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24 DE NOVEMBRO DE 2003

56ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO "DIA NACIONAL DO DOADOR DE SANGUE"

 

Presidência: CÂNDIDO VACCAREZZA

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 24/11/2003 - Sessão 56ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: CÂNDIDO VACCAREZZA

 

COMEMORAÇÃO DO DIA NACIONAL DO DOADOR DE SANGUE

001 - CÂNDIDO VACCAREZZA

Assume a Presidência e abre  a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que esta sessão solene foi convocada pelo Presidente efetivo da Casa, Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação do Deputado ora na condução dos trabalhos, a fim de comemorar o Dia Nacional do Doador de Sangue. Convida todos para, de pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro.

 

002 - ROBERTO GOUVEIA

Deputado Federal, reflete sobre o que representa o Sistema Único de Saúde em nosso país. Declara que este governo dará velocidade à implementação do Sistema Nacional de Sangue.

 

003 - DANTE MÁRIO LANGHI JÚNIOR

Presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, afirma que o doador é o elo mais importante de todo o processo da transfusão de sangue. Lembra também que a instituição que preside foi pioneira no sentido de universalizar a doação de sangue.

 

004 - MARISE HELENA BENDINI

Gerente de Comunicação Social do Hemocentro de Ribeirão Preto, aborda o tema da captação de doadores no Brasil, e suas experiências no assunto. Lê poema homenageando o doador de sangue.

 

005 - SIMONE CRISTINA OLENSCKI GILLI

Diretora da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro de Campinas, fala das atribuições do Hemocentro e do altruísmo dos doadores.

 

006 - PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO

Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu, sustenta que há três pilares importantes no que diz respeito à hemoterapia: a qualidade do sangue, a parte clínica e o doador de sangue, que garante a existência das anteriores. Lê documento exaltando o papel do doador de sangue e das captadoras de doadores.

 

007 - CÁSSIO MARCOS DE CARVALHO GIANINI

Médico, representando o Dr. Edson Yamamoto, coordenador da Hemo Rede Estadual, discorre sobre o trabalho da Hemo Rede para que o número de doadores voluntários possa crescer constantemente.

 

008 - JOSÉ AUGUSTO BARRETO

Diretor-Superintendente da Colsan, entrega placas de homenagens a alguns doadores de sangue presentes.

 

009 - Presidente CÂNDIDO VACCAREZZA

Coloca-se à disposição de todos os segmentos que têm alguma contribuição para avançar na qualidade do sangue do Estado de São Paulo e do Brasil. Entende que o doador de sangue é unidade fundamental na caminhada para melhorar a qualidade do sangue e aumentar sua quantidade. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Esta Presidência gostaria de agradecer a presença das seguintes autoridades: o Deputado Federal Roberto Gouveia, Ex-Deputado desta Casa, que muito abrilhantou os nossos trabalhos; o Dr. Dante Mário Langhi Júnior, Presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia; o Dr. José Augusto Barreto, Diretor Superintendente da Colsan; Dr. Marcos Augusto Mavad, Diretor do Hemonúcleo de Jaú; o Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado, Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu; a Sra. Marise Helena Bendini, Gerente de Comunicação Social do Hemocentro de Ribeirão Preto; a Dra. Simone Cristina Olenscki Gilli, Diretora de Divisão de Hemoterapia, neste ato representando a Professora Doutora Joyce Maria Anniochino Bizzachi, Diretora do Hemocentro de Campinas; o Deputado Roberto Gouveia, em nome de quem cumprimentamos a todos os membros da Mesa.

É com muita satisfação que realizamos esta Sessão Solene, por entendermos que homenagear o doador de sangue é homenagear um bem comum e, por extensão, toda a humanidade.

O nosso objetivo, ao propor esta Sessão Solene, foi realizar uma forma de agradecimento, e incentivar no nosso País este movimento que tem os profissionais da Saúde, o povo e todas as pessoas do bem feito para, cada vez mais, melhorar a qualidade do sangue e melhorar a quantidade de sangue de boa qualidade disponível para qualquer cidadão: rico, pobre, independentemente da sua origem, da sua raça e da sua orientação política ou pessoal.

Esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de comemorar o “Dia Nacional do Doador Voluntário de Sangue”. Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

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-  É executado o Hino Nacional Brasileiro, pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Esta Presidência concede a palavra ao Deputado Federal Roberto Gouveia.

 

O SR. ROBERTO GOUVEIA - Sr. Presidente desta Sessão Solene, Deputado Cândido Vaccarezza, em nome de quem quero cumprimentar os demais integrantes da Mesa e as autoridades presentes, bom dia a todos.

De fato, hoje estou matando saudade hoje aqui, porque atuei nesta Casa por quatro mandatos; foram 16 anos como Deputado Estadual e esta é a primeira vez que reocupo a tribuna depois que assumi o mandato de Deputado Federal, na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Quero realizar uma reflexão que aliás, tive a oportunidade de, por inúmeras vezes, fazer desta tribuna, em relação ao que representa o Sistema Único de Saúde em nosso País.

Neste ano, realizaremos a 12ª Conferência Nacional de Saúde. Portanto, lá se foram 12 conferências. Esta é a política pública mais desenvolvida no nosso País. Para termos uma idéia e para fazer uma comparação, realizamos este ano a 1ª Conferência Nacional das Cidades, enquanto que na área da Saúde já vamos para a 12ª Conferência.

O SUS, no Brasil, aprovado em 1988, vem se implantando como uma verdadeira reforma de Estado. Num primeiro momento, ele caminha na contramão do neoliberalismo e da exclusão social, porque estendeu o direito à Saúde a todos.

Antes da aprovação do Sistema Único de Saúde, só tinha direitos à Saúde quem pagava, quem contribuía, quem tinha a carteira assinada. Os outros eram os outros, cidadãos de segunda categoria, eram indigentes e não tinham o direito à Saúde garantido na Constituição Federal. Ficavam à mercê da caridade, da boa vontade e do favor. Portanto, em 1988, partimos para uma nova era na área da Saúde, estendemos o direito à Saúde. Por isso, um dos princípios do SUS é a universalidade.

Mas deixamos claro também na Constituição que a nossa proposta não era a de medicina para o pobre; não era a de Saúde para o pobre; ou seja, deixamos claro que queríamos atender a todos e fazer de tudo. Por isso, sagramos também o princípio da integralidade das ações e do serviço de saúde. E o SUS assim vem se implantando.

Tivemos uma discussão muito séria, quando do debate do Orçamento para o próximo ano e, finalmente, conseguimos que a Emenda nº 29, que trata do financiamento do setor fosse respeitada; e este é o mandamento constitucional. Para que possamos ter uma idéia hoje, no Brasil, se somarmos todo recurso que temos para gastar: da União, dos Estados e dos Municípios, chegaremos à soma de 70 centavos por pessoa ao dia, para fazer Saúde no Brasil. E, como disse, para fazer de tudo. Portanto, esse é um recurso que temos que ampliar, porque evidentemente é insustentável.

Setenta centavos por pessoa ao dia, no Brasil, significa, em média, meia passagem de ônibus. Vocês podem visitar qualquer média cidade, que é como se gastássemos apenas meia passagem de ônibus, por pessoa, por dia, para fazer de tudo no Brasil, porque o SUS se preocupa com a educação, com a promoção, com a prevenção, com o programa de saúde da família, com praticamente 100% dos partos, das hemodiálises, das emergências, dos controles de endemias como a dengue, a malária, a tuberculose, a Aids, a hanseníase e os transplantes. E é assim que aqui vou chegar ao nosso tema.

Hoje, o Brasil é o segundo país que mais faz transplantes no mundo. O primeiro é os Estados Unidos, só que lá é por via particular e aqui é pelo Sistema Único de Saúde. Portanto, estamos falando de uma política pública que além de ser universal, está sagrada no princípio da integralidade. E o Brasil é o país em que temos o sistema público que mais faz transplantes no mundo.

Esse sistema vem se formando com ampla participação, como demonstram as conferências, e não podia ser diferente, porque é a partir de um processo de engajamento, de soma de esforços, de mobilização e de parceria da sociedade civil com o poder público que nós conseguimos de fato organizar políticas públicas nacionais no nosso País. O SUS sempre, nos seus princípios, defendeu a descentralização e a participação da comunidade, como mais um dos princípios.

