28 DE NOVEMBRO DE 2003

58ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO DO "DIA DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO"

 

Presidência: SAID MOURAD

 

DIVISÃO TÉCNICA DE TAQUIGRAFIA

Data: 28/11/2003 - Sessão 58ª S. SOLENE  Publ. DOE:

Presidente: SAID MOURAD

 

COMEMORAÇÃO DO DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO

001 - SAID MOURAD

Assume a Presidência e abre a sessão. Anuncia as autoridades presentes. Informa que esta sessão solene foi convocada pela Presidência efetiva, a pedido do Deputado ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de comemorar o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Convida a todos para, de pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro e da Palestina. Anuncia apresentação de grupo teatral. Registra e agradece as mensagens de autoridades ausentes.

 

002 - RESKALLA TUMA

Presidente Honorário da Federação de Entidades Árabes das Américas. Discorre sobre a violência no Oriente Médio, destacando o conflito entre Israel e Palestina.

 

003 - KHELD JAKOBSEN

Secretário Municipal de Relações Internacionais. Comenta a visita do Presidente Lula ao Oriente Médio e as funções da sua pasta na Prefeitura de São Paulo. Convida a comunidade palestina para os festejos dos 450 anos da cidade de São Paulo.

 

004 - RENATO RABELO

Presidente Nacional do PCdoB. Apóia a causa palestina e a auto-determinação deste heróico povo pela liberdade e construção de seu Estado.

 

005 - JAMIL MURAD

Deputado federal por São Paulo. Condena os Estados Unidos pela invasão do Iraque. Fala sobre a necessidade da ONU cumprir seu papel de mediadora para promover a paz entre os palestinos e Israel.

 

006 - ABDO NASSER EL KHATIB

Diretor do Departamento de Imigração da Universidade EL Azhar, Líbano. Relata a história de luta dos palestinos desde a 2ª Guerra Mundial e a atual situação destes na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.

 

007 - DAMASKINOS MANSUR

Arcebispo Ortodoxo do Brasil. Diz sobre a importância de Jerusalém para a fé dos cristãos, ortodoxos e muçulmanos.

 

008 - MUSA AMER ODEH

Embaixador da Palestina no Brasil. Pede a todos ajuda à causa palestina e agradece ao povo e ao governo brasileiro pelo apoio ao povo palestino.

 

009 - Presidente SAID MOURAD

Discorre sobre a dificuldade dos palestinos em conviver com as leis impostas por Israel, como o muro que está sendo construído para tentar isolá-los. Acredita que a paz justa e duradoura é o caminho mais seguro para todos os povos e nações. Cumprido o objetivo na solenidade, agradece a todos que colaboraram com o êxito desta sessão. Encerra a sessão.

 

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O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Convidamos, para a composição da Mesa, o Sr. Musa Amer Odeh, Embaixador da Palestina no Brasil; Dom Damaskinos Mansur, Arcebispo Ortodoxo do Brasil; Deputado Federal Jamil Murad; Xeque Abdo Nasser El Khatib, Diretor do Departamento de Imigração da Universidade El Azhar, no Líbano.

Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Sidney Beraldo, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de comemorar o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirem o Hino Nacional da Palestina e o Hino Nacional Brasileiro, executados pelo tecladista da Polícia Militar do Estado de São Paulo, 2o Sargento Músico José Loyola.

 

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- São executados os Hinos Nacionais da Palestina e do Brasil.

 

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O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Esta Presidência agradece ao tecladista da Polícia Militar do Estado de São Paulo, 2o Sargento Músico José Loyola.

Convido o Sr. Ahmab Aref, Presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo e o Sr. Mohamad Ahmad Saada, Presidente da Sociedade Cultural e Beneficente Islâmica de Mogi das Cruzes para fazerem parte da Mesa.

É com muito prazer que tenho a honra de receber o Sr. Ricardo Pellicci Bighetti, representante do Ex.mo. Sr. vice-Governador, Professor Cláudio Lembo. Agradeço também a presença do Sr. João Francisco Aprá, representante do Ex.mo. Sr. Secretário deo Estado da Juventude, Esporte e Lazer, Sr. Lars Grael; Sr. Khheld Jakobsen, Secretário Municipal de Relações Internacionais, representando a Prefeita de São Paulo, Sra. Marta Suplicy; Sr. Reskalla Tuma, Presidente Honorário da Federação de Entidades Árabes das Américas; representando o Sr. Presidente da (Fearab - SP, e?), Eduardo Felício Elias; Sr. Moustafa Mourad, Diretor da Câmara de Comércio Árabe-bBrasileira, representando o Presidente Paulo Atallah; Sr. Khaled Takyeldin, Xeque Iman da Sociedade Islâmica de Guarulhos; Sr. Hassam El Emleh, Presidente da Federação das Entidades Árabes-Palestino Brasileiras; Dr. Farid Swan, Presidente da Honra da Confederação Palestina da América Latina e Caribe; Sr. Mohamed Abduni Neto, representando o Sr. Alfredo Cotaiti, Presidente da Câmara Libanesa de Comércio; Sr. Omar Torres Olivares, Cônsul Geral da República de Cuba; Xeque Ussama El Lahed, Presidente das Ligas dos Sábios Muçulmanos do Brasil; Sr. Kaled Toom, Presidente da Sociedade Árabe Palestino Brasileira de São Paulo; Sr. Renato Rabelo, Presidente Nacional do PCdoB; Sr. Dirceu Travesso, da Direção Nacional do PSTU; Sr. Marcelo Buzetto, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Minhas senhoras e meus senhores, assistiremos agora à apresentação do Grupo Teatral que durará cerca de 15 minutos, para que não seja cansativa esta sessão. O Grupo Teatral chama-se A Intifada, com a peça “Crianças da Palestina”, músicas e poesias de Mahmud Darwish e Fadua Tuqan, cujo elenco é formado por profissionais do Conservatório Carlos Gomes, que tem mais de cem anos de atividade. (Palmas.)

 

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- É feita a apresentação.  musical.

 

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O SR. (?)

