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14 DE OUTUBRO DE 2011

044ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO pelos “300 ANOS DE RESISTÊNCIA DA IRMANDADE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS”

 

Presidente: LECI BRANDÃO

 

RESUMO

001 - LECI BRANDÃO

Assume a Presidência e abre a sessão. Agradece a presença das autoridades presentes. Informa que o Presidente Barros Munhoz convocora a presente sessão solene, a pedido da Deputada Leci Brandão, ora na condução dos trabalhos, para comemorar os 300 Anos de Resistência da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro".

 

002 - NATAL CALABRO NETO

Mestre-de-Cerimônias, nomeia as autoridades presentes.

 

003 - JOSÉ CÂNDIDO

Deputado Estadual, recorda acertos e erros da igreja católica ao longo dos anos. Informa que a irmandade aqui homenageada já sofreu perseguições em seus anos iniciais. Ressalta a importância das políticas de inclusão social implantadas pelo ex-Presidente Lula, como o ProUni.

 

004 - JAMIL MURAD

Vereador pelo município de São Paulo, cumprimenta os presentes. Parabeniza a iniciativa da Deputada Leci Brandão. Informa que os fundadores da Irmandade eram contemporâneos de Zumbi dos Palmares. Recorda dificuldades enfrentadas pela comunidade na época de sua fundação. Cita autoridades ligadas à causa. Faz votos para o futuro da instituição.

 

005 - Presidente LECI BRANDÃO

Informa que esta sessão solene seria transmitida em data oportuna.

 

006 - MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS

Mestre em Ciência da Religião pela PUC de São Paulo, tece comentários acerca de sua pesquisa de mestrado. Dá detalhes acerca da fundação da Irmandade Nossa Senhora do Rosário e fala sobre sua atuação. Informa que, embora já tenham existido muitas Irmandades, esta é a única ainda em atividade.

 

007 - MARCO ANTONIO ZITO ALVARENGA

Presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, destaca o reconhecimento que a Deputada Leci Brandão tem obtido por seu trabalho nesta Casa. Fala sobre a atuação da Irmandade. Faz votos pelo futuro da instituição.

 

008 - JOSÉ VICENTE

Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e Presidente da ONG Afrobrás, agradece a todos que, ao longo da história, contribuíram com a Irmandade. Destaca os frutos resultantes de sua fundação. Parabeniza-a em nome de todos os alunos e funcionários da Universidade Zumbi dos Palmares.

 

009 - ADRIANO DIOGO

Deputado Estadual, dá conhecimento da data em que esta cerimônia será transmitida. Destaca a atuação do Vereador Jamil Murad no apoio à criação de um Estado Palestino. Fala sobre a independência do Haiti. Condena ações militares nesse país e também nos morros do Rio de Janeiro. Sugere à Igreja Católica que peça desculpas por sua participação no regime escravocrata.

 

010 - FERNANDA FALBO BANDEIRA DE MELO

Presidente do Condephaat, Conselho de Desenvolvimento do Patrimônio Histórico Artístico, explica a área de atuação do Condephaat. Fala sobre o direito à diversidade de costumes e tradições, presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em nossa Constituição Federal.

 

011 - NATAL CALABRO NETO

Mestre-de-Cerimônias, anuncia a apresentação da música Ave Maria, executada pela cantora lírica Joana Matera.

 

012 - ENES

Padre, Presidente do Instituto Negro Padre Batista e da Pastoral Afro, representando Dom Tarcísio Scaramussa, Bispo da Região Sé, recorda a fundação da primeira Irmandade, em Lisboa. Fala sobre a chegada das primeiras Irmandades ao Brasil e de sua luta para comprar a liberdade de outros escravos. Destaca o papel histórico exercido por Luísa Mahin, envolvida na Revolta do Malês, em 1835, e por seu filho, Luís Gama, advogado abolicionista.

 

013 - ANTONIO ARRUDA DA SILVA

Coordenador Estadual de Políticas da População Negra e Indígena, ligada à Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania, destaca o caráter familiar da Irmandade. Fala sobre a importância desta solenidade, convocada pela Deputada Leci Brandão. Parabeniza a atuação de parlamentares negros já eleitos. Ressalta a necessidade de que seja obtida a igualdade racial em nosso País.

 

014 - NATAL CALABRO NETO

Mestre-de-Cerimônias, anuncia apresentação musical em homenagem à Irmandade "Igreja do Rosário dos Homens Pretos", pelo cantor e compositor José Gonçalves Miranda, o Paquera.

 

015 - JEAN NASCIMENTO

Presidente da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, entrega Pedido de Reconhecimento da Irmandade como Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo à Senhora Fernanda, do Condephaat.

 

016 - ANTONIO MACEDO

Da Abaçai, Cultura e Arte, fala sobre homenagens recebidas pelo Condephaat. Dá conhecimento de como entrou em contato pela primeira vez com a Irmandade, no Largo do Paissandú. Descreve suas impressões ao ver as roupas características de seus integrantes.

 

017 - Presidente LECI BRANDÃO

Presta homenagem, com entrega de placa, ao Senhor Jean Nascimento, Presidente da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

 

018 - JEAN NASCIMENTO

Informa fazer parte da 5ª geração da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Recorda as dificuldades enfrentadas pela instituição. Cita pronunciamento de Nelson Mandela. Faz votos pelo futuro da Irmandade.

 

019 - Presidente LECI BRANDÃO

Informa que esta é a primeira sessão solene de seu mandato. Reflete acerca das razões que a levaram a ser eleita. Afirma que, apesar de sua fé nos orixás, foi batizada em igreja católica. Fala sobre a mistura de religiões existente no Brasil. Dá exemplos do fato. Agradece o apoio recebido pelo seu gabinete na organização desta solene. Discorre acerca do funcionamento do processo legislativo. Destaca a possibilidade de que projetos elaborados por iniciativa popular sejam aproveitados por Deputados. Comenta o trabalho que vem realizando neste Legislativo. Atribui ao Presidente da Irmandade, Jean Nascimento, a responsabilidade pela realização desta solenidade. Faz agradecimentos gerais. Convida os presentes para apresentação da Congada Santa Ifigênia de Mogi das Cruzes, conduzida pela Capitã Gislaine Donizete Afonso. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Leci Brandão.

 

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A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Bem vindos a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Gostaria de convidar a todos, que se acomodem, para que possamos dar inicio a nossa sessão solene.

Esta sessão solene tem a finalidade de comemorar os 300 Anos de Resistência da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo.

Chamamos para compor a Mesa, a excelentíssima Sra. Deputada Leci Brandão. (Palmas.) Excelentíssimo Sr. Deputado José Cândido. (Palmas.) Sra. Fernanda Bandeira de Melo, Presidente do Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. (Palmas.) Padre Enes, Presidente do Instituto do Negro Padre Batista e da Pastoral Afro neste ano representando Dom Tarcísio Scaramussa bispo da região Sé. (Palmas.) Sr. Jean Nascimento, Presidente da Igreja da Associação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo, e Presidente da Ação Local Paissandu. (Palmas.)

Para dar início a esta sessão solene, convidamos a excelentíssima Sra. Leci Brandão, Deputada desta Casa.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Nos termos regimentais, esta Presidência dispensa a leitura da ata da sessão anterior.

Quero agradecer todas as autoridades que estão aqui à nossa Mesa, agradecer a presença, obrigada por esse momento especial.

Sras. deputadas, Srs. deputados, minhas Sras. e meus Srs.. Esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Barros Munhoz, atendendo solicitação desta deputada, com a finalidade de comemorar 300 Anos de Resistência da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo.

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Sras. e Srs., convido a todos para, respeitosamente, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, interpretado pela cantora lírica Joana Matera.