Uma política pública como esta se mantém fundada nos princípios da solidariedade, nos princípios da fraternidade, do companheirismo, da vida em união, do amor ao próximo.

O nosso Governo inaugura uma das propagandas mais bonitas que já vi, exatamente na área de transplantes.

O que estamos tratando hoje, aqui? Estamos tratando de um dos problemas que nós temos. Não tenho dúvidas de que o Brasil é referência mundial em transplantes e Aids. Queremos que o País avance no sentido de conseguir enfrentar a questão do sangue.

Queria aproveitar a oportunidade para parabenizar o Deputado Cândido Vaccarezza, que chegou a esta Casa recentemente como Deputado Estadual e já conseguiu aprovar uma das leis mais importantes da Saúde no Estado de São Paulo, a Lei Orgânica do Sangue de São Paulo, baseada na legislação federal de 2001, que também veio no sentido de organizar uma Hemo Rede Nacional. Neste aspecto, temos que ter um sistema nacional de sangue no Brasil, que até pouco tempo poderíamos apenas nos referir a ele como uma intenção, como uma esperança, como algo longínquo, mas que acredito que neste governo teremos condições de acelerá-lo. Neste Governo, vamos dar velocidade neste processo de implementação do Sistema Nacional de Sangue no nosso País.

Gostaria de mencionar alguns dados. Temos hoje praticamente 2% da população doando sangue voluntariamente, uma atitude da maior importância, que demonstra o engajamento, a participação e o compromisso destas pessoas para com a melhoria da qualidade de vida e da saúde do nosso povo. Mas é pouco.

A Organização Mundial da Saúde defende que este número seja no mínimo de três por cento. Nesse sentido, temos que ampliar, e aí esta Sessão Solene, com a presença das autoridades competentes nesta área, o Dr. José Augusto Barreto, o Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado, a Sra. Marise Helena Bendini, que já foram anunciados e tantos outros no Brasil que podem nos ajudar, junto com o Governo Federal, neste novo momento do Brasil, pós-12ª Conferência, organizar esse sistema nacional de sangue no Brasil, para que possamos ter, União, Estados e Municípios, a concorrência de uma política junto à sociedade civil e às demais organizações que poderão nos ajudar a tratar de tais questões.

Para concluir, quero ressaltar que hoje praticamente 90% dos hemoderivados usados em transfusões e cirurgias no País são importados. O Brasil exporta sangue e depois importa os seus derivados. Não foi por outra razão que o Presidente Lula, há algumas semanas, fez publicar no Diário Oficial uma autorização para que pudéssemos organizar a Hemobrás, uma empresa nacional de grande envergadura; para que pudéssemos avançar e conquistar a auto-suficiência neste setor tão importante para a saúde pública brasileira.

É, em boa hora, que realizamos esta Sessão Solene, até porque o fim do ano se aproxima e nós sabemos que é exatamente no fim do ano que temos uma necessidade muito maior, devido às festas, aos excessos e ao processo de violência, e até de crise de valores em nossa sociedade, temos um acréscimo de acidentes e precisaremos de muito mais sangue. Aliás, este é um dos motivos para que o “Dia do Doador de Sangue” tivesse sido marcado para o fim do ano.

Quero parabenizar as senhoras e os senhores, particularmente o doador voluntário de sangue em nosso País, e dizer que temos que nos somar a todos num grande esforço coletivo, para que possamos aumentar a velocidade e de fato garantir uma política nacional de sangue no Brasil e, quem dera, neste atual mandato, com a Hemobrás - e queremos organizar em aproximadamente três anos - possamos alcançar a auto-suficiência no que diz respeito aos hemoprodutos e hemoderivados.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Tem a palavra o Dr. Dante Mário Langhi Júnior, Presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia.

 

O SR. DANTE MÁRIO LANGHI JÚNIOR - Exmo. Sr. Deputado Cândido Vaccarezza, Presidente desta Sessão Solene; Exmo. Sr. Deputado Roberto Gouveia, demais autoridades presentes à Mesa, colegas, senhoras e senhores, é uma grande satisfação e honra, em nome da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, estar presente hoje nesta Sessão Solene, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, para homenagear aquele que é o elo mais importante de todo o processo da transfusão de sangue.