... há 68 anos. Temos várias atividades. Há um programa, que é o que mais sensibiliza não só a coletividade politécnica, como toda a coletividade, em geral: o nosso programa de bolsa de estudos. Fazemos uma pesquisa, uma entrevista anuais e verificamos quais os alunos que têm dificuldades financeiras. Para esses alunos, distribuímos um salário-mínimo mensal. Hoje, temos 106 bolsistas recebendo essa graça. Conseguimos manter essa bolsa de estudos não somente com a contribuição dos engenheiros politécnicos, como também com a colaboração de empresas de engenharia, dirigidas por politécnicos. Quero lembrar o Del Nero, com sua firma, em Figueiredo Ferraz, que contribui com essa nossa bolsa. Espero, com isso, que eu consiga aumentar a cota dele.

Sempre procedemos a reuniões e homenagens. Fazemos sempre um jantar, para o qual convidamos todos os membros da família politécnica e onde são homenageados, em especial, aqueles que completam 50 anos de formados, 25 anos de formados e 10 anos de formados. Neste anos, faremos este jantar no dia 30 de outubro e um dos homenageados, com 25 anos de formado, é o Presidente da Mesa, Deputado Jardim.

Temos, também, uma homenagem anual ao professor do ano. Pedimos à diretoria de escola que nos envie uma lista tríplice de professores. Depois, nossa diretoria se reúne e escolhe. Neste ano, será homenageado o professor Valter Borzane, de química, formado em 1947. Essa homenagem está marcada na Escola Politécnica para o dia 10 de novembro. Outra reunião que fazemos é uma em que sempre convidamos os alunos recentemente formados, que se graduaram no ano anterior, para que eles saibam da existência da Escola Politécnica, assim que se formam. Ultimamente, temos tido um grande apoio da diretoria da Escola Politécnica, que sempre nas aulas magnas, ou seja, na primeira aula que o “bicho” recebe, temos o direito de alguns minutos para falar para que eles já saibam da existência da nossa associação, para que não aconteça o que, lamentavelmente, aconteceu comigo. Só depois de muitos anos de formado é que fiquei sabendo da existência dessa associação bendita, que eu presido hoje.

Também temos a intenção de valorizar a qualidade de vida e, para isso, organizamos brincadeiras e competições de, por exemplo, futebol, xadrez, rúgbi, realizadas no acampamento dos engenheiros que o Instituto de Engenharia, graciosamente e gentilmente, sempre nos oferece. Inclusive, com a participação entusiasta feminina. Não neste ano, em que houve um temporal terrível, quase ninguém apareceu, mas no ano passado as moças foram e montaram um time de futebol. Faltavam elementos para completar os onze jogadores e me convidaram para jogar no time das moças. Joguei e marquei um gol de pênalti. Jogamos também golfe, organizado pelo colega (Sokano ?). Promovemos também viagens e visitas técnicas para expansão e conhecimento pessoal e técnico dos nossos colegas.

No ano passado, organizamos um projeto inédito, a (EP Polivapcom?), com o patrocínio de mais uma empresa dirigida por politécnicos. Conseguimos realizar esse projeto mapcon, que é pioneiro no seio universitário. Através de entrevistas e questionários, descobrimos o potencial de cada aluno, as suas qualidades interiores, dando a ele uma chance de melhorar a gestão da sua carreira. Também cria vantagens para a própria

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Minhas senhoras e meus senhores, é com prazer que quero registrar a presença do meu grande amigo e meu colega nesta Casa, o nobre Deputado Estadual José Bittencourt. (Palmas.)

Quero pedir aos senhores um pouco de paciência, porque são tantas as autoridades e tantos fax, telegramas e e-mails que nos chegaram, que alguns vou simplesmente mencionar o nome da pessoa: Deputado Federal Devanir Ribeiro; Governador do Estado de São Paulo, Sr. Geraldo Alckmin; Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Sr. Duarte Nogueira; Juiz-Presidente do TRT da 2ª Região, Maria Pellegrina; Secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Luiz Barradas Barata; Presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Sr. Fúlvio Julião Biasi; Secretário da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Sr. Nagashi Furukawa; Senador João Ribeiro; Deputado Federal Dr. Rosinha; Senador João Capiberibe; Senador Idete Salvatti; Deputado Federal Carlos Abi Kalil; Vereador da Câmara Municipal de São Paulo, Prof. Eliseu Gabriel; ex-Vereador da Câmara Municipal de São Paulo, Sr. Mohamad Said Mourad, meu irmão, que infelizmente não pôde estar conosco esta noite; Deputado Estadual Zuza Abdul Massih; Deputado Federal Luis Carlos Santos; Senador Paulo Paim; Presidente da Liga das Senhoras Ortodoxas, Sra. Loris Nastrala; Senadora Roseane Sarney; Deputado Federal Dr. José Aristodemo Pinotti, que é agora meu correligionário do PFL; Deputado Federal Presidente Nacional do PMDB Sr. Michel Temer; Senador e Secretário das Relações Internacionais do PT, Sr. Aloizio Mercadante; Deputado Estadual Pedro Tobias e Deputado Estadual Paulo Sérgio.

Passo a ler o telegrama enviado pelo meu querido Senador Romeu Tuma: “Agradeço o convite para a sessão solene que comemora o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, cumprimentando essa Presidência e demais Deputados envolvidos nessa honrosa homenagem. Isso reafirma a caminhada palestina de uma conquista do seu território. Atenciosamente. Senador Romeu Tuma.”

Passo a ler agora só um trecho da carta enviada pelo Deputado Federal, meu amigo Dr. Ricardo Izar: “É em meio à luta desigual entre tanques e pedras que se comemora mais um Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Assim, não nos resta senão juntar nossa voz àquela desse povo que luta com os parcos meios materiais e políticos de que se dispõe pela sua verdadeira e definitiva independência, o que inclui sem dúvida a soberania sobre todo o seu território em todo o seu território.

Em meu nome pessoal e em nome do povo que aqui represento, uno-me ao povo palestino em solidariedade a sua nobre causa, na esperança de que em breve esse dia 29 de novembro não mais precise ser comemorado apenas como solidariedade e esperança.” Palavras do meu amigo Deputado Ricardo Izar.

