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28 DE MARÇO DE 2016

014ª SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM Á ENTREGA DA MEDALHA THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO

 

Presidente: LECI BRANDÃO

 

RESUMO

 

1 - LECI BRANDÃO

Assume a Presidência e abre a sessão. Nomeia as autoridades. Informa que o presidente Fernando Capez convocara a presente sessão solene a pedido da deputada Leci Brandão, ora na condução dos trabalhos, com a finalidade de "Realizar a entrega da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro". Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Faz pronunciamento. Lembra a celebração da Páscoa, no dia de ontem. Discorre sobre o simbolismo da data. Atribui especial significado ao trabalho social da ex-deputada estadual Theodosina Rosário Ribeiro. Cita o propósito da premiação, que está em sua segunda edição. Fala sobre o momento de ansiedade e de insegurança pelo qual passam os brasileiros, principalmente para os mais socialmente fragilizados. Lamenta o tom do discurso que permeia a sociedade, de conservadorismo e de ódio. Tece críticas à mídia que, a seu ver, tem contribuído para inflamar a população à discórdia. Rememora o golpe militar, há 52 anos. Compara o ocorrido no passado à tentativa de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Destaca a importância da criação da Medalha Theodosina Ribeiro.

 

2 - MAURÍCIO PESTANA

Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial, ressalta o valor da Medalha Theodosina Ribeiro, que foi a primeira mulher negra eleita deputada estadual no estado de São Paulo. Lembra o início de sua carreira jornalística. Acusa a imprensa de promover um golpe midiático, o que prejudica, do seu ponto de vista, a classe mais humilde da população. Repudia a discriminação sofrida pelos negros. Parabeniza a deputada Leci Brandão pela iniciativa do prêmio.

 

3 - ALCIDES AMAZONAS

Subprefeito da Sé, cumprimenta as autoridades presentes. Discorre sobre a situação política pela qual passa o País. Cita o protesto feminino ocorrido em 8 de março. Defende os legados sociais deixados pelos governos Lula e Dilma. Faz coro ao discurso da deputada Leci Brandão no que tange à tentativa de golpe contra a democracia.

 

4 - JAMIL MURAD

Vereador da Câmara Municipal de São Paulo, enfatiza o trabalho realizado pela ex-deputada Theodosina Ribeiro. Faz menção à atuação social de algumas das homenageadas nesta solenidade. Opina que o prêmio Theodosina Ribeiro tem uma virtude essencial, a de destacar as mulheres que atuam de forma relevante em favor da sociedade. Faz reflexão sobre a tentativa de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a seu ver, sem fundamento. Questiona quais são os projetos apresentados pela oposição, para o caso de queda do atual governo. Elenca possíveis danos para a sociedade, com a saída da presidente petista. Tece elogios à deputada Leci Brandão.

 

5 - THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO

Ex-deputada estadual, fala sobre o papel da mulher na sociedade. Opina que esta solenidade tem o intuito de promover a reflexão da luta feminina no Brasil. Lembra conquistas das mulheres, como a do direito ao voto, por exemplo. Defende maior participação feminina na política. Tece elogios à deputada Leci Brandão. Defende uma educação de qualidade. Lembra sua trajetória, de 20 anos, nesta Casa. Faz agradecimentos gerais.

 

6 - CLAUDIA LUNA

Mestre de cerimônias, anuncia a entrega da Medalha Theodosina Rosário Ribeiro a mulheres que se destacaram na sociedade em razão de suas contribuições ao enfrentamento da discriminação racial e na defesa dos direitos das mulheres no estado de São Paulo.

 

7 - ZENI ROSE TOLOI

Supervisora técnica de saúde na Casa Verde/Cachoeirinha, parabeniza suas colaboradoras, que com ela atuam na área da Saúde. Faz breve menção do trabalho realizado no SUS. Agradece pela homenagem.

 

8 - SANDRA SANTOS

Voluntária na área social, divide a premiação com a comunidade umbandista. Cita colaboradores, a quem fez agradecimentos.

 

9 - RAQUEL TRINDADE

Fundadora do Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes, tece elogios à ex-deputada Theodosina Ribeiro e à deputada Leci Brandão. Cumprimenta autoridades presentes. Diz que o PCdoB lhe traz à memória a militância de seu pai. Menciona a diversidade religiosa de sua família, composta por membros do candomblé e por evangélicos. Recita um poema, de autoria de seu pai, Solano Trindade, o qual dedica à deputada Leci Brandão e à ex-deputada Theodosina Ribeiro.

 

10 - NATALI DE ARAÚJO

Atuante no combate ao câncer, fala sobre a descoberta de um câncer de mama, em 2012, fato que mudara a trajetória de sua existência. Agradece às "Meninas de Peito", a quem dedica esse prêmio, bem como à sua família, e a Deus, por ter lhe concedido a grande oportunidade de sua vida.

 

11 - RENATA PERON

Militante dos Direitos Humanos, Diversidade e Cantora, comenta a luta de travestis e transexuais. Cita poema com o qual se identifica.

 

12 - RENATA MARTINS

Diretora audiovisual na Companhia dos Crespos, agradece pela homenagem. Cita mulheres consideradas suas fontes de inspiração. Faz agradecimento, in memorian, à sua mãe.

 

13 - ILDSLAINE MONICA DA SILVA

MC Sharilayn, ativista cultural e social, faz agradecimentos. Relata situação vivenciada durante atividade no Projeto Guri, ocasião em que um garoto de 9 anos declarou que a violência nunca teria fim. Fala de sua tristeza e preocupação diante da afirmação daquela criança. Destaca sua luta social, que visa mudar a vivência das minorias.

 

14 - CONCEIÇÃO APARECIDA LOURENÇO

Jornalista, escritora e ex-diretora da Revista Raça, diz que a ex-deputada Theodosina Ribeiro fora sua inspiração na infância. Fala de sua emoção pela homenagem recebida. Faz agradecimentos.

 

15 - KENARIK BOUJIKIAN FELIPPE

Desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo, cumprimenta as autoridades presentes. Dedica a medalha recebida às suas colaboradoras de trabalho. Reflete sobre a situação das mulheres negras encarceradas, que, adita, são as mais invisíveis perante a sociedade. Informa que de cada três mulheres detidas, duas são negras, o que denota, a seu ver, o preconceito do Estado. Narra história de rei, fazendo analogia com lei brasileira que proibia a entrada de negros no País, na época do Império. Lembra o papel da Justiça durante a Ditadura Militar. Questiona a atuação do Judiciário no que tange ao processo prisional no Brasil. Acrescenta que a Justiça tem sido conivente com a predominância de mulheres negras encarceradas.

 

16 - ALEXANDRA BALDEH LORAS

Consulesa da França, diz que no Brasil, ela conseguiu verbalizar toda a dor que há em seu interior, com relação ao sofrimento dos negros. Ressalta que na França, sua nação de origem, não é possível falar de temas raciais, uma vez que os negros são minoria naquele País. Estimula os negros a resgatarem sua autoestima. Cita renomados representantes da raça negra, como Machado de Assis. Avalia que o problema do Brasil não é a corrupção, presente, a seu ver, em todo o mundo, mas a desigualdade racial e econômica.

 

17 - CLÁUDIA LUNA

Mestre de cerimônias, justifica ausências.

 

18 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Presta homenagem, com entrega de placas, às Sras. Alexandra Gonçalves e Silvia Matheus, ambas intérpretes de Libras nesta Casa de Leis.

 

19 - ALEXANDRA GONÇALVES

Intérprete de Libras deste Parlamento, cita poema. Fala sobre a interpretação da linguagem de sinais. Comenta seus planos para dar continuidade ao trabalho em prol dos deficientes auditivos.

 

20 - SILVIA RAQUEL ALVES MATHEUS

Professora do curso de Libras e intérprete de Libras nesta Casa de Leis, agradece pela homenagem recebida.

 

21 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Faz suas considerações finais. Agradece a presença de todos. Faz agradecimento especial à sua equipe de assessores. Fala de suas conquistas pessoais e das emoções vivenciadas no estado de São Paulo. Lembra a escravidão dos negros. Ressalta a diversidade racial no Brasil. Acrescenta que isso foi o que a motivou a dar o nome ao seu gabinete, "Quilombo da Diversidade". Combate a disseminação do ódio. Anuncia a apresentação do "Grupo Amigas do Samba.com". Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Assume a Presidência e abre a sessão a Sra. Leci Brandão.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Bom dia, senhoras e senhores. Bem vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, para a sessão solene com a finalidade de entregar a medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

Anunciamos, para compor a Mesa principal, a Exma. Sra. Deputada Leci Brandão, proponente desta sessão solene. (Palmas.)

A Exma. Sra. Theodosina Rosário Ribeiro, que foi deputada estadual nesta Casa de Leis e confere seu nome à presente homenagem. (Palmas.)

O Exmo. Sr. Subprefeito da Sé, Alcides Amazonas. (Palmas.)

O Exmo. Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Sr. Maurício Pestana. (Palmas.)

Com a palavra, a nobre deputada Leci Brandão.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Senhoras e senhores, esta sessão solene foi convocada pelo presidente desta Casa de Leis, deputado Fernando Capez, atendendo solicitação desta deputada, com a finalidade de entregar a medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

Convido todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

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A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Anunciamos as seguintes presenças: deputado estadual Carlos Bezerra Jr., presidente da Comissão de Direitos Humanos; vereador Jamil Murad; Sra. Renata Petta, representando a vice-prefeita de São Paulo, Sra. Nádia Campeão; vereador Quito Formiga, da Câmara Municipal de São Paulo; vereador Roberto do Proerd, da Câmara de São Caetano do Sul; Sra. Fabiana Codo, representando a prefeitura de Itaquaquecetuba; Dra. Mylene Pereira Ramos, juíza do Trabalho e diretora do Fórum Trabalhista da zona sul; Sr. José Roberto Ribeiro, presidente do Promoaxé de Cultura; Sra. Sandra Santos, presidente da Associação Umbandista e Espiritualista do Estado de São Paulo.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Eu peço que ocupe a Mesa o vereador Jamil Murad, o sempre deputado Jamil Murad. (Palmas.)