Costumo dizer que sem o doador não se faz transfusão de sangue, não se pensa em transfusão de sangue, não se pensa em lei, não se pensa em projetos, não se pensa em nada.

Se nós não tivermos um doador de sangue, todo o resto não existe. Não tenho dúvidas de que o doador de sangue é o mais importante de todos. Obviamente que ele merece toda atenção, todo respeito e todo cuidado por parte dos especialistas que praticam a especialidade, por parte das autoridades, por parte da sociedade civil, que depende dele para que possa ter atendidas as suas necessidades e as necessidades de transfusão de sangue em horas de necessidade.

Quero aproveitar as palavras do Deputado Roberto Gouveia e dizer que o doador de sangue foi o primeiro a entender de forma indireta o aspecto do SUS, da universalidade, porque ele sempre foi quem veio doar sangue sem saber para quem. O doador de sangue não sabe para quem vai o sangue dele, ele nunca perguntou quem iria receber o sangue dele. Se era o rico, se era o pobre, se era quem tinha dinheiro, se quem não tinha dinheiro, se era um excluído. Então, tenho certeza de que ele foi o primeiro, de maneira indireta, a absorver este sentimento de universalidade de direito à saúde.

Quero lembrar também que a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, a qual presido, foi pioneira no sentido de universalização da doação de sangue. A partir do início da década de 80, a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia organizou um movimento da maior importância para a especialidade no Brasil, que foi a doação voluntária e não remunerada de sangue neste País.

Até aquela época, a doação de sangue era remunerada, quer fosse no serviço público, quer fosse no serviço privado, e através da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia houve esse início de movimento para que a doação de sangue fosse não remunerada e todos sabem a importância deste ato em relação à qualidade e em relação a um ato de cidadania por parte daqueles que doam sangue.

Costumo dizer que essas campanhas e essas homenagens ao doador de sangue são da maior importância, porque trazem a pública a importância, a necessidade e as dificuldades em relação ao uso do sangue, a disponibilidade e a qualidade do sangue no nosso País. Mas isso por si só não resolve o problema do sangue no nosso País, como não resolve em lugar nenhum do mundo.

O fato de maior importância em relação à doação de sangue é a educação, a informação, a idéia e o entendimento que para se ter uma auto-suficiência em doação de sangue, e se não se tiver auto-suficiência em doação de sangue não vai se ter auto-suficiência em produtos desse sangue, quer sejam hemocomponentes, quer sejam hemoderivados, é importante que a população entenda a necessidade da doação de sangue com freqüência e de forma absolutamente altruísta.

É importante que passemos essa idéia para aqueles que são multiplicadores de opinião, para que as pessoas entendam que não se deve doar sangue apenas nas horas de necessidade, em horas que tenhamos algum parente necessitando ou algum amigo necessitando da transfusão de sangue, mas que isto passe a ser um ato de cidadania e que seja enraizado na cultura de cada um, para que as pessoas possam ter essa consciência e possam doar sangue com freqüência. Só assim, vamos conseguir auto-suficiência em termos de sangue neste País. Em lugar algum do mundo se conseguiu resolver o problema da doação de sangue apenas com campanhas isoladas ou com situação emergenciais.

É importante, e para isso faço um pedido, que os parlamentares entendam esta situação e abracem essa causa, de que a importância maior em relação à auto-suficiência da doação de sangue é a informação, é a educação. Só assim poderemos conseguir a auto-suficiência que tanto necessitamos.

Portanto, volto a dizer que o doador de sangue merece toda atenção, mas desde sempre, não somente em situações especiais.

Quero, mais uma vez, parabenizar a iniciativa desta Casa, em nome do Deputado Cândido Vaccarezza, agradecer e mais uma vez parabenizar todos os doadores de sangue.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Esta Presidência anuncia a presença do Dr. Cássio Gianini, representando o Dr. Edson Kenji Yamamoto, assim como anuncia a presença do Deputado Said Mourad, que por razão de agenda precisou se retirar.

