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02 DE SETEMBRO DE 2005

042ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À “ABDC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS PARA CEGOS”

 

Presidência: RAFAEL SILVA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 02/09/2005 - Sessão 42ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: RAFAEL SILVA

 

HOMENAGEM À ABDC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS PARA CEGOS

001 - RAFAEL SILVA

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a  finalidade de homenagear a ABDC - Associação Brasileira de Desportos para Cegos. Convida todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional. Apresenta um histórico da ABDC.

 

002 - LARS GRAEL

Secretário da Juventude Esporte e Lazer, neste ato representando o Governador do Estado de São Paulo, fala de seus esforços em prol do para-desporto e da necessidade de conscientização e respeito do direito do deficiente.

 

003 - Presidente  RAFAEL SILVA

Agradece à TV Globo e à autora de novelas Glória Perez pela novela que dá destaque a personagens deficientes, levando para o povo brasileiro uma imagem positiva do cego.

 

004 - DAVID FARIAS COSTA

Presidente da ABDC, expressa sua alegria em perceber que o desporto brasileiro é uma força única, sem o desporto paraolímpico de um lado e o desporto olímpico de outro. Coloca a prática esportiva como elemento de facilitação da integração social do deficiente. Apresenta os desafios, propósitos e metas de sua entidade.

 

005 - Presidente RAFAEL SILVA

Comenta a biografia de Helen Keller, cidadã americana que ficou cega e surda na infância e chegou a escrever livros e dar palestras. Expõe as dificuldades que enfrentou na carreira política por ser deficiente visual. Enaltece o trabalho da ABDC, que faz o cidadão comum entender que o deficiente tem plenos direitos de participação. Agradece a todos que colaboraram para o êxito da solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PL - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PL - Esta Presidência dá por aprovada a Ata da sessão anterior e comunica que esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Rodrigo Garcia, a pedido deste parlamentar.

Passamos a anunciar os componentes da Mesa: Sr. Secretário Lars Grael, secretário da Juventude Esporte e Lazer, neste ato representando o Governador do Estado de São Paulo, Exmo. Sr. Geraldo Alckmin; Sr. Benedito Franco Leal Filho, conhecido como Neno, vice-Presidente da Associação Brasileira de Desporto para Cegos - ABDC; Sr. David Farias Costa, Presidente da ABDC; Sr. Maurício Camargo Lima, do vôlei, o grande atleta, campeão, que também nos honra com a sua presença; Sr. Francisco de Lagos Viana, Secretário de Esportes de Campinas, que está presente para abrilhantar este evento.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro 1º Tenente Músico PM Elias Batista do Nascimento.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PL - Esta Presidência agradece ao Maestro Elias Batista do Nascimento e aos componentes da Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que sempre estão presentes nos eventos desta Casa. Muito obrigado.

Solicitamos à nossa assistente do Cerimonial, Fátima, para que faça a leitura do histórico da ABDC, Associação Brasileira de Desporto para Cegos.

 

A SRA. FÁTIMA - Sr . Presidente, antes de ler o histórico, gostaria de registrar a presença do 1º Tenente Músico PM Elias Batista do Nascimento; do Sr. Geraldo Pinheiro da Fonseca Filho, assessor jurídico da Associação Brasileira de Desportos para Cegos - ABDC; do Sr. Mário Sérgio Fontes, fundador da ABDC e coordenador nacional de futebol; do Sr. José Francisco Vidotto, Presidente da Atradef, Associação Trabalhista de Defesa dos Direitos e Interesses das Pessoas com Deficiência; do Sr. Ricardo Gomes, da Studio Marketing, consultor de marketing da Associação Brasileira de Desporto para Cegos; do Sr. Gabriel Garcia, neste ato representando o Deputado Antonio Salim Curiati; e do Sr. Eduardo Graziano, da Objetiva Eventos, empresa organizadora dos jogos.

“A História

A criação de uma organização que pudesse coordenar o esporte para cegos no Brasil surgiu desde o início da década de 80. Uma demanda surgida de entidades de cegos, integrantes do movimento de luta por seus direitos de cidadãos, que já possuíam equipes esportivas e participavam de competições organizadas por entidades de outras áreas de deficiência.

Amadurecida a idéia, em 19 de janeiro de 1984, em uma sessão do então Conselho Nacional de Desportos - CND, ocorreu a assembléia de criação da Associação Brasileira de Desportos para Cegos - ABDC.

As instituições, consideradas pioneiras do movimento, que participaram dessa reunião foram as seguintes: Centro Desportivo de Deficientes do Estado do Rio de Janeiro - Cedeverj, RJ; Serviços de Assistência São José Operário - Sasjo, Campo dos Goitacazes-RJ; Associação dos Deficientes do Paraná - Adevipar, Curitiba-PR; União de Cegos Dom Pedro 11 - Unicep, Vitória-ES; Sociedade Luis Braile - Selb, Vitória-ES e Associação Catarinense para a Integração do Cego - Acic, Florianópolis-SC.