Antes de começar o meu discurso, eu gostaria de dizer que estou especialmente feliz por estarmos na segunda edição da Medalha Theodosina Ribeiro e pela presença de todos, pela qualidade das pessoas que estão neste plenário, que é o principal plenário desta Assembleia Legislativa. Muito obrigada. (Palmas.)

Que Deus proteja, abençoe e ilumine todas e todos que estão aqui. Ontem celebramos a Páscoa. Independentemente da religião, acredito que todos que buscam um mundo que seja norteado por uma cultura de paz reconhecem a importância e o significado desta data, que é de renovação da esperança e, sobretudo, do amor ao próximo.

É sob esse simbolismo que estamos nesta sessão solene para celebrar e destacar o trabalho de grandes mulheres, que, no seu dia a dia, trabalham com esperança sempre renovada para fazer deste mundo um lugar melhor para todos nós. São desembargadoras, cineastas, ativistas de movimentos sociais, líderes religiosas, jornalistas, artistas, intelectuais, enfim, mulheres que aprendem e ensinam a partir de suas experiências de vida e de seus valores. Cada um pode e deve fazer a sua parte para que consigamos viver em um mundo mais justo.

A Dra. Theodosina Ribeiro foi um exemplo de vida, dedicada ao trabalho ético e aguerrido em favor das minorias. Primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual por São Paulo, ela segue sendo uma luz inspiradora para que todas nós persigamos o ideal de ver os espaços de poder sendo ocupados por aqueles e aquelas que, de fato, representam a maioria do nosso povo, com legitimidade. (Palmas.)

O propósito da Medalha Theodosina Ribeiro que, este ano, está em sua segunda edição, é justamente valorizar o trabalho de mulheres que dedicam suas vidas a melhorar a vida de outras pessoas, principalmente a de mulheres negras e pobres, segmento mais vulnerável de nossa população, como todos nós sabemos.

Os últimos dias têm sido de ansiedade e de insegurança para os brasileiros, principalmente para os mais vulneráveis: mulheres, negros e pobres, ou seja, mais da metade da população. Portanto, apesar de estarmos em um momento de celebração e de homenagens, não posso me furtar de falar sobre este momento.

Os tempos nunca foram tão fáceis para nós, mulheres negras, portanto, não é de hoje que estamos nas ruas. Nossa resistência vem de longe, vem desde os quilombos, e permanece nas quebradas e nas favelas, exigindo vida digna, gritando contra a violência à mulher e contra o genocídio do nosso povo. A vida sempre foi dura para o nosso povo, repito.

Porém, o que estamos vendo acontecer, neste momento, em nosso País, é uma volta, com toda força, de um conservadorismo e de um discurso de ódio que estão sendo colocados em prática transformados em ação. Todos os dias, temos relatos de pessoas agredidas na rua por defenderem ideais de liberdade. E tudo isso sendo insuflado por uma mídia que está estimulando as pessoas a fazerem linchamentos públicos e fechando os olhos para aqueles que estão indisfarçadamente atropelando a nossa Constituição.

Mas temos memória. Não podemos deixar que aqueles que nunca se conformaram com a resposta das urnas destruam um projeto que não deu às mulheres negras o seu justo lugar na sociedade. Se não deu esse lugar, pelo menos avançou em alguns passos em direção à nossa inclusão. Sabemos que a dita democracia que vivemos no País ainda não chegou para o povo negro como esperamos, principalmente para as mulheres negras. Ela é restrita.

Entretanto, também temos plena consciência de que qualquer retrocesso terá grande impacto em nós. O que se vê é a inserção de discursos de ódio, que recaem fortemente sobre quem faz parte de alguma minoria, como é o nosso caso. O que a história nos mostra é que a corda sempre arrebenta, e sempre arrebentou, para o lado mais fraco e, no Brasil, esse lado tem cor, tem gênero e tem classe.

Eu me lembrava, ainda há pouco, que, 52 anos atrás, quando houve o golpe militar, eu morava na escola Nicarágua, no Rio de Janeiro, no bairro de Realengo, que fica perto da Vila Militar, e ouvia os tanques de guerra indo, pela Vila Militar, à cidade. Isso foi há 52 anos - vai fazer na próxima quinta-feira. A vida é uma coisa incrível.

Hoje, dia 28 de março, eu estou aqui, dentro da maior assembleia da América Latina, que é a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na condição de deputada que o estado de São Paulo me deu, me colocou, e vejo boquiaberta que querem fazer um golpe diferente. Não é a legalidade que está acontecendo, é outra coisa. Infelizmente, nós ainda temos pessoas no nosso país que não aceitam que aqueles que nunca tiveram nada consigam ter alguma coisa, que não aceitam, principalmente, que haja cotas nas universidades, que não aceitam, principalmente, que, nós, mulheres negras, estejamos agora mais afastadas das cozinhas e dos tanques. Que não aceitam, quem sabe, até, que eu seja a segunda mulher a entrar nesta Casa pelo voto de vocês do estado de São Paulo. (Palmas.) E que não aceitam um resultado legítimo da democracia.

Tenho amigos, inclusive da minha própria etnia, que pertencem a outros caminhos partidários, e eu respeito todos eles. As minhas testemunhas são os 93 parlamentares desta Casa que semanalmente encontram comigo nos corredores e me cumprimentam pelo meu comportamento na condição de parlamentar, por eu saber respeitar todas e quaisquer siglas partidárias. Mas não posso permitir que haja, ao lado da Assembleia Legislativa, um cartaz atingindo o meu partido. Isso eu não posso admitir. Tenho muito orgulho de ser do Partido Comunista do Brasil. (Palmas.)

Nós não mudamos. Sou a mesma Leci que vocês conheceram durante todos esses anos, cantando, tocando pandeiro, tocando tantã, cantando músicas de protestos. Mas, na condição de parlamentar, tenho muito orgulho de, com a minha equipe - a qual agradeço - ter criado esse prêmio, que hoje é uma medalha que irá ficar para sempre: a medalha Theodosina Ribeiro. (Palmas.)

Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será transmitida pela TV Assembleia sábado, dia 2 de abril, às 21 horas; pela Net, canal 7; pela TV aberta, canal 61.2; e pela TV Vivo Digital, canal 185, e analógica, canal 66.

Tem a palavra o secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, Sr. Maurício Pestana. (Palmas.)

 

O SR. MAURÍCIO PESTANA - Bom dia a todos e a todas. Quero cumprimentar a nossa deputada Leci Brandão, proponente desta sessão. Quero cumprimentar também nossa sempre deputada Theodosina Ribeiro, que dá o nome a essa medalha, e meu companheiro de Prefeitura, João Amazonas, nosso subprefeito da Sé que, agora, infelizmente, está nos deixando, mas é para participar de uma empreitada maior. Cumprimento também meu grande amigo, parceiro de décadas, Jamil Murad, presidente do PCdoB municipal.

Senhoras e senhores, esta sessão é muito importante. Ela, por si só, por levar o nome da primeira deputada negra que esta Assembleia já acolheu, já seria motivo de muito orgulho. Mas ela é muito mais importante, porque veio para reforçar a presença das mulheres negras e de sua luta no estado de São Paulo. Então, a presente sessão, idealizada pela Leci Brandão, é muito importante para nós. Acho que esta sessão se faz ainda mais importante devido ao momento que estamos vivendo.

Eu, com esse meio século de vida, imaginei que nunca mais fosse passar por um momento como esse. Eu comecei minha carreira como jornalista, como cartunista no Pasquim, denunciando a ditadura militar e lutando pela redemocratização do Brasil. Sempre falo que da minha pouca memória da ditadura, porque eu ainda era um adolescente, vivenciei um governo de que me lembro bem, que foi o governo Figueiredo, o último militar.

Nós imaginávamos que um golpe só aconteceria naquelas condições, e hoje nós estamos presenciando em nosso País a possibilidade de haver um golpe de uma forma talvez até muito mais hedionda, porque é um golpe também midiático, que impulsiona toda a nossa população a se voltar contra os avanços que tivemos nos últimos anos. Quero apenas reforçar o que Leci disse: esse golpe é contra os nossos avanços.

Tenho escrito com frequência, como o jornalista que continuo sendo, que só nos últimos 12 anos, ou nesse século, entraram mais negros nas universidades do que em toda a história da Educação do Brasil, e é a isso que essas pessoas são contrárias. (Palmas.)

Nós tivemos avanços neste século que, no século passado, não poderíamos nem sonhar. Esse é o caso dos direitos das empregadas domésticas, que a minha mãe também já foi. É contra isso que as pessoas têm lutado.

O golpe é mais terrível, porque tem ares de fascismo. Eu mesmo ouvi - de poucas pessoas - manifestações questionando o porquê de eu estar ao lado da Leci em um caminhão ao lado do presidente na semana passada. Eu disse que estava naquele local porque eu sei, como negro e como cidadão deste país, o que é ser julgado sem mesmo ter o direito a se defender. Eu sei exatamente, e só os negros sabem, o que é estar em um local e ser, mais do que julgado, acusado sem poder se defender. Acho que todo negro sabe disso, porque quem sabe o que é discriminação, sabe o que é isso. E nós sabemos exatamente o que é ser perseguido. Então eu sempre estarei junto de qualquer pessoa que seja vítima de injustiça, de qualquer pessoa que seja julgada antes mesmo de se defender, porque eu sou negro e sei exatamente o que é ser negro neste país.

Quero, mais uma vez, reforçar e parabenizar Leci por essa iniciativa. Quando olhamos para a história desta Casa, que tem quase dois séculos, tem 178 anos, e vemos que só houve duas mulheres negras como deputadas, já fica explícito o tamanho da violência que o povo negro sofre neste estado e neste país. (Palmas.)

Quero parabenizar todas essas mulheres que estão sendo premiadas hoje. E acho que também não podemos deixar de lembrar que, ao final desta sessão - devemos levar aqui pouco mais de uma hora -, uma mulher negra terá perdido seu filho negro neste país. E é contra isso que temos que lutar.

Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Tem a palavra o Sr. Alcides Amazonas, subprefeito da Sé.

 

O SR. ALCIDES AMAZONAS - Bom dia a todos e a todas. Quero cumprimentar a sempre deputada Theodosina Ribeiro, que dá o nome a essa tão importante medalha já consolidada aqui, nesta Casa. Cumprimento, também o vereador Jamil Murad, que tão bem representa o nosso povo e o PCdoB na Câmara Municipal de São Paulo; o nosso amigo Quito Formiga, que exerce na Câmara mandato de vereador; e o Maurício Pestana, que desenvolve um excelente trabalho à frente da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

Cumprimento a deputada Leci Brandão, por quem eu tive a honra de ser liderado, por um período, nesta Casa, quando eu exerci um mandato de deputado estadual e tive um aprendizado importante. Quero parabenizá-la pela iniciativa de, mais uma vez, fazer esta sessão solene de entrega desse prêmio. Cumprimento, também, todas as guerreiras, todas as mulheres de luta, que estão aqui recebendo esta justa homenagem da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Não vou fugir à regra. Vivemos uma situação difícil, hoje, no nosso País. Embora outros já tenham falado, eu também quero me reportar a este momento. Ainda estamos no mês de março. No dia 8 de março tivemos o Dia Internacional das Mulheres. As mulheres não só comemoraram essa data pelas conquistas que tiveram, mas também fizeram uma reflexão e foram para as ruas dizer “não” ao golpe e a tudo o que se está propondo, hoje, no nosso país.

Essa luta continua, independentemente de quem é favor ou contra o governo Dilma ou ao Lula. Isso não é o que está em debate neste momento. O que está em debate, neste momento, no nosso País, é o respeito às regras. Vamos ter eleição em 2018. Por que não esperar esse período das eleições? Por que querer afrontar a nossa Constituição?

Alguns dizem: “Olha, mas o processo é democrático porque o impeachment está previsto na legislação.” Calma lá! Não é bem assim. Você precisa ter fatos concretos - e não é isso o que nós estamos vendo.

Quero alertá-los neste momento da entrega dessa medalha, para que façamos uma reflexão e, mais do que isso, que vamos à luta em defesa da democracia do nosso país. Isso é o mais importante neste momento. Sabemos que as valorosas mulheres, que são a maioria da nossa sociedade, deram e darão sua contribuição nesta importante luta.

É verdade que tivemos muitos avanços neste último período, mas todos esses avanços, todas essas conquistas sociais que tivemos nesse último período, estão em risco. Se vocês perceberem, na última eleição tivemos uma redução de cerca de 50% na bancada mais avançada, mais progressista, de trabalhadores, daquelas pessoas que nasceram no seio do povo. Isso explica, inclusive, por que há essa ofensiva, neste momento, em cima do direito dos trabalhadores. (Palmas.)

Nós temos 55 projetos de lei, neste momento, tramitando no Congresso Nacional. Todos eles são para retirada de conquistas sociais importantes. Portanto, a luta em defesa do governo Dilma e do legado do governo Lula é uma luta em defesa das conquistas que tivemos nesse último período. Por isso, chamamos todos os brasileiros e brasileiras de São Paulo para se incorporar a essa luta em defesa da democracia e participar de todos os processos nas ruas. Isso é muito importante.

Deputada Leci Brandão, o golpe não vem pelos caminhões-tanques e pelo Exército - até porque hoje existe um sentimento muito forte dentro das corporações, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, de defesa da democracia, também. Porém, esse golpe pode vir de outro jeito, com a cara mais institucional, e nós não podemos nos deixar enganar. Vamos dar resposta a isso, dizendo bem alto: “Não ao golpe!

Muito obrigado. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Para uma breve saudação, tem a palavra o nosso sempre deputado, vereador Jamil Murad. (Palmas.)

 

O SR. JAMIL MURAD - Bom dia. Quero cumprimentar a nossa deputada Leci Brandão por esta excelente iniciativa. Aliás, é mais uma de tantas e tantas iniciativas de primeira grandeza que a deputada Leci Brandão tem realizado como representante do povo, aqui na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Cumprimento o secretário da Igualdade Racial, o Maurício Pestana, nosso amigo de longa data, um homem de grandes virtudes, colocado a serviço da promoção da Igualdade Racial.

Cumprimento, também, o nosso amigo, companheiro, até agora secretário Alcides Amazonas. Foi deputado, secretário e subprefeito da principal subprefeitura de São Paulo, que é a Subprefeitura da Sé, onde deu conta do recado. É muito problema para se resolver, mas você ficou ali, por praticamente dois anos, e não houve problema grave nenhum. Conseguiu dar conta do recado, ajudando o prefeito a responder administrativamente por essa área.

Cumprimento a nossa querida professora e deputada Theodosina. Eu era médico no Hospital do Servidor do Estado, na década de 1970. De vez em quando, vínhamos aqui, à Assembleia, ou ela tinha intervenções que eram relacionadas com o Iamspe, o Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público do Estado. A deputada Theodosina sempre foi uma deputada relevante, que se destacava aqui, na Assembleia Legislativa.

Quero, também, destacar as homenageadas. Todas elas merecem nosso abraço e os nossos parabéns, mas há uma desembargadora ali, que é a Dra. Kenarik, que aplicou a lei, protegendo o cidadão que está penalizado e já cumpriu a pena, dizendo: “Não, teve que cumprir a pena.” Tomou uma atitude, protegendo aquele apenado. Ela sofreu retaliações dentro da sua própria corporação, no Tribunal de Justiça do Estado. Teve que haver uma movimentação em defesa dela.

Vocês notam, com esse exemplo, que cada homenageada tem sua história. São idades diferentes e atuações diferentes na sociedade, mas o Prêmio Theodosina - implementado, aprovado e colocado em prática pela deputada Leci Brandão - tem uma virtude essencial: ele procura destacar aquelas mulheres que fizeram ou fazem alguma coisa relevante para melhorar a nossa sociedade. Só por isso é que tem esse valor extraordinário.

Quero falar da presença de vocês. Vocês são todos líderes. Estas lideranças aqui representam muita gente nos seus bairros, em suas entidades, em sua comunidade. Vocês vieram pelo valor que tem essa premiação, que vem em um momento muito importante.

Tenho visto nos jornais que não conseguiram provar nada contra essa mulher que é a presidenta Dilma Rousseff. Como é que cassam uma pessoa assim? Não tem como, a lei não permite. Se fizerem isso, será um desrespeito muito grande, porque então a lei não vale mais nada. A lei maior, a Constituição não vale mais nada? Ela é a proteção da sociedade. Há muitas diferenças dentro da sociedade, mas todo mundo precisa obedecer a lei.

Aqueles que perderam a eleição querem ocupar o lugar dela, até o parceiro dela passou para o outro lado. Esta é uma situação grave para o nosso povo. Que programa eles querem colocar em prática? Sobre política externa, tem que se alinhar à política externa dos Estados Unidos, tem que seguir o padrão de interesse norte-americano. Em segundo lugar, a política econômica que eles querem implementar é a do Fundo Monetário Internacional, que nós já conhecemos e que era de juros altos, desemprego, falência das empresas, dinheiro curto na mão das pessoas.

Na área social, querem dificultar a aposentadoria e cortar gastos sociais do governo. Tudo isso que vocês viram, o “Bolsa Família”, “Minha Casa, Minha Vida”, tudo isso eles vão cortar. Eles estão fazendo tudo isso para voltar a um tempo que nós já conhecemos. Estas mulheres que estão aqui - e as mulheres que serão homenageadas em nome das que estão aqui, mesmo as que não vieram - lutaram muito para termos um Brasil como nós temos.

Nós somos a sétima economia do mundo, somos 204 milhões de brasileiros. O Brasil é um país respeitado no mundo, e por isso este período que nós estamos vivendo é muito grave. Nós não queremos voltar para o passado de sofrimento. As mães, as mulheres, as líderes que estão aqui vão pedir para ter um emprego para seu filho, para seu neto.

Vamos sair de uma fase em que buscava distribuir a renda para chegar a uma situação de grave falta de emprego, de salário. A pessoa vai morrer antes de se aposentar, porque eles querem elevar a idade para se aposentar. A imprensa divulga que tem que tirar de qualquer jeito, que a partir daí o Brasil vai melhorar. Mas melhorar como, se o programa que eles estão propondo, que saiu nos jornais de sábado e de domingo, é um programa que nós já conhecemos, um programa nefasto, muito ruim para o nosso povo?

Bom, mas voltando ao assunto, as mulheres brasileiras merecem esta homenagem, particularmente as mulheres do povo, das camadas populares, que fazem milagre para criar seus filhos, para trabalhar, para impulsionar o Brasil para o progresso. Nós temos que promover o nosso povo. Quem tem valor nesta sociedade é o povo simples, trabalhador, a mulher trabalhadora.

Nestes bairros próximos à Assembleia Legislativa, o pessoal chega de Miami e começa a estudar a data de voltar para Miami. Vai lá fazer compras, passear, jogar no cassino, ou seja, não produz nada. Eles dizem que o Brasil é deles e que tudo vai bem por causa deles, mas não querem que o povo ocupe um lugar na sociedade, no cenário político e social, dizem que isso é coisa do Lula, da Dilma, desses partidos de esquerda.

Gostaria de dizer à deputada Leci Brandão que ela nos orgulha muito. (Palmas.)

Em uma das conversas que tivemos, eu dizia “Leci, você precisa ser deputada do PCdoB”. E você dizia: “Será? Será que é o caso?”. Veja que os tempos passaram e o quão importante foi você aceitar ser deputada do PCdoB, porque você representa muito bem o nosso povo, com o coração, com a consciência. Você enche de orgulho o povo, as mulheres, a comunidade negra. Você mostra que a comunidade negra tem valor, que esses brasileiros têm muito valor.

