08 DE DEZEMBRO DE 2008

059ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO A “ENTREGA DO XII PRÊMIO SANTO DIAS DE DIREITOS HUMANOS E DOS 60 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS”

 

Presidentes: JOSÉ CÂNDIDO e BRUNO COVAS

 

 

RESUMO

001 - JOSÉ CÂNDIDO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Comunica que esta sessão solene foi convocada pelo Senhor Presidente Vaz de Lima, por solicitação do Deputado José Cândido, ora na direção dos trabalhos, com a finalidade de realizar a "Entrega do XII Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos e comemorar os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos".Convida o público presente a ouvir, de pé, o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Orquestra de Viola Caipira e Abaçaí Cultura e Arte, sob a regência do Maestro Rui Tornezzi.

 

002 - NAYANE FRANCO

Representante do Conpaz, faz reflexões sobre a paz, considerando-a consciência do amor, que se forma nas relações mútuas e que deve ser cultivado a cada dia. Lembra, entretanto, que até o presente, a humanidade não conseguiu enxergar e reconhecer o que poderia ser visto como riqueza e complementaridade, considerando o diferente e o rival como o pomo da discórdia. Acrescenta que a humanidade vem buscando galgar o caminho da convivência amistosa, objetivo esse reconhecido através da Declaração dos Direitos Humanos.

 

003 - Presidente JOSÉ CÂNDIDO

Anuncia que no dia 17 de dezembro será realizado, nesta Casa, ato comemorativo dos "40 anos da ocupação militar do Crusp", promovido pelas Comissões de Educação e de Direitos Humanos.

 

004 - LIA BERGMAN

Dá testemunho sobre a vida do ex-ministro e presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos, José Gregori, a quem presta homenagem, com entrega de diploma, em nome do Conpaz.

 

005 - JOSÉ GREGORI

Manifesta a honra de ter sido lembrado para uma homenagem do Conpaz. Diz do respeito que tem pelas pessoas que estavam no Plenário, porque reconhecia que tinham consciência dos direitos humanos, consciência social e a vontade de corrigir o mundo.

 

006 - Presidente JOSÉ CÂNDIDO

Anuncia a apresentação cultural do Trio Peruano, da Comunidade de Arte Milenar do Peru, com as músicas "A paz florescerá" e "Ritual da Alegria".

 

007 - BRUNO COVAS

Assume a Presidência. Diz que havia sido difícil para a Comissão de Direitos Humanos escolher o ganhador do Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos. Procede à entrega de diplomas aos indicados ao Prêmio. Nomeia os demais indicados ao prêmio, que não puderam estar presentes. Dá testemunho sobre a vida do Padre Ticão e informa que havia sido um dos autores de sua indicação para receber o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos. Lembra a luta de Padre Ticão na área da assistência social e na área da saúde, para melhorar qualidade de vida da comunidade da Zona Leste de São Paulo e para a construção da Igreja de São Francisco. Procede à entrega de homenagens.

 

008 - JOSÉ AUGUSTO

Membro da Comissão de Direitos Humanos, declara ter concedido seu  voto ao Padre Ticão e diz que este constitui o exemplo de uma vida inteira dedicada à luta pela democracia, pela paz, pela inserção social e pelos direitos básicos da vida. Lembra a comemoração dos 60 anos da assinatura da Declaração dos direitos universais do homem.

 

009 - ADRIANO DIOGO

Membro da Comissão de Direitos Humano, cumprimenta o Padre Ticão e lembra os 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Manifesta-se contra a tortura no Brasil.

 

010 - Presidente BRUNO COVAS

Convida os Senhores Deputados José Augusto, Adriano Diogo e José Cândido, para fazerem a entrega do Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos ao Padre Ticão.

 

 

011ANTONIO LUIZ MARCHIONI

Padre Ticão, saúda a todos os que foram indicados para o prêmio e diz que este prêmio é da comunidade da Região Leste, na qual está  há 30 anos, como instrumento de luta pela justiça, pela paz e pela vida. Formula o desejo de  que nesta noite possa brilhar a luz, e saúda a vinda de Cristo, para que todos tenham vida e vida em abundância.

 

012 - Presidente BRUNO COVAS

Anuncia ato transreligioso, pelo Conpaz, através do xamã Cyro Leão, conselheiro do Conpaz pela URI.

 

013 - JOSÉ CÂNDIDO

Assume a Presidência. Anuncia apresentação cultural do Grupo Abaçaí, Cultura e Arte de Batuque de Domínio Público das cidades de Tietê, Piracicaba e Capivari. Fala das dificuldades de escolha entre os indicados ao Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos e da homenagem ao Padre Ticão. Agradece às autoridades, aos funcionários desta Casa e àqueles que com suas presenças colaboraram para o êxito desta solenidade. Encerra a sessão.

 

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. José Cândido.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

 

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- É dada como lida a Ata da sessão anterior.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Esta Presidência passa a nomear as autoridades presentes: Sr. José Gregori, ex-Ministro e presidente da Comissão Municipal de Direitos humanos; Padre Ticão, o homenageado de hoje, ganhador do prêmio Santo Dias; Sra. Lia Bergman, representando o Conpaz; Deputado Estadual Bruno Covas; Deputado Estadual Adriano Diogo; e Deputado Estadual José Augusto.

Srs. Deputados, Sras. Deputadas, minhas senhoras e meus senhores, esta sessão solene foi convocada pelo Presidente desta Casa, nobre Deputado Vaz de Lima, atendendo solicitação deste Deputado, com a finalidade de realizar a entrega do XII Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos e comemorar os 60 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos.

Convido todos os presentes para, de pé, ouvirem o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Orquestra de Viola Caipira e Abaçaí Cultura e Arte, sob a regência do maestro Rui Tornezzi.

Antes do início da execução do Hino Nacional gostaria de agradecer a presença do nobre Vereador Juscelino Gadelha, de São Paulo.

 

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- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Esta Presidência agradece a Orquestra de Viola Caipira e Abaçaí Cultura e Arte. É muito bom ouvirmos nosso hino com um ritmo inteiramente brasileiro.

Esta Presidência concede a palavra a Sra. Nayane Franco, representante do Conpaz.

 

A SRA. NAYANE FRANCO - Boa-noite a todos. Em nome do Conpaz cumprimento o Sr. Deputado José Cândido, Presidente da Comissão de Direitos Humanos, e na sua pessoa todos os demais deputados, autoridades e demais presentes.