 

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- É entoado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Antes de passarmos a palavra às autoridades presentes, gostaríamos de registrar e agradecer as presenças da Sra. Maria da Conceição dos Santos, pesquisadora da PUC; Sr. Antonio Carlos Arruda da Silva, coordenador estadual de política população negra e indígena, ligado a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania; Dr. Luiz Carlos Ribeiro da Silva, conselheiro seccional da OAB São Paulo; Padre Eduardo Vieira Santos, chanceler do arcebispo de São Paulo; vereador Jamil Murad; Sr. Celso Fontana, integrante do SOS Racismo da Assembleia, representando o coordenador Cláudio Silva; Sr. Marco Antonio Zito Alvarenga, Presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo; Sra. Nadir Veloso Cardoso, coordenadora das Tias Baianas Paulistas; Sr. Natanael Miranda dos Anjos, secretário especial do Micro-Empreendedor Individual; Sr. Moisés da Rocha, criador e apresentador do programa O Samba pede Passagem; Sr. Eunivardo Pereira Lima, Rainha Dirce da Conceição Moura, Festeiros de Nossa Senhora; Sr. Adalberto Camargo Júnior, Presidente do AfroChamber; Sr. Bethi João, gerente de serviço do CRECI.

Convido agora, para fazer uso da palavra, Excelentíssimo Sr. Deputado José Cândido. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ CÂNDIDO - PT - Sra. Presidente desta sessão solene, Deputada Leci Brandão, autoridades presentes já elencadas pelo cerimonial, autoridades convidadas desta sessão solene.

Eu não podia deixar de comparecer nesta sessão solene de 300 Anos de Resistência da Irmandade dos Homens Pretos. Nós temos a certeza que a igreja católica, no seu passado, contribuiu muito para que a nossa religião católica, para que o desenvolvimento no país, para que a paz reinasse, mas também errou muito. A história tem que estar sempre; ser sempre relembrada, tanto para a nossa reflexão, quanto para os nossos descendentes. Tenho certeza que há 300 anos atrás, essa Irmandade foi resistente, essa Irmandade foi oprimida, reprimida, não podia ficar no lugar de honra, porque eram escravos. A gente conhece a história pelos livros e também pelos antecedentes, e percebe que se a gente não renova, se a gente não conta a história, através de uma sessão solene, através dos livros, outras pessoas não vão contar.

Eu quero aproveitar essa oportunidade e dizer que o Brasil, a partir de 2003, está tentando resgatar credibilidade com as pessoas negras. Quando o Presidente da República lançou o ProUni, percebeu-se que estavam resgatando a vocação de muitos homens e mulheres negros e negras. Porque a maioria, infelizmente, hoje, faz parte das pessoas que tinham e tem vocação, mas não tiveram oportunidade. Quando veio a lei que obriga as escolas a ensinar a história da África e dos índios, também foi mostrada a nossa ancestralidade.

Por isso, deputada, quero parabenizar-te por esta iniciativa. Tenho certeza que a sua trajetória aqui nesta Casa, da maneira humilde e fiel, da maneira vocacional que V.Exa. veio, quero dizer muito obrigado ao Rio de Janeiro, que trouxe pra cá, uma pessoa fundamental para os paulistas, da maneira que V.Exa. veio com vontade de resgatar essa história, com vontade de se por presente também nessa história, e com vontade de representar de fato a nossa história, a nossa ancestralidade. Quero, nesse momento, parabenizar e dizer que muitas coisas boas estão acontecendo nesta Casa, com a atitude e a disposição da Deputada Leci Brandão, e muitas coisas poderão acontecer. Parabéns pela iniciativa. Obrigado, por ter aceitado o convite da platéia, e também das autoridades que já foram elencadas. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Gostaríamos de convidar o sempre deputado e hoje vereador Jamil Murad para que faça uso da palavra. (Palmas.)

 

O SR. JAMIL MURAD - Quero declarar que me sinto muito feliz quando vejo a Deputada Leci Brandão, propondo e realizando, junto com as entidades, lideranças, também com o nosso Deputado José Cândido, essa sessão solene tão importante. Importante não só pela história, que mostra que são 300 anos, é por isso que essa luta tem 300 Anos da Irmandade.

Quero cumprimentar o representante do Dom Odílio Scherer, o representante do Conselho do Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, o desembargador que é representante do Tribunal de Justiça e também da nossa comunidade, e a direção da Irmandade aqui representada.

Fui pesquisar a Deputada Leci Brandão; eu achei que tem tanta autoridade aqui embaixo, que eu não posso citar todos, porque o tempo é curto, mas eu estou muito feliz com os meus amigos, aqui, neste plenário. Eu fui pesquisar para dizer algumas palavras. O respeito e a consideração que eu tenho, teria que ser uma coisa preparada, e fiquei emocionado com a história da Irmandade. Trezentos anos atrás, em 1711, aqueles fundadores da Irmandade, aqui em São Paulo, eram contemporâneos do Zumbi. O Zumbi foi assassinado em 1695, 16 anos depois, esses cidadãos e cidadãs fundaram a Irmandade, aqui em São Paulo. Que coisa maravilhosa.

Porque os algozes, a Coroa Portuguesa e a elite colonial tinham cortado a cabeça do Zumbi, salgado-a para durar mais tempo e colocado em Recife. Para que? Para intimidar o nosso povo. E a Irmandade, naquele clima de opressão, de perseguição, de assassinato vil, levantou-se e fundou a Irmandade aqui, em São Paulo. Quer dizer, aquela garra, aquele compromisso com a igualdade, aquela consciência do valor da nossa comunidade, eles tinham de enfrentar aquela dificuldade. E a semente, tão bem plantada, que 300 Anos depois, agora está dando frutos mais rapidamente, está dando resultados mais rápidos.

Aqui, nós temos a Deputada Leci Brandão, temos o Deputado José Cândido. Estiveram aqui a Deputada Teodosina Ribeiro, que inclusive é parte da diretoria da Irmandade; o Deputado Nelson Salomé, que foi meu amigo, agora falecido; o Deputado Nivaldo Santana, uma grande cabeça, um extraordinário deputado; Deputado Benedito Cintra, como falei. No Congresso Nacional tem senador como Paim, tem o vereador como Netinho de Paula, companheiros e companheiras, é uma corrente enorme.

Você vai ver na universidade, o professor Milton Santos, extraordinário professor titular da Universidade; lideranças do mais alto valor, e a nossa luta política. Quando nós derrubamos a ditadura, conseguiram que entrasse o Governador Franco Montoro e foi feito, aqui, o Conselho do Desenvolvimento da Comunidade Negra, que está aqui o nosso companheiro, que foi Presidente do Conselho. O Ministério da Igualdade Racial, fundado pelo Presidente Lula, leis aprovadas, é um caminhar duro, mas esse caminhar está trazendo frutos e os exemplos vêm da Irmandade.

As dificuldades não são para espantar a gente. O Zumbi, com 6 anos de idade, foi preso, e depois entregue para um padre criá-lo, ele sabia falar português e latim; com 15 anos de idade Zumbi falou: eu vou junto ao meu povo. Foi lá, para o Quilombo dos Palmares, e morreu aos 40 anos, lutando pela liberdade, pelo progresso, pela dignidade do seu povo. E isso inspirou a Irmandade. Você, jovem, nossos dirigentes da Irmandade, veja o que você representa. História maravilhosa, história lindíssima. E nós temos que agora dar resposta rápida, porque nós queremos a igualdade.

Eu estava dizendo, aqui, para encerrar, deputada, que foi um paulista, um bandeirante chamado Domingo Jorge Velho, que foi lá matar o Zumbi, com canhão e tudo. E foram os paulistas da Irmandade que responderam, você matou nosso líder, mas nós não nos intimidamos. Está aqui, a nossa caminhada pela igualdade, pelo progresso, pela dignidade do povo brasileiro, o nosso povo. Que exemplo maravilhoso. Agora eu quero terminar, dizendo o seguinte, nós precisamos seguir esse exemplo. Os membros da Irmandade, os membros da comunidade negra no nosso país, são brasileiros do mais alto valor e se destacam na vida pública, cultural, social, esportiva e cientifica, nas universidades, no judiciário, na área empresarial, essa é menor, mas também pela falta de oportunidade, também com a participação importante. E esse exemplo, essa caminhada tem que transformar a nossa querida pátria no Quilombo Brasil Socialista. Sepultando definitivamente o racismo, sepultando definitivamente o preconceito, a desigualdade para aqui se tornar a terra da igualdade, a terra da oportunidade para todos os brasileiros. (Palmas.)