Muita coisa boa do Brasil existe porque existem os afrodescendentes; senão, isto aqui não seria nada do que é hoje. Minha vida sempre foi no sentido de reconhecer o valor do nosso povo, e vejo na deputada Leci Brandão uma autêntica representante do nosso povo, do povo trabalhador, das mulheres, da comunidade negra, dos brasileiros em geral. Viva o Brasil, viva a deputada Leci Brandão, viva a deputada Theodosina, viva o nosso povo!

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Gostaria de registrar, com muita alegria, a presença do Dr. Elizeu Lopes, secretário-adjunto da Secretaria Municipal da Promoção da Igualdade Racial, ele que foi nosso chefe de gabinete por muito tempo. Muito obrigada pela presença, Dr. Elizeu. (Palmas.)

Gostaria também de registrar a presença do Sr. Liberto Solano Trindade, representando a CasIlêOca; a Dra. Eliane Dias, coordenadora do SOS Racismo da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; a Márcia Regina, do Templo de Doutrina Umbandista Recanto dos Orixás; o poeta João Santos, representando a Casa de Cultura M’Boi Mirim e a Brasil Cultural; o Pai Evandro Otoni, representando o Instituto de Umbanda Sagrada Tupã; de Tiely Queen, representando a Associação “A Mulher e Movimento Hip Hop”; de Elidinei Graça da Silva, representando o Sindicato dos Funcionários da Educação; de Francisco de Assis, representando o Movimento Popular de Saúde Leste. (Palmas.)

Eu nem sonhava entrar nesta Casa e já acompanhava essa mulher. Foi uma das pessoas que sempre me deu orientações sobre tudo. Ela é minha irmã e minha professora política, social, enfim, Sueli Carneiro, de Geledés. (Palmas.)

Neste momento, temos a honra de dar a palavra à grande responsável por este evento e por esta medalha: Sra. Theodosina Rosário Ribeiro. (Palmas.)

 

A SRA. THEODOSINA ROSÁRIO RIBEIRO - Primeiramente, usaremos um resumo porque sou muito prolixa e ficaríamos umas três horas falando.

Deputada Leci Brandão, em seu nome, cumprimento as autoridades presentes. Bom dia a todos.

Ilustre deputada Leci Brandão, V. Exa. teve a visibilidade de apresentar um dos projetos mais importantes: comemorar, anualmente, o Dia Internacional da Mulher neste mês de março. Merecidamente, neste dia, a honra de entregar a Medalha Theodosina Ribeiro a mulheres que, ao longo de suas vidas, dedicaram-se a uma atividade profissional concomitantemente à abnegada tentativa de procurar solucionar os problemas complexos que afligem diariamente o ser humano, em diversos segmentos: social, racial, religioso, educacional, respeitando a sexualidade e priorizando a criança e a mulher brasileira.

Hoje, no nosso entender, é um dia de reflexão. Para que se chegasse aos dias atuais, foi necessário um grande período de incessantes lutas pelas mulheres. Desde o século passado, um número crescente de mulheres brasileiras continuava defendendo em praça pública o sufrágio feminino, que foi negado pela Assembleia Constituinte em 1891. Vejam, em 1932 é que houve a oficialização para que a mulher conseguisse o voto.

Chegando a esta Casa a deputada Leci Brandão, não ficaria como estávamos comemorando anteriormente, antes do projeto. A visibilidade dela deu a importância a esse dia, nesta Casa de Leis, para que houvesse a repercussão da luta da mulher brasileira.

Desde o século XX, observamos o que essa oficialização trouxe de resultados positivos. Ainda temos que avançar muito mais porque a porcentagem de mulheres eleitas, na grande totalidade, não chega a um por cento em proporção aos candidatos do sexo masculino.

Entretanto, se somos todos iguais perante a lei, a necessidade da conscientização dos partidos políticos incentivando para que haja maior número de mulheres candidatas disputando um pleito eleitoral. De outro lado, que as mulheres enfrentem esse desafio. Como fazê-lo? Por onde nós, mulheres, devemos iniciar? “É complicado, eu não vou ter oportunidade”.

No entanto, se nos espelharmos na deputada Leci Brandão. Eu a conheci pela televisão. Achava importante a defesa que ela fazia das escolas, de tal maneira que nos convenceu da sua capacidade para poder levantar, apesar de ser um processo cultural na ordem da música, mas é importante porque ela lutava na televisão, com aquele entusiasmo, para que uma das escolas de samba fosse homenageada.

Eu não a conhecia, mas já era fã da deputada Leci Brandão porque eu interpretava as músicas que ela cantava. E tinha um fundo de verdade muito grande de que havia, naquela mulher, uma luta anterior para chegar ao ponto em que chegou. É de conhecimento que ela era indicada pela Globo. Quando se fala em Globo, respeitamos porque é um dos canais que nos traz grandes informações.

De outro lado, verificamos que esse trabalho desempenhado culminou no dia de hoje. A sua responsabilidade pelo cargo político fez com que ela fosse reeleita pelo seu respeito ao povo, pela sua honestidade com o povo. O povo sentiu que essa mulher teria que voltar para esta Casa Legislativa. E há a necessidade de valores políticos, que estejam preocupados com os problemas sociais, educacionais, porque a Educação é a mola-mestra de um país, é aquela que vai formar a personalidade para o desenvolvimento de várias atividades em beneficio de alguém. E esse alguém é a criança brasileira. Devemos nos preocupar com a sua formação para que chegue à fase adulta nas atividades mais diversas, principalmente a da política. É o retorno que esperamos para que o Brasil progrida cada vez mais.

Sinto-me sensibilizada com esse acolhimento, sensibilizada por estar nesta Casa.

Aqui estive por mais de 20 anos. Vivi experiências muito importantes.

Ao chegar nesta Casa de Leis recebi o respeito dos deputados - e de uma deputada na época - que nos elegeu a 4ª secretária da Assembleia Legislativa. (Palmas.)

No mandato posterior fui eleita a 2ª vice-presidente da Casa. (Palmas.)

Poderia parecer algo não tão significativo, mas pelas palavras dos oradores que nos antecederam, percebemos que também estão compartilhando desse processo de evolução da participação da mulher brasileira em todo o segmento da sociedade, só que tem um viés: e a mulher negra, de que forma ela contribuiu? Essa contribuição vem de séculos e séculos, quando compulsoriamente o negro foi obrigado a vir para este País para transformar e crescer. Isso durante três séculos. Se o homem negro foi subjugado, imaginem a mulher negra. Mas tudo isso nos fortaleceu.

Aparentemente não sentimos, mas é um caminhar vagaroso, lento porque foi depois de 30 anos que a segunda mulher negra foi eleita para esta Casa de Leis.

É necessário que haja também por parte da nossa comunidade senso de responsabilidade e de luta para participar desse contexto.

Quero também agradecer a presença do nosso secretário municipal da Igualdade Racial Maurício Pestana. É alguém que deixa saudades pelo trabalho educacional incessante para essa transformação, principalmente da criança, para a conscientização de que há necessidade de lutar cada vez mais para o fortalecimento do nosso País.

Agradeço a presença também do vereador Jamil, que conheço de longa data. Tem dado uma colaboração muito grande para esse processo.

Não poderia deixar de agradecer a presença da juíza Dra. Milene. (Palmas.) Vejam o crescimento desse processo. Isso nos deixa muita satisfeita.

Como temos apenas mais um minuto, não vou nominar as demais autoridades, nem as homenageadas, mas deixo aqui o meu respeito e a minha consideração.

Muito obrigada, deputada Leci Brandão, mais uma vez, e a todos vocês que vieram nos prestigiar. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Neste momento quero citar mais algumas pessoas queridas: Mari Medeiros, do CEU Caminho do Mar e da Unegro, obrigadíssima pela presença; Vanius Oliveira, secretário sindical do PCdoB estadual; Vânia Regina Fonseca, representante do Conen, Centro de Organização Nacional do Espaço Negro; Tânia do Nascimento, representando o Conselho de Promoção de Igualdade Racial do estado de São Paulo; Cláudia Rodrigues, da UBM, União Brasileira de Mulheres da Capital; Maria do Carmo, vice-presidente da Unaccam; Rúbia Costa, representando a Secretaria de Educação do estado de São Paulo; Dora Martins, da Associação de Juízes para a Democracia; Pai Engels de Xangô, presidente da Escola de Curimba e Arte Umbandista Aldeia dos Caboclos e do jornal Aldeia dos Caboclos, sua bênção; Pai Alexandre Cumino, presidente do Colégio Pena Branca e do jornal Umbanda Sagrada, sua bênção.

Neste momento queremos homenagear mulheres que se destacaram na sociedade em razão da sua contribuição ao enfrentamento da discriminação racial e na defesa dos direitos das mulheres no estado de São Paulo.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Tenho a honra de iniciar agora a entrega da Medalha Theodosina Ribeiro às 10 mulheres de luta que com suas vozes e ações fazem toda diferença e transformam a realidade de inúmeras pessoas.

Vou começar narrando a trajetória da nossa primeira homenageada, que é casada, mãe de dois filhos, é médica, pediatra e sanitarista e funcionária pública há 30 anos.

Na UBS Casa Verde Alta, foi escolhida para ser pediatra consultante por dois anos e após esse período gerenciou a unidade durante 15 anos tendo como meta o atendimento a imigrantes bolivianos, que era em número elevado naquela região.

Em 2002 ela foi convidada para ocupar o cargo de diretora adjunta do Hospital Perola Byington e no início de 2004 assumiu a diretoria do hospital onde se dedicou intensamente à saúde da mulher e implementou o serviço de atenção à mulher vítima de violência em parceria com o programa Bem Me Quer.

Em 2006 assumiu a diretoria do Hospital Brigadeiro atual hospital de transplantes onde iniciou a implantação do hospital do homem.

Chamamos a médica Zeni Rose Toloi, nossa primeira homenageada, que receberá das mãos da deputada Leci Brandão a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

Chamamos a Dra. Theodosina Rosário Ribeiro para a outorga da medalha à nossa primeira homenageada.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. ZENI ROSE TOLOI - Bom dia a todos e a todas, cumprimentando a Mesa, as autoridades em nome da deputada Leci Brandão. É uma honra muito grande estar aqui - eu choro sempre, não tem jeito. Antes de tudo quero também parabenizar a todas as minhas companheiras, as minhas colaboradoras, que trabalham comigo, incessantemente, na área da Saúde, e que sem elas esse trabalho não seria possível - me desculpem os homens aqui presentes que também estão comigo - mas temos um trabalho muito atuante, muito intenso na nossa área que é a área da Saúde.