“Uma lufada de ar fresco. Por que então ter de ser humano, não porque a felicidade exista, não por curiosidade, mas porque estar aqui significa muito, porque tudo aqui é passageiro, embora pareça precisar de nós e estranhamente nos conclame ter sido uma vez, uma vez só que seja, completamente ter sido um com a Terra. Isso está além do revogável”, Rainer Maria Rilke, poeta e escritor alemão.

Ao longo desses dois milênios, fomos nos habituando a uma idéia de paz transcendental, que se busca e se recebe com um dom divino, e não como uma condição essencial à humanidade e ao mundo. Paz na Terra aos homens de boa vontade.

Nós nos habituamos também com a idéia transcendental de amor, como algo buscado e atingido em momentos especiais, e não como condição essencial e permanente para a nossa estada no mundo, para a nossa salvação coletiva e não individual. Assim, a Paz não é um dom, mas a conseqüência desse amor que se fundamenta nas relações, na aceitação mútua e, como ele, deve ser cultivada a cada dia.

Cultivo de uma convivência harmônica das partes como um todo tem que ser construída por nós, cada um de nós. Paz na Terra pelos homens de boa vontade.

Até o presente a humanidade não conseguiu enxergar e reconhecer como valor o amplo espectro de sua diversidade étnica e cultural. Ao contrário, aquilo que poderia ser visto como riqueza pela ótica da complexidade, complementaridade, tem sido sempre o pomo da discórdia, motivo das guerras e da dominação do outro, este visto não como simples outro, mas como desigual e, mais ainda, rival.

Habituamo-nos também à idéia arcaica de que os humanos devem lutar e vencer para sobreviver. Alimentamos competição e luta, criando um viver em competição e luta, não só entre nós, mas também com o meio natural que nos possibilita. Assim, vivemos imersos numa cultura de conflitos, de disputas, de guerra e violência, de dimensão planetária. E os resultados dispensam comentários.

Apesar de todas as religiões e filosofias pregarem o amor e a compreensão entre os povos, olhemos à nossa volta, olhemos para o mundo, corramos os olhos nas manchetes dos jornais, atentemos aos noticiários das TVs. Ontem à noite, 07/12, o São Paulo tornou-se campeão. As disputas que foram travadas nos campos estenderam-se às ruas. Em vez de comemorações saudáveis, respeitosas, destratos de ambas as partes, por todos os lados, predomínio da irracionalidade, culminando com violências fatais, por conta de um simples título, que é sempre uma situação provisória. Agora, enquanto finalizo as linhas deste texto, grupos de torcedores passam pendurados nas janelas, batucando na lataria de ônibus fretados, seguindo não se sabe bem para onde.

Por outro lado, e também já de um tempo, a humanidade vem buscando construir o caminho da convivência harmoniosa entre os semelhantes e com toda a manifestação da vida em nossa comunidade terrestre. Essa necessidade foi ganhando forma a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um marco na história da humanidade, marco que vem se expandindo desde então, sendo encorpados vários documentos de igual importância, frutos da dedicação da comunidade de pensadores e almas comprometidas com a transformação do nosso viver.

Através deles toda a humanidade, cada um de nós, está sendo conclamada, desde então, ao desenvolvimento de uma comunidade de espíritos transculturais, transnacionais, transpessoais, transdisciplinares, transreligiosos, com uma visão completamente aberta, capaz de estabelecer um espaço para o diálogo pleno e franco entre todas as pessoas de suas práticas e vivências, um convite a uma nova forma de relacionamento.

A escritora Lya Luft, em uma inspiradora crônica intitulada “Uma panela de água e sal”, na revista “Veja”, de 26 de novembro de 2008, comenta o habitual rio de desgraça que nos chega pelos jornais e tevês, a política, a mediocridade geral e a alienação particular, todo o drama humano não insolúvel, mas nunca resolvido.

Lembra-nos das mães, por vezes jovens mães, que perto de nós, com um bando de filhos mirrados, desnutridos, não têm o que lhes dar de comer. Crianças com baldes de areia, não para brincar, mas trabalhando, cenas obscenas com as quais convivemos. Fala de sua crença em grandes mudanças nesse tempo de ideologias confusas e cabeças loucas, em que nós mudamos de partido ou de ideal, como quem compra um celular novinho.

Fala-nos de forma especial de sua esperança em algumas transformações individuais e nos convida a um trabalho de formiguinha, onde se espera que cada um faça a sua pequena parte, mudança que poderá entrar em curso quando cada um de nós se esforçar por pensar o tempo todo em alegria e afetos, em vez de buscar sobressair-se; acreditar que o bom e o belo são possíveis, apesar de tudo; pagar à empregada o melhor que puder pagar, em vez de lhe dar pura e simplesmente o mínimo que a lei exige; buscar participar e pertencer, em vez de querermos atordoadamente ter e aparecer; recusar toda e qualquer atitude que rejeite o diálogo e a discussão, qualquer que seja a sua origem de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política, filosófica; reconhecer que o saber compartilhado deve levar a uma compreensão compartilhada, fundamentada no respeito absoluto às autoridades unidas pela vida comum numa só e mesma Terra; não reconhecer privilégio de um determinado lastro cultural, a partir do qual seja possível julgar as outras culturas; reconhecer que a abertura pressupõe a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível e, por isso, exercitar-se diuturnamente na difícil assimilação do direito do outro a idéias e verdades diferentes das suas.

A cultura de Paz, uma dimensão que ainda não conhecemos, supõe antes de tudo um esforço generalizado que transcenda os limites dos conflitos armados, tornando-se também extensivo ao âmbito das escolas, aos lugares de trabalho, aos Parlamentos, à imprensa, ao convívio familiar e aos locais de lazer, para modificar mentalidades e atitudes como o intento de promover uma paz duradoura.

Significa, de forma simplificada, prevenir e transformar as conjunturas que possam engendrar violência, instaurando a paz e a confiança entre as pessoas.

Se conseguirmos ser um pouco menos cegos e arrogantes, quem sabe começaremos a cair na real e a ajeitar a ordem do mundo, que anda tão torta. Isso significa um exercício diuturno de abertura para aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível, do reconhecimento do direito a idéias e verdades diferentes das nossas, o exercício na difícil arte do diálogo e no reconhecimento da diversidade vista como simples diferença, e não como desigualdade. O que deverá possibilitar a todos aqueles que se consideram membros de uma determinada sociedade poder exercer seu direito de participação e igualdade de condição com os demais.

