17 DE NOVEMBRO DE 2008

053ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOs "CENTENÁRIOS DA UMBANDA E DOS COMPOSITORES E POETAS CARTOLA E SOLANO TRINDADE"

 

Presidentes: SIMÃO PEDRO e CIDO SÉRIO

 

RESUMO

001 - SIMÃO PEDRO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia autoridades presentes. Comunica que esta sessão solene foi convocada pelo Presidente Vaz de Lima,  por solicitação dos Deputados Simão Pedro e Cido Sério, com a finalidade de homenagear o "Centenário da Umbanda e dos Compositores e Poetas Cartola e Solano Trindade". Convida o público presente a ouvir, de pé, o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - Presidente SIMÃO PEDRO

Agradece à Banda da Polícia Militar. Anuncia presenças.

 

003 - VICENTE CÂNDIDO

Cumprimenta os militantes que lutam pela igualdade racial no Brasil. Discorre sobre as atividades da VI Semana da Cultura Negra, que se realiza nesta Casa, de 17 a 26/11. Diz que a semana tem por objetivo chamar a atenção do Poder Legislativo para o cumprimento de seu papel, na constituição de políticas públicas que promovam a igualdade racial. Afirma que a Bancada do PT tem compromisso com a comunidade negra.

 

004 - Presidente SIMÃO PEDRO

Cumprimenta o Deputado Vicente Cândido, pelo seu aniversário e agradece a presença de pessoas que representam instituições e mandatos. Anuncia a apresentação do "Hino da Umbanda". Faz a entrega de placa em homenagem aos 100 anos da Umbanda, aos senhores Milton Aguirre e Cássio Ribeiro.

 

005 - MILTON AGUIRRE

Agradece a oportunidade de estar nesta Casa de Leis, comemorando o Centenário da Umbanda. Lembra o Deputado Átila Nunes, que sempre lutou pela Umbanda.

 

006 - CÁSSIO RIBEIRO

Agradece a todos os companheiros do PT e diz que a Umbanda comemora 100 anos de luta e de prática da caridade. Lembra que a Umbanda enfrentou o preconceito e a intolerância religiosa. Manifesta a sua alegria pela comemoração. Diz que esta Casa, ao abrir este espaço, mostra que ainda há muito a fazer.

 

007 - Presidente SIMÃO PEDRO

Lembra o ex- Deputado Tiãozinho do PT e saúda o Deputado Federal Vicentinho, que realizou, no Congresso Nacional, sessão solene em homenagem à Umbanda. Anuncia declamação de um poema. Faz entrega de placa comemorativa dos 100 anos de Francisco Solano Trindade, a seu filho, Liberto Trindade.

 

008 - LIBERTO TRINDADE

Fala sobre seu pai, Solano Trindade, com quem teve contato só aos 18 anos. Manifesta o seu orgulho de ter vindo a esta Casa, para homenagear "o maior porta-voz da negritude brasileira".

 

009 - Presidente SIMÃO PEDRO

Diz de sua satisfação em poder compartilhar essa homenagem junto com o Deputado Cido Sério, para comemorar os três símbolos da luta do movimento negro e manifesta a sua esperança de que esse ato comemorativo possa ajudar na construção de uma sociedade mais tolerante e respeitosa.

 

010 - CIDO SÉRIO

Assume a Presidência. Associa-se ao discurso do Deputado Simão Pedro. Registra presenças. Anuncia declamação de um poema. Convida o Deputado Simão Pedro para fazer a entrega de placa comemorativa.

 

011 - JORGE CARNEIRO

Agradece em nome do Centro Cultural Cartola essa homenagem. Diz que falar de Cartola é uma responsabilidade muito grande e destaca a simplicidade do compositor. Afirma que não é por acaso que se presta essa homenagem a esses três símbolos importantes para o País. Lembra que, no dia 11 de outubro, foi comemorado o centenário de Agenor de Oliveira, o Cartola, no Centro Cultural, ao lado da Escola de Samba da Mangueira, com a presença de toda a comunidade. Comenta que Cartola conseguia traduzir nos seus versos e na sua arte, um cotidiano que, às vezes, é difícil viver no dia a dia.