Quero dizer que, pra mim, essa história da Irmandade dos Homens Pretos é uma história maravilhosa, que ela serve para iluminar o caminho de todos os brasileiros, para a pátria que, certamente, será uma realidade de um Brasil, de dignidade para todos os brasileiros, como a Irmandade cultivou no exemplo de Zumbi.

Parabéns, Deputada Leci Brandão. Sinto-me muito orgulhoso por sua atitude, você, que já tinha demonstrado tanta competência, seriedade, capacidade na sua vida profissional, veio aqui para a Assembleia Legislativa. E lembro-me de uma noite, que nós trocamos algumas idéias e eu incentivava a deputada, para assumir a candidatura e vir representar o povo, aqui em São Paulo. Tenho certeza que todos os paulistas e brasileiros, que tem tomado conhecimento da sua atuação na Assembleia Legislativa, tem ficado orgulhosos da sua atuação, porque representa o sentimento e o desejo dos brasileiros de São Paulo e de todo o nosso país. Parabéns. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Esta sessão solene será transmitida, na íntegra, pela TV Assembleia, amanhã, sábado, dia 15, às 21 horas, pela TV a Cabo TVA, canal 66, pela NET, canal 13 e TV Digital Aberta, canal 61.2.

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Gostaríamos de registrar e agradecer a presença do Deputado Adriano Diogo. (Palmas.) Dr. William Marinho, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. (Palmas.) Sr. Maurício Pestana, conselheiro do Museu Afro, publicitário e cartunista que representa a Revista Raça; Sr. José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e Presidente da ONG AFROBRÁS; juíza Maria Angélica Rosa Silvestre, membro da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e quarta geração na Irmandade. (Palmas.)

Sr. Mário Ribeiro Costa, membro da Irmandade, ex-juiz e um dos fundadores do Aristocrata Clube, filho do ex-juiz Sr. Justiniano Costa, um dos fundadores da Frente Negra. (Palmas.) Padre Eduardo Viera dos Santos, chanceler do arcebispo, representando o arcebispo de São Paulo Dom Odílio Scherer. Sr. Mário César Cobianchi, assessor parlamentar da Deputada Ana Perugini; Sra. Vilma Lucia Warner, coordenadora da Bacia I do PV- Capital. (Palmas.)

Gostaria de convidar a Sra. Maria da Conceição dos Santos, mestre em ciência da religião pela PUC São Paulo, pós-graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do Grupo Atabaque de Teologia e Cultura Negra, para fazer uso da palavra. (Palmas.)

 

A SRA. MARIA DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS - Bom dia a todos, bom dia especial à Deputada Leci Brandão, um agradecimento à Irmandade do Rosário, que me deixa muito honrada de poder participar desta sessão solene.

Inicio a minha breve fala, dizendo pra vocês, que a Irmandade foi muito mais do que resistente nesse centro de São Paulo nos seus 300 Anos. Em minha pesquisa de mestrado, trago o seguinte título para homenagear a Irmandade: Festa de Preto na São Paulo Antiga, um Exemplo de Resiliência na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Pesquisei, de 1887 a 1907, um período crucial para a população negra no Brasil.

Crucial e importantíssimo na cidade de São Paulo, não era diferente. O termo resiliência eu uso porque, para fazer frente ao processo todo de escravização da população negra no Brasil, era importante muito mais do que resistência, era necessário se ter resiliência. Que é a capacidade; hoje, a psicologia explica muito bem isso. Em 2006, quando eu fiz a minha pesquisa, estava iniciando nas ciências humanas essa categoria, que é a capacidade que algumas pessoas têm de se recuperar após um grande trauma. E a Irmandade do Rosário ela tem essa característica. Vejam vocês os presentes, que estar aqui, participar da vida ativa da cidade de São Paulo com suas festas, danças, com toda a sua tradição cultural, a tradição herdada dos seus ancestrais, num momento em que o ser humano representado pelos africanos e seus descendentes, era menos que um objeto. Não explica a resistência. Resistência teve muito, como o deputado falou, Zumbi resistiu. Por isso, estamos aqui hoje, a Irmandade foi além.

E aí na sua caminhada é importante que vocês saibam que a Irmandade do Rosário esteve presente em todos os principais momentos da vida religiosa e cultural da cidade de São Paulo. A antiga igreja se localizava onde hoje é a Praça Antonio Prado, ali estava a antiga igreja, vários imóveis, todos pertencentes à Irmandade, e o seu cemitério também. Ora, na virada do século, no finalzinho do século XIX, com a imigração européia, os Irmãos do Rosário, que sempre tiveram que resistir a opressão, a perseguição foram, infelizmente, convidados a se retirar dali. Eu uso o termo convidado hoje, para ser gentil. Obviamente que eles foram obrigados a sair daquele espaço, um espaço que tinha sido construído não só por escravas, mas, sobretudo, por forros, mulheres e homens que sempre acreditaram na liberdade e no poder que este homem e mulher brasileiro, escravizado ou não, tem.

Frente a solicitação do então prefeito Antonio Prado, os Irmãos do Rosário, que sempre se relacionavam bem com o poder público e religioso, solicitaram ao mesmo uma indenização, e também um novo espaço para a construção da igreja. Essa reunião vai acontecer na antiga igreja de São Pedro, que também foi demolida, frente às reformas que a nossa cidade sofreu. E ali, decidiram que com aquele dinheiro, a Irmandade não acabaria. A igreja, sim, foi demolida, a Irmandade não foi extinta. Só para constar, para que todos saibam, na cidade de São Paulo nós tínhamos mais de 26 Irmandades e Confrarias, de todas elas, a única que está realmente ativa nesse espaço hoje, numa São Paulo que é a metrópole mais importante da América Latina, é a Irmandade do Rosário. (Palmas.)

Digo mais para vocês, que está Irmandade não só preserva a sua tradição religiosa, mas também cultural. Aqueles e aquelas irmãos que estão presentes, os companheiros de caminhada, que participam anualmente da Festa da Irmandade, sabem que os irmãos saem em procissão depois de uma missa solene belíssima e em seguida oferecem um almoço aos convidados. Creiam que essa dinâmica é a mesma de 300 anos atrás. Obviamente que, hoje, vivemos numa democracia, nós vivemos num momento em que o negro, neste país, está sendo valorizado e reconhecido. Então, hoje é até fácil, é brilhantíssima e muito importante a atitude da Deputada Leci Brandão, que abre esta Casa, com o intuito de mostrar a importância desses negros, que antes de nós já batalhavam pela dignidade, pelo respeito a esta população. (Palmas.)

Agradeço muitíssimo a oportunidade. E digo que o Irmão do Rosário não é resistente, ele é resiliente. Hoje, São Paulo é a capital financeira do país, e o Irmão do Rosário, com todas as suas limitações, sabemos que ainda tem, continua preservando a sua tradição, a tradição ancestral de 300 anos atrás. Meus parabéns irmãos, meus parabéns ao Jean, que está à frente de hoje, e também o Rei e a Rainha aqui, desejamos sucesso. Hoje, vocês têm o apoio de todos nós, brasileiros, paulistanos, que estão aqui para prestigiar este aniversário. Muito obrigada e parabéns. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Convidamos o Sr. Marco Antonio Zito Alvarenga, Presidente do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, para fazer uso da palavra. (Palmas.)

 

O SR. MARCO ANTONIO ZITO ALVARENGA - Bom dia a todos, Deputada Leci Brandão, Deputado José Vicente, representantes da igreja, demais autoridades presentes.

Este momento é realmente um momento de emoção, um momento de contar história, mas viver o nosso futuro. Futuro esse, que tem que ser respaldado em toda essa história repetida muito bem pelo Vereador Jamil Murad, que trouxe um histórico que se repetisse, seria meramente redundante.

