16 DE DEZEMBRO DE 2010

159ª SESSÃO ORDINÁRIA

 

Presidentes: DAVI ZAIA, ANTONIO MENTOR, BARROS MUNHOZ, ED THOMAS e JOÃO BARBOSA

 

Secretários: WALDIR AGNELLO, CONTE LOPES, ROBERTO MORAIS, OTONIEL LIMA, BRUNO COVAS, ED THOMAS, JOSÉ BITTENCOURT, GILMACI SANTOS, GIL ARANTES e JOÃO BARBOSA

 

RESUMO

PEQUENO EXPEDIENTE

001 - DAVI ZAIA

Assume a Presidência e abre a sessão.

 

002 - CARLOS NEDER

Parabeniza a Associação Paulista de Saúde Pública pelo aniversário. Lê histórico da entidade. Anuncia e cumprimenta os membros da nova diretoria. Cita a Revista Saúde e Debate, reconhecida pelos profissionais da área.

 

003 - CARLOS GIANNAZI

Apela aos Parlamentares quanto ao orçamento destinado ao Poder Judiciário. Diz que tanto os servidores como a população sofrerão as consequências do corte de verbas para a Justiça.

 

004 - CARLOS GIANNAZI

Reivindica recursos para a construção de políticas públicas judiciárias em favor de crianças e adolescentes. Tece críticas quanto à implementação de projetos nessa área. Diz que o corte orçamentário para a Justiça transgride a Lei de Responsabilidade Fiscal. Compara dados do que foi requerido pelo Judiciário e o que será liberado pelo Governo.

 

005 - MARCOS MARTINS

Afirma que a interferência do Poder Executivo restringe a ação dos Deputados e impede a aprovação de projetos de lei. Recorda lei, de sua autoria, que proíbe o uso do amianto. Cita outros projetos de sua autoria que gostaria de ver aprovados. Tece críticas à peça orçamentária por não contemplar a maioria das emendas parlamentares.

 

006 - DONISETE BRAGA

Anuncia dados da pesquisa CNI/Ibope, que aponta avaliação positiva recorde do Presidente Lula. Diz que a Presidente eleita, Dilma Rousseff, deverá manter os avanços em projetos nas áreas da Educação, Saúde e Segurança Pública. Comenta a Lei da Billings.

 

007 - CARLOS GIANNAZI

Faz comentários sobre o PLC 45/10. Adianta que a Bancada do PSOL se encontra em obstrução à propositura. Explica as consequências da possível aprovação do projeto. Cita o montante investido pelo Estado nas organizações sociais.

 

008 - Presidente DAVI ZAIA

Convoca duas sessões extraordinárias, a serem realizadas hoje, com dez minutos de intervalo entre ambas, sendo a primeira com início dez minutos após o término desta.

 

009 - OLÍMPIO GOMES

Manifesta-se contrário ao parecer do relator do orçamento, Deputado Bruno Covas. Alega total subserviência deste Parlamento ao Poder Executivo. Diz que as reivindicações da população, por meio de audiências públicas, foram ignoradas. Informa que não há recursos previstos no orçamento para contemplar as datas-bases do funcionalismo público.

 

010 - CARLOS GIANNAZI

Pelo art. 82, comenta a crise na área da Saúde. Repudia a falta de investimentos no Hospital do Servidor e no Departamento de Perícias Médicas do Estado de São Paulo. Diz que denúncias apontam atrasos na publicação de mais de 40 mil perícias médicas. Pede urgência na instalação da CPI para apurar as irregularidades.

 

011 - CARLOS GIANNAZI

Requer a suspensão dos trabalhos até as 16 horas e 30 minutos, com o assentimento das lideranças.

 

012 - Presidente DAVI ZAIA

Defere o pedido e suspende a sessão às 15h34min.

 

013 - ANTONIO MENTOR

Assume a Presidência e reabre a sessão às 16h32min.

 

014 - VAZ DE LIMA

Solicita a suspensão dos trabalhos, para entendimento das lideranças, por uma hora.

 

015 - Presidente ANTONIO MENTOR

Defere o pedido e suspende a sessão às 16h33min.

 

016 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência e reabre a sessão às 17h38min.

 

017 - GILSON DE SOUZA

Pede a suspensão dos trabalhos até as 18 horas, por acordo de lideranças.

 

018 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido e suspende a sessão às 17h39min.

 

019 - DAVI ZAIA

Assume a Presidência e reabre a sessão às 18 horas.

 

020 - BRUNO COVAS

Para comunicação, cita conversas com Deputados do PT durante reunião da Comissão de Finanças e Orçamento, que apreciava a peça orçamentária.

 

021 - RUI FALCÃO

Para comunicação, informa o falecimento do Sr. Odair Cordeiro, em Porto Velho, fundador do PT local. Tece considerações sobre a necessidade de diálogo sobre o projeto que trata do orçamento.

 

022 - BRUNO COVAS

Requer a suspensão da sessão por trinta minutos, por acordo de lideranças.

 

023 - Presidente DAVI ZAIA

Defere o pedido e suspende a sessão às 18h04min.

 

024 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência e reabre a sessão às 18h31min.

 

ORDEM DO DIA

025 - Presidente BARROS MUNHOZ

Coloca em discussão o PLC 45/10.

 

026 - VAZ DE LIMA

Requer a prorrogação da sessão por 2 horas e 30 minutos, por 2 horas e 29 minutos, por 2 horas e 28 minutos, por 2 horas e 27 minutos e por 2 horas e 26 minutos.

 

027 - Presidente BARROS MUNHOZ

Coloca em votação e declara aprovado o requerimento de prorrogação da sessão por 2 horas e 30 minutos, restando prejudicados os demais requerimentos.

 

028 - CARLOS GIANNAZI

Pede verificação de presença.

 

029 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada de verificação de presença, que interrompe ao constatar quorum regimental.

 

030 - ADRIANO DIOGO

Discute o PLC 45/10.

 

031 - RAUL MARCELO

Discute o PLC 45/10.

 

032 - ED THOMAS

Assume a Presidência.

 

033 - ADRIANO DIOGO

Solicita verificação de presença.

 

034 - Presidente ED THOMAS

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada de verificação de presença, que interrompe ao constatar quorum regimental.

 

035 - OLÍMPIO GOMES

Discute o PLC 45/10.

 

036 - RUI FALCÃO

Discute o PLC 45/10.

 

037 - JOÃO BARBOSA

Assume a Presidência.

 

038 - CARLOS GIANNAZI

Declara que a bancada do PSOL está em obstrução ao PLC 45/10.

 

039 - Presidente JOÃO BARBOSA

Registra a manifestação.

 

040 - DAVI ZAIA

Assume a Presidência.

 

041 - CARLOS NEDER

Discute o PLC 45/10.

 

042 - CARLOS GIANNAZI

Pede verificação de presença.

 

043 - Presidente DAVI ZAIA

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada de verificação de presença, que interrompe ao constatar quorum regimental.

 

044 - JOÃO BARBOSA

Assume a Presidência.

 

045 - CARLOS GIANNAZI

Discute o PLC 45/10.

 

046 - SIMÃO PEDRO

Discute o PLC 45/10.

 

047 - SIMÃO PEDRO

Pede verificação de presença.

 

048 - Presidente JOÃO BARBOSA

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada de verificação de presença.

 

049 - Presidente BARROS MUNHOZ

Assume a Presidência. Interrompe a chamada de verificação de presença ao constatar quorum regimental.

 

050 - PEDRO TOBIAS

Discute o PLC 45/10 (aparteado pelos Deputados Roberto Morais e Enio Tatto).

 

051 - CARLOS GIANNAZI

Para comunicação, parabeniza o Deputado Pedro Tobias por discutir o PLC 45/10, como representante da situação. Esclarece que nunca foi sindicalista. Combate o PLC 45/10 quanto ao ressarcimento de valores. Informa que há leis nesse sentido.

 

052 - HAMILTON PEREIRA

Discute o PLC 45/10.

 

053 - ADRIANO DIOGO

Solicita verificação de presença.

 

054 - Presidente BARROS MUNHOZ

Defere o pedido e determina que seja feita a chamada de verificação de presença, que interrompe ao constatar quorum regimental. Convoca os Srs. Deputados para a sessão ordinária de 17/12, à hora regimental, com ordem do dia. Lembra-os da realização da sessão extraordinária, com início às 21 horas e 40 minutos de hoje. Encerra a sessão.

 

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- Assume a Presidência e abre a sessão o Sr. Davi Zaia.

 

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O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIII Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Convido o Sr. Deputado Waldir Agnello para, como 1º Secretário “ad hoc”, proceder à leitura da matéria do Expediente.

 

O SR. 1º SECRETÁRIO - WALDIR AGNELLO - PTB - Procede à leitura da matéria do Expediente, publicada separadamente da sessão.

 

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- Passa-se ao

 

PEQUENO EXPEDIENTE

 

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O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, tem a palavra o primeiro orador inscrito, nobre Deputado Rui Falcão. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Vitor Sapienza. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Roberto Engler. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Antonio Salim Curiati. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Enio Tatto. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Roberto Felício. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado José Augusto. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado José Bittencourt. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado José Zico Prado. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Uebe Rezeck. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Roberto Morais. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Roque Barbiere. (Pausa.) Tem a palavra a nobre Deputada Maria Lúcia Amary. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Pedro Tobias. (S. Exa. desiste da palavra.) Tem a palavra o nobre Deputado Roberto Massafera. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Vanderlei Siraque. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Marcos Martins. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Neder.

 

O SR. CARLOS NEDER - PT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, telespectadores da TV Assembleia, assomo à tribuna para comemorar os 38 anos de fundação da Associação Paulista de Saúde Pública. Essa Associação foi fundada em 15 de dezembro de 1972, por iniciativa de professores da Faculdade de Saúde Pública da USP e de sanitaristas que atuavam - e alguns ainda hoje atuam - na Secretaria de Estado da Saúde.

Quando me refiro aos sanitaristas, não falo somente dos médicos sanitaristas. Há profissionais especializados em Saúde Pública de diferentes áreas de conhecimento, formando equipes multiprofissionais e interdisciplinares que atuam em defesa do Sistema Único de Saúde e da Seguridade Social. Esses profissionais compõem o corpo diretivo e de associados da Associação Paulista de Saúde Pública (APSP).

Há exatamente 38 anos era fundada a APSP, por iniciativa conjunta desses professores da Faculdade de Saúde Pública e de sanitaristas da Secretaria de Estado da Saúde. A APSP nasceu em defesa das demandas dos sanitaristas do Estado de São Paulo, inicialmente preocupados com as doenças infecto-contagiosas e, progressivamente, com outros agravos à saúde que foram ganhando importância nos indicadores de morbi-mortalidade e que passaram a exigir o enfrentamento de seus determinantes pelo Poder Público.

O primeiro Congresso de Saúde Pública, organizado pela Associação, ocorreu em 1977. Caminhamos agora para a realização do 12º Congresso, a ser realizado em São Bernardo do Campo, entre os dias 22 e 26 de outubro de 2011, que terá como tema “Saúde e Direitos”.

Quero, portanto, aproveitar esta oportunidade para fazer menção às conquistas obtidas pela APSP nesses 38 anos de sua existência, bem como ao fato de que é responsável pela edição da Revista “Saúde e Sociedade”, de sua responsabilidade e da Faculdade de Saúde |Pública da USP, indexada e reconhecida por sua qualidade técnica e científica em toda a área de Saúde, atendendo aos requisitos para a publicação de trabalhos acadêmicos e de profissionais que atuam na perspectiva da defesa do SUS, da Seguridade Social e da Intersetorialidade.

Documento recém-editado pela Diretoria da APSP traz a informação de que novos profissionais de Saúde continuam a ingressar na Associação especialmente preocupados com a defesa da  reforma sanitária, voltada à garantia do direito universal e coletivo à saúde e à qualidade de vida em nosso País.

Senhor Presidente, solicito que fique registrado nos anais desta Casa que tomou posse uma nova diretoria na Associação Paulista de Saúde Pública, tendo à frente o Dr. Paulo Fernando Capucci - Presidente. Também fazem parte da diretoria:

Marília Cristina P. Louvison - vice-Presidente

Elaine Maria Giannotti - Diretora de Captação de Recursos e Finanças

Daniele Pompei Sacardo - Diretora de Extensão

Marco Antonio Manfredini - Diretor de Comunicação

Jorge Harada - Coordenação do XII Congresso Paulista de Saúde Pública

Conselho Deliberativo

Ademar Arthur Chioro dos Reis, Alexandre Nemes Filho, Daniele Marie Guerra, José Carlos de Moraes, José da Rocha Carvalheiro, José Ruben de Alcântara Bonfim, Juan Stuardo Yasle Rocha, Lúcia Yasuko Izumi Nichiata, Luís Carlos Casarin, Ozíris Simões, Paulo Antonio de Carvalho Fortes, Pedro Dimitrov, Rosilda Mendes, Sonia Aparecida Alves e Vânia Barbosa do Nascimento.”

Sr. Presidente, faço esses elogios à nova diretoria em nome de todos os deputados desta Casa, desejando um trabalho pleno de sucesso. Parabenizo-os no momento em que se comemoram esses 38 anos da APSP, bem como pela circulação de uma revista plural, mas sempre em defesa do SUS.

Neste momento, em que há um novo ataque à afirmação de um Sistema Público de Saúde, universal e de qualidade, em que se pretende avançar ainda mais na privatização da Saúde e na terceirização da gestão, é muito importante que tenhamos a APSP organizada e atuante em nosso Estado.

Muito obrigado.

 

O Sr. Presidente - Davi Zaia - PPS - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Hamilton Pereira. (Pausa.) Tem a palavra a nobre Deputada Maria Lúcia Prandi. (Pausa.) Tem a palavra a nobre Deputada Beth Sahão. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Simão Pedro. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Adriano Diogo. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Edson Ferrarini. (Pausa.) Tem a palavra a nobre Deputada Vanessa Damo. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Luis Carlos Gondim. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Antonio Mentor. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Geraldo Vinholi. (Pausa.) Tem a palavra a nobre Deputada Célia Leão. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Samuel Moreira. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Celso Giglio. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Edson Giriboni. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Otoniel Lima. (Pausa.)

Esgotada a lista de oradores inscritos para falar no Pequeno Expediente, vamos passar à Lista Suplementar.

Tem a palavra o nobre Deputado Rui Falcão. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Uebe Rezeck. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Edson Ferrarini. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. Carlos Giannazi - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público presente, telespectador da TV Assembleia, mais uma vez gostaria de fazer um apelo aos 94 deputados desta Casa de Leis, em especial aos líderes partidários, no sentido de que possamos restituir o Orçamento do Judiciário, cortado em aproximadamente 54% pelo Executivo.

O Orçamento de 12 bilhões e 600 milhões de reais sofreu um corte, diria eu, criminoso contra a população do Estado de São Paulo. Esse corte representa um duro golpe na Justiça, mas também um duro golpe na população do nosso Estado, que vai continuar refém e vítima de uma Justiça burocrática, cara e extremamente morosa. Esse é um dos efeitos nefastos e danosos desse corte promovido pelo Governo do Estado, pelo Governo do PSDB, pelo Governador Alberto Goldman.

No parecer apresentado na Comissão de Finanças e Orçamento pelo Deputado Bruno Covas, não houve a restituição desses valores. Ou seja, a população vai continuar a sofrer e, mais ainda, sofrerão os servidores do Judiciário. Mantido esse corte, eles provavelmente entrarão em greve no início do ano que vem. O Tribunal vai parar porque os servidores vão entrar em greve - e com razão, até porque houve um dissídio coletivo assinado entre o Tribunal de Justiça e os servidores, por meio das entidades representativas, que não será cumprido por conta desse corte.

Se nada fizer, se não restituir o valor orçamentário enviado pelo TJ ao Palácio dos Bandeirantes, a Assembleia Legislativa será responsável também por mais uma paralisação dos servidores. Uma justa greve, porque a situação no Tribunal de Justiça, do ponto de vista das condições de trabalho e, sobretudo, das condições salariais, tornou-se insustentável. É nesse sentido que fazemos esse apelo.

Em segundo lugar, também fazemos um apelo para que o valor seja restituído no sentido de que possamos viabilizar o investimento na Coordenadoria da Infância e Juventude do Poder Judiciário, uma área estratégica do Poder Judiciário para o Estado de São Paulo. Na peça orçamentária original enviada ao Palácio dos Bandeirantes, havia uma proposta de investimento de 26,856 milhões de reais para essa área tão importante na defesa da criança e do adolescente, como reza e obriga a Constituição Federal e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas o Governador Alberto Goldman fez um corte reduzindo esse valor para um valor simbólico de 10 reais. Esse foi o corte feito numa área como essa.

É por isso que digo que foi um corte criminoso. Um Governo que corta o orçamento que viabiliza investimento em políticas públicas do Poder Judiciário para crianças e adolescentes, violando o Estatuto da Criança e do Adolescente, afrontando a Constituição Federal, está cometendo um crime. E não podemos nos calar dessa maneira.

Apelamos aos deputados e deputadas da Assembleia Legislativa, para que reaja e não seja submissa e passiva, fazendo a recomposição do Orçamento do Judiciário na peça que será aprovada no plenário nos próximos dias, em cumprimento, sobretudo, à Constituição Federal e ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Neder. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Luciano Batista. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Roque Barbiere. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Rogério Nogueira. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Otoniel Lima. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, volto a esta tribuna e gostaria, além desse debate em torno do Poder Judiciário e de outras áreas como a Educação, a Saúde e a Segurança Pública, e dessa questão do corte criminoso na área de investimento e de construção de políticas públicas na defesa das crianças e dos adolescentes, frisar sobre os dados apresentados no Orçamento. O Tribunal de Justiça pediu um investimento de quase 27 milhões no projeto original encaminhado ao Palácio dos Bandeirantes, e o Governo Executivo estadual do PSDB cortou praticamente todo esse valor, deixando apenas um valor simbólico na peça orçamentária enviada para a Assembleia Legislativa de apenas 10 reais.

Assim, toda a política judiciária nessa área, da infância e da juventude, fica comprometida, inclusive o funcionamento da Coordenadoria, que foi criada de forma até protagonista e inovadora no Tribunal de Justiça. Isso, antes mesmo da Resolução 94 do Conselho Nacional de Justiça, que aponta nessa direção, na construção e na elaboração dessas coordenadorias.

