeira.
* * *
O SR. PRESIDENTE - ROBERTO
ENGLER - PSDB - Meus queridos amigos e
autoridades que compõem a mesa; querido cônsul Heinz Peter Behr; querida Úrsula
Dormien; palestrante Hermann Wever; querido amigo Stefan von Galen; quero
rapidamente dizer da satisfação que temos de comemorar mais uma vez, aqui na
Assembléia Legislativa, o Dia da Comunidade Alemã. Já é uma tradição que o
nosso amigo Stefan busca transformar até
Goethe, um dos maiores
escritores alemães, afirmou que a amizade é como os títulos honoríficos: quanto
mais velha, mais preciosa. Que nossa amizade se estenda por muitos e muitos
anos ainda. São os votos que sinceramente faço.
Quero cumprimentar a todos,
agradecer o empenho do meu amigo Sefan von Galen, sem o qual este dia não seria
tão perfeito. Sua dedicação à causa é algo que nos deixa emocionados.
Mas, nos primeiros
anos no Brasil, ainda tivemos o prazer de receber outro alemão que contribuiu
para a nossa história. São de Hans Staden alguns dos principais textos da nossa
Literatura Quinhentista. Portanto, com descrições pormenorizadas dos primeiros
momentos no Brasil. Se Meister Johann registrou o nascimento, outro alemão,
Hans Staden, contemplou a infância brasileira.
A característica principal dos
alemães, não só dos que vieram ao Brasil, sem dúvida alguma é o
empreendedorismo, que já foi abordado aqui. O perfil de quem chegava era o de
construir, de adicionar, de colaborar. O perfil que contribuiu de maneira
fantástica no desenvolvimento do nosso País, e o Brasil tem que agradecer essa
contribuição tão maravilhosa. Portanto, valiosas contribuições chegaram no
momento em que o bebê de Johann e a criança de Staden buscavam chegar à
maioridade. É uma história de contribuições: nascimento, infância, maioridade.
Há vários nomes, que não sei se os lerei corretamente: Scherer, Fisher, Köll,
Scheidt, Lorscheider, Bresser, Hammer, Johannpeter, Hummes, Engler... esse nem
tanto.
Assim, amigos e amigas, render
homenagens, reconhecer, louvar e preservar. São ações necessárias e, acima de
tudo, são ações meritórias, ações que hoje executamos aqui.
É uma honraria irmanar e ombrear, lado a lado, junto a vocês,
considerados nossos amigos. Que a originalidade alemã seja sempre cultuada e
mantida nessa união absolutamente bem sucedida entre a Alemanha e Brasil!
Obrigado. (Palmas.)
Amigos, esgotado o objeto da presente sessão, antes de
encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades elencadas, aos
funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o
êxito desta solenidade. Esta Presidência os convida também para um coquetel no
Hall Monumental.
Está encerrada a sessão.
* * *
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Encerra-se a sessão às 21 horas e sete minutos.
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* *