A iniciativa de V. Exa., deputada, tem uma justificativa. E a justificativa está da forma como a Sra. vem conduzindo o seu trabalho. Outro dia, em uma roda, uma mesa de discussão, onde diversos segmentos ideológicos se manifestavam, diziam da sua atuação. E as pessoas talvez tenham uma ideologia diferenciada, diferente da que nós seguimos, traçavam o seu perfil. Não faltaram daqueles que poderiam ser opositores, mas jamais inimigos, o reconhecimento do trabalho que V.Exa. vem fazendo aqui. E por isso, em seu nome saúdo todas as mulheres negras. (Palmas.) Que foram a base da construção do povo negro. Fala-se realmente, e tivemos heróis maravilhosos, homens e mulheres; mas a mulher negra sempre esteve ao lado na briga, na luta pela igualdade.

A Irmandade do Rosário realmente é uma Irmandade que pertence, que participa e da qual eu participo da sua história. Tenho parentes, meus pais, tios que tiveram uma proximidade na sua administração, e por isso é a primeira e a mais importante igreja, irmandade, que tem numa certa forma, ajudado a construir a história do povo brasileiro. Não tem outro caminho, o caminho é esse. Precisamos construir o nosso futuro, e o nosso futuro é dar força as nossas instituições. E nesse sentido, o Conselho de Participação da Comunidade Negra vai continuar sendo parceiro de todas as instituições. Junto com a Coordenadoria de Negro e Indígenas, coordenada pelo nosso amigo Antonio Carlos Arruda, estamos à disposição de somar esforços, aparar arestas e trazermos, na verdade, algumas informações, e no somatório de todas as coisas, trazermos, perpetuamos essa história.

Na verdade, estou aqui muito mais para assistir, participar com a minha presença. As palavras são meramente no sentido de firmar posição, que em qualquer momento da história estaremos juntos. Com certeza, esse é o grande momento, e por isso, o Conselho tem a sua participação e desenvolvimento da comunidade negra está presente, como não poderia deixar de estar. Meu muito obrigado e parabéns à Irmandade pelos seus 300 Anos, mais 300 da sua história. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Ouviremos agora, o Sr. José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares e Presidente da ONG Afrobrás. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ VICENTE - Excelentíssima Sra. Deputada e amiga Leci Brandão, Excelentíssimo Deputado José Cândido, na pessoa de quem saúdo o parlamento paulista, na pessoa de quem eu estendo os cumprimentos a todas as demais autoridades as já nomeadas e as que se fazem presente. Padre Enes, um grande amigo, um grande incentivador, grande guardião de todas as nossas coisas, receba os nossos abraços efusivos de agradecimento e satisfação, de saber que a nossa luta nunca foi uma luta de um homem só. Tem muitos homens e mulheres a frente, mas tem muitos homens e mulheres atrás nos empurrando, e fazendo com que o nosso caminho seja um caminho de prosperidade.

Em rápidas palavras, quero, primeiramente, parabenizar a Deputada Leci Brandão, como bem disse o meu caro Presidente do Conselho da Comunidade Negra o que nós já sabíamos e o que nós sempre esperávamos, ou seja, colocar o nosso tema na agenda e no topo da agenda desta Casa de Leis e do seu mandato. De modo que não tem nada de novo, nós já sabíamos, mas ainda assim deputada, eu quero cumprimentar.

E o cumprimento especial talvez seja pela significância desta cerimônia e pela significância do que é, foi e será sempre, a nossa Irmandade. Esse lugar é um lugar simbólico, que talvez expresse muito bem qual foi e precisa ser o papel de todos nós a frente desse tema muito importante para a nossa sociedade e para o nosso povo negro. E a Irmandade talvez seja mesmo o motivo pelo qual nós estamos aqui, seguramente se nós não tivéssemos tido a Irmandade, nós não poderíamos ter Leci Brandão, não poderíamos ter José Cândido, não poderíamos ter padre Enes, José Vicente, e todos que aqui estão. De modo se tem alguma coisa, que nós podemos dizer para todos vocês, é muito obrigado por vocês terem existido. (Palmas.)

Muito obrigado, por vocês terem emprestado a fibra, a energia, a disposição e a determinação para recolher e guardar a nossa história, a nossa memória. Por recolher, guardar, sintetizar e ampliar as nossas energias, e por colocar todas as irmandades como um espaço de defesa e de resistência para aquilo que foi tão caro para os nossos antecedentes e para aquilo que precisa e deve ser a missão de cada um de nós negros. Que temos o compromisso, não tão somente com os nossos ancestrais, mas para todo o nosso futuro que vem pela frente.

E o melhor momento de se fazer, seja essa reflexão e esse agradecimento, é agora e aqui, neste espaço simbólico, e a melhor forma de nós honrarmos o que foi e tem sido a luta e o trabalho de cada um de vocês, é empenhar o nosso compromisso de que esses valores que são caros e são os nossos valores, nós continuaremos levando adiante, tenha o que tiver de obstáculo pela frente. E seja com a energia e com a necessidade que se coloque como indispensabilidade.

De modo que eu quero, em nome da Universidade Zumbi dos Palmares, dos nossos professores, dos nossos alunos e dos nossos funcionários, cumprimentar cada um de vocês, Sras. e Srs. integrantes da Irmandade, e de todas as irmandades, e em nome da nossa comunidade acadêmica, outra vez cumprimentar a Deputada Leci Brandão, por essa homenagem sincera, oportuna e necessária. E dizer que nós temos muito orgulho, de saber que a nossa luta é uma luta distante, e que ela se mantém forte e atuante, graças à Irmandade do Rosário. Parabéns a todos. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Ouviremos agora o Excelentíssimo Sr. Deputado Adriano Diogo. (Palmas.)

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Bom dia a todos. Bom dia, minha irmã Leci Brandão, parabéns. Parabéns. Você que veio da comunicação, minha irmã Leci Brandão, esse programa, essa cerimônia não está sendo transmitida ao vivo pela TV Assembleia, só pela Web, mas irá ao ar amanhã, ainda você está proibida, ainda os negros estão proibidos, Padre Enes, meu irmão José Cândido e José Vicente. Então, a TV Assembleia transmitirá amanhã, dia 15, às 21 horas, na TVA canal 21, TVA canal 66, Net canal 13, 4 TV aberta e ao vivo na TV Web agora. Mas acho que a TV Assembleia podia fazer um esforçozinho para por essa cerimônia no ar.

O que eu queria falar? Estava ouvindo o Vereador Jamil Murad falar padre Enes, nosso irmão Jamil, esse maravilhoso Jamil polivalente, Deputada Leci Brandão, o Vereador Jamil Murad se empenhou pelo ato da criação da Palestina da forma mais linda e maravilhosa, você esteve lá, Deputado José Cândido. Qual é o território negro das Américas? O território negro das Américas é o Haiti. A Palestina do povo negro é o Haiti. O primeiro país a se libertar por uma revolta dos escravos, e o colonialismo nunca mais os perdoou.

Então queridos irmãos, Padre Enes que tanto aprendi com a sua família, o Luiz Fernando está aí? Olha o Luiz Fernando lá, grande Luiz. Luiz Fernando estava lendo a história da Irmandade, 1711, e colonialismo terrível heim! Mas me deixa falar um pouquinho da libertação do povo haitiano. Os mesmos militares, as mesmas tropas que reprimiram o PCdoB no Araguaia, matando aquele monte de gente, desaparecendo com aquele monte de famílias, estão lá no Haiti matando o povo haitiano. E os mesmos generais Heleno, Floriano Peixoto, estão nos morros do Rio de Janeiro, pacificando os morros do Rio de Janeiro. Pra que tanta repressão? Pra que tanta barbaridade? O povo do Haiti, assim como os negros de todo Brasil e de toda América Latina, precisam de médicos, precisam de direito a estudar, como o nosso amigo aqui da Universidade Zumbi dos Palmares, é isso que o nosso povo precisa.

Essa noite, Vereador Jamil Murad, Deputada Leci Brandão, estava assistindo a retrospectiva dos noticiários do dia e vi que os republicanos estão fabricando um candidato em laboratório, um negro para se antepor a Barack Obama e aos democratas. Que coisa terrível. Então, eu sou um mero filho da igreja católica, não tenho a mesma interlocução direta que tem Luiz Fernando, padre Enes, porque eles tem uma linha direta com a hierarquia. Luiz Fernando morou na África, Moçambique, meu professor, meu irmão.