Sinto-me numa posição confortável em dizer que para nós da Saúde não há discriminação. Atendemos todos, todas, não importa raça, não importa posição social e dentro do Sistema Único de Saúde procuramos atendê-los da melhor maneira possível, desde que nos deem condições favoráveis. E quando nós não as temos nós corremos atrás de não deixarmos o nosso trabalho esmorecer. Não vou me alongar, gostaria de falar muito mais, mas sei que a hora está avançada e ainda temos muitas companheiras a para conversar. (Palmas).

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIA - CLAUDIA LUNA - E prosseguindo nossas homenagens agora nós vamos falar da segunda mulher, essa guerreira de luta que iniciou sua militância política aos 18 anos, bem jovem, através do Sindicato dos Bancários. Trabalhou por mais de 30 anos como voluntária assumindo depois a vice-presidência de um dos centros sociais mais antigos de São Paulo. Com o escritor umbandista Rubens Saraceni fundou a Associação Umbandista do Estado de São Paulo, que tem realizado grandes eventos em prol da religião comoa festa de Iemanjá da Praia Grande, realizada há 16 anos e que conta com a participação de 3000 médiuns dentro de uma única tenda.

Com a comunidade umbandista pleiteou que fosse oficializado o dia 15 de novembro como Dia Nacional da Umbanda e que um selo especial fosse lançado com o rosto de seu fundador Zélio Fernandino de Morais, com uma tiragem de 600 mil selos. Desde o ano 2000 tem participado ativamente com deputados e vereadores de ações contra a intolerância religiosa, bandeira que a cada ano vem aglutinando mais lideranças religiosas e políticas. Atualmente a nossa homenageada preside a Associação Umbandista do Estado de São Paulo. Sandra Santos, parabéns.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. SANDRA SANTOS - Já estou bastante emocionada. Quero dividir isso com os nossos diretores, à comunidade umbandista, e duas pessoas que estão ali, Dr. Eliseu, por todo o trabalho feito e todo apoio que tem dado à comunidade, e Dr. Paulo, o senhor e o pessoal do 1º Cartório que têm sido mais do que parceiros, obrigada. Agradecer também ao pessoal do gabinete da deputada, Beto, Damaze Silva Lima, Dr. Ricardo, todos vocês que têm sido mais do que parceiros, essa medalha é nossa.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIA - CLAUDIA LUNA - E prosseguindo as homenagens, a nossa terceira homenageada de hoje nasceu em Recife, foi criada no Rio de Janeiro e hoje vive em São Paulo, para a nossa felicidade, é claro. Filha do poeta Solano Trindade, fundou em homenagem ao seu pai o Teatro Popular Solano Trindade, em Embu das Artes, que comemorou 40 anos em 2015. Ao longo de quatro décadas de existência o Teatro Popular Solano Trindade tornou-se referência na preservação e promoção da cultura negra e popular.

Assim como no maracatu a principal personagem é a rainha. No Teatro Popular Solano Trinade a estrutura matriarcal se mantém. Embora hoje o teatro seja gerido pela família Trindade como um todo sua existência continua centrada no protagonismo de Raquel, a Rainha Kambinda. Mesmo não tendo diploma universitário Raquel foi docente da Unicamp e hoje é responsável pelo curso de extensão, identidade cultural afro-brasileira (ICAB), realizado em parceria com a Unifesp. Especialista em transmissão oral do conhecimento, Raquel Trindade é uma mestra, guardiã do conhecimento da história e da cultura afro-brasileira, fortalecendo a cada dia a missão de Solano Trindade de pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte. Receba agora Raquel Trindade das mãos da deputada Leci Brandão e da Dra. Theodosina Rosário Ribeiro a outorga do dia de hoje.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. RAQUEL TRINDADE - Motumbalaxé a todos! É uma emoção muito grande essa homenagem. A deputada Theodosina Ribeiro está presente na nossa vida desde a década de 60, quando frequentava Embu e visitava meu pai, o poeta Solano Trindade. Tenho acompanhado a sua luta.

Temos também essa outra grande mulher. Sou pernambucana, criada no Rio e depois fui para Embu em 1961. Vou fazer 80 anos e acompanho essa mulher como uma grande artista e como uma militante política muito forte.

Quero mandar um abraço ao Jamil Murad, que talvez não saiba o quanto eu acompanho, há muitos anos, a luta política dele. Um abraço ao Amazonas, que me lembra outro Amazonas. (Palmas.) Um abraço ao Pestana que, além de ser da promoção racial, é também um grande artista e um grande militante. Tenho amigos maravilhosos que, se fosse possível, muitos deles seriam premiados.

O PCdoB me faz lembrar a militância do meu pai, que era do PCB, no Rio de Janeiro. Na minha casa havia uma militância política muito grande, apesar de ele ser comunista e mamãe, evangélica presbiteriana. Era bom porque havia Marx e a Bíblia na biblioteca. (Palmas.) Agora vejam, um militante político comunista, uma evangélica e eu, “candomblezeira”. No fim dá tudo certo. (Palmas.)

Quero oferecer esta medalha à minha família - meus filhos, netos e meus irmãos, que têm me dado muito apoio. Meu irmão está aqui, assim como o meu filho, Vítor da Trindade, um grande músico. Ofereço também aos componentes do teatro popular Solano Trindade. Estão lá o rei e a rainha do Maracatu. Estão lá a Cida, a Ciça e a Carla. Sem eles eu não poderia fazer nada. A única coisa que depende só de nós mesmos é a pintura. A pintura eu faço sozinha, mas a dança, as apresentações e a música eu preciso de todos eles.

Para terminar, eu gostaria, em homenagem a essas duas grandes mulheres, de dizer um poema do meu pai, Solano Trindade: “O canto da liberdade. Ouço um novo canto, que sai da boca, de todas as raças, com infinidade de ritmos... Canto que faz dançar, todos os corpos, de formas, e coloridos diferentes... Canto que faz vibrar, todas as almas, de crenças, e idealismo desiguais... É o canto da liberdade, que está penetrando, em todos os ouvidos...” (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Quanta emoção, não é, pessoal? Muita, imensa, mas não para por aí. Vai continuar.

A nossa quarta homenageada de hoje, aos 26 anos de idade, muito jovem, foi diagnosticada com câncer de mama em março de 2012. Desde então ela vem dedicando a sua vida a ajudar mulheres carentes de recursos e informações sobre o tema.

Nas redes sociais ela administra, junto com outras mulheres do grupo Meninas de Peito, uma página que reúne atualmente 3.700 mulheres que já estiveram ou ainda estão na luta de combate ao câncer. Hoje elas realizam diversos encontros para a troca de experiências e de afeto, que são de extrema importância durante o tratamento. O grupo funciona como meio de troca de experiências e facilita a doação de remédios, perucas e outros artigos essenciais ao tratamento da doença.

Em 2013 ela começou a idealizar o projeto Marque Esse Gol, que visa a dar oportunidade para mulheres que fizeram seus exames anuais. Em 2015 ela conseguiu, em parceria com os clubes de futebol Corinthians e Palmeiras e com os hospitais Santa Marcelina e Unifesp, realizar o projeto. Foram mais de 1.500 mamografias feitas inteiramente grátis. Além de fazerem os exames, as mulheres foram encaminhadas a hospitais para o devido tratamento. Na estreia da ação, os dois estádios projetaram no início e no final das partidas vídeos de conscientização. Houve entrega de panfletos e informativos a todos os torcedores na entrada do estádio. Com o sucesso da ação, o projeto cresceu e neste ano haverá um calendário anual de ações que contarão com o apoio de mais clubes.

Esta tem sido a luta da nossa homenageada de hoje, a luta de Natali de Araújo Lima que, aos 30 anos, luta para que todas as mulheres tenham direito aos exames para prevenção do câncer de mama.

Parabéns, Natali! Ela recebe das mãos da deputada Leci Brandão e da Dra. Theodosina a Medalha Theodosina Rosário Ribeiro.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. NATALI DE ARAÚJO - Estou emocionada, como as minhas colegas, é claro.

Primeiramente, quero agradecer a Deus pela oportunidade de estar aqui. Como foi dito, em 2012 fui diagnosticada com câncer de mama e jamais poderia esperar a reviravolta que a minha vida estaria dando. Hoje estou aqui podendo contar um pouco da história para vocês.

Em segundo lugar, quero agradecer minha família, minhas amigas de luta e as Meninas de Peito. É por elas que estou aqui. Esse prêmio não é só meu. Esse prêmio é nosso. Sou só a representante disso tudo.

O projeto Marque Esse Gol está salvando vidas e esse é o meu maior sonho. Em 2012, quando eu descobri que estava com câncer de mama, eu me perguntei: por que eu? Hoje tenho a resposta. É para que eu possa estar aqui, é para que possa lutar pela vida de tantas mulheres que, infelizmente, não têm acesso à Saúde, e que estão, às vezes, para fazer um exame, e que esse projeto está proporcionando isso a elas.

O meu agradecimento especial de hoje é para Tininha, que não está aqui, e é da Unacon. Ela luta conosco no dia a dia para que possamos salvar a vida de tantas mulheres que estão esperando para fazer os seus exames. Muito obrigada a todos que estão aqui e obrigada ao mestre pela oportunidade da minha vida. Obrigada. (Palmas.).