Tem a palavra a Sra. Marise Helena Bendini, Gerente de Comunicação Social do Hemocentro de Ribeirão Preto.

 

A SRA. MARISE HELENA BENDINI - Bom dia a todos, V.Exa., o nobre Deputado Cândido Vaccarezza, vou cumprimentá-lo em nome dos demais componentes da Mesa, bom dia às pessoas presentes na platéia, especialmente aos nossos doadores de sangue, motivo que nos traz até aqui. Sinto-me extremamente honrada por este momento, estou bastante emocionada, mas sobretudo estou orgulhosa porque estou falando em nome do nosso povo.

A questão da captação de doadores no País tem uma história mais ou menos recente. Para mim, essa história começou há pouco mais de 13 anos e apesar de todas as dificuldades e de tudo aquilo que enfrentamos como desafio, posso dizer com certeza que é extremamente gratificante trabalhar com o nosso pessoal.

Se, por um lado, temos déficits em investimentos, temos muito em coragem, compreensão e generosidade do nosso povo.

Nesses 13 anos, uma das coisas com que mais deparei no dia a dia foi com uma frase que sempre me assustou: “Neste País, não existe cultura para a doação de sangue.” Da mesma forma, não existe cultura para uma série de outras coisas, porque cultura é uma palavra por demais polêmica. Mas essa cultura com certeza a gente vem construindo, tijolo por tijolo, junto com os nossos doadores e com certeza podemos assegurar, não em âmbito nacional, como já colocou alguns dados o Deputado Roberto Gouveia, mas no Estado de São Paulo temos mais ou menos 3% de doadores cadastrados. Tenho certeza desses números, principalmente com relação às regiões de Campinas e Ribeirão Preto.

A outra controvérsia seria com relação aos doadores de reposição, aqueles em que ainda somos obrigados a agenciar famílias para conseguirem reposição de doadores. Quando comecei essa história, tínhamos na nossa região mais de 70% de doadores de reposição. Hoje, esse quadro já está revertido para 70% de doadores espontâneos. Os outros 30% ainda são necessários, infelizmente, mas a percepção e a sensibilidade que a nossa sociedade tem para isso, mostra que esse trabalho de educação e saúde que a gente em desenvolvendo tem realmente um pilar muito sério em tudo isso.

E hoje, tenho certeza de que quase 100% da nossa população já ouviu falar em doação de sangue. Se não doam, outros limites existem. Alguns limites são impostos pela própria sociedade e pela própria realidade.

Temos hoje alguns segmentos que ainda dificultam o nosso acesso a levar a informação, mas não é de todo impossível.

Também temos outros dados para registrar de que praticamente 67% dos nossos doadores já são fidelizados. Isso significa que doam pelo menos duas vezes ao ano. Isso vem assegurar os nossos estoques em hemocomponentes, porque a grande palavra do momento e dos últimos anos, e com isso a nossa responsabilidade aumenta muito, e a percepção e a sensibilidade dos nossos doadores também. Portanto, o que há de necessidade é que a gente se una cada vez mais em torno desse grande objetivo, que é a saúde pública e é a qualidade de vida, não só levando através dos nossos programas de educação ao doador do futuro, à mulher, ao jovem e ao fidelizado, mas que a gente una, em termos de SUS, todos os serviços de saúde, todas as especializações, para que consigamos a saúde dessa população.

Desta forma, não teremos tanto que nos preocupar em saber pensar os doadores que são doadores saudáveis, porque dentro de uma crise econômica como vem o nosso País passando nos últimos anos, é preciso que se saiba que muitos da faixa de exclusão e muitos que têm a saúde em risco não podem ser doadores de sangue.

De qualquer forma, o que eu queria dizer está mais ou menos registrado, porque eu precisaria muito tempo para a gente dizer de toda uma trajetória que caminhamos nos últimos anos.

Para encerrar, passo a ler uma poesia feita por Ivo Apolonio Siqueira, um doador de sangue do nosso Hemocentro, em Ribeirão Preto, que é escritor e artista plástico. E como doador, ele enviou esta mensagem para vocês.

“Veia Cheia

Velha veia cheia de compasso.