O Estado de São Paulo criou uma coordenadoria no Tribunal de Justiça e saiu na frente. No entanto, o Governo estadual inviabilizou o seu funcionamento. Isso é muito certo, Sr. Presidente. Trata-se de um ato criminoso, como argumentei há pouco.

Afora isso, temos ainda uma outra questão gravíssima em relação aos servidores do Judiciário. Estamos aqui com dados estatísticos e científicos mostrando os dados do próprio Tribunal de Justiça, dando conta de que o corte feito pelo Executivo estadual no Orçamento do Judiciário transgride e viola também a própria Lei de Responsabilidade Fiscal nº 1001, de 2000.

Temos sérias críticas a essa lei. É uma lei que prejudica muito o investimento dos servidores públicos. Digo que é uma lei contra os servidores públicos de todo o Brasil. Desde a época da sua elaboração, colocamo-nos contra e continuamos com uma posição extremamente crítica em relação a ela. E mesmo assim ela não é respeitada pelos nossos governos, como, por exemplo, nesse corte orçamentário, onde a lei está sendo desrespeitada. O Art. 20, inciso II dessa lei limita o percentual de 6% para o investimento nos servidores públicos. Acontece que nós estamos bem abaixo desse valor prudencial. Hoje, segundo Orçamento enviado para a Assembleia Legislativa, o Poder Judiciário vai investir apenas 4,5% com os servidores na manutenção do funcionamento do Judiciário.

Isso dá uma diferença de 1,4 bilhão entre o que deveria ser investido, do ponto de vista dos servidores, e do que o Governo investirá com a aprovação desse orçamento. É uma afronta à própria legislação vigente hoje no País, que é a Lei de Responsabilidade Fiscal. São então várias afrontas, pois o corte orçamentário comete várias ilegalidades e viola vários artigos da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente, e da Lei de Responsabilidade Fiscal. É por isso que temos de reverter essa peça orçamentária.

Essas questões que estou levantando se referem apenas ao orçamento do Poder Judiciário. O mesmo acontece em relação à Educação e demais servidores do Estado. Por exemplo, não há um centavo para o reajuste salarial e para o cumprimento da data base salarial, que é a lei aprovada na Assembleia Legislativa. Essa falta de investimento nos servidores fere o Art. 37 da Constituição Federal, que garante a recomposição da inflação de cada ano.

Todas essas leis, então, serão desrespeitadas se essa peça orçamentária não for alterada. Não haverá um centavo de reajuste para os servidores do Estado de São Paulo, nem no vale-refeição, conhecido como “vale-coxinha”, que tem o valor irrisório de quatro reais. É o que um professor, por exemplo, recebe na rede estadual de ensino para se alimentar. Apresentamos propostas para que esse valor fosse reajustado para 15 reais e, no entanto, as propostas estão sendo inviabilizadas pelos 71 deputados que compõem a base de sustentação de Governo. Dessa maneira, os nossos servidores vão continuar sem o reajuste do vale-refeição em todo o Estado. São os professores, os profissionais da Saúde, da Segurança Pública, da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Sistema Carcerário.

É nesse sentido que nós temos que reverter essa peça orçamentária. A Assembleia Legislativa tem a obrigação de legislar e não aceitar passivamente uma peça antissocial, que retira das áreas sociais o investimento público. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Tem a palavra o nobre Deputado Marcos Martins.

 

O SR. MARCOS MARTINS - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, público presente nas galerias do plenário, funcionários, estamos nos aproximando do final do ano e vencemos mais uma etapa de desafios, realizações, cobranças. E hoje conversando com alguns deputados eleitos e que tomarão posse pela primeira vez agora, eu dizia a eles que aqui você vem com bastante esperança, porém o seu espaço de realizações é muito pequeno. Isso porque a Assembleia sofre uma interferência muito grande do Poder Executivo, e as ações que são de iniciativa do Poder Legislativo normalmente sofrem interferência e dificultam as ações, por exemplo, como a aprovação de projetos dos deputados. É muito difícil aprovar um projeto, e quando aprova, é difícil virar lei porque ele pode ser vetado.

Eu tive a felicidade de ter um projeto aprovado logo no início, virou lei, foi sancionado pelo Governador e depois travamos uma batalha jurídica e que se arrasta até hoje. Já é lei, mas ainda existem ações para um retrocesso.

E nós queremos que a Assembleia Legislativa, os deputados, possam cada vez mais ter a possibilidade de melhorar a vida da população.

Os leitores do jornal, perguntados sobre quais seriam os seus desejos para a próxima legislatura, responderam:

- Eu gostaria muito que fosse mantida a lei que proíbe o uso do amianto. É cancerígeno, é lei, inclusive de minha autoria, mata milhares de pessoas no mundo e que não houvesse retrocesso porque sofre permanentemente ameaças.

- Gostaria de ver aprovado o Projeto de Assistência Técnica para população de baixa renda, para moradia popular, para que as pessoas possam ter a assistência de arquitetos e engenheiros gratuitamente e possam construir suas moradias com um mínimo de técnica, e não ficar correndo risco de cair dos barrancos, desmoronando. Esse projeto foi elaborado junto com a Associação dos Arquitetos e Engenheiros e mais os movimentos populares.

- Gostaria também de ver aprovado um projeto que obriga as escolas públicas estaduais de ter nutricionista. A manutenção das nutricionistas que de vez em quando sofrem ameaças, para que possamos ter a merenda escolar com um mínimo de orientação técnica, para que as crianças tenham saúde. Sabemos que muitas delas não se alimentam em casa e acabam se alimentando na escola.

- O projeto que prevê a troca das caixas d’água de amianto, e que iniciamos assim a segunda etapa da lei que proíbe o uso do amianto, que é a retirada desse material cancerígeno, iniciando pelas caixas d’água. Esse projeto de minha autoria prevê o financiamento pela Nossa Caixa, agora Banco do Brasil, para a substituição das caixas d’água financiadas pela Nossa Caixa, para a população de baixa renda e as prefeituras. Assim, conseguimos eliminar o amianto, que é cancerígeno, e combater a dengue, porque uma grande quantidade de criadouros de dengue, de acordo com a Vigilância Sanitária, se dá justamente nas caixas d’água, águas paradas e limpas e sem tampa. Assim estaríamos enfrentando dois problemas.

- Dentre outros, esses eu gostaria de ver aprovados.

Mas para isso os deputados que chegam e os atuais precisam ter firmeza em defender as prerrogativas dos deputados, as prerrogativas do Legislativo, porque, senão, nós continuaremos permanentemente subservientes do Executivo, e é a população que vai perder com isso. Podemos citar como exemplo o Orçamento do Estado, em que as emendas dos Parlamentares raramente são aceitas. Ontem tivemos reunião da Comissão de Economia e Orçamento, e observando o relatório do Deputado Bruno Covas, relator, constatamos que a maioria das emendas foi rejeitada. Aliás, até as emendas dos Parlamentares em que se destinam recursos para algumas prefeituras do Estado não estão sendo contempladas. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Tem a palavra o nobre Deputado Donisete Braga.

 

O SR. DONISETE BRAGA - PT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, público presente nas galerias do plenário, funcionários, gostaria de fazer um registro sobre uma pesquisa realizada pelo Ibope avaliando o Governo do Presidente Lula e que apontou novo recorde, mostrando 87% de aprovação. Isso demonstra a importância das políticas públicas com relação aos programas sociais, como Minha Casa Minha Vida, os programas de consignação de crédito no nosso País, os investimentos na Educação e especialmente o ProUni, em que os filhos dos trabalhadores podem  ingressar numa universidade particular custeada pelo Governo Federal.

Não poderia deixar de fazer esse registro porque entendo que a própria eleição da nossa ex-Ministra, hoje Presidente eleita Dilma Rousseff, vai representar, a partir do dia 1º de janeiro, de 2011, não só a continuação das políticas importantes, que foram desempenhadas pelo Presidente Lula, mas também os avanços nos projetos da área da Educação, da Saúde, da Segurança Pública do Governo que tem um perfil republicano. É isso que desejamos. Não tenho dúvida de que a nossa Presidente eleita Dilma Rousseff vai fazer isso a partir do ano que vem.

Quero também entrar em um tema que nos preocupa muito, sobre a lei do amianto que tem muito a ver com a saúde pública do povo do nosso Estado, com relação à lei específica da Billings, que aprovamos nesta Casa e que foi muito importante para a Região do ABC, que tem como objetivo a recuperação e a preservação dos mananciais.

Tem, também, a questão da regularização fundiária de 500 mil pessoas que moram no entorno da Represa Billings e que aguardam, com muita expectativa, que as prefeituras de Ribeirão, de Rio Grande da Serra, Diadema, de Santo André, de São Bernardo do Campo e, também, de São Paulo, formem, rapidamente, um grupo de trabalho junto com o Governo do Estado de São Paulo, para regularizar as habitações do entorno da Represa Billings e, também, regularizar a coleta e o tratamento do esgoto “in natura”, que ainda hoje é coletado na Represa Billings.

Entendemos que, daqui a algum tempo, vamos recuperar o potencial da Represa Billings, uma vez que ela hoje abastece a região Metropolitana. Queremos fazer valer a importância da lei que aprovamos na Assembleia Legislativa. Vamos cobrar muito, de forma enfática, do Governo do Estado, do Secretário de Estado do Meio Ambiente uma política para regularizar a questão habitacional do entorno da Represa Billings e, também, da Represa Guarapiranga, da zona sul.

Com certeza, teremos uma situação definida no próximo período. Não poderia deixar de fazer este registro neste instante. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Tem a palavra o nobre Deputado Celso Giglio. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Antonio Mentor. (Pausa.) Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público aqui presente, telespectadores da TV Assembleia, de volta a esta tribuna, gostaria de dizer que esta augusta Casa de Leis vai colocar em processo de discussão e votação o PLC 45/10, do Governador Alberto Goldman, do PSDB, que privatiza de vez o Sistema de Saúde do Estado de São Paulo, que o entrega não só para as organizações sociais de caráter privado, mas agora a situação é muito pior porque o nosso Sistema de Saúde vai ser entregue para as empresas de planos de saúde.

Este é o teor do projeto que entra hoje em discussão na Assembleia Legislativa. Eu já, de antemão, quero comunicar a todos que a Bancada do PSOL já está em obstrução em relação a esse PLC 45/10. Vamos obstruir e votar contra porque ele significa uma afronta à população do Estado de São Paulo, principalmente à população usuária dos hospitais públicos do Estado de São Paulo, porque agora será obrigada a disputar vagas com quem tem plano de saúde.

Este é o teor do projeto que será discutido e votado hoje na Assembleia Legislativa. É um retrocesso histórico no nosso Estado e uma violação aos princípios do SUS - Sistema Único de Saúde -, que foi construído com muita luta no Brasil e que conquistamos na Constituição Federal de 1988.

No Estado de São Paulo, já foi aprovada uma lei entregando os nossos hospitais públicos para as organizações sociais de caráter privado. Isso já é uma privatização, já é uma terceirização.

Gostaria de lembrar que esse procedimento administrativo e político já têm consumido uma boa parte do Orçamento da Saúde. Inclusive, os gastos com as organizações sociais, as transferências de recursos do erário público para as organizações sociais já representam quase 50% do Orçamento.

Hoje se investe mais nas organizações sociais do que na rede direta de hospitais do Estado. Temos aqui dados dando conta de que, neste ano de 2010, o Estado investiu nas OSs 1 bilhão e 600 milhões de reais. Na rede direta, investiu um valor inferior de 1 bilhão e 45 milhões. Então, a prioridade hoje do Estado de São Paulo é investir nas OSs e não na rede direta.

Como se não bastasse essa grande incoerência e esse atentado à saúde pública da população, agora o Governo apresentou um projeto piorando essa situação, permitindo que os planos de saúde, as empresas capitalistas que cobram pela saúde no nosso País, possam também utilizar 25% dos leitos e do atendimento em hospitais públicos.

Em outras palavras, o que significa isso na prática? Significa que o telespectador, que está aqui nos assistindo, que utiliza o hospital público, vai ter que disputar vaga. Você vai ter agora, telespectador, duas portas no hospital público. Uma fila para quem paga a mensalidade de um convênio como o da Golden Cross, Amil, Amico ou qualquer outro plano e uma para quem não paga.

É lógico que a prioridade é sempre feita para quem paga. Sabemos como funciona isso no Brasil. Então, diante disso, estamos organizando a resistência contra a aprovação desse projeto.

Tenho certeza que o Deputado Major Olímpio já se colocou contra o projeto e vai fazer obstrução também. Ele já tem se colocado contra não só a esse projeto, mas também em outros projetos do governo que penalizam a população.

Queremos alertar a população para um verdadeiro crime que vai ocorrer na Assembleia Legislativa. Além da discussão do Orçamento, vamos ter também, no meio de toda essa polêmica do Orçamento, a aprovação desse projeto.

É importante que o telespectador, que está nos assistindo agora, nos mande e-mail, ligue para os 94 deputados, exigindo que o projeto seja rejeitado por esta Casa de Leis. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Sras. Deputadas e Srs. Deputados, nos termos do Art. 100, inciso I, da XIII Consolidação do Regimento Interno, esta Presidência convoca V. Exas. para uma Sessão Extraordinária, a realizar-se hoje, 10 minutos após o término desta sessão, com a finalidade de apreciar a seguinte Ordem do Dia: Discussão e votação do PL nº 45/10, que altera a Lei Complementar n° 846/98, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais. Assina Presidente Barros Munhoz.

Nos mesmos termos, esta Presidência convoca V. Exas. para uma segunda Sessão Extraordinária a realizar-se hoje, 10 minutos após o término da primeira Sessão Extraordinária, com a finalidade de apreciar a seguinte Ordem do Dia:

- Discussão e votação do PLC 45/10, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais. Assina Presidente Barros Munhoz.

Dando sequência à lista de oradores, tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, funcionários desta Casa, cidadãos que nos acompanham pela TV Assembleia, já está aberta na Comissão de Finanças e Orçamento a discussão do relatório do Deputado Bruno Covas e logo após a minha fala lá estarei - como muitos deputados que não necessariamente da referida Comissão - para manifestar minha contrariedade ao relatório apresentado pelo parlamentar ao Orçamento, demonstrando total subserviência desta Casa aos interesses do Palácio dos Bandeirantes.

Vinte e duas audiências públicas foram realizadas com o intuito de ouvir a população do Estado das necessidades que o Orçamento obrigatoriamente deve contemplar. Este trabalho acaba caindo por terra. Algumas milhares de emendas foram feitas ao Orçamento por todos nós parlamentares, pelas bancadas, pelas comissões temáticas desta Casa, mas ao que parece em vão. Inclusive, realizamos uma audiência pública específica para tratar da questão do orçamento do Judiciário, mas de nada valeu porque o Palácio dos Bandeirantes cortou mais de 60% da proposta inicial do Tribunal de Justiça para o atendimento das suas necessidades.

A Assembleia concordar e pior ainda votar este Orçamento é assinar atestado de total incompetência e subserviência. Temos de tomar atitudes concretas e dizer ‘não’, temos de manifestar com coerência, com a mesma coerência que fomos pedir os votos da população para nossa reeleição - e mais de 60 parlamentares foram atendidos nessa pretensão, portanto, dois terços da Casa - nossa posição. A defesa do interesse público tem de ser manifestada agora no voto e no posicionamento. Não adianta dizer no cafezinho ‘olha, também não concordo’, mas na hora de votar dizer amém, apertando o ‘sim’ porque o Governo quer.’ Vamos ter problemas seriíssimos.

Você, servidor público, que está me ouvindo - ativo, inativo, pensionista - tenha a certeza de que não tem um centavo no Orçamento destinado à revisão de salários conforme estabelece a lei que criou a data-base no Estado de São Paulo. Você, servidor do Judiciário, tenha certeza de que se votado o Orçamento de acordo com o que está no relatório, o compromisso do Tribunal de Justiça de revisão salarial e outros benefícios não será cumprido. Temos tempo, sim! Ah, mas a Casa tem de entrar em recesso.

Ora, a Assembleia ficou parada o ano todo. Primeiro porque era a temporada que antecedia as eleições, depois porque era período eleitoral, depois porque era a ressaca ou festa pelo sucesso das eleições e com isso chegamos hoje, ao apagar das luzes do ano legislativo, sem votar projetos de deputados e sem discutir amiúde as questões fundamentais deste Orçamento.

Fica aqui a minha manifestação, que farei de igual forma logo a seguir na Comissão de Finanças e Orçamento, embora não seja deputado membro da comissão, mas como parlamentar tenho o direito de manifestação - não de voto - de desconforto por ver a Assembleia tão prostrada.

Cento e quarenta bilhões de Orçamento e o relatório do Deputado Bruno Covas migrando 50 milhões de reais, 0,004% do Orçamento.

Fica caro demais ter uma Assembleia Legislativa tão subserviente. Está caro demais a Assembleia de São Paulo ser meramente um órgão homologador.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Está esgotado o tempo destinado ao Pequeno Expediente.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - PELO ART. 82 - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público presente, telespectador da TV Assembleia, há pouco falei do PLC 45 do Governo Estadual que privatiza de vez a Saúde do Estado de São Paulo. Já temos uma crise grave na Saúde no Estado de São Paulo - como está organizada ou desorganizada - e este projeto que entra na pauta de discussão piora muito mais a situação.

Dentro desse contexto, não posso deixar de falar do abandono da Saúde pública do Estado, não posso deixar de falar do sucateamento e da falta de investimento no Hospital do Servidor Público e no departamento de perícias médicas do Estado de São Paulo, que vive uma crise sem precedentes. Não é à toa que este departamento é conhecido como a casa dos horrores, porque os servidores atendidos nesse departamento são vítimas de assédio moral, não têm as suas perícias publicadas no "Diário Oficial", há perda de documentos. Temos inúmeras denúncias em relação ao péssimo atendimento do departamento de perícias médicas, sobretudo ao atraso na publicação dessas perícias. Temos denúncias gravíssimas que estamos apurando, inclusive já acionamos o Ministério Público estadual e criamos até um disque denúncia contra o departamento de perícias médicas. Temos denúncias dando conta de que existem mais de 40 mil processos abandonados nos escaninhos do departamento de perícia médica. São de pessoas que já fizeram perícia e os processos se perderam. Fotografamos processos paralisados, perdidos no almoxarifado, nos porões do departamento de perícia médica. Srs. telespectadores, vejam na tela a gravidade da situação.