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Chegamos a nossa quinta homenageada. Ou seja, a metade da nossa trajetória no dia de hoje. Ela é uma mulher para lá de especial, assim como todas vocês, e é arretada, paraibana e radicada em São Paulo. Já foi alvo de inúmeros ataques motivados pelo preconceito e pela transfobia. Militante da causa LGBT, ela reuniu grupo de militantes para se reorganizar e discutir políticas públicas. Cantora e mulher transexual, tem dedicado a sua vida na construção de uma sociedade que respeita as diferenças. É presidente do Cais, Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais, associação voltada à cidadania da população LGBT, sobretudo de travestis, mulheres transexuais e homens trans, e ao combate ao preconceito. O Centro tem como objetivo promover ações para a defesa dos direitos de travestis e transexuais, estimulando trabalhos nas áreas de ensino, pesquisa e cultura, promovendo campanhas de conscientização a cerca dos nossos direitos.

Venha cá receber esse prêmio, Renata Peron. (Palmas.).

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. RENATA PERON - Gente, estou muito emocionada. É muito difícil para nós, mulheres travestis e transexuais. Só que somos guerreiras e não desistimos da luta, todos os dias. Eu costumo sempre fazer uma poesia porque acho que de arte a gente vive também. Um amigo chamado Velasque Brau fez uma letra de música, que a transformei em poesia. Eu canto e cantava muito na Praça da República, e ela diz assim:

“Cada um é feliz do jeito que pode. Eu posso gargalhar, mas você também pode. E assim vou vivendo, tropeçando, caindo, sempre a levantar. Só tenho a agradecer e erguer as mãos para o céu, por mim e por vocês, por tudo que Deus nos deu. Sabe por quê? Eu sou feliz desse jeito. Eu só tenho amor no peito, e o amor comanda tudo. Na minha casa só tem espaço para alegria. O estresse, a rotina, o dia a dia não consegue me atingir. A gente é o que é, cada um tem seu valor. Sofra menos, plante amor, salve a nossa mistura de cor. Me aceitem assim e eu respeito vocês assim. Somos filhos da sorte, sobrevivemos por um triz. Nós não tememos a morte, viver é o meu esporte. Beijar na boca e ser feliz.” (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - A nossa sexta homenageada é uma cineasta. Olha só, uma mulher de cinema. Ou melhor, ela faz cinema. Formada pela Universidade Anhembi-Morumbi e pós-graduada em Linguagens da Arte pela USP, dirigiu e roteirizou a curta metragem “Aquém das Nuvens”, que foi exibida em mais de dez países, e premiado no Festival Unasur, na Argentina.

Vencedora do Concurso Televisão da América Latina em 2014, e do Festival Palmares de Cinema, ela é uma das roteiristas da premiada Série Pedro e Bianca, ganhadora do “Emmy International Kids Awards” em 2013, na categoria Melhor Série Infanto-Juvenil, e do Prix Jeunesse Iberoamericano de 2013, e Internacional em 2014 na categoria Ficção, para o público de 12 a 15 anos.

De 2013 a 2014, atuou como diretora audiovisual na Companhia Os Crespos. É idealizadora da WebsérieEmpoderadas” que, em formato documental, apresenta mulheres negras das mais distintas áreas de atuação. A série foi listada pelo Think Olga como um dos projetos mais inspiradores de 2015. Atualmente, compõe a equipe de desenvolvimento da série documental Cartas da Terra do Futuro, e é blogueira do Huffpost Brasil.

Estou falando de Renata Martins. (Palmas.).

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. RENATA MARTINS - Boa tarde a todas e a todos. Assim como todos, estou muito emocionada e faltam-me palavras. Quem está sempre por trás das câmeras, quando está diante do microfone, dá uma bambeada. Gostaria muito de agradecer a homenagem. Aqui temos quatro das “empoderadas”, e não falo sozinha, mas junto a elas, essas mulheres que me inspiraram e que me inspiram ao longo da história.

Agradeço as minhas irmãs, Rosana Martins e Roseli Martins que estão ali presentes, e a minha mãe, que não está mais presente. (Palmas.) Agradeço também a Joyce Prado, cineasta que me acompanhou na primeira temporada da WebsérieEmpoderadas”, e a todas as mulheres que me inspiram.

Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Vamos lá. A sétima homenageada, no registro de nascimento tem um nome muito difícil, que, talvez, apesar do treinamento eu não consiga pronunciá-lo corretamente agora. Ela é Ildslaine Mônica da Silva.

Mas, na zona leste, no movimento hip hop, ela tem um nome que todo mundo conhece, mas não esse nome difícil do registro de nascimento. Então, ela é ativista cultural e social, reconhecida cantora, compositora e produtora cultural. Sua história se confunde e se funde com a história do hip hop.

Iniciou na cultura hip hop em 1986, por meio da nação Zulu, uma das pioneiras equipes de break, com passagem pela São Bento, berço do hip hop paulistano, formando o grupo de rap feminino Rep Girls, com a parceira Citylee.

Anos depois, seguiu carreira solo, participando de três coletâneas: em 1989, 1993 e 1997. Em 2012, participou do CD coletânea Preta Ação, na Batida da Revolução, com a música Missão. Realizou jingles, atuou como backing vocal na banda de reggae Naiabim Brothers e como coralista do coral da USP 11 de Agosto.

Participou em gravações com várias bandas e recebeu com destaque o prêmio Hip Hop 2010, edição Preto Ghóez, como personalidade da cultura, através do Ministério da Cultura, e reconhecimento à coletânea de seus trabalhos.

Em 2016, lança Sou Soul, com show musical D’RAPente 30, em celebração aos seus 30 anos de história na cultura hip hop.

Vem cá MC Sharylaine.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. ILDSLAINE MÔNICA DA SILVA - A lágrima está vindo só de um lado. Eu não sei o que é, mas não estou com conjuntivite. Enfim, fiz uma cola, mas não sei. Estou emocionada desde a entrada nesta Casa, a Casa do povo. Uma pessoa que estava lá na frente pediu permissão para mim para entrar aqui. Então, o negócio já começou a ficar louco.

Quero agradecer ao universo, ao mestre, à minha ancestralidade, às minhas amigas do samba, do hip hop, essas mulheres da luta. Somos mulheres da luta.

Semana retrasada eu fui fazer uma atividade no Projeto Guri. Encontrei uma criança de 9 anos. Fiz uma atividade de dança, e depois música. Vamos fazer rima. Eu terminei a atividade depois de cantar brasileiras em que eu falo da violência contra a mulher. O menino de 9 anos disse: “A violência nunca vai acabar”. Eu fiquei muito preocupada, porque uma criança de 9 anos dizer que a violência nunca vai acabar, nós estamos fazendo tudo errado. Tudo errado.

Eu trabalho com cultura, faço música, faço rap, faço rima e faço protesto através do meu trabalho. Fortaleci-me com Geledés Instituto da Mulher Negra, que nos deu a base para sermos o que somos hoje. Somos do movimento hip hop, mas somos da periferia.

Buscamos a mudança para o nosso povo. Trabalhamos com gênero, com raça, mas a gente trabalha com o social, com a sociedade. Porque a gente faz parte da sociedade.

Se isso não servir para a gente sair daqui e voltar para casa diferente e fazer alguma coisa diferente, nada mais tem valor.

Muito obrigada. Obrigada aos amigos, às amigas, aos familiares e todos os presentes. Muito obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Deputada Leci Brandão, eu não sei se a mestre de cerimônias pode chorar também, mas eu vou tentar segurar minha emoção. A deputada autorizou: mestre de cerimônias também pode chorar. Então, vocês não reparem porque eu estou devidamente autorizada. Está ótimo.

Vou falar agora da nossa oitava homenageada, que é filha de uma costureira e de um policial militar. Ela sempre soube o que ela queria ser: jornalista.

Seu primeiro emprego foi aos 14 anos, como pesquisadora de mercado. Diz ela que passava de porta em porta perguntando qual sabão as pessoas usavam.

Entre a formalidade do primeiro emprego, do primeiro registro na carteira, passaram-se três anos, até sua colocação no banco Itaú e, em seguida, no Serpro, no Ministério da Fazenda, onde passou a colaborar com jornais internos da instituição.

Com a conclusão do curso de jornalismo, ela pediu exoneração de seu cargo no órgão público e abraçou integralmente a carreira de jornalista, indo para a Abril Jovem. De lá para cá, nunca mais parou de exercer a profissão que escolhera na infância. Além do jornalismo, outra paixão dessa jornalista para lá de competente é o Corinthians, seu clube do coração.

Nós estamos falando de Conceição Lourenço.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. CONCEIÇÃO APARECIDA LOURENÇO - Eu estou muito emocionada, chego a estar tremendo. Sou bacharel em Comunicação, mas na hora de falar me enrolo toda.

Para eu estar aqui hoje - eu ainda tenho muita coisa para fazer -, mas para eu ter conseguido chegar até aqui, eu quero falar de uma referência que tive na infância, que foi a senhora. Eu recortava as suas fotos e guardava. Eu nunca ia pensar que fosse estar do lado da senhora. Há, mais ou menos, um mês, a senhora me telefonou e eu caí em um choro que a senhora nem sabe.

Eu estou muito feliz de estar aqui. Sou uma operária da informação e ainda tenho muito que fazer. Vou trabalhar bastante ainda.

Obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIA - CLAUDIA LUNA - Eu peço licença para falar da trajetória e da história dessa mulher. Com muito respeito, assim como em relação a todas, ela é uma mulher da lei e que aplica as leis.

De origem armênia, ingressou na magistratura paulista atuando na área criminal. Desde então, tem atuado na defesa e na garantia dos Direitos Humanos das mulheres presas, pautando no cenário nacional a problemática situação dessas mulheres invisíveis e tão discriminadas no sistema e para o Poder Público.

É uma das fundadoras da Associação Juízes para a Democracia, entidade cujo objetivo é aproximar o Poder Judiciário das questões relativas à democratização dos Direitos Humanos.

Foi presidente da Federação Latino-Americana de Juízes para a Democracia. É feminista e militante dos Direitos Humanos. Nunca abdicou de ser cidadã ativa, atuando em diversas frentes, especialmente na do encarceramento de mulheres, o que faz desde 2001 no grupo de estudo e trabalhos Mulheres Encarceradas.

Atua na questão dos direitos dos povos indígenas que sofrem violações cotidianas por ação ou omissão dos três poderes. Sempre atuou em tema que considera fundamental: o do acesso à justiça e democratização do sistema de justiça para que o Judiciário seja, efetivamente, uma porta aberta para os que são mais vulneráveis.