Pulso solto, ritmado, valioso.

Líquido venoso, impaciente,

que não pára um segundo, latente.

Vale muito cada elo da corrente

dessa veia cheia, rara...

Para doar uma vida,

regar um campo de margaridas

ou simplesmente plantar no vaso sanguíneo

um genuíno canteiro cheio rosas

da cor do coração: vermelhas.

Há também as brancas ...

Alavancas da salvação.

Quando combinadas não há desavença,

nem faz diferença em sua veia cheia.

Então o que você faria

se em outra que nem meio,

nem cheia, está vazia?

Nova veia cheia de outra vida

Se um pulmão já não pode respirar,

Por que deixar o coração sem ar?

Por que não bater novamente

No peito de quem de presente

Pode ter nova vida?

Minha veia cheia

completa, repleta de mim.

Eis o segredo da imortalidade:

um coração batendo em outro peito,

o sangue correndo em outro leito

sem pressa, sem essa de ficar

só numa veia.

Principalmente por estar cheia

de você, de mim...

Enfim, por estar cheia de amor.

Ivo Apolonio Siqueira”

Aos nossos doadores que estão aqui representados, os nossos parabéns, o nosso respeito e o nosso agradecimento de sempre. Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Esta Presidência concede a palavra à Dra. Simone Cristina, Diretora de Divisão da Hemoterapia, do Hemocentro de Campinas.

 

A SRA. SIMONE CRISTINA OLENSCKI GILLI - Bom dia a todos. Gostaria de agradecer ao Deputado Cândido Vaccarezza, ao Dr. Barreto e aos demais ocupantes da Mesa, em nome do Hemocentro de Campinas e da Dra. Joyce, por essa homenagem ao doador de sangue, pessoas anônimas que costumam doar sangue, salvam vidas e nem têm conhecimento disso.

No Hemocentro de Campinas atendemos uma média de sete mil doadores por mês. Somos responsáveis pela sorologia regional de várias cidades da região e mantemos o suporte hemoterápico tanto para o Hospital das Clínicas da Unicamp como para outras cidades daquela região. O HC realiza transplantes de fígado e de medula, faz cirurgias de grande porte e nada disso seria possível se não fosse o doador de sangue.

O valor das pessoas que doam sangue é inestimável; eles têm um ato de altruísmo que realmente não tem preço. Espero que quanto mais o tempo passe, melhor seja o atendimento que a gente possa prestar a esses doadores e que a gente continue fazendo um trabalho, que é um trabalho de muitos anos, que atualmente é um trabalho de excelência e que espero que seja da melhor qualidade, por maior tempo possível.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Tem a palavra o Dr. Paulo Eduardo de Abreu Machado, Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu.

 

O SR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO - Em nome do Hemocentro de Botucatu, agradeço pela oportunidade de estar nesta Casa, e me congratulo com o Deputado Vaccarezza, em lembrar a importância do doador de sangue.

Na realidade, temos três pilares importantes no que diz respeito à hemoterapia: a qualidade do sangue. Este País, nos últimos 20 anos, tem feito um esforço extraordinário e na realidade tem conseguido demonstrar que temos a capacidade de ter um sangue idêntico a qualquer país desenvolvido. O Estado de São Paulo, em particular, praticamente um 1/3 ou mais da atividade hemoterápica do país acontece neste Estado.

O segundo pilar, na realidade a parte clínica. Se vencemos na qualidade do sangue, estamos sendo derrotados pela parte clínica. Não temos sequer o conhecimento do número de reações não desejáveis que acontece neste País e por esta razão, caminhamos lentamente no sentido de melhor execução clínica na área de hemoterapia.

Se essas duas áreas são importantes, a terceira talvez seja a que garanta a existência dessas duas, que é justamente o doador de sangue e é por isso que existe um dia internacional em seu nome.

O que é ser doador de sangue?

Antes de mais nada, como a própria expressão diz, é aquele que tem consciência da existência do próximo e suas necessidades. E pratica um ato de amor, doando algo de precioso que salva vidas, seguindo a oração de São Francisco

Assim, a doação é mais que uma atividade de cidadania, é a demonstração de sensibilidade humana para com o próximo, ação cada vez mais rarefeita nos nossos dias.