Não. Por mais que possa parecer, não é ingênuo pensar que juntos, com respeito, justiça e igualdade de oportunidades para todos, poderemos transformar a cultura de violência em uma cultura de paz e de não-violência. Que essas sejam atitudes, como uma lufada de ar fresco, em nossa atmosfera carregada e contaminada compassivamente. Que os homens não se reconheçam pela cor da pele, pelo crivo de seus credos ou por opções pessoais, mas pelo rubro de seu sangue. Que se amem todos em um amor de nó. Canário e curió cantem juntos dentro de um mundo só hoje, como nunca.” Toninho Macedo, 1992, inspirado no Poema Catigeró, de Cassiano Ricardo.

Esse texto, elaborado por Toninho Macedo, Diretor Cultural da Abaçaí Cultura e Arte, Conselheiro do Conpaz, foi inspirado nas idéias de Gilbert Cesbron, expressa em “Os Santos vão para o Inferno”, de Humberto Maturana, bem como nos esforços das Vivências da Abaçaí Cultura e Arte.

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Agradecemos as palavras da Sra. Nayane Franco, que representa o Conpaz.

Aproveito a oportunidade para anunciar a presença do Sr. Barbosa, representando o nobre Vereador Tião Farias, de São Paulo.

No dia 17 de dezembro, completam-se 40 anos da ocupação militar do Crusp, Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo, e será realizado nesta Casa um ato comemorativo da resistência dos estudantes, promovido pela Comissão de Educação e de Direitos Humanos. Convido todos para essa solenidade, que será realizada no dia 17 de dezembro, às 20 horas, no Auditório Franco Montoro.

Tem a palavra a Sra. Lia Bergman, que dará testemunho sobre a vida do ex-Ministro e Presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos José Gregori e fará a entrega de uma homenagem.

 

A SRA. LIA BERGMAN - Caro Deputado José Cândido, Presidente da Comissão dos Direitos Humanos desta Casa, em nome de quem saúdo todos os membros da Mesa, demais autoridades e todos os presentes.

Para mim, é uma honra homenagear o nosso sempre Ministro José Gregori, Presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos de São Paulo.

Tive a satisfação de conhecê-lo pessoalmente, quando veio falar na B´nai B´rith do Brasil - entidade judaica de Direitos Humanos à qual pertenço -, há mais de dez anos, participando de um seminário sobre Tendências e Debates, em 1998, organizado pela minha mãe, de saudosa memória, Edda Bergman, que trabalhou junto com o Ministro, como membro da Comunidade Solidária.

Sua indicação pelo Conpaz - Conselho Parlamentar para a Cultura de Paz - desta Casa é mais do que merecida, pela incansável dedicação à causa dos Direitos Humanos, desde a militância na Faculdade de Direito na atuação para restaurar a democracia no Brasil, a partir de 64, até hoje, à frente de um organismo tão pujante como a Comissão Municipal de Direitos Humanos.

Segundo seu currículo, muito resumidamente, foi Presidente da Comissão de Justiça e Paz. Com a volta da democracia ao Brasil, passou a atuar junto aos Governos Estadual e Federal na própria Administração Pública Federal. Em 1997, foi convidado a assumir a chefia da recém-criada Secretaria Nacional de Direitos Humanos, cujo papel era coordenar a aplicação do Programa Nacional de Direitos Humanos, conforme previsto na Declaração e no Programa de Ação de Viena.

No início de 1999, foi elevado a Secretário de Estado para Direitos Humanos, com status de Ministro. Foi o principal responsável pela elaboração da Lei nº 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas até então dadas como desaparecidas durante a ditadura no Brasil.

Em dezembro de 1998, tornou-se o primeiro cidadão brasileiro a receber o Prêmio de Direitos Humanos da ONU. Ocupou a pasta da Justiça, de abril de 2000 a novembro de 2001, no Governo de Fernando Henrique Cardoso. Desde janeiro de 2005, é Presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos de São Paulo.

A Comissão e o Conpaz têm muito em comum. Ambos acreditam na possibilidade de transformação e mobilização social. Ambos atuam para tornar este mundo melhor.

Parabéns ao Ministro e a todos os membros da Comissão Municipal de Direitos Humanos.

 

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- É feita a entrega da homenagem.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Tem a palavra o homenageado, Dr. José Gregori.

 

O SR. JOSÉ GREGORI - Sr. Presidente - duplamente Presidente: Presidente deste ato e meu Presidente; permita-me recordar uma fase da minha vida, pois também fui deputado nesta Casa -, minhas amigas, meus amigos, demais autoridades presentes, estou extremamente honrado com a distinção de ter meu nome lembrado para uma homenagem do Conpaz - Conselho Parlamentar da Cultura de Paz.

Nesta altura da vida procuramos sempre perguntar: mas afinal de contas por que isso? Não encontro muitas razões para esta homenagem, embora não tenha dúvidas de que seja absolutamente sincera.

Estava olhando para este auditório. Conheço boa parte dele. Estava olhando esta bancada de deputados e autoridades. Conheço boa parte dessa bancada. Um dos títulos que tenho para mim mesmo, que me satisfaz quando fico na frente do espelho, é que em algum pedacinho da minha vida lutei junto com pessoas que estão neste plenário ou nesta bancada, pessoas que respeito porque sei que têm consciência dos direitos humanos, têm consciência social e que há uma coisa dentro delas que praticamente as solicita permanentemente para aperfeiçoar o mundo, corrigi-lo, transformá-lo num lugar mais justo, mais igual, mais fraterno, mais pacífico. Esse é meu título que realmente me envaidece. Não tem nenhuma pessoa aqui com quem não tenha um tipo de luta comum num determinado momento da minha vida, que já é tão longa que passa até a assustar os meus adversários. Essa vida me deu o privilégio de cruzar em algum momento com cada uma dessas pessoas que respeito como militantes permanentes dos direitos humanos.

Não interessam as nossas diferenças ideológicas, partidárias, eleitorais. Isso nos torna pessoas de uma pequena tribo deste País que realmente começou a chamar a atenção sobre a importância dos direitos humanos como instrumento de justiça, de igualdade, de pacificação.

Essa pequena tribo está crescendo. Vejo neste plenário uma porção de caras novas - que coisa boa - e são caras novas de jovens que estão se incorporando nessa luta. Vejo novas figuras públicas que também passaram a se dedicar aos direitos humanos. Isso mostra que a nossa luta é uma luta de avanço. Há um mundo de coisas que ainda temos  de fazer. É só abrir o jornal amanhã que vamos ver quanta coisa infelizmente aconteceu no mundo e no Brasil contra os direitos humanos. Mas não podemos negar os avanços, o resultado de tanta luta, de tanta dedicação e de tanto sacrifício.