Eu quero dizer o seguinte, o colonialismo não baixou as armas, eles não se conformam, continuam escravizando o povo. É por isso que a igreja católica, eu não vi ainda a igreja católica fazer um mea culpa da escravidão que foi o nosso Holocausto. Não vi, não vi, não vi. Acredito sim, sou católico, acredito na igreja católica, acredito em Deus, acredito nos cultos dos afros descendentes, mas essa história da escravidão brasileira não foi feita ainda uma verdadeira comissão da verdade. Os fatos não vieram ao público, os torturadores, os importadores de escravos.

Parabéns, a todos que resistem a 300 Anos de resistência. Por que eu tenho uma ligação forte com a Deputada Leci Brandão, com o Deputado José Cândido e o Vereador Jamil Murad? Porque eles fazem a cultura da resistência. A cultura da resistência de um povo, da afirmação do povo. Viva o povo brasileiro da resistência negra. Viva o povo haitiano. Fora as tropas do Haiti, pela criação do Estado Palestino, pelo colonialismo maldito e assassino na Líbia, no Iraque, em qualquer país onde eles apontam suas armas. Somos todos negros atingidos por esse militarismo absurdo. Façamos a comissão da verdade do verdadeiro Holocausto que ocorreu no Brasil e na América Latina, que foi a escravidão portuguesa e espanhola. Viva o povo negro, viva Leci Brandão, viva a resistência do povo brasileiro. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Agradecemos ao Deputado Adriano Diogo.

Convidamos agora a Sra. Fernanda Bandeira de Melo, Presidente do Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. (Palmas.)

 

A SRA. FERNANDA BANDEIRA DE MELO - Bom dia a todos. Presidente Deputada Leci Brandão, que como eu, é carioca. Autoridades presentes, membros e autoridades da Irmandade dos Homens Pretos.

Quero fazer um pequeno retrospecto do que o Condephaat está fazendo aqui. Condephaat é uma sopa de letrinhas e todos os Srs. devem conhecer, mas não custa lembrarmos, é o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, que tem a missão de preservar a sua memória e a sua cultura.

Mas eu gostaria de fazer um pequeno retrospecto. Em 1945, teve fim a Segunda Guerra Mundial. Por que me reporto a ela? Porque, justamente nesse momento da história, a intolerância produziu muitas atrocidades, e os membros da ONU começaram depois de terminada a Guerra, a estudar e a tentar produzir um documento que unisse todos os homens. E três anos depois, conseguiram promulgar a Declaração Universal dos Direitos Humanos que, aliás, nós deveríamos ler todos os dias de manhã, pelo menos um capítulo dela, para ver se vivemos um dia mais produtivo e mais irmãos.

E nesse intuito, um pequeno capítulo nos trás aqui, além dos que já foram ditos, que foi o direito ao exercício das suas tradições, que foi o direito a todos os homens, onde quer que eles estejam, a cultuar e a praticar a sua tradição. Em 1948, 40 anos depois, a Constituição Brasileira incluiu no seu Artigo 216, o direito, já tínhamos reconhecidos os direitos e a proteção dos bens materiais, reconhece o direito e a proteção dos bens imateriais, e a eles singelamente caracterizam como os modos de viver, fazer e criar.

O Condephaat está se preparando, a Deputada Leci Brandão sabe e é, uma entusiasta e parceira, está se preparando para dar conta desse desafio, a preservação dos bens imateriais do Estado de São Paulo, e é isso que me traz aqui ver de perto, compartilhar com vocês, a alegria da celebração de uma tradição de 300 Anos na história do nosso país. Muito obrigada, por me ter convidado Deputada Leci Brandão, e é um prazer enorme o Condephaat estar presente nesta celebração. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Neste momento, ouviremos a cantora lírica Joana Matera, que entoará a Ave Maria.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Registramos e agradecemos a presença do Sr. Guilherme Botelho Júnior, da Pastoral Afro Achiropita; a Sra. Anair Novaes, representando a coordenadora Maria Aparecida de Laia Cone; e ocupando a extensão da Mesa, o padre Luiz Fernando de Oliveira.

Ouviremos agora, o padre Enes, Presidente do Instituto Negro Batista, e da Pastoral Afro representando Dom Tarcisio Scaramussa, bispo da região da Sé. (Palmas.)

 

O SR. ENES - Excelentíssima Sra. Presidente Deputada Leci Brandão, nosso querido e amigo Deputado José Cândido, o nosso Presidente da Comissão dos Direitos Humanos desta Casa, nosso grande amigo Deputado Adriano Diogo, nosso irmão Vereador Jamil Murad, grande amigo da luta. E demais irmãos e irmãs que fazem parte aqui da Mesa.

Quero cumprimentar os padres amigos, e pediria uma brecha para trazer o padre Anísio, que também é muito importante. (Palmas.) O padre Anísio é da Santa Efigênia e a Irmandade do Rosário, a Igreja do Rosário pertence à Santa Efigênia. Por favor, Padre Anísio. Acho que nós vamos encontrar um lugarzinho para o senhor aqui.

Quero cumprimentar o Padre Anísio, o Padre Luiz Fernando, o nosso querido chanceler Padre Eduardo, representando o nosso cardeal de São Paulo, Dom Odílo Scherer e demais irmãos e irmãs.

Também como pesquisador da Irmandade do Rosário, quero lembrar as origens dessa Irmandade. Em 1422, em Lisboa, os negros já estavam trabalhando como escravos. Fizeram a sua primeira irmandade, pediram aos padres que pudessem se reunir enquanto negros para rezarem também o Terço, para também louvar a Maria. Essa devoção se espalha para todos os países espano latinos americanos, e também África Portuguesa. Então, as irmandades foram, ao longo dos séculos, tomando corpo dentro da história da igreja.

Eu quero lembrar que, em Salvador, em 1545, nasceu então a Primeira Irmandade do Rosário dos Pretos do Brasil, seguida do Rio de Janeiro, Pernambuco e depois em São Paulo, em 1711. Estamos então, em 300 Anos agora. Quero lembrar o caráter organizativo desta Irmandade. A nível de Brasil, essas irmandades conseguiam se organizar par ao dia do padroeiro, para comprar, aí, o direito do irmão que estava em escravidão. Aqueles irmãos que conseguiam se foram, e que começavam a ganhar algum trocadinho com os trabalhos nas grandes cidades, juntando lá na Irmandade, como caixa comum o seu dinheirinho. A cada mês, os irmãos depositavam ali as suas moedas, para que o dia de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ou no dia de São Benedito, abrissem a caixa comum e ali contava quanto tinha e eles resgatavam um irmão ou uma irmã que estava ainda escravo. Isso é um caráter que não podemos esquecer, esse caráter organizativo e preocupados uns com os outros desses irmãos e irmãs do Rosário dos Pretos.

Quero lembrar-me da importância dessa organização a nível Brasil. Em Salvador, nós sabemos que juntamente com os grupos de islamitas, assim como Luiz Mahim, eles organizaram-se, também, junto as Irmandades do Rosário na Bahia. E no século XVIII, fizeram a grande Revolta de Males, onde estava a nossa querida heroína, Luiza Mahim, que nós, em São Paulo, estamos homenageando com o Projeto Camélia. Nós estamos fazendo um projeto de redação, juntamente com o CEAP do Rio, fazendo com que os nossos alunos possam saber quem é essa mulher, quem é essa heroína. Nós também temos heróis e heroínas. Nós não somos só presos, não somos somente gente de rua, nós somos também irmãos e irmãs desde o começo reis e rainhas, pessoas importantes para a história da humanidade.

Então, quero lembrar, aqui, da nossa querida Luiza Mahim e lembrar que ela nos deu um dos filhos mais queridos para São Paulo, o Luiz Gama. Luiz Gama é filho de Luiza Mahim, que viveu aqui em São Paulo, estudando direito não foi capaz, autoridades da época não deram o título de advogado para este grande homem que libertou tantos homens, tantos escravos. Então, Luiz Gama está no cemitério da Consolação e a gente não pode se esquecer deste homem muito importante para a história de São Paulo e para a história do Brasil.

