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24 DE OUTUBRO DE 2005

053ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM A “MEMÓRIA DO JORNALISTA VLADIMIR HERZOG”

 

Presidência: ARNALDO JARDIM e RODRIGO GARCIA

 

Secretário: RENATO SIMÕES

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 24/10/2005 - Sessão 53ª S. SOLENE Publ. DOE:

Presidente: ARNALDO JARDIM/RODRIGO GARCIA

 

EM MEMÓRIA DO JORNALISTA VLADIMIR HERZOG, PELA PASSAGEM DO 30º ANIVERSÁRIO DE SUA MORTE

001 - ARNALDO JARDIM

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos em memória do jornalista Vladimir Herzog, pela passagem do 30º aniversário de sua morte.

 

002 - RENATO SIMÕES

Deputado estadual, comenta que a morte de Vladimir Herzog, que se considera como o marco do declínio da ditadura militar do Brasil. Presta tributo aos que lutaram pela democracia.

 

003 - PALMIRO MENNUCCI

Presidente do Centro do Professorado Paulista, recorda a luta de Herzog pelo direito à liberdade de expressão. Destaca a democracia que vivemos hoje no país.

 

004 - JOÃO BATISTA DE ANDRADE

Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, rememora a participação de Vladimir Herzog no programa "Hora da Notícia" e seu desempenho como jornalista.

 

005 - AUDÁLIO DANTAS

Vice-Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI, como presidente do Sindicato dos Jornalistas em 1975, lembra o culto ecumênico realizado na catedral da Sé em 1975, quando da morte de Herzog.

 

006 - MILTON FLÁVIO

Deputado estadual, destaca a sua atuação como líder estudantil e tece considerações sobre o idealismo daqueles que tentam mudar o mundo.

 

007 - HENRY SOBEL

Rabino do Rabinato de São Paulo, comenta que a morte de Herzog gerou a frente ecumênica e o combate a violência institucionalizada dos regimes de opressão.

 

008 - FREDERICO BARBOSA GHEDIN

Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, discorre sobre a morte de Herzog como o início da retomada da democracia. Pede aos jornalistas que sejam conscientes de seu papel e enfrentar as adversidades da profissão diante da situação que se encontra o País.

 

009 - Presidente RODRIGO GARCIA

Assume a Presidência.

 

010 - ARNALDO JARDIM

Deputado Estadual, relembra sua atuação como líder estudantil e os fatos políticos desta época. Reflete sobre atual crise política que o Brasil atravessa.

 

011 - Presidente RODRIGO GARCIA

Presta homenagem ao jornalista Vladimir Herzog e comunica o descerramento da placa que denomina "Vladimir Herzog" a sala dos jornalistas políticos neste Parlamento. Agradece a todos que colaboram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido o Sr. Deputado Renato Simões para, como 2º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

O SR. 2º SECRETÁRIO - RENATO SIMÕES - PT - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada.

 

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O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Queremos saudar a todos e destacar que esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente da Assembléia, Deputado Rodrigo Garcia, atendendo solicitação deste Deputado, em memória do jornalista Vladimir Herzog, pelo trigésimo aniversário do seu falecimento.

Gostaríamos de saudar os que estão conosco na coordenação dos trabalhos: Sr. João Batista de Andrade, Secretário da Cultura do Estado de São Paulo, neste ato representando o Governador Geraldo Alckmin; Sr. Frederico Ghedini, Presidente do Sindicato de Jornalistas de São Paulo e vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas; Sr. Deputado Renato Simões, Líder do PT nesta Casa; Sr. Deputado Edson Aparecido, Líder do Governo nesta Casa; Sr. Deputado Fausto Figueira, 1º Secretário da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Entre as autoridades quero mencionar a presença do Deputado Professor Palmiro Mennucci, Presidente do Centro do Professorado Paulista; Sr. José Roberto Bellintani, Superintendente do Instituto São Paulo contra a Violência e que representa neste instante o Conselho Parlamentar pela Cultura de Paz; Sr. Audálio Dantas, ex-parlamentar, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa e presidente do Sindicato dos Jornalistas em 1975.

Agradeço a presença da Sra. Vera Tude, que representa o Sr. Marcos Mendonça, Presidente da Fundação Padre Anchieta. Saliento a presença do jornalista José Afonso Primo, presidente da Associação dos Cronistas Políticos do Estado de São Paulo.

Lembro a todos que, ao final desta cerimônia, descerraremos a placa que, por Ato da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de São Paulo, sacramentará o nome de Vladimir Herzog à Sala de Imprensa desta Casa.

Convido todos para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional brasileiro.

 

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- É executado o Hino Nacional brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Esta Presidência convida para usar da palavra o Deputado Renato Simões, Líder do PT nesta Casa.

 

O SR. RENATO SIMÕES - PT - Sr. Presidente, nobre Deputado Arnaldo Jardim, senhoras, senhores, companheiros Deputados Fausto Figueira, Edson Aparecido, queremos brevemente, cumprindo o protocolo desta sessão solene, registrar em nome da Bancada do PT nesta Casa, dos nossos 22 Deputados estaduais, em primeiro lugar a nossa satisfação pela iniciativa do Líder da Bancada do PPS, Deputado Arnaldo Jardim, em promover juntamente com a Presidência, com a Mesa desta Assembléia Legislativa, um conjunto de iniciativas que começa com esta sessão solene e prosseguirá com a inauguração da Sala da Imprensa Vladimir Herzog da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, abrindo uma série de atividades, de programas especiais da nossa TV Assembléia que marcarão esta lembrança de um dos momentos mais importantes da história política e da história geral do Brasil.