Se o governo estadual trata dessa maneira a saúde dos seus servidores, como que ele trata a saúde da população como um todo? Muitos servidores aguardam um, dois, três anos pela publicação, não têm notícia da perícia, do seu processo. Milhares de servidores, principalmente do interior, viajam 600, 700 quilômetros para fazer perícia médica, aguardam durante um, dois, três, quatro anos e as publicações não são feitas. Os processos estão todos engavetados, amontoados, sem destino algum.

Por isso estamos pedindo a instalação de uma CPI para investigar o departamento de perícias médicas. Porque isso é um absurdo, é uma afronta principalmente aos servidores doentes e que viajam para fazer perícias médicas e dependem da publicação para uma aposentadoria por invalidez, para um processo de readaptação, precisam de licença médica para tratamento de saúde e ficam reféns dessa leviandade, dessa irresponsabilidade.

Por isso pedimos com urgência a instalação de uma CPI do departamento de perícias médicas e rogamos ao Ministério Público que haja uma profunda investigação dessas denúncias. São 40 mil processos paralisados, os servidores esperando e a publicação não sai.

Por isso também apresentamos emendas ao Orçamento de 2011, para que haja mais investimento tanto no Hospital do Servidor Público Estadual como no departamento de perícias médicas, que é um departamento que precisa ser reformulado, precisa da contratação de mais funcionários. A sua estrutura é antiga e não dá mais conta de atender à demanda de servidores fazendo as perícias médicas, principalmente agora que teve concurso na rede estadual para professores e supervisores de ensino que estão sendo atendidos lá. Já há reclamações no sentido de que o departamento não dá conta de atender os exames desses professores, não é possível uma agilização desses exames. Com isso esses professores podem nem ingressar, no próximo ano, na rede estadual de ensino, porque haverá um atraso muito grande em relação ao agendamento desses exames depois da publicação, porque, como disse, há um déficit de 40 mil processos que ainda não foram publicados no Diário Oficial. Era isso, Sr. Presidente.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - Sr. Presidente, havendo acordo de lideranças, solicito a suspensão da presente sessão até as 16 horas e 30 minutos.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - É regimental. Srs. Deputados, havendo acordo de lideranças, a Presidência vai suspender a sessão até as 16 horas e 30 minutos.

Está suspensa a sessão.

 

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- Suspensa às 15 horas e 34 minutos, a sessão é reaberta às 16 horas e 32 minutos, sob a Presidência do Sr. Antonio Mentor.

 

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O SR. VAZ DE LIMA - PSDB - Sr. Presidente, havendo acordo entre lideranças, solicito a suspensão dos trabalhos por uma hora.

 

O SR. PRESIDENTE - ANTONIO MENTOR - PT - Havendo acordo entre lideres, esta Presidência suspende os trabalhos por uma hora.

 

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- Suspensa às 16 horas e 33 minutos a sessão é reaberta às 17 horas e 38 minutos, sob a Presidência do Sr. Barros Munhoz.

 

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O SR. GILSON DE SOUZA - DEM - Sr. Presidente, havendo acordo entre as lideranças partidárias com assento nesta Casa, solicito a suspensão dos trabalhos até as 18 horas.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Srs. Deputados, tendo havido acordo entre as lideranças, a Presidência acolhe o solicitado pelo nobre Deputado Gilson de Souza e suspende a sessão até as 18 horas.

Está suspensa a sessão.

 

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- Suspensa às 17 horas e 39 minutos, a sessão é reaberta às 18 horas, sob a Presidência do Sr. Davi Zaia.

 

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O SR. BRUNO COVAS - PSDB - PARA COMUNICAÇÃO - Sr. Presidente, discutíamos na Comissão de Finanças e Orçamento sobre o parecer e o voto separado, e o nobre Deputado Rui Falcão perguntou sobre conversas que este relator tivesse tido com o nobre Deputado Antonio Mentor, Líder do PT. Eu disse que não havia tido conversa.

Encontrei agora o Deputado Antonio Mentor, que tentou me recordar da conversa que havia tido com ele. Continuo sem me recordar, mas acho que não há motivo de o Deputado Antonio Mentor inventar conversa, e nem eu. Assim, gostaria de dizer que, independentemente do que tenha acontecido, o canal de diálogo continua existindo. Será sempre um prazer conversar com o Deputado Antonio Mentor, ou com qualquer outro deputado da bancada do PT, para que possamos, dentro da Casa Legislativa, encontrar saídas para os problemas que temos aqui. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. RUI FALCÃO - PT - PARA COMUNICAÇÃO - Sr. Presidente, na madrugada de hoje, em Porto Velho, Capital de Rondônia, faleceu, vítima de ataque cardíaco, o companheiro Odair Cordeiro. Paulista, deslocou-se para Rondônia nos anos 80, e lá foi pioneiro com as dificuldades que V. Exa. pode imaginar, num estado, à época ainda no estado de evolução. Foi pioneiro na organização do Partido dos Trabalhadores enfrentando ameaças, os poderosos locais, e viveu a vida como sempre quis, fazendo política, ajudando a organizar o povo, e foi sepultado com a bandeira do Partido dos Trabalhadores - bandeira vermelha, estrela. Rendemos aqui as nossas homenagens ao companheiro e transmitimos aos seus familiares os nossos sentimentos. Certamente, lá onde está, estará dizendo “Viva o Partido dos Trabalhadores!”.

Apenas para precisar a uma alusão feita pelo Deputado Bruno Covas. Na Comissão de Finanças e Orçamento, quando cinco apoiadores do Governo votaram a favor do relatório do Deputado Bruno Covas, com restrições, foi dito que era importante manter abertos os canais de negociação. Eu disse: “Olha, talvez seja preciso criar um canal de negociação para que ele seja aberto.” E aí, em seguida, perguntei quem eram os interlocutores para essa negociação, se era o líder do Governo, o vice-líder, ou o próprio Deputado Bruno Covas, o relator. Ele disse: “Aqui na Casa está sempre aberto.” E, em seguida, disse: “Eu sempre estive aberto à discussão deste e de outros projetos, mas não fui procurado.”

Procurei então o nosso líder e disse: “O Deputado Bruno Covas disse que está aberto para conversações para a negociação.” Estou apenas comunicando, então, com precisão, e não vejo problema nenhum. Mais importante do que a versão, é o Deputado Bruno Covas reafirmar aqui que, como relator do Orçamento, continua aberto ao diálogo e à negociação, ainda que ao final ela não se dê. Mas aberto ele está.

 

O SR. BRUNO COVAS - PSDB - Sr. Presidente, havendo acordo entre as lideranças partidárias com assento nesta Casa, solicito a suspensão dos trabalhos por mais 30 minutos.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, tendo havido acordo entre as lideranças, a Presidência acolhe o solicitado pelo nobre Deputado Bruno Covas e suspende a sessão por mais 30 minutos.

Está suspensa a sessão.

 

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- Suspensa às 18 horas e quatro minutos, a sessão é reaberta às 18 horas e 31 minutos sob a Presidência do Sr. Barros Munhoz.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Sras. Deputadas e Srs. Deputados, vamos passar à Ordem do Dia.

 

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- Passa-se à

 

ORDEM DO DIA

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Proposições em Regime de Urgência:

1 - Discussão e votação adiada - Projeto de lei Complementar nº 45, de 2010, de autoria do Sr. Governador. Altera a Lei Complementar nº 846, de 1998, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais. Com 3 emendas. Pareceres nºs 1895, 1896 e 1897, de 2010, respectivamente, de relatores especiais pelas Comissões de Justiça, de Saúde e de Finanças, favoráveis ao projeto e contrários às emendas. Com 2 emendas apresentadas nos termos do inciso II do artigo 175 do Regimento Interno. Parecer nº 1905, de 2010, do Congresso das Comissões de Justiça, de Saúde e de Finanças, contrário às emendas.

 

O SR. VAZ DE LIMA - PSDB - Sr. Presidente, solicito a prorrogação da nossa sessão por 2 horas e 30 minutos, 2 horas e 29 minutos, 2 horas e 28 minutos, 2 horas e 27 minutos e 2 horas e 26 minutos.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental. Em votação o pedido de prorrogação da sessão por 2 horas e 30 minutos. As Sras. Deputadas e os Srs. Deputados que estiverem de acordo queiram permanecer como se encontram. (Pausa.) Aprovado.

Em discussão o PLC 45/10. Inscrito para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Adriano Diogo.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - Sr. Presidente, solicito uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental. A Presidência convida os nobres Deputados Conte Lopes e Roberto Morais para a auxiliarem na verificação de presença requerida pelo nobre Deputado Carlos Giannazi.

 

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- É iniciada a chamada.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - A Presidência constata quorum regimental em plenário e agradece a colaboração dos nobres Deputados Conte Lopes e Roberto Morais.

Tem a palavra o nobre Deputado Adriano Diogo.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, vamos dar início à discussão do projeto.

O que mais me chamou a atenção no projeto é o seu número. Qual é o número do projeto? Quarenta e cinco. Quem assina o projeto? O Governador Alberto Goldman. Altera a Lei Complementar 846, de 4 de junho de 98, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais.

Meus companheiros do SindSaúde, Regina, nova Presidente da Associação dos Médicos do Iamspe, fui procurar fazer uma associação do 45. A lei do número do mau agouro, do azar, da desgraça do povo brasileiro é o número do Colt 45, arma de fogo usada pelos americanos para matar muita gente. Então, este projeto nasce sob a inspiração do 45. E número terrível! Chamemos então este malfadado projeto de Colt 45, o projeto do assassinato do povo brasileiro.

Sobre o que discorre o projeto?

O Inciso IV, do Art. 8º, da Lei Complementar 846, de 4 de junho, passa a vigorar com a seguinte redação:

IV - atendimento exclusivo aos usuários do Sistema Único de Saúde - SUS e usuários do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual - IAMSPE, no caso das organizações sociais da saúde, exceto quando:

a) a unidade de saúde for única detentora de mais de 50% (cinquenta por cento) da oferta de serviços de saúde na sua região de inserção;

b) a unidade de saúde poderá prestar serviços de saúde especializados e de alta complexidade.

§ 1º - Nos casos previstos nas alíneas “a” e “b” do inciso IV deste artigo, a unidade de saúde poderá - prestem bem atenção Sras. Deputadas e Srs. Deputados - ofertar seus serviços a pacientes particulares ou usuários do plano de saúde privado somente quando essa situação estiver revista em seu respectivo contrato de gestão, sem prejuízo do atendimento do SUS em quantitativo no máximo de 25% de sua capacidade operacional.

Embora a nossa TV Assembleia não disponha de condições técnicas, e você que assistiu ou que está assistindo à TV Assembleia não consiga ler, neste momento, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, ao contrário de toda legislação constitucional em vigor, todos os hospitais públicos poderão vender 25% das suas vagas para o plano de saúde. Pior, através...

Sr. Presidente, não há a mínima condição de discutir. Vou parar enquanto não houver a mínima condição no plenário, e peço que o meu tempo seja preservado.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência solicita atenção do Plenário para a palavra do nobre Deputado Adriano Diogo, na tribuna.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Então, como nasceu esse malfadado projeto? O Deputado Pedro Tobias, uma pessoa do bem, levou essa proposta ao novo Secretário de Saúde Giovanni Cerri: “Dr. Giovanni, o senhor que vai ser secretário de Saúde, e o Instituto do Câncer precisa de financiamento, vamos fazer um financiamento do Instituto do Câncer, vendendo 25% das vagas para os planos de saúde.”

Deputado Curiati, um dos poucos que prestam atenção nesse debate, o senhor já imaginou? Em todos os hospitais públicos do Estado de São Paulo, o paciente só será admitido se tiver a carteirinha do plano de saúde. Aí a pessoa pensa: “Ah, não. Vou ser atendido no hospital público e depois o hospital público vai atrás do plano de saúde para ressarcir meu atendimento.” Não, Deputado Curiati. Não. Como vai funcionar? Você chega ao hospital público, mostra sua carteirinha do plano de saúde. Se o seu plano de saúde não der cobertura pela porta nº 1, porque haverá duas portas, a porta nº 1 para atender o pessoal dos planos de saúde e a porta nº2, e você só será admitido no hospital se o seu plano de saúde der cobertura àquela patologia, àquela necessidade. Se você precisar fazer uma endoscopia e o seu plano de saúde não cobrir endoscopia, exame de sangue, exame de urina, coisas mais complexas, você não conseguirá internação e terá que ir para a fila do SUS para saber quando será atendido.

Então, embora aqui na Assembleia Legislativa haja esse comportamento absurdo de aprovar projeto segundo orientação partidária do governo, peço aos deputados independentes, que não dependem de cargo no governo, que não dependem das benesses desse novo governo, que raciocinem. Porque esse plano é inconstitucional e ilegal. Não adianta esse açodamento de achar que aprovando esse projeto vai ter mais. Porque hoje, tanto pela legislação federal como pela estadual, é possível cobrar dos planos de saúde. Não precisa aprovar esse projeto. Lembrem bem, quando a Deputada Maria Lúcia Amary fez uma emenda, o Governador Serra vetou essa emenda. Então, deputados, não exponham o vosso nome, o vosso curriculum, a vida inteira a favor da saúde pública votando esse projeto absurdo em que os hospitais públicos terão que abrir uma porta que beneficie os planos de saúde.

Sras. e Srs., o governo Alckmin nem iniciou e já começa mal das pernas, mandando esse projeto com essa redação. As coisas estão do jeito que estão hoje e o governo Alckmin já começa tremendamente enfraquecido mandando esse projeto de lei assinado pelo Governador Goldman, escondendo a mão embaixo da mesa, não assumindo a autoria. Não assumam, Srs. Deputados. Esperem, pelo menos, o novo governador assumir para ele dizer “eu, Governador Alckmin, médico, que ganhei a eleição no Estado de São Paulo, assumo a paternidade desse projeto.” Como vamos poder votar um projeto quantitativo no máximo 25%? E quem é que vai controlar se tem 25% do atendimento, se esses pequenos planos de saúde que não tem hospitais são completamente ilegais vão oferecer como garantia os hospitais públicos do Estado como garantia?

Não é possível! Além de termos uma peça orçamentária completamente destruída, uma peça orçamentária que não contempla nenhuma iniciativa dos deputados das regiões, das prefeituras, Deputado Waldir Agnello, o senhor que já foi presidente da Comissão, uma pessoa tão consciente e tão ciosa, tão equilibrada, como vamos poder aprovar esse projeto de lei no apagar das luzes de 2010, sem nenhuma discussão, sem nenhuma preparação? Isso depõe contra a Asssembleia. Cadê o Deputado Pedro Tobias, que é uma espécie de idealizador dessa proposta? Por que o Deputado Pedro Tobias não vem ao plenário dizer como essa idéia foi concebida, avançou e chegou nessa proposta? Vejam o parágrafo segundo: “Caberá à Secretaria a definição das unidades que poderão ofertar seus serviços a pacientes particulares ou usuários de planos de saúde privados, obedecidos os requisitos de que tratam as alíneas A e B do inciso IV desse artigo, bem como o estabelecimento das demais condições em que se dará o atendimento em questão, que deverão constar do contrato de gestão.” Parágrafo 3º - “O contrato de gestão deverá assegurar tratamento igualitário aos usuários do SUS ou do Iamspe, e os pacientes particulares ou usuários de planos de saúde.”

Pelo menos nisso eles foram sinceros. Pelo menos isso eles não esconderam. O usuário do SUS, que deveria ser o usuário exclusivo do sistema de saúde, terá que compartilhar. Ora, senhoras e senhores! Lutamos a vida inteira para que houvesse o SUS, que é um dos sistemas mais avançados do mundo de saúde pública. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama, pela primeira vez, tentou implantar um sistema de saúde para que a população mais pobre, mais carente daquele país tivesse acesso à saúde.

Pois bem senhoras e senhores, estamos diante dessa vergonha. Isso significa não à privatização, não à terceirização, mas à quarteirização do sistema. E vejam bem a tramitação. O projeto chegou à Assembleia no dia 30 de novembro de 2010, que é a data da sua publicação.

Na Comissão de Saúde, teve parecer contrário do Deputado Marcos Martins e favorável ao conteúdo das emendas números 1, 2 e 3 de autoria dos Deputados Beth Sahão, Antonio Mentor e Adriano Diogo, com o mesmo conteúdo, suprimindo a possibilidade da venda de serviços de planos de saúde.

Qual é a posição da nossa bancada? Sugerimos o voto contrário, pois, o projeto atenda contra o direito à saúde, albergado no Art. 196 e seguintes da constituição brasileira, que é garantia do poder público garanti-lo através do SUS, que tem entre seus princípios a universalidade, a descentralização e a participação da comunidade. O SUS deve ainda ser organizado através da participação da comunidade, por uma rede hierarquizada de atendimento a partir dos municípios. O projeto de lei complementar privilegia as pessoas que têm planos de saúde ou aos particulares, que pagarão ao SUS para serem atendidas, discriminando o cidadão e usurpando de direito social à saúde. O governador de plantão, Sr. Alberto Goldman, diz: “os estudos realizados no âmbito da Secretaria de Saúde objetivam melhor atender as questões quanto à gestão do SUS no Estado de São Paulo”. Como é o caso do Instituto do Câncer, do Otávio Frias, do Hospital de Transplantes, do Instituto do Coração - Incor, do Instituto Dante Pazzanese. Tendo em vista que 40% da população do estado possuem planos de saúde ou convênios privados de saúde, essa parcela se utiliza rotineiramente do atendimento das unidades estaduais especializadas e de alta complexidade, não é adequado que as unidades respectivas não possam realizar a devida cobrança do plano. Se essa for a justificativa, existe lei para isso.

Insisto que todos os deputados que não concordarem, usem seu tempo para que possamos levar até a madrugada a resistência para não acabarmos com a nossa dignidade.

Como diz o poeta maior de nossa terra, grande Castro Alves: “Não usemos nossa bandeira para encobrir tal infâmia e covardia. Melhor usá-la rota na batalha que servir ao povo como mortalha”. Chega de traição! Chega de tucanalha!

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Raul Marcelo, pelo tempo regimental.

 

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- Assume a Presidência o Sr. Ed Thomas.