Quero lembrar que a organização da Irmandade faz com que nós todos possamos estar aqui. Graças a esta organização, seja ela no terreiro, seja ela nos espaços religiosos, fez com que nós pudéssemos estar aqui, sendo continuadores desses irmãos e irmãs. Há muita coisa para falar, a Conceição como historiadora, aqui também está o Reinaldo, que é Dr. e que estudou muito o nosso povo negro da Casa Verde, a sua esposa Regina, que é da Federal da Bahia, ela vem representar o seu pai, que semana passada foi embora, com 97 anos. Gente integrante da Irmandade do Rosário dos Pretos.

Quero parabenizar a todos os irmãos e irmãs da Irmandade do Rosário, e que nós possamos continuar essa caminhada. Obrigado a Irmandade do Rosário, obrigado a todos vocês e contém conosco a Irmandade do Rosário a de continuar. Obrigada, deputada, por essa iniciativa. Deus abençoe a todos, muita paz. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Gostaríamos de agradecer e registrar as presenças do Sr. Marcus Plessmann e da Sra. Palena Duran, neste ato, representando o Sr. Valério Bemfica, chefe da representação regional de São Paulo do Ministério da Cultura; capitã Lane, da Congada Santa Efigênia de Mogi das Cruzes. (Palmas.)

Ouviremos agora, o Sr. Antonio Carlos Arruda da Silva, Coordenador Estadual de Políticas da População Negra e Indígena, ligada a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania. (Palmas.)

 

O SR. ANTONIO CARLOS ARRUDA DA SILVA - Excelentíssima Deputada Leci Brandão, excelentíssimo Sr. Deputado José Cândido, Deputado Adriano Diogo, uma saudação especial ao Jean Presidente, e juiz, acho que é essa a denominação correta da Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Uma saudação especial também ao padre Luiz Fernando, companheiro de grandes jornadas e luta do povo negro. Em nome de quem tomo a liberdade, de fazer uma saudação a todos os religiosos, religiosas, inclusive de matrizes africana aqui presentes, a todas as denominações e crenças que a Irmandade Nossa Senhora do Rosário tem a capacidade de juntar e trazer num ato solene desta importância. Companheiros de militância do Movimento Negro, o nosso Deputado e Vereador Jamil Murad, historiadores, historiadoras.

Em nome da secretária de Justiça e Defesa da Cidadania, Dra. Heloisa Arruda, trago uma saudação do governo do Estado de São Paulo. Mas não posso deixar de fazer algumas menções aqui, que são muito importantes. Se cada um de nós, dos paulistas e paulistanos que estão aqui, deputada, a V. Exa. que veio do Rio de Janeiro, graças a Deus, de vez em quando, ganhamos alguma coisa deles a gente ganha legal mesmo, e a deputada é uma conquista nossa, não é mais carioca não, é paulista, é paulistana. (Palmas.)

Se cada um de nós que viermos aqui trouxermos e fomos contar uma historinha, deputada, essas coisas aqui vão se repetir. Sabe por quê? Aqui nesta platéia tem além do Deputado Adriano Diogo, que a gente conhece de uma longa militância política, de uma longa jornada, e que tem sido da oposição, mas tem sido muito de um trato com muita lhanesa em relação à Secretaria de Justiça e Defesa a Cidadania. Sem perder obviamente a combatividade, mas cada de um nós, outros negros, incluindo o Vereador Jamil Murad, quando nós nos encontramos aqui a gente encontra a nossa própria história. E a vida, e a convivência que se deu em torno do Largo do Paissandu. O Jean talvez não saiba, ou talvez até não se lembre disso, mas os meus pais são amigos dos pais dele, da Angélica, que está ali. Para a Sra. ter uma idéia disso que eu estou falando, tem aqui na platéia, mais de uma pessoa que foram ao casamento dos meus pais, que foram ao meu batizado e que hoje tem convivência com os meus filhos, com as minhas netas.

Estou vendo lá o Luiz, que dançamos junto um montão; o Marco Antonio, e todo mundo aqui nesta cidade aprendeu já há algumas décadas, e era muito interessante, e precisamos brigar para que isso volte a acontecer. Quando nós andamos na periferia, aqui, por volta da hora do almoço, na cidade toda a gente ouvia O Samba pede Passagem, e hoje a gente só ouve isso no sábado e no domingo. Precisamos fazer com que volte a acontecer todos os dias. (Palmas.) Porque numa rádio não comercial a cidade e grande parte do Estado de São Paulo depois passaram a ouvir a voz do nosso Moisés da Rocha. Que a senhora lembrou outro dia lá no Vale do Ribeira, ele não sabe disso, a senhora lembrou e fez uma saudação para ele, e já não é a primeira vez.

Tudo isso que acontece nesta cidade, aconteceu sempre em torno da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, direta ou indiretamente, somos todos os filhos desta gloriosa Irmandade. Então deputada, quando a senhora tem a sensibilidade, a elegância, e porque não dizer, até mesmo de compreender a dimensão política da Irmandade, e fazer uma sessão solene numa Casa que também é importante para a nossa história, numa Casa que tem deputada como a senhora, como o Deputado José Cândido, como o Vereador Jamil Murad, que passou aqui e que hoje está na Câmara Municipal de São Paulo, mas que resgata a importância de pessoas como Esmeraldo Tarquínio, Benedito Cintra, Nelson Salomé, João Carlos de Oliveira, o nosso João do Pulo, e talvez eu esteja esquecendo mais alguém que por aqui tenha passado, Tiãozinho, quer dizer, nenhum parlamentar nosso passou por aqui e deixou de fazer sempre as ações políticas necessárias para o avanço da população negra. Também o Nivaldo Santana. (Palmas.) Teodosina eu citei aqui, porque a nossa segunda deputada negra é a Deputada Leci Brandão.

Então, é importante fazer esse resgate, é importante entender a dimensão política da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, porque é nesta esteira, é nesta construção histórica que todos nós viemos e que todos nós compartilhamos, deputada. Então, eu quero aqui, além de abraçar efusivamente, com muito carinho e com muita emoção toda Irmandade, na pessoa do Jean, também agradecer a todos os parlamentares que passaram por aqui, especialmente as duas mulheres negras. E dizer a todo mundo, que nós lá na Coordenação de Políticas para População Negra e Indígena, ficamos muito satisfeitos, muito orgulhosos de poder compartilhar mais este momento importante na história do Brasil, na história de São Paulo, na Casa do Povo que é a Casa de Leis que é o Parlamento Paulista.

Deixo a todos o meu abraço e a certeza de que estamos trilhando caminhos corretos. Mas estamos, sobretudo, respeitando a tradição de uma Irmandade que se perpetuará ao longo ainda de outros séculos que virão à frente, até que definitivamente a igualdade de oportunidades, que não tardará tanto, a igualdade de oportunidades virá para brindar a toda população negra, a toda população da Diáspora Africana no Estado de São Paulo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Neste momento, ouviremos uma música em homenagem a Irmandade Igreja do Rosário dos Homens Pretos, interpretada pelo cantor José Gonçalves Miranda, Paquera.

 

O SR. JOSÉ GONÇALVES MIRANDA - Bom dia a todos. É um prazer estar aqui. Meu nome é José Gonçalves Miranda, Presidente da Comunidade Samba da Vela. Na realidade, sou compositor e tenho cantado minhas obras lá em Santo Amaro. Venho agradecer a Deputada Leci Brandão pelo convite, agradecer também a celebração dos 300 Anos da Irmandade.

Essa música que eu vou interpretar pra vocês é de minha autoria, chama-se Nossa Senhora dos Homens Pretos, e espero que seja do agrado de todos. E que também passe a emoção e a razão de tudo pelo que a Irmandade vem lutando e vem trabalhando para a nossa comunidade negra e para o povo brasileiro. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Gostaríamos de agradecer e registrar a presença da Sra. Regina Marques de Souza, professora Dra. da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, e coordenadora do Núcleo de Pesquisa Identidade Negritude e Sociedade - NEPINS.