 

012 - Presidente CIDO SÉRIO

Fala das origens da Umbanda. Manifesta a esperança de que o povo negro seja reconhecido em sua essência e em sua integralidade. Agradece ao Deputado Simão Pedro e diz que jamais esquecerá a experiência e a oportunidade de convivência que teve nesta Casa. Agradece a todos. Encerra a sessão.

 

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-  Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Simão Pedro.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Boa noite a todos, sejam bem-vindos à nossa Sessão Solene na Assembléia Legislativa.

Esta Presidência vai nomear as autoridades que compõem a mesa: ao meu lado direito está o Deputado Cido Sério que, comigo, fez a proposição desta Sessão Solene. Ele está se despedindo da Assembléia Legislativa no final de dezembro porque assumirá a Prefeitura de Araçatuba. (Palmas.) Ao meu lado esquerdo está o companheiro Sr. Jorge Carneiro, que representa o Centro Cultural Cartola. (Palmas.) Ao lado do nobre Deputado Cido Sério está o companheiro Sr. Liberto Trindade, filho do poeta Solano Trindade. (Palmas.) Do meu lado esquerdo, está o nobre Deputado Vicente Cândido, Coordenador da Frente Parlamentar pela Promoção da Igualdade Racial na Assembléia Legislativa. (Palmas.)

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, nobre Deputado Adriano Diogo, que está presente na platéia, minhas senhoras, meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Vaz de Lima, atendendo à solicitação deste Deputado e do nobre Deputado Cido Sério, com a finalidade de comemorar os Centenários da Umbanda, e dos compositores e poetas Cartola e Solano Trindade.

Convido a todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro Subtenente Aguiar.

 

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-  É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Esta Presidência agradece à Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, na pessoa do Maestro Subtenente Aguiar. Muito obrigado pela presença. Parabéns.

Esta Presidência solicita uma salva de palmas aos nossos convidados, representando entidades, associações e personalidades que passarei a nomear. Agradeço a presença de todos: Sra. Sandra Santos, Presidente da Associação Umbandista e Espiritualista do Estado de São Paulo; Sr. Marcos Benedito da Silva, Presidente do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial e Coordenador da Comissão Nacional contra a Discriminação Racial da CUT; Sr. Claudinho, Secretário Estadual de Combate ao Racismo, do Partido dos Trabalhadores do Estado de São Paulo; Sr. Cássio Ribeiro, vice-Presidente do Conselho Nacional da Umbanda - Conub; Sr. Milton Aguirre, presidente do Superior Órgão da Umbanda do Estado de São Paulo; Sra. Maria Aparecida Naléssio, Presidente do Primado Organização Federativa da Umbanda do Brasil; Sra. Solemar Araujo, Conselheira do Primado do Brasil; Sr. Edson Ludogero, Secretário do Primado do Brasil; Sra. Cida Abreu, Secretária Nacional de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores; Sr. Francelino José da Silva Neto, do SOS Racismo, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo; Mãe Caçulinha de Oxum e Pai Orlando de Oxossi; Sr. Benedito Otávio Epifânio Filho, Diretor do Centro Cultural Francisco Solano Trindade; Sr. Walter Oliveira, Diretor Financeiro do Banesprevi; Sr. José Roberto Barbosa, representante do Comitê Betinho; Delegado de Polícia Eduardo Cardoso de Almeida Castanheira, Chefe da Assessoria Policial Civil da Alesp, representando o Delegado Geral de Polícia Civil do Estado de São Paulo, Maurício José Lemos Freire; Rafael Pinto, membro do Movimento Negro do Estado de São Paulo; Ney Cardoso, representando o Deputado Estadual, Antonio Salim Curiati, do PP.(Palmas.)

Esta Presidência gostaria de convidar para fazer o uso da palavra, o nobre Deputado Vicente Cândido, da Bancada do Partido dos Trabalhadores e Coordenador da Frente Parlamentar pela Promoção da Igualdade Racial, que fará os informes sobre a 16ª Semana da Cultura Negra da Assembléia Legislativa.

Gostaria de agradecer ao Dr. Celso que, neste ato, representa a Deputada Estadual, Maria Lúcia Prandi. Gostaria também de comunicá-los que recebi um telefonema do Senador Suplicy, cumprimentando pelo evento, fazendo uma saudação, deixando um abraço a todos e justificando pela impossibilidade de comparecer a esta sessão. Muito obrigado.