Os primeiros escolhidos para a presidência da ABDC foram Aldo Micolis (presidente) e Mário Sérgio Fontes (vice-presidente), com mandatos provisórios até as eleições da gestão inicial em agosto de 1988, quando Vital Severino Neto e Mário Sérgio foram eleitos. Em 1991, César Antônio Gualberto ficou responsável pela nova presidência, mas em dezembro de 1992 renunciou ao cargo. Em março de 1993 foi nomeada uma comissão provisória que ficou à frente da organização.

Em assembléia, no mês de agosto de 1993, Vital Severino Neto foi eleito presidente e Mário José Ferreira vice-presidente. Três anos depois, Vital foi reeleito presidente e David Farias Costa passou a ocupar a vice-presidência.

A atual estrutura administrativa da ABDC, composta por David Farias Costa (presidente) e Benedito Franco Leal Filho (vice-presidente), tomou posse no início de 2001 para o primeiro mandato, sendo reeleita em 2005 para gestão da ABDC até 2009.

A ABDC tem como objetivos:

·      Massificar a prática esportiva de cegos e portadores de baixa visão em todo o Brasil.

·      Desenvolver o desporto de rendimento, buscando resultados internacionais.

·      Fomentar e desenvolver o desporto escolar, despertando interesse pela prática esportiva e diagnosticando talentos potenciais.

·      Garantir e exercer a representatividade nacional e internacional.

·      Contribuir na formação do atleta cidadão.

·      Envolver a família e a sociedade em geral .

·      Qualificar profissioanais das áreas técnicas e administrativas.

·      Divulgar o desporto praticado por atletas cegos e deficientes visuais.

Hoje a ABDC conta com mais de 2.500 atletas registrados e 87 entidades filiadas de praticamente todos os estados do Brasil.

Filiada à International Blind Sports Federation - IBSA e ao Comitê Parolímpico Brasileiro - CPB, a ABDC alcançou posição de destaque no esporte de cegos em todo o mundo. Além de realizar diversos campeonatos internacionais da IBSA, a ABDC possui em seus quadros atletas que brilham no esporte paraolímpico, com expressivos resultados internacionais.

Na brilhante participação brasileira na paraolimpíada de Atenas em 2004, os atletas da ABDC conquistaram 18 das 33 medalhas trazidas para o nosso país.

Tri-campeão da Copa América, bi-campeão mundial e campeão paraolímpico de futebol de salão de cegos, campeão geral dos III Jogos Pan-americanos da IBSA, realizados em Spartamburg/EUA, em 2001, tendo conquistado 3 medalhas de ouro, 5 de prata e 8 de bronze, a ABDC alcançou o 13º lugar nos II Jogos Mundiais da IBSA, em 2003, na cidade de Quebec, Canadá, maior evento do esporte de cegos no mundo. Quinto lugar no ranking mundial de judô, com 4 medalhas em Atenas, campeão da Copa da Coréia de Futebol em Seul/ Coréia, 2002, conquistando medalhas de ouro na natação em Sidney e Atenas e potência internacional no atletismo, a ABDC representa com dignidade e brilhantismo o Brasil, levando, em muitas ocasiões, a nossa bandeira ao ponto mais elevado, quando os olhos de todos, com orgulho, se enchem de lágrimas, fruto das vitórias e da superação de limites.”

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PL - Esta Presidência agradece à Fátima, do Cerimonial, como a todo o pessoal do Cerimonial, pelo trabalho competente que desenvolve em eventos importantes como este. Agradecemos também à TV Assembléia, que está cobrindo este evento. Tudo o que for dito nesta sessão solene será publicado no “Diário Oficial” do Estado de São Paulo. Esta é uma sessão oficial da Assembléia Legislativa e entrará para a história desta Casa de Leis.

Quero agradecer a presença do Secretário Lars Grael. Não a presença do Secretário, mas do cidadão Lars Grael, do atleta, do vencedor quando disputava uma competição, como do vencedor da vida, dos obstáculos, das dificuldades; do homem que tem uma dignidade acima de tudo e que está presente nos principais acontecimentos, principalmente quando dizem respeito aos portadores de deficiência.

Se o esporte perdeu a participação de Lars Grael, a cidadania ganhou. O povo ganhou, o Estado ganhou. A dignidade deste povo que precisa de uma atenção especial foi fortalecida. Passamos a palavra ao Secretário Lars Grael e mais uma vez agradecemos a sua participação.

 

O SR. LARS GRAEL - Muito obrigado, Ilmo. Deputado Estadual Rafael Silva, Presidente desta sessão solene. Queria agradecer a V. Exa. pela oportunidade e pelo gesto cívico de reconhecimento, de dignificar o esporte paulista e o esporte brasileiro através da sua propositura em realizar hoje esta sessão solene, homenageando a Associação Brasileira de Desporto para Cegos.

Vossa Excelência vem demonstrando um compromisso e um comprometimento com a causa do esporte paulista, sobretudo com a causa da ABDC, que muito nos motiva a continuar nesta luta, no fomento a esta causa da inclusão através do esporte, da ressocialização, do incentivo a nossa juventude através dos valores cívicos, éticos e morais que o esporte representa. Então agradeço muito em nome da Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer pela sua atitude.

