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18 DE DEZEMBRO DE 2012

059ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA

 

Presidente: BARROS MUNHOZ

 

RESUMO

ORDEM DO DIA

001 - Presidente BARROS MUNHOZ

Abre a sessão.

 

002 - ALENCAR SANTANA BRAGA

Questiona, em parte, a resposta da Presidência Efetiva à questão de ordem, anteriormente formulada, sobre reunião conjunta do PLC 39/12. Argumenta que a oposição precisa ver atendidas as determinações regimentais para seu desempenho amplo.

 

003 - Presidente BARROS MUNHOZ

Registra a manifestação. Coloca em discussão o PL 604/12.

 

004 - CARLOS GIANNAZI

Discute o PL 604/12.

 

005 - EDINHO SILVA

Discute o PL 604/12.

 

006 - CAMPOS MACHADO

Discute o PL 604/12.

 

007 - HAMILTON PEREIRA

Discute o PL 604/12.

 

008 - ADRIANO DIOGO

Discute o PL 604/12.

 

009 - TELMA DE SOUZA

Discute o PL 604/12.

 

010 - REGINA GONÇALVES

Para comunicação, Relata a posição do PV quanto à tramitação do PL 604/12, que trata das Fontes do Ipiranga. Acrescenta que a matéria visa corrigir desvirtuamento ocorrido há 25 anos.

 

011 - ENIO TATTO

Requer o levantamento da sessão, com anuência das lideranças.

 

012 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido. Levanta a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, vamos passar à Ordem do Dia.

 

* * *

 

- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

* * *

 

 O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, Proposição em Regime de Urgência:

- Discussão e votação - Projeto de lei nº 604, de 2012, de autoria do Sr. Governador. Autoriza a Fazenda do Estado a desafetar as áreas que especifica, integrantes do "Parque Estadual das Fontes do Ipiranga". Com 17 emendas. Pareceres nºs 1645 e 1646, de 2012, respectivamente, de relator especial pela Comissão de Justiça e Redação e da Comissão de Infraestrutura, favoráveis ao projeto e contrários às emendas. (Artigo 26 da Constituição do Estado).

 

O SR. ALENCAR SANTANA BRAGA - PT - Sr. Presidente, recentemente fizemos uma questão de ordem a V.Exa., sobre o congresso de comissões - a Comissão de Constituição, Justiça e Redação, Administração Pública e Relações do Trabalho, Saúde e Finanças, Orçamento e Planejamento -, sobre o Projeto 39/12.

Vossa Excelência tomou a decisão de cancelar aquela reunião, uma reunião com um debate muito intenso, acalorado, e acabou a oposição sentindo que foi, de uma certa forma, impedida de fazer o seu trabalho, e V.Exa. cancelou aquela reunião. O projeto voltou a seu trâmite normal, e hoje inclusive nós já votamos, que foi o projeto da carreira dos médicos, que garante melhorias nessa carreira.

Porém, no texto da resposta de V.Exa. algumas questões de que discordamos, e por isso vimos nos opor nesse ponto. Vossa Excelência diz, por exemplo, que é possível dispensar a leitura dos pareceres, lendo tão-somente a conclusão, se assim as comissões deliberarem. Porém, no próprio Regimento Interno é expresso, no processo de votação, no processo de debate, a exigência da leitura dos pareceres. Qualquer Deputado assim pode fazer.

Se esse entendimento prevalecer, estamos fazendo que a oposição tenha impedidos outros instrumentos de fazer o seu trabalho, por exemplo, de fazer a leitura de um parecer por completo, para que ela possa entender o que o Governo pensa. Aliás, para que os próprios Deputados do Governo entendam aquilo que a oposição pensa, na leitura de um parecer.

Portanto, nós nos opomos e pedimos que V.Exa. reconsidere a resposta nessa questão, porque isso é fundamental ao funcionamento democrático, ao funcionamento plural, ao funcionamento desta Casa, seja em plenário, seja nas comissões especificamente, seja no congresso, para que nós não impeçamos que qualquer Deputado, qualquer bancada possa fazer o seu trabalho por completo.

Passarei a ler a oposição à resposta do Sr. Presidente:

Oposição à resposta do Senhor Presidente à questão de ordem formulada na sessão de 04 de dezembro - Anulação da reunião conjunta de Comissões de Constituição, Justiça e Redação, Administração Pública e Relações do Trabalho, Saúde e Finanças, Orçamento e Planejamento, convocada para deliberar sobre o Projeto de lei Complementar nº 39, de 2012 - Carreira de Médicos.

 

Senhor Presidente

Respeitado o prazo disposto na parte final do artigo 262 do Regimento Interno, venho, regimentalmente, opor-me, parcialmente, à decisão de Vossa Excelência, proferida na Sessão de 4 de dezembro último, em resposta à questão de ordem por mim formulada, questionando o desrespeito às normas regimentais ocorrido durante a Reunião Conjunta das Comissões de Constituição, Justiça e Redação, Administração Pública e Relações do Trabalho, Saúde e Finanças, Orçamento e Planejamento, convocada para deliberar sobre o Projeto de Lei Complementar nº 39, de 2012 - carreira de médicos.

Muito embora tenha Vossa Excelência acolhido, em parte, a questão de ordem por mim formulada e determinado a anulação da referida reunião conjunta, vejo-me na contingência de discordar de parte de sua decisão, especialmente no que diz respeito à leitura do parecer.

Em sua resposta, Vossa Excelência afirma que

“(...) a leitura do parecer do relator, restrita à sua conclusão, teve respaldo dos membros presentes, nos termos do artigo 51, § 1º, do Regimento Interno que dispõe que “as comissões deliberarão por maioria simples de votos”.

Prossegue a resposta:

“É importante ressaltar que o dispositivo citado não é absoluto. Não pode ser utilizado para, no limite, inviabilizar, por exemplo, a discussão de matéria de competência da Comissão. No caso presente, porém, isso não ocorreu. A leitura da conclusão do parecer consubstancia o posicionamento do relator quanto a sua opinião sobre a conveniência da aprovação ou rejeição total ou parcial da matéria, ou sobre a necessidade de se lhe dar substitutivo ou se lhe oferecer emenda, como dispõe o artigo 71 de nosso Regimento Interno. Essas informações permitem o debate da matéria, não residindo aqui qualquer mácula à norma regimental.”

Discordo de Vossa Excelência quando admite que seja levada a votos a decisão de se ler ou não o parecer. Isso porque os trabalhos das Comissões seguem uma ordem preestabelecida, nos termos do artigo 50 do Regimento Interno. A “leitura, discussão e votação de requerimentos, relatórios e votos dos Relatores” é a quinta etapa dos trabalhos das Comissões. O que se prevê, no parágrafo único do mesmo artigo, é que a ordem dos trabalhos pode ser alterada, quando se tratar de matéria em regime de urgência ou de prioridade. Não há previsão regimental para a eliminação de uma das etapas do artigo 50. Também não há a previsão regimental para se submeter a votos a dispensa da leitura do parecer. Endossa esse posicionamento a redação dada ao “caput” do artigo 56 do Regimento Interno;

“Artigo 56 - Lido o voto pelo Relator, ou à sua falta, pela Deputada ou Deputado designado pelo Presidente da Comissão, será ele imediatamente submetido à discussão.”

A leitura do parecer, ou melhor, do voto do Relator, é tão importante que, não estando presente o Relator, o Presidente da Comissão designará outro Deputado para fazê-la. Caso houvesse a intenção de se dispensar a leitura, este artigo poderia trazer tal previsão. Mas aqui também ela não existe.

A leitura integral do voto, e não apenas das conclusões, é importante para que se possa conhecer a argumentação do Relator para acatar ou rejeitar a proposição principal ou seus assessórios. Dependendo da força dos argumentos apresentados, é possível até uma mudança de posição, no decorrer do processo de discussão. Muitas vezes, principalmente nos Congressos de Comissões, os pareceres são apresentados na hora, sento totalmente desconhecidos dos participantes. Se não solicita a leitura integral, os deputados da oposição não poderão fazer o adequado juízo de valor. Permitir que se leve a voto a decisão de ler apenas as conclusões é cercear a atuação das bancadas oposicionistas.