Passo a ler a mensagem do meu Presidente do PFL, o Senador Jorge Bornhausen: “Ex.mo. Sr. Deputado Said Mourad, a Executiva Nacional do PFL cumprimenta outra iniciativa de promover sessão solene na Assembléia Legislativa de São Paulo, em comemoração ao Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Neste momento compartilhamos com V.Exa. da mesma preocupação pela busca da paz e da justiça mundial, reforçando o nosso compromisso de permanecer na luta para fazer ecoar em todos os cantos do mundo o sentimento de harmonia e de prevalecer o espírito de entendimento e da conciliação entre os povos. Senador Jorge Bornhausen, Presidente Nacional do PFL.”

Para concluir, quero ler a carta do Presidente Nacional dos Partidos Trabalhadores, Sr. José Genoíno: “O Partido dos Trabalhadores vem acompanhando com bastante atenção a evolução do processo de construção de paz no Oriente Médio. A disposição para uma solução negociada na região nos foi efetivamente expressa nas diversas oportunidades, nas quais tivemos o privilégio de nos encontrar com dirigentes da Autoridade Palestina. A longa amizade que une PT ao povo palestino nos ensinou o quão profundo é o sentimento de paz que o anima. Portanto, o PT se soma a esse sentimento de paz e, por ocasião do Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, reitera a esperança de que o mais breve possível possamos ter vizinho a Israel um Estado Palestino próspero e capaz de abrigar todo esse extraordinário povo disperso pelo mundo. Esperamos que o difícil caminho para uma paz duradoura e justa na região possa ser percorrido com segurança e sabedoria, que permita conduzir a uma solução fundada na justiça e na sociedade. De nossa parte, reafirmamos nosso compromisso de contribuir na medida de nossas possibilidades para a consolidação desses objetivos, e manifestamos nossos mais profundos respeito e apreço ao povo palestino.”

Agradecemos agora às pessoas que irão nos conceder sua sabedoria, sua palavra. Para abrir, gostaria de passar a palavra ao Sr. Reskalla Tuma, que chamo de “tio”, Presidente Honorário da Federação de Entidades Árabes das Américas. (Palmas.)

 

O SR. RESKALLA TUMA - Sr. Presidente, nobre Deputado Mourad, meu querido Arcebispo, Embaixador Musa, meu irmão Jamil Murad, em nome de quem cumprimento todas as autoridades e todos os companheiros presentes.

Assistimos emocionados a apresentação desse jogral dos quatro jovens. Ao fazer a representação, a emoção vem, porque de uma forma emotiva e sentimental, eles nos apresentaram a história das origens do povo árabe, do povo palestino. De uma forma poética, nos demonstraram o sentimento pelos olivais perdidos, pelas laranjeiras arrancadas, pelas saudades de suas casas, pela forma sofrida como a opressão se faz sentir. As vítimas de ontem são os algozes de hoje. E, a história nos ensina que a violência jamais dominará a vontade de um povo. Se assim não fosse, os impérios seriam eternos.

Todos os impérios foram demolidos pelas vontades dos povos oprimidos. Hoje, quando se comemora o Dia de Apoio ao Povo Palestino, se presta um ato de justiça internacional. Não é só nesta egrégia Assembléia Legislativa que o Deputado Said Mourad em boa hora nos traz a lembrança deste dia. Em todo o mundo, na Organização das Nações Unidas, em cada país, se comemora esta solenidade, solidariedade que não é suficiente, e que também não está nos levando ao caminho da paz.

A ação desumana praticada contra esse povo sofrido não dá sinais de término. Fala-se na paz, no desejo de que todos os povos sejam respeitados como criaturas humanas. E, entretanto em nome da paz se constrói o muro da vergonha. Em nome da paz se arrancam os olivais dos quintais, que muitas vezes são a sobrevivência desse povo.

Nós, brasileiros de todas as origens, formamos uma etnia mesclada de brasilidade. Nosso repúdio aos atos de violência contra todos os povos oprimidos desencadeia na caudal dos direitos palestinos. Nada mais existe quando o Brasil votou a criação de dois Estados: a criação do Estado de Israel e do Estado Palestino. O Estado de Israel foi criado no mesmo instante e reconhecido pelas nações do mundo. O Estado Palestino, injustamente, até hoje não existe e não é reconhecido.

E, não existe, porque as forças opressoras que hoje representam o mal, aqueles que nos trouxeram a sociedade de consumo, aqueles que estão pervertendo a juventude do mundo, aqueles que, em nome de combates religiosos, estão pervertendo as mensagens dos grandes profetas. Estamos na era Abraâmica. Moisés, Jesus, Maomé e Buda, nenhum deles nos ensinou a usurpar território de terceiros, a matar inocentes, a sacrificar crianças em nome de uma opressão insustentável.

Um dia a verdade virá e o povo palestino terá seu Estado. O povo palestino grita: “Queremos nosso Estado para que possamos ter a paz com os judeus e com o mundo, para que fraternalmente o ser humano possa ser reconhecido, como criatura feita à imagem e semelhança de Deus.”

Quero que vocês, como eu, em cada religião, em cada desejo, orem para que essa verdade venha, para que nós, no Brasil, vivamos as diversas etnias, as diversas raízes de cultura, fraternalmente unidas, na busca de um novo mundo, e para que todos nós possamos sair às ruas sem medo de assalto, sem medo de violência, sem medo de 11 de setembro, sem medo das mentiras americanas, sem ações de violência do Sharon. O próprio povo judeu que vive no Brasil não aceita essa violência.

Temos certeza de que nessa unidade étnica, religiosa, de vontades, faremos com que Deus nos ouça, porque o ser humano só aprende com o sofrimento e não com benesses. Deveríamos passar por esse sofrimento para que um dia o Brasil demonstre ao mundo que aqui renasce uma nova raça, uma raça de esperança, de amor, onde não há separação por cor de pele, por sexo, nem por dogma religioso.

Meus irmãos, rezemos e aprazamos aos céus para que esse dia seja em breve, para que possamos estar em Jerusalém, comemorando novamente a unidade das religiões, junto ao povo heróico, que tem direito à sua liberdade. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Gostaria de convidar agora, para ser breve e também fazer uso da palavra, o Sr. Kheld Jakobsen, Secretário municipal de Relações Internacionais, representando a prefeita de São Paulo, Ex.ma. Sra. Marta Suplicy.