Queria também registrar aqui a presença do Deputado Estadual José Carlos Stangarlini; do Sr. Secretário de Esportes e Cultura de Campinas, Francisco Viana, que veio abrilhantar e prestigiar esta cerimônia; saudar o Presidente da ABDC, meu nobre amigo, lutador, David Farias Costa, a quem todos nós devemos o momento que vivemos aqui hoje; o Sr. vice-Presidente, Benedito Franco; a presença de atletas, alguns membros da Comissão Nacional de Atletas, que tenho hoje a honra de presidir; Mário Sérgio Fontes, que representa a alma, a história, a defesa da causa do desporto para cegos; meu companheiro Misael, grande atleta. E em nome de vocês agradecer a todos os para-atletas presentes que estarão representando o Brasil nesses IV Jogos Pan-Americanos para Cegos. E também registrar aqui a presença de um outro atleta que recentemente deixou as quadras depois de dignificar o Brasil com inúmeros títulos internacionais, dentre eles a rara conquista de duas medalhas de ouro olímpicas, nosso ídolo e atleta Maurício.

Senhoras e senhores, o comprometimento com a causa do para-desporto e do desporto para cegos veio em minha vida ao longo do tempo. Em primeiro lugar, porque eu competia no âmbito olímpico e morava em uma cidade onde surgiu o Comitê Paraolímpico Brasileiro. Morei anos em Niterói. Passava pela porta daquele comitê e confesso que no início nem sabia o que significava paraolímpico, tamanha a nossa indiferença em relação à causa. Ao longo do tempo, conheci alguns dirigentes, como o João Batista, a Tânia, o Alaor e tantos outros que foram explicando o que significava e a proposta do esporte paraolímpico.

O destino quis que eu tivesse um compromisso maior, físico, com a causa. Pouco tempo depois fui surpreendido e convidado para integrar o Ministério do Esporte e Turismo, em princípio de 99. Aí, sim, conheci o Vital Severino Neto, hoje Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, o David e esse trabalho maravilhoso que vocês empreendem e representam.

Foram quatro anos de experiência no Governo Federal, onde pude conviver bem e fomentar o desporto para cegos, o apoio com convênios junto à ABDC. Conhecemos também um outro projeto e tivemos a chance de colocá-lo em dimensão nacional, o projeto Pintando a Liberdade, do qual Mário Sérgio foi um dos criadores e idealizadores junto ao Roberto Canto, no Paraná.

Ali surgiu, então, a nossa fábrica de bolas com guizo para o futebol de cegos, bola essa que mais tarde conseguimos certificar com qualidade Inmetro e exportá-la para vários países, apoiando o desporto para cegos internacionalmente quando a bola foi conhecida como bola oficial da IBSA. Foram quatro anos de boa experiência com a causa da ABDC.

Mais tarde, fui honrado com um convite do Governador Geraldo Alckmin para retornar a minha terra natal, São Paulo, e prestar uma outra contribuição, assumindo a Secretaria Estadual da Juventude, Esporte e Lazer. Logo notei que fazíamos pouco em favor da causa do paradesporto e da causa do desporto para cegos, conseqüentemente.

Logo conseguimos um acesso dos representantes da ABDC e do paradesporto no Conselho Estadual do Desporto. Começamos num fomento e, através de convênios, as entidades de esporte para cegos aqui em São Paulo, do Antônio Tenório, do David e outros companheiros. Garantimos a inclusão do paradesporto em competições de jogos regionais, Jogos Abertos do Interior. Tivemos também a honra de sediarmos aqui em São Paulo, no Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, aqui ao lado da Assembléia, o Campeonato Brasileiro de Atletismo e Natação Paraolímpicos, em 2003.

Ainda naquele ano, no segundo semestre, fizemos um evento de mobilização, de conscientização nacional em parceria com uma outra figura humana, meu amigo, por quem tenho o maior respeito, que criou uma proposta chamada Somos Todos Brasileiros. Ele organizou, em outubro de 2003, um evento aqui no Ginásio do Ibirapuera que foi fantástico. Marcos Frota, que hoje, através de seu personagem Jatobá, muda todo um conceito da sociedade com relação à causa dos cegos: não mais ter apenas o preconceito, não mais ter a pena, mas respeitar a inclusão, o papel que o cego representa na sociedade. Esse papel que ele representa hoje é altamente convincente porque Marcos Frota seguiu com esse ímpeto, como tem também com relação à promoção da atividade artística circense. Quer realizar aqui em São Paulo mais uma vez esse evento Somos Todos Brasileiros agora em 2005.

No ano passado, tivemos a honra de sediar também aqui em São Paulo os I Jogos Paraolímpicos do Brasil. Foi uma ampla parceira com a ABDC e com o Comitê Paraolímpico Brasileiro, jogos que foram seletivos para a as Paraolimpíadas de Atenas, paraolimpíadas essas que dignificaram o Brasil com 33 medalhas, das quais 18 oriundas dos deficientes visuais da ABDC, o que demonstra o trabalho sério empreendido por essa entidade.