 

O SR. VICENTE CÂNDIDO - PT - Boa-noite, companheiros, companheiros de bancada - Deputado Adriano Diogo, Deputado Simão Pedro e Deputado Cido Sério -; militantes que lutam por igualdade racial em São Paulo e no Brasil. Quero rapidamente dar alguns informes sobre a 16ª Semana da Cultura Negra da Assembléia Legislativa, que começou hoje pela manhã com uma exposição e termina no dia 26, quarta-feira, cujo objetivo é chamar a atenção da sociedade paulista, e sobretudo do Poder Legislativo, para que cumpra o seu papel na confecção de políticas públicas que promovam a igualdade racial.

Hoje estamos terminando o dia aqui com esta bela sessão de homenagem.

Amanhã abre com a exposição durante o dia; das 14 às 18 horas tem a oficina cultural: “Uma História da Palavra Afro-Brasileira”, com Allan da Rosa; depois coffee break - uma parada para o café -, às 18 horas, e um Ato Solene às 19 horas em homenagem ao Movimento Negro Unificado - MNU -, no Hall Monumental da Casa.

No dia 19, quarta-feira, abre novamente com a exposição, depois, das 14 às 18 horas, oficina cultural: “Impressão e Expressão”, (Graffiti) com Gejo.

No dia 20, quinta-feira, a nossa grande marcha, que começa às 11 horas, com a concentração no MASP, na Avenida Paulista nº 1.000.

No dia 25, terça-feira, encontro das Entidades do Movimento Negro e da FEPPIR/SP com o Colégio de Líderes, que representa todos os partidos desta Casa, pedindo que  se coloque em votação projetos que tramitam aqui - são quase 30 projetos -, para que promova de alguma forma a igualdade racial no Estado de São Paulo.

No dia 26, quarta-feira, uma Audiência Pública sobre esses projetos, porque é o momento de discutir o conteúdo, as emendas, seja contra ou a favor aos projetos que tramitam nesta Casa, às 14 horas, no Auditório Franco Montoro, e terminamos às 18 horas com o “Prêmio Zumbi dos Palmares” - uma tradição aqui na Casa na Semana da Consciência Negra - promovido pela Frente e pelo grupo de negros da Alesp, e terminamos com o coquetel às 21 horas e 30 minutos.

Então, dessa forma, é uma semana de debates, reflexões, protestos, cobranças e também de comemorações pelos avanços que aqui pudemos avaliar e detectar em todo esse período das nossas vidas no Estado de São Paulo e também do Brasil.

Em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, quero dizer aqui do nosso compromisso na instituição dessas políticas. Boa parte, ou a maior parte desses projetos que tramitam nesta Casa tem origem na Bancada do PT ou de partidos parceiros, como é o caso do PCdoB, que tem vários projetos aqui de Deputados e ex-Deputados. São projetos que a bancada elege como prioridade, cobrando desta Casa a sua votação e a sua deliberação.

Lemos na mídia que o Estado de São Paulo tem uma dívida enorme não só com o povo negro, mas também na instituição de políticas públicas, seja na promoção da igualdade racial, seja nos programas sociais, seja no combate à miséria e à pobreza, seja na democratização do ensino, na instituição de cotas para o povo negro.

São Paulo, pela sua pujança econômica, pelo acúmulo social, pelas instituições que existem por aqui, pelos institutos, pelas universidades públicas e privadas, deveria ser também um farol para o Estado brasileiro como um exemplo na instituição dessas políticas. Mas vemos muitas vezes que temos que copiar de outros estados, que acabam sendo a vanguarda para a instituição dessas políticas públicas.

A Bancada do PT tem esse compromisso. Então reitero esse compromisso nessa semana da Consciência Negra, cobrando do Poder Legislativo uma posição explícita sobre qual o nosso papel, qual o papel dos Deputados constitucionalmente falando, e qual o compromisso social dos Deputados de São Paulo na deliberação e na apreciação desses projetos. São Paulo ainda precisa pagar pelo menos um pouco dessa dívida para com o Brasil, para consigo mesmo.