 

O SR. KHELD JAKOBSEN - (fala em árabe) Infelizmente o meu árabe é extremamente limitado, então, fico por aqui. Quero saudar o Sr. arcebispo, o Sr. Xeque, Presidente da Mesa, nosso amigo embaixador da Palestina, nosso amigo Deputado Federal Jamil Murad, demais parlamentares aqui presentes, a comunidade palestina, a comunidade árabe aqui presente, senhoras e senhores, companheiros, a prefeita solicitou insistentemente para que eu viesse aqui representá-la, para dizer claramente de que lado ela está. E ela está, sem dúvida nenhuma, do lado dessa luta, da solidariedade e da paz para a pátria palestina. (Palmas.)

Além desse gesto dela, na semana que vem estaremos assistindo a um novo gesto da maior importância. A visita do Presidente da República do Brasil, Presidente Lula, não é uma visita ao Oriente Médio. Tem sido dito por ele, claramente, que é uma visita aos países árabes, e não, volto a dizer, ao Oriente Médio, exatamente pelo apreço e pela importância que o atual governo vem dando a esse relacionamento, à sua comunidade que vive aqui no Brasil, mas que também se transfere nesse sentido para esses países que serão visitados.

Nós, modestamente, aqui na prefeitura, não queremos ficar atrás. Estou indo também, nesta semana, pela segunda vez, a Beirute. É nossa intenção estabelecer um convênio de relacionamento, de amizade, de cooperação com aquela cidade, para prestigiar a comunidade libanesa, a comunidade árabe que vive aqui em São Paulo, para podermos, com os poucos instrumentos que temos neste momento de dificuldades, contribuir para que se estreitem essas relações do ponto de vista cultural, técnico, enfim, sobre todos os objetivos que possam nos levar a fortalecer esse relacionamento.

O nosso papel, como Secretário de Relações Internacionais, não é somente promover a cidade de São Paulo no exterior. Não é somente buscar eventuais recursos disponíveis para cooperação, mas também promover e mostrar que São Paulo tem a força que tem, tem a importância que tem, exatamente pela presença das diferentes comunidades estrangeiras que escolheram esta cidade para viver. E entre elas, sem dúvida nenhuma a comunidade árabe, a comunidade palestina, a comunidade libanesa e tantas outras.

No ano que vem estaremos celebrando o aniversário de 450 anos de existência da cidade de São Paulo. Todas as comunidades já estão se organizando para participar, de alguma forma, dessa que não é uma comemoração da prefeitura. É uma comemoração do povo desta cidade, povo que trabalha, que luta, que sofre, que se alegra e se entristece, enfim, que vive na cidade.

E vocês não podem faltar. É fundamental que durante o ano que vem, entre tantas festas e comemorações, também tenhamos uma presença visível, forte, importante da comunidade palestina, para que esse aniversário sirva inclusive como um instrumento a mais nessa busca pela justiça, nessa busca pela pátria, nessa busca pela paz que todos nós queremos e apoiamos.

Portanto, parabéns à iniciativa da Assembléia Legislativa, ao nosso Deputado, à presença de todos e um forte abraço ao pessoal e da prefeita Marta Suplicy. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Quero anunciar a presença também do meu querido Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá, a quem convido para que se junte às demais autoridades da Mesa. (Palmas.)

Gostaria de dar a palavra ao Sr. Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB. (Palmas.)

 

O SR. RENATO RABELO - Sr. Presidente desta Sessão, Deputado Said Mourad, nosso querido companheiro e amigo, Embaixador da Palestina, nosso respeito ao Arcebispo aqui presente, através dos quais cumprimento esta Mesa e a comunidade árabe-palestina, aqui presente, meus amigos e companheiros, o PCdoB não poderia estar ausente neste ato de solidariedade ao povo palestino. O nosso partido é militante na solidariedade, à causa desse heróico povo. É uma questão de dever dos comunistas brasileiros esse apoio militante à justa causa desse povo.

Muito se fala de paz construtiva nessa região importante e estratégica no mundo. Mas a paz construtiva, amigos, companheiros, autoridades presentes, não pode ser realizada, não pode ser alcançada com injustiça, com perseguição e diante da ameaça do genocídio de um povo. Não podemos nos calar diante dessa ameaça - crianças mortas com tiros na cabeça. É dizimar o povo. É o barbarismo da época atual essa ameaça. Os homens e as mulheres dignos que lutam pela verdadeira paz, os homens e mulheres de boa vontade têm que se levantar e gritar, como dizia o nosso poeta maior, Castro Alves - “tufão, mares, contra essa indignidade”. A nossa convicção, amigos e companheiros, de que é preciso levar ao nosso povo o que se passa no Oriente Médio e demonstrar para o nosso povo essa luta heróica do povo palestino.

Companheiros e companheiras, amigos e amigas, este é o sentimento do nosso partido. O nosso partido se empenhará cada vez mais, dentro das nossas forças e das nossas condições, em apoio à justa luta por auto-determinação desse povo heróico, pela liberdade desse povo e pela construção do seu estado. É um dever dos brasileiros, é um dever de nós como militantes comunistas. Portanto, a nossa solidariedade a esse povo heróico. Conte com o partido comunista do Brasil. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Gostaríamos de agradecer a presença do Xeque El Saied Hassan Ibrahim, da Associação Beneficente Islâmica Brasileira. Gostaríamos de fazer agradecimentos também ao Instituto Jerusalém, Sociedade Palestina de São Paulo, a Splem Import e Dinar, pelo apoio ao grupo de Teatro “A Intifada”, que os senhores acabaram de assistir.

É com muito orgulho que fazemos uma homenagem póstuma ao Sr. Souheil Sayegh, Presidente Honorário da Federação Árabe-Brasileira. (Palmas.)