Nesta solenidade vão ser falados nomes de pessoas que se empenharam aos direitos humanos no limite de oferecer a própria vida. Acho, portanto, que temos muito que caminhar. As feridas das desigualdades e das injustiças do Brasil ainda são enormes, mas acreditem: estivemos numa situação em que praticamente só tínhamos as feridas e nenhum avanço. Agora já temos os avanços e podemos fazer um ato como este em que se fala de direitos humanos, de injustiças, sob o prisma de vários partidos, não de todos, infelizmente, mas de vários partidos, de várias religiões, de várias visões ideológicas.

Tudo isso mostra que o Brasil está se transformando crescentemente num país de pluralismo, num país em que a procura da essência que realmente junta as pessoas é uma responsabilidade de todos.

Para mim é uma alegria rever velhos amigos, todos eles companheiros. Está ali o Padre Ticão. Eu o conheci quando não era tão famoso como é hoje.

Eu era Secretário da Participação, ainda não era de direitos humanos, mas participação era uma forma sintética de falar em direitos humanos. Fui a Brasília e me tornei o representante do Programa do Leite em São Paulo, numa época de crise alimentar no Brasil. Não preciso dizer que a primeira figura que surgiu na primeira convocação que fiz foi o Padre Ticão. Não havia leite que satisfizesse o padre. Eu dizia: padre, o senhor já secou cem vacas. O negócio dele era a Zona Leste. Ele não queria o leite para ele, queria para as crianças, para aqueles que realmente necessitavam. E ele, na flor da mocidade, estava lá. Convocávamos uma reunião às seis horas da manhã: Padre Ticão. Duas horas da manhã: Padre Ticão.

É claro que você fica, para o resto da vida, amigo, admirador e companheiro de uma figura como essa. Eu poderia citar um trecho que enobrece a vida de cada um desses companheiros de plenário, de bancada que, de uma maneira ou de outra, a minha vida cruzou com a deles.

 Isso me deixa muito feliz, sobretudo na hora em que a pessoa que me entrega esse diploma - que eu vou enquadrar e colocar na minha casa para mostrar para as minhas filhas e para os meus netos - é uma pessoa que recorda a luta da sua mãe, uma pessoa que acreditava nos direitos humanos, porque, por tradição familiar, sofreu as conseqüências de não se respeitar os direitos humanos. É uma coisa bárbara quando uma pessoa é capaz de discriminar outra, de não aceitar a outra, de não aceitar a diferença da outra, por razões de raça. Mas outros lutam contra isso, não se conformam que a criatura humana seja capaz de discriminar outra sem nenhuma razão, a não ser pelo fato de terem nascido numa determinada região geográfica. Sem dúvida que a mãe dessa amiga - a Lia Bergman, que me ofereceu esse diploma - foi uma pessoa que lutou contra a discriminação na comunidade judaica.

Portanto, esta é uma noite de legitimidade, porque as pessoas que estão aqui, estão aqui porque acreditam nos direitos humanos. Entretanto, isso não vai parar no Jornal Nacional, não vai parar na novela, não vai aparecer nos editoriais dos grandes jornais. Todos que acham que o mundo é o que a televisão e a novela mostram, o que os editoriais - seja do “Estadão”, seja da “Folha”, ou do “O Globo” - mostram, entram às vezes em quase desespero por não ter ninguém que lute, por não ter ninguém que proteste, por não ter mais ninguém que se sacrifique. Tenho vontade de dizer “Me acompanhem um pouco”, porque se me acompanhassem, estariam hoje aqui, e este plenário estaria lotado de gente que acredita, que luta, que é capaz de se sacrificar, assim como essa bancada e o Presidente.

No meu tempo de deputado, queridíssimo Deputado José Cândido, não sei se esta Assembléia de São Paulo, o Estado líder da Federação, já estaria preparada para aceitar pacificamente e democraticamente um negro como Presidente. Hoje, está aí o nosso amigo, José Cândido, coordenando e comandando os trabalhos desta Sessão, assim como daqui a 40 dias quem vai comandar o Império é um negro também.

Isso é produto dos direitos humanos. Isso é resultado dessa luta anônima, pequena como formiguinha. Em todos os lugares do mundo há montinhos de formiguinhas que vão e lutam, que não se resignam com a injustiça. Isso tudo forma uma espécie de bola de neve. De repente, o mundo muda de atitude e faz coisas que seriam impensáveis anos antes. Esse é o produto, é o resultado da luta pelos direitos humanos.

Aos jovens que agora estão incorporando, digo-lhes com o coração, com o mesmo sentimento de gratidão, de agradecimento, a esta homenagem merecida que recebi: acreditem nos direitos humanos, lutem por eles, apostem neles, vale a pena! (Palmas).

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - A Presidência anuncia também a presença do Frei Valnei Brunetto, coordenador geral da Educafro. Obrigado pela presença.(Palmas).

Passaremos à apresentação cultural do Trio Peruano, da Comunidade de Arte Milenar do Peru Índio, com as músicas “A Paz Florescerá” e o “Ritual da Alegria”.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O Sr. Presidente - José cândido - pt - Obrigado. Foi muito bonita a apresentação. Gostaria de passar a Presidência desta sessão ao nobre Deputado Bruno Covas.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Bruno Covas.

 

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O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Boa-noite, senhoras e senhores. Nesta segunda parte da Sessão Solene, vamos fazer uma homenagem àqueles que foram indicados e àquele que foi selecionado pela Comissão de Direitos Humanos para receber o Prêmio Direitos Humanos, concedido pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.

Este ano, tivemos 12 pessoas inscritas, indicadas por diversas entidades e deputados. Foi, enfim, uma decisão muito difícil da Comissão de Direitos Humanos para escolher aquele que receberia o prêmio final, ganhador do Prêmio Santo Dias - 12ª Edição.

Gostaríamos de começar a segunda parte, fazendo uma entrega do Certificado de Indicação ao Prêmio Santo Dias às pessoas aqui presentes.

Gostaria de chamar o Deputado José Cândido para que faça a entrega ao Sr. Milton Barbosa, um dos indicados ao Prêmio Santo Dias. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ CÂNDIDO - PT - Parabéns, Milton, pela sua participação no Movimento Negro Unificado. Você recebeu muita indicação e abaixo-assinado. Receba então esta singela homenagem. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem.