Demos uma pequena dose de contribuição, como disse, nesse fomento às competições, na eliminatória, no patrocínio a alguns atletas através de empresas estatais em São Paulo, porque conseguimos o apoio, como é o caso da Sabesp e do Banco Nossa Caixa.

E chegamos, hoje, ao apogeu do fomento ao desporto para cegos, que é a realização dos IV Jogos Pan-americanos da International Blind Sports Association, a IBSA, e da ABDC. É um evento de grande relevância, de uma magnitude fantástica, que nos permite sonhar com a captação da realização dos jogos mundiais da IBSA para um futuro próximo.

Segundo me disse o David Farias Costa, temos aqui a presença de 22 representações de países, cerca de 600 atletas, ao mesmo tempo a realização da Copa do Mundo de Judô para cegos. A Secretaria se sente honrada de poder realizar um convênio com a ABDC, com o repasse de recursos da ordem de 600 mil reais para a realização desse evento. A abertura solene desse evento será no próximo domingo, junto ao pavilhão da Anhembi Turismo. Temos também o apoio importante da Prefeitura de São Paulo, do Secretário Municipal Heraldo Correia, do Presidente da SPTur, Caio Luiz de Carvalho. Teremos também a presença do nosso Governador em exercício, que é o atual vice-Governador, Cláudio Lembo.

Portanto, David, quero reafirmar o nosso compromisso e o nosso apoio em defesa da causa do portador de deficiência. Como disse a você ontem, o esporte tem um papel fundamental a cumprir.

Mas há uma conscientização que temos de empreender em todo o estado, em todo o país. Neste sentido, recebemos uma aula e me tornei talvez um pouco mais cidadão, quando nesta semana tivemos uma palestra no auditório da Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer.

Convidamos um procurador da República que conheci até em circunstância adversa, em Brasília, que disse que embora a legislação brasileira vigente em defesa da causa do deficiente seja vasta, completa, embora também esteja de acordo com o Estatuto do Deficiente, não aceita jamais a premissa de que num país que tem um código de leis tão vasto - às vezes contraditório e conflitante - possa permitir que a lei em defesa de nós, deficientes, possa ter aquela interpretação de lei que pega e de lei que não pega.

Então, esteve lá o Guilherme Schelb, vindo de Brasília, acompanhado da Deputada Marinha Raupp, relatora do Estatuto do Deficiente, explicando toda a origem da questão da legislação vigente no Brasil e o papel do Ministério Público, bem como o papel da Procuradoria da República e de todos nós, cidadãos, para garantirmos que os nossos direitos sejam exercidos.

Portanto, acredito que esta Sessão Solene vem consagrar o esforço dessa causa de uma entidade que tem história, que tem um passado de honra e um presente brilhante, com a realização dos Jogos Pan-americanos.

Obrigado a todos vocês e até domingo na cerimônia da abertura. Bom-dia e bons ventos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PL - Esta Presidência agradece ao Secretário Lars Grael. Depois de tudo que ele disse esta sessão até poderia ser encerrada. Realmente ele fez um relato de tudo com muita capacidade.

Para nós, ele não é apenas um Secretário - se bem que um secretário não é apenas, secretário é muito importante. Além de ser um secretário ele é um cidadão fantástico. É um ser humano que tem condições plenas para ocupar qualquer cargo dentro deste país, por sua capacidade, por sua serenidade, por tudo o que realmente ele tem e por tudo que ele conquistou em termos de crescimento intelectual - crescimento moral, não digo que ele teve acréscimo porque ele deve ter nascido com tudo isso, realmente já faz parte da existência dele.

Portanto, Secretário Lars Grael, que hoje inclusive representa o Governador Geraldo Alckmin nesta solenidade, o nosso agradecimento por sua presença, por sua dignidade, por seu trabalho em favor do jovem, em favor do esporte e em favor do portador de deficiência. Obrigado, Secretário.

Muitas pessoas aqui presentes poderiam usar a palavra. Temos a presença do Geraldo Pinheiro, um advogado brilhante, deficiente visual, que faz parte da entidade Dorina Nowill, e que dá assessoria à ABDC. Ficamos contentes com a presença dele nesta solenidade e também do Neno, que é o Benedito Franco.

Temos também a presença do Maurício, do vôlei, que é um atleta vencedor, um símbolo nacional, um exemplo para o jovem que sonha um dia fazer parte de um grupo de vencedores. Este país tem problemas, mas tem gente boa, como o Maurício, que representa a esperança, que é um exemplo. Realmente, esta solenidade se enriquece muito com essas presenças e com a presença das demais pessoas que aqui foram relacionadas.

Quero falar um pouco sobre a Glória Perez. O Brasil está vendo pela televisão a valorização do cego. Existe um preconceito cultural contra o portador de deficiência. Não é um preconceito maldoso.

Fiquei cego aos 41 anos - hoje tenho 60 anos - e conheço muito bem os dois lados. Conheço a realidade de quem enxerga e vê o cego e conheço a realidade do cego. Conheço muito bem porque estou vivendo essa realidade.