 

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O SR. RAUL MARCELO - PSOL - Sr. Presidente, Srs. Deputados, recentemente passei por uma cirurgia no joelho, não precisaria nem estar aqui, mas dada a importância dessa matéria, e também em respeito aos servidores - está aqui o Benão e todos os trabalhadores dos serviços de saúde - e aos nossos usuários aqui no Estado de São Paulo, fiz questão de estar presente para manifestar nossa opinião em relação a esse projeto, que vai impactar sobremaneira, em particular, a população mais pobre do nosso estado.

Quando pensamos no SUS, essa proposta tão importante - conquista do povo brasileiro que lutou contra a ditadura, que lutou na redemocratização, que lutou no processo constituinte - é importante lembrar das páginas de jornais do dia em que instaurou-se o processo Constituinte. Estavam lá os momentos sociais, acampados em frente ao Palácio do Planalto e ao Congresso Nacional para, reivindicar que a Constituição tivesse um perfil social. E até que ela tem. O Artigo 5º é importante. O SUS, a regulamentação do SUS e uma série de outros direitos foram conquistados pelo povo brasileiro. Não foram efetivados, mas no plano jurídico estão aí, existem. Não estão substantivos, mas no plano jurídico eles aconteceram. Está previsto na Constituição, por exemplo, que todo brasileiro tem acesso à saúde. E o SUS foi construído para isso?

Qual é o nosso grande dilema hoje? Inclusive, o ministro José Gomes temporão fez um balanço da sua gestão, na revista Carta Capital, recentemente, lamentando que durante seus anos e anos no governo federal o SUS continua sub-financiado. Ou seja, não existem recursos para viabilizar a implementação do Sistema Único de Saúde no Brasil. Pois bem. Esse é um diagnóstico. O SUS funciona mal porque não temos recursos. O outro dado é que, diante dessa não funcionalidade do SUS, os tucanos defendem a entrega do nosso Sistema Único de Saúde para o setor privado.

Achamos que ele deve ser mais financiado. Devemos efetivar o controle social, implementar a participação dos usuários e resolver um dilema político.

Era para esta Assembleia estar abarrotada de trabalhadores do setor privado, tomada de trabalhadores. Aqui, em frente ao Exército, nas ruas adjacentes, na Avenida Brasil, no Parque do Ibirapuera. Era para estar cheio de caminhões da CUT, da Conlutas, da Intersindical, até da Força Sindical, por aqui. Todas as centrais sindicais deveriam estar aqui, até declarando greve geral no Estado de São Paulo, em função do que está acontecendo nesta Casa.

Por que não estão? A grande vitória dos militares. Devo deixar registrado, porque é um dos últimos pronunciamentos meus aqui: Florestan Fernandes falou que os militares mataram o pensamento crítico. Mas também mataram o movimento que poderia defender e reivindicar um SUS de fato, com financiamento adequado e controle social. Os militares empurraram os trabalhadores do setor privado para os planos de saúde privados. E hoje há fábricas em que greves acontecem não por conta apenas do salário, mas porque o plano de saúde não é muito bom. Então, o próprio movimento sindical no Brasil – e a CUT tem grande responsabilidade nisso - está mais preocupado em ajudar o plano de saúde do que em defender um Sistema Único de Saúde decente. É por isso que não está havendo grande movimentação no Estado de São Paulo em torno dessa questão. Só estão aqui os servidores públicos da saúde que restaram depois de anos e anos em que o PSDB vem dilapidando nossos hospitais.

Em 1998, Covas aprovou uma lei, através da sua maioria nesse plenário, para entregar os hospitais novos às Organizações Sociais. Isso foi feito.

Sr. Presidente, o orçamento desse ano prevê entregar mais de 3 bilhões de reais para as Organizações Sociais. Cheguei a escrever um livreto sobre o tema porque há uma dúvida sobre o que são as Organizações Sociais? São entidades que, através de uma relação unilateral, conseguem convencer o secretário de Saúde que elas têm competência para administrar um hospital. Nesse rol de competência entra até o Seconci - Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo. E sabemos que o Brasil é campeão mundial em mortes de trabalhadores por falta de uso de equipamentos de segurança na construção civil. Mas o Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo administra os hospitais de Itapecerica da Serra, Vila Alpina, Sapopemba e Cotia. Pergunto aos senhores deputados: qual é a história do Seconci com a Saúde Pública? Qual relação existe entre o Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo e a Saúde?

Quando se aprovou essa lei, em 1998, os defensores dela - e está aqui na taquigrafia da Casa, é só pedir - disseram: “são os institutos de pesquisa, é a Faculdade Paulista de Medicina, são as nossas Universidades que querem montar organizações sociais para ajudar a sociedade de São Paulo na área de prestação de serviços de Saúde Pública”. Só que o que ocorre não é isso. O que ocorre, realmente, é o Serviço Social da Construção Civil administrando hospitais aqui no Estado de São Paulo.

Essas entidades pegam o contrato com o Secretário de Saúde sem licitação, contratam quem quiser e do jeito que bem entendem para trabalhar, as pessoas que trabalham não têm carreira ou garantia alguma, não existe nem conselho de participação da sociedade nesses hospitais. Eu visitei vários deles. Fui sub-relator de uma CPI da Saúde e resolvi dar uma investigada na situação. Esse é o quadro.

Hoje, o Governo Estado de São Paulo vai entregar três bilhões de reais sem licitação para essas entidades administrarem os hospitais do Estado de São Paulo, sem nenhum tipo de controle social, a partir de uma relação unilateral entre o Secretário de Saúde e essas entidades.

Aliás, há muitas entidades que nós até respeitamos. Têm lá pessoas de boa vontade, mas não é essa a regra Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados.

Não é assim que se constrói uma política de Estado tão importante como a de Saúde Pública. Isso aqui precisa ter planejamento, controle social, participação da sociedade, transparência. O Presidente do Tribunal de Contas disse que é impossível fiscalizar os gastos das organizações sociais. Isso está registrado na “Folha de S.Paulo”, nesse ano, quando foi aprovada por esta Casa a ampliação da entrega dos hospitais de São Paulo para as organizações sociais, não apenas os novos hospitais, mas também os hospitais antigos. Fico pensando aqui no conjunto hospitalar de Sorocaba - está aqui o Deputado Hamilton Pereira - que tem tantos problemas, mas atende a uma região imensa. Lá já foi quase tudo privatizado. Entregaram almoxarifado, farmácia de alto custo para um setor, hemodiálise para outro. Enfim, fatiaram o hospital inteiro. Eu fico imaginando. Não tem mais lá o servidor público administrando aquele hospital e sim uma organização social. Não tem mais servidor público que entrou por concurso público, Deputado Olímpio Gomes, pelo art. 37, pela porta da frente, que fez a prova, que tem carreira, que anda de cabeça erguida no ambiente de trabalho, que quando vê questões irregulares faz a denúncia, que não tem medo.

Pelo contrário, quando o Deputado vai a um hospital público é bem recebido pelos servidores. É claro, trazem uma pauta de reivindicação, mas logo falam se há irregularidade ali dentro. No hospital da organização social já não é assim. O quadro de servidores é formado por uma rapaziada nova, terceirizada, que trabalha dois meses, é mandada embora e contratam outro em seu lugar. Lembro-me que, quando na CPI, visitava esses hospitais, as pessoas tinham medo de conversar. “Imagine Deputado, se eu contar alguma coisa para você, amanhã sou mandado embora”. Que tipo de relação vai se estabelecer num hospital com a população por uma política que nós defendemos se não há política de Estado, uma política de Saúde Pública decente?

Então aqui fica outra questão que é a minha lamentação: o que já era ruim, e aí tem até uma questão simbólica, pode ficar pior sim. Está nas capas de jornais hoje o palhaço Tiririca, Deputado Federal eleito pelo Estado de São Paulo. O que está ruim pode ficar pior sim. E a prova disso é esse Projeto de lei nº 45. Porque os hospitais que já estão sendo administrado de forma nebulosa, sem participação, sem controle social, sem servidor de carreira, sem transparência, com o Presidente do Tribunal de Contas dando uma declaração dessa natureza, vão receber três bilhões de reais. E, agora, vamos entregar os hospitais, que já têm problemas, aos planos de Saúde privados, que junto com os militares causaram esse apartheid no Brasil.

O José Serra é muito esperto. Quando o Plínio de Arruda Sampaio chamou o José Serra de hipocondríaco durante um debate na TV Bandeirantes, não foi porque o Serra se preocupa com a Saúde, mas porque o Serra só fala de Saúde. Por que ele fala de Saúde? Porque sabe que o mais pobre do Brasil, o trabalhador informal, o ambulante, tem na Saúde Pública o grande drama da sua vida. Quando tem que fazer uma cirurgia fica dois, três, até quatro anos na fila, é muitas vezes humilhado. Ele sabe que há uma demanda. Por isso só fala de Saúde. E não teve coragem de aprovar a emenda da Deputada Maria Lúcia Amary, da minha cidade. O Sr. José Serra, então pré-candidato a Presidente da República, não teve coragem e vetou. E está aqui o veto, que fiz questão de trazer - está publicado na Internet para quem quiser ler -, faz uma crítica à entrega para os Planos de Saúde de 25% do atendimento dos hospitais das organizações sociais. Serra não teve coragem porque era um ambiente eleitoral. E agora o ex-membro do partidão, governador Alberto Goldman, manda para essa Casa o projeto para entregar 25% dos leitos dos hospitais, que já têm problemas, para os planos de saúde privada.

É uma grande vitória do serviço privado de saúde no Brasil, que já consegue movimentar mais recursos do que os gastos com Saúde Pública. No ano passado, os gastos com Saúde Privada superaram o gasto em Saúde Pública. Existe hoje no Brasil um lobby monumental do setor privado.

E a população que mais necessita desse serviço não consegue nem se organizar para defender esse direito importante, porque não tem sindicato, por não estar trabalhando formalmente - trabalha na informalidade.

Os sessenta por cento da população do nosso Estado que dependem única e exclusivamente do SUS, os mais carentes, vão, agora, ser mais uma vez apartados, vão ser taxados, porque quando forem a um hospital de uma OS, e todos serão de OS porque a lei que aprovamos nesta Casa - não com o voto deste Deputado - vai entregar para as organizações sociais os hospitais antigos também, se o cidadão não tiver o Plano de Saúde vai ficar como já acontece nas Santas Casas.

Eu que vim de uma militância na Igreja, Sr. Presidente, as irmãs que administram as Santas Casas, às vezes com dor no coração, nos dizem “mas não tem jeito Deputado, o que a tabela do SUS paga é muito pouco. Então, para conseguir manter a Santa Casa nós abrimos a segunda porta, do Plano de Saúde, e a segunda porta é onde conseguimos recurso para manter a Santa Casa funcionando”. E nesta segunda porta geralmente existe o atendimento diferenciado, existe uma discriminação. Agora, isso também vai acontecer dentro dos hospitais públicos. Vamos ter duas portas: a porta dos planos e a porta do SUS; e a discriminação vai acontecer.

Sr. Presidente, quero dizer que só vai nos restar um caminho: o do judiciário. Porque o SUS, entre os seus princípios, existe um que é o da igualdade. O hospital da organização social ao estabelecer as duas portas - a porta do plano e a porta do SUS - vai legitimar a desigualdade, constituindo-se numa inconstitucionalidade, uma ilegalidade diante dos princípios do SUS. E isso não vai prosperar no Judiciário, mesmo sabendo que o próprio debate a respeito da legalidade ou não das organizações sociais até hoje está pendurado no Supremo Tribunal Federal.

Esse será o caminho que o futuro Governador Geraldo Alckmin vai tomar. Vai fazer pressão para os engavetadores da República, como o Ministro Gilmar Mendes, que desonra o Supremo Tribunal Federal, para não deixar jamais ser julgada uma ação direta de inconstitucionalidade sobre essa proposta que está hoje aqui colocada, porque ela é flagrantemente inconstitucional.

Sr. Presidente, para aqueles que dizem - porque a justificativa do projeto diz isso - que é uma forma de fazer justiça, porque o SUS já atende as pessoas que têm plano e o Governo não consegue recuperar esses recursos, nós concordamos com esse diagnóstico, Deputado Olímpio Gomes. É verdade. Existem pessoas que têm plano de Saúde e recorrem ao SUS. Mas já existe legislação que prevê o pagamento do plano para o Governo. Já existe previsão legal em relação a essa questão. Aliás, os planos privados tentaram uma liminar para suspender o Art. 35 dessa lei, que vou até citar aqui porque é importante. É para título de registro, não porque eu ache que vai convencer algum deputado, porque sabemos que, infelizmente, há muito tempo no Brasil, não são mais os debates, as ideias que prevalecem e, sim, outros expedientes que não vem ao caso tratar aqui nesta tribuna. Mas, enfim, Sr. Presidente, existe dispositivo legal, que é a Lei 9.656, de 1998. Ela prevê que um cidadão que tenha um plano de saúde, que vai ao SUS e realiza ali um procedimento, que o plano de Saúde reembolse o SUS. E, no entanto, o Governador, em vez de fazer gestão para fazer valer essa legislação, vai entregar para o setor privado, fazer a opção da linha de menor resistência, se ajoelhar diante do lobby daqueles que financiaram as campanhas, que são os planos privados de Saúde, que hoje representam a maioria dos gastos feitos com Saúde no Brasil.

Os militares venceram, Sr. Presidente, mais essa batalha do sistema de Saúde no Brasil. Só que venceram a batalha, não venceram a guerra, porque a discussão em torno do sistema público universal no Brasil continua. A demanda está aí, o povo precisa de um sistema de Saúde público eficiente e nós vamos continuar defendendo isso. Talvez não mais aqui neste plenário, mas lá na rua junto com os servidores, com os manifestantes, com os usuários, aqueles que ainda sonham com um sistema público no Brasil que de fato funcione, e financiado à altura do que merece o povo brasileiro.

Sr. Presidente, o voto da Bancada do PSOL é totalmente contrário a essa proposta, a esse Projeto de lei nº 45 de 2010.

 

O SR. PRESIDENTE - ED THOMAS - PSB - Em discussão. Para discutir contra, tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes, pelo tempo regimental.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Sr. Presidente, solicito regimentalmente uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - ED THOMAS - PSB - O pedido de V. Exa. é regimental. Convido os nobres Deputados Otoniel Lima e Bruno Covas para auxiliarem a Presidência na verificação de presença ora requerida.

 

* * *

 

- É iniciada a chamada.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - ED THOMAS - PSB - A Presidência constata quorum regimental em plenário e agradece a colaboração dos nobres Deputados Otoniel Lima e Bruno Covas.

Tem a palavra o nobre Deputado Olímpio Gomes.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, funcionários, telespectadores da TV Assembleia, venho a esta tribuna mais para fazer um apelo a todos os deputados desta Casa, que tomem atitudes correspondentes à grandeza que deve ter o Poder Legislativo.

Com relação a esse projeto, o PLC nº45 de 2010, está mais do que manifesta a sua inconstitucionalidade. Temos legislação federal, a Lei 9656 de 1998, há 12 anos, que prevê a cobrança dos planos de saúde quando da utilização de seus segurados pelo SUS.

Estamos assistindo neste momento ao pedágio da saúde sendo estabelecido no Estado de São Paulo. Já não chegam os pedágios das rodovias, verdadeiro assalto, e agora teremos a condição do mais pobre, do mais humilde, daquele que depende, sim, para a sua sobrevivência, para a sua vida, do atendimento do SUS, ter a sua condição piorada; e piorada porque, se aprovado esse projeto, será priorizada, sem sombra de dúvida, a utilização por aqueles que são detentores dos planos privados. É vergonhoso!

E por que estou me dirigindo e encarecendo a cada um dos Srs. Deputados e Sras. Deputadas? Porque muito recentemente todos nós nos submetemos a uma prova pela população, e eu duvido que independente do partido a que possa pertencer o Deputado, se situação ou oposição, eu duvido que aquele que foi para a população com transparência não tenha defendido melhores de saúde, de segurança, de educação e de outros serviços públicos.

E agora vejo, no apagar das luzes das atividades da Assembleia Legislativa, que mais um projeto é enfiado goela abaixo, que não é para ser discutido, onde é colocado o rolo compressor governamental, de um governo tampão, que é para não provocar desgaste no Governo que está assumindo e já está se omitindo por antecipação, e um projeto que tem que ser votado.

Antes de assumir o mandato parlamentar, como qualquer cidadão sonhei com a existência de um Legislativo no meu Estado que fosse harmônico, sim, com os demais poderes, para o bom funcionamento e aperfeiçoamento do Estado, para a população. Mas eu sonhava em ver o Poder Legislativo do meu Estado harmonioso, sim, com os demais poderes, mas independente, em que os projetos pudessem ser exaustivamente discutidos, aperfeiçoados.

Quando pensei em ser candidato, ficava imaginando poder debater nesta tribuna, colocar ideias, colocar projetos, ser submetido ao contraditório, mudar de opinião pelo convencimento dos mais experientes e daqueles que apresentam melhores sugestões, deixar-me seduzir pela argumentação melhor.

Mas, que decepção, quando tenho visto um Legislativo completamente prostrado, submisso, fraco, com a maioria dos parlamentares nem sequer querendo tomar conhecimento do conteúdo do que está sendo discutido, esse projeto sendo colocado goela abaixo, e ter que acompanhar parlamentares que são da dita base aliada dizerem: ”Olímpio, dê uma terceirizada de língua por mim, porque os compromissos partidários não permitem que eu me manifeste.”

Eu não me sinto terceirizando a língua por ninguém. Venho na livre convicção, no livre arbítrio e na certeza de que quando apresentei o santinho de campanha e disse que teria compromissos com a Saúde, não era só para enganar os eleitores até o dia 3, não. Somos sabedores de que o Governo usa o seu poder, a sua força, usa argumentos menores de não fazer a liberação de emendas com que o Governo se compromissou pelo interesse e pelo bem comum e que vai, sim, prestigiar o Deputado A ou B na sua comunidade, mas que é do interesse público.

Não é o Deputado que não presta. É o Governo que não presta, que não tem compromisso, que não tem palavra, porque no mesmo projeto, com o mesmo teor, da mesma natureza, há seis meses o Governo vetou o projeto com argumentação completamente oposta à que apresenta agora no seu projeto.

