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29 DE NOVEMBRO DE 2004

56ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO “DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO”

 

Presidência: SAID MOURAD

 

Secretária: ANA MARTINS

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 29/11/2004 - Sessão 56ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: SAID MOURAD

 

DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

001 - SAID MOURAD

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de comemorar o "Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino". Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução hinos nacionais da Palestina e do Brasil. Solicita a todos um minuto de silêncio em memória do Presidente da autoridade Palestina, Yasser Arafat.

 

002 - ANA MARTINS

Em nome do PCdoB, considera justa a realização desta cerimônia de solidariedade ao Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, e deseja que cada vez mais os laços fraternos aumentem entre o povo brasileiro e o povo palestino.

 

003 - RESKALLA TUMA

Presidente Honrário da Federação de Entidades Árabes das Américas e Presidente do Conscre, considera que a história palestina é a de um dos genocídios mais hediondos do século XX, sendo que seu inimigo não quer a paz.

 

004 - Presidente SAID MOURAD

Lê mensagem do Governador do Estado de São Paulo, em função do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

 

005 - AIRTON SOARES

Fundador da Liga Parlamentar de Amizade e Cooperação Árabe-Brasileira no Congresso Nacional, historia a criação do País de representação da hoje chamada Autoridade Palestina. Fala da situação dos colonos palestinos, cuja causa apóia.

 

006 - FAHD ALAMEDDINE

Xeque, representante do Lar Druzo Brasileiro, manifesta seu apoio à causa palestina.

 

007 - DAMASKINO MANSUR

Arcebispo Metropolitano da Igreja Ordotoxa Antioquina, faz discurso em língua estrangeira.

 

008 - JAMIL MURAD

Deputado Federal e Secretário da Liga Parlamentar Árabe-Brasileira, presta homenagem a Yasser Arafat, e fala sobre a Intifada, a luta de resistência do povo palestina.

 

009 - MUSA AMER ODEH

Embaixador da Palestina no Brasil, fala sobre a origem e importância do dia internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Lamenta a perda de Yasser Arafat e do Presidente Abu Ahmar, mas destaca que o povo palestino não se abateu e mantém a normalidade democrática.

 

010 - Presidente SAID MOURAD

Lembra que em 1984, foi criada a lei nesta Casa que institui o Dia de Solidariedade ao Povo Palestino, de autoria do nobre Deputado Benedito Cinta, do PCdoB. Reporta-se a manifestações de solidariedade ao povo palestino recebidas de diversas entidades. Afirma que seu mandato é solidário à luta do povo árabe e palestino, que só busca a justiça e a paz. Agradece a todos que colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos. Convido a Sra. Deputada Ana Martins para, como 2ª Secretária “ad hoc”, proceder à leitura da Ata da sessão anterior.

 

A SRA. 2ª SECRETÁRIA - ANA MARTINS - PCdoB - Procede à leitura da Ata da sessão anterior, que é considerada aprovada..

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Queremos agradecer a presença do Sr. Musa Amer Odeh, Embaixador da Palestina no Brasil; do Sr. Ahmad Shaar, Cônsul Geral da República Árabe da Síria; da Deputada Ana Martins; do Deputado Federal Jamil Murad; de Dom Damaskinos Mansur, Arcebispo Metropolitano da Igreja Ortodoxa Antioquina; do Xeque Fahd Alameddine, do Lar Druzo Brasileiro.

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta Sessão Solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de proceder à abertura do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos os Hinos Nacionais da Palestina e do Brasil, executados pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do Maestro PM Músico 2o Tenente Mussi Davi da Cruz.

 

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- São executados os Hinos Nacionais da Palestina e do Brasil pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

 

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O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Esta Presidência agradece a todos os membros da Banda da Polícia Militar.

Minhas senhoras e meus senhores, com muito pesar, esta Presidência solicita a todos um minuto de silêncio em memória do Presidente da autoridade Palestina, Yasser Arafat, falecido no último dia 11 de novembro.

 

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-         Um minuto de silêncio.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Tem a palavra minha colega, a nobre Deputada Ana Martins. (Palmas.)

 

A SRA. ANA MARTINS - PCdoB - Sr. Presidente, Deputado Said Mourad, Sr. Embaixador da Palestina, Sr. Cônsul da Síria, autoridades religiosas, entidades presentes, e todos os que participam desta solenidade, é muito justo que façamos esta cerimônia de solidariedade no Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Somos o Brasil, povo brasileiro, irmão dos palestinos na luta pela sua independência. Também defendemos que a Palestina se torne independente. Basta de guerras, basta de ser vítima de uma transgressão absurda, que é essa violência, que é essa exploração.