Há trinta anos, quando a ditadura prendeu, torturou e matou Vladimir Herzog, talvez não tivesse o descortino de perceber que ali estava se virando uma página da história do Brasil. Foi o sangue de Vladimir Herzog e de tantos outros companheiros que naquele período marcaram o declínio da ditadura militar, permitindo que a luta contra a ditadura em favor da democratização do Brasil ganhasse um novo fôlego. A nossa geração só existe, só tem hoje liberdades democráticas que a cada dia precisam ser reafirmadas e confirmadas por conta desta e de outras figuras que marcaram a resistência democrática no Brasil.

Por isso queremos salientar que a Assembléia Legislativa de São Paulo, que fica a poucos metros de alguns dos mais importantes centros de tortura da ditadura militar, não poderia deixar de fazer, neste momento, o que talvez não tenha feito com a devida atitude no momento em que os fatos aconteceram.

Durante muitos anos nesta Casa, Deputado Arnaldo Jardim, defendeu-se a violação dos direitos humanos fundamentais. Foi uma das últimas Casas Legislativas estaduais do Brasil a constituir a sua Comissão de Direitos Humanos - em 1995 - e paga efetivamente hoje um preço pelas atitudes e omissões que praticou ao longo da sua existência. Mas acreditamos que a luta do povo brasileiro trouxe à Assembléia Legislativa para melhores caminhos. E é por isso que toda vez que lembramos o passado, reforçamos a nossa convicção de luta política democrática no presente e nos comprometemos com essas marcas para o futuro do nosso país, do nosso estado, das nossas cidades.

Agradeço, Sr. Presidente, a delicadeza de abrir esta sessão com o pronunciamento da Bancada do Partido dos Trabalhadores. Saiba que estaremos juntos com o PPS nesse tributo a Vladimir Herzog, que é um tributo a todos os lutadores pela democracia no Brasil.

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Agradecemos a manifestação do nobre Deputado Renato Simões e convidamos a fazer uso da palavra o Professor Palmiro Mennucci, que preside o Centro do Professorado Paulista e ex-Deputado Estadual.

 

O SR. PALMIRO MENNUCCI - Sr. Presidente, Deputado Arnaldo Jardim que teve a feliz idéia desta iniciativa; Deputados Renato Simões, Edson Aparecido, Fausto Figueira, três brilhantes Deputados desta Casa; Secretário João Batista de Andrade, grande Secretário da Cultura de São Paulo; quero cumprimentar também o Sr. Davi Zaia, nosso Presidente Estadual, e a bancada do Centro do Professorado Paulista aqui presente, Maria Lúcia de Almeida e Jacy Mennucci.

Não há liberdade mais absoluta do que a que nasce dentro de alguém e se estende para fora para todos. Essa foi a forma de liberdade que Vladimir Herzog viveu e transmitiu ao povo paulista e ao Brasil.

Suas convicções levadas ao povo, seus brados de liberdade o levaram aos porões da ditadura aos 25 de outubro de 1975 e neste mesmo dia, vítima de atrozes torturas, expirou aos 38 anos de idade. Porém, enganaram-se aqueles que pretenderam emudecê-lo, pois o seu sentimento de liberdade, os seus anseios, entranharam-se em todos nós. O Vlado está vivo em nossos corações.

Na Praça da Sé, aos 31 de outubro de 1975, em protesto silencioso, o sangue de Vlado percorreu as veias de cerca de oito mil pessoas e a sua liberdade absoluta, como ele sempre quis, se estendeu para todos. Racharam-se as paredes dos porões da tortura, os grilhões enfraqueceram e acelerou-se o processo de abertura política.

Hoje, aqui e agora, sabemos da importância das idéias de Vladimir Herzog em nossas vidas, na vida política de nosso país.

Os raios da liberdade, a garantia dos direitos individuais e coletivos brilharam na Constituição de 88, que entre outros determina: “ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento desumano ou degradante. É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção política filosófica. Ninguém será privado da liberdade por seus bens sem o devido processo legal.

Pelos princípios de liberdade e igualdade com que morreu Herzog, devemos revivê-los em cada um de nós. O episódio de sua morte marcou o ápice da violência do regime de recessão, e provou o início do desmoronamento daquele que foi um dos períodos da nossa história, que merece o mais completo repúdio do povo brasileiro. A homenagem que se presta hoje a sua memória é a melhor maneira de dizermos que o seu sacrifício ficará sempre como símbolo da luta pela liberdade do povo brasileiro.

Em síntese, por estas razões e reflexões que participamos hoje, são de suma importância para que estejamos atentos, para que o espaço democrático que conquistamos até hoje seja preservado, amadurecido e ampliado para que o nosso povo viva em absoluta democracia para exercer plenamente sua cidadania, com direito de expressão, acesso ao trabalho, escolas públicas de qualidade a todos, assistência à saúde, habitação digna e alimentação, apagando-se o quadro doloroso da fama do desabrigo e do desemprego.