Queremos agradecer a presença de Alcides Amazonas, Vereador à Câmara Municipal de São Paulo; Cesar Razek, Presidente Estadual do PCdoB; Paulo Sabóia, Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil; Sr. Lameh Smeili, Presidente da Sociedade Islâmica de Guarulhos; Sr. Eduardo Luiz Daher, Presidente da Confraria Gastronômica Árabe; Sr. Samer Farhoud, Presidente do Clube Marjayoun; Sr. João Farah, Presidente do Conselho Deliberativo do Clube Homs, representando o Presidente do Lar Sírio Pró-Infância, Ricardo Elias Naschi; Sr. Rasheed Shamdeen, Diretor do Centro Cultural Árabe-Sírio no Brasil; Sr. Raul Tárek Fajuri, diretor da revista Chams; Sr. Ali El Khatib, Superintendente do Instituto Jerusalém no Brasil; Sr. Márcio Bento, representando o Deputado Federal Ivan Valente; Sr. Rogério Siqueira, representando Deputado Federal Aldo Rebelo; Sr. Ali Nakhlawi, representando a União da Juventude Árabe para a América Latina; Sr. Ahmad Aref, Presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana; Sr. Mohamad Sami El Kadri, Presidente da Associação Islâmica de São Paulo na região Norte; Sr. Mohamad Ahmad Saad, Presidente da Sociedade Cultural e Beneficente Islâmica de Mogi das Cruzes; Sr. Mohamed Hussein El Zoghbi, Diretor da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil; o nosso querido Northon Nascimento, ator global; Sr. Tamin Daaboul, representando a Televisão da Síria; Sr. Alexandre Kimuia, da Procuradoria da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo; Sra. Soraya Samaili, Secretária Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e diretora da Associação dos Professores da Escola Paulista de Medicina; Sr. Jadallah Suleiman Safa, do Comitê Árabe-Palestino de Apoio à Intifada; Sr. Nathaniel Braia, editor internacional do Jornal “Hora do Povo”; Sr. José Reinaldo de Carvalho, Vice-Presidente responsável pelas relações internacionais do PCdoB; Sr. Mohamed Chedid, Presidente da Liga da Juventude Islâmica do Brasil e Sra. Fátima Zanon, diretora da Confederação das Mulheres do Brasil e representante da Sra. Márcia Campos, Presidente da FDIM - Federação Democrática Internacional de Mulheres. Minhas senhoras e meus senhores é com muita satisfação que agora convido para ser breve também meu querido amigo Deputado Federal, Jamil Murad.(Palmas.)

 

O SR. JAMIL MURAD - PCdoB - Querido Deputado, amigo, Said Mourad, que teve a feliz iniciativa de fazer esse encontro, esta sessão solene de solidariedade e apoio ao povo, na sua pessoa e na pessoa do nosso embaixador Musa Amer Odeh, queríamos cumprimentar todas autoridades aqui da Mesa e todas as lideranças que lotam esse plenário.

Só aquela poesia declamada aqui para já seria suficiente para me sentir representado. Mas sinto-me representado também pelo Presidente do meu partido, Renato Rabelo que já falou.

Eu queria então abordar rapidamente uma determinada reflexão que estive fazendo hoje. Aqui estamos representando o povo brasileiro que, ao longo dos anos, tem se manifestado nas ruas, no parlamento, em todos os congressos de estudantes, de professores, de trabalhadores, tem se manifestado a favor de que se faça justiça ao povo palestino, que se garanta os direitos nacionais inalienáveis.

Eu fiquei muito feliz ao ver o apoio ao povo palestino desde o Presidente do vosso partido, Senador Jorge Bornhausen, até o Presidente do Partido dos Trabalhadores e o Presidente do Partido Comunista do Brasil.

Quer dizer esta é uma luta nacional, essa é a luta de um povo, essa é a luta do conjunto do povo palestino e que é entendida felizmente pelo povo brasileiro, pelos seus representantes, unindo os mais diferentes setores para dar apoio e para tentar levar à vitória essa grande causa, que é uma causa não só do povo palestino mas uma causa da humanidade.

Depois da queda da União Soviética, os Estados Unidos assumiram-se como donos do mundo. Todos nós ficamos indignados quando vimos pela imprensa aquele cínico presidente norte-americano, Bush, indo comemorar o Dia de Ação de Graças que seria um dia de paz e de amor à humanidade. Foi comemorar uma ocupação, uma guerra, uma destruição, uma agressão, uma pilhagem das riquezas de um povo.

Aquela imagem do Bush festejando a ocupação com seus soldados procura encobrir as imensas dificuldades que eles estão tendo para manter aquela ocupação, as imensas dificuldades que, praticamente, com todo o esforço, todo o dinheiro, toda a pressão e todas as ameaças que fizeram aos países do mundo, eles não conseguiram apoio para outros países mandarem soldados. Fizeram isso no Brasil, fizeram com outros países que se negaram a participar daquele crime não só contra o povo iraquiano mas contra a humanidade.

Lembrava-me que o Deputado Benedito Cintra, um mecânico da CMTC - foi vereador, depois Deputado pelo meu partido -, que propôs, inspirado no Dr. Farid Swan, em outros líderes, uma lei que era uma determinação da ONU, para que todo dia 29 de novembro fosse, no Estado de São Paulo, um dia de luta e de solidariedade ao povo palestino.

Um trabalhador brasileiro e afrodescendente. Não era de origem árabe. Mas inspirado nessa causa nobre da humanidade, que é a causa pela autodeterminação dos povos contra a ocupação, contra a anexação de território e contra a agressão a outros povos, mesmo que quem queira agredir seja muito forte. Essa causa foi levantada pelo Deputado Benedito Cintra, que cito aqui numa homenagem a este ilustre brasileiro, um trabalhador de origem humilde que se tornou Deputado e fez essa grande obra que está dando resultado até hoje.

Ontem, na Câmara de Deputados, um outro trabalhador gaúcho, Mário Liu, do Movimento Sem Terra, participou de uma delegação que foi no ano passado à Palestina. Ele foi e os tanques voltados contra o Arafat, onde se encontrava. Aquele trabalhador brasileiro, um camponês, um trabalhador corajoso como é o povo brasileiro, e digno como é o povo brasileiro, falou: “Eu posso morrer, mas vou ficar lá como escudo humano, junto com Arafat. Se ele morrer, morro junto.” Trouxemos do Rio Grande do Sul e levamos para a Câmara de Deputados, abrindo uma exceção para que ele falasse por uns três minutos, antes do embaixador. Ele fez um depoimento comovente e mostrou o quanto o povo brasileiro deseja solução da causa palestina, deseja justiça, deseja o estado palestino, a volta dos refugiados à Capital da Palestina em Jerusalém, os direitos dos palestinos.