 

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O SR. MILTON BARBOSA - Antes de tudo, quero agradecer às pessoas que me indicaram e votaram em mim. Esse tipo de coisa é sempre um incentivo à nossa luta, à nossa vida, embora o que nos mova, acima de tudo, seja o senso de justiça, principalmente fazendo parte da população negra, um dos povos mais explorados do mundo. Como um dos fundadores do Movimento Negro Unificado - que desde a Ditadura vem lutando -, ajudamos o fundo de greve dos trabalhadores de São Bernardo do Campo.

Para fechar o ano, fizemos parte das entidades organizadoras, do Tribunal Popular: o Estado brasileiro no banco dos réus. Levamos faixas e velas ao Tribunal de Justiça, e sinto-me homenageado pela presença dos meus irmãos companheiros - como Amelinha, César e sua companheira -, que são pessoas que muito prezo e admiro. Fomos entregar materiais e fotos das pessoas presas, torturadas e desaparecidas, exigindo que os torturadores sejam responsabilizados. Participaram desse tribunal mais de 500 pessoas, e apontamos questões importantes no sentido de frear o processo de matança, de genocídio da população negra e pobre do Brasil.

Muito obrigado pelo diploma. Um abraço; e a luta continua. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Gostaria de chamar o Deputado José Augusto, membro titular da Comissão de Direitos Humanos, para entregar o Certificado à Sra. Maria Amélia de Almeida Teles. (Palmas.)

 

O SR. JOSÉ AUGUSTO - PSDB - Tenho a honra de entregar este Certificado, em nome da Comissão de Direitos Humanos, à Sra. Maria Amélia de Almeida Teles, pela sua indicação ao 12º Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, em virtude da sua corajosa defesa dos direitos humanos, em especial na luta contra a tortura e no combate à violência contra as mulheres. Você é um exemplo de participação, luta e insistência.

Como disse o Deputado Bruno Covas, tivemos muita dificuldade. Todos os indicados merecem o prêmio, e apenas uma pessoa será escolhida. Mas esta homenagem tem a mesma dimensão do Prêmio Santo Dias. Obrigado pela sua participação. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da homenagem.

 

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O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Aberto o precedente, pergunto se a senhora gostaria de fazer o uso da palavra.

 

A SRA. MARIA AMÉLIA DE ALMEIDA TELES - Boa noite, companheiros, Srs. Deputados. Eu me sinto muito honrada em receber a indicação ao Prêmio Santo Dias. Santo Dias foi um amigo meu e fico emocionada em lembrar daquele operário metalúrgico, lá da zona Sul. Era época da ditadura e nós tivemos uma atuação muito próxima; foram muitos domingos que passei junto com Santo Dias, na sua casa, e com Ana. Santo Dias tinha muita preocupação em ter o comportamento feminista: ele fazia questão de, no domingo, fazer o macarrão com frango, que íamos comer na sua casa depois das reuniões.

Fico então muito emocionada ao lembrar de Santo Dias, que tombou nessa luta defendendo o direito de dignidade aos trabalhadores deste país, a democracia e a anistia política. E essa luta continua.

Acho que a manutenção desse prêmio é a continuidade dessa luta, é a atualização da luta e pela dignidade da luta contra a tortura. Ele foi uma vítima da polícia, e isso ainda permanece nos dias de hoje. Ainda assistimos a isso.

Queria só lembrar o seguinte: não sei exatamente como fui indicada para esse momento de hoje, recebendo este Certificado, mas acredito que tenha sido pela ação da família Teles. Quero, assim, estender essa indicação aos meus familiares, à Criméia e ao César que estão aqui comigo, e aos meus filhos. É uma ação em que nós somos autores contra um torturador. Queríamos e conseguimos - é isso que é importante - que o Estado brasileiro declarasse que Carlos Alberto Brilhante Ustra é torturador. Ele torturou, comandou a tortura na Operação Bandeirantes, no Doi-Codi do 2º Exército, no período da Ditadura Militar. Foi responsável pela tortura de centenas e centenas de brasileiros; foi responsável pelo assassinato de pelo menos 64 militantes políticos na época, nas dependências da Operação Bandeirantes, quando era comandante, e muitos desaparecidos políticos. Além de seqüestrarem, torturarem, assassinarem, ainda ocultaram cadáveres. São pessoas que até hoje, nós não tivemos o direito de sepultar dignamente.

E no dia 07 de outubro, a Justiça brasileira declarou o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como torturador. Penso que deve ter sido por esse motivo que meu nome foi indicado para representar a família. É uma vitória que a família Teles quer compartilhar com toda a sociedade brasileira, com todas as pessoas que lutam, que defendem a dignidade e a justiça social.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Esta Presidência solicita ao Deputado Adriano Diogo, membro titular da Comissão de Direitos Humanos, que faça a entrega do diploma ao Sr. Daniel Augusto da Silva, do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba. (Palmas.)

 

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-  É feita a entrega da homenagem.

 

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O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Boa-noite, Presidente Bruno Covas, Deputado José Augusto, demais convidados. O Daniel é advogado do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Sapopemba, entidade fundada por Pablo Olalla, Valdênia, Padre Renato, pelos padres combonianos. Daniel é um jovem e brilhante advogado, que atua na área de direitos humanos, numa região de uma fragilidade enorme em defesa da população. São pouquíssimos os advogados e as entidades do Jardim Alba, do Parque Santa Madalena e de Sapopemba inteira.

Por isso, nada mais justo, Daniel, que vocês recebam o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos, pelo excelente trabalho. Homenageando o Daniel, estamos homenageando a Dra. Valdênia, e todos os companheiros de luta dos Direitos Humanos de Sapopemba. Tem a palavra o Sr. Daniel Augusto da Silva.

 

O SR. DANIEL AUGUSTO DA SILVA - Boa-noite a todos. Agradeço em nome de todos os membros do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba e em nome de toda a população carente da região - que é a razão de ser da nossa luta.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB -  Tivemos também a indicação do Sr. Edivaldo Esteves; Sra. Eugênia Fávero; Sr. Eufrásio Meira; Sr. Givanildo Manoel da Silva; Sr. Marlon Alberto Weichert; Centro de Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva Maria Auxiliadora Lara Barcelos - Casa Ser Dorinha; Comissão Teotônio Vilela e Rede de Comunicações e Movimentos Contra a Violência. Todas essas pessoas e entidades receberão o diploma.