Aqui temos universidades públicas retrógradas, conservadoras. As privadas nem se fala. Quando você fala de cota ou instituição de alguma medida que venha a incluir o povo negro num processo educacional mais igualitário, sabemos das reações. Esta é uma das bandeiras e das cobranças da nossa bancada, um compromisso inarredável com a sociedade paulista, sobretudo com a comunidade negra e as entidades que trabalham com a Frente, que estão hoje sendo homenageadas.

Desejamos muito sucesso e muito axé para todos vocês, para todos aqueles que acreditam numa sociedade justa, humana e igualitária.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado Deputado Vicente Cândido.

Quero que V. Exa. receba as nossas homenagens pela sua vida, pela sua militância, por colocar a sua vida a serviço das maiores causas do povo brasileiro nesta noite em que comemora o seu 49º aniversário de vida.

Um grande abraço. Parabéns. (Palmas.)

 

O SR. VICENTE CÂNDIDO - PT - Já que o Deputado Simão Pedro fez questão de relatar, irei me retirar para jantar com a família, também uma dívida social acumulada. Boa-noite.

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Quero agradecer as presenças do Pai Jair Ode-Ilê Axé, da Cidade Tiradentes; da Márcia Faro, representando o Deputado José Cândido e do Dr. João Batista da Silva, representando o Deputado Federal Paulo Teixeira.

Teremos agora a apresentação do Hino da Umbanda pelo Sr. Oswaldo Trajano, da Federação “Primado Organização Federativa da Umbanda do Brasil”.

 

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- É feita a apresentação do Hino da Umbanda.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Neste momento vamos prestar uma homenagem aos 100 anos da Umbanda no Brasil fazendo a entrega de uma placa comemorativa aos Srs. Milton Aguirre e Cássio Ribeiro.

 

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-  É feita a entrega das placas.

 

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O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Esta Presidência concede a palavra aos Srs. Cássio Ribeiro e Milton Aguirre.

 

O SR. CÁSSIO RIBEIRO - Saravá Umbanda, meus irmãos. Eu agradeço aos nobres Deputados Simão Pedro e Cido Sério por esta oportunidade de no Estado de São Paulo comemorarmos o Centenário da Umbanda.

Zélio Fernandinho de Morais no dia 15 de novembro de 19008 recebeu o Caboclo das Sete Encruzilhadas e de lá ele veio trazendo a regulamentação da nossa religião que levamos de coração até hoje. Devemos isso ao grande irmão Ronaldo Linhares que, pesquisando, procurou o Zélio Fernandinho de Morais e trouxe para São Paulo o trabalho desse nosso irmão. Por esse motivo é que estamos aqui, neste ano, comemorando esse centenário.

É com grande amor, com grande alegria que sentimos que nesses cem anos sofremos tanta discriminação tanta intolerância, tanta perseguição e hoje temos a felicidade de estar nesta Casa de Leis realizando este ato maravilhoso pelo centenário de nossa Umbanda.

Não podemos esquecer de um deputado do qual o pessoal do Rio de Janeiro se lembra muito bem, o Átila Nunes, o grande batalhador pela nossa Umbanda no Brasil. (Palmas.)

 

O SR. MILTON AGUIRRE - Muito boa-noite companheiro Deputado Simão Pedro, companheiro Deputado Cido Sério, todos os companheiros e companheiras do Partido dos Trabalhadores, do qual muito me honro de fazer parte. A bênção, para quem é de a bênção, saravá, para quem é de saravá, mokoiu, para quem é de mokoiu, kolofé, para quem é de kolofé, mutumbá, para quem é de mutumbá.

A Umbanda comemora 100 anos. Cem anos de prática de caridade, cem anos de luta, cem anos em que os Terreiros praticam o amor, a paz. Enfrentamos a intolerância religiosa, enfrentamos o preconceito ao lado dos irmãos e irmãs de todas as nações que se fazem presentes nesta noite. É impossível deixar de dar o nosso brado também de indignação. Alegria por comemorarmos 100 anos, por termos companheiros deputados que sabem reconhecer o valor dessa religião, mas de profunda tristeza por vermos pessoas ligadas a determinadas religiões que não a nossa utilizando-se de veículos de comunicações que agridem o Orixá, que vilipendiam as casas de culto, que atacam nossas crianças nas escolas fazendo com que a sociedade acredite que praticamos cultos satânicos. Não é verdade. Cultuamos o Orixá, a natureza, o amor, o respeito à vida. Praticamos a caridade.