Como cidadão, como defensor da categoria do Magistério, e como homem público, repetirei aqui palavras de Botelho: “Mesmo não estando de acordo com o que dizes, defenderei com minha vida teu direito de dizer o que pensas.”

Deputado Arnaldo Jardim, meus parabéns. Parabéns a todos e obrigado por tudo. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Agradeço pelo pronunciamento, Professor Palmiro Menuchi.

Destacamos a presença entre nós do Rabino Henry Sobel; do já mencionado Presidente Estadual do PPS, nosso companheiro David Zaia; e do Deputado Milton Flávio, que representa a Bancada do PSDB.

Nesse instante, por conta de contingência de horário, queria alterar a ordem e pedir que usasse da palavra o Secretário da Cultura do Estado de São Paulo, João Batista de Andrade, representando o Governador Geraldo Alckmin.

 

O SR. JOÃO BATISTA DE ANDRADE - É sempre muito bom sabermos que por todo lado, por todo tipo de organização na sociedade, em São Paulo e no Brasil, as pessoas tratam de relembrar a tragédia do Vlado, e o significado dessa tragédia. Relembrar aqueles dias terríveis e difíceis em que vivemos, e que consumiram parte da juventude de muitos de nós.

É fundamental que a memória não se perca, sabemos disso. Sabemos que a tentação de retrocesso está sempre presente na sociedade. Sabemos que a democracia é cheia de problemas, que há que ser trabalhada permanentemente. Sabemos que permanentemente há sempre aquelas vozes soturnas, que clamam pelo retrocesso como solução dos problemas que, na verdade, é a democracia que deve resolver.

Vlado - preciso repetir, e sempre - é uma vítima da luta democrática no Brasil. Vlado que conheci como cineasta, mesmo antes do Golpe do 64. Ele gostava de cinema e tendia a fazer cinema. Era um pouco dividido entre o jornalismo e o cinema. Eu o conheci então em 1963, e Vlado era uma pessoa absolutamente aberta e lúcida. Era o intelectual refinado e superinformado, e que tinha noção do papel da intelectualidade na sociedade. Tinha noção da pequenez muitas vezes, do pequeno papel, mas fundamental que o intelectual pode exercer na luta pela melhoria das condições de vida e pelas liberdades em nosso país. Sabia que o intelectual tinha de dedicar sua vida a isso, a usar a sua pequena força, o seu papel, o seu prestígio, a sua capacidade intelectual, técnica e artística para ajudar a sociedade a se organizar e tomar a si a discussão dos seus próprios problemas e propor soluções.

E foi assim, depois, quando ele volta de Londres, em plena vigência do Ato Institucional nº 5. Foi assim que eu revi Vlado, e juntos fizemos, sob a direção do grande Jornalista Fernando Pacheco Jordão, do programa de jornalismo diário na TV Cultura, “Hora da Notícia”. Vlado tinha ainda mais convicção dessa sua visão, do papel do intelectual, do papel do artista na sociedade.

O que a ditadura fazia exatamente naquele momento era dificultar. Ela fazia de tudo para que a sociedade não tomasse a si as rédeas da discussão dos seus problemas, que a sociedade não expusesse seus problemas, não desenvolvesse suas idéias, a sua própria intelectualidade. Vlado tinha a visão correta desse momento, e dizia: “O papel nosso na televisão naquele momento - ele era jornalista e eu era cineasta - era importante que usássemos o pequeno espaço que tínhamos, o pequeno estilingue que tínhamos para ajudar a sociedade, para induzir a sociedade a romper o cerco que lhe fazia a ditadura militar. Para que a sociedade, como recomeçasse a retomar para si a discussão dos seus temas, dos seus problemas, se reorganizasse, e que não aceitasse o jugo feito pela ditadura, ora feito pela censura pura e simples, proibindo artigos, filmes e telejornais, ora pela perseguição, pela marginalização de intelectuais, pelo exílio, ora pela tortura e pela morte.” Vlado tinha consciência, ao mesmo tempo, do pequeno papel que exercíamos, mas da importância naquele momento fundamental de bem exercer aquele papel.

O Vlado, então, é vítima disso. Vlado foi morto exatamente porque, tal como ele pensava, a ditadura foi sendo encantoada pela sociedade, que exigia, a cada dia, mais liberdades públicas, liberdades individuais; e a democracia o direito de votar e o direito de eleger seus representantes. Vlado foi vítima disso, porque encantoada, ela dá o coice da morte, e com a violência que nós todos vimos.

É preciso nunca esquecer que Vlado é vítima da luta democrática. Vlado não era um guerrilheiro, não era uma pessoa de luta armada. Tinha se colocado criticamente à proposta de luta armada contra a ditadura, achando que essa luta contra a ditadura deveria ser uma luta ampla, envolvendo conjunto da sociedade, e usando todas as formas possíveis e todas as brechas que podíamos ter naquele momento, inclusive a do jornalismo, que era muito importante.

É preciso relembrar e repetir sempre que temos hoje a democracia graças à luta de pessoas como Vlado, graças a muitos que morreram, que foram exilados, que tiveram suas carreiras cortadas e suas vidas transtornadas mas que não abriram mão do direito de lutar, de protestar e de exigir que as liberdades democráticas fossem restabelecidas no país.