O Partido Comunista do Brasil, irmão em todas as causas da independência, manifesta-se aqui, nesta cerimônia, e deseja que cada vez mais os laços fraternos aumentem entre nós, povo brasileiro e povo palestino. Parabéns pela iniciativa, Deputado Said Mourad. Parabéns a todos os participantes. Um grande abraço a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Quero agradecer a presença da Deputada Estadual Ana Martins, e anunciar a presença do Sr. Rubens Hannun, Cônsul Honorário da Tunísia em São Paulo; Sr. Eduardo Elias, Presidente da Federação de Entidades Árabes de São Paulo; Sr. Kaled Toom, Presidente da Sociedade Árabe Palestino-Brasileira de São Paulo; Sr. Khaled Taky Eldin, Xeque e ministro religioso da Sociedade Islâmica Brasileira; Sr. Jamil Mazloum, da Sociedade Islâmica Brasileira; Sr. Paulo Attallah, Presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; Sr. Airton Soares, fundador da Liga Parlamentar de Amizade e Cooperação Árabe-Brasileira no Congresso Nacional; Sr. Nazih Saadi, da Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo; Sr. Faissal Atwi, da Sociedade Beneficente Muçulmana de Barretos; Sr. Degaulle Iskandar Eddo, da Sociedade Maronita de Beneficência; Emir Mourad, Secretário Executivo da Confederação Árabe-Palestina do Brasil; Sr. Rezkalla Tuma, Presidente Honorário da Federação de Entidades Árabes das Américas e Presidente do Conscre; Sr. Ali El Khatib, Superintendente do Instituto de Jerusalém do Brasil; Sr. Rasheed Shamdeen, Diretor do Centro Cultural Árabe-Sírio do Brasil; Sr. Khaled Mahassem, Secretário-Geral da Academia Brasileira de Comunicações; Sr. Marcelo Buzetto, do Movimento dos Trabalhos Rurais Sem-Terra, MST; Sr. Imad Monzer, Diretor do Lar Druzo Brasileiro; Sr. Nilton Santos, do Conselho Nacional de Defesa do Eleitor Brasileiro; Sr. Gerson Santos, do Conselho Nacional de Defesa do Eleitor Brasileiro; Sr. Mohamad Chedid, Diretor da Liga da Juventude Islâmica do Brasil; Sr. João Farah, Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Homs; Sr. Fábio Souza, do Instituto Che Guevara de Cultura e Movimentos Populares; Sra. Fátima Soares, do Instituto Shia Woman; e, por fim, o Sr. Eduardo Daher, Presidente da Confraria Gastronômica Árabe.

Tem a palavra o Sr. Reskalla Tuma, Presidente Honorário da Federação de Entidades Árabes das Américas e Presidente do Conscre. (Palmas.)

 

O SR. RESKALLA TUMA - Sr. Presidente, Deputado Mourad, em nome de quem cumprimento todas as autoridades, representações diplomáticas, eclesiásticas, companheiros da Assembléia, representantes de todas as entidades presentes, é norma, e tornou-se tradição desta Casa do povo de São Paulo solidarizar-se com o Dia Internacional de Apoio ao Povo Palestino.

A história desse povo é a história de um dos genocídios mais hediondos deste século. No século XX, assistimos genocídios que deveriam ser exemplos para a Humanidade, como foi o dos armênios, do povo tutsi, os judeus na Europa. E hoje o genocídio é praticado contra aqueles que viviam na sua própria terra. Mais modernamente se trata o árabe como terrorista, e se trata ainda a religião islâmica como agressora e produtora de terrorismo.

Esses valores foram perdidos pela humanidade porque a ambição e o desejo do domínio baseado em fanatismo, em valores que quase tentam substituir Deus pelo dinheiro, o dinheiro que hoje simboliza todo o volume de maldades que existem no mundo, não é o mundo que nós queremos, nem o mundo que nenhum dos profetas aventou para a humanidade. Desde Abraão, Moisés, Jesus e Mohamed, nenhum deles professou a ocupação de terras que não lhes pertence, a usurpação dos direitos de um povo que por milênios habitou sua própria terra.

No sentido da paz, há pouco conversava com o Embaixador da Palestina, os palestinos concordaram com todas as fórmulas possíveis de fazer a paz, mas parece que seu inimigo não quer a paz. Pelo contrário, é apoiado por potências, principalmente a americana, que procura explorar até no mais íntimo dos seus valores materiais e espirituais, do povo árabe, na busca da riqueza do petróleo, na busca dos interesses naquela região estratégica que sempre foi um encontro do mundo, buscam fincar suas raízes vilipendiando o nosso povo.

Está chegando o momento em que as verdades serão ditas. Os palestinosse satisfazem em ter Jerusalém uma capital oriental e seus adversários a capital ocidental. se satisfazem em reduzir seu direito a toda Palestina em busca da paz. O mundo busca a paz. Estão usurpados os direitos, mas queremos que essa matança de pessoas inocentes cesse. Queremos que um novo mundo surja e no momento em que nós conseguirmos consolidar a paz na Palestina o mundo estará virando uma página negra da sua história e, se Deus quiser, entraremos um pouco na era da justiça e dos direitos humanos. Toda a fonte dos acontecimentos modernos é originária daquela disputa, daquele terror que se pratica nas terras santas da Palestina.