Militou em prol da instalação da Comissão Nacional da Verdade e pela revisão referente à Lei da Anistia. Por sua atuação, foi convidada pelo Vaticano para participar como observadora no primeiro encontro do Papa Francisco com os movimentos populares, em 2014.

Participou do grupo de trabalho do Conselho Nacional de Justiça criado para tratar de políticas públicas voltadas às mulheres encarceradas e às crianças nascidas em situação de encarceramento, em 2011.

Em 2012, recebeu o segundo prêmio Paulo Freire de psicologia, pelo Conselho Federal de Psicologia, por seu compromisso com a construção do bem comum. Atualmente, é desembargadora no Tribunal de Justiça de São Paulo, e também uma grande parceira e referência para todas nós do Movimento Feminista e de Mulheres

Eu estou falando de Kenarik Boujikian Felippe.

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. KENARIK BOUJIKIAN FELIPPE - Bom dia a todos.

É uma honra enorme receber essa medalha e poder cumprimentar a deputada Theodosina pessoalmente e a minha querida Leci Brandão.

A Cláudia é uma pessoa muito querida e faz parte, também, desse grupo de estudos e trabalho, Mulheres Encarceradas, desde 2001.

Eu gostaria de dividir essa medalha com esse grupo. É importante dizer que existem as mulheres mais vulneráveis - como a Leci Brandão falou -, que são as mulheres negras. Mas além das mulheres negras, nós temos as mulheres negras encarceradas. Essas são mais invisíveis. A deputada, aqui nesta Casa, tentou e fez o que pôde para dar maior visibilidade, chamando uma audiência sobre esse tema.

Para vocês terem uma ideia, a cada três mulheres detidas, duas são negras. Isso mostra o quanto o estado brasileiro é coberto de preconceitos e de negações.

Eu vou lembrar de uma história que foi a seguinte: o rei da Prússia tinha um castelo nos arredores de Berlim. Um belo e confortável castelo. Ele queria mais: ele queria ampliar a sua área de conforto e de prazer. Para isso, ele tinha que conseguir o terreno ao lado. Lá, existia um moleiro que tinha um moinho. Lá ele tinha nascido e tinha os seus filhos. Os seus pais moraram nesse mesmo local.

O rei da Prússia disse a ele que iria tirar o moinho de lá porque queria um espaço melhor. Enfim, ele era o rei. Ele disse que não tinha nenhum interesse em vender aquele terreno, pois tinha pertencido à sua família e nele estavam todas as suas raízes. O rei disse: “acredito que você não está entendendo muito bem essa história. Estou dizendo que quero o seu terreno. Eu sou o rei. De um jeito ou de outro, eu quero esse terreno. A sua área será minha”. “De modo nenhum, há juízes em Berlim”, disse o moleiro.

Essa história me lembrou de outra, da época do império do Brasil. Naquela época, havia uma lei que proibia que os negros fossem traficados; as pessoas negras não poderiam mais ser objetos, não poderiam mais vir para o Brasil como escravas.

Sabemos que esta lei existiu. Contudo, mesmo com ela, cerca de 500 mil pessoas entraram logo depois da sua vigência. À época, um juiz atuou em um processo, em que se discutia se um determinado indivíduo entrara ou não depois daquela lei, ou seja, se ele poderia ter ingressado, mesmo com a lei o proibindo. Este juiz recebeu, à época, uma grave advertência do ministro da Justiça, porque, mesmo existindo a lei, o ministro disse que ele não atendia aos interesses dos proprietários da região. Contudo, lá havia um juiz.

Após o império, na época da ditadura, o Poder Judiciário também cumpriu um papel dentro daquele sistema de força implantado, em 64, no Brasil. Naquela época, também tivemos juízes. Posso mencionar vários, mas irei restringir-me a um: o ministro Evandro Lins e Silva, que sempre foi uma referência e que, inclusive, acabou sendo cassado.

Houve alguns juízes no Brasil. Gostaria de retomar a seguinte história: a cada três mulheres detidas, duas eram negras. Precisamos pensar o que o Judiciário está fazendo dentro dessa engrenagem do sistema de Justiça. Se isso acontece, por certo o Judiciário está cumprindo algum papel. Sonho que todo o povo brasileiro possa efetivamente dizer que tem juízes no Brasil. É por isso que faço parte da Associação Juízes para a Democracia. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Chegamos à décima homenageada. Ela é ex-apresentadora de TV na França e costuma dizer que esta trajetória deu-lhe a oportunidade de conhecer os dois lados: as mídias e como as minorias são estereotipadas nelas. Ela é de origem francesa e gambiana. Nasceu na periferia parisiense. É formada em jornalismo pela Escola Livre de Ciências Políticas de Paris, escola que foi, inclusive, frequentada por dois ex-presidentes da França, François Mitterrand e Giscard d'Estaing.

No Brasil, a nossa homenageada, além de exercer uma forte influência na moda, também dá palestras semanalmente nas escolas públicas, mostrando aos jovens como é possível buscar um futuro melhor desde que haja muito empenho e determinação. Ela tornou-se uma grande influência para toda a nossa comunidade negra, bem como uma ferrenha ativista dos direitos da nossa população pobre e negra.

A nossa homenageada responde, por semana, cerca de 400 e-mails de pessoas que pedem diversas dicas, desde como se vestir para uma entrevista de emprego até como se comportar em uma reunião de negócios ou pedir uma promoção. Ela tem sido uma inspiração para muitos jovens e tem se empenhado cada vez mais para incentivá-los a resgatar a sua autoestima e sua cidadania.

Estou falando da consulesa Alexandra Baldeh Loras. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega da Medalha.

 

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A SRA. ALEXANDRA BALDEH LORAS - Bom dia a todos. É mesmo uma honra. Quero agradecer a todos que nutrem diariamente a minha alma, porque estamos compartilhando um destino em comum pelo fato de sermos negros e pelo fato de os brancos estarem do nosso lado. Precisamos muito disso.

O Brasil ofereceu para mim um palco para falar sobre diversidade e sobre a minha experiência na elite como negra. Quero dividir essa medalha com Rokhaya Diallo, Lilian Thuram e Pascal Blanchard, que me ajudaram muito a fortalecer o meu conhecimento e a verbalizar isso aqui.

De certa forma, o Brasil me fez entender que eu consigo verbalizar toda essa dor que eu guardava dentro de mim, porque estou usando a outra parte do cérebro para falar em português. Na França, nem consigo tocar nesses assuntos. A inferiorização do negro é uma problemática global, mundial. A verdade é que eu enxergo o Brasil como um dos países mais racistas do mundo, no sentido de que os negros são uma maioria aqui. Contudo, há consequências quando vemos somente quatro por cento de negros na televisão brasileira em um país em que 57% da população é negra.

Oitenta e cinco por cento das crianças negras com menos de cinco anos escolhem a boneca branca como a linda e a boazinha e a boneca negra como a feia e a má. Hoje, chegou o tempo de, enfim, ter representatividade na base, nos desenhos animados que são tão violentos não só nas cores, mas com armas e guerras. Explica-se às meninas que elas devem ser boazinhas, mas precisamos ter nosso lugar. Precisamos ter coragem de discordar, de nos colocar e não concordar com tudo. Precisamos ter força. Precisamos sair desse padrão que nos educou de geração em geração, que coloca o homem como superior à mulher e o branco como superior ao negro de maneira velada, subliminar e sutil.

Hoje, temos consequências da nossa sociedade na mídia e, através disso, podemos enxergar, por exemplo, a anorexia. A anorexia é uma enfermidade clínica que tem um nome e que é divulgada por nossa mídia. Acho que o povo negro também tem uma doença clínica, que ainda não tem nome, que é nossa baixa autoestima.

Então, precisamos, urgentemente, reequilibrar o que contamos dentro dos livros didáticos, dos desenhos animados e das novelas, para quebrar o clichê da mulher negra em posição serviçal e do homem negro como criminoso. Acho muito importante que nossos livros didáticos tenham mulheres incríveis como vocês, para nos inspirar. (Palmas.) Eles precisam ter Teodoro Sampaio, Machado de Assis e André Rebouças. Precisam mostrar que o inventor da geladeira era negro, que o inventor do marca-passo era negro, assim como o da antena parabólica, entre outros. Todos foram grandes homens que estão ausentes desse sistema eurocêntrico, androcêntrico e heterocêntrico que precisamos quebrar para reinventar tudo.

Muito obrigada. Sigamos juntas nessa luta pelo reequilíbrio. Tenho muita fé no Brasil, pois vejo este país como um adolescente rebelde, que tem a coragem de se olhar no espelho, de aceitar a crítica, de aceitar uma limpeza na construção que foi feita no Brasil. A corrupção, para mim, não é o problema do Brasil. A corrupção existe em todo o mundo; na Europa, talvez a maneira de fazer seja um pouco mais sofisticada. O problema é que o Brasil é o décimo país mais rico do mundo, tem o nono PIB mais alto do mundo, de 66 mil reais por pessoa, mas 80% da população brasileira, das casas brasileiras, ganham menos de três mil reais por mês. O problema do Brasil é a desigualdade racial e econômica.

Muito obrigada. Vamos em frente, juntas.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Anunciamos as seguintes presenças: Iele Glória Santos, presidenta da Comissão da Mulher Advogada de Pinheiros; Antonio Carlos, da Casa de Cultura Raízes de Ferraz de Vasconcelos; Fabiana da Cunha Fernandes da Costa, secretária municipal de Política para as Mulheres de Itaquaquecetuba; Sra. Márcia Regina, representante do Fórum de Igualdade Racial Benedita da Silva, de Diadema; Sr. Jefferson Caproni, da Conatenf - Comissão dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem do Cofen, Conselho Federal de Enfermangem, e Anaten - Associação Nacional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem; Sra. Edna Aparecida da Silva, presidente de Iniciação Previdenciária do Iape - Instituto dos Advogados Previdenciários do Conselho Federal; Paulo Roberto de Carvalho Rêgo, presidente do Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil; Tia Cida, do Terreiro São Mateus e Amigos do Samba; Dra. Elisabete Castro, gerente da UBS Vila Dionísio II; Dra. Sandra Viana, gerente da UBS Vila Espanhola; Dra. Alessandra Campos, gerente da UBS Casa Verde Alta; Sra. Flávia Costa, da direção nacional da UBM - União Brasileira de Mulheres.