É fundamental que lembremos esse fato. Hoje vivemos numa democracia, certamente cheia de problemas, certamente sem atingir a todo o conjunto da população, certamente com imensos desafios para todos os que se interessam em construir um futuro melhor para este país e que lutam, e que sofrem porque não aceitam as injustiças sociais terríveis com as quais convivemos mas aí está a democracia que o Vlado queria. Ela está implantada e cabe a nós levá-la adiante. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Agradecemos a manifestação do Secretário João Batista de Andrade e neste instante queríamos convidar para o seu pronunciamento o nosso amigo Audálio Dantas, vice-Presidente da Associação Brasileira de Imprensa.

 

O SR. AUDÁLIO DANTAS - Sr. Presidente Deputado Arnaldo Jardim, autor da proposição da realização desta sessão solene, colocada entre as homenagens, os eventos que o Sindicato dos Jornalistas, a comissão organizadora das homenagens ao Vlado prepararam, quero dizer que este momento representa também algo muito importante para os jornalistas na medida em que vamos ter o nome de Vladimir Herzog na Sala de Imprensa aqui da Assembléia Legislativa. E não só porque é o nome do Vlado, mas porque se restabelece esse espaço que praticamente havia desaparecido. E graças à luta de alguns companheiros aqui, jornalistas da Assembléia, Zé Afonso Primo, grande lutador, conseguimos trazer de volta essa sala de imprensa com muita honra com o nome de Vladimir Herzog.

Quero, Deputado Arnaldo Jardim, mais uma vez agradecer a sua iniciativa, sabendo do seu envolvimento, das suas preocupações ao longo de sua vida pública em relação às questões pelas quais o Vlado lutou.

Quero saudar especialmente aqui o companheiro Fred Ghedini, Presidente do nosso sindicato, e os companheiros que aqui presentes integram a comissão de homenagem ao Vlado. Aqui estão Sérgio Gomes da Silva, Frederico Pessoa, ex-presos políticos, na mesma escalada que levou Vlado à morte; meu companheiro José Augusto de Camargo, o Guto, diretor do sindicato e um dos que lutaram muito durante esses últimos meses junto com todos os outros membros da comissão para que tivéssemos, por exemplo, a realização daquele magnífico culto ecumênico ontem na Catedral que relembrou outro realizado há 30 anos, que foi sem dúvida nenhuma o momento em que a consciência nacional despertou para a necessidade de protestar, de gritar, mesmo que naquele momento esse culto se realizasse em silêncio sob a opressão de policiais armados que cercavam toda esta cidade; 383 barreiras policiais comandadas pelo Coronel Erasmo Dias impediram que um número muito maior além daqueles oito mil estivessem na Sé.

Mas ontem foi um momento de reencontro da sociedade que naqueles dias esteve presente e de líderes religiosos - aqui um deles presente, o rabino Henry Sobel. O papel que ele representou naquele momento foi fundamental para que tivéssemos força para unirmos três forças religiosas. Sei do trabalho que ele desenvolveu, inclusive no sentido de convencimento de alguns setores de que devia estar lá. E - sempre lembro isso nesses últimos trinta anos - ele estava naquela catedral junto com o dom Paulo Evaristo Arns e com o reverendo Jaime Wrigth, não porque ali tivesse morrido um jornalista, mas um homem de cultura, um cidadão digno, pai de família e trabalhador. Não era também por ser judeu - Vlado era judeu - mas porque era o homem do qual tinham tirado a vida. Isso tem um significado muito importante nessas manifestações que assistimos nesses dias em homenagem à memória do Vlado.

Anteontem, na inauguração da exposição de artes plásticas nas antigas celas do Dops, inclusive com a presença de presos políticos que por ali passaram, um deles o Frederico, o outro o Sérgio e mais alguns, eu fazia uma observação que repito aqui: Deputados Arnaldo Jardim, Renato Simões, Edson Aparecido, Fausto Figueira, Milton Flávio quero saudar a presença de V. Exas. dizendo que naquela abertura da exposição, que deve ser vista por todos, eu notava a ausência do Poder, pois lá não estavam representantes nem do poder municipal, ou do estadual ou federal.

Ontem na Catedral tivemos a representação do Governador de Estado, Geraldo Alckmin e do Prefeito da cidade, José Serra. Aqui nesta sessão temos quatro parlamentares e alguns dos nossos companheiros, principalmente ex-presos políticos. Observavam junto comigo que nessas homenagens estiveram ausentes praticamente todos os partidos políticos. Está aqui presente, com uma homenagem mais do que significativa, o Deputado Arnaldo Jardim e alguns outros parlamentares; e eu faço uma pergunta: onde estão os outros integrantes desta Casa? Seria porque é cedo? Esta sessão começa tão cedo? Talvez haja outras razões mas acho que momentos como este são para serem lembrados. Dizia anteontem e repito hoje, muitos dos que ocupam o poder, que ocupam cargos legislativos ou executivos deste país ontem não se faziam presentes na Catedral da Sé. Muitos desses que estão ausentes, que ocupam cargos importantes, foram eleitos graças ao sacrifício de cidadãos como Vladimir Herzog e muitas outras vítimas da ditadura.

Quero, portanto, me congratular com o companheiro, permita-me tratá-lo assim, Deputado Arnaldo Jardim, por esta iniciativa e agradecer a presença do meu amigo, do nosso amigo, Rabino Sobel.

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Agradeço a manifestação do companheiro, Presidente do Sindicato de Jornalismo de 1975, Audálio Dantas.