Dessa forma, entendo que a dispensa da leitura, na sua totalidade ou não, somente será possível se houver consenso entre todos os presentes. Caso algum dos membros das Comissões solicite a leitura, na íntegra, do parecer, essa deverá ser automaticamente efetuada, pois não há a previsão regimental de se submeter a votos tal decisão.

Face à argumentação ora apresentada, requeiro a Vossa Excelência que reformule sua decisão e restabeleça a prática adotada até então, nas Comissões, de leitura integral dos pareceres, quando não houver consenso quanto à sua dispensa.

Sala das Sessões, em

Deputado Alencar Santana Braga

Líder da Bancada do PT

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência oportunamente responderá à questão de ordem formulada.

Em discussão o Projeto de lei 604/12. Para falar a favor, o nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, público presente, telespectadores da TV Assembleia, assomo à tribuna para discutir o Projeto de lei 604/12, do Executivo, que na prática tenta privatizar um espaço público, uma área verde de Mata Atlântica, que tem também nesse espaço alguns Institutos, alguns prédios públicos, enfim, é considerado uma área estratégica na Cidade de São Paulo, até por conta de um processo de tombamento que está sendo analisado no Condephaat.

Esse é o primeiro tópico que eu gostaria de levantar aqui. Na verdade, nós do PSOL somos totalmente contra a aprovação desse Projeto 604, e já declaro aqui a obstrução da Bancada do PSOL em relação à privatização do Parque do Estado, conhecido também como Parque Estadual das Fontes do Ipiranga.

Já nos manifestamos pela tribuna, nas audiências públicas, a nossa posição contrária, radicalmente contrária à aprovação desse projeto. Ele representa um verdadeiro atentado, um verdadeiro crime ecológico praticado pelo Governador Geraldo Alckmin. E a Assembleia não vai ser cúmplice desse crime, que vai destruir uma parte da Mata Atlântica, uma região estratégica porque uma boa parte da região serve como amortecimento da fauna e da flora.

Essa situação é tão grave que o próprio Ministério Público Estadual está investigando, está fazendo uma análise desse projeto, inclusive através de inquérito civil. Ou seja, o Ministério Público abriu um inquérito civil para investigar esse Projeto 604.

O Condephaat está analisando o processo de tombamento. Logo, na nossa opinião, esse projeto é inconstitucional, nem deveria estar sendo discutido aqui, sem antes termos um parecer do Conselho Estadual. Não temos ainda.

Mesmo assim o projeto está tramitando aqui. Sabemos que esse projeto atende aos interesses da especulação imobiliária, das grandes empreiteiras, do grande negócio, em detrimento do meio ambiente, em detrimento do espaço histórico importante na Cidade de São Paulo.

Isso é verdade. Isso é tão verdade que nas audiências públicas que foram realizadas aqui na Assembleia Legislativa, pelos menos três grandes encontros, quando pudemos debater e aprofundar o tema, em todos os debates as entidades representativas que militam na área do meio ambiente, os ecologistas, os servidores da Secretaria da Agricultura, todos sem exceção foram contrários ao projeto.

O projeto é rejeitado pela sociedade civil organizada. As pessoas que militam na área do meio ambiente são totalmente contrárias à aprovação do projeto, porque, como eu disse, ele representa um atentado, um crime, e vai na contramão da grande luta que nós travamos, não só em São Paulo, mas no Estado, no Brasil e no mundo, para preservar o pouco de verde que existe na cidade.

Faço um apelo ao telespectador que está nos assistindo agora, para que entre nessa luta também, ligando para o seu Deputado, mandando um e-mail, entrando em contato com a Assembleia Legislativa, e pedindo para o seu Deputado votar contrariamente ao Projeto de lei 604, um projeto que vai privatizar o Parque do Estado. O Governo estadual quer construir uma rede de hotéis, mais um centro de convenções naquele espaço, que é um espaço da Mata Atlântica. Temos pouquíssimos lugares, pouquíssimas regiões do Brasil com Mata Atlântica. E o Governo vai destruir o pouco que resta da Mata Atlântica no nosso Estado, através de um Projeto de lei que vai beneficiar o grande negócio.

Faço um apelo a você, que está nos assistindo, porque parece que a base do Governo está convencida de que o projeto tem que receber o seu voto. Você, telespectador, tem que entender que somos 94 Deputados, e 66 são da base do Governo. Tirando o PSOL, PT, PCdoB e o Major Olímpio, todos os outros são do Governo, votam com o Governo, quase que automaticamente. E se depender disso, o Governo vai passar o rolo compressor e o projeto será aprovado.

Temos aqui uma proposta alternativa, uma proposta que pode, se houver aqui entendimento, virar uma emenda aglutinativa; há espaço para isso ainda, do ponto de vista regimental. Estamos apresentando a proposta da ONG que milita na área da defesa do meio ambiente em São Paulo, a ONG Pica-Pau, que apresentou uma proposta razoável, interessante, que pode nos tirar desse impasse.

Então, gostaria de deixar essa proposta à disposição dos deputados e de todos os presentes. Parece que, pelo acordo estabelecido, esse projeto não será votado ainda hoje, mas na quinta-feira. Hoje, haverá apenas a discussão. Até quinta-feira, poderemos construir um entendimento e apresentar uma proposta minimamente razoável para resolver esse impasse.

Quero ainda registrar que esse projeto foi apresentado juntamente com o Projeto 650, que também tem esse caráter privatista. É o projeto que autoriza o Governo Estadual a alienar vários imóveis, vários terrenos e prédios públicos estaduais. Mais de 600 prédios e equipamentos que pertencem ao Estado estão sendo colocados à disposição para venda e alienação.

Na prática, se o Projeto 650 for aprovado, o Ginásio do Ibirapuera - que é um espaço público, tradicional e histórico na Cidade de São Paulo - poderá ser privatizado. O mesmo projeto 650 coloca também o prédio da Cetesb, que fica no bairro de Pinheiros, com a possibilidade de venda, de alienação. E tantos outros imóveis, sendo que em relação a muitos deles o nosso mandato já fez uma pesquisa, já foi verificar in loco. Muitos terrenos e equipamentos que pertencem ao Estado estão localizados na região de Campo Belo, na região onde existe a Operação Água Espraiada, na região da Berrini, localizações de alta especulação imobiliária. Na verdade, o Governo Estadual está a serviço da especulação imobiliária, quer disponibilizar espaços públicos para as empresas e empreiteiras.

De antemão, nós, do PSOL, também registramos o nosso voto contrário ao Projeto 650/2012, que é danoso, nefasto e, na verdade, vai dilapidar ainda mais o patrimônio público. O PSDB colocou esses projetos no final do ano, quando a Assembleia Legislativa está prestes a entrar em recesso, a população já começa a viajar e não presta muito atenção no que vai ser votado nesta Casa.

Como disse, estamos em obstrução ao Projeto 604, que privatiza o Parque do Estado, que acaba com o pouco de Mata Atlântica que existe naquela região, e também já nos manifestamos totalmente contra o Projeto 650.

Agora, a Assembleia Legislativa tem que reagir, principalmente a base aliada. Sei que muitos deputados da base aliada são contra esse projeto, mas são obrigados a votar porque são da base do Governo, têm os seus interesses. Seguindo uma frase do Deputado Campos Machado, que diz que “ele é aliado, e não alienado”. A base do Governo deveria seguir essa orientação do Deputado Campos Machado, que, espero, vote contrariamente a esse projeto privatista do Governo Alckmin.

Aliás, privatizar tem sido uma prática histórica do PSDB, sobretudo do Governador Geraldo Alckmin. Lembro-me de que, no começo do ano, o Governo Alckmin anunciou que tinha a intenção de privatizar parques estaduais, inclusive as cavernas estaduais. Essa intenção foi anunciada pela imprensa e o Governo está cumprindo a sua decisão, já privatizando o Parque do Estado.