Neste momento, o Sr. Jean Nascimento entrega à Sra. Fernanda Bandeira de Melo, do Condephaat, pedido de reconhecimento da Irmandade como Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega do pedido.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Ouviremos agora, o Sr. Antonio Macedo, da Abaçaí Cultura e Arte. (Palmas.)

 

O SR. ANTONIO MACEDO - Meu bom dia à Deputada Leci Brandão, na pessoa de quem cumprimento os demais parlamentares presentes, e a nossa querida Presidente do Condephaat, Fernanda Bandeira de Melo, que nesta manhã acabou de receber um grande presente, um grande coroamento para os seus esforços.

Nós temos discutido isso já há alguns meses com a Irmandade do Rosário, e também hoje, nós estaremos entregando oficialmente ao Condephaat, a trajetória dos Reinados do Congo, dentro dos quais as Irmandades, entre elas a Irmandade do Rosário, se inserem para agilizar esse processo do reconhecimento. (Palmas.)

Deputada Leci Brandão, eu também não sou de São Paulo, também vim do interior do Rio de Janeiro, mas sou paulista, paulistano da gema também. Alguns bons anos atrás, passando pelo Paissandu, de repente, como enunciou a nossa mestre Conceição, uma portinhola atrás da Igreja do Rosário se abriu e vieram saindo aqueles negros lindos e paramentados. Foi um susto, ainda mais pra mim, que há quase 40 anos, dedico-me a pesquisar e entender as nossas expressões de identidade. Eu gostaria de pedir licença, para convidar as irmãs do Rosário, que aqui estão com suas fitas impecáveis, que elas possam levantar-se para que nós possamos olhar a beleza daquele cortejo, bem como também os irmãos do Rosário com suas opas, e seus rebuços. (Palmas.)

E tem sido assim, inclusive a trajetória do Revelando São Paulo com o cortejo belíssimo da Senhora do Rosário, que saia do Paissandu até o Parque da Água Branca, e nós estamos estudando como vamos recuperar esse nosso grande cortejo dentro do Revelando São Paulo.

Não quero me alongar, mas quero falar da minha satisfação pessoal, da Abaçaí Cultura e Arte, por estarmos ombro a ombro já algum tempo caminhando, e assim queremos seguir. Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Neste momento, a Deputada Leci Brandão presta homenagem ao Sr. Jean Nascimento, com a entrega de uma placa dos 300 anos de mandato.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo. Homenagem aos 300 Anos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo, que preserva a identidade Afro-Brasileira através da criação e recriação de uma cultura ancestral, e contribui para que a história, a história da população negra se perpetue para gerações futuras. Deputada Estadual Leci Brandão, PCdoB, outubro de 2011. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem.

 

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O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Convido agora o Padre Eduardo Vieira dos Santos, chanceler do arcebispado, representando o arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer, para fazer uso da palavra. (Palmas.)

Por um erro deste Cerimonial, ele teve que se retirar e não me comunicou.

Gostaríamos de ouvir o Sr. Jean Nascimento, Presidente das Igrejas das Associações da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo, e Presidente da Ação Local Paissandu. (Palmas.)

 

O SR. JEAN NASCIMENTO - Caminhada dura.

Antes de começar, sou filho de uma quinta geração. Uma geração que sempre lutou e preservou o nome da Irmandade. E hoje, Nossa Senhora faz tudo isso, ela une o que foi separado, ela une negros que hoje são líderes, e estão separados. Ela une todos aqueles que ali passaram, todos os escravos que ali passaram. Tanto chicote e tanto sangue que ali foi pisado, e hoje são líderes.

Ali, existe uma igrejinha pequena, perdida no meio dos arranha-céus, mas o coração dela é grandiosíssimo, e como é grande aquele coração. Todos que entram lá se sentem em casa. Não estou falando de raças, credos, estou falando de amor. Todos nós passamos por arranha-céus, tomamos tapa na cara e temos que levantar novamente. Queremos plantar o bem para engrandecer, e tomamos tapa na cara. Mas temos que levantar, assim como os nossos ancestrais. Assim, como os índios que aqui também sofreram, e hoje representado pelo cacique que está aqui. Assim, como tantos caciques que Nossa Senhora nos mostra, que estão aqui os nossos caciques. E cada vez que eu vejo o quanto perdi, quantas derrotas eu vi e hoje Nossa Senhora mostra que as derrotas foram para eu estar aqui hoje, representando a quinta geração da minha família, para unir novamente essa Irmandade. Porque todos aqui são irmãos e irmãs.

Um grande líder no Prêmio Nobel da Paz, o ex-Presidente Nelson Mandela, “para ser feliz é preciso viver em coletividade, em harmonia com quem está a sua volta”, ou seja, tudo de bom que você pode sentir. Ou seja, a uma pessoa os africanos resumiram apenas em seis letras “Yuvutu”. Somos o que somos porque somos.

Eu não posso citar um por um a todos vocês, então eu quero que se sintam grandiosos, porque vocês são grandiosos. Vocês carregam o berço das suas famílias, dos seus ancestrais. A nossa igreja, vou tornar a repetir, pode ser pequena, mas o coração é grande e ela não vai parar. E ela não vai parar enquanto eu tiver forças. (Palmas.)

Obrigado, Conceição, por poder estar aqui. Obrigado, Conceição, porque a sua luta foi grande, nós sabemos o quanto nós penamos para estarmos aqui, e ninguém acreditava, mas nós mostramos o quanto somos “Yuvutu”, obrigado. (Palmas.)

 

O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS - NATAL CALABRO NETO - Registramos e agradecemos a presença de representantes da Escola de Samba Vai-Vai, da Velha Guarda da Camisa Verde e Branco, e da Irmandade São Benedito Jaçanã. (Palmas.)

Agradecemos também, a presença do cacique Tekaine da Aldeia Kariri-Xocó. (Palmas.) e do Clube da Melhor Idade Mariama. (Palmas.)

Convido agora, para fazer uso da palavra, a Presidente desta sessão solene, a Deputada Leci Brandão. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Deus ilumine, abençoe e proteja todos que aqui estão.

Quem está habituado a me ver falar, sabe que eu normalmente falo de pé, mas fui orientada pelo Cerimonial desta Casa que, na condição de Presidente desta sessão solene, eu tenho que ficar sentada, como manda o Regimento da Casa, por isso eu não estou de pé.

Mas quero, primeiramente, saudar o nobre Deputado José Cândido, deputado do Partido dos Trabalhadores, o nobre Deputado Adriano Diogo, também do Partido dos Trabalhadores e excelentíssimo Sr. Vereador Jamil Murad, do PCdoB, que são os parlamentares que aqui compareceram.

As outras autoridades, homens e mulheres, que nos deram aqui um exemplo de sabedoria, de conhecimento, de sensibilidade, eu quero agradecer a cada um porque, às vezes, quando você cita nomes e tem muitas pessoas aqui, você pode correr o risco de faltar alguém, e você acaba sendo injusta. Por isso, quero pedir desse plenário nobre, porque aqui é um nobre plenário, saudações para todas as alas que nós recebemos, dos padres, das autoridades, dos representantes do governo, Dr. Zito, professor José Vicente, Dra. Arruda, Maria Conceição. (Palmas.)

E dizer uma coisa que eu sempre disse ao longo de oito anos comentando carnaval desta cidade, suas benções Sras. baianas, sua benção Velha Guarda, a benção Sras. e Srs. da Irmandade, sua benção. (Palmas.)

É importante que as Sras. e os Srs., os jovens que estão aqui, que eu só estou aqui hoje, tendo a oportunidade de presidir a primeira sessão solene do meu mandato, porque vocês, paulistas e paulistanos, depositaram confiança na minha história. E eu tenho a absoluta certeza de que, e hoje, 14 de outubro de 2011, vocês não me colocaram aqui por causa do meu pandeiro, por causa do meu tam-tam, por causa do meu partido alto, vocês me colocaram aqui porque vocês sabem que eu sempre, sempre, em todo momento, nunca deixei de reconhecer o meu referencial, eu sou uma mulher negra com muito orgulho. (Palmas.)