Nesse sentido, o personagem Jatobá, vivido pelo ator Marcos Frota na novela da Glória Perez, está levando para o povo brasileiro uma imagem positiva do cego. A Flor, vivida pela atriz Bruna Marchesini, uma menina que realmente tem muito talento, com a sua participação de amor, de carinho, valoriza a criança deficiente. Isso tudo representa uma esperança maior. Portanto, a Rede Globo está de parabéns pela novela América.

O Dudu Braga, filho do Roberto Carlos, também participa da novela. Roberto Carlos, o grande cantor da Jovem Guarda e talvez o maior nome brasileiro em termos de música popular, talvez de todos os tempos ou um dos maiores. E o seu filho hoje faz parte do elenco da novela América, que também com muita sensibilidade procura valorizar o portador de deficiência. O nosso agradecimento ao Dudu Braga, Marcos Frota, Bruna Marchesini. À Glória Perez a nossa homenagem e o nosso reconhecimento. O nosso agradecimento também à TV Globo, que deu espaço para que tudo isso pudesse acontecer. O cego brasileiro e todas as pessoas que têm sensibilidade agradecem realmente a Glória Perez e a esse pessoal todo.

Passaremos agora a palavra ao David Farias Costa, amigo antigo e que representa o lado positivo do cego, que também tem seus problemas, mas tem seus exemplos. E Davi é um desses exemplos.

 

O SR. DAVID FARIAS COSTA - Bom-dia a todos. Eu gostaria inicialmente, em nome do desporto de cegos do Brasil e em nome da ABDC, de agradecer carinhosamente ao Deputado Rafael Silva.

Conversava com ele sobre aspectos de alguns momentos e eu dizia que ele põe paixão e alma nas coisas que faz. Isso é muito importante. O mundo hoje anda muito frio e as pessoas não têm tanto sentimento.

Não diríamos que o Deputado Rafael Silva é somente um amigo da causa. O Deputado Rafael Silva faz, acima de tudo, parte da causa. O movimento do Desporto de Cegos e, mais do que isso, o Movimento de Cegos do Brasil são gratos por esta oportunidade. É um momento histórico que ficará, sem dúvida, registrado dentro de nós e junto ao Movimento de Cegos do Brasil.

Mais uma vez, agradeço por tudo. O Secretário Lars Grael já não se encontra conosco porque precisou se ausentar, mas ficamos superfelizes em poder contar, além do secretário, com o amigo Lars. Temos liberdade para chamá-lo de Lars, nos desprendendo dos aspectos formais que envolvem a sua função e a nossa relação institucional. O mais bonito é que a humildade que muitas vezes falta nas pessoas sobra na figura do Lars, que cuida dos atletas, desde as pessoas mais humildes às mais relevantes em função de cargos. Sentimo-nos muito honrados em poder ter contado com a presença do Lars. Agradecemos pelas suas palavras.

Através dos nossos amigos do ABDC aqui presentes, Neno, Geraldo, Ricardo, Gabi - é perigoso citarmos nomes porque podemos deixar de citar todos, fazemos referência a toda equipe e às pessoas que não puderam estar conosco hoje, mas que são extraordinariamente significativas. Maurício, foi uma grata e boa surpresa tê-lo conosco. Nós ficamos superfelizes. O Maurício, além de ter sido sempre um grande atleta, altamente capacitado dentro das quadras de vôlei, é também uma grande pessoa fora de quadra.

Algo que nos deixa muito felizes é o fato de percebermos cada vez mais que o esporte brasileiro é uma força única. Não existe o esporte paraolímpico de um lado e, de outro lado, o esporte olímpico. Somos o esporte brasileiro, uma representatividade do Brasil através da gestão, da prática esportiva e do segmento que envolve essa área. Nós somos uma única força e isso nos deixa muito felizes.

Gostaria de fazer uma menção especial aos nossos atletas e equipes aqui presentes. Ao futebol, campeão paraolímpico, um futebol de grandes conquistas e de grandes desafios. O futebol é capitaneado pelo nosso amigo Mário. Sempre digo que Mário e Vital são eternos professores para mim e para outros colegas, dirigentes das entidades que fundaram o ABDC, que foram iluminados e traçaram o caminho. E hoje nos cabe a honrosa missão de trilhar esse caminho. Portanto, uma menção muito especial a nossa equipe do futebol.

À equipe também de golbol que, apesar de ter um longo histórico junto à Paraolimpíada, é um esporte específico desenvolvido para o deficiente visual. Podemos considerar que o desenvolvimento do golbol no Brasil é recente em relação aos demais países do mundo que praticam esse esporte. Diria do fundo do coração a esses atletas de golbol que esse é um projeto vencedor.

Um projeto é vencedor não somente pelas conquistas, pela qualificação à paraolimpíada ou pelas conquistas nos jogos Pan-americanos, mas, acima de tudo, pelos desafios e dificuldades que tivemos, enfrentamos e superamos. Não poderíamos deixar de citar isso neste momento tão importante. O golbol e o futebol, sem dúvida, representam a superação de limites em torno do nosso esporte.

Gostaria de pedir a todos uma salva de palmas aos nossos esportes e às nossas modalidades. (Palmas.)