Faço um apelo, em primeiro lugar, aos deputados e às deputadas da base do Governo, porque os 28 votos contrários já temos - do PSOL, do PT, do PCdoB e do Deputado Olímpio Gomes, que pertence a um partido da base do Governo, mas não é alienado, tem espírito crítico, é independente. Agora, os 66 deputados da base do Governo não podem concordar com isso.

Em segundo lugar, apelo à população que entende que o projeto é danoso, que destrói a natureza, e que o local é um patrimônio histórico importante na Cidade de São Paulo. É importante que a população se manifeste; ainda há tempo para isso. Cobre o seu deputado em relação ao Projeto 604; diga a ele para votar contra esse projeto privatizante.

Portanto, Sr. Presidente, gostaria de encerrar a minha fala, declarando que nós, do PSOL, estamos em processo de obstrução contra a aprovação do Projeto 604.

 

O Sr. Presidente - Barros Munhoz - PSDB - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Edinho Silva, pelo prazo regimental.

 

O SR. EDINHO SILVA - PT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, servidores desta Casa, público que nos assiste por meio da TV Alesp, venho à tribuna para defender a posição da Bancada do Partido dos Trabalhadores em relação ao PL 604, de autoria do Governador Geraldo Alckmin, por entendermos, como bem disse o Deputado Carlos Giannazi, que não é o tipo de projeto que se encaminhe para o Legislativo no final do ano, que não é o tipo de projeto que se encaminhe de afogadilho ao Poder Legislativo.

Trata-se de um projeto que mexe com o patrimônio do povo de São Paulo, com o patrimônio ambiental da Cidade de São Paulo e do nosso Estado; que desafeta áreas importantes do patrimônio do povo paulista, onde hoje temos moradias, áreas de preservação.

Não é de bom tom que um projeto polêmico como esse seja encaminhado nos últimos dias do processo legislativo para apreciação dos deputados, sem que tenhamos o debate apropriado, sem que levantemos as informações necessárias, sem que façamos uma consulta. Não uma consulta formal de audiência, segundo a legislação, mas uma consulta de fato à população das áreas próximas, uma consulta a todos os setores envolvidos - aos setores econômicos, aos ambientalistas, àqueles que efetivamente convivem com essa atividade econômica proposta pelo projeto e que se amplia com o projeto.

Sr. Presidente, nós, da Bancada do Partido dos Trabalhadores, somos contrários ao projeto. Não é porque somos contrários que assim estabeleceram, quando necessário, parcerias com a iniciativa privada. O PT é favorável que se construa parceria com a iniciativa privada porque, muitas vezes, essas parcerias viabilizam o interesse coletivo, viabilizam os interesses públicos.

O Governo da Presidente Dilma tem proposto parcerias importantes com a iniciativa privada. Agora, na hora que eu li o projeto encaminhado pelo governador, fiquei preocupado. O que o Estado de São Paulo, efetivamente, ganha? O que vamos agregar aos interesses do povo paulista? Vamos retirar da utilização pública o prédio da década de 60, que hoje faz parte do patrimônio arquitetônico do povo de São Paulo. Vamos afetar outra área de 140 mil metros, sem que tenhamos garantia de retorno ao povo de São Paulo.

Sr. Presidente, compensações ambientais não significa remuneração. Compensação, como o próprio nome diz, compensar um dano que provoca. Portanto, quando um projeto estabelece 26 milhões de compensações ambientais, não significa remuneração ao erário público, ao patrimônio do povo de São Paulo. Em compensação, na verdade, está se tentando corrigir erros que foram cometidos e erros que vão ser cometidos. Portanto, previstos do ponto de vista ambiental.

Vinte e seis milhões de compensação é muito pouco pelo volume de investimentos. A concessão onerosa é 1% sobre o valor do faturamento e empreendimento. Um por cento de remuneração! O Estado de São Paulo entrega um dos seus maiores patrimônios numa das áreas mais valorizadas de São Paulo e o erário público recebe como remuneração 1% do faturamento.

Sr. Presidente, aqui, neste plenário e nesta Casa, têm muitos parlamentares com experiência administrativa. Por que não dá para se fazer - é uma pergunta que faço à base do governo - um modelo de remuneração em cima do faturamento líquido? Não tem risco para investidor e nem se coloca os interesses públicos tão subjugados como o projeto estabelece. É só fazer um raciocínio básico que é melhor remunerar os cofres de São Paulo com percentual em cima do faturamento líquido do que fixar um valor em cima do faturamento total.

Um por cento do faturamento total é muito baixo. Não estamos colocando no primeiro plano os interesses do povo de São Paulo. Por que não estabelecer 10% em cima do faturamento líquido? Por que o Estado de São Paulo não se torna sócio do empreendimento, já que ele cede uma das áreas mais valorizadas da capital do Estado de São Paulo e que pertence ao patrimônio do povo de São Paulo?

Não consigo entender. Que concessão é essa que o Estado de São Paulo está de joelhos para o investidor? Que concessão é essa onde estamos ficando com o ônus da concessão? O Estado paulista está ficando com o ônus da concessão. Por que o Estado de São Paulo não ser sócio do empreendimento? Temos empresas para isso. É simples! Coloque empresas como participantes. Temos empresas de propriedades do Estado, empresas de ativos que pode ser sócia do investimento e garantir uma remuneração que podemos carimbar para a área da educação, da capacitação profissional, saúde, segurança pública, meio ambiente. É simples.

Não consigo entender o raciocínio do Estado de São Paulo, do Governo de São Paulo. Concessão onerosa de 1% em cima do faturamento. Estamos entregando uma área de 382 mil metros quadrados, depois, mais uma área de 140 mil de metros quadrados. Por que estamos entregando? Por que o Estado de São Paulo não utiliza de uma de suas empresas, inclusive que tem capital aberto para ser sócio do empreendimento e fixar uma remuneração que seja efetivamente de interesse público? Porque essa aqui não é. Um por cento de faturamento efetivamente não é uma concessão de interesse público. E não venham dizer que a Bancada do PT é contra o investimento. Não somos. É evidente que não somos. O que não dá é para sermos favoráveis ao investimento onde estamos entregando o patrimônio do povo de São Paulo e efetivamente nunca esse patrimônio vai ser ressarcido, compensado.

Repito para o povo que está em casa, para a população que nos assiste: o Estado de São Paulo entrega uma área de 382 mil metros quadrados, depois, mais uma área de 140 mil metros quadrados numa das regiões mais valorizadas da Capital paulista. É uma concessão de 30 anos e aí a remuneração é 1% do faturamento. Um por cento do faturamento! Quem está nos assistindo, não estou errado é 1% do faturamento.

Repito, fui prefeito de Araraquara e fui negociar com o Governo de São Paulo as áreas da antiga Fepasa. A CPOS, que é uma empresa de ativos, vendeu a área para a prefeitura de Araraquara. Pagamos em quase oito anos. Eu não recebi um benefício desse.

É interesse público, é para a comunidade, é para o povo de São Paulo que mora em Araraquara. Por que a CPOS não incorpora esse patrimônio e não vira sócia dos investidores? Eu não consigo entender. Pode fazer o investimento, mas o povo de São Paulo se torna sócio, estabelece uma remuneração e carimbamos esse dinheiro para investimento na Educação, em capacitação profissional, em projetos sociais e ambientais. Está errado o modelo de concessão. O Estado de São Paulo entra num modelo de concessão de joelhos. Entrega para a iniciativa privada uma das regiões mais valorizadas da cidade mais valorizada do Brasil em troca de 1% do faturamento. Não dá, Sr. Presidente. Chamo a atenção da base do Governo para isso. Não votem o projeto dessa forma. Vamos aprofundar o debate sobre o projeto. Vamos fazer prevalecer os interesses da população do Estado de São Paulo. Vamos seguir o modelo de parceria com a iniciativa privada do Governo da Presidenta Dilma, onde o Governo investe, mas efetivamente o investimento é ressarcido. Ao contrário: ganha-se em cima do investimento, portanto é o patrimônio público que está agregando valor. Em São Paulo não. Vamos evitar uma votação sobre a qual esta Casa vai ter de responder por ela durante muitas décadas. Este modelo de concessão - com todo respeito - é prejudicial ao povo de São Paulo.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Campos Machado, para falar a favor.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, acabamos de ouvir o pronunciamento do meu amigo, ex-Prefeito de Araraquara, Presidente Estadual do PT, homem profundamente honrado, com quem fiz aliança nestas eleições, mas o meu amigo Deputado Edinho Silva fez um apelo, aplaudido pelo nobre Deputado Enio Tatto. Pude ver a sua manifestação de apreço, de apoio total e incondicional. O Deputado Edinho Silva, num discurso eminentemente político, chama a atenção da bancada da situação. Diz que de um lado a nossa Presidenta Dilma tem uma política de investimento que beneficia o povo brasileiro e de outro lado o Governador Geraldo Alckmin tem uma política de investimento que prejudica o povo paulista. Aí fico indagando onde quis chegar o nobre Deputado Edinho Silva.