Por isso, meus irmãos, sejam quais forem as religiões, sejam quais forem os mensageiros de Deus, vamos rezar. Sou ortodoxo, mas comungo a amizade com os cristãos de todas as crenças, com os muçulmanos, com os druzos, porque não temos diferenças. Quando o homem temacredita na palavra dos mensageiros de Deus, acredita na palavra do filho de Deus, acredita em todos aqueles que professaram a justiça, a humanidade, a bondade que devem gerir o mundo. Por isso, cada um em sua reza lembre-se que a paz é o caminho da redenção e os direitos dos povos devem sempre ser estabelecidos dentro de um regime de paz, de justiça e de direito. Quem saiu da Palestina tem direito ao regresso. E Jerusalém deverá ser, mesmo no seu lado ocidental, a capital da Palestina, reconhecida internacionalmente.

O grande Arafat era um homem de estado, um homem que desejou a paz, mas a paz integral, não a paz que lhes foi infringida com injustiças. Não se pode dizer que ele era contra a paz, porque nunca o foi. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, sei como pensava no desejo da paz. Essa paz não foi alcançada porque os poderes dominantes da corrupção, da violência, dos interesses, da valorização do dinheiro ainda continuam dominando o mundo, mas ela chegará e será o dia da redenção da humanidade. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - É com muita honra que leio uma mensagem do Governador do Estado de São Paulo, no Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino: “Por ocasião da cerimônia na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo comemorativa do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, desejo transmitir os meus cumprimentos ao povo palestino. Desejo ainda reiterar as minhas condolências pela crescente perda de seu líder Yasser Arafat e expressar minha expectativa de que o povo palestino possa encontrar, sob a condução dos seus novos líderes, a paz e a prosperidade.

São Paulo, 29 de novembro de 2004.

Geraldo Alckmin, Governador do Estado de São Paulo.” (Palmas.)

É uma satisfação muito particular ouvirmos as palavras do nosso grande amigo, Sr. Airton Soares, fundador da Liga Parlamentar de Amizade e Cooperação Árabe-Brasileira no Congresso Nacional.

 

O SR. AIRTON SOARES - Autoridades presentes, meus senhores e minhas senhoras, no final dos anos 70, por volta de 1978, 1979, chegava ao Brasil um emissário dos palestinos para aqui desenvolver uma tarefa de organizar o movimento no Brasil, trazendo informações, buscando fazer com que a sensibilidade dos brasileiros pudesse ser alertada, estimulada no que diz respeito ao que acontecia e ainda acontece, lamentavelmente, na Palestina. Com a chegada do Dr. Farid Sawan nos envolvemos pessoalmente, como Deputado, ao lado de muitos outros, na organização dos trabalhos básicos para que pudesse ser estabelecida no Brasil uma representação da hoje chamada Autoridade Palestina.

Hoje o escritório da representação palestina é na verdade uma embaixada que têm ocupado espaço com a presença do nosso embaixador e tem mantido acesa a luta no Brasil no que diz respeito às denúncias, ao trabalho que se faz no mundo todo pela libertação do povo palestino. Àquela época, lembro muito bem, eram poucos da área parlamentar que se dispunham a apoiar; ainda hoje são poucos os que se dispõem a apoiar essa causa. Nesta Casa já há o exemplo claro disso. Há inúmeros parlamentares de origem árabe. Vejo aqui a Deputada Ana Martins, os Deputados Jamil Murad e Said Mourad. Onde estão os outros?

Mas os outros não estão aqui não porque não queiram. Vocês não podem imaginar - ou talvez saibam melhor do que eu - a força existente no Brasil pela manutenção e ampliação do “status quo” do estado sionista de Israel na Palestina. São forças que se infiltram pela imprensa nas sociedades em geral e procuram com a força do dinheiro e das comunicações, impedir que essa solidariedade aumente. Os Deputados de origem árabe, desta Casa, que não estão aqui hoje, é um exemplo muito claro disso. Muitos são negligentes e omissos. Falo isso porque os senhores têm de se lembrar, representantes que são da comunidade, que em cada eleição os senhores têm o direito e o dever de julgar quem está do lado das verdadeiras causas que hoje fazem com que o mundo árabe se uma - são poucas as que provocam a união do mundo árabe. Mas aqueles que estão do lado dessas causas estão do lado do povo palestino.

Lembro que à época existiam outras causas de libertação nacional. O povo da Namíbia, africano, negro, explorado, dominado e colonizado conseguiu a sua libertação. Na África do Sul, também um povo negro, africano, explorado e humilhado, conseguiu sua libertação com Nelson Mandela.

Vou fazer uma comparação para aqueles que assistiram muitos filmes de faroeste americano. Procura-se divulgar no Brasil uma imagem do colono brasileiro, daquele homem que trabalha no campo, que coloniza a terra brasileira, que explora e tira o seu sustento da terra, mas o colono inserido nos territórios palestino, na Cisjordânia e em Gaza nada tem a ver com a exploração da terra, da colonização e da exploração agrícola. São verdadeiras unidades militares, totalmente cercadas e eletrificadas, que configuram verdadeiros guetos de ocupação, pontas de lança para a dominação, procurando com isso, obviamente, afugentar os verdadeiros habitantes da terra palestina, que são os palestinos.