Diria ainda que, sem dúvida nenhuma, este é um momento que nos leva a uma grande e profunda reflexão. Temos que entender que este momento tem um significado muito maior do que uma homenagem que está sendo prestada a uma pessoa jurídica, a uma instituição que tem 21 anos.

Acima de tudo, é fundamental que sempre consigamos fazer uma conexão entre essas situações pontuais, essas situações específicas, de tamanha relevância, como um todo, para o processo que envolve todos os aspectos do portador de deficiência, neste caso, visual, mas sem dúvida nenhuma, todos os aspectos de superação de limites que envolvem os portadores de deficiência e aqueles grupos, aos quais chamamos grupos minoritários, que enfrentam uma série de dificuldades para conseguir o seu espaço social. Sempre dizemos o quanto é importante a prática esportiva, a atividade física enquanto ferramenta para abrir caminhos para superarmos os grandes desafios.

Atualmente temos na ABDC 87 entidades, quase 2.500 atletas. Todas as pessoas que militam no esporte buscam a sua cidadania. Sabemos dos desafios - hoje, felizmente, muito menos, o quanto já foi difícil conseguir superar a superproteção familiar, acessar escola, acessar o mercado de trabalho, sermos vistos com naturalidade num restaurante, num ambiente, enfim, nos diferentes grupos sociais dos quais as pessoas sem deficiência fazem parte.

É muito importante que nós, cada vez mais, utilizemos a ferramenta do esporte como elemento de facilitação da nossa integração social. Às vezes, as pessoas pensam: “Quem faz esporte é um determinado segmento, é uma determinada elite, é um determinado grupo que tem um certo privilégio de oportunidades, que nasceu com biotipo para ser atleta.” Não é isso. Falamos no histórico sobre a questão da massificação, o acesso à prática esportiva enquanto direito, inclusive.

Sentimo-nos muito honrados de estar nesta Casa, no Palácio 9 de Julho, que é a Casa Legislativa do Estado de São Paulo. É muito importante que consigamos ter a percepção de que por trás dessas 18 medalhas paraolímpicas, por trás de todas essas conquistas, existe muita luta.

Tomamos a liberdade de citar o exemplo do nosso amigo Misael. Ele mesmo citou as vezes que teve que fugir de casa para jogar futebol. Ou seja, é o sonho, é o desejo de, à sua maneira, poder acessar o esporte, assim como temos os grandes atletas.

Por isso, mais uma vez reverenciamos como extremamente positiva a presença aqui de dois grandes ex-atletas olímpicos, o Lars e o Maurício, para que a sociedade, de maneira geral, perceba que tão importante quanto as conquistas olímpicas são as conquistas paraolímpicas.

O nosso objetivo, a nossa obrigação, o nosso compromisso é o de estender a nossa prática esportiva para qualquer portador de deficiência visual que queira fazê-lo.

Foram grandes desafios, grandes conquistas. Neste momento, que nos deixa muito felizes, além de estarmos neste evento extraordinário, estamos iniciando os IV Jogos Pan-americanos - que trazem a II Copa Mundial de Judô, a Copa América de Futebol, o Pan-americano de Xadrez, um evento maravilhoso, mas que tem em torno de si um grande objetivo: é um teste para a realização dos III Jogos Mundiais São Paulo 2007.

O que queremos é que esses eventos sejam vistos como oportunidade de visibilidade não só para o esporte para cegos, não só para a ABDC e para os atletas, mas acima de tudo que as pessoas que são portadoras de deficiência visual possam pegar carona e nos ajudar a mostrar para a sociedade que temos direitos de acesso à cidadania, à escolaridade, à empregabilidade. Temos que nos fortalecer cada vez mais. Essa é a grande estratégia.

Gostaria de convidar todos para estarem conosco nesses projetos, nesses desafios. A ABDC, neste momento tão importante e significativo, tem a missão de buscar a consolidação da sua estrutura. Certamente somos passageiros, mas a ABDC enquanto instituição e o desporto de cegos enquanto movimento, não tenho dúvida nenhuma, de que são realidade. Diria que, não por mérito somente de quem está à frente da ABDC neste instante, mas por todo o movimento, por todas as pessoas - técnicos, atletas, e entidades, esse sonho já é uma realidade.

Cada vez mais, temos que ter a ambição sadia, a ambição da busca da auto-sustentação. Sabemos que hoje, no Brasil, temos muito mais apoio do que se tinha antes. O Secretário Lars Grael citou o apoio do Governo do Estado. Hoje as instâncias de poder, o estado brasileiro faz a sua parte. Do município de São Paulo está aqui conosco a Ana Zulf, da Secretaria Municipal de Esportes, onde temos nosso amigo Heraldo Correia, e o Alexandre da Ceped, da Secretária Mara Gabrilli, que é a secretária que trata, no âmbito do município, da secretaria específica de articulação de assuntos de interesse da pessoa portadora de deficiência, o Ministério do Esporte.