Sua Excelência manifesta - e está correto no seu ponto de vista - sua posição partidária de Presidente do Partido dos Trabalhadores, que tem essa obrigação funcional de se antepor ao Governo do Estado, já que no horizonte soam os clarins anunciando as eleições estaduais de 2014.

Mas eu não vim à tribuna para tratar desse assunto. Vim à tribuna para manifestar minha preocupação com o que está acontecendo neste País.

Acordei hoje e vi esta manchete nos jornais ‘STF manda Câmara cassar os deputados e conclui julgamento.’ O Supremo Tribunal Federal manda, determina, diz o que a Câmara dos Deputados tem de fazer. E a tal independência e harmonia entre os Poderes? Está no chão e ninguém diz nada? O Supremo Tribunal Federal hoje julga, executa, legisla e agora manda.

O Poder Legislativo, esta Assembleia Legislativa, a maior da América Latina, vai ficar de joelhos? Não se trata de defender as pessoas que foram condenadas. Trata-se de defender a lei Não sou eu que estou dizendo, é o Art. 55 da Constituição Federal. O que o Supremo Tribunal Federal tinha de fazer era enviar para a Câmara dos Deputados.

Estava lendo um artigo do jornalista Elio Gaspari, da "Folha de S.Paulo". Dentre outras coisas o que ele diz? “Os três Poderes da República são independentes. O Judiciário condena, mas quem cassa é o Congresso. Se o Supremo decidir que os mensaleiros devem perder o mandato, cria-se um desequilíbrio entre os Poderes da República que só tem a ver com a delinquência dos mensaleiros no aspecto pontual. Estabelece-se uma norma. Onze magistrados escolhidos monocraticamente pelo presidente da República podem cassar mandatos parlamentares eleitos pelo povo.”

Como chegou ao Supremo Tribunal Federal o Ministro Luiz Fux? Qual o caminho percorrido pelo Ministro Luiz Fux para chegar ao Supremo Tribunal Federal? Em restaurantes, de mesa em mesa. Piantella, Antiquarius. Frequentou todos os restaurantes brasilienses conversando com pessoas proeminentes da República. Foi recebido num café da manhã pelo meu amigo Deputado Federal João Paulo Cunha, procurou o Governador Sérgio Cabral, procurou ministros, deputados, senadores, procurou o mundo e de galho em galho foi escolhido ministro do Supremo Tribunal Federal. Dizem aqueles que o conheceram que ele era dócil, meigo, gentil, atencioso. Que chegou a prometer que iria examinar os processos à luz das provas. Depois este Ministro que se aproveitou da boa fé dos políticos que nele acreditaram virou guitarrista de plantão. O homem é especialista em guitarras. Esqueceu-se do cargo de que está revestido, da dignidade do cargo e nada mais fez do que seguir como se fosse um cego ao que determinava o relator, que também se viu ofuscado pelos holofotes, a tal ponto que hoje ele tem nove por cento das intenções de voto para Presidente da República. Olha a mídia o que faz, Deputado Barros Munhoz!

E agora estamos caminhando para a ditadura do Judiciário. Prestem atenção ao que estou dizendo aqui nesta noite: ditadura do Judiciário. Deputado Marco Aurélio, eles não estão pensando em mais nada, eles estão interferindo em tudo. Dizem alguns Deputados Estaduais “Mas nós não temos nada com isso”. Por enquanto, mas vai chegar aqui nesta Casa. Nós já nos ajoelhamos na questão do Tribunal de Contas do Estado, retiramos assinaturas, nos omitimos, e agora estamos caminhando para quê? Para assistir o Judiciário ocupar os espaços do Executivo e do Legislativo, Deputado Luiz Claudio Marcolino.

O que acontece, Montesquieu já dizia: “Uma injustiça praticada a uma pessoa é uma ameaça a milhões.” E o que está acontecendo, Deputado Edinho Silva? Ontem, eu fui visitar o Deputado Roberto Jefferson lá no Rio de Janeiro, definhado pela doença, pesando 72 quilos, irreconhecível, a tal ponto, que me vejo obrigado nesta noite a dizer que, de fato, vou comandar os destinos do PTB na esfera nacional a partir de 18 de janeiro de 2013, porque acho que nós temos que dar uma resposta, porque mais da metade desses processos não tem provas, não tem indícios, condenou-se à luz dos holofotes. E o “Guitarrista”, que só chegou ao Supremo Tribunal Federal, de pires na mão pedindo favores, humilhando-se, e agora faz parte dos homens que mandam neste País: o Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal.

E nós vamos ficar silenciosos? Olha a vergonha, Srs. Deputados: o Supremo Tribunal Federal manda a Câmara cassar. Mas não é possível. Eu tenho que defender aqui o Presidente Marco Maia. Olha a que ponto estou chegando! Deputado Marco Maia, membro do PT, com quem tenho divergências históricas, é um homem de coragem. Eu tenho que dizer a realidade. “Ah, ele está afrontando.” Ele não está afrontando, ele tem obrigação de defender a Câmara Federal, de defender o Legislativo, ele não é covarde!

Fiquei sabendo dos Deputados da chamada oposição - eu tenho muito receio da chamada oposição, também tenho receio que tenha oposição em São Paulo -: “Temos que respeitar a decisão do Judiciário.” São aqueles que pregam a política do quanto pior melhor.

Sabe, Deputado Hamilton Pereira, estão todos felizes, todos contentes, mas não pensaram no que pode acontecer no tal mensalão mineiro, tem que ver isso também.

Agora eles acham que é justo e que a Câmara tem que obedecer ao Supremo Tribunal Federal haja o que houver; não se questiona a Justiça. Se questiona, sim, quando ela é imoral. Se questiona quando ela é arrogante e prepotente, se questiona sim! Isso tem que nascer onde? No Legislativo, que está sendo afrontado.

Eu tenho recebido telefonemas de Presidente de outras Assembleias Legislativas que querem fazer um movimento relativo a essa questão. Por isso, Sr. Presidente, quero deixar claro aqui, Deputado Samuel Moreira, que nós estamos assistindo, não a essa palavra complicada, judicialização da política, mas estamos assistindo uma derrocada do Poder Legislativo. Será que esse Elio Gaspari tem mais coragem do que nós?

Já disse aqui, e vou repetir uma vez mais: o Deputado João Paulo Cunha não é do meu partido, mas é meu amigo, e não devemos voltar as costas aos amigos. Já disse que conheço a sua história de metalúrgico, advogado e de Presidente da Câmara Federal.

Olha o absurdo! Quem é que em sã consciência ia pedir para a sua esposa ir a um banco para receber um cheque de cinquenta mil reais, se ele desconfiasse que esse cheque fosse irregular, Deputado Luiz Claudio Marcolino? Se ele soubesse que tinha alguma coisa errada com o tal cheque, não mandaria sua mulher ao banco - que é a mãe da filha dele, a Juliana. Mas foi condenado porque a opinião pública exigia a condenação dele. Aí ninguém disse nada.

E agora nós estamos assistindo. A Câmara não pode se vergar, e com ela, Deputado Barros Munhoz, o futuro do Legislativo.

Eu nem pude falar mais porque está de saída o Deputado Marco Aurélio, pai do meu companheiro, do meu pequeno companheiro Marco Vinícius, que pertence ao PTB infantil.