E esta Casa, ao abrir esse espaço, mostra para a sociedade paulista e brasileira que temos muito o que caminhar, muito o que mostrar, muita coisa bonita para fazer em prol da paz no Estado de São Paulo e no Brasil.

Um basta à intolerância religiosa e um sim à luta do povo afro-descendente, do povo do santo, à prática da caridade. Axé a todos os companheiros e companheiras, irmãos e irmãs de fé que comparecem nesta noite.

Para encerrar, quero lembrar um ex-companheiro, o Deputado Tiãozinho, do PT, que muito batalhou nesta Casa em defesa da umbanda e dos cultos afro-brasileiros. Quero saudar o companheiro e Deputado Federal Vicentinho por ter realizando no dia, no Congresso Nacional, a Sessão Solene em homenagem aos 100 anos da umbanda. Os atabaques entraram pela primeira vez no Congresso e foram tocados. Axé a todos, muito obrigado, e que a paz de Olorum e de Zambi esteja no coração de todos nós.

Muito obrigado, companheiras e companheiros. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - À minha esquerda encontra-se o Gilson, do Movimento Fala Negão, que também é assessor do Deputado federal Vicentinho, a quem agradeço pela presença.

Neste momento, Dani Olinka e Sérgio Azul, do Centro Cultural Afro-Brasileiro Francisco Solano Trindade, de São Bernardo do Campo, declamarão o poema “Tem gente com fome”, de Francisco Solano Trindade.

 

A SRA. DANI OLINKA -

Tem gente com fome

Trem sujo da Leopoldina

Correndo, correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias

de novo a dizer

de novo a correr

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Vigário Geral

Lucas

Cordovil

Brás de Pina

Penha Circular

Estação da Penha

Olaria

Ramos

Bom Sucesso

Carlos Chagas

Triagem, Mauá

trem sujo da Leopoldina

correndo, correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Tantas caras tristes

querendo chegar

em algum destino

em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina

Correndo, correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Só nas estações

quando vai parando

lentamente começa a dizer

se tem gente com fome

de comer

se tem gente com fome

de comer

se tem gente com fome

de comer

Mas o freio de ar

todo autoritário

manda o trem calar

Psiuuuuuuuuuuu

(Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Muito obrigado, Dani e Sérgio.

Neste momento, quero convidar o Sr. Benedito Otávio Epifânio Filho, diretor do Centro Cultural Francisco Solano Trindade, para fazer a entrega de placa comemorativa desta homenagem da Assembléia Legislativa aos 100 anos de Francisco Solano Trindade, ao nosso companheiro Liberto Trindade, filho do nosso querido poeta, compositor, teatrólogo, grande brasileiro, Solano Trindade.

 

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- É feita a entrega de placa comemorativa.

 

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O SR. LIBERTO TRINDADE - Solano Trindade representou tudo isso. Quero contar uma história de Solano Trindade a partir de 1962, porque participei, junto com meu pai, a partir desse momento. Lá em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, eu era um adolescente que mal havia nascido e já lidava com a ditadura de Dutra. Por conta do “Trem Sujo da Leopoldina” fui jogado da cama. A polícia do Dutra, sob o comando do Felipe Miller, entrou na minha casa sem pedir licença - claro não poderia – e me jogou no chão por conta do poema  “Trem Sujo da Leopoldina”.

Antes de chegar a São Paulo eu era um menino que participava das brincadeiras de roda, soltava pipa, ia para Escola de Samba “Os Cartolinhas de Duque de Caxias”, participava do “25 de Agosto” que homenageava Duque de Caxias, não sei se merece essa homenagem ainda. Cheguei em 1962, em meio a tanta gente importante. Num dia apenas conheci Osvaldo Camargo, Dalmo Ferreira, Ivan Serafim, Sérgio Melliet, enfim, conheci um monte de gente. A partir daí comecei a juntar a trajetória de Solano Trindade.