Quero fazer uma comparação. Toda a vez que ia à Palestina verificava a situação das colônias, aqueles fortes que os americanos punham no antigo faroeste americano, onde iam as tropas, cuja missão era assinar os índios e tomar-lhe as terras. Não é diferente, os “cowboys” são os mesmos. Hoje é o Bush, ontem foram outros; os nomes mudam, mas a política é a mesma. Essa é a continuação da nossa luta, lembrando que esses outros povos, o povo da Namíbia e da África do Sul, já conseguiram a sua libertação. E o único povo colonizado até hoje, que está lá submetido à violência, é o povo palestino.

O que mais pode fazer o governo brasileiro? Não tenho procuração para defender o governo brasileiro, muitas vezes fui um dos maiores críticos da política do governo brasileiro e essas críticas ajudaram a abrir espaço para a política que temos hoje. Temos um escritório brasileiro em Ramallah, uma reivindicação que vem desde 1979, que era ter um escritório palestino aqui e abrir uma representação lá. A representação lá se justificava. São inúmeros os brasileiros casados com palestinos que vivem naquela região e palestinos que vieram ao Brasil, assumiram a identidade brasileira e voltaram para a Palestina. Era necessário ter esse escritório. Hoje o temos.

Quando cheguei em Israel e fui à Embaixada do Brasil, havia uma divisão. Na Embaixada do Brasil em Israel tinha um banheiro que era para a freqüência de todos e um só para os árabes que chegavam à Embaixada. A Embaixada do Brasil tinha isso. E fizemos questão de denunciar, quando voltamos aqui, para acabar com essa barbárie e com essa discriminação dentro da própria Embaixada do Brasil no atendimento a árabes e israelenses que iam procurá-la.

Sr. Presidente, para encerrar, quero cumprimentar V. Exa. pela iniciativa, ao Presidente da Casa por ter abrigado a todos nós e lamentar a ausência dos Deputados de origem árabe que aqui não estão, que devem refletir melhor daqui para frente, se devem vir ou não. Acho que cada um de nós tem de mandar uma carta para eles lamentando a ausência nessa reunião; uma carta cobrando por que não participam, por que não vão à tribuna, por que não fazem discursos? Por que não movimentam esta Casa no sentido de apoiar a causa palestina e a luta pela libertação, porque não é a luta pela libertação do povo palestino, é a luta contra a colonização de um povo pelo outro, a dominação econômica e militar. Essa dominação se dá de várias formas. Se não brigarmos pelo povo palestino hoje, acabaremos nós, brasileiros, sendo obrigados a lutar pela libertação quando quiserem ocupar a nossa Amazônia e as nossas riquezas minerais ficarem comprometidas. Vamos saber mais tarde que talvez tenhamos de usar as mesmas armas que os palestinos para defender o nosso País diante da cobiça internacional. (Palmas.)

Essas causas são internacionais, são causas dos cidadãos do mundo, dos homens e da humanidade. A causa palestina continua a ser a causa maior que se apresenta para o ser humano, para cada habitante de qualquer país do mundo, porque é evidente - o Rezkalla acabou de dizer dos crimes que se cometem lá - todos sabem, todos vêem o que acontece lá. Todos sentem o repúdio e a raiva. E a nossa luta continua. Sr. Presidente, parabéns pela iniciativa. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Esta Presidência quer anunciar a presença da Sra. Raya Mourad, Presidente da Liga das Senhoras Muçulmanas.

Quero chamar para fazer uso da palavra o Xeque Fahd Alameddine, do Lar Druzo Brasileiro. (Palmas.)

 

O SR. FAHD ALAMEDDINE - Em nome de Deus clemente, misericordioso. Eu tenho poucas palavras a respeito do povo palestino. Primeiro, eu represento a seita drusa aqui no Brasil, que é a minoria, os imigrantes árabes. Só que essa seita existe na Síria, no Líbano, na Jordânia e na Palestina. Nós temos mais ou menos 90 mil druzos na Palestina. Somos os druzos-muçulmanos.

Na verdade, na hora de entrar neste plenário me perguntaram se a gente apóia a causa palestina. Acho que a história dos druzos na Síria, no Líbano ou na Palestina é muito antiga, sendo que os druzos sempre lutaram a favor da causa árabe e do patriotismo. Como é que não vamos apoiar a causa palestina, sendo que eles são os nossos irmãos, nossa terra, sendo que o sangue dos árabes é misturado com a terra santa?

Também me perguntaram se temos um santo em Jerusalém.Temos todos. Acreditamos em Jesus Cristo, que veio salvar o povo; o profeta Mohammad também veio salvar o povo. Como não vamos acreditar neles, que vieram para salvar o povo naquela terra e no mundo inteiro?