Estava fazendo uma reflexão sobre o fato de que há quinze anos atrás fizemos uma delegação de 15 médicos, de seis sindicatos de médicos e dois sindicatos de enfermeira do Brasil, e fomos a Jerusalém, à Gaza. Ficamos lá num acampamento e fomos à Cisjordânia. Tivemos contato e vivência com aqueles trabalhadores e, particularmente, com aquela juventude. Fazia um mês que tinha começado a primeira intifada. E ali tivemos a certeza de que Ariel Sharon, Bush com todo o dinheiro do mundo, toda a violência do mundo eles não vão destruir a vontade desse povo. Tive certeza disso. Infelizmente, com muito sofrimento.

A comemoração de hoje é importante porque os agressores imaginavam que podiam exterminar esse povo, podiam afugentá-lo, podiam dispersá-lo pelo mundo e anexar as suas terras. E hoje estamos aqui vendo que não houve a possibilidade de destruir esse povo. Ele resiste e luta heroicamente, e não permitiu que, por maior superioridade militar que tenham, por maior apoio que os Estados Unidos dêem, eles não conseguiram destruir a vontade e a determinação do povo palestino.

Essa causa precisa se encerrar com a justiça, com a garantia do estado palestino. Chega de mortandade, chega de injustiça, chega de prisões, chega de tortura. Precisamos chegar a um bom termo. E tenho certeza d que, pelas armas, por mais poderosos que sejam os inimigos do povo palestino, não conseguirão dobrar a sua vontade. Cabe aos países do mundo. E fico indignado quando colocam palestino e israelense para negociar a paz. É impossível, pois o clima não permite. A ONU existe exatamente para isso. Até numa briga dentro de casa, de dois parentes brigando, surge um terceiro para separar. Por que a ONU se nega a cumprir esse papel? Por que ela não entra, em nome da humanidade, dos povos do mundo para resolver esse problema? Por que ela não cumpre as suas próprias resoluções? Que novidades temos aqui?

A novidade, dita pelo secretário de Relações Internacionais da prefeita Marta Suplicy, é que hoje o Brasil tem. um presidente, na minha opinião, o maior amigo dos árabes em toda a história do Brasil. E esse presidente tem se manifestado a favor da causa Palestina, ele vai agora visitar seis países, até me convidou para ir à delegação oficial, acho que por ser do PCdoB, ser amigo dos palestinos, dos árabes de maneira geral ele me convidou. Eu não posso ir por ter funções inadiáveis na Câmara de Deputados, de alta responsabilidade; me dói o coração, não posso ir mas tenho confiança que com a visita do presidente ao Oriente Médio, que pela disposição, pela sinceridade, pelo compromisso com a paz - os Estados Unidos pressionaram o governo brasileiro para entrar na guerra do Iraque, os Estádios Unidos já fizeram mil e uma o e governo brasileiro se manteve firme na defesa da autodeterminação dos povos, em defesa da paz, em defesa dos direitos dos povos e com certeza a presença do nosso presidente, para ajudar a reconstruir a ONU, para exercer um papel de imparcialidade, porque hoje ela deixou na mão dos Estados Unidos resolver o problema e os Estados Unidos são os maiores sustentadores da guerra contra o povo palestino.

Por esse caminho, deixando na mão dos Estados Unidos, não vamos resolver. Temos que reconstruir a ONU, fazer ela jogar o papel fator de paz, de impedir as guerras, de impedir as ocupações, de impedir as anexações de território. E temos a comemorar porque o Brasil começa a ter um papel internacional que faz muito tempo que o Brasil nem se lembra em que época teve esse papel. É amigo da África do Sul; é amigo da Índia, da China, da Argentina, amigo dos países da América Latina e vai criando um clima para mudar essa vontade única do Império. E portanto vai criando as condições para termos paz, com o Estado Palestino independente, soberano, com justiça para o povo palestino, progresso e felicidade para aquele povo.

Queria mandar o meu abraço para o povo palestino, através do nosso embaixador, e um dia todos nós iremos comemorar juntos aqui no Brasil e quiçá na terra de Jesus Cristo, Jerusalém. Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Senhoras e senhores, é com muita satisfação que tenho a honra de convidar para fazer uso da palavra o Xeque Abdo Nasser El Khatib, diretor do Departamento de Imigração da Universidade El Azhar, no Líbano.

 

O SR. ABDO NASSER EL KHATIB - Em nome de Deus clemente e misericordioso. Louvado seja Deus, o Senhor do Universo, e dou testemunho de que não há divindade além de Deus; dou testemunho de que Mohamad é o mensageiro de Deus e dou testemunho de que Moisés é o mensageiro de Deus, e dou testemunho de que Jesus é o mensageiro de Deus. Que a paz esteja com todos eles.

Deus glorificado disse glorificado seja aquele que durante a noite transportou o seu servo, tirando-o da sagrada mesquita, em Meca, levando-o à mesquita de Al Aqsa, em Jerusalém, cujo recinto bem dizemos para mostra r a ele alguns dos nossos sinais.

Há fortes vínculos espirituais entre as mensagens celestiais e entre Meca e Jerusalém, principalmente com a mesquita de Al Aqsa, porque esse foi o recinto, o berço das revelações e o lar dos profetas e mensageiros de Deus, principalmente Moisés e Jesus, o penúltimo mensageiro antes do profeta Mohamad. Que a paz de Deus esteja com todos eles.

Antes de abordarmos o tema gostaria de expressar os meus agradecimentos à Assembléia Legislativa na pessoa do seu ilustre presidente, nobre Deputado Sidney Beraldo, bem como ao nobre Deputado Said Mourad pela solicitação da sessão solene para a comemoração do Dia Internacional da Solidariedade ao Povo Palestino.