 

O SR. PRESIDENTE - ED THOMAS - PSB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, esta Presidência solicita a sua colaboração e participação, porque há um orador na tribuna.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sei o que eu estou dizendo, e talvez o cidadão a distância que nos acompanha através da TV Assembleia, e certamente os representantes dos servidores da Saúde, que não estão aqui para fazer oposição pela oposição, não, mas é que as pessoas estão lá, na ponta da linha, tentando dar o mínimo de dignidade à saúde das pessoas que mais precisam e que agora estão aqui vigilantes para acompanhar se a Assembleia Legislativa vai ser conivente e prostrada diante do Executivo, para fazer essa verdadeira entrega, sei lá a qual título e quais benesses virão dos planos de saúde privados que são, sim, os maiores interessados.

Muitas vezes as palavras podem chocar e àqueles que estão aqui simplesmente para dizer ao Governo: “Veja como sou leal, olha o tamanho do desgaste que nos é provocado”, talvez as minhas palavras possam ser incomodantes, mas vou continuar a fazê-las.

Tenho o espírito idealista. Tenho o espírito daqueles paulistas sofredores da Revolução de 32. Podemos tomar uma grande pancadaria no campo das armas, como temos tomado com o rolo compressor do Governo, que mobiliza, determina, dobra os joelhos dos parlamentares e obriga a votar, sei lá a qual título. Mas se em 32 tomamos uma verdadeira surra militar, tivemos uma grande vitória moral. Dois anos depois, o País acabou tendo a Constituição pelo sofrimento daquele momento.

Em relação a esse projeto, ninguém é inocente ao ponto de não saber que as armas utilizadas pelo Governo acabam sendo sempre mais fortes e potentes do que as argumentações legítimas daqueles que estão tentando não fazer a oposição pela oposição, mas mostrar o caminho da dignidade, o caminho que deve existir em relação aos compromissos assumidos com a população.

Vejo com muita tristeza o posicionamento da Assembleia Legislativa. Agora há pouco, no Colégio de Líderes, uma série de parlamentares se queixava de ser do “MSP”, “Movimento dos Sem Projetos”, pois não se discute nem se vota projeto de quem faz oposição, não se vota projeto do Deputado Major Olímpio. Isso não está desmerecendo o Major Olímpio: desmerece a Assembleia Legislativa. É vergonhoso para a Assembleia. Este ano todo foi inútil para a população. No começo do ano, eram as discussões preparatórias do jogo eleitoral. Depois, tivemos as eleições. Depois, tivemos a ressaca pela derrota ou pela vitória eleitoral e não se votou nada, não se discutiu nada nesta Casa a não ser o que vinha encomendado pelo Governo, como esse projeto. Vergonhoso.

Não bastasse isso, passada a vergonha do PLC 45, no momento em que for aprovado, virá a vergonha do Orçamento. Do que adianta, Senhores Parlamentares, irem às suas bases dizerem que são apoiadores do serviço público, dos bons serviços públicos, que admiram os profissionais da Saúde, da Educação, da Segurança, se vão votar um Orçamento em que não está contemplado um centavo para a revisão salarial dos serviços públicos, que não estão contempladas as necessárias emendas para o funcionamento mínimo e digno do Iamspe e que o Poder Judiciário não está sendo contemplado em nada.

Mas o jogo é para ter um faz de conta para, na terça e na quarta-feira, dizer que, após um esforço exaustivo, acabou se votando mais um Orçamento.

O nobre Deputado Adriano Diogo, nas suas palavras, falava na coincidência do projeto ser 45 e mostrou até a pistola 45, ACP, Automatic Colt Pistol, calibre criado porque a nove milímetros acabava sendo muito transfixante e não aniquilava o adversário. Então, buscou-se um calibre que tivesse o chamado índice de “stopping power”, o poder de parada mais efetivo, que aniquilasse. Eu não tinha percebido ainda que talvez o número 45 tenha muito mais a ver com calibre com um poder de parada aniquilante, não só com o projeto, mas com o número do partido que ele representa.

Gostaria de, mais uma vez, dizer aos Srs. Deputados: consciência e coerência com o que os senhores têm dito e disseram na sua vida política e, principalmente, muito recentemente, nas eleições. Votar esse projeto é votar contra a saúde do mais pobre, é privilegiar os planos de saúde. Votar esse Orçamento macabro é virar as costas para o povo paulista.

 

 O SR. PRESIDENTE - ED THOMAS - PSB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, esta Presidência solicita a sua colaboração e participação, porque há um orador na tribuna.

 

O SR. OLÍMPIO GOMES - PDT - Muito obrigado, Sr. Presidente.

Sei o que eu estou dizendo, e talvez o cidadão a distância que nos acompanha através da TV Assembleia, e certamente os representantes dos servidores da Saúde, que não estão aqui para fazer oposição pela oposição, não, mas é que as pessoas estão lá, na ponta da linha, tentando dar o mínimo de dignidade à saúde das pessoas que mais precisam e que agora estão aqui vigilantes para acompanhar se a Assembleia Legislativa vai ser conivente e prostrada diante do Executivo, para fazer essa verdadeira entrega, sei lá a qual título e quais benesses virão dos planos de saúde privados que são, sim, os maiores interessados.

Muitas vezes as palavras podem chocar e àqueles que estão aqui simplesmente para dizer ao Governo: “Veja como sou leal, olha o tamanho do desgaste que nos é provocado”, talvez as minhas palavras possam ser incomodantes, mas vou continuar a fazê-las.

Tenho o espírito idealista. Tenho o espírito daqueles paulistas sofredores da Revolução de 32. Podemos tomar uma grande pancadaria no campo das armas, como temos tomado com o rolo compressor do Governo, que mobiliza, determina, dobra os joelhos dos parlamentares e obriga a votar, sei lá a qual título. Mas se em 32 tomamos uma verdadeira surra militar, tivemos uma grande vitória moral. Dois anos depois, o País acabou tendo a Constituição pelo sofrimento daquele momento.

Em relação a esse projeto, ninguém é inocente ao ponto de não saber que as armas utilizadas pelo Governo acabam sendo sempre mais fortes e potentes do que as argumentações legítimas daqueles que estão tentando não fazer a oposição pela oposição, mas mostrar o caminho da dignidade, o caminho que deve existir em relação aos compromissos assumidos com a população.

Vejo com muita tristeza o posicionamento da Assembleia Legislativa. Agora há pouco, no Colégio de Líderes, uma série de parlamentares se queixava de ser do “MSP”, “Movimento dos Sem Projetos”, pois não se discute nem se vota projeto de quem faz oposição, não se vota projeto do Deputado Major Olímpio. Isso não está desmerecendo o Major Olímpio: desmerece a Assembleia Legislativa. É vergonhoso para a Assembleia. Este ano todo foi inútil para a população. No começo do ano, eram as discussões preparatórias do jogo eleitoral. Depois, tivemos as eleições. Depois, tivemos a ressaca pela derrota ou pela vitória eleitoral e não se votou nada, não se discutiu nada nesta Casa a não ser o que vinha encomendado pelo Governo, como esse projeto. Vergonhoso.

Não bastasse isso, passada a vergonha do PLC 45, no momento em que for aprovado, virá a vergonha do Orçamento. Do que adianta, Senhores Parlamentares, irem às suas bases dizerem que são apoiadores do serviço público, dos bons serviços públicos, que admiram os profissionais da Saúde, da Educação, da Segurança, se vão votar um Orçamento em que não está contemplado um centavo para a revisão salarial dos serviços públicos, que não estão contempladas as necessárias emendas para o funcionamento mínimo e digno do Iamspe e que o Poder Judiciário não está sendo contemplado em nada.

Mas o jogo é para ter um faz de conta para, na terça e na quarta-feira, dizer que, após um esforço exaustivo, acabou se votando mais um Orçamento.

O nobre Deputado Adriano Diogo, nas suas palavras, falava na coincidência do projeto ser 45 e mostrou até a pistola 45, ACP, Automatic Colt Pistol, calibre criado porque a nove milímetros acabava sendo muito transfixante e não aniquilava o adversário. Então, buscou-se um calibre que tivesse o chamado índice de “stopping power”, o poder de parada mais efetivo, que aniquilasse. Eu não tinha percebido ainda que talvez o número 45 tenha muito mais a ver com calibre com um poder de parada aniquilante, não só com o projeto, mas com o número do partido que ele representa.

Gostaria de, mais uma vez, dizer aos Srs. Deputados: consciência e coerência com o que os senhores têm dito e disseram na sua vida política e, principalmente, muito recentemente, nas eleições. Votar esse projeto é votar contra a saúde do mais pobre, é privilegiar os planos de saúde. Votar esse Orçamento macabro é virar as costas para o povo paulista.

 

O SR. PRESIDENTE - ED THOMAS - PSB - Para discutir contra, tem a palavra o nobre Deputado Rui Falcão, pelo tempo regimental de 15 minutos.

 

O SR. RUI FALCÃO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, telespectadores da TV Assembleia, funcionários, companheiros que militam nos movimentos em defesa da saúde pública e do SUS que acompanham os nossos debates, venho para a tribuna um pouco atemorizado pelas alusões feitas ao projeto. Colt 45, Luger 9, calibre transfixante, é uma linguagem de morte e a saúde é para garantir a vida, salvar vidas, prolongar a vida em condições de qualidade. Mas esse projeto é realmente mortal, daí a linguagem dos nobres deputados Adriano Diogo e Olímpio Gomes, que conhece bastante os armamentos e seu caráter letal.

Mas venho aqui para relembrar algumas coisas e, em seguida, passarei o restante do meu tempo ao nobre Deputado Adriano Diogo. Vemos como há contradição no posicionamento desse pessoal que dirige o nosso Estado há quase duas décadas. Primeiro, contribuem para retirar 40 bilhões do Orçamento da União que seriam destinados para a Saúde. A extinção da CPMF representou um desfalque de 160 bilhões de reais em quatro anos, recursos que depauperaram ainda mais a Saúde do País. E vamos lembrar que esse não era um imposto como são os pedágios, que atinge a todos e é disfarçado. As pessoas imaginam que, não viajando, não pagam pedágio. Pagam - e muito - e de forma igual àqueles que têm recursos para efetivamente pagar. A CPMF, o chamado imposto do cheque, não onerava o orçamento das famílias mais pobres, nem do conjunto dos trabalhadores, nem sequer dos que dispõem de alta renda no País. Mas ainda assim, para aqueles que acham que, de acordo com as políticas neoliberais, o Estado tem de ser reduzido e a tributação não deve existir, o mercado tudo deve reger, era importante acabar com a CPMF.

Curioso que, aqui em São Paulo, até por motivação do vice-governador eleito, existe o chamado impostômetro, na Associação Comercial, cuja cúpula virou uma sucursal do DEM - não o conjunto dos comerciantes, mas a cúpula. Lá existe o impostômetro que mede a arrecadação do Governo Federal. Mas o impostômetro não mede a arrecadação do Governo Estadual, nem tampouco do Governo Municipal de São Paulo. Fizesse isso, veríamos quão opressiva foi a política tributária no Governo do Estado, sacrificando a pequena e média empresa, promovendo a evasão de empresas e de empregos no Estado. A política de substituição tributária é em si positiva - como no combate à sonegação e para ampliar a arrecadação -, mas quando generalizada, sobretudo num ano de crise como foi o de 2009, é anticíclica, agrava a crise e a recessão.

Em boa hora, o Presidente Lula e o seu Governo fizeram desonerações fiscais. O Governo tinha acumulado reservas e pudemos, naquele momento, escapar da crise, que continua na Europa, nos Estados Unidos e, em breve, poderá chegar aqui novamente. O Governo Federal manterá as políticas antirrecessivas que o Governo Lula empreendeu.

Falo dessa primeira contradição, de acabar com os recursos da CPMF. Agora, a segunda contradição. Perdoem-me por querer cobrar coerência de quem não tem, mas é importante que façamos isso de público. No ano passado, esta Casa aprovou a Lei Complementar nº 62, de 2008. Naquela ocasião, a Deputada Maria Lúcia Amary, certamente a pedido do Executivo, fez aprovar uma emenda que era justamente o conteúdo do projeto de lei que agora se quer aprovar. Talvez por razões eleitorais, o Governador José Serra, o mesmo que solicitara a inclusão da emenda, apôs um veto à emenda da Deputada Maria Lúcia Amary.

Primeiro, exigiu-se lealdade da Deputada, que foi correta; depois, ela foi desautorizada publicamente pelo veto do Governador José Serra. Dizia o veto que “a matéria disciplinada na emenda aglutinativa substitutiva, de forma restrita às organizações sociais, encontra-se regrada de modo mais abrangente e satisfatório na Lei Federal nº 9656, de 3 de junho de 1998, cujo Art. 32 expressamente trata do assunto em termos que alcançam todo o SUS”.

E prosseguia: “No Estado de São Paulo, o tema também é objeto da Lei nº 9.058, de dezembro de 1994, de iniciativa do Deputado Arlindo Chinaglia, que dispõe sobre obrigatoriedade do recebimento pelos órgãos e instituições do Sistema Único de Saúde do Estado e dos municípios, a título de reembolso de valores correspondentes a Seguro Saúde e outras modalidades de Medicina de grupo.”

Portanto, temeroso da repercussão pública negativa que significa a privatização total, a criação da discriminação entre os usuários do SUS e aqueles que pagam plano de Saúde com preferência, o Governador vetou a emenda. Agora, como o Governador Goldman está indo embora para casa e já não se preocupa mais com o passado - porque se assim se preocupasse não teria renegado tudo o que fez há décadas -, manda para cá esse projeto porque o Governador Geraldo Alckmin, ao assumir, já encontrará tudo pronto.

Apelamos, sobretudo aos deputados que são médicos e conhecem bastante a situação da Saúde em São Paulo - e ela é caótica, apesar do empenho dos profissionais que trabalham na área - que não votem esse projeto. Cada um será cobrado depois porque hoje já é grave a situação: filas numerosas, prazos de atendimento cada vez mais alongados, dificuldade para fazer exames, sucateamento dos hospitais e dos postos de Saúde, má remuneração dos profissionais de Saúde. É importante que se fizesse essa reflexão antes de votar docilmente por alguém que, no passado, já vetou o que se traz para cá.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. João Barbosa.

 

* * *

 

O SR. Rui Falcão - PT - Sr. Presidente, cedo o restante de meu tempo ao nobre Deputado Carlos Neder, que também é médico, atuante na área de Saúde.

 

O SR. Carlos Giannazi - PSOL - Sr. Presidente, gostaria de registrar que a Bancada do PSOL encontra-se em obstrução ao PLC nº 45.

 

O Sr. Presidente - João Barbosa - DEM - Deputado Carlos Giannazi, esta Presidência acolhe o pedido de Vossa Excelência.

Sras. Deputadas, Srs. Deputados, por cessão de tempo do nobre Deputado Rui Falcão, tem a palavra o nobre Deputado Carlos Neder pelo restante do tempo regimental.

 

O SR. CARLOS NEDER - PT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, telespectadores da TV Assembleia, dirigentes sindicais e trabalhadores da Saúde que acompanham esta sessão, o debate que fazemos hoje, na verdade, ocorre em âmbito nacional e com diferentes posicionamentos, inclusive no que diz respeito ao PSDB e aos Democratas.

Numa contagem rápida, podemos chegar a oito ou nove deputados que são médicos, enfermeiros ou psicólogos, pessoas que atuam na área da Saúde. Antes de serem originários do Sistema de Saúde, são agentes públicos que devem observar a lei. A Constituição do Estado de São Paulo, no Art. 222, estabelece os critérios e as diretrizes para o funcionamento do Sistema de Saúde no Estado. O inciso V, do Art. 222, diz explicitamente: “gratuidade dos serviços prestados, vedada a cobrança de despesas e taxas sob qualquer título.”

Será que o Governador Alberto Goldman não sabe da existência do Art. 222? Será que o Secretário de Estado da Saúde interino não sabe da existência do inciso V, que estabelece a obrigatoriedade de que as ações de Saúde Pública sejam gratuitas, vedada a cobrança de despesas e taxas sob qualquer título?

É interessante notar que o Partido dos Trabalhadores e o PDT ingressaram com uma Ação de Declaração de Inconstitucionalidade da Lei das Organizações Sociais, ainda não julgada no Supremo Tribunal Federal. Ao analisarmos os argumentos lançados, seja para defender a Lei das Organizações Sociais em âmbito federal, seja para defender leis similares em âmbito estadual e municipal, notamos que um forte argumento utilizado diante dessa petição é o de que as organizações sociais trabalham atendendo 100% da clientela do Sistema Único de Saúde. Ou seja, em alto em bom som, é dito pelos advogados e os que defendem a legislação federal e estadual que implantou esse sistema de gestão privada no interior do SUS por meio da qualificação de entidades privadas como organizações sociais, que elas não estariam ferindo as diretrizes do Sistema Único de Saúde, uma vez que atendem ou atenderiam, de modo gratuito, a 100% de clientela do Sistema Único de Saúde.

Mas, como disse, o debate não está dado apenas no Supremo Tribunal Federal. Também em ações ordinárias movidas pelos sindicatos, pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público Estadual, sistematicamente, o Governo Estadual lança mão do argumento da gratuidade do atendimento como sendo algo a confirmar que não há nenhum tipo de contradição entre a legislação das organizações sociais e as diretrizes do Sistema Único de Saúde. Com a aprovação do PLC n.º 45/2010 esses processos deverão ser revistos!

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Davi Zaia.

 

* * *

 

Não bastasse a Constituição Estadual, esta Assembleia Legislativa votou a Lei Complementar nº 791, de 9 de março de 1995, de autoria do então Deputado Roberto Gouveia. Essa lei, que não é uma Lei Ordinária, e sim Complementar, extensa, abrangente, estabeleceu o Código de Saúde no Estado de São Paulo e foi sancionada praticamente sem vetos nada mais, nada menos do que pelo Governador Mário Covas. E, à época, o Secretário de Saúde era o colega sanitarista Dr. José da Silva Guedes. Pergunto: “Será que hoje, se vivo estivesse, Mário Covas aceitaria que a lei que ele sancionou, instituindo o Código de Saúde, da mesma forma que a Constituição do Estado, fosse jogada na lata do lixo?

           Digo isto porque o Código de Saúde estabelece, entre as diretrizes do Sistema de Saúde no Estado de São Paulo, a gratuidade das ações e dos serviços assistenciais prestados, vedando, a exemplo do que está explícito na Constituição do Estado, a cobrança de despesas, complementar ou adicional, sobre qualquer título. E mais adiante é dito, em seu Art. 22: “É vedada a destinação de recursos públicos para auxílio ou subvenção às entidades privadas, com fins lucrativos.”