Eu já antevejo o futuro, Deputado Edinho Silva. Já comecei a conversar com o Deputado Marco Aurélio, Deputado Barros Munhoz. Daqui a alguns anos o menino floresce, cresce e já vem com essa mentalidade petebista, já vem nessa história. Aí eu escuto a Deputada Telma de Souza dizer que o pai dela era petebista. Que alegria, Deputada Telma de Souza! Ainda tempo de refletir; nós a receberemos de braços abertos, principalmente pela história de seu pai. Olha que coisa linda: uma geração aguardando a outra geração.

Eu vou fazer uma visita a Jacareí, vou colher a impressão digital do menino. E quem vai abonar a ficha está ali: Presidente Estadual do PT, Deputado Edinho Silva.

Presidente Barros Munhoz, o meu tempo se esvai. Eu voltarei para tratar de outro assunto, Deputado Enio Tatto, ao qual eu quero o apoio de Vossa Excelência, filho de dona Inês, membro de um clã importante. Temos que fazer uma campanha para que a tal ficha limpa também se aplique aos eleitores: fazer um convênio do Tribunal de Justiça e o TRE, porque de fato se os políticos respondem por improbidade, por que os marginais podem escolher os políticos? Essa indagação eu deixo aqui para continuar daqui a pouco, Deputado Enio Tatto. E como diz o Deputado Marcos Martins, tenho absoluta certeza que esta Casa não vai se postar como se postou em relação ao Deputado Jorge Caruso.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes. (Pausa.) Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Hamilton Pereira, pelo tempo regimental.

 

O SR. HAMILTON PEREIRA - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, telespectadores da TV Assembleia, venho a esta tribuna para discutir o Projeto de Lei nº 604/12, que chegou a esta Casa. Ele é da lavra do Sr. Governador, que chegou a esta Casa também com pedido de tramitação em regime de urgência e que pretende desafetar as áreas do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga para fins de concessão à iniciativa privada.

Mas eu não posso deixar passar esta oportunidade de vir a esta tribuna logo após o nobre Deputado Campos Machado, que é um jurista, e reconhecido por todos nós aqui da Assembleia como um deputado que conhece profundamente as leis do nosso país, a nossa legislação, a nossa Constituição. Quando vem a esta tribuna, costuma fundamentar suas abordagens a partir, inclusive, da citação de artigos constitucionais, de preceitos consignados em nossa Constituição. É um traço admirável as abordagens que faz desta tribuna o nobre Deputado Campos Machado.

E eu gostaria de também me apropriar um pouco do aspecto abordado por ele aqui. Quero lembrar que nosso país viveu há 50 anos um golpe militar, num momento em que vivíamos uma democracia. Os presidentes brasileiros eram eleitos pelo sufrágio universal do voto. Em 1960, foram eleitos o Presidente da República, Jânio Quadros, e seu vice, João Goulart; também naquele período da nossa História os vices eram eleitos pelo sufrágio universal. Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, João Goulart assume o Governo da República Federativa do Brasil e começa a governar o país.

João Goulart tinha um traço todo próprio, era um homem progressista; era um homem do povo, um homem que defendia reformas estruturais do nosso país que pudessem levar o povo brasileiro a compartilhar do crescimento econômico do país. Era favorável ao crescimento do Brasil, ao crescimento da nossa economia, mas com distribuição de rendas. Ele era favorável às reformas de base que pudessem conferir uma cidadania muito forte para o povo brasileiro. Era um homem que falava abertamente que no Brasil havia uma concentração muito grande de terras na mão de poucas pessoas, poucos latifundiários, e que havia, portanto, a necessidade de termos aqui uma ampla reforma agrária, distribuir terras àqueles que precisavam trabalhar e que gostavam de trabalhar na terra, produzindo riquezas, produzindo alimentos para o povo brasileiro. As propostas de João Goulart desagradaram alguns setores conservadores, alguns setores reacionários da nossa sociedade, ao ponto desses começaram a aclamar, primeiro a tachá-lo de comunista, que defender o povo, defender o bem do povo brasileiro, defender a reforma agrária afinal de contas eram ideias subversivas e só poderia ser comunista um presidente que defendia essas ideias.

Com isto estimularam os militares. Poxa, a opinião pública já está favorável ao nosso ponto de vista, diziam os anticomunistas, diziam os conservadores, diziam os reacionários deste país e, portanto, quiçá este é o momento propício. Em 1964, os militares colocam as tropas nas ruas, depõem o Governo João Goulart, e através de um golpe militar tomam o poder deste país. Com o apoio da mídia, com apoio de grande parte da opinião pública, que temia o comunismo, e dessa maneira os militares começam a governar o país. Um poder absoluto, inquestionável, porque afinal de contas tinham o apoio da grande mídia e de parte do povo brasileiro: dos conservadores e do senso comum, enganados pela mídia, enganados pela falácia dos militares.

Esse golpe militar custou caro ao povo brasileiro, porque aquele Governo instaurou aqui um poder absolutista, e o absolutismo não serve às vontades do povo, não serve ao povo e não serve à democracia. Começa ali uma luta do povo para recuperar a democracia, porque aí começa se dar valor, efetivamente, àquele regime que tínhamos antes do golpe militar em que o povo ia às urnas, em que o povo elegia o Presidente do seu país.

E vamos assistir aí a uma sequência de atos institucionais. Começa em 1964, mas o pior deles, em 1968, o AI 5, o Ato Institucional nº 5, que cassou prefeitos, mandatos de vereadores, interveio nas prefeituras, nos governos, no Congresso Nacional. Cassou mandatos dos deputados. Para lembrar aqui a importância de alguns deles, Márcio Moreira Alves, Mário Covas e muitos outros, que foram retirados dos seus mandatos, que havia sido outorgado pela vontade do povo brasileiro, e muitos deles, para sobreviverem, para salvarem suas próprias vidas, tiveram que sair do país. Perderam a cidadania graças a um poder absolutista, um poder que menosprezava totalmente os valores da democracia e as liberdades democráticas do nosso povo.

Digo isso para pegar aqui uma pequena carona na fala do nosso colega, nobre Deputado Campos Machado. Estamos vivendo um momento agora de grande risco para tudo aquilo que conquistamos, porque foi a duras penas que o povo voltou às ruas, que tivemos campanhas memoráveis, como as “Diretas Já”, tivemos a Constituinte, que terminou em 1988, 1989 com a Constituição Cidadã do Brasil, essa mesmo que garante o direito ao sufrágio universal do voto para eleger do Presidente da República ao vereador; do prefeito ao Governador, senadores, aos deputados federais e deputados estaduais.

Essa democracia custou a vida de muita gente. Custou a liberdade de inúmeros brasileiros que tiveram que se exilar, fugir do país para salvarem suas vidas e a vida dos seus familiares.

Hoje estamos vendo um único poder, que constitui, entre outros, os poderes da República Brasileira, constituída por três poderes: Poder Executivo, Poder Legislativo, Poder Judiciário. Hoje o Supremo avoca para si o poder supremo de suprimir as garantias, da ampla defesa e do contraditório, num processo que praticamente se assemelha a um rito sumário. Hoje eles estabelecem os réus, julgam, condenam e aplicam a pena. Como disse aqui o nobre Deputado Campos Machado, brandindo uma matéria de jornal, eles hoje são absolutos. Para que Poder Executivo? Para que Poder Legislativo? Temos um único poder aplaudido pela mídia, que por sua vez também estimula a opinião pública dos conservadores e do senso comum, que não raciocina sobre a importância da democracia como conquista do nosso povo. E tanta, e tanta gente que deu sua própria vida para que tivéssemos direito ao voto, direito a elegermos os nossos representantes.

É tão importante a democracia, que temos que nos levantar agora para lutar por ela. É uma garantia que não pode ser tirada do povo brasileiro. A democracia é um direito universal, que não pode ser tolhido do povo. E não podemos aceitar que, ao arrepio da Constituição, não se possibilite mais o direito do contraditório, o direito da ampla defesa, consignado em nossa Constituição.