Quero destacar e saudar a presença do nosso primeiro vice-Presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Deputado Jorge Caruso, que integra a Bancada do PMDB.

Convido, neste instante, o nobre Deputado Milton Flávio, para se pronunciar em nome da Bancada do PSDB.

 

O SR. MILTON FLÁVIO - PSDB - Sr. Presidente, nobre Deputado Arnaldo Jardim, nosso amigo Henry Sobel, Audálio Dantas, Deputados Renato Simões, Fausto Figueira, Jorge Caruso, Palmiro Mennucci - sempre Deputado - amigos que participam desta cerimônia para homenagear o Vlado, quero dizer, Sr. Presidente, que falo também em nome do nosso Líder do Governo, Deputado Edson Aparecido, que me delegou, me deu o privilégio de falar também em nome do Governo nesta oportunidade.

Vou gastar um pequeno tempo de vocês. Volto à década de 90.

Eu sou um professor de Medicina em Botucatu e nós comemorávamos a essa época, ao mesmo tempo em que a cidadania lutava para derrubar um presidente, 25 anos de um movimento que para nós foi muito importante: operação denúncia, operação andarilho, foram movimentos que realizamos na época da ditadura para consolidação da democracia e da nossa universidade.

Naquele momento, a faculdade fazia uma exposição - fotografias, vídeos - da luta dos seus estudantes no combate à ditadura e na consolidação da faculdade.

Eu me lembro, eu que durante muitos anos havia omitido ou não tinha tido a preocupação de relatar para os meus filhos essa nossa participação, levei-os para conhecer um pouco da história da faculdade. E para minha surpresa, eles se impressionaram muito ao ver a figura do pai ainda jovem participando de cada um daqueles eventos, liderando a operação andarilho, depois na operação denúncia, cercado no seminário, enfrentando nas ruas a queda de Ibiúna, depois sendo preso.

Eu me lembro que quando voltei para casa, eu que à época era Secretário da Saúde de Botucatu, mas basicamente professor de Medicina, me sentei com meus filhos e meu filho mais velho - hoje advogado - me perguntou: “Pai, como é que um cara que fez tanta coisa na vida como você, se contenta hoje em ficar dentro de um consultório?”

Dois anos depois, depois de muitos anos, eu decidi reingressar na política. Disputei a minha primeira eleição e desde então sou Deputado.

Por que conto essa história? Porque eu fiquei muito impressionado, Sérgio - eu lhe conhecia no filme apenas - quando assisti o filme de João Batista de Andrade, quando ele coloca aquela cadeira na Praça da Sé e começa a perguntar para as pessoas. E me impressionou muito o desconhecimento, a falta de memória do povo brasileiro.

Como foi importante, para cada um que assistiu aquele filme, que se emocionou com aquele filme, relembrar fatos, episódios, companheiros, que para nós hoje, no dia-a-dia, estão absolutamente apagados do nosso imaginário e do imaginário popular.

Há poucos dias eu enfrentava aqui manifestações de um grupo de estudantes. Ao sair daqui encontrei com o meu assessor de imprensa e ele me perguntou como é que eu me sentia, como ex-líder estudantil, ex-preso político, sendo vaiado pelos meus companheiros, meus alunos da universidade.

E eu me lembrei do Governador Mário Covas. Ele dizia que a coisa mais importante da democracia é poder ver de novo esses jovens, poder ver de novo o povo se manifestando, ainda que contra a gente.

Aí nos lembramos do tempo em que não podíamos fazer nada disso e sabemos o quanto custou para muita gente, inclusive para o Vlado, essa luta em muitos momentos quase que solitária.

Nós nos imaginávamos muito mais fortes. Nós nos imaginávamos capazes de derrubar a ditadura. E só hoje, muito tempo depois, é que somos capazes de avaliar a pequenez do nosso movimento e do conjunto de pessoas que, como nós, sonhavam derrubar aquele movimento, aquela ditadura que a todos incomodava tanto.

Fechando essa homenagem, rabino, quero roubar uma história que o senhor nos contou há poucos dias.O rabino, durante uma homenagem a Mauro Morelli, contou a história - com certeza já ouvimos com outras versões - de um jovem, que poderia ser o Vlado, que resolveu mudar o mundo.

Logo percebeu que o mundo era muito grande, que os problemas eram imensos. Desistiu e resolveu mudar apenas e tão-somente o seu continente. Mas, de pronto, também percebeu que a tarefa era grande demais para que ele pudesse executá-la. Aí, achou que talvez fosse suficiente mudar o seu país. E ele foi reduzindo as suas pretensões na medida em que percebia a sua insignificância, as suas limitações, até que se contentou em mudar a si próprio.

Mudou a si próprio, melhorou a sua performance, definiu melhor os seus horizontes e pouco a pouco foi percebendo que ele, melhor, foi capaz de mudar os seus amigos, de mudar a sua cidade, de mudar o seu país e mudando o seu país, transformou o nosso mundo num mundo melhor.

O Vlado, embora tenha sido apenas uma pessoa, era uma pessoa diferente, que se contentava quase em fazer bem feito aquilo que ele sabia fazer melhor, que era o jornalismo e um pouco de cinema.