É bom lembrar que, quando foi aprovada a Lei das Organizações Sociais em 1998, quando era Governador Mário Covas, os deputados estaduais daquela legislatura introduziram uma série de medidas para que houvesse uma cautela, de tal maneira que não se favorecesse a privatização, a terceirização da gestão e a perda do controle gerencial do Sistema de Saúde. Entre elas, a preocupação de que outras unidades estaduais de saúde já existentes e em funcionamento sob gestão direta não poderiam ser entregues a uma Organização Social, o que acabou sendo derrubado em 2008, por medida proposta pelo Executivo.

            Também naquela ocasião, por sugestão de vários deputados, inclusive do Deputado Roberto Gouveia, ficou claro que as instituições privadas, para participarem de modo complementar do Sistema Único de Saúde, só poderiam fazê-lo se contassem com unidades e equipamentos próprios. Não faz sentido que elas atuem de modo complementar ao Sistema Único de Saúde se utilizando de unidades, de leitos hospitalares, de equipamentos e de outros recursos que são do próprio setor público.

Então, pelas cláusulas estabelecidas por esta Casa, a iniciativa privada que quisesse se associar ao Sistema Único de Saúde deveria ter recursos próprios para, aí sim, poder participar de modo complementar ao Sistema Único de Saúde, sempre dando preferência ao setor privado filantrópico e não ao setor privado lucrativo como agora se pretende.

O que o PLC n.º 45/2010 propõe e tenta instituir no Estado de São Paulo, sem debate aprofundado com as entidades, com a representação dos usuários e dos profissionais que atuam no setor, é que as entidades privadas, vinculadas ou não ao seguro-saúde e à medicina de grupo - incluindo, portanto, aquelas que atuam de modo autônomo na prestação de serviços - possam utilizar em seu benefício até 25% dos leitos públicos, sem que tenham serviço próprio a ofertar para a rede pública no Estado de São Paulo. Isso trará algum impacto positivo, em termos de financiamento da rede pública, como seus defensores argumentam?

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - Tem a palavra, para falar contra, o nobre Deputado Carlos Neder, pelo tempo regimental de 15 minutos.

 

O SR. CARLOS NEDER - PT - Continuando, vejam, por exemplo, uma Resolução do Secretário Barradas, infelizmente falecido. O Secretário Barradas, através da Resolução SS-15, do dia 6 de fevereiro de 2009, institui os critérios para a assinatura de contrato de gestão. O que diz a disposição final desse contrato de gestão?

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - Sr. Presidente, solicito regimentalmente uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - DAVI ZAIA - PPS - O pedido de V. Exa. é regimental. Convido os nobres Deputados Ed Thomas e José Bittencourt para auxiliarem a Presidência na verificação de presença ora requerida.

 

* * *

 

- É iniciada a chamada a chamada.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. João Barbosa.

 

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O SR. PRESIDENTE - JOÃO BARBOSA - DEM - Sras. Deputadas, Srs. Deputados, a Presidência constata número regimental de Sras. Deputadas e Srs. Deputados em plenário, pelo que dá por interrompido o processo de verificação de presença e agradece a colaboração dos nobres Deputados José Bittencourt e Ed Thomas, e devolve a palavra ao Deputado Carlos Neder.

 

O SR. CARLOS NEDER - PT - Em fevereiro de 2009, o então Secretário Barradas editou a Resolução SS 15, que, tratando da questão dos contratos de gestão, diz o seguinte: “Disposições Finais. É vedada a cobrança direta ou indireta ao paciente por serviços médicos hospitalares ou outros complementares referentes à assistência a ele prestada, sendo lícito à contratada buscar o ressarcimento a que se refere o Artigo 32 da Lei 9656, de 3 de julho de 1998, nas hipóteses e na forma ali previstas.”

Já o Secretário Barradas, em julho do mesmo ano, escreve o seguinte artigo no jornal “Folha de S.Paulo”: “A segunda reforma sanitária. São urgentes propostas e mudanças para que o SUS avance. Precisamos de um novo movimento...”

Ele diz nessa matéria, divulgada pelo jornal “Folha de S.Paulo”: “Por que não tratar a medicina suplementar como um verdadeiro sistema complementar ao SUS? Isso implicaria reconhecer que determinados procedimentos não serão obrigatoriamente realizados pelos seguros e planos privados, mas pelo SUS, em elenco que poderia incluir procedimentos de urgência, controle de doenças transmissíveis e medicamentos oncológicos, áreas em que o SUS detém em muitos casos, mais experiência e competência do que o setor privado.

E, como contrapartida, poderíamos ter a criação de uma contribuição automática per capta, que seria paga pelos planos privados diretamente ao SUS sem a necessidade de processos longos e ineficientes de ressarcimento, facilitando o atendimento aos pacientes nos dois sistemas com a melhora evidente da saúde de todos.”

Então, o Secretário Barradas, cinco meses depois de incluir no modelo padrão de contrato de gestão, que era vedada qualquer forma de cobrança, respeitando inclusive o que está na Constituição Estadual e no Código Estadual de Saúde, começa a flexibilizar esse entendimento defendendo a ideia de que o setor privado poderia participar de forma complementar utilizando a capacidade instalada da rede pública.

Esse argumento não foi levado em consideração quando a emenda apresentada pela Deputada Maria Lúcia Amary acabou sendo vetada pelo então Governador José Serra. E isso já foi exposto aqui pelo Deputado Rui Falcão e pelo Deputado Adriano Diogo.

Nós precisamos observar que, lamentavelmente, já há experiências em curso no Estado de São Paulo de privatização total do que é público, como acontece com o Hospital Regional do Vale do Paraíba, que foi entregue, embora seja um hospital estadual, para a Sociedade Assistencial Bandeirantes.

Sociedade Assistencial Bandeirantes, que terceirizou a gestão deste hospital público, no Vale do Paraíba, e que agora o quarteiriza, tendo recebido essa prerrogativa do Governo do Estado, para várias outras instituições privadas, em que pese a responsabilidade de ter sido delegado a ela, e sem que haja nenhum tipo de respaldo legal para que isso seja feito. Até hoje não tivemos acesso a este contrato!

Sr. Presidente, eu chamei a atenção desta tribuna para algo que intriga a todos, para sabermos o porquê da necessidade desse projeto ser votado em regime de urgência. E alguns usaram o argumento de que talvez porque alguns deputados não se reelegeram e que, em decorrência, esses deputados não teriam um critério mais acurado para decidir o seu voto numa questão dessa importância. E outros argumentaram que talvez o Governador Alberto Goldman esteja prestando serviço ao médico e Governador eleito, Geraldo Alckmin, que ficaria constrangido de mandar um projeto de lei com esse teor. Ainda mais tendo ele recebido 400 mil reais da Qualicorp para o financiamento da sua campanha eleitoral.

Todos sabem que a Qualicorp é uma empresa gerenciadora de planos e seguros privados de saúde. Nesta eleição ela se constituiu em uma das maiores contribuintes para a campanha vitoriosa de Geraldo Alckmin ao Governo do Estado de São Paulo.

Esse tipo de iniciativa proposta pela atual direção da Secretaria de Estado da Saúde e com a concordância do Governo do Estado, na verdade, atende muito mais aos interesses privados na área da saúde, do que propriamente a preocupação de ter um aporte adicional de recursos para o Sistema Único de Saúde.

Se fosse verdadeiro esse argumento, nós teríamos observado a Bancada do PSDB no Congresso Nacional, e a Bancada dos Democratas, e outros partidos que dão sustentação política ao PSDB em São Paulo, defendendo a manutenção da CPMF. Não foi o que aconteceu. Da mesma forma que nós não temos visto o movimento por parte do PSDB, para a criação da contribuição social da saúde. Na verdade, eles não estão preocupados com a questão do financiamento da rede pública. Estão preocupados em prestar serviços a quem financiou as suas campanhas, no caso, a Qualicorp, e a outros planos privados e seguros de saúde que atuam na saúde suplementar.

Vejam por exemplo uma matéria divulgada no jornal “O Globo”, assinado por José Carlos Abrahão, presidente da Confederação Nacional de Saúde. Ele diz o seguinte: “Independentemente de quem venha a ganhar as eleições para a Presidência da República, é necessário pensar em outra participação do sistema privado na rede pública, que ele chama de um sistema S da Saúde.” E eu me pergunto: seria um sistema S da Saúde ou um sistema cifrão ($) da saúde?

Vemos, então, o presidente da Confederação Nacional da Saúde defendendo a presença orgânica, institucionalizada, deles junto à rede pública, como agora o Governo do PSDB se presta a fazer.

O jornal “Folha de S.Paulo” diz o seguinte: “Hospitais de São Paulo ampliam instalações. Para Henrique Salvador Silva, presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados, mais pessoas estão tendo acesso à saúde suplementar e a hospitais de primeira linha.

Entre 2003 e 2009, cerca de um milhão de paulistanos aderiram aos planos de saúde. Atualmente, 6,4 milhões de moradores estão inseridos na saúde suplementar, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Com o crescimento da economia, as empresas estão oferecendo planos de saúde mais abrangentes aos funcionários e suas famílias. A tendência é que haja um crescimento contínuo da procura por leitos hospitalares de melhor qualidade".

Ora, se a rede privada, que está captando novas pessoas para aderirem aos planos de saúde, não tem capacidade instalada para tanto, e não tem como responder de imediato a essa demanda, onde é que eles estão procurando suprir essa necessidade?

Evidentemente que pretendem fazer isso utilizando a rede pública, sobretudo os leitos de média alta complexidade, e os hospitais que estão localizados na periferia dos grandes centros urbanos e nas cidades do interior, que são praticamente a única alternativa de assistência à população que depende integralmente do Sistema Único de Saúde.

Também o jornal “Folha de S.Paulo”, na sua edição de 5 de abril deste ano, diz o seguinte: “Hospitais privados ampliam rede em São Paulo. Devido ao aumento de procura, os hospitais têm trabalhado no limite da sua capacidade. É difícil encontrar um centro cirúrgico vazio em um dia da semana pela manhã.

No auge da epidemia da gripe suína no ano passado, a espera nos prontos socorros se arrastava por horas. Os planos de saúde estão crescendo e isso é particularmente notório na Cidade de São Paulo, onde mais da metade dos moradores têm convênios".

Vejam que interessante o que consta na fala do atual superintendente do HC, que deverá ser um dos principais colaboradores do novo Secretário de Estado da Saúde: “Para especialistas, esse crescimento impacta positivamente também a rede publica. Segundo José Manoel de Camargo Teixeira, superintendente do HC, há pessoas que, mesmo pagando planos privados, utilizam o Sistema Único de Saúde. Na medida em que a rede privada ajusta as suas instalações e incorpora tecnologia para atender a exigência do mercado que se abre, os leitos públicos de hospitais, como o Hospital das Clínicas, se tornam praticamente exclusivo dos pacientes do SUS".

Olhem quanta hipocrisia: o mesmo governo que encaminha este projeto de lei, que sabe que há uma Constituição do Estado, que há um Código Estadual de Saúde e que vetou uma emenda similar a essa que se pretende aprovar hoje para alteração da Lei das Organizações Sociais, lança como argumento que é interessante o crescimento da rede privada, porque isso vai permitir que a rede do SUS seja reservada para os pacientes do SUS/dependente, que é a grande maioria da população.

Entretanto, não é isso que diz o projeto de lei, encaminhado pelo mesmo partido e pelo mesmo governo à Assembleia Legislativa de São Paulo.

Folha de São Paulo, dia 23 de setembro: “Pressão de plano de saúde inviabiliza o exercício da medicina". Pergunto aos meus colegas médicos, que exercem hoje mandato de Deputado Estadual, se acompanharam a pesquisa realizada pelo “DataFolha” e divulgada na “Folha de S.Paulo”: “Pesquisa realizada pelo “DataFolha”, a pedido da Associação Paulista de Medicina e divulgada nessa quinta-feira, mostra que os planos de saúde ameaçam o exercício da medicina, fazem ataques à autonomia dos médicos, interferência descabida na relação com pacientes, pressões para redução da internação e de exames e outros procedimentos são problemas detectados em todo o Estado de São Paulo”.

          Levantamento feito por quem? Pelo Partido dos Trabalhadores? Não. Feito pelo “DataFolha”, mostrando que os médicos se sentem subjugados, ameaçados e impedidos de exercerem livremente a profissão pelos planos privados de saúde, que agora terão reservados até 25% dos leitos da rede pública, sabidamente insuficiente para atender a população mais carente da Cidade, da Grande São Paulo e do Interior de São Paulo.

Vejam ainda o que acontece no Rio Grande do Sul. “Cidades gaúchas tentam barrar serviço pago no SUS. Prefeituras, no Rio Grande do Sul, ensaiam uma rebelião contra uma decisão inédita do Supremo Tribunal Federal, que permite a pacientes pagar para ter privilégios no atendimento do SUS.”

Trata-se da possibilidade de pacientes pagarem uma diferença para obterem acomodações melhores em hospitais públicos. Médicos também poderão cobrar pelo serviço diferenciado.

O prefeito de Giruá, Fabiam Thomas, do PDT, anunciou que não cumprirá a decisão porque ela permite que os pacientes, com o poder aquisitivo maior, furem a fila de internações no hospital ao serem encaminhados pelos médicos não credenciados pelo sistema público.

O que diz o Secretário de Saúde de Porto Alegre, que, me consta, não é do PT? “A imoralidade da cobrança suplementar, hoje praticamente extinta, vai voltar com tudo. Médicos poderão cobrar de pacientes do Sistema Único de Saúde”, avalia o Secretário Municipal da Saúde de Porto Alegre, Carlos Casartelli.

Vejam que é uma matéria divulgada na sucursal da “Folha de S.Paulo” em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Diz, também, em outra matéria “O Estado de S.Paulo”: “Atendimento diferenciado pode gerar punição.” “O Estado de S.Paulo” lembra que o novo Código de Ética Médica, recém instituído no País, estabelece que os médicos não só serão punidos profissionalmente por irregularidades cometidas durante o exercício da sua atividade. Agora isso foi ampliado. Administradores de instituições, secretários de Saúde, profissionais também poderão ser punidos por atividades que desrespeitem as normas éticas, explica o Presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz D’Ávila.

Portanto, quero ressaltar que os argumentos que estão sendo utilizados para se contrapor à Adin proposta contra a lei das Organizações Sociais no Supremo Tribunal Federal, e que também estão sendo utilizados em ações ordinárias movidas por sindicatos e pelo Ministério Público, caem por terra na medida em que não se garante mais a gratuidade da assistência no Sistema Único de Saúde.

Por outro lado, profissionais médicos que venham a trabalhar num sistema onde 25% dos leitos podem ser utilizados para atendimento de paciente privados ou vinculados a planos privados de saúde, estão sujeitos também a serem denunciados no novo Código de Ética Médica, por esse entendimento.

Não bastasse tudo isso, é profundamente imoral aceitarmos - num país que não gasta o suficiente em saúde pública, que não criou fontes específicas e permanentes para sustentação financeira do Sistema Único de Saúde -, que se penalize ainda mais a população carente desta cidade, do Interior, do Estado, por voto dos Srs. Deputados que dão sustentação política ao Governo do PSDB e do futuro Governador Geraldo Alckmin, de modo a permitir a privatização e a entrega desses leitos para particulares e planos privados de saúde que financiaram a sua campanha eleitoral.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO BARBOSA - DEM - Tem a palavra o nobre Deputado Carlos Giannazi, pelo tempo regimental de 15 minutos.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, como percebi que a base do Governo aqui, com 71 Deputados, não estão utilizando a tribuna para defender o projeto do Governador Alberto Goldman, do tucanato, resolvi ocupar esse espaço do ponto de vista regimental, mas registrando que a Bancada do PSOL é radicalmente contra a aprovação desse projeto.

Antes de entrar na discussão, gostaria de parabenizar o pronunciamento do Deputado Carlos Neder, porque foi uma intervenção muito clara, muito objetiva e feita por uma pessoa que conhece profundamente o Sistema Único de Saúde.

O Deputado Carlos Neder foi vereador da Cidade de São Paulo, foi Secretário Municipal da Educação na gestão da ex-Prefeita Marta Suplicy e conhece com muita profundidade a Saúde Pública e as contradições desse projeto de lei. Então, sinto que o pronunciamento do nobre Deputado Carlos Neder foi ouvido pela base do Governo para que ela pudesse fazer uma reflexão e mudar o seu voto ainda em relação aos efeitos danosos e perversos da aprovação do PLC 45, de 2010.

Alguns Deputados brincaram aqui, dizendo que 45 é a sigla do PSDB. Ainda bem que não é do PSOL, que é 50. Já pensou se fosse o PLC 50? Mas não é. É 45 que combina muito bem com o comportamento político ideológico e filosófico do PSDB, que tem como prática privatizar e destruir o patrimônio público.

A prática do tucanato no Brasil é entregar o patrimônio público para a iniciativa privada. Foi e está sendo assim com as nossas rodovias, com as nossas estradas. Estamos vendo já o término da construção das cabines de pedágio no Rodoanel do trecho Sul. Em breve, essas cabines estarão funcionando a todo vapor e arrecadando o dinheiro da população do Estado de São Paulo.

Temos agora a cobrança já instituída de pedágios da rodovia que liga Jundiaí a Itatiba e muitos outros que foram recentemente instalados no Estado de São Paulo. Esta tem sido a prática.

A privatização e a terceirização são modelos da gestão pública do PSDB. Faz parte do seu DNA. Então não é novidade para nós mais um projeto sendo discutido aqui na Assembleia Legislativa, entregando o patrimônio público construído com o dinheiro público para a iniciativa privada.

Estamos extremamente preocupados com esse PLC 45 porque ele é um atentado à Constituição Federal, viola um princípio constitucional, que é o direito à saúde, o direito gratuito à saúde de toda população brasileira. É um projeto praticamente que vende o atendimento e vende leitos de hospitais públicos para quem tem planos de saúde ou planos particulares. É muito grave o teor desse projeto. Ele é um atentado contra a Constituição Federal e o princípio do Sistema Único de Saúde. É inconcebível que tenhamos na base governista médicos votando a favor deste projeto, que tenhamos advogados votando num projeto que vai privatizar a Saúde no Estado de São Paulo. Nós entendemos que este projeto representa uma privatização dentro da privatização porque as OSs significam isso. Foi aprovado projeto de lei autorizando a entrega de vários hospitais às OSs, às organizações sociais de caráter privado, é bom frisar isso. Muitas delas têm, sim, fins lucrativos embora nos seus estatutos não conste isso, são as famosas instituições filantrópicas que de filantrópicas não tem nada. São instituições ‘pilantrópicas’ que utilizam o estatuto da filantropia para ter lucro, sim, lucro indireto conseguido de uma outra forma.