Numa sociedade onde impera a insensibilidade, permeando entre cada um de nós a violência e a indiferença para com todos e entre todos, de repente nos defrontamos com uma legião de pessoas dispostas, em um ato de amor e desprendimento, a doar seu sangue para amenizar um sofrimento e salvar uma vida.

Mas não é tão simples assim o fenômeno de doação de sangue. O desconhecimento das pessoas quanto à necessidade de que os hospitais têm do sangue para garantir suas atividades de assistir e cuidar de seus pacientes é total.

Para se ter uma idéia, a garantia do atendimento de urgência, pronto-socorro, trauma, gravidez de risco, transplantes, atendimento de pacientes com anemia e doenças hemorrágicas hereditárias que mais os hospitais preparados para todos estes atendimentos, é dada pelos doadores e as captadoras de doadores. Estes hospitais necessitam de mais de cinqüenta transfusões por leito por ano, ou seja, um hospital de alta complexidade de 200 leitos necessita de 10.000 doações por ano.

O hospital que atende somente o básico e o primário em clínica cirúrgica e obstétrica necessitaria de sete transfusões por leito por ano, ou seja se tiver 200 leitos fará no máximo 140 transfusões por ano, necessitando entre 700 a 1400 doadores.

Assim, existe um exército de captadores de doadores de sangue, cuja tarefa árdua, iniciando com o conhecimento da região onde vai acontecer a coleta, o desenvolvimento de toda uma campanha de esclarecimento de população, na maioria das vezes um ato de esclarecimento de pessoa a pessoa, numa tarefa contínua e desgastante.

Desgastante, fisicamente, porém com um retorno em número de doações que transformam essas captadoras em verdadeiras heroínas, e isto as satisfaz plenamente, garantindo a boa assistência aos pacientes que necessitam de transfusão.

Às captadoras se une um número grande de pessoas que, num ato voluntário, engrossam as fileiras de captadores, numa demonstração da grandeza do ser humano, e que existe como sempre existiu e sempre existirá, um maior contingente de pessoas boas que pessoas más na sociedade, e que todos temos o dever de ajudar a constituição de uma sociedade onde as pessoas são mais desprendidas e solidárias.

É com ações desta natureza, como a das captadoras e doadores de sangue, e por que não, de órgãos, que conseguiremos resgatar uma sociedade justa e fraterna.

Neste dia, as nossas homenagens ao doador e às captadoras de doadores, que constituem os verdadeiros pastores do rebanho, os educadores desses pupilos, os veículos do bem estar humano e de paz social.

Ao trabalho.

Obrigado pela deferência com que fui agraciado ao poder saudá-los.

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Tem a palavra o Dr. Cássio Marcos de Carvalho Gianini, neste ato representando o Dr. Edson Yamamoto, coordenador da Hemo Rede Estadual.

 

O SR. CÁSSIO MARCOS DE CARVALHO GIANINI - Gostaria de agradecer a esta Casa, pelo convite feito à Hemo Rede, para participar deste ato. É com imensa satisfação que hoje prestamos a nossa homenagem a esta pessoa fundamental à sociedade, que é o doador de sangue.

Falar do doador de sangue é sempre uma questão em que parece ficar faltando alguma coisa, devido a que todo agradecimento que a sociedade tem para com o doador é pouco frente àquilo que ele representa para a sociedade, para se conseguir fazer os atos médicos cada vez mais sofisticados e cada vez mais dependentes de sangue.

Nós, da Secretaria de Saúde e da Hemo Rede, temos trabalhado particularmente em uma das comissões, que é a comissão da doação voluntária, para tentar fazer com que esse número de doadores voluntários possa crescer passo a passo, e que os doadores voluntários, espontâneos, cresçam como têm crescido nos últimos anos, e para isso possamos contar cada vez mais com a doação de grupos que estão entrando na faixa etária capaz de doar, que são os jovens, fato que já conseguimos com o gênero feminino, que está cada vez mais participante da doação de sangue, muito mais do que nos anos anteriores.