Mas, hoje, todos nós, temos absoluta convicção de que graças a esse personagem, a esse cidadão, melhor do que muitos, o Brasil vive uma situação diferente e com certeza o seu exemplo faz o nosso mundo um pouco melhor. Um grande abraço a vocês, companheiros de luta, e que Vlado nunca seja esquecido. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Queremos agradecer a manifestação do Deputado Milton Flávio e saudar a presença da minha amiga Rosa Maria Morgado, a Rosa, hoje primeira-dama do Município de Monte Alto, acompanhada da Maria das Graças Silva Nunes, diretora de indústrias daquele município. Fomos companheiros justamente nesse período, 1975/76, quando participamos do movimento estudantil, primeira diretoria do DCE da USP. Bem-vinda, Rosa.

Esta Presidência concede a palavra ao Rabino Henry Sobel.

 

O SR. HENRY SOBEL - Obrigado, Sr. Presidente da Mesa, Deputado Arnaldo Jardim, autoridades, queridos Deputados, meu querido e fiel amigo Audálio Dantas, foi a pressão da sociedade que levou o governo militar a refrear a tortura nos anos da ditadura. O protesto maciço da população contra o assassinato de Vladimir Herzog surtiu efeitos positivos incomensuráveis. A tragédia, ocorrida há 30 anos, nos aproximou uns aos outros.

A gravidade do momento nos fez criar uma frente unida, uma frente inter-religiosa, uma frente ecumênica. Respeitando sempre nossas diferenças, decidimos erguer juntos nossa voz e clamar em uníssono contra a repressão e a tirania.

É com essa mesma voz, firme e unida, que assumimos esta semana o compromisso de preservar, dentro de nós, o sentimento de indignação e inconformismo diante da violação dos direitos alheios. Assumimos esta semana o compromisso de nunca nos calarmos, sabendo que o silêncio é o mais grave dos pecados. Aprendi com meu pai, de abençoada memória, que o silêncio sempre beneficia o agressor, nunca a vítima. Repito: o silêncio é o mais grave dos pecados.

Sabemos que todos nós estamos unidos, quer sejamos cristãos, judeus, muçulmanos, budistas ou - como disse ontem na Catedral - até mesmo ateus. Digamos não à violência institucionalizada. Inspirados pelo legado de Vlado Herzog, digamos sim à paz, aos direitos humanos e à dignidade de todos os filhos de Deus. Shalom.

 

O SR. PRESIDENTE - ARNALDO JARDIM - PPS - Agradecemos a palavra do Rabino Henry Sobel, assim como sua militância.

Com a palavra, o Sr. Frederico Barbosa Ghedin, Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e vice-Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA GHEDIN - Vera Tude, representando o Presidente da Fundação Padre Anchieta, Sr. Marcos Mendonça, David Zaia, Presidente Estadual do PPS, integrantes do Fórum de ex-presos políticos aqui presentes, Deputado Estadual Renato Simões, Líder do PT, Partido dos Trabalhadores, Deputado Fausto Figueira, 1o Secretário da Mesa Diretora, Professor Palmiro Mennucci, Presidente do Centro de Professorado Paulista e ex-Deputado estadual, Rabino Henry Sobel, bravo lutador, Audálio Dantas, meu colega, vice-Presidente da ABI e Presidente do Sindicato dos idos de 1975, Secretário da Cultura de Estado, João Batista de Andrade, representando o Sr. Governador, Geraldo Alckmin, Deputado Estadual Arnaldo Jardim, do PPS, Presidente desta sessão e autor do requerimento para a realização desta Sessão Solene, colegas jornalistas, senhoras e senhores, quando os algozes da ditadura militar, de forma brutal e covarde, ceifaram aquela vida - isso, daqui a poucas horas, estará completando 30 anos -, mal sabiam que estavam ali plantando uma semente que terá vida eterna.

De forma estúpida, fizeram essa troca. Ninguém repõe a vida de Vlado, que cala fundo no coração daqueles que, com ele, conviveram. Mas, ao mesmo tempo, é preciso dizer a vocês que Vlado continua vivo e continuará vivo para sempre no coração, na memória e, principalmente, nos atos de todos aqueles que lutam pela liberdade e pela democracia.

Esta é a mensagem que quero passar, em nome do Sindicato dos Jornalistas, em nome dos jornalistas que continuam resistindo e lutando ainda hoje pela liberdade e pela democracia, buscando a verdade, porque esse ofício não é fácil, esse ofício ainda hoje exige disposição de luta, exige que se procure fazer mais do que simplesmente aquilo que se é mandado fazer.

Então, é em nome desses resistentes que quero dizer para vocês que nós, jornalistas, temos a consciência clara - estes jornalistas - do nosso papel. Se a cada ano lembramos do martírio do Vlado, espero que os colegas que ocupem daqui em diante esse cargo que foi ocupado pelo Audálio e está sendo ocupado por mim tenham essa consciência para sempre dessa responsabilidade. Para que a sociedade sempre alertada tenha sempre a possibilidade de conhecer esses eventos que ocorreram em nosso país e que lutamos para que não voltem a ocorrer jamais.