Estamos perplexos com a apresentação deste projeto. Ele é uma reedição, sem dúvida alguma, de uma outra proposta apresentada e aprovada, mas depois vetada pelo ex-Governador José Serra já que não queria sofrer desgaste antes da eleição presidencial. Então o ex-governador houve por bem vetar o projeto por conta do processo eleitoral, mas agora o projeto foi reeditado e voltou a esta augusta Casa de Leis para ser votado.

Temos de ter claro que as organizações sociais têm consumido uma boa parte do orçamento público da Secretaria estadual de Saúde, aliás, tem consumido valor superior ao que é investido nos hospitais públicos da rede direta. Isso é grave. E não vejo aqui a base governista discutindo, argumentando. O que vejo é uma passividade, uma submissão absoluta. Não vi um deputado defender este projeto até agora, por isso estou utilizando este espaço para provocar a base governista. É inconcebível que não tenhamos nem o líder da Bancada do PSDB defendendo a aprovação deste PLC. O que temos é uma grande crise na Saúde do Estado de São Paulo. Mais de 300 mil pessoas estão na fila esperando por uma cirurgia no Sistema Único de Saúde. Essas pessoas não estão sendo atendidas. Uma mulher para fazer um exame de mamografia espera três, quatro meses. Temos deficiência na distribuição de remédios. Este projeto vai na contramão da resolução dessa crise, sem contar que temos crise até no Hospital do Servidor Público estadual, que deveria cuidar da saúde dos servidores públicos do Estado. Temos crise no departamento de perícias médicas, é um Estado que não cuida nem da saúde dos seus próprios servidores, nem da população como um todo. Inclusive gostaria de abrir um espaço nesta discussão para reforçar a denúncia que estamos fazendo em relação ao departamento de perícias médicas do Estado, que leva hoje o nome de a casa dos horrores porque é um departamento que tem prejudicado muito os servidores do Estado. Temos denúncias de que existem mais de 40 mil processos paralisados no departamento de perícias médicas. A propósito, gostaria de apresentar as fotos que tiramos no departamento para que o telespectador e os deputados conheçam a real situação.

Vejam, esta é a situação hoje. Estes são os processos atrasados. São 40 mil processos paralisados de perícias médicas não publicadas, de pessoas que precisam da publicação dessas perícias para uma aposentadoria por invalidez, para um processo de readaptação, para uma licença médica. Os processos estão todos abandonados, sendo corroídos por ratos, baratas, por isso os servidores não têm as publicações no "Diário Oficial". Tem servidor que está esperando há três, quatro anos a publicação da perícia médica no "Diário Oficial". Se o Governo Estadual trata mal e não cuida da Saúde dos seus próprios servidores, que dirá da população em geral que tem o atendimento na rede pública. Já não tem atendimento e agora vai ter de disputar vaga com quem tem plano de Saúde. Isso é um absurdo. Isso é uma afronta à Constituição e a toda a população do Estado de São Paulo, por isso apelamos à base governista, aos 71 deputados que são cúmplices desse ataque à Saúde pública, desse ataque ao princípio do Sistema Único de Saúde para que façam uma reflexão séria e votem contrariamente à aprovação deste projeto. Temos números mostrando os gastos com os hospitais terceirizados no Estado de São Paulo, com as OSs que já têm a gestão dos hospitais públicos do Estado.

Em 2010 houve um gasto de um bilhão e 600 milhões de reais com as OSs e os hospitais públicos tiveram um investimento inferior. O Governo Estadual está investindo mais nas OSs, está transferindo dinheiro público do orçamento público dos nossos impostos para as ditas organizações sociais de caráter privado e não transfere o mesmo valor para os hospitais públicos do Estado. Por isso estamos tendo a falência do Sistema Único de Saúde aqui no Estado de São Paulo porque não há investimento do Governo Estadual; por isso temos mais de 300 mil pessoas esperando na fila por uma cirurgia uma consulta, um exame; por isso vemos o caos na Saúde porque o Governo está transferindo o dinheiro que pagamos através dos impostos para o orçamento da Saúde para as organizações sociais, que na primeira dificuldade, quando percebem que o atendimento a um paciente é caro, é custoso, transfere esse paciente para um hospital público. É isso que vem acontecendo.

Na discussão do orçamento estamos observando, por exemplo, que o Hospital do Câncer não teve atendida a sua reivindicação de emenda. Parece que o Hospital do Câncer solicitou uma emenda de 15 milhões de reais. O Hospital das Clínicas também não foi atendido na sua emenda de 35 milhões. Não há investimento mais em hospital público do Estado. O que vem acontecendo? O Governo Estadual vem deixando de investir nos hospitais públicos para entregar esses equipamentos públicos às organizações sociais, que não são controladas pelo Poder Público. Elas são obrigadas a fazer licitação para compra de material, elas não estão sob a égide da Lei de Responsabilidade Fiscal na questão da contratação de servidores. Uma verdadeira incoerência. Há um sucateamento da rede pública para justificar a entrega dos equipamentos públicos de Saúde às ditas organizações sociais de caráter privado. Por tudo isso nos manifestamos contrariamente a este projeto.

A Bancada do PSOL encontra-se em obstrução e se o projeto for aprovado, vamos entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, estamos conversando com o diretório nacional do PSOL e já temos o aval para ingressar. Espero que a base governista não cometa esse crime contra a saúde, contra a população do Estado de São Paulo, que a base governista recue. Há médicos aqui. O Deputado Pedro Tobias é um médico conceituado, um dos melhores de São Paulo, de Bauru, que salva vidas e tenho certeza de que ele fará uma reflexão muito séria a partir dos argumentos apresentados aqui não só por este deputado, mas por outros, como o Deputado Carlos Neder, que é médico conceituado também, como os Deputados Rui Falcão, Adriano Diogo. Todos os deputados que me antecederam aqui fizeram brilhantes intervenções com argumentos jurídicos do ponto de vista do sistema de saúde.

Apelamos que pelo menos os médicos que compõem a bancada governista se coloquem contra esse projeto. Nós da oposição - PSOL, PT e Deputado Major Olimpio -, vamos votar contra, vamos obstruir essa votação até o fim porque não seremos cúmplices desse sucateamento, dessa privatização, dessa terceirização da saúde que vai prejudicar os 42 milhões de habitantes do Estado de São Paulo.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO BARBOSA - DEM - Para falar contra, tem a palavra o nobre Deputado Simão Pedro.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - SEM REVISÃO DO ORADOR - Sr. Presidente João Barbosa, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, público que nos acompanha nas galerias e pela TV Assembleia, acho esta noite muito triste para o Estado de São Paulo, para aqueles que durante muito tempo construíram na luta o Sistema Único de Saúde. Eu sou paranaense, mas fui acolhido no Estado de São Paulo pela população da zona leste e lá aprendi a fazer política com os movimentos populares. Lembro-me do movimento dos médicos sanitaristas, do Eduardo Jorge que hoje é secretário do Verde e Meio Ambiente, do Deputado Roberto Gouvêa, médico que deixou um legado de legislação para o estado, como o Código Estadual de Saúde, sanitário, como bem disse o Deputado Carlos Neder, que também vem dessa luta. E o povo participando, construindo a participação social, o controle social com os conselhos de saúde. O movimento de saúde da zona leste foi uma escola, foi uma universidade que formou muita gente.

Estamos percebendo, nobre Deputado Carlos Neder, com esse governo que está se encerrando, um retrocesso aqui no Estado de São Paulo. Um retrocesso muito grande. Primeiro, a possibilidade de as OSs assumirem os equipamentos públicos de saúde. Os novos, e, recentemente, a possibilidade de através de uma lei estadual as OSs assumirem todos os equipamentos de saúde. Agora, essa nova lei permitindo que 25% do atendimento sejam feitos por proprietários de planos privados de saúde. É um desmonte. É uma noite muito triste para nós que acreditamos que o Estado tem que ser como determina a nossa Constituição, provedor de serviços de qualidade e gratuitos para a população como um todo e principalmente para aqueles que não têm condições de pagar plano privado. O que vemos aqui é o desmonte disso tudo e sem muita resistência, a não ser dos poucos deputados que estão se revezando na tribuna. Talvez até o próprio movimento sindical tenha se desanimado.

Concordo que esse é um projeto de lei contraditório. É uma cara de pau terrível dos que dão sustentação a esse governo aqui em São Paulo, principalmente os políticos do PSDB e do DEM. Espero não cansar aqueles que já ouviram o argumento, mas não custa repetir. Houve um movimento no Brasil inteiro, um convencimento, na verdade, de que a CPMF, que era um imposto que financiava a Saúde, a Previdência e a Assistência Social arrecadava 40 milhões principalmente dos setores mais ricos e abastados do nosso estado. Houve um movimento capitaneado pelos grandes banqueiros, pelos grandes industriais que não gostam de pagar imposto - gostam de sonegar -, convencendo a sociedade, inclusive as pessoas mais simples, de que a CPMF era um mal para a sociedade. Ora, era uma forma de se arrecadar e garantir investimento na saúde e assistência. Derrubou a CPMF, e agora, qual é o discurso que fazem aqui em São Paulo? “Precisamos arrumar uma forma de dar sustentabilidade ao sistema de atendimento à saúde, arrumar uma forma de financiamento.” E a forma de financiamento que os tucanos inventaram foi vender 25% dos leitos, do atendimento nos equipamentos de saúde a quem tem plano privado. Criticam aqueles que defendem uma nova legislação para arrecadar recursos para sustentação do SUS, mas aqui fazem dessa forma. Essa a primeira contradição. Talvez seja um argumento que não seja verdadeiro, talvez as intenções por trás desse Projeto de lei 45 de 2010 sejam de viabilizar esse modelo que está se implantando neste estado de transferir o atendimento de saúde ás organizações sociais. Por exemplo, ontem, saiu na grande imprensa que o Hospital Santa Catarina, que responde pelo atendimento ...

Sr. Presidente, não estou conseguindo raciocinar devido à algazarra no plenário.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO BARBOSA - DEM - Esta Presidência solicita aos Srs. Deputados que por gentileza ouçam o Deputado que está na tribuna.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado. Eu dizia que ontem os jornais noticiaram que o Hospital Santa Catarina, que é uma organização social e administra equipamento de saúde na zona sul, Campo Limpo, Cidade Ademar, desistiu, porque não vê viabilidade nesse tipo de sistema.

Sr. Presidente, peço uma verificação de presença, pois não constato presença suficiente de Srs. Deputados em plenário.

 

O SR. PRESIDENTE - JOÃO BARBOSA - DEM - É regimental o pedido de Vossa Excelência. Solicito aos nobres Deputados Gilmaci Santos e Gil Arantes auxiliarem a presidência na verificação de presença requerida.

 

* * *

 

- É iniciada a chamada.

 

* * *

 

- Assume a Presidência o Sr. Barros Munhoz.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - A Presidência constata quorum regimental, dá por interrompido o processo de verificação de presença, agradece a colaboração dos nobres Deputados Gilmaci Santos e Gil Arantes, e devolve a palavra ao nobre Deputado Simão Pedro.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - Sr. Presidente, Sras. Deputadas e Srs. Deputados, há pouco falava que é a forma como o governo está tentando viabilizar esse sistema das OSs. Muitos dizem: “Ora, se é um empresário privado, uma entidade que busca obter lucro, vai ser difícil conseguir isso por conta da pressão do aumento da demanda social”. O governo está tentando encontrar uma forma para salvar o sistema que ele pretende levar até o final que é passar todos os hospitais e postos de saúde para a iniciativa privada.

Agora, além da contradição em relação ao sistema há uma contradição política. V. Exa. foi líder do governo nesta Casa e sabe que o próprio ex-Governador José Serra vetou o artigo embutido naquele projeto de lei que autorizou que todos os equipamentos e hospitais públicos fossem repassados para as OSs.

Com voto contrário do PT, com o posicionamento contrário da oposição, os deputados alertavam que era inconstitucional, ia contra o Sistema Único de Saúde. E talvez com medo do desgaste político no período das eleições resolveu vetar para não ter problemas durante a campanha eleitoral.

Mas o que faz o governador Alberto Goldman? Manda, de novo, um projeto de lei com o mesmo conteúdo daquele artigo vetado, no final do ano, quando os deputados estão cansados, alguns perderam eleições, outros já vão para o Congresso Nacional, ou seja, no apagar das luzes o Governo de plantão, resolve fazer um favor ao próximo que vai entrar... Sr. Presidente, não estou conseguindo discursar devido à ...

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Esta Presidência solicita, por favor, a atenção de todo o Plenário visto que temos orador na tribuna e devemos todos prestar atenção às suas palavras. Devolvo a palavra ao nobre Deputado Simão Pedro.

 

O SR. SIMÃO PEDRO - PT - Obrigado Sr. Presidente. Estava dizendo aqui que o Governo de plantão, o Governo interino, resolve fazer um favor para o próximo Governo e manda, no apagar das luzes desse ano - não digo dessa legislatura, porque ela vai até março - manda esse projeto, talvez quando a sociedade já está se desmobilizando, aproximando-se do Natal, aproximando-se das festas, as pessoas tirando férias, tirando atenção, envia para esta Casa um projeto dessa magnitude, com essa complexidade, um projeto com essa dimensão, ou seja, um projeto que destrói o Sistema Único de Saúde, que é esse Projeto de lei Complementar nº 45/10, que determina que todos os equipamentos públicos do Estado administrados por OSs, pode vender até 25% do seu atendimento para quem tem Plano de Saúde.

Ora, um projeto dessa magnitude tinha que ser discutido à luz de um grande debate para que a sociedade soubesse de fato o que está acontecendo; mas não é isso que acontece.

Então, é uma contradição. Por que vetou, há meses atrás, o mesmo conteúdo antes de entrar como candidato oficialmente e agora depois das eleições... Ora, parece-me que isso é um engodo em relação à população do Estado de São Paulo. Por que não fez àquela época? Certamente teve medo e para não correr o risco vetou o artigo que já propõe esse mesmo conteúdo tempos atrás.

Agora ele manda um projeto com essa magnitude; um projeto que vai contra a Constituição do Estado de São Paulo.

Estou aqui com uma carta do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, que neste momento passo a ler:

“Cremesp pede retirada da urgência na votação do PLC 45/10 que destina leitos do SUS para os planos e seguros de saúde no Estado de São Paulo

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo vem manifestar preocupação quanto à tramitação, em caráter de urgência, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, do Projeto de Lei Complementar (PLC) 45/10, originário do Exmo. Governador do Estado de São Paulo, Alberto Goldman, que prevê a destinação aos planos de saúde e particulares de até 25% dos atendimentos em hospitais e unidades de saúde administrados pelas OSs (Organizações Sociais).

Trata-se de tema complexo, com grande impacto na configuração do sistema de saúde estadual, o que exige, a nosso ver, um debate com a participação de toda a sociedade.

Faz-se necessário aprofundar a discussão de aspectos jurídicos, uma vez que a Constituição do Estado de São Pauto veda explicitamente a cobrança de todo e qualquer serviço de saúde.

''Constituição de São Paulo

Artigo 222 - As ações e os serviços de saúde executados e desenvolvidos pelos órgãos e instituições públicas estaduais e municipais, da administração direta, indireta e fundacional, constituem o sistema único de saúde, nos termos da Constituição Federal, que se organizará ao nível do Estado, de acordo com as seguintes diretrizes e bases:

V - gratuidade dos serviços prestados, vedada a cobrança de despesas e taxas sob qualquer título. "

Há vários questionamento sobre a constitucionalidade, a aplicabilidade, o controle social, a contratualização e os aspectos éticos que envolvem o PLC 45/10, bem como sobre a efetiva implantação de mecanismos de ressarcimento ao SUS pelos planos e seguros de saúde privados, conforme legislação já existente.

Neste sentido, o Cremesp solicita que seja retirado o caráter de urgência da tramitação do PLC 45/10, para que haja tempo, na próxima Legislatura, de um debate ampliado e democrático acerca da proposta.

Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

Sessão Plenária, 14 de dezembro de 2010”

Portanto, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo solicita um debate. E aqui são os deputados da oposição que estão fazendo o debate. Os Deputados da base do Governo, que são a maioria, sequer veem à tribuna; não têm coragem de vir aqui defender um projeto dessa magnitude, dessa complexidade, que tanto mal vai causar principalmente à população mais pobre, que vai ter no Sistema Único do Estado duas portas; isso já acontece em muitas OSs; duas portas, ou seja, aqueles que não têm plano de saúde entram pela porta dos fundos, aqueles que têm plano de saúde terão tratamento privilegiado - isso quando toda a sociedade custeia esse sistema.

Isso é uma barbaridade Sr. Presidente; isso não deveria estar acontecendo. Isso é uma contradição política, contradição de toda a natureza, medo do Governador de enfrentar esse debate, por isso ele vetou o artigo. E agora, no apagar das luzes deste ano o Governo envia para cá um projeto dessa natureza, um projeto que afronta a Constituição, que destrói a sistema estadual de Saúde.

Sr. Presidente, como fizemos esse ano no debate da transferência de todos os equipamentos para as OSs, vamos votar contra e estamos chamando a atenção dos deputados que não querem saber do debate, estão aqui no plenário somente para dar quórum para que essa sessão não se interrompa, que façam um exame de consciência sobre o que está acontecendo. Vamos deixar esse debate para o ano que vem, quando o novo Governo estiver instalado, com a nova Assembleia Legislativa, mas não no apagar das luzes, como de vez em quando, quando se precisa fazer uma medida que causa malefício para o Estado de São Paulo manda-se o projeto no fim do ano. Lembro-me do Governador Claudio Lembo, que no dia 26 de dezembro publicou a prorrogação das concessões rodoviárias das estradas paulistas - no apagar das luzes. Dá impressão que esse Governo também no apagar das luzes envia para cá um projeto que tanto mal vai causar à população, principalmente à população mais pobre do Estado de São Paulo, que não tem condições de pagar um Plano de Saúde, que precisa de um atendimento de qualidade, e que esse Estado, esse Governo está levando à falência, impressiona-me que também no apagar das luzes envia um projeto e o que é impressionante, com a anuência da maioria dos deputados desta Casa que desprezam esse debate.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Para discutir a favor tem a palavra o nobre Deputado Pedro Tobias.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, acho que precisamos discutir sim, porque teve muita mentira nesse microfone.