Antes de passar a palavra aos dois deputados inscritos, gostaria de fazer uso da palavra rapidamente, porque tenho a felicidade de ter sido um dos autores da indicação do Padre Ticão à Comissão de Direitos Humanos.

Dois fatos esclarecem bem o porquê de esta Comissão de Direitos Humanos escolher o Padre Ticão. Momentos antes de a Sessão Solene começar, eu conversava com a Irmã Rosa, alguém pediu o currículo do Padre Ticão e ela respondeu que não teria folha suficiente na Assembléia Legislativa para relatar todo o seu trabalho.

Estávamos dando uma entrevista à TV Assembléia, quando o Padre Ticão chamou o Deputado Adriano Diogo e este Deputado, e pediu a nossa ajuda para conseguir um caminhão para levar doações às pessoas que estão sem casa em Santa Catarina. São fatos como esse que justificam a escolha do Padre Ticão pela Comissão de Direitos Humanos, pelo seu envolvimento em diversos assuntos trabalhistas, apoiando greve dos bóias-frias, de professores; na área da Educação, com a construção de creches, cursos da Fatec, USP Leste, uma grande conquista da comunidade; atuação na área da Assistência Social, ACDEM, entidade que também deveria receber o Prêmio Santo Dias.

Atuou na área da Saúde, na luta pela manutenção do Hospital Ermelino Matarazzo, pelos diversos postos de saúde da região e a construção da nova Igreja São Francisco.

Esperamos que essa homenagem oferecida pela Assembléia Legislativa seja uma homenagem tão bonita quanto a luta e quanto a história de vida do Padre Ticão.

O Padre Ticão foi apelidado pelo meu avô, o ex-Governador Mário Covas, de Padre Pidão. Mas como disse o nosso Ministro José Gregori, o Padre Ticão não pede para ele. Ele pede  para a sua comunidade, para as pessoas que ele sabe que precisam, que não têm representantes, que não têm voz, que ficaram excluídas durante anos e que contam com ajuda de pessoas como ele para melhorar a sua qualidade de vida.

Padre, gostaria de cumprimentá-lo por esse prêmio. É um pequeno reconhecimento da Assembléia Legislativa, do povo do Estado de São Paulo, pela sua luta, que dura anos, e tenho a certeza de que vai durar muitos anos mais. Parabéns. (Palmas.)

Tem a palavra o nobre Deputado José Augusto, membro da Comissão de Direitos Humanos, que foi um dos que votaram a favor da indicação do Padre Ticão, para que recebesse essa homenagem. Tem a palavra o Deputado José Augusto.

 

O SR. JOSÉ AUGUSTO - PSDB - Sr. Presidente, Deputado Bruno Covas, quero cumprimentar o Presidente da nossa comissão, Deputado José Cândido, o Deputado Adriano Diogo, nosso companheiro de Comissão, o Juscelino que esteve presente, o Professor José Gregori, que teve que se ausentar, diversas entidades aqui presentes, o Padre Ticão, que é o nosso homenageado. Estamos aqui reunidos nesta noite de hoje com a Comissão de Direitos Humanos e o Conpaz com toda sua entidade.

Como já foi falado aqui, o momento importante na vida da democracia brasileira é exaltar aqueles que têm uma atuação em defesa da vida, da paz, dos direitos humanos. Provavelmente é uma questão multiplicada. Se analisarmos a vida dos dois homenageados de hoje, um do Conpaz, Professor José Gregori, e o Padre Ticão são dois exemplos grandes, uma vida inteira dedicada à luta da democracia, da paz, da inserção social, dos direitos básicos da vida.

Esta Casa hoje está comemorando os 60 anos em que fizemos a assinatura dos direitos universais do homem. Estamos aqui comemorando com esse prêmio Santo Dias todas as entidades.

Já foi contada aqui a história do Padre Ticão, só esquecemos de falar sobre a habitação. O Padre Ticão, com essa sua alegria, participa de tudo sempre com essa serenidade, com essa vontade de ajudar todo mundo. A Comissão de Direitos Humanos sabe que tudo isso é para que possamos ter direito à vida. O Padre Ticão na sua luta pedia o leite, o alimento, a casa, a escola, a creche porque essa é a luta pela vida.

Quero cumprimentar aqui o Padre Ticão, que fazia tempo que eu não o via. Ele está ampliando a sua força, a sua vontade, cada dia mais presente em todas as lutas. Quero dizer que o senhor foi o nosso escolhido, o nosso homenageado pela sua coerência. Uma das coisas mais bonitas que um homem pode ter na vida é a sua coerência. Há pessoas que lutam um tempo e depois passam a bandeira para outras. Há pessoas que batalham um pouco, desistem, e voltam novamente. Mas o Padre Ticão não. A vida inteira dele é dedicada ao ser humano, à vida, aos humildes, aos que precisam. É lógico que não é somente uma dedicação momentânea, mas persistente. Ele luta e consegue os avanços. E não é só isso, o Padre Ticão tem uma outra característica. Há pessoas que buscam respostas, mas o Padre Ticão não. Ele luta por uma das mais importantes questões que podemos recolocar hoje e nunca vão perder o sentido e essa dimensão, que é a organização da sociedade. Todo instrumento de sua luta, ele quer que ele transforme na organização, na valorização dessa força que o povo tem que ter para suas conquistas, para sua liberdade.

Padre Ticão, eu me sinto honrado em estar aqui, hoje, prestando esta homenagem. Quero cumprimentar também a nossa Lia e a dona Yeda, que também é incansável na luta da nossa Casa, sempre carinhosa. Peço uma salva de palmas para os nossos homenageados de hoje. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Este Deputado e o Deputado Adriano Diogo indicamos o Padre Ticão para a Comissão de Direitos Humanos deliberar.