Nem bem cheguei a São Paulo e já participei do Teatro Popular Brasileiro, esse trabalho delicioso que citei anteriormente, e da roda de samba junto com Geraldo Filme. Participei da dança do Candomblé, do Orixá, Exu e amei muitos artistas, o pessoal das artes plásticas, do teatro, do artesanato.

No meio disso tudo estava o Sr. Solano Trindade. A partir daí passei a conversar com meu pai, a trocar idéias, a aprender coisas que nunca havia visto, mesmo sendo filho de Solano Trindade, porque era um menino. Meu pai dizia o seguinte: “Tenho quatro filhos, mas existem muitas crianças no mundo”. Ele queria dizer que com o fato de ele ajudar as crianças do mundo eu viveria bem no futuro. Isso é muito bonito.

Não gosto quando as pessoas falam que Solano Trindade era um boêmio. Meu pai não era um boêmio. Apesar de haver feito contato com ele apenas aos 18 anos, o meu pai era um homem lindo, maravilhoso. Se não fosse isso, eu não estaria aqui na Assembléia Legislativa participando de uma das homenagens prestada a ele. Aliás, é importante dizer isso porque as homenagens ao velho foram poucas. Precisaria haver mais, como faz hoje a Assembléia Legislativa, e fez Recife, que também homenageou Solano Trindade. Lamentamos a grande imprensa não dar esse apoio ao trabalho desse homem. Acho que é porque ele era brasileiro. Mandela teve apoio, homenagens, uma atenção mais ampla. Acho que é porque ele nasceu na África do Sul. Por que será? Não sabemos. Mas, enquanto estivermos aqui, Solano Trindade será lembrado. (Palmas.)

Gostaria de ter hoje aqui comigo a Raquel e a Godiva, os filhos e os netos. Solano Trindade merecia isso. Mas ainda vivemos num mundo muito conturbado. Para vocês terem uma idéia, soube deste evento há duas horas. Estava em Itaquera, depois ia para um ensaio na Bela Vista e, no metrô, recebi uma ligação me convidando para esta sessão. Vim com o maior prazer, com orgulho e satisfação para homenagear este que foi o maior porta-voz da negritude brasileira.

Um abraço a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado, companheiro Liberto Trindade.

Antes de passar a Presidência ao nosso companheiro Deputado Cido Sério, queria dizer da minha enorme satisfação em poder compartilhar esta homenagem com o Deputado Cido Sério e com dezenas de entidades, personalidades que nos sugeriram fazer um ato comemorativo do centenário desses três símbolos da luta do movimento negro, da população negra e de todos aqueles que acreditam e lutam por um Brasil democrático, mais igual, um país mais decente, um país que consiga construir uma sociedade onde todos possam viver felizes, respeitando-se e tolerando-se, compreendendo e respeitando os vários tipos de manifestações culturais presentes na religião, na comida, no dia-a-dia, no jeito de dormir, no jeito de falar, no jeito de as pessoas se manifestarem.

Espero que com esta Sessão Solene singela consigamos contribuir para resgatar a importância de figuras tão significativas para a nossa cultura, como foi Cartola, que segue a linhagem de outros grandes brasileiros, como Luiz Gonzaga, João do Vale e o próprio Cartola.

A homenagem a Solano Trindade também resgata as comemorações que faremos nesta semana: a Zumbi dos Palmares, a Dandara, a Luis Gama, a Luísa Mahin, a José do Patrocínio, e tantos que lutaram e deram sua vida, sua inteligência e o melhor de si para que chegássemos até aqui.

Neste momento em que o mundo todo vive uma esperança com a eleição do novo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para nós foi uma satisfação, uma honra muito grande estar com vocês e fazer uma homenagem aos 100 anos de uma religião genuinamente brasileira, que buscou comungar com elementos de outras religiões do País, que sofreu tanta perseguição, e que hoje ainda luta para poder ser respeitada.

Espero que com esta homenagem possamos ajudar na construção de uma sociedade mais tolerante, mais respeitadora. Muito obrigado. (Palmas.)

 

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- Assume a Presidência o Sr. Cido Sério.

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O SR. LIBERTO TRINDADE - Gostaria de mencionar aqui algumas pessoas que vivenciaram o trabalho de Solano Trindade: minha esposa Anielu, o Borba, o Rafael Pinto e o Professor Celso. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE - CIDO SÉRIO - PT - Boa noite a todos. Faço minhas as palavras do nobre Deputado Simão Pedro, meu companheiro, meu Líder nesta Casa.