É uma temeridade o que estamos assistindo. Não podemos assistir ao retorno a épocas que o País lamenta até hoje. Temos que valorizar a nossa democracia. Temos que manter os direitos consignados em nossa Constituição, a mesma Constituição cidadã que garante o direito à ampla defesa, o direito ao contraditório, o direito a que as pessoas, eleitas legitimamente pelo povo brasileiro, mantenham os seus mandatos, e que elas não sejam julgadas à revelia, de forma autoritária, sem direito à ampla defesa, sem o direito ao contraditório, sejam condenadas e lhes sejam subtraídos os mandatos que não foram outorgados pelos membros do Poder Judiciário; foram outorgados pelo povo brasileiro, legitimamente sufragados na urna.

Portanto, fiz questão de me apropriar, nobre Deputado Campos Machado, um pouco para, inclusive, compactuar com V.Exa. dessa indignação, porque hoje são alguns membros da Câmara Federal, amanhã poderemos ser nós.

Assim começaram os militares. Aos poucos, foram pegando um e outro. Eles acusavam: são comunistas, são subversivos, não podem exercer poder algum, e o povo não pode mais eleger os seus representantes. E assim foram, e foram avançando. E tomaram conta, intervieram no plano municipal, nas prefeituras, no plano estadual, nos governos, e no Congresso Nacional, retirando a legitimidade do mandato popular dos nossos Deputados, para que eles pudessem, eles, governar este País, ao arrepio de qualquer Constituição, porque mesmo a Constituição antiga passou a ser desrespeitada em todos os seus artigos, em todos os seus parágrafos, em todas as suas determinações.

Hoje estamos aqui protestando. Temos que fazê-lo, enquanto ainda há tempo. O Brasil de hoje não comporta mais o absolutismo, não comporta mais o autoritarismo. O Brasil de hoje é um Brasil que ungiu na urna, através do voto popular, a possibilidade de um operário, torneiro mecânico, tornar-se Presidente da República Federativa do Brasil. O Brasil de hoje elegeu a primeira mulher Presidente da República Federativa do Brasil.

O valor disso é inestimável, Srs. telespectadores da TV Assembleia, Srs. Deputados, Sras. Deputadas. Estamos aqui terminando o ano legislativo. Em breve iremos votar o orçamento do Estado, e temos que prezar essa legitimidade do voto popular, essa legitimidade do voto do povo brasileiro, que hoje escolhe livremente os seus vereadores, os prefeitos, os governadores do Estado, o Presidente da República, senadores e deputados federais e estaduais.

Vamos lutar para preservar a democracia, que tanto custou ao povo brasileiro. Ela é muito cara, ela custa muito. Preservá-la, ainda que tenhamos que enfrentar o absolutismo do STF. Vale a pena esta luta pela manutenção das liberdades democráticas e da legitimidade do voto popular. Aqueles que foram eleitos pelo voto do povo brasileiro não podem ser cassados por um poder que não nos elegeu. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Adriano Diogo, para falar a favor.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Antigamente no Brasil as coisas ruins aconteciam em agosto. Ultimamente, meu querido Presidente, o acúmulo de más notícias tem ocorrido em dezembro.

No dia 08/12/68 foi anunciado, pelo Sr. Gama e Silva, o AI-5. E ontem, dia 17/12, foi anunciado pelo STF o direito dessa Corte política, uma corte eminentemente política, cassar o mandato dos Deputados.

E hoje, 18/12, estamos aqui nesta noite para tratar do Projeto de lei que vai beneficiar a iniciativa privada, para a construção de um hotel. Os técnicos da Secretaria que aqui vieram se saíram tão mal na apresentação, numa nítida divisão de opiniões. E no meio daquela confusão toda que foi aquela audiência pública, eu estava vendo o Deputado Bruno Covas, agora como Secretário do Meio Ambiente, dessa origem santista, da família dele. O discurso de despedida do Bruno Covas aqui foi sobre José Bonifácio, a importância de José Bonifácio na formação dele como jovem advogado e como político.

Eu, percebendo aquele olhar do Bruno Covas, totalmente dispersivo, cheio daquela discussão, percebendo aquele corolário de erros que estava sendo praticado - se eu tivesse tempo, a nossa assessoria, o Ricardo Guterman, preparou um documento muito bem feito, e eu infelizmente não pude preparar para colocar no telão - eu fui buscar no livro do Laurentino Gomes, o “1822”, como é que o Laurentino descreveu a chegada de Dom Pedro, em 1822, lá nas imediações das nascentes. Talvez tenha andado um pouco mais, até chegar onde é o Parque da Independência.

Quando fui Secretário do Meio Ambiente da Cidade de São Paulo, as fontes, aquele jardim todo, que foram baseadas numa réplica dos palácios franceses, estavam totalmente detonados. Fizemos a recomposição de todas as fontes, e aí eu me dirigi ao Museu da Independência, completamente decadente, abandonado.

Descobri que o parque era municipal, mas o museu era estadual. E qual não foi a minha tristeza, ao ver, no outro dia, que o museu está para fechar. Sem manutenção. Eu estava pensando: por que esse açodamento de votar um Projeto de lei que tem um parque municipal? Porque o Parque de Exposições da Água Branca, em que pese a sua idade e a sua pequena área em metros quadrados, é o parque ideal das exposições. Mas essa loucura de querer construir nas nascentes do Ipiranga, esse açodamento de termos que votar hoje, hoje, hoje, sendo que o parque está na Cidade de São Paulo, no limite de Diadema, Santo André, São Bernardo do Campo. Nenhuma das novas administrações vai poder opinar sobre essa área que vai renovar a concessão.

Estava lendo no livro “1822”, de Laurentino Gomes, a chegada de Dom Pedro por aquelas bandas: “O francês Hércules Florence, que também percorreria a Calçada do Lorena, em 1825, três anos depois da Independência, registrou que Cubatão era interposto comercial muito frequentado, embora não passasse de uma povoação, com 20 ou 30 casas.

Dom Pedro estava em Santos e, do alto da serra, levavam mais de seis horas para atravessar o trecho do Planalto em direção à Capital paulista, incluindo uma parada de hora de almoço e descanso.

Só ao cair da tarde daquele 7 de setembro, a comitiva chegou à Colina do Ipiranga. Por ordem do Príncipe, que mais de uma vez se vira compelido a interromper sua jornada devido às suas cólicas intestinais, a Guarda de Honra se adiantara e esperava, em uma venda situada a 600 metros mais à frente, junto ao riacho que ficara famoso antes de anoitecer.

Em tupi-guarani, Ipiranga significa “rio vermelho”. Naquela época, apesar da tonalidade escura e barrenta de suas águas, era um arroio selvagem e sem poluição, cujo leito serpenteava entre as roças, passagens salpicadas por cupinzeiros, de chácaras e sítios que se estendiam por um local ermo.

Das 24 nascentes originais, situadas dentro do Parque Estadual Fontes do Ipiranga, quatro desapareceram pela redução do lençol freático. Alguns quilômetros adiante, após receber uma quantidade monumental de lixo, descargas domésticas e industriais, deságua no Tamanduateí. Ali, o índice de poluição é de 60 miligramas por litro de água. A taxa de oxigênio, próxima de zero nos meses sem chuva, faz dele um riacho morto, incapaz de abrigar peixes ou qualquer forma de vida.”

Descobri por que os tucanos, que são tão obsessivos pela privatização, querem se livrar do parque da nacionalidade. Estava lendo esse depoimento do Padre Belchior, daquela tarde de 7 de setembro de 1822: “Dom Pedro, tremendo de raiva, arrancou das minhas mãos os papéis, amarrotando-os e pisou-os debaixo da relva. Eu os apanhei e guardei. Depois, virou-se para mim e disse: ‘E agora, Padre Belchior?’ Respondi prontamente: ‘Se Vossa Alteza não se faz rei do Brasil, será um prisioneiro das cortes e talvez desertado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação.’

Dom Pedro caminhou alguns passos silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Olegário, Carlota e outros em direção aos animais que se achavam à beira do caminho. De repente, estancou, já no meio da estrada, e disse-me: ‘Padre Belchior, eles querem o que querem, e o terão na sua conta. As cortes me perseguem; chamam-me, com desprezo, de rapazinho e de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante, estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o Governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal.