Mas precisamos trazer a iniciativa privada. E a gente faz questão de mencionar os apoios que temos recebido, porque acho que quem vem junto tem que ser valorizado. No caso dos Jogos Pan-Americanos estamos contando com o apoio do Bradesco, da Gol, da Máster, do Hospital CEMA. Ou seja, essas organizações, essas empresas que já estão participando, que têm apoiado outros projetos de outras organizações têm que ser valorizadas sim, têm que ser enfatizadas. Porque na verdade, como a TV Record, por exemplo, são empresas que acabam sendo pioneiras. Acho que é muito importante porque, no momento em que a sociedade civil composta pelo Poder Público, pela iniciativa privada, todos fizerem sua parte, os segmentos minoritários, aqueles segmentos que recebem menos apoio serão mais valorizados, vão alcançar seu lugar ao sol de uma forma muito mais rápida. Saibam vocês que este é um momento para nós muito emocionante do qual certamente jamais vamos esquecer.

Gostaria também de agradecer a todos os Deputados desta Casa, que certamente são companheiros do Deputado Rafael Silva, da Deputada Célia Leão, que são portadores de deficiência, aos outros Deputados que têm apoiado as diferentes iniciativas que envolvem os interesses dos deficientes visuais, os interesses dos portadores de deficiência de maneira geral e os interesses dos menos favorecidos.

Mais uma vez, gostaria de agradecer a presença de todos, agradecer pela oportunidade e agradecer acima de tudo a Deus pela oportunidade, e pedir a Ele que sempre nos dê a humildade, para que Ele nos dê a luz necessária para conseguirmos cumprir sempre dignamente a nossa missão, lembrando que quebrar limites é o nosso esporte. Muito obrigado, bom dia a todos.

 

O SR. PRESIDENTE - RAFAEL SILVA - PL - O David tem uma história de vida em favor do deficiente. Realmente é uma pessoa que tem toda a sensibilidade e tem muita vontade. Ele coloca essa vontade acima inclusive de suas condições físicas; de repente o David está chegando em Ribeirão Preto, para o encontro, para participar na abertura de jogos de cegos. Ele está chegando em Ribeirão Preto com chuva, de repente ele fala do aeroporto, preocupado que atrasou o vôo, “mas daqui a pouco estou aí,”. Quer dizer, chega lá e depois sai correndo para outro compromisso, ele se desdobra para estar presente, para valorizar o cego, com esta vontade, com esse carinho.

Com o Misael mantivemos muitos contatos, David, e desde o início do meu trabalho aqui na Assembléia eu tenho sentido essa vontade da valorização do cego. O Vital, o Mário Sérgio, a eles, a esse pessoal todo que representou o início da ABDC também a nossa homenagem. Você falou do Maurício, o Maurício está aqui. Ele não precisava estar aqui. Mas ele está. Por quê? Ele não é apenas um atleta. É um cidadão, é uma pessoa fantástica e que vê a dificuldade daquele que não tem as mesmas condições físicas.

Foi falado aqui sobre a Secretaria Municipal de Defesa do Deficiente. O Prefeito José Serra está realmente fazendo um trabalho magnífico. Essa é uma secretaria enxuta, uma secretaria que veio para valorizar o portador de deficiência. Rendemos a nossa homenagem à Secretária, ao pessoal que dá apoio a toda essa estrutura e ao Prefeito José Serra, que tem vontade de valorizar o deficiente e está valorizando cada vez mais.

Helen Keller nasceu em 1880 nos Estados Unidos; morreu em 1968 com 88 anos de idade. Com um pouco mais de um ano ela teve um problema sério de saúde e ficou cega e surda. Até os sete anos ela se comportava como um animal irracional, não via, não ouvia, não tinha nenhum contato com o mundo exterior. Alimentava-se com as mãos, não tinha condições de entender o que se passava fora do seu interior. Seus pais contrataram Anne Sulivan, uma professora que tinha deficiência visual mas enxergava um pouco e deixaram Helen Keller com Anne Sulivan, sonhando pelo menos com um pouco de crescimento daquela menina. Mas não foi um crescimento que aconteceu, e sim um milagre.

Quando eu enxergava, tive a oportunidade de assistir num teatro em Ribeirão Preto a uma peça chamada “O milagre de Anne Sulivan”.

Helen Keller teve a oportunidade de estudar nos Estados Unidos, de se desenvolver, de escrever livros e de fazer palestras. Lembro-me de um livro antigo da enciclopédia Barsa que trazia a fotografia de Helen Keller ao lado de um Presidente americano. Ela teve a oportunidade de crescer, de estudar em escolas especiais. Cito sempre o que Rui Barbosa falou: tratar a desiguais com igualdade é desigualdade flagrante.

Fui candidato a vereador em Ribeirão Preto pela primeira vez e naquele momento a deficiência visual trazia um preconceito maior do que hoje. Não é um preconceito maldoso, David, é preconceito cultural. Mas como é que um cego vai ser Vereador em Ribeirão Preto, uma cidade grande, conservadora?