Também está conosco Edgar Moura, da APNS - Agentes da Pastoral Negros do Brasil; Walkiria de Souza Silva - Kika, do Conselho Nacional de Ialorixás; Pai Walter de Oxossi; Ricardo Vieira, da Associação Estudantes Técnicos e Universitários de Santa Isabel; Cleide Guimarães Pires de Almeida, da Pastoral da Criança de Santa Isabel; Daniel Sotto Maior, do Movimento Brasil para Todos; João Armindo, representando o Coletivo Municipal de Combate ao Racismo, do PT; Alberto Ferreira, coordenador do Grupo Afro-descendente “Onda Verde”, do PV; Sinvaldo José Firmo, coordenador do Instituto Negro Padre Batista. (Palmas.)

Ouviremos agora a canção “As rosas não falam”, de autoria de Cartola, por João Odair de Oliveira Borba.

 

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-  É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - CIDO SÉRIO - PT - Convido o Deputado Simão Pedro para, juntos, fazermos a entrega de uma placa comemorativa dos 100 Anos da Umbanda ao Sr. Jorge Carneiro.

 

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- É feita a entrega da placa.

 

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O SR. PRESIDENTE - CIDO SÉRIO - PT - Queremos anunciar a presença da Sra. Nilcéia Alves Gomes, da Aprofe; Sra. Maria Aparecida de Laia, da Coordenadoria de Assuntos da População Negra de São Paulo; Leni Rita e Hélio, da Pastoral da Criança; Soninha, da Pastoral Carcerária de São Paulo.

Esta Presidência concede a palavra ao Sr. Jorge Carneiro.

 

O SR. JORGE CARNEIRO - Boa-noite a todos os presentes. Quero agradecer, em nome do Centro Cultural Cartola, à nossa Coordenadora Geral, Nilcemar Nogueira, esta homenagem a Cartola pelos seus 100 anos. Agradeço ainda, na figura dos Deputados Cido Sério e Simão Pedro, esta Sessão Solene.

É uma responsabilidade muito grande falar de Cartola, um homem que nasceu simples, viveu simples e morreu simples. Mas, com sua simplicidade, “incomoda” muito nossa vida, no bom sentido, pois dá alegria, leveza, poesia para vivermos este mundo tão difícil. Ainda mais a população negra.

Não é por acaso que hoje estamos homenageando três homens importantes para a história deste País

No candomblé quando falamos de antepassado, falamos que somos o que fomos. Somos essa origem que está presente e isso tem continuidade.

Ouvi a fala dos companheiros da Umbanda e isso me remeteu à minha infância. Fui criado pela cabocla Jurema - eu e meus oito irmãos. Tivemos ensinamentos e hoje todos os nove estamos bem encaminhados na vida. Acho que há perspectiva no mundo. Cartola conseguiu, com toda a diversidade, fazer poesia, produzir, fazer arte. Isso é muito importante, fundamentalmente para a juventude que está aí, juventude negra sendo exterminada sem nenhuma perspectiva. A perspectiva, para nós, homens e mulheres, negros ou não, não tem de ser uma perspectiva de morte, mas de vida, de alegria. Somos um povo que tem axé e axé é vida, alegria. Até a tristeza, até a morte é comemorada para nós. Cantamos a morte, dançamos para a morte.

No dia 11 de outubro celebramos os cem anos da ausência de Cartola com uma grande alvorada no Centro Cultural, que é ao lado da Mangueira. Havia em torno de 900 pessoas. E, depois, foi servida uma rica feijoada. Havia várias pessoas, toda a comunidade do mundo do samba. A beleza de Cartola é que ele não é só da Mangueira. Ele é da Portela, do Salgueiro, das escolas de samba deste país. Ele é de todos nós.

Nesse sentido, queria homenagear outras pessoas que foram importantes na comunidade da Mangueira, no mundo do samba: Guilherme de Brito; Nelson Cavaquinho; Dona Nelma; Carlos Cachaça; Neide, porta-bandeira histórica da Mangueira; Clementina de Jesus; Juvelina Pérola Negra, grande partideira - sua filha está dando seguimento à sua obra hoje; Dona Zica; Paulo da Portela; Donga; e um que nos deixou recentemente, Luis Carlos da Vila.