Respondemos imediatamente com entusiasmo: ‘Viva a liberdade! Viva o Brasil separado! Viva Dom Pedro!’ E o Príncipe virou-se para o seu ajudante de ordens e falou: ‘Diga, minha Guarda, que acabo de fazer a independência do Brasil. Estamos separados de Portugal.

O tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam todos aqueles dragões da Guarda. Pela descrição do Padre Belchior, não houve sobre a Colina do Ipiranga o brado ‘Independência ou morte!’, celebrado um século e meio mais tarde pelo ator Tarcísio Meira no papel de Dom Pedro, em filme de 1972. O famoso grito aparece num outro relato do alferes Canto e Melo, registrado bem mais tarde, quando o acontecimento já havia entrado para o panteão dos monumentos épicos nacionais.

A versão do alferes, de tom obviamente militar, mostra um Príncipe resoluto e determinado. Por ela, Dom Pedro teria lido a correspondência e, após um momento de reflexão, teria explodido sem pestanejar: ‘É tempo! Independência ou morte! Separados para sempre de Portugal!’”

Estou fazendo essa leitura prosaica, emocionado, para poder entender o seguinte: Como é que Bonifácio, inspirador da doutrina do Secretário Mário Covas, que era um dos teóricos desse Movimento da Independência... Será que era por isso que Bruno Covas estava com a cabeça tão baixa, tão baixa, que não conseguia levantar o seu semblante, de vergonha de ter que copatrocinar um projeto desses?

Não sei. Sei dizer que os tucanos, o PSDB, deveriam ter um pouco mais de cuidado com a sua própria biografia. O Sr. Rezeck esqueceu o pen-drive, fez aquela lambança toda, ficou todo suado, desmoralizou-se, não conseguiu apresentar o projeto. Queria saber por que a Prefeitura de São Paulo - não estou falando da Prefeitura do PT, recém-eleita -, a Prefeitura de Diadema, a Prefeitura de Santo André, a Prefeitura de São Bernardo do Campo e a Prefeitura de São Caetano do Sul não podem se posicionar até o dia 30 de março, quando vence a concessão, para, em conjunto, darem um destino para o Parque das Nascentes da Independência, das nascentes da nossa nacionalidade?

Será que não tem outro local para fazer um hotel voltado para o agronegócio, para os expositores, para as feiras, para os rodeios? Será que tem que ser naquele lugar? Será que perdemos o sentido da nossa história, da nossa vida, da nossa origem? Será que a palavra independência não significa mais nada? Será que o mundo está todo globalizado, que tanto faz fazer um hotel internacional ou cinco estrelas para vendermos mais gados, mais sementes trangênicas, que a Mão Santo possa construir um hotel e que os fertilizantes, os agrotóxicos, todo esse veneno do capitalismo moderno na agricultura prevaleça sobre as nossas origens?

Senhoras e Senhores, para quem vamos apelar? Para o bom senso?

O plenário está completamente vazio. Evidente é o ano dificílimo. Mas hoje é dia que este projeto deveria ser votado, porque ele foi açodadamente discutido em três audiências públicas. Sei que as prefeituras, as municipalidades, onde o parque está contido, pudessem opinar.

Acho que o Partido Verde fez um trabalho bom, correto e tentou, mas não conseguiu. Infelizmente, o meu pen drive não conseguiu acumular as imagens das duas exposições que o governo fez.

Olha a ironia do destino. O plano de manejo do parque, de 2007, foi feito pelo Governador Serra. Olha o que o destino nos oferece: o Xico Graziano fez o plano de manejo no Governo Serra. O Governador Alckmin e o Secretário Bruno Covas entram nessa enrascada de ter que construir um hotel sete estrelas para os empreendedores de gado, de agrotóxicos e de todos os venenos que a humanidade nos permite.

O Parque Nascentes da Independência, daqui a algumas horas, vai se transformar num hotel internacional. Quando Niemeyer construiu o teatro dentro do Parque do Ibirapuera, uma arquiteta não deixou Niemeyer concluir aquela ligação que tinha entre a Oca e o novo auditório. Ela disse que aquela marquise não poderia ser mexida. Niemeyer falou: “Mas, minha filha, fiz essa marquise incompleta porque não pude construir o teatro à época. Agora que construí o teatro, a senhora não vai deixar mexer na marquise que eu projetei? Ela disse: “Não.” Ele falou: “Está bom, nunca mais volto para São Paulo, fique com a sua marquise.”

Então, Srs. Tucanos, fiquem com o parque e levem para a sepultura a vergonha de ter privatizado o Parque das Nascentes da Independência. Sinto muito, mas é uma coisa ruim para a sua biografia.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra a nobre Deputada Telma de Souza, para falar contra.

 

A SRA. TELMA DE SOUZA - PT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, funcionários da Casa e especialmente aqueles que nos acompanham pela TV Assembleia, gostaria já de entrar na discussão do projeto que estamos discutindo, o Projeto nº 604/12, mas estou profundamente seduzida pela proposta de discussão das liberdades democráticas que para cá foi trazida pelo nobre Deputado Campos Machado, seguido do Deputado Hamilton Pereira.

Na semana passada, o artigo de fundo da revista “Carta Capital” mostra como se articula hoje em torno da mídia e não dos poderes constituídos, como do Executivo, Legislativo e Judiciário - aliás, o Judiciário com mais poder ainda -, todas as manifestações de intelectuais, jornalistas principalmente em volta de algo chamado Instituto Millenium.

O Instituto Millenium, se torna, nos dias de hoje, a grande ameaça. Vide o golpe de 64, aqui trazido por outros oradores, pensando-se que os conservadores do país não estão desatentos. Eles não têm por onde agir. O Judiciário deu uma prova cabal, desrespeitando a Câmara, a Constituição, e alguns deputados já falaram sobre isso.

Vejo que o Instituto Millenium hoje, ainda de uma maneira mais ou menos silenciosa, faz o papel aglutinador que em outros momentos o General Golbery de Couto e Silva fazia em momentos tenebrosos para este País.

Independentemente do partido que pertencemos, temos que zelar pela autonomia, pela independência dos Poderes e, principalmente, pela possibilidade de falarmos, em alto e em bom som, em liberdade. Não a liberdade de imprensa midiática dos donos da imprensa, mas liberdade daqueles que precisam e devem falar a revistas, à televisão, principalmente aos jornais de uma maneira isenta, sem o fulcro e no âmbito do capital, dos interesses econômicos.

Falo isso porque vamos voltar muitas vezes ao Instituto Millenium nesta Casa, que, a meu ver, é um grande aglutinador de uma movimentação que ora vem para os políticos de uma maneira geral, mas hoje se concentra em torno da mídia haja vista o espetáculo midiático que foi o “mensalão” e o seu julgamento. Não quero entrar aqui no mérito porque senão não teria tempo e condição de falar sobre o Projeto nº 604/12.

Quero, antes de mais nada, continuar algumas situações que o Deputado Adriano Diogo, que me antecedeu, colocou. Ele trouxe o livro do historiador e escritor Laurentino Gomes e leu para nós uma passagem da: “Às margens do riacho Ipiranga”, que é justamente o centro de discussão deste projeto.

Essa área pertence ao Parque Estadual das Fontes de Ipiranga e que atende ao singelo nome de PEF. O PEF tem nas suas raias algumas construções, todas públicas. Temos o Instituto de Geologia, a Central da Secretaria de Agricultura, temos ainda nas suas raias, chegando à Água Funda, o Centro de Atenção de Saúde Integrada David Capistrano, segunda vez que o Dr. David, meu sucessor em Santos à prefeitura, se colocou, e também temos a possibilidade de todas essas entidades públicas, que estão sendo construídas há algumas décadas, serem destruídas por aquilo que está se chamando agora de desafetação do parque.