Tem a palavra o nobre Deputado Adriano Diogo.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Padre Ticão, boa-noite. Padre Ticão, Deputado Bruno Covas, eu cheguei daquela assembléia de Ermelino Matarazzo turbinado, agitado. Como a gente ia pôr no Orçamento aquela questão da Unesp?  Eu estava agitado, fui procurar o Bruno Covas para falar com ele. Ele falou: “Vamos fazer uma homenagem ao Padre Ticão. No Prêmio Santo Dias, eu vou articular isso”. Era dia 18 de novembro, véspera do feriado do Dia da Consciência Negra. Foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos e estamos aqui hoje não só falando do Padre Ticão, mas também do Miltão, da Amelinha.  Padre Tição, quando eu acordei hoje, de manhã, pensei: “Bom,  hoje é dia 8 de dezembro”. Pensei até que era o dia do AI-5. Falei: “Mas hoje é o dia da rebordosa? Hoje, é o dia do AI-5?” Pensei: “Não. AI-5 foi dia 13. Hoje, faz 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. Olha, Ticão, vamos lá hoje à noite na Assembléia”. Ele não estava muito a fim de vir aqui na Assembléia, ele queria fazer lá em Ermelino. “Ticão, vamos lá porque vai estar lá a Amelinha, a Criméia, o César, o pessoal do Educafro, o Ministro José Gregori, o Miltão, vai estar todo mundo lá”. E, aí, como se eu estivesse pensando acordado, falei: “Olha, Ticão, o Presidente Lula vai anunciar hoje que vai abrir todos os arquivos da ditadura, da Guerra do Paraguai, do Acre, para discutir com o Evo Moralles, da Bolívia, a questão do Acre e vai chamar a Amelinha lá em Brasília para dar um prêmio a ela e falar: “Amelinha, é o seguinte: Você é o símbolo do Brasil. Você foi atrás de todos os nazistas. Vou chamar os nazistas brasileiros. Vou chamar o Roberto Lopes aqui, Amelinha, e você vai pegar todos os caras da diplomacia que venderam a Olga Benario para o Hitler. Aquele diplomata brasileiro junto com aquele venezuelano e boliviano.

Amelinha, além do nosso holocausto, você vai abrir todos os arquivos da escravidão. Vamos ver quantas pessoas foram mortas, quantas foram vendidas, quem esteve envolvido (igreja católica) nesse holocausto do povo brasileiro que ainda não foi aberto e aí o Presidente Lula anunciaria que toda tortura estaria banida. Que as tropas brasileiras, assim que Obama assumisse, Ticão, voltariam do Haiti. Elas não têm o que fazer no Haiti: matar o povo de lá, torturar a população de lá. (Palmas.) Achei que até Dom Angélico viesse aqui hoje, ele que está exilado em Santa Catarina na resistência junto com o povo. Imaginei que até Dom Angélico fosse entrar aqui e falar: Ticão, cadê os meus caminhões? Afinal, você organizou ou não esse socorro ao povo de Blumenau?Pensei até que o Miltão Porsani viria lhe homenagear aqui hoje. Mas aí eu acordei e vi que estava sonhando. Pensei: “Bom, parte dos sonhos está realizado. O Educafro está aqui.” A elite branca continua não aceitando as cotas. Naquela USP da Zona Leste, nem os pobres de lá podem entrar. Mas um dia vão entrar na USP, na Unesp, na Unifesp, na Unicamp. Esta vai ser a realidade do povo brasileiro e você, Ticão, que com 28 anos foi para a Vila Ré ser padre, que era perseguido e ameaçado de morte por causa das ocupações com o Valfredo e seus irmãos, está aqui hoje sendo homenageado pelo Bruninho Covas. Como o mundo dá voltas!

Ticão, nem todos os nossos sonhos foram realizados, mas boa parte deles está acontecendo.

Parabéns Bruninho. Parabéns Ticão. 

Amelinha, minha irmã, chega de tortura neste País.

Ustra, assassino do povo brasileiro. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Quero chamar os Deputados José Augusto, Adriano Diogo e José Cândido para que nós quatro façamos a entrega do Prêmio Santo Dias ao Padre Ticão.

 

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-  É feita a entrega do prêmio.

 

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O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Tem a palavra o Sr. Antonio Luiz Marchioni, oPadre Ticão.

 

O SR. ANTONIO LUIZ MARCHIONI - Boa-noite a todos. Serei breve porque tem gente de longe.

Quero saudar o Deputado José Cândido, que conheço desde as comunidades Kolping, o Padre Paulo, quero saudar os Deputados Bruno Covas, Adriano Diogo, José Augusto, os Vereadores Juscelino Gadelha e Tião Farias e a todos os que receberam este prêmio nesta noite.

Este prêmio, na realidade, é de uma comunidade. Estou na região leste há 30 anos e nestes 30 anos - aquilo que o ex-Ministro José Gregori colocou - prego os Direitos Humanos como um instrumento de luta pela justiça, pela paz, pela vida. Passou-se uma imagem extremamente negativa de quem lutava pelos Direitos Humanos. Transformaram aquela expressão dos profetas o mel, em fel.

Quero dizer que este prêmio é de Dom Paulo Evaristo Arns. (Palmas.) Dom Paulo foi criminalizado por um setor da imprensa. A desmoralização que ele sofreu por setores de uma elite dominante neste País foi muito forte. A nossa comunidade está fazendo hoje uma exposição com 60 fotos de Dom Paulo, que está celebrando 87 anos. Este prêmio é de todas os anônimos que fizeram da sua luta a defesa da vida e da justiça. Temos aqui milhares e milhares de lideranças que nestes últimos anos fizeram dos Direitos Humanos uma prática. Então, Direitos Humanos para nós é aquilo que há de mais sagrado: a defesa da vida.

Hoje, celebrando os 60 anos dos Direitos Humanos, podemos dizer que a humanidade evoluiu bastante, mas ainda tem muito a fazer.

Frei Beto escreve agora falando da crise. A crise, a crise, a crise está chegando. E ele diz “A África vive numa crise há centenas de anos e não está na imprensa.” Há países ainda em que os Direitos Humanos não chegaram.

Gostaria de dizer nesta noite que este prêmio pudesse ser um estímulo a todas as comunidades, entidades, a todos os movimentos à continuidade da luta pelos Direitos Humanos.

Não é possível, na cidade mais rica do Brasil, milhares e milhares de crianças não terem creche ou jovens não terem acesso ao segundo grau. Na periferia temos milhares de jovens excluídos da Educação, do emprego. Temos aqui representantes do movimento da Terceira Idade, outro setor da população onde os Direitos Humanos ainda não chegaram plenamente.

Está aqui a ACDEM, uma associação que trabalha com 505 pessoas especiais, que estão conseguindo mais espaços e também outro grupo de pessoas que são excluídas dos seus direitos. Poderíamos aqui fazer uma lista enorme, mas gostaria, sim, de agradecer de coração a todos que vieram, de perto, de longe. Este prêmio é de todos nós.