Para nós, do candomblé, a morte não existe. Ela é a passagem de uma dimensão para outra. Então, onde o Cartola está, estão todos esses companheiros. Hoje foi uma noite para homenagear os nossos antepassados e deixar a mensagem do Sr. Agenor de Oliveira, o Cartola, para vocês. Há um projeto muito bonito no Centro Cultural. Alguns achavam que seria impossível crianças do Morro aprender a tocar violino. É possível, sim. Hoje eles estão tocando para o mundo. Havia pessoas que diziam que eles só tinham que bater tambor. Provamos que é possível essas crianças conseguirem sustentar suas famílias ainda crianças. Podemos fazer muito mais por este País e tirar a comunidade do samba das dificuldades que vivem. Não sei se consegui dar o recado, representar o Centro Cultural, toda a comunidade da Mangueira, a comunidade do samba.

Cartola consegue traduzir em seus versos, na sua poesia, na sua arte o cotidiano que às vezes é impedido de vivermos no dia-a-dia. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - CIDO SÉRIO - PT - Agradeço ao nobre Deputado Simão Pedro pela oportunidade de estar aqui nesta homenagem tão bonita. A Umbanda é tão bonita, tão significativa e tão importante.

Uma das origens da Umbanda está nos ritos da Índia, na Trindade, que representava Vishnu, Shiva e Brahma. É uma das origens, não há uma decisão sobre isso. Aumbanda: as letras “a”, “u” e “m”, que, ao final, formam o “o” da Trindade; e a banda, que era a ligação com a Terra. Essa é uma das explicações existentes.

O contrário de morte, diferentemente do que muitos pensam e pregam, não é vida. O contrário de morte é nascimento, porque a vida é eterna. Esse é o significado mais bonito, que dá mais força.

Acredito, sinceramente, que Solano Trindade esteja gritando e poetando em algum canto em que tem gente com fome, e o Cartola, em outro canto, esteja lhe respondendo que bate a esperança no seu coração. Tenho certeza disso. Talvez, aqui conosco; talvez, em alguns lugares que não possamos ver - ou só alguns poucos é que podem.

Deputado Simão Pedro, muito obrigado por esta grata oportunidade. Meu companheiro, Deputado Adriano Diogo, terei poucos dias nesta Casa para desfrutar dessa convivência tão importante que tive com Vossa Excelência. Aprendi muito com V. Exa. e com o Deputado Simão Pedro. Tenho certeza de que, onde quer que eu esteja - aqui ou em outro plano -, jamais me esquecerei da experiência que desfrutei e da oportunidade que tive de conviver com Vossas Excelências.

Agradeço a todos que estão aqui, que vieram nos honrar com suas presenças. Quero dizer da nossa esperança de ter o povo negro reconhecido na sua essência e na sua integralidade. Essa é a nossa luta, é uma luta que travamos nesta Casa, de maneira muito singela - de minha parte, é muito pequena. O Deputado Simão já tem um longo histórico nessa área; o Deputado Vicente Cândido; o Deputado Adriano Diogo; as pessoas com quem aprendi, meu amigo Marcos, o companheiro Rafael, que me levaram a trilhar o caminho de descobrir a minha negritude, de respeitá-la e de ter orgulho dela.

Portanto, muito obrigado a todas e a todos pela oportunidade. Quero agradecer ao pessoal do Cerimonial, do Serviço de Audiofonia, do Serviço de Taquigrafia, do Serviço de Ata, da TV Assembléia, da Polícia Civil, da Polícia Militar e da Secretaria Geral Parlamentar. De maneira muito, muito especial, agradeço à equipe do Deputado Simão Pedro e à minha equipe, por terem chacoalhado o mundo para podermos estar aqui.

São três representações do que somos, do Brasil que construímos. Por isso, Deputado Simão Pedro, orgulho-me muito de ter estado aqui com V. Exa., dividindo esta noite tão especial, que jamais escapará da minha memória. (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade e convida para um coquetel com sarau, no Hall Monumental desta Casa.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 54 minutos.

 

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