Eu saía pelas ruas e até algumas ofensas aconteciam. Mas eu conhecia a força, a luz divina que existe dentro de todo mundo e falava para Clara, minha esposa: “vamos enfrentar as dificuldades”. Nós temos um objetivo. E vencemos a primeira eleição. Quando venci a primeira eleição - naquele tempo a eleição era em 15 de novembro e a posse em 1º de janeiro - falei: “Clara, eu quero ser Deputado estadual”. A minha família falou: “Nossa, enlouqueceu!”

O Brasil não tinha, então, Deputado cego em nenhum de seus estados, ou seja, para a realidade daquele momento era impossível. E realmente foi duro. Fiquei oito anos como vereador lutando para ser Deputado estadual sem dinheiro, mas com trabalho. Como vereador eu tive de produzir mais, muito mais do que um vereador que enxergava, porque as pessoas ficariam de olho: “E aquele cego, será que vai fazer alguma coisa?”

Fui vereador por oito anos. Estou no terceiro mandato de Deputado estadual. Mas tive, David, a oportunidade de aprender até os 41 anos de idade e agora conheço as duas realidades. E quando encontro um movimento como este para valorizar o portador de deficiências, fico feliz, muito feliz. Por isso é que falei do José Serra, por essa sensibilidade que ele tem em valorizar o deficiente.

Tenho um projeto tramitando nesta Casa que cria a Secretaria Estadual de Defesa do Portador de Deficiência. Seria uma secretaria enxuta, para dar apoio logístico, para poder dar assistência inclusive em relação a elaboração de leis.

Entendo que o deficiente, quando tem oportunidade, supera obstáculos. O que vocês estão fazendo, David - e eu citei o nome dessas pessoas que lá atrás, 21 anos atrás, acreditaram nisso tudo - serve para dar ao portador de deficiência a oportunidade de superar obstáculos.

Na medida em que esse portador de deficiência supera obstáculos, não é apenas ele que cresce, não. O outro deficiente que está em casa, vendo, ouvindo, o deficiente de forma geral, aquele que participa da olimpíada, da paraolimpíada, ele não participa apenas buscando a sua vitória. A vitória de um símbolo, do símbolo daquele que acredita que o portador de deficiência tem de participar de forma plena da cidadania. E essa oportunidade que a ABDC dá para os cegos, de participar, vencer, é a oportunidade que a ABDC dá para o cidadão comum que está em casa, entender que o deficiente tem qualidades e deve ter direito de participação.

Portanto, David, esse trabalho é magnífico. Alguns vêem nesse trabalho apenas aquele grupo de atletas participando, o que já seria muito importante e justificaria tudo isso. Esses atletas portadores de deficiência visual, quando participam, superam-se e superam obstáculos. Mesmo se não servisse tudo isso de exemplo, já seria importante pela participação deles. Mas essa participação não se restringe apenas a eles, a seus familiares. Essa participação vai mostrar para a sociedade que o cego se supera, sim. E na medida em que o cego tem oportunidade ele cresce, mostra capacidade, mostra sensibilidade.

Eu me pergunto e pergunto a quem me vê, a quem me ouve, e pergunto àquele que vai ler tudo isso no “Diário Oficial” - já que tudo o que for dito nesta sessão será publicado no “Diário Oficial” do Estado de São Paulo, eu pergunto a todos: “qual será o próximo cego, quem terá um filho cego, quem terá um neto cego?”

Tivemos aqui o Secretário Lars Grael, que foi vítima de um acidente. Quem é que vai ser o próximo deficiente? Será que nós não temos de preparar um mundo melhor para o portador de deficiência? Será que não temos de preparar um mundo de melhores oportunidades para os cegos? E como mostramos para a sociedade que o cego pode fazer e fazer muito? Através da iniciativa desse grupo que criou a ABDC, através de outras entidades que participam da ABDC.

Esta homenagem que fazemos a você e a essa entidade é uma homenagem justa. É nossa obrigação. É nosso dever mostrar para a Nação brasileira que o cego é gente, tem sensibilidade e tem muita capacidade.

David, agradeço a você e a esse pessoal todo que valoriza o portador de deficiência. Repito, conheço muito bem os dois lados. Fiquei cego com 41 anos de idade e hoje tenho 60 anos.

Agradeço à Dona Yeda, que nos assessora.  A Dona Yeda é antiga de casa. Não vou falar o tempo que ela tem de casa, não. Ela é jovem, mas tem já cerca de 50 anos de trabalho. Ela faz parte da história desta Assembléia. É uma figura humana sensacional. E quando temos eventos como este, ela participa com muito carinho, com muito amor. Agradeço a todos os funcionários desta Casa, que dão toda uma estrutura para que possamos realizar este tipo de evento, que é muito importante.

David, a você e a esse pessoal todo que o acompanha, a esse pessoal todo que acredita na possibilidade de o cego crescer e de o cego fazer parte plena da cidadania, o nosso muito obrigado.

Obrigado àquele que nos assistiu e obrigado àquele que for ler lá na frente o “Diário Oficial”, entendendo que cego merece oportunidade. E tendo oportunidade ele é útil, não apenas para si, mas para a sociedade como um todo. (Palmas.)

Obrigado. Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência a dá por encerrada. Está encerrada a sessão.

 

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-         Encerra-se a sessão às 11 horas e 53 minutos.

 

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