Claro que apoiamos a causa palestina, somos solidários à causa palestina, à causa árabe. Não somos a favor dessa gente que veio da Rússia, da Holanda, da Polônia, de outros países tomando as terras de nossos irmãos com violências, massacres e matanças. Viva o Brasil! Viva a Palestina! Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Caros amigos, é importante lembrarmos também que há 20 anos, em 1984, foi criada uma lei nesta Casa que institui o Dia de Solidariedade ao Povo Palestino, de autoria do nobre Deputado Benedito Cintra, do PCdoB.

Quero convidar agora Dom Damaskino Mansur, arcebispo metropolitano da Igreja Ortodoxa Antioquina. (Palmas.)

 

O SR. DAMASKINO MANSUR - Sinto-me estranho falar o idioma português, seja num lugar como a Assembléia Legislativa, falando sobre o povo palestino, o povo árabe.

Pensamos na mente: neste momento eu vou usar o coração, e o coração fala só no árabe para este povo palestino. Quem não entende, apenas olhe para mim, que o coração sente as palavras.

 

* * *

 

-         É proferido discurso em língua estrangeira.

 

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O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Senhoras e senhores, com muita honra chamo agora, para fazer uso da palavra, o nobre Deputado Federal Jamil Murad, que também é Secretário da Liga Parlamentar Árabe-Brasileira.

 

O SR. JAMIL MURAD - Quero cumprimentar todos os participantes deste ato, cumprimentar as autoridades diplomáticas na pessoa do Dr. Mussa, Embaixador Palestino no Brasil, as autoridades religiosas, autoridades militares, amigos e amigas.

Essa nobre atitude do Presidente desta Sessão Solene tem um significado profundo e extremamente importante, pois, neste momento em que os inimigos da liberdade e da autodeterminação dos povos procuram liquidar a causa palestina, o nobre Deputado Said Mourad convoca uma sessão para que seja esta uma oportunidade de as pessoas, lideranças e representantes dos mais diferentes setores da sociedade, inclusive o Sr. Governador, manifestarem a favor dessa grande causa.

Escolhi hoje um pronunciamento rápido, como esta Sessão exige, em homenagem ao líder maior dos palestinos, que é o Presidente Yasser Arafat. Estive na Palestina 16 anos atrás, na primeira Intifada. Lá tudo era proibido, até qualquer desenho com as cores da bandeira palestina, sob pena de prisão. A pessoa que desenhasse uma árvore com aquelas cores - não era uma bandeira, mas uma árvore - era presa. Vigorava a mais absoluta falta de liberdade. Naquele tempo, as pessoas eram presas e seus ossos quebrados com porrete. Visitamos muitos hospitais, com muitas dessas vítimas. Usavam, até mesmo, bombas com gases provocadores de hepatite e pneumonia - ou seja, armas químicas - feitas nos Estados Unidos. Nós pegamos as cápsulas. Isso há 16 anos.

Graças a esse movimento, a essa luta consciente, determinada, essa luta heróica, com lideranças - alguns já morreram, outros estão vivos, mas o líder maior, no meu entendimento, foi Yasser Arafat - hoje a causa palestina, o povo palestino é reconhecido no mundo inteiro como um povo que merece, que precisa ter sua pátria, seus direitos.

Ao invés de desaparecer a causa palestina, ela ficou mais forte. É um trabalho fantástico. Fui com o Ministro José Dirceu, um Senador e mais três Deputados, de maneira breve e urgente, sem prévia preparação, prestar uma última homenagem, de corpo presente, ao Yasser Arafat, o Presidente palestino. Fomos à Liga Árabe, e lá vimos representantes de mais de 50 países, todos em viagem de última hora, mostrando o valor desse grande líder, o valor dessa grande causa, a força dessa grande causa palestina.

Atos como esse que V. Exa. convocou e realiza aqui na Assembléia Legislativa têm se reproduzido em muitas cidades, em muitos Estados, seguindo o seu exemplo nobre Deputado Said Mourad. Na Câmara de Deputados também haverá um ato na quarta-feira, o senado do Brasil já prestou sua homenagem. Então esta causa está mais forte que dezesseis anos atrás.

Em abril, quatro Deputados brasileiros, junto com o embaixador Mussa, fomos talvez os últimos brasileiros que estivemos como o Presidente Arafat. E ele estava muito alegre, muito feliz com a solidariedade do povo brasileiro. Em 30 de agosto ele nos escreveu uma carta agradecendo o apoio do povo brasileiro à causa palestina. Ele era um líder que não esquecia de nada. Era um estadista, um líder, um homem público que procurava mobilizar a opinião pública, não só palestina, mas dos povos do mundo amantes da paz, para vencer esses inimigos. Sempre coloco que o Sharon e o Bush são duas faces da mesma moeda, são carniceiros da humanidade. (Palmas.)