O povo palestino, desde o fim da segunda guerra mundial, vem sofrendo genocídios, iniciando com o massacre de Deir Yassin, passando por vários massacres a várias regiões, culminando com a expulsão da maioria da população palestina de seus lares e viver em campos de refugiados em vários países do mundo.

Após o acordo de paz de Madri houve uma esperança de se dar um fim ao sofrimento do povo palestino. Porém, a realidade é outra,. Os assassinatos e as expulsões cresceram dentro do próprio Estado Palestino, mesmo com o reconhecimento das forças de ocupação, que praticam os piores métodos de injustiça e utilizam a aviação militar mais avançada do mundo para bombardearem a povoação civil desarmada.

Ontem a Europa se livrou do Muro de Berlim. Hoje Israel está construindo um outro muro de vergonha, utilizando métodos nazistas que ela própria condena.

Por que e para que estamos aqui reunidos? A nossa reunião é a expressão viva em defesa de um ser humano que perdeu todos os seus direitos naquela região, todos os direitos humanos do povo palestino. As mulheres, as crianças não têm mais como estudar. A Educação dos alunos palestinos é impedida por destruição dos livros, dos cadernos, dos materiais escolares. Tudo foi destruído e o aluno palestino é impedido de estudar. Não tem o lar e a escola para continuar a sua Educação. Se há uma voz de justiça e de verdade pedimos que as Nações Unidas dos povos de consciência viva façam algo concreto para mudar a situação do povo palestino.

Nosso querido Deputado Jamil Murad notou que as Nações Unidas devem cumprir o seu dever, o seu papel naquela região, que já cumpriu em vários lugares do mundo. Mas na Palestina, infelizmente, não agiu de nenhuma forma.

Então esse povo palestino merece viver. Suas casas são demolidas, suas plantas são destruídas, suas crianças assassinadas, suas mulheres desonradas e barreiras são erguidas isolando e separando as famílias. Como poderá haver paz em clima de terror num estado desses? Como poderá haver paz num clima de terror num estado desses que fique patente que não haverá paz naquela região sem a concessão dos plenos direitos ao povo palestino?

Finalizo reiterando os meus agradecimentos aos nobres Deputados e ao Governo Brasileiro em geral e que a paz de Deus esteja com todos. Amém. (Expressão em árabe.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Minhas senhoras e meus senhores, faltando apenas três palestrantes para encerrarmos, é uma honra passarmos a palavra agora ao meu querido amigo Dom Damaskinos Mansur, arcebispo metropolitano da Igreja Ortodoxa do Brasil . (Palmas.)

 

O SR. DAMASKINOS MANSUR - Boa noite todos. Para mim foi uma surpresa falar hoje. Mas graças a Deus todo mundo sabe que a causa palestina vive dentro do meu coração. Por isso me foi pedido para que falasse algumas palavras.

Senhor Presidente, Digníssimo Embaixador da Palestina, senhoras e senhores, pensando no assunto que hoje, olhando o que está acontecendo neste mundo de invasões, que começou com a invasão do Afeganistão e depois do Iraque. Quem sabe quem será o próximo.

Todo mundo sabe que há petróleo naqueles lugares, que o motivo é a riqueza desses países. E eu pergunto sempre: o que será que tem na Palestina? Tem petróleo? Por que está acontecendo isso? Quero confirmar hoje para vocês que na Palestina tem uma riqueza mais rica do que todo o petróleo no mundo. Na Palestina, Jerusalém e Alkodz a riqueza é ligada com a nossa fé, fé dos cristãos, dos ortodoxos, dos muçulmanos, dos católicos. Lá nasceu Jesus Cristo. Lá nasceu a religião dos cristãos. Lá foi Mohammed, como disse o Xeque hoje, para a Mesquita.

Eles têm motivo para destruir e roubar nossa fé. Se perdermos esta fé nada mais terá importância neste mundo. Nossa fé é muito importante. A defesa que queremos fazer é para proteger esse país como um país árabe, como um país que protege e acredita no Cristianismo e no Islã. Se protegermos isso significa que estamos em paz.

Nesses dias nos aproximamos do dia do nascimento de Jesus Cristo, nascimento do Rei da paz, como todos falam. Como nascerá a paz, se na terra da paz, na gruta de Belém, não tem paz?

Vamos todos nós, queridos brasileiros, imitar o nosso presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, este homem corajoso, que levanta a voz, que tem coragem para visitar o mundo árabe, e fala que está visitando o mundo árabe. Ele também defende a causa palestina, porque é um homem que vive como o povo e sabe do seu sofrimento, por isso está apoiando esta causa, apoiando o povo palestino.

Agradeço muito esta oportunidade, desejando a todos os palestinos que o Deus, o rei da paz, que mora naquela terra, volte para aquela terra e afaste todos os que não acreditam no Deus da paz. Muito obrigado a todos. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Senhoras e senhores, peço escusas por não termos tempo de abrir a palavra aos demais parceiros desta luta. Porém, a presença de todos vocês é muito importante para nós. Como nosso penúltimo orador, tenho a grande satisfação de convidar o meu querido amigo, o Embaixador da Palestina, Musa Amer Odeh. Uma salva de palmas. (Palmas.)

 

O SR. MUSA AMER ODEH - Desculpem o meu português. Quero falar em português, mas infelizmente ele não é muito bom.

Querido Deputado Said Mourad, Sr. Damaskinos Mansur, Xeque Abdo Nasser, Deputado Federal Jamil Murad, demais membros da Mesa, e todos os amigos presentes, boa-noite a todos.

Trago os cumprimentos do nosso povo, da Palestina, da Terra Santa, da nossa liderança para todos vocês, pelo nobre apoio para a nossa causa, a causa mais justa da história. Nosso objetivo é a paz justa e duradoura. Não imagino paz com a ocupação. Não imagino paz com o genocídio israelense contra o nosso povo. Não imagino paz com o muro do apartheid na Palestina. Não imagino paz sem justiça, sem direitos do povo palestino, sem Palestina independente, com a capital Jerusalém.