O Deputado Simão Pedro fala agora da CPMF. Quem votou contra a CPMF foi o PT. Não sei como é que vocês mudam de opinião de acordo com a vossa conveniência. Votaram contra o CPMF, votaram contra a responsabilidade fiscal, votaram contra toda a Constituição e hoje vem fazer esse discurso bonito.

A Saúde está passando por uma crise, cuja causa é a tabela do SUS. Lá em Brasília é que está a verba. A crise da Saúde existe. Não é falta de vagas. O teto dos hospitais é limitado. O Incor tem capacidade de operar 200% a mais pelo SUS, mas o SUS não autoriza. Como a Santa Casa de Birigui, certamente o teto dela não atende à demanda. Todos os hospitais queriam aumentar o número de vagas para UTI; mas o Ministério não autoriza. Esse é que é o “x” da questão; não é falta de vaga. A vaga existe; mas as Santas Casas estão quebradas. E por quê? Porque a tabela do SUS dá prejuízo; falta dinheiro nobre Deputado. Esse é o “x” da questão da Saúde ter problema. Lógico que a Saúde tem problema.

Eu exerço a medicina a semana toda; não é apenas discurso.

Deputado Fausto Figueira, é pena que o Deputado Carlos Neder não esteja presente, ele foi colega de Giovanni Cerri; formou-se com ele. Você acha que o Dr. Giovanni da Organização Social da Universidade de São Paulo, que cuidou do Instituto do Câncer é bandido, é malandro? Vamos distinguir o bom do mau. Pode ser que haja um ou outro bandido, mas a maioria é gente de bem. E depois - uma pena o Deputado Carlos Neder não estar aí - eu e V. Exa., Deputado Fausto Figueira, fomos ajudados pela Unimed. Não fazemos de maneira escondida e não vamos vender nossa alma para uma medicina de grupo tipo Unimed, uma cooperativa. Ele acusando o futuro Governador de estar a favor do projeto para ajudar a medicina de grupo? É o contrário.

Hoje, o Instituto do Câncer tem capacidade para 600 leitos, e 190 estão ocupados. E ele não pode recusar nenhum paciente, e mais do que 25% têm convênio. O hospital está subsidiando quem? O dono do convênio, no sistema atual. Já falei com várias pessoas a respeito desse projeto e acho que ele só vai funcionar no Instituto do Câncer, porque se juntarmos todos os pacientes que têm câncer, no Estado, para serem internados no mesmo dia - isso nunca vai acontecer -, não chegaria a 500. E pacientes de Bauru e de Jaú não veem para cá. Vão ser internados lá, no Amaral Carvalho de Jaú. Os hospitais precisam arrecadar mais porque a tabela do SUS, é só para 190 leitos, o Orçamento do Instituto do Câncer é de 340 milhões. Onde está o Governo Federal? O SUS é do Governo Federal. O Governo Federal fez loteria esportiva e obrigou times de futebol a pagarem INSS, fundo de garantia.

O discurso aqui está bonito, mas esse discurso é para ajudar dono de empresa de medicina de grupo, porque esse projeto prevê até 25% das vagas e não vai reservar nenhuma vaga. É mentira mais uma vez porque não há duas filas, não. É a mesma fila e ninguém vai dizer que “esses 25% são para convênio”. Na hora da internação será perguntado se o paciente tem ou não convênio. Caso tenha, será internado pelo convênio. Digo até 25%, que não significa 25. E vai funcionar no máximo no Instituto do Câncer.

 

O SR. ROBERTO MORAIS - PPS - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Obrigado, Deputado Pedro Tobias, brilhante deputado, brilhante médico. Fiz questão absoluta, além de discutir dentro da nossa Bancada do PPS, de conversar com o Deputado Pedro Tobias - afinal de contas há tanto tempo nesta Casa, médico brilhante de Bauru - para que nos desse mais subsídios, além do próprio Governo. Esse debate é salutar entre a oposição e a situação para que tenhamos uma noção exata.

Então parabéns pela sua defesa, pela maneira como coloca e explica esse projeto de lei. Pedi o aparte para cumprimentá-lo pela postura na tribuna.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Obrigado, Deputado.

E depois dizer que todas essas organizações são desonestas? Não aceito isso. Lógico que algumas, sim. Deveria ser feita uma estátua para as Irmãs Marcelinas pelo trabalho que fazem mesmo com essa tabela do SUS. O Deputado Carlos Neder foi colega de turma de Giovanni que trabalhou no Instituto do Câncer, foi diretor. Não sei se ele acha que Giovane desviou dinheiro. Dou toda credibilidade para esse homem.

Acho que deve haver fiscalização, sim. Vamos fazer uma discussão não partidária. Acho que as Organizações Sociais precisam de um pouco mais de controle. E a promessa do Dr. Giovanni, seu primeiro projeto, primeiro estudo é mandar para esta Casa uma proposta para que haja mais fiscalização por parte do Poder Público. Mais ainda: em todo o interior, todas as cidades que usam hospitais deveriam ter um conselho consultivo para todos os Secretários da Saúde poderem participar. Em São Paulo, as subprefeituras, porque aqui é difícil. Imaginem: 20% são internados pelo convênio e 80% pelo SUS, isso no Instituto do Câncer. Vinte por cento arrecadam por ano 250 milhões e 80% arrecadam 250 milhões. Isso é para ajudar gente mais humilde. Hoje, o Incor sobrevive dessa parcela pequena internada pelo convênio e que sustenta o resto com qualidade. Eu vejo o usuário, porque a Saúde existe para o paciente.

Deputado Enio Tatto, meu amigo, vá ao hospital que V. Exa. quiser, onde há Organizações Sociais e pergunte aos pacientes, que são os usuários, e V. Exa. vai ouvir a resposta, se estão satisfeitos ou não. Não é briga partidária. A oposição está fazendo o seu papel, a situação vai fazer o seu, mas na área da Saúde precisamos discutir com mais responsabilidade e ver quem é melhor. Acho que a idéia de Organizações Sociais ganhou nota 10. Mas chegou a hora de apertar o controle em cima dessas organizações. Não podem ficar soltas.

 

O SR. ENIO TATTO - PT - COM ASSENTIMENTO DO ORADOR - Meu amigo, Deputado Pedro Tobias, que respeito muito, gosto muito. Vim ao microfone porque V. Exa. me citou, mas além de eu ser contra esse projeto não tenho uma boa referência, porque na minha região, por exemplo, o Hospital do Grajaú foi entregue à Osec. Em dois anos, depois de equipar o ambulatório, de colocar dinheiro, a Osec faliu e teve que entregar o hospital de volta ao Estado com uma dívida muito grande. E hoje, nos jornais - por isso falo da minha região -, as Irmãs de Santa Catarina estão devolvendo três pronto-socorros, o da Pedreira, do Grajaú e de Parelheiros, porque não conseguiram gerenciá-los, achando que há pouco dinheiro. Na minha região não está dando certo. Pode até ser que em outras regiões esteja funcionando melhor, o que não acredito. Se a minha convicção era de ser contra esse projeto, baseado na minha região, sou mais contra ainda e tenho mais convicção. Obrigado pelo aparte.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Meu amigo, agora em Brasília se descobriu que alguma empresa fantasma está usando emenda no Ministério do Turismo. Podemos falar que as emendas têm que acabar? Quem faz coisa errada é bandido, tanto no Estado quanto na União, e deveria ser punido. Não estou falando que em todos os lugares tudo está a mil maravilhas. Mas não podemos generalizar. A maioria das Santas Casas do interior está fechando, por falta de honorários: a tabela do SUS é baixa.

Darei um exemplo a você, que está assistindo em casa. O paciente que opera de câncer de tireóide faz iodoterapia, no lugar da radioterapia. O SUS paga 600 reais para fazer a aplicação da iodoterapia e o custo para o Hospital da Santa Casa é de dois mil reais. Nenhum hospital quer fazer. Esse é o x da questão: financiamento. Existem problemas? Sim, vamos cobrar. Mas com as experiências das Organizações Sociais hoje os hospitais próprios do Estado melhoraram em 100% o atendimento, porque podemos fazer essa comparação.

Mas existe dinheiro para atender todos os pacientes? Não. No mundo inteiro a Saúde é problema. Mas o problema hoje é que precisamos regular a emenda 29 em Brasília. Mas nem a emenda 29 vai resolver o problema da Saúde. Vai faltar dinheiro. Precisamos gastar muito bem, porque temos gasto muito mal, o público e o particular. Hoje qualquer um chega e tem que fazer ressonância ou tomografia. Num país pobre, precisamos fazer a clínica.

Sou favorável, sim, a esse projeto. Como médico oncologista não tenho vergonha, não, porque a área da Oncologia é caríssima. Não pode o portador de convênio ser sustentado pelo poder público, pelo coitado do paciente do SUS: ele precisa de vaga. Se o outro paga todo mês o seu convênio, deveria o próprio convênio pagar o tratamento dele, e não o SUS.

No Brasil se fala que a saúde é para todos, é dever do Estado. Isso é poesia, porque na prática é só papo. 

Continuarei defendendo, como sempre falei, a dona Maria que não tem sindicato, não tem associação. O Deputado Giannazi, que sempre foi sindicalista, está perdoado, pode defender, é natural, porque se não faz esse discurso, estaria traindo sua classe. Vossa Excelência é sindicalista, mas eu, como Deputado, não. Sou Deputado da comunidade, sou o Deputado da dona Maria, que não tem ninguém para defendê-la, não tem dinheiro para arrumar advogado.

Parabéns pelo projeto. Vamos aprovar e vamos apoiar o Dr. Giovanni, grande médico, grande professor que vai, quem sabe, revolucionar a Saúde em São Paulo.

 

O SR. CARLOS GIANNAZI - PSOL - PARA COMUNICAÇÃO - Sr. Presidente, quero primeiro parabenizar o Deputado Pedro Tobias pela coragem de defender o projeto. É o primeiro Deputado da base governista que teve a coragem de mostrar a sua cara e defender o projeto, embora nós sejamos contrários a todas as argumentações apresentadas.

Aproveito para dizer ao Deputado Pedro Tobias que este Deputado não é sindicalista e nunca foi sindicalista. Nunca tive cargo em nenhum sindicato. Defendo a luta dos sindicatos em defesa dos direitos dos trabalhadores, mas nunca fui um sindicalista de fato. Nunca fui diretor de sindicato e de nenhuma entidade. Sempre militei na base dos sindicatos. É só um esclarecimento.

O principal argumento da defesa do PLC 45/10, esse nefasto e danoso projeto, é a autorização para o ressarcimento, para a cobrança de pessoas que são atendidas com planos de saúde no SUS, nos hospitais geridos pelas Organizações Sociais de Saúde.

Quero informar ao Deputado Pedro Tobias que já temos duas leis, uma federal e uma estadual, autorizando o ressarcimento. Esse PLC 45 é inócuo, não serve para nada, não há necessidade de sua aprovação. Temos a Lei 9058/94, aprovada aqui na Assembleia Legislativa, de autoria do ex-Deputado Arlindo Chinaglia, que foi Presidente inclusive da Câmara dos Deputados, e a Lei Federal 9656/98.

Por isso esse PLC 45 atende a outros interesses, não a esse interesse de cobrança ou ressarcimento de quem tem plano de saúde na rede pública.

 

O SR. PEDRO TOBIAS - PSDB - Sr. Presidente, é estranho. Só porque o autor do projeto é um Deputado do PT, e se existem dois projetos, um estadual e um federal, falando a mesma coisa, não há problema, é mais um, não vai mudar nada.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Tem a palavra o nobre Deputado Hamilton Pereira, para falar contra o projeto.

 

O SR. HAMILTON PEREIRA - PT - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras. Deputadas, servidores da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, sem o quais seria impossível estarmos trabalhando até esta hora, não fora o apoio desses funcionários todos, não teríamos condições de manter aqui esse diálogo tão importante para a população do Estado de São Paulo, para a opinião pública do Estado de São Paulo que, afinal de contas, todos nós representamos, independentemente da origem de cada um, da profissão de cada um.

Eu, por exemplo, venho à tribuna neste momento na condição de Deputado estadual, ou seja, de representante do povo do Estado de São Paulo, e não me envergonho da minha origem de dirigente sindical. Já ocupei, sim, o cargo de dirigente sindical, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba.

Quero louvar, inclusive, a presença aqui de representantes do SindSaúde, sindicato que defende os interesses dos trabalhadores da Saúde do Estado de São Paulo, tão vilipendiados, tão ofendidos, tão desmoralizados pela política salarial dos governos do PSDB.

Quero lembrar aqui que está em discussão nesta Casa, e hoje passamos uma boa parte do dia discutindo na Comissão de Finanças e Orçamento o Orçamento público do Estado de São Paulo.

Segundo a previsão do Projeto de Lei Orçamentária para 2011, do próprio Governador do Estado de São Paulo, o Estado de São Paulo arrecadará 140,600 bilhões de reais. No entanto, em que pese nós estarmos falando do maior orçamento público, depois do Orçamento geral da União, temos, infelizmente, que constatar que os servidores públicos do Estado de São Paulo, de todas as áreas, são muito maltratados, são extremamente maltratados pelo Governo do PSDB.

Já tivemos a oportunidade de, ao longo de muitos anos, discutirmos aqui desta tribuna, deste microfone, essa concepção neoliberal do Governo do Estado de São Paulo, que sente essa necessidade de entregar para a iniciativa privada tudo aquilo que pertence ao público, tudo o que foi construído, erigido à custa do povo do Estado de São Paulo.

O Estado de São Paulo é composto por 645 municípios, e tem 40 milhões de habitantes, trabalhadores que religiosamente cumprem suas obrigações, pagando os seus impostos, para constituir esse tesouro formidável que fica na Fazenda pública do Estado de São Paulo.

Repito. Previsão de arrecadação para 2011: 140 bilhões, 662 milhões de reais. É o Estado mais vigoroso do ponto de vista econômico. Este Estado teria condições de proporcionar uma saúde de qualidade para o povo de Estado de São Paulo. Este Estado teria condições de proporcionar um salário digno, que pudesse alavancar o entusiasmo do servidor público do Estado de São Paulo, seja da saúde - estaremos tratando de um projeto extremamente nocivo à questão da estrutura da saúde pública do Estado de São Paulo - seja da Educação, seja da Segurança Pública, seja do Judiciário. Este Estado poderia proporcionar muito melhores condições salariais, condições de trabalho, entusiasmo para que as pessoas pudessem trabalhar bem remuneradas, valorizadas profissionalmente, sentindo orgulho inclusive do Governo, que é seu patrão. Mas não é a isso que assistimos, infelizmente. Temos um governo que é muito mau patrão para o servidor público do Estado de São Paulo.

Quero dizer que me orgulho de ver nesta galeria, hoje, servidores públicos da área da saúde, que estão dentro de um sindicato lutando pelos profissionais da saúde deste Estado, tão desmoralizados, tão mal pagos, tão desvalorizados, mas que, a despeito de serem maltratados, continuam lutando pela qualidade da Saúde deste Estado porque são vocacionados. Aliás, para trabalhar pelo serviço público do Estado de São Paulo, só sendo muito vocacionado. Se fosse pelo salário, as pessoas teriam parado de trabalhar, de tão mal que são remunerados, tão maltratados que são por esses governos do PSDB que vêm se sucedendo há 16 anos no Estado de São Paulo.

Já tivemos noites memoráveis na Assembleia Legislativa fazendo debates contra a privatização que o governo neoliberal do PSDB teima em fazer no nosso Estado. Eu já estava aqui, o Deputado Rui Falcão já estava aqui em 1996, quando o então Governador Mário Covas, de saudosa memória, nomeou seu vice-governador Geraldo Alckmin para ser coordenador do Programa Estadual de Desestatização. Ali começou um processo de entrega, de dilapidação do patrimônio do Estado de São Paulo, de entrega do patrimônio público para a iniciativa privada.

Estivemos nesta tribuna travando duelo com os neoliberais, com toda a Bancada de sustentação daquele governo nocivo aos interesses do Estado de São Paulo, aquele governo que, por exemplo, numa das noites, colocou para votar a autorização da venda da Eletropaulo - geração, transmissão e fornecimento de energia elétrica do Estado. Venderam a Eletropaulo, pois tinham a maioria. Debatemos, debatemos e, ao final das contas, fomos derrotados na votação. A maioria aprovou o plano de Geraldo Alckmin, que volta hoje ao Governo do Estado de São Paulo. Foi vendida a Eletropaulo e hoje as pessoas reclamam da conta de luz.

Posteriormente, tivemos aqui, neste mesmo plenário, um debate em que nós da Bancada do Partido dos Trabalhadores, somados aos partidos de oposição - lembro aqui da aguerrida Bancada do PCdoB - tentamos impedir a privatização do Banespa. O Banespa era o banco público do Estado de São Paulo. Quando perdemos a votação, o Banespa foi colocado à venda. Naquela oportunidade, o Banespa era responsável por 65% de todas as operações de crédito agrícola do Estado de São Paulo.

 

O SR. ADRIANO DIOGO - PT - Sr. Presidente, solicito regimentalmente uma verificação de presença.

 

O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - O pedido de V. Exa. é regimental. Convido os nobres Deputados Otoniel Lima e João Barbosa para auxiliarem a Presidência na verificação de presença ora requerida.

 

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- É iniciada a chamada.

 

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O SR. PRESIDENTE - BARROS MUNHOZ - PSDB - Srs. Deputados, Sras. Deputadas, a Presidência constata número regimental de Srs. Deputados em plenário, pelo que dá por interrompido o processo de verificação de presença e agradece a colaboração dos nobres Deputados Otoniel Lima e João Barbosa.

Srs. Deputados, Sras. Deputadas, esgotado o tempo destinado à presente sessão, esta Presidência, antes de encerrá-la, convoca V.Exas. para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, informando que a Ordem do Dia será a mesma da sessão de hoje, lembrando-os ainda da Sessão Extraordinária a realizar-se hoje, às 21 horas e 40 minutos.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 21 horas e 29 minutos.

 

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