A qualidade de sangue que conseguimos hoje é dependente, e muito, da doação voluntária de sangue. Antigamente, a doação remunerada de sangue levava à sociedade ter que contar com um doador de sangue com número de doenças maiores, que omitia dados da sua entrevista, para poder receber remuneração.

Hoje, esse quadro já é diferente. Contamos com uma qualidade de sangue muito melhor e em grande parte essa qualidade de sangue se dá devido a este ato do doador voluntário.

Então, é com grande satisfação que a gente agradece a participação neste ato, em homenagem ao doador de sangue, ressaltando que esta homenagem é sempre insuficiente frente à grandeza do seu ato.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Tem a palavra o Dr. José Augusto Barreto, Diretor-Superintendente da Colsan.

 

O SR. JOSÉ AUGUSTO BARRETO - Coube uma parte que me deixa extremamente satisfeito, já que as falas já contemplaram o suficiente. Ficou ao meu encargo fazer a homenagem ao doador de sangue. Temos alguns doadores de sangue presentes e vamos proceder à entrega de uma placa em homenagem a este dia. Fico extremamente honrado por ter ficado com esta missão.

Quero mais uma vez ressaltar que o discurso feito pelo Deputado Roberto Gouveia é de extrema importância para que tenhamos uma compreensão do porquê está acontecendo isso, assim como a atitude do Deputado Vaccarezza.

Sem o Sistema de Saúde, não conseguiríamos hoje estar aqui e termos a questão da universalização do sangue. Além disso, fiquei satisfeito também porque não sabia, apesar de acompanhar tudo sobre sangue, da criação da Hemobrás, assunto de extrema importância para nós, que trabalhamos na área.

Neste momento chamaremos, para a entrega das homenagens, os seguintes doadores: Sr. José Rodrigues Lopes Filho; Sr. Pedro de Carvalho; Sra. Maria Nésia da Silva Alves; Sra. Eliane Fátima da Silva; Adamasco Spfar; Sr. Darlan Monteiro Lourenço.

 

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-              É feita a entrega das homenagens.

 

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O SR. JOSÉ AUGUSTO BARRETO - Esta homenagem prestada é um simbolismo, diante da importância da doação e também em nome da Colsan e Unifesp, agradeço a presença de todos, e parabenizo o nobre Deputado Cândido Vaccarezza, pela iniciativa.

Esta é a primeira vez que se realiza um ato desta envergadura no Estado de São Paulo, em homenagem ao “Dia do Doador”. Isso deve ser registrado e espero que nos próximos anos continuemos com este tipo de homenagem extremamente valorosa.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - CÂNDIDO VACCAREZZA - PT - Senhores presentes, é uma satisfação, um agradecimento e uma homenagem e o nosso reconhecimento à importância do doador de sangue.

Este Deputado está à disposição das entidades, dos movimentos sociais, dos doadores e de todos os segmentos que queiram ou que têm alguma contribuição a dar para avançarmos na qualidade do sangue do Estado de São Paulo, e por conseguinte no Brasil, na quantidade do sangue colhido, e mais do que isso, avançarmos na viabilização de um projeto que é o SUS, que a cada passo que estamos dando, vemos que cada passo representa um passo dentro de uma caminhada. Podemos sempre melhorar.

O doador de sangue é a pessoa, a unidade, o indivíduo fundamental, pelo menos um dos fundamentais nesta caminhada de melhorarmos a qualidade do sangue e aumentarmos a quantidade. Agora mesmo, vamos entrar num período de dificuldade, porque chegam as férias e é mais difícil a coleta de sangue. Esperamos que Deus nos salve de qualquer evento desagradável. Somos obrigados a fazer campanhas, o que muitas vezes não é a forma adequada para coletarmos sangue. O nosso objetivo é termos neste País uma quantidade de doadores permanentes, o que muito irá ajudar a todo serviço de saúde.

Esta Sessão Solene é uma homenagem àquele que muitas vezes, sem saber para quem está indo o seu sangue, vai uma ou duas vezes por ano e faz a sua doação. Com isso, contribui para toda humanidade.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade e convida a todos para um café de confraternização, no Salão dos Espelhos, no 1º andar. Está encerrada a sessão.

 

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-              Encerra-se a sessão às 11 horas e 18 minutos.

 

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