Mas também lutamos para que haja uma mudança profunda e efetiva nas condições de vida da maioria da população brasileira que ainda sofre. E digo para vocês com certeza - e quem o conheceu sabe disso -, Vlado foi supliciado mas não era um inocente útil. Vlado sabia o que estava fazendo. Assim como nós temos que saber que é preciso continuar fazendo e levando essa bandeira. Porque, em que pese tudo que se conquistou, todos vocês hão de convir comigo que este país, infelizmente, ainda é um país profundamente miserável, pela condição em que vive o seu povo. É um país em que professor tem que fazer greve para ganhar salários melhores, dignos. É um país em que jornalista tem que resistir para conseguir fazer um trabalho bem feito, em condições de trabalho de dez, doze horas por dia, cobrindo inúmeras pautas e, às vezes não conseguindo, não dando conta de fazer aquilo que é nossa obrigação.

Então tenho certeza que o Vlado - essa certeza me passaram aqueles que conviveram com ele - tinha essa consciência. E temos feito o possível para que o sacrifício dele não tenha sido em vão. Vamos continuar.

Espero que depois desses últimos acontecimentos na nossa vida política uma consciência diferente, uma consciência nova no sentido de que aqueles que lutaram e que ainda lutam se unam para que, aqueles que estiveram na trincheira oposta, ao lado do agressor, não saiam ganhadores neste momento. Seria ao fim e ao cabo o mais terrível de todos os resultados desses trinta anos, desses quinhentos anos de luta.

Esse é o apelo que deixo aqui: que se repense o que estamos fazendo na vida política deste país. O que nós estamos fazendo? Por que criamos essa situação? O que é preciso mudar para que não permaneça como está?

Estas eram minhas palavras, Sr. Presidente, parabenizando o nobre Deputado Arnaldo Jardim pela iniciativa deste evento dentre uma série de outros, como já relatou o colega Audálio Dantas.

Convido a todos para a entrega do 27º Prêmio Herzog, prêmio de anistia e direitos humanos, amanhã às dezenove horas no Parlamento Latino Americano. De todas as lembranças, de todas as comemorações - e não estamos comemorando nenhum fato abonador, afinal de contas - mas de todas essas lembranças a mais permanente ao longo de todo esse tempo é exatamente o Prêmio Vladimir Herzog, instituído em memória do Vlado há vinte e sete anos. Parabenizamos esta Casa pela lembrança de dar o nome do Vlado à Sala de Imprensa. Muito obrigado, senhores. e senhoras. (Palmas).

 

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- Assume a Presidência o Sr. Rodrigo Garcia.

 

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O SR. PRESIDENTE - RODRIGO GARCIA - PFL - Dando continuidade esta Presidência tem a satisfação de conceder a palavra ao autor desta Sessão Solene e desta homenagem, nobre Deputado Arnaldo Jardim.

 

O SR. ARNALDO JARDIM - PPS - SEM REVISJÃO DO ORADOR - Sr. Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, nobre Deputado Rodrigo Garcia, quero agradecê-lo muito. Quero agradecer ao Deputado Rodrigo Garcia por se fazer presente, o que não é usual. Normalmente o Presidente não comparece a essas Sessões Solenes que se realizam aqui na Assembléia. Assim, quero destacar isso como uma postura do Presidente e como uma homenagem do Poder Legislativo de São Paulo.

Também quero destacar a presença aqui entre nós do 1º Secretário Deputado Fausto Figueira. Quero lembrar que se pronunciaram aqui os parlamentares Deputado Renato Simões, Líder do PT e Deputado Milton Flávio, pela Bancada do PSDB e pela Liderança do Governo e que estiveram aqui o Deputado Edson Aparecido, Deputado Jorge Caruso, 1º Vice-Presidente da Assembléia e o nosso sempre querido Deputado Palmiro Menucci.

Meu caro Audálio Dantas, acho que você deu um puxão de orelhas bem dado aqui, mas acho que cabe a todos nós também verificar que esta sessão realizada é um passo importante e a denominação da sala será algo que fará parte integrante e permanente da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Há poucos instantes o Fred, presidente do nosso sindicato, disse que estamos comemorando mas não é bem uma comemoração, acho que ele até falou para não se confundir na sua expressão aquilo que reúne todos nós: a dor pela perda do Vladimir Herzog.

Mas eu diria que estamos fazendo, sim, uma comemoração, porque no episódio Vladimir Herzog a novidade não foi a morte. A novidade foi a reação que o Audálio capitaneou e o Sindicato dos Jornalistas teve um papel destacado. E quantos que estão aqui, fizeram este momento possível! .Naquele instante estivemos juntos na condição de estudante que era. Naquele instante acabávamos de vivenciar a greve da Escola de Comunicações da Universidade de São Paulo, depois de um primeiro momento em que em 1973 a morte de Alexandre Vanucci Lemos tinha sido acompanhada de uma primeira tentativa de resposta, que só veio de uma forma vigorosa exatamente no episódio Herzog.

Todos sabemos que Herzog era a ponta do iceberg de um processo brutal de repressão clandestina que havia naquele instante.

Então acho que podemos dizer, Fred, que é uma comemoração: comemorar essa manifestação da sociedade, comemorar essa tomada de consciência que vocês construíram naquele momento.

Portanto, a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo quando faz uma sessão solene, lança esse seu olhar, como hoje a sociedade está lançando, e comemora este fato, a reação da sociedade que vocês tão bem capitanearam naquele instante.