Quero dizer aos senhores e senhoras, especialmente aos deputados que vão votar, que esta Casa está sendo ludibriada nas informações. O mal-estar do Secretário Bruno Covas ontem, acompanhado da Secretária da Agricultura e do Secretário de Planejamento Júlio Semeghini, era visível e por um motivo simples: os arrazoados colocados pela Secretaria de Meio Ambiente sequer foram trazidos a esta Casa. Não tivemos tempo de verificar este projeto. O Conselho de Meio Ambiente também não foi chamado. Misturaram-se dois pareceres muito antagônicos e feitos por setores diferenciados. Um deles do Dr. João Roberto Cilento Winther, assessor técnico da procuradoria do patrimônio mobiliário ambiental, que procurado informou que seu parecer dizia respeito a um determinado setor da área e não à área como um todo. Pasmem: o parecer deste assessor técnico foi usado para este projeto de uma maneira geral.

Quero confessar que temos posições antagônicas com o Governo e essas posições são saudáveis do ponto de vista da democracia porque estamos discutindo o futuro do nosso Estado, o futuro da Cidade de São Paulo e porque a Anchieta e Imigrantes passam justamente em frente a este setor. Eu diria ainda Santos, São Bernardo, Santo André, São Caetano, o ABCD e também a favela de Americanópolis.

O Dr. Winther falava apenas da desafetação do setor da favela e seu parecer foi usado para desalojar cinco ou seis entidades públicas envolvendo a Secretaria de Agricultura, a Secretaria de Meio Ambiente e a de Secretaria de Segurança Pública sem que houvesse um EIA-Rima falando dos prós e contras que poderiam advir deste projeto. Mais ainda. Havia projeto de serem construídos um museu de história natural e um parque de ciências naturais para o segundo centenário da Independência do Brasil que vai acontecer daqui a 10 anos. E esse patrimônio histórico cultural está sendo levado de roldão. É importante que se frise isso porque todos conhecem pelo menos um hino em suas vidas, aquele que começa com ‘Ouviram do Ipiranga às margens plácidas”. Justamente o hino deste País será profundamente tocado negativamente por esta ação.

Eu não entendo o açodamento desta votação.

Pensou-se ontem na terceira audiência - e quero deixar registrado que a segunda não contou com a presença sequer do Secretário de Meio Ambiente. Nós tivemos até a possibilidade de discutir uma emenda aglutinativa. Mas não temos tempo para isso porque o Governo, de uma maneira muito ruim, não fez seu dever de casa e não mandou a tempo para esta Casa o projeto. Isto é lamentável porque a concessão acaba em 30 de março. Teríamos até tempo para fazer uma discussão de fundo, mas vejamos alguns números, Sr. Presidente, que envolvem a região onde está o Recinto de Exposições Sálvio Pacheco de Almeida Prado. Trata-se de uma área de 382 e 162 metros quadrados, vamos dizer 382 quilômetros quadrados. Para os senhores terem uma noção de comparação, a cidade de Santos na sua área insular tem 241, 140 a menos. Isso é muito sério.

Outros deputados já falaram, mas é bom insistir que estamos tratando de um setor de vegetação de mata atlântica, que é de longe a que tem por metro quadrado o maior número de espécimes degradáveis em termos de biovida e muitos sequer estão catalogados. Nós só temos a mata atlântica, pela sua destruição, na floresta da Tijuca e ela acaba sendo mais pujante do que a própria floresta amazônica.

Então, Sr. Presidente, o açodamento, que é pouco para dizer numa linguagem bem vulgar que este projeto está sendo metido goela abaixo, e o mal-estar dos deputados do PV, por mais que tentassem fazer avançar uma proposta de emenda aglutinativa, mostram que esta Casa está sendo profundamente desrespeitada.

Não é assim que se constrói a democracia. Não é assim que se trocam espaços públicos para um hotel de luxo. Fazer a desafetação como o Sr. Winther queria era justamente verificar a favela de Americanópolis e também setores da Anchieta e Imigrantes. E isso foi confundido: como se fosse toda uma área e esse parecer fosse o parecer total.

Foi lamentável e muito desconcertante para todos a exposição do Dr. Rubens Naman Rizek Júnior, Secretário Adjunto do Meio Ambiente, que nos disse alto e bom som que não falaria sobre a questão ambiental mas sobre a questão jurídica, que dizia respeito aos seus conhecimentos até por que, veja Sr. Presidente, ele tinha preparado este momento de maneira muito rápida nos dois dias do final de semana que antecedeu o debate.

Este é um clima perigoso. Estamos falando de um projeto que vai passar para a iniciativa privada quase 500 quilômetros quadrados de mata atlântica, estamos falando do prédio da Secretaria de Agricultura, que tem valor arquitetônico. Mais que isso: a não erradicação da favela de Americanópolis.

Ontem propusemos com muita firmeza - e fomos parcialmente recebidos com a oferta de uma aglutinativa por parte da Deputada Regina Gonçalves, Líder do PV - a seguinte consideração: os investimentos mínimos são da ordem de 200 milhões. O concessionário deverá pagar 1% sobre o faturamento, o que é irrisório. Mais ainda: o prazo de concessão será de 30 anos e com investimentos totais da ordem de 320 milhões. Estima-se o valor de 26 milhões para compensações viárias e ambientais.

Quero terminar dizendo que raras vezes na minha vida vi um mal-estar tão grande entre nós.

Ontem, o Sr. Rizek se atrapalhou profundamente, ele suava muito, ele não sabia o que fazer, nós ficamos num constrangimento muito grande, os deputados que estavam lá sabem do que estou falando. O próprio Deputado Bruno Covas, com quem tenho uma relação pessoal de amizade por sermos de Santos, não conseguia levantar seus olhos e até o Sr. Júlio Semeghini, que é tão falante, estava minimamente à vontade para conversar sobre isso. Portanto, a Bancada do PT não tem outra saída a não ser se posicionar frontalmente contra este projeto.

 Deputada Regina Gonçalves, nós teríamos que ter tido tempo, e a senhora não é responsável nem tampouco o Deputado Beto Trícoli, nós teríamos que ter tido tempo para aprofundar esta situação. Se o Governo não mandou esse projeto antes, foi irresponsabilidade do Governador, irresponsabilidade do Governo. Não se trata assim a coisa pública; não se trata assim esta Casa; não se trata de maneira açodada e desrespeitosa tudo aquilo que nós, enquanto parlamentares, temos a oferecer enquanto delegado o poder é nosso, da fala, da discussão e principalmente desta Casa de Leis.

Espero que a Casa possa rever sua posição, especialmente a bancada de situação, para que possamos, num futuro próximo, não ter a questão que o Deputado Adriano Diogo tão bem colocou de um arrependimento por algo que poderia ter sido evitado e que não o fizemos.

Eu sei que tentamos ontem. Eu sei que o PV tentou de uma maneira até bastante elegante, mas eu entendo que nós não temos a não ser o “não” a esse projeto, outra situação a ser colocada se não preservar aquilo que é o bem público. Muito obrigada, Sr. Presidente.

 

A SRA. REGINA GONÇALVES - PV - PARA COMUNICAÇÃO - Sr. Presidente, só queria colocar que em virtude do acordo que fizemos de estar abrindo mão e estar repassando a continuidade da discussão para a próxima sessão, só quero colocar que em detrimento da colocação e citação do meu nome assim como também do Deputado Beto Trícoli, que nós, da Bancada do Partido Verde, temos nos esforçado em buscar um texto que seja conciliatório às questões e as prerrogativas de interesses ambientais e os interesses ali envolvidos.

Só quero ressaltar, para que não fique algo não explicado, que na verdade nós estamos discutindo, sim, sobre uma área que já possui uma concessão dentro de uma área de parque, e é essa a grande discussão.

Na verdade essa desvirtuação de uso da área aconteceu há 25 anos. Hoje, nós estamos tentando corrigir para que não tenhamos tantos danos ambientais. Muito obrigada, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para falar contra, tem a palavra a nobre Deputada Ana Perugini.

 

O SR. ENIO TATTO - PT - Sr. Presidente, havendo acordo de lideranças, solicito o levantamento da presente sessão.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental.

Está levantada a presente sessão.

 

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- Levanta-se a sessão às 22 horas 32 minutos.

 

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