Aproveitamos a oportunidade para justificar a ausência das seguintes autoridades: deputado Aldo Demarchi; Duarte Nogueira, secretário de Logística e Transportes; coronel José Roberto Rodrigues de Oliveira, secretário-chefe da Casa Militar; Sra. Priscila Cardoso, da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho; deputado Fernando Capez, presidente desta Casa; gabinete do presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo, desembargador Silvio Oyama; assessoria de gabinete da Presidência desta Casa, por meio do assessor Alexandre Zakir; deputado Coronel Camilo e deputado Paulo Correa Jr.

Vocês pensam que terminou? Não terminou. Ainda não.

Agora, depois de homenagearmos essa maravilhosa constelação de estrelas, de mulheres guerreiras e de luta, a deputada Leci Brandão, através de seu mandato, vai realizar duas menções honrosas a duas mulheres que também fizeram e fazem a diferença com suas atuações.

A primeira é a Alexandra Gonçalves. Inicialmente, seu interesse em Libras estava relacionado com o serviço voluntário de integração social. Ela queria ajudar as pessoas com deficiência auditiva a se inserir na sociedade, estudar e obter conhecimento. Ela realiza, voluntariamente, traduções nos hospitais São Paulo e Beneficência Portuguesa. Com esse trabalho, teve o privilégio de ver os bons resultados: mulheres antes excluídas e isoladas da sociedade por falta de informação e de comunicação hoje se veem independentes e inseridas.

Em seu currículo, estão também trabalhos para instituições e autoridades como Prefeitura de São Paulo, Governo do Estado, vereadores, deputados, faculdades FMU e Anhembi Morumbi e TV Assembleia. Gostaríamos de chamar a Srta. Alexandra Gonçalves para receber a menção honrosa outorgada pela deputada Leci Brandão.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Eu pediria licença à mestre de cerimônias para quebrar o protocolo. Posso?

Desde que entrei nesta Casa, vejo duas pessoas que aparecem na TV Assembleia, trabalhando com leitura de Libras. Eu dizia: “Gente, ninguém fala dessas moças”. Elas me contaram algumas histórias, que já foram inclusive confundidas, porque já chegaram a uma Câmara Municipal e fizeram uma pergunta para ela que não tinha nada a ver com o que ela faz. Não preciso nem dizer por que foi. Não vamos entrar aqui nos pormenores. E eu não falei nadinha para elas, não contei. Eu disse que iria ter um evento aqui na Casa, que é a Medalha Theodosina Ribeiro e eu gostaria que vocês fossem lá assistir, e tal. Acho que anteontem foi que a Rosina comunicou, é a primeira vez que essa jovem aqui está recebendo homenagem desta Casa. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega de placa.

 

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A SRA. ALEXANDRA GONÇALVES - Muito obrigada. Ai, que lindo.

Se tem uma coisa que gosto de ver é meu nome escrito. (Risos.) Muito lindo. Muito obrigada, deputada Leci Brandão, deputada Theodosina. Agradeço a Deus, que me deu a vida, a oportunidade. Quando eu era criança a minha mãe falava que “quem no céu quer ir, nas nuvens quer tocar, as estrelas ficam rindo do tombo que vai levar”. Ela tentava me dar um limite, mas aprendi a Língua Brasileira de Sinais, conhecida como Libras, e muitos acham que é muito difícil, mas não é.

É possível, só depende de vontade e um pouco de esforço pessoal. E eu consegui. Muitas mães de surdos não sabem o idioma do próprio filho. Isso não é bom, é difícil a comunicação do surdo dentro do próprio lar. No Brasil, a Língua de Sinais é o segundo idioma oficial mais falado, de tantos surdos que há. E a maioria é adolescente. Isso mostra que para o futuro vai precisar de muito mais Libras do que temos hoje. Estou muito emocionada, porque nem sempre sou homenageada. (Palmas.)

Gostaria muito de agradecer o reconhecimento que me foi dado hoje. Espero que esse seja apenas o começo, porque a minha ideia é continuar crescendo. Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - A segunda menção honrosa é conferida à professora, graduada em Pedagogia e curso de Libras, que por 15 anos tem lecionado na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I. Desde esse tempo, tem trabalhado na Prefeitura de São Paulo, em Ilha Bela e também no município de São Sebastião, sendo que nessas duas últimas cidades foi professora de alunos com deficiência auditiva. Em 2015, retorna para São Paulo e desde então tem trabalhado como intérprete de Libras, também iniciando uma pós-graduação em Tradução e Interpretação. Para receber a segunda menção honrosa deste dia memorável, chamamos Silvia Raquel Alves Matheus. (Palmas.)

 

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- É feita a entrega de placa.

 

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A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Peço licença para novamente quebrar o protocolo, porque esse rostinho também eu via na TV Alesp, e queria fazer uma homenagem para ela. (Palmas.)

 

A SRA. SILVIA RAQUEL ALVES MATHEUS - Muito obrigada. É uma honra termos o trabalho reconhecido e também o nosso esforço pessoal. Muito obrigada. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - CLAUDIA LUNA - Gostaria de fazer o registro da Sra. Regiane Alves Ferreira, coordenadora de Defesa Civil da Subprefeitura Freguesia/Brasilândia. (Palmas.)

Devolvemos a palavra à ilustre deputada Leci Brandão, que fará o encerramento desta sessão solene.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Não sei o que dizer, porque foi tão especial essa manhã, muito especial. Acho que conseguimos aqui reunir mulheres de diversos segmentos. Foram mostrados seus currículos, suas histórias, mas nunca vou deixar de agradecer. Primeiro quero agradecer a minha equipe; a todos do nosso gabinete peço aplausos, para essas guerreiras e esses guerreiros que me ajudaram muito. (Palmas.) Não vou citar nomes, senão amanhã ninguém vai suportar vocês, vai ser um problema sério.

Agradeço porque eles me aturam, eles me entendem, estão sendo grandes parceiros, porque não é fácil entender a minha história de hoje, essa construção de onde está. E quando falo em agradecimento, é porque, Dra. Theodosina, a história é uma coisa que nunca vamos poder esquecer, jogar fora. Sei que meus amigos do Rio de Janeiro cada vez mais me cobram pelo fato de eu enaltecer tanto, agradecer tanto, e amar tanto o estado de São Paulo. Saibam vocês que as grandes emoções, as grandes conquistas, até algum sentimento contrário por causa dos meus posicionamentos mais recentes foram vocês que me fortaleceram. Foram vocês que me mostraram um caminho, e esse caminho, podem ter certeza absoluta, foi abençoado por Deus e pelos orixás. Vocês podem ter certeza disso.

Não foi o canto o principal. Foi a letra do canto. Samba nós fazemos em qualquer lugar, a qualquer hora. Mas recados corajosos, contra preconceitos de qualquer ordem; e também você ser ousada, você ter lado, ter coragem de mostrar como é a sua cabeça e o seu coração - isso este País não permite, principalmente quando você é dessa nossa etnia.

Nunca vou esquecer que as pessoas que descobriram este País dividiram-no do jeito que quiseram. Depois, trouxeram nossos ancestrais para cá, acorrentados nos navios, e por isso não sabemos direito de que país viemos. Sabemos do continente, mas do país não. Sabemos também que os poderosos foram muito bem alimentados quando vieram para cá, e muitas crianças nossas morreram de fome, porque o leite do seio da mulher negra era dado para o filho do senhor, e não para o próprio filho dela. Sabemos exatamente a diferença da casa grande e da senzala. Mas estamos no segundo milênio.

Nasci conhecendo pessoas de todas as etnias, e por isso fico muito feliz quando vejo, em qualquer espaço - não só nos shows que fiz nesses 40 anos, mas em qualquer espaço que a gente vá -, a diversidade deste País. Tenho muitos amigos de etnia branca, de olhos azuis e verdes, e que são descendentes de espanhóis, italianos, japoneses. Eles me tratam com o maior carinho do mundo, têm o maior respeito. É por isso que nosso gabinete tem o nome de “Quilombo da Diversidade”; lá, há um representante de cada coisa. (Palmas.)

É muito bom quando se consegue fazer uma sessão solene como esta, em que há um baluarte de escola de samba sentado, de branco, com sua faixa de embaixador; há representantes e autoridades religiosas; há pessoas de todas as religiões. É essa gratidão que tenho com Deus, por ele ter permitido que eu chegasse a esta Casa e pudesse fazer essa construção. Mas se não fossem mulheres e homens que estão sentados aí e não estão sendo homenageados; se não fossem eles, que me ensinaram tanta coisa, me alertaram, me deram bronca, me puxaram a orelha e me acalmaram, eu não estaria sentada aqui hoje comandando esta sessão solene. Por isso, agradeço a cada pessoa que está aqui, incluindo os servidores da Assembleia, que me têm um carinho enorme. Como sou bem tratada pelo pessoal da limpeza! Vocês não têm ideia. Porque eles sabem que sou filha de uma mulher que também fazia limpeza. (Palmas.)

É a história de todos nós. Eu tenho muita noção de que não são só negros pobres. Há brancos pobres também, como sabe quem canta na favela, na quebrada, como eu, que sempre cantei no Rio de Janeiro e continuei aqui em São Paulo. Graças a Deus, conheço todas as quebradas e canto nas penitenciárias. É bom conhecer a polícia, mas também é bom conhecer quem é preso. É necessário conhecer os dois lados, para você saber como é o negócio, como é que se faz o samba. Já se falou aqui do tempo, do momento, enfim... Mas o que espero é que, seja de qual lado formos - contra ou a favor, como disse muito bem o Alcides Amazonas... E quero agradecer ao Jamil