Nosso objetivo é a paz, somente a paz. Necessitamos o apoio de vocês e de todo o mundo, para ganhar essa paz. Essa mensagem traz a idéia da nossa liberdade, da nossa independência. Dois mil anos antes, o nazareno palestino, Jesus Cristo, carregou a mais nobre mensagem da Palestina para todo o mundo. A essência da mensagem de Jesus era a justiça, paz e amor. O nosso povo necessita de justiça, paz e amor. Mesmo os princípios nobres do Nosso Senhor necessitam do apoio de vocês e de todo o mundo para conquistar a paz justa e duradoura para o nosso povo e para todo o mundo.

Agradeço muito o apoio de todo o povo brasileiro e do governo brasileiro para a nossa causa, especialmente agora que o Presidente Lula viaja para o mundo árabe pela primeira vez.

Existe a iniciativa do Presidente Lula para uma reunião de cúpula de chefes de estado do mundo árabe e chefes de estado da América do Sul, a realizar-se aqui no Brasil, em 2004, pela primeira vez na história. Agradeço muito ao povo e ao governo brasileiro. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - SAID MOURAD - PFL - Senhoras e senhores, para encerrarmos esta Sessão Solene, após termos tomado banho de sabedoria e de coragem dos nossos companheiros, vou fazer o meu discurso.

Excelentíssimo Sr. Embaixador da Palestina no Brasil, Musa Amer Odeh, em nome de quem saúdo os demais representantes diplomáticos aqui presentes; Reverendíssimos Senhores, Dom Damaskinos Mansur e Xeque Nasser El Khatib, em nome de quem saúdo todos os líderes religiosos nesta Sessão; Nobre Deputado Federal Jamil Murad, em nome de quem saúdo todas autoridades políticas aqui presentes; representantes de entidades, sindicatos e partidos; senhoras e senhores, a presença de vocês aqui na Assembléia, esta noite, é muito importante para o povo palestino. Parabenizo a todos pela vontade e empenho de estarem aqui conosco. Gostaria de parabenizar e aplaudir a todos vocês porque agora vou aplaudir com uma salva de palmas. Parabéns a todos os senhores.

Hoje, celebramos o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, data instituída pela ONU e promulgada em 1984 pelo então Governador Franco Montoro, através de lei do ex-Deputado desta Casa Benedito Cintra. Para mim, presidir esta sessão é uma grande honra.

Meu primeiro discurso nesta Casa, assim que assumi, foi durante a sessão solene ao povo palestino. A primeira autoridade que recebi nesta Casa foi nosso Embaixador da Palestina. A primeira sessão solene que presido nesta Casa é a de hoje, com muito orgulho.

Nosso mandato é solidário à luta do povo palestino e à paz no mundo inteiro. (Palmas.) Que não reste sombra de dúvidas sobre isso. Acima de tudo, defendemos o Direito Internacional, o respeito entre os povos e o cumprimento às resoluções da ONU.

Meus amigos, aqui os Deputados fazem leis. Para que servem as leis? As leis servem para garantir nossos direitos e não para nos privar deles. Quando não respeitamos a ONU, não respeitamos os países do mundo inteiro, porque ela é uma entidade que representa todos os países. É importante ressaltar a importância de se respeitar as resoluções da ONU e da paz no mundo todo.

Lutamos também pela tolerância racial, étnica e religiosa. Desde a ocupação de suas terras, o povo palestino vem resistindo heroicamente às arbitrariedades do exército israelense. Resistência essa legitimada pelas resoluções da ONU, que assegura a qualquer povo lutar contra a ocupação de seus territórios por forças estrangeiras.

Quando D. Pedro tirou da bainha a sua espada e gritou “Independência ou Morte”, quem era ele? Um terrorista ou um patriota? (Palmas.) Não podemos confundir terroristas com patriotas.

A cada passo que os palestinos dão em direção à paz, o governo israelense caminha em direção à guerra e à discórdia. O exemplo mais recente disso é o vergonhoso muro levantado pelos israelenses, como citou nosso Xeque Abdo Nasser, que agrava ainda mais a situação das famílias palestinas. O mundo inteiro lamenta essa construção, mas haveremos de comemorar o dia em que esse muro será derrubado, assim como foi derrubado o Muro de Berlim, que dividia as duas Alemanhas. E que essa data seja breve.

Israel nega os direitos humanos básicos ao povo palestino. São regularmente parados e questionados pela polícia e pelo exército. Para viajar no país ou sair do país precisa-se de autorização de ocupação assinada. Isso também acontece quando os palestinos querem ir rezar nas mesquitas e igrejas em Jerusalém.

Existem hoje cerca de milhões de palestinos vivendo fora da Palestina como refugiados. Muitos partiram devido à violência de Israel. Outros partiram para trabalhar ou estudar. Quando essas pessoas tentam voltar para suas casas e vilas, Israel fecha as fronteiras e nega-lhes a entrada. Essa situação continua até hoje.

Durante anos, as casas, aldeias e plantações da Palestina têm sido arrasadas por Israel para fazer lugar a novas colônias ilegais. Israel ainda autoriza o uso da tortura. Os seus livros e estatutos referem-se a esse tipo de abuso usando o termo pressão física.

Minhas senhoras e meus senhores, apesar de toda essa violência que acabamos de denunciar, acreditamos que a paz justa e duradoura é o caminho mais seguro para todos os povos e todas as nações. Por um Estado Palestino soberano com Jerusalém como Capital. Muito obrigado e que a paz de Deus esteja com todos vocês. (Palmas.)

Antes de encerramos a presente sessão, gostaria de fazer alguns convites: o primeiro é para o 2o Festival das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras, a se realizar no dia 7 de dezembro de 2003, domingo, das nove às 18 horas nesta Casa. O segundo convite é para uma Homenagem a Edward Said: sua obra e luta pelo povo Palestino, que se realizará no Auditório do Club Homs, no dia 11 de dezembro às 19 horas.

Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade e convida a todos para um coquetel no Salão Nobre Deputado Waldemar Lopes Ferraz, no 1o andar, e para visita à Exposição “Pintando o Povo Palestino”, com quadros do artista plástico Mohamad Baker, no Hall Monumental.

Aproveito a oportunidade para parabenizar o jovem artista pelas obras aqui apresentadas e registrar que a exposição teve boa repercussão nesta Casa.

Está encerrada a sessão.

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- Encerra-se a sessão às 22 horas e 27 minutos.

 

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