Então, de maneira breve, gostaria de prestar essa homenagem ao Presidente Arafat. O Presidente Arafat morreu? Não. Arafat vive através de milhões de palestinos que encarnam o sonho de seu líder maior: a pátria palestina.

Morreu fisicamente o homem Arafat. Mas seus ideais, a sua causa, pela qual dedicou sua vida, com bravura e desprendimento, vivem nos corações e mentes de mulheres e homens palestinos, desde a mais tenra idade até os anciões. Certamente é uma garantia de continuidade da luta, até completar essa obra monumental, que é o Estado palestino independente, com capital em Jerusalém, onde Arafat foi o operário, o mestre-de-obras e o engenheiro.

Arafat é o herói palestino de todos os tempos. Foi comandante-guerrilheiro, líder político de larga visão, diplomata, estadista, que derrotou nos mais diferentes terrenos os seus inimigos. Aos que o caluniaram como terrorista para isolá-lo, respondeu com a conquista do respeito e apoio do mundo todo, que reconheceu a sua nobre causa, e o seu compromisso com os valores maiores da humanidade, humanidade esta que condecorou com o prêmio Nobel da Paz, em 1993, Yasser Arafat.

Marcado para morrer a vida inteira, foi protegido e defendido pelos seus compatriotas e amigos pelo mundo afora, que não deixavam que ele dormisse dois dias seguidos em uma mesma casa. Figurou entre os estadistas de primeira grandeza do século XX, e conquistou o apoio das mais diversas personalidades do mundo, desde o papa até a maioria dos chefes de Estado dos cinco continentes, pois Arafat sabia que só o heroísmo do povo palestino não bastava. Era necessário o apoio da comunidade internacional, o que foi obtido com um trabalho revolucionário, perseverante e competente.

Arafat foi um líder de larga visão. Por isso construiu seu partido, Al Fatah, na década de 50 e aglutinou-se com outras correntes políticas palestinas, na OLP. Em 1969, foi eleito Presidente desta extraordinária frente política. A sociedade palestina é organizada sob a liderança da OLP e tem instituições sólidas, que darão continuidade à luta pelo Estado Palestino com capital em Jerusalém.

Yasser Arafat, pelo seu exemplo, pela sua obra, tornou-se imortal e continuará vivendo não só no coração do povo palestino, mas também no coração dos amantes da paz do mundo inteiro. Para desespero dos inimigos da causa palestina, Arafat se tornou imortal e sempre será herói e pai da pátria palestina. Glória eterna ao presidente Arafat! Viva o Estado palestino independente com capital em Jerusalém! Shukran! Obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Senhoras e senhores, quero anunciar também a presença de Mohamad Sami El Kadri, da Associação Islâmica de São Paulo- Região Norte e do Xeque Mohamad Al Chibrawe, da mesquita Hamza.

Tem a palavra agora o Sr. Musa Amer Odeh, Exmo. Embaixador da Palestina no Brasil.

 

O SR. MUSA AMER ODEH - Sr. Presidente, senhoras, senhores, autoridades presentes, agradeço-lhes muito pelo seu apoio e sua solidariedade neste momento difícil para o nosso povo.

Desculpem-me, mas é muito difícil continuar em português. Por isso falarei na minha língua. O meu amigo e companheiro Emir Mourad irá traduzir.

 

O SR. EMIR MOURAD - traduzindo o pronunciamento do SR. MUSA AMER ODEH - Gostaria de agradecer ao povo e à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo pela comemoração deste Dia Estadual de Solidariedade ao Povo Palestino comemorado todos os anos.

Neste dia, o mundo inteiro comemora o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Este dia 29 de novembro, Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, deve-se à divisão da Palestina que se deu nas décadas de 40 e 50. Esta divisão possibilitou a criação de um estado não palestino e de um outro estado palestino, que não foi criado. Até hoje o povo palestino está impedido, dentro da sua própria pátria, de ter a sua independência.

Nossa comemoração hoje se diferencia de outras comemorações de outros anos. Perdemos o nosso Líder da Construção Nacional, da Independência e da Liberdade. Perdemos não apenas o nosso Presidente Abu Ahmar como líder da causa palestina, da revolução palestina, mas também aquele que após a luta do Vietnã levantou a bandeira da luta revolucionária. Ele possibilitou elevar o povo palestino, mesmo com todas as dificuldades e os obstáculos desde o início da revolução palestina até os dias de hoje.

O Líder Abu Ahmar sofreu grandes pressões que mesmo as montanhas não resistem. O mártir Yasser Arafat disse “não” ao governo norte-americano e pagou um preço por dizer “não” e por não ter a palavra da liberdade e da independência. Continuamos lutando com a nossa fé procurando levar esta nossa palavra pela luta pela independência.

Nossos interesses não estão na guerra, nem no derramamento de sangue. Os nossos interesses estão no caminho da paz, só que a paz justa e duradoura para o povo palestino, que significa independência nacional e o retorno dos refugiados palestinos às suas terras de acordo com as resoluções da ONU.