Antes de vir para esta sessão solene, dei um telefonema para uma Sra. que tem 88 anos, que foi servente de escola pública, foi operária de fábrica de tecidos, e eu disse pra ela: mãe, pena que a Sra. não pode estar aqui hoje, porque a sua filha vai presidir uma sessão solene em homenagem a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo. Ela disse: minha filha, que Deus abençoe você, não é a toa que todos os dias eu rezo um Pai Nosso e uma Ave Maria de manhã e de noite, para te proteger e para te iluminar. (Palmas.)

O mais interessante quando eu conversava com o padre Enes, estava conversando também com o Jean e com Arruda, antes de entrar aqui, é que todo mundo sabe, o Brasil inteiro sabe da fé que eu tenho nos Orixás, nunca neguei isso. Mas é importante também que as pessoas saibam que eu fui batizada na Igreja de São José, eu fiz primeira comunhão, eu nunca deixei de rezar, no terreiro daquele Caboclo Rei das Ervas, que eu nunca deixo de falar nele, o dia da festa dele existe uma coisa chamada “solene”, é um mesa comprida com toalhas brancas, flores brancas, todos de branco e todo mundo reza o Terço, dentro de um terreiro do Caboclo Rei das Ervas.

Eu não sou uma pessoa da teoria, eu não sou universitária, eu não tenho nenhum título. Primeiro diploma importante que eu recebi, foram vocês que me deram, que foi o diploma que eu recebi aqui nesta sala, o diploma de Deputada Estadual de São Paulo. (Palmas.)

E essa semana eu tive a oportunidade, porque eu aprendo todos os dias, e vi um pouquinho da grande e riquíssima história da Irmandade. E quando o Jean fala que a igreja da Irmandade é religião católica, apostólica, romana, e o padre também diz a mesma coisa. Só que de dois em dois meses, acontece uma missa como se fosse na África, e eu fiquei encantada com o que eu assisti, porque eu vi o ofertório, quer dizer, tem o ofertório da missa, da igreja católica, e tem o ofertório da missa africana. Quando eu vi aqueles balaios com frutas, com quitutes para oferecer as pessoas eu fiquei extremamente emocionada, porque isso também acontece lá na nossa religião do candomblé. Existe a oferta da alimentação para que as pessoas possam se confraternizar. Eu vi as roupas coloridas das Sras. da Irmandade, eu vi a dança, os cânticos, embala eu, protege eu mamãe. Coisa linda, fiquei muito emocionada.

Estava dizendo a eles, que nesta noite não consegui dormir. Muita expectativa, eu estava muito tensa, inclusive eu quero agradecer a calmaria que eu tive de ontem pra hoje, a equipe do meu gabinete, que foram extremamente dedicados, em nenhum momento deixaram de dar a sua garra, a sua consciência e a sua alegria para que nós pudéssemos construir esta sessão solene. Quero agradecer a todos eles, sem exceção. (Palmas.)

Eu não sou de falar muito minha gente, eu quero apenas registrar que nesta Casa Legislativa, eu aprendi uma coisa durante a campanha, porque eu achava que um deputado estadual pudesse fazer hospital, escola, maternidade, creche, e não é nada disso. Nós temos que fazer e construir projetos de lei. A maioria da Casa Legislativa é composta por advogados, eu não sou advogada, não sou nada. Mas aí, eu vi que nas competências de um deputado, você pode pegar projetos da iniciativa popular, o povo pode construir projetos, e eu sou um instrumento. Eu sou um instrumento de pegar as idéias, as criações de vocês e trazer pra cá para que seja votado, para que seja aprovado pelo poder executivo. Mas, às vezes, essa coisa de projeto não anda tão rápido como a gente espera, nem sempre a coisa acontece do jeito que a gente quer. Eu achava que na segunda semana aqui, eu já estaria aprovando uns 10 projetos. Mas me enganei, não é assim que a coisa funciona.

Entretanto, o que fiz eu? Procurei outros caminhos, outras alternativas. Fui conversar com secretários de Estado e trouxe nesses sete meses aqui nesta Casa, pessoas que nunca tinham colocado os pés aqui. Fizemos reunião com gestores da Igualdade Racial, trouxemos pra cá as pessoas que são ligadas as religiões de matrizes africanas, trouxemos pra cá o povo do samba, das comunidades de samba, dos terreiros. Trouxemos pra cá, o Movimento de Rap e Rip-Rop, porque eles também fazem parte do nosso universo. Trouxemos pra cá, os segmentos do LGBT, porque nós não temos preconceito contra quem quer que seja, nós respeitamos os seres humanos, independentes de qualquer coisa. (Palmas.)

Então, devagarzinho, do meu jeito humilde e respeitando todos, e conversando com todos os deputados, porque graças a Deus, eu tenho sido recebida com muito carinho por todos eles, eu estou fazendo a minha parte devagarzinho.

Quero concluir, dizendo o seguinte, Jean, naquele DVD que vocês mostraram, tem uma coisa que foi dita pelo padre também, dom João foi quem autorizou para construir a igreja, não foi? Teve que ter a autorização de dom João. Eu tive autorização do Presidente da Assembleia, Deputado Barros Munhoz, para também poder fazer essa sessão solene. Olha só como a história está mudando! Dom João nos autorizou fazer a igreja, a igreja foi construída, está fazendo 300 Anos a Irmandade. E hoje, nós estamos aqui na Assembleia Legislativa, com outro tipo de autorização e foi pedido por quem? Por uma descendente do povo africano, isso é bom, isso é uma alegria. (Palmas.)

E a outra coisa que eu quero deixar muito clara, é que construção é uma coisa que não é só construção civil, da gente construir casa, construir prédio, a gente também constrói na vida. Ao longo desses anos de idade que eu tenho, que eu já sou uma Sra., posso não parecer, mas sou, eu tenho construído algumas coisas. E tenho certeza de que uma construção com um forte alicerce está sendo feita hoje, é mais um tijolinho que colocamos na nossa vida, essa construção. Mas ela só foi possível, porque chegou uma pessoa no nosso gabinete, conversou com a nossa equipe, e como nós temos sensibilidade e como nós entendemos o que é a nobreza de uma etnia, da nossa etnia, a nossa história, a nossa luta, o sangue derramado, as chibatas, os pelourinhos, os chicotes, os ferros, este homem que está aqui a minha esquerda que é o Jean, foi ele quem chegou no nosso gabinete e teve a idéia que foi imediatamente assimilada e aceita. E por isso, hoje, nós estamos aqui. A gente não pode deixar de dar justiça a quem merece, meu nome foi citado aqui porque eu fui instrumento, mas a idéia, o sonho que ele tinha, está sendo realizado.

Termino dizendo o seguinte, a igreja, naquela época, não deixava que os escravos entrassem porque dentro da igreja, era o Sagrado, e fora da igreja, era o profano. (Palmas.)

Hoje, nós não estamos dentro de uma igreja, nós estamos dentro da maior Assembleia de um país chamado Brasil, que é a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e dentro da maior Assembleia de um país, chamado Brasil, está a maior Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, sendo homenageada numa sessão solene. Que Deus os abençoe, que Deus os proteja, que Deus os ilumine. Muito obrigada. (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece as autoridades, aos funcionários da Casa, e a todos, todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. E antes de encerrá-la, convido para assistirmos a apresentação da Congada da Santa Efigênia de Mogi das Cruzes, conduzida pela capitã Gislaine Donizete Afonso, e para um brunch no Hall Monumental. Afinal de contas, merecemos comer alguma coisinha, e beber alguma coisinha.

Retificando, esta sessão solene será transmitida no domingo, 16 de outubro, às 20 horas, pela TV Assembleia. E que Nossa Senhora do Rosário nos abençoe. Muito obrigada. Está encerrada a presente sessão. (Palmas.)

 

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- Encerra-se a sessão às 12 horas e 26 minutos.

 

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