Temos ainda uma longa caminhada nessa conquista dos direitos humanos, da comunicação. A comunicação, como foi dito aqui, controlada por uma minoria. Lembro-me de que estava aqui o Ministro Gregory e, no período em que ele era ministro, colocamos uma rádio comunitária no ar e era chamada ilegal. Quando chegou lá a Polícia Federal eu disse: não é ilegal. Ela é apenas alegal. Ainda não tem uma lei. Daí me levaram na Rua Piauí. O ministro estava em Santa Catarina e ligou: “solta o padre”. Para ver que as rádios ainda não chegaram na periferia, não chegou o direito da  comunidade de ter sua comunicação, que é um direito fundamental.

Gostaria de terminar falando do direito à cultura. Vimos aqui o grupo Abaçaí, o Antoninho Macedo, que faz um trabalho fantástico e vamos ver se ele vai para a zona leste também, ele que fez uma apresentação da comunidade peruana.

Deixo um abraço, um beijo a todos, e que esta noite possa brilhar. Estamos perto do Natal e a vinda do Cristo é para que todos tenham vida, vida em plenitude. A vida é sagrada.Quando falamos da luta dos direitos humanos entra como esse instrumento de defesa da vida. A religião tem que ser cada vez mais um instrumento da  conquista da vida, da cidadania. Como foi dito aqui, a religião, o esporte e outros tantos instrumentos importantes da sociedade ainda vivem num mundo fechado, e não contribuem tanto quanto poderiam pela vida, pela justiça.

Um abraço a todos e muito obrigado pela presença.(Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Teremos agora um ato transreligioso pelo Conpaz, por intermédio do xamã Cyro Leão, que é conselheiro do Conpaz pela Iniciativa das Religiões Unidas.

 

O SR. CYRO LEÃO - Boa-noite a todos e todas, às autoridades presentes. Vamos fazer neste momento um toque de tambor. A minha tradição é a xamânica, uma das mais antigas que se conhece. Faço parte da URI - United Religion Iniciative, ou, Iniciativa das Religiões Unidas, que é um órgão da ONU e temos a honra de também fazer parte como conselheiro no Conselho Parlamentar  para um Cultura de Paz. Dentro da nossa idéia como URI estamos no mundo inteiro e o nosso propósito é fazer que haja união entre as religiões, trazer uma cultura de paz de tal forma que as pessoas possam estar em harmonia dentro do seu credo, dentro da sua fé, seja ela qual for. Todas as religiões merecem respeito, porque cada religião traz um sagrado e esse sagrado faz parte de todas. O Criador quando veio aqui pela primeira vez, reuniu todas, e passou os seus ensinamentos. Cada um adaptou de acordo  com seu código de crença, seu código de ética, e as religiões foram sendo fundadas. Cada uma tem suas peculiaridades, mas uma coisa é comum a todas, o amor. O amor ao Criador, ao próximo, a si mesmo e à humanidade.

Este tambor tem um ritmo que vamos tocar. Tenho certeza de que todos vocês conhecem esse ritmo, porque ele é o primeiro som que, como crianças, ouvimos no útero de nossas mães, que é o som do coração. Então vamos fazer esse som e pediria aos que estão na platéia, às autoridades que procurem relaxar, descruzar as pernas, fechar os olhos - aqueles que quiserem -, e entrem em contato com o seu coração, não importando a sua religião. Entre em contato com o teu sagrado maior.

Convido meu irmão peruano e sua família, que representam as tradições nativas e as religiões do Peru, da Pacha Mama. São pessoas que têm grande poder de cura através do som. Sinto-me muito honrado pelo Conpaz tê-los trazido para nos presentear com isso e fazer um trabalho de cura através do seu som para esta Casa, que de tanta cura e amor precisa, porque é uma Casa que legisla, as oposições em tudo estão sempre presentes, e o que precisamos é de harmonia. Peço também que na medida em que for fazendo o som que os tambores do Abaçaí possam entrar e todos nós comunguemos na mesma fé, no mesmo sagrado de cada um.  

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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O SR. PRESIDENTE - BRUNO COVAS - PSDB - Agradeço ao xamã Cyro Leão e passo a Presidência ao Deputado José Cândido para anunciar nossa última atração.

 

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- Assume a Presidência o Sr. José Cândido.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Teremos agora uma apresentação cultural do Grupo Abaçaí, Cultura e Arte de Batuque de Domínio Público das cidades de Tietê, Piracicaba e Capivari.

 

O SR. PARTICIPANTE - Srs. Deputados, peço licença para quebrar um pouco o protocolo. Antes do batuque vamos homenagear não só o Padre Ticão, mas todos aqueles que se sintonizam no sagrado. Na noite do sábado estávamos no Ceará e rapazes de um dos grupos cantaram que dançar e cantar não é coisa dos rapazes e das moças; se não é dos rapazes e das moças, é do coração, é da alma, é do feminino. Então, já se falou da Pacha Mama e queremos homenagear a nossa grande mãe.

 

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- É feita a apresentação musical.

 

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Obrigada. Eu, Carol Aniceto, em nome do nosso elenco da Abaçaí Cultura e Arte, agradeço ao Conpaz pelo convite, à Assembléia Legislativa de São Paulo, a todos os presentes e aos que direta e indiretamente também estão ligados a este importante evento.

 

O SR. PRESIDENTE - JOSÉ CÂNDIDO - PT - Esgotado o objeto da presente sessão, antes de encerrá-la, esta Presidência agradece a todas as autoridades presentes, a todos os funcionários desta Casa que se empenharam na realização desta sessão, principalmente a vocês que vieram de longe abrilhantar esta sessão solene, agradecendo também aos grupos que aqui se apresentaram, que nos envaideceram muito. Agradecemos a presença de todos vocês. Queremos dizer ao nosso homenageado, Padre Ticão, que esta homenagem foi mais do que merecida. Padre Ticão quem vota este prêmio são os Deputados da Comissão de Direitos Humanos. Como já foi dito pelos nobres pares desta Casa, que usaram a palavra anteriormente, foi muito difícil a escolha porque todas as pessoas indicadas têm méritos para serem homenageadas.  Algumas pessoas, além da indicação individual, também tiveram a indicação com abaixo assinado, enfim houve muitas indicações, mas o homenageado, com muito privilégio e merecimento, foi o senhor, Padre Ticão. Parabéns por ter vindo a esta sessão, aceitando este momento solene da Assembléia Legislativa, momento muito honroso, tanto para o homenageado, quanto para as lideranças e as autoridades que têm vindo aqui nas nossas sessões solenes.

Está encerrada a presente sessão.

 

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-  Encerra-se a sessão às 22 horas e 44 minutos.

 

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