Muitos passaram a propaganda enganosa de que o povo palestino, após a morte do Presidente Arafat, iria iniciar uma guerra civil. mesmo as esperanças de Sharon de que isso acontecesse foram derrotadas porque o povo palestino, suas organizações e instituições deram a prova da transição dentro do marco legal da autoridade Nacional Palestina, fazendo cair todas as expectativas de uma guerra civil, de uma confusão generalizada.

em nove de janeiro próximo ocorrerão as eleições para a Presidência da Autoridade Nacional Palestina. Vários candidatos já se apresentaram, dos vários partidos e organizações palestinas. e acontecerão eleições para o Parlamento Palestino, em maio próximo. no próximo mês, acontecerão as eleições municipais. Haja vVistao que essas eleições, com todas as dificuldades da ocupação, darão um exemplo da prática democrática, não só na Palestina mas em toda a região.

Gostaria de dizer aos Deputados da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e aos membros das entidades da sociedade civil que nós, o povo palestino, aguardamos e precisamos de observadores para as eleições na Palestina. Gostaríamos de ter observadores do Brasil que pudessem testemunhar a prática e as eleições democráticas na Palestina. Gostaríamos de agradecer a todos os amigos do povo brasileiro pelas homenagens e pelas mensagens de pesar pela passagem do Presidente Yasser Arafat. Gostaríamos de agradecer, desta tribuna, ao governo brasileiro por sua posição de apoio à causa palestina.

como disse o nosso amigo, Dr. Aírton Soares, depois de uma longa jornada, concretizou-se a instalação do escritório diplomático brasileiro em Ramallah, na Palestina. No momento da abertura desse escritório, e um pouco antes, o povo palestino passou, e ainda passa, por momentos muito difíceis, em que o próprio Presidente Arafat ficou cercado e preso por três anos.

O governo brasileiro não apenas aprovou e abriu o escritório em Ramallah, como também designou um embaixador especial para o Oriente Médio. o governo brasileiro, um governo amigo, tomou a decisão de se envolver mais nos assuntos do Oriente Médio e nos assuntos da causa palestina. e a decisão do Presidente Lula, que anunciou a reunião de cúpula Árabe-Latino-Americana, que será realizada em 11 de maio próximo. Essa cúpula irá possibilitar a abertura e o estreitamento ainda maior das relações árabe-latino-brasileiras.

gostaria de lembrar que essa posição de apoio do governo brasileiro é uma posição que se inicia em 1974, quando o Governo votou favorável à causa árabe e à causa palestina. Essa posição do Governo brasileiro é fruto também do apoio de vocês que estão aqui presentes, ao longo desses anos lutando por essa causa, a causa mais justa e a causa da liberdade no atual momento da humanidade.

Gostaria de agradecer ao nobre Deputado Said Mourad, aos membros, à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e a todos vocês aqui presentes por essa luta continua, por essa solidariedade. Vamos continuar juntos nessa luta. Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Quero anunciar também a presença de Soraya Smaili, do Instituto da Cultura Árabe, e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Recebemos o manifesto de solidariedade ao povo palestino assinado pelas seguintes entidades: Comitê Democrático Palestino, Instituto Che Guevara, MST, União da Juventude Árabe para a América Latina, Núcleo de Ação Popular Carlos Marighella, Movimento dos Trabalhadores Desempregados de São Paulo, e do jornal Inverta.

Dentro de mais alguns minutos, encerraremos a sessão e quero comunicar a todos que temos exposto, no Hall Monumental, o livro de fotos da Palestina, do fotógrafo Rogério Ferrari, feito em 2002, nos territórios ocupados, prefaciados por Emir Sader.

Excelentíssimo Sr. Embaixador da Palestina no Brasil, Musa Amer Odeh, em nome de quem saúdo os demais representantes diplomáticos aqui presentes; Reverendíssimo Dom Damaskinos Mansur, em nome de quem saúdo todos os líderes religiosos desta sessão; nobre Deputado Federal e meu amigo, Jamil Murad; nobre Deputado Estadual e minha colega, Ana Martins; representantes de entidades, sindicatos, partidos, minhas senhoras e meus senhores, a presença de vocês aqui na Assembléia é muito importante não só para o povo palestino, mas para a paz no mundo. Cumprimento a todos, pela vontade e empenho de estarem aqui conosco.

Desde que assumi o nosso mandato nesta Casa, o meu primeiro discurso, ainda como Deputado eleito não empossado, foi durante a Sessão Solene ao Povo Palestino, em que o meu colega, Deputado Salvador Khuriyeh, me cedeu a palavra. A primeira autoridade que recebi nesta Casa foi o nosso Embaixador da Palestina, que foi recebido por vários colegas na Presidência desta Casa. E, ainda, é a segunda Sessão Solene em comemoração ao Dia de Solidariedade ao Povo Palestino que estou presidindo. O nosso mandato é mais que solidário à luta do povo árabe e palestino. É totalmente integrado, e faz parte dessa luta justa pela paz e pela justiça.