Lembro-me que nesta Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, embora naquele momento houvesse um controle sobre esta Casa, tivemos a atitude vigorosa de alguns parlamentares, que se somaram a essa manifestação: os Deputados Alberto Goldman, Marcelo Gato e Nelson Fabiano, que depois inclusive se tornaram vítimas desse processo todo na medida em que tomaram essa atitude.

Estava na USP admirando o Fred, seguindo no caminho da ponte que o Sérgio Gomes da Silva, junto com Fernando Gomes, insistia em construir naquele instante, tendo os meus primeiros contatos com o Luciano Pinho, companheiros que se tornavam referência desse momento de tomada de consciência que realizávamos ali. Uma atitude que acabou revertendo logo no ano seguinte na reconstrução do DCE da USP - integrei a sua primeira diretoria - depois, no ano seguinte, na reconstrução da UEE - tive também a oportunidade de ao lado de um conjunto de forças políticas estar representado na primeira diretoria da UEE.

Portanto, um olhar que é uma homenagem, uma saudação a essa tomada de consciência. E não há como deixar fazer - ainda que de uma forma muito resumida - uma reflexão sobre os nossos desafios.

Ontem ganhou o “não”. Não sei qual foi a posição de cada um, mas fui um militante a favor do "sim". Mas dois terços da sociedade disse que deveríamos continuar comercializando armas, como um protesto, entendo eu, à ineficiência dos Poderes Públicos e como uma tomada de atitude individual de tentar se autopreservar. Não quero fazer nenhuma leitura no sentido do que seria politicamente correto se adotar, acho que ninguém pode ter a pretensão de ser dono da verdade, mas para mim soa como uma advertência muito clara de que o processo efetivo de consciência democrática e de consolidação das instituições ainda não está completo no nosso país.

Nós todos, depois desses 30 anos, vivenciamos situações. O movimento estudantil não é o mesmo. O sindicato dos jornalistas tem uma conformação e uma ação que tem novas características. O Parlamento tem outros desafios.

De qualquer atitude que possamos tomar, o que vale é o sentimento de que a chama da indignação e a vontade de construir um caminho de justiça e de consolidação da democracia está presente em cada um dos atos que estão lembrando esse episódio.

É isso que renovamos aqui na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo: novos momentos, novas conformações à ação sindical, novas características da ação parlamentar, novos desafios ao movimento estudantil, uma sociedade que acho que tem o repto porque conseguiu se organizar e ter um profundo dinamismo na reação ao regime que havia, mas que deve aceitar aquilo que o Fred, o nosso Presidente do Sindicato, lançou como uma consigna: buscar estabelecer novas referências para uma ação integrada daqueles que querem o progresso social no país.

Festejo isso. Sinto que esta chama está acesa e acho que esta ocasião nos dá a oportunidade de refletir e agir para que isso possa acontecer.

Agradeço muito a oportunidade de ter sido o autor desta proposta. Agradeço muito a sensibilidade de todos os partidos e parlamentares desta Casa, que de forma unânime acordaram para que pudéssemos ter esta sessão solene e saúdo a Mesa Diretora - ao Presidente Rodrigo Garcia, ao 1º Secretário, Fausto Figueira, ao 2º Secretário, Geraldo Vinholi - que com este ato vai consolidar o nome de Vladimir Herzog como uma referência permanente da ação da imprensa e da ação do Poder Legislativo de São Paulo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - RODRIGO GARCIA - PFL - Esta Presidência quer agradecer a presença do Sr. Audálio Dantas, vice-Presidente da Associação Brasileira de Imprensa e Presidente do Sindicato dos Jornalistas em 1975; do Sr. Frederico Barbosa Ghedini, atual Presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo; do Rabino Henry Sobel, que muito nos honra.

A iniciativa do Deputado Arnaldo Jardim, de alguma maneira, refletiu o pensamento desta Casa, o pensamento dos partidos políticos, da atual Mesa Diretora em não só realizar esta sessão solene, mas também o ato, na seqüência, de inaugurar a Sala de Imprensa da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo homenageando Vladimir Herzog.

Ouvindo atentamente as palavras do Fred e do Deputado Arnaldo Jardim, quero deixar registrado que na ocasião do assassinato de Vladimir Herzog eu tinha dois anos de idade.

Para mostrar a todos como o Brasil de lá para cá mudou, como a jovem democracia brasileira se consolidou - eu conheço a história do Brasil e sei a importância e o símbolo, como destacou aqui o Deputado Arnaldo Jardim, que teve o assassinato do jornalista Vladimir Herzog - quero saudar este momento em que relembramos a sua memória dizendo que a melhor forma de homenageá-lo não é só através de uma sessão solene, de uma missa realizada no dia de hoje ou da inauguração da Sala de Imprensa da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Acho que a melhor forma de homenageá-lo é continuar trabalhando pela liberdade de expressão, pois é somente desta maneira, com o acúmulo de experiências e decisões, que vamos buscar a liberdade completa neste país.

Portanto, quero dizer que tenho muita honra de presidir a Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e presidir o encerramento desta sessão solene, convidando a todos para, junto com os Deputados Fausto Figueira, Geraldo Vinholi e Arnaldo Jardim, autor da proposta, bem como os Deputados Renato Simões, Milton Flávio, Palmiro Mennucci, inaugurarmos a Sala de Imprensa, que é um pequeno gesto do Parlamento de São Paulo em homenagem à memória de Vladimir Herzog.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 11 horas e 40 minutos.

 

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