Ontem, quando visitei meus pais, aprendi mais uma coisa com eles. Meu pai me disse que a palavra ‘eu’ é uma palavra do diabo. Ele quis dizer no sentido de que não devemos ser egoístas, nem egocêntricos. Disse isso para que eu aprendesse mais uma lição: a de ser humilde. Humildade essa admirada pelo grande líder estadista, Gamal Abdel Nasser, a quem não cheguei a conhecer, pois eu era muito pequeno quando ele faleceu. Humildade essa também muito bem representada pela simplicidade do grande Líder, Mohammed Abdel-Raouf, Sr. Yasser Arafat. (Palmas.)

Falar de Yasser Arafat é o mesmo que falar da Palestina. Portanto, toda vez que pensarmos em Palestina, sem dúvida, estaremos pensando nesse grande líder simplista, que nasceu, viveu e morreu lutando pela paz e pela nação do seu povo. Assim como nos ensinou Yasser Arafat, defendemos o direito internacional, o respeito entre os povos e o cumprimento das resoluções da ONU.

Meus amigos, lutamos também pela tolerância racial, pela tolerância étnica e pela tolerância religiosa. Enfim, lutamos, sim, pela paz no mundo. Terroristas, não somos nós nem os palestinos que defendem o seu chão e o seu teto. Terroristas são esses imperialistas. (Palmas.)

Terroristas são esses imperialistas sionistas e americanos. O nazismo é pouco para eles. São piores do que os nazistas. Desde a ocupação de suas terras o povo palestino vem resistindo heroicamente às arbitrariedades do exército israelense, resistência essa legitimada pelas resoluções da ONU, que assegura a qualquer povo lutar contra a ocupação de seus territórios por forças estrangeiras.

A cada passo que os palestinos dão em direção da paz, os governos israelense e americano caminham em direção da guerra, da discórdia, do imperialismo e do egocentrismo. O exemplo mais recente disso é o vergonhoso muro que foi levantado pelos israelenses, o que agrava ainda mais a situação daqueles pobres palestinos que ali resistem.

Israel nega os direitos humanos básicos ao povo palestino. Os palestinos são regularmente parados e questionados pela polícia e pelo exército. Viajar dentro e fora da Palestina requer uma autorização de ocupação assinada. Isso também acontece quando os palestinos querem ir rezar nas mesquitas ou nas igrejas em Jerusalém. O maior exemplo da falta de humanismo do governo de Israel é o confinamento, até a sua morte, do líder-símbolo e pai da luta palestina, Yasser Arafat, a quem dedicamos esta sessão, como reconhecimento por sua dedicação à causa justa de seu povo. (Palmas.)

Existem hoje cerca de cinco milhões de palestinos vivendo fora da Palestina como refugiados. Muitos partiram devido à violência de Israel. Outros partiram para trabalhar ou estudar. Quando essas pessoas tentaram voltar para suas casas e vilas, Israel fechou as fronteiras e negou-lhes a entrada. E essa situação - pasmem todos vocês - continua até hoje. Durante anos as casas, aldeias e plantações da Palestina têm sido arrasadas por Israel, para fazer lugar a novas colônias ilegais. Israel ainda autoriza o uso de tortura. Seus livros e estatutos referem-se a esse tipo de abuso usando o termo ‘pressão física’. Torturar, agora, eles chamam de ‘pressão física’.

Aproveito, antes de encerrar, para prestar um testemunho que foi incidido dentro de mim, ainda criança. Há 22 anos, quando voltei pela segunda vez do Líbano, no dia 09 de julho de 1982, havia voltado para o Brasil, fugido, pela Síria, devido à guerra imperialista, mais uma vez. Ainda criança, o meu irmão aqui presente, Mohamed Said Mourad, me abriu as portas para o mundo e me fez enxergar e trabalhar contra a injustiça na sociedade. Ele me abriu as portas, também, apresentando-me algumas pessoas em quem eu me oriento para continuar batalhando, e com essa determinação. Essas pessoas são o Dr. Airton Soares, Jorge Bordukan, que infelizmente não pôde vir esta noite, e o meu colega Deputado Jamil Murad.

Agradeço a todos vocês e a essas pessoas em especial pela presença, por terem me iluminado, por terem me dado essa garra, essa força. Continuem, sim, me orientando e me ajudando a continuar trabalhando. Apesar de toda essa violência que acabamos de denunciar, acredito, do fundo do meu coração, que a paz justa e duradoura é o caminho mais seguro para todos os povos e para todas as nações. Por um Estado palestino soberano, com Jerusalém como capital, muito obrigado a todos! (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, e antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e a todos aqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade. Convido a todos para o coquetel que será oferecido no Hall Monumental e também para visitar a exposição de telas - Paradoxo Palestino - do jovem artista Muhammad Baker, a quem cumprimento e dou os parabéns pelas obras e sua dedicação.

Está encerrada a presente sessão.

 

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-         Encerra-se a sessão às 22 horas e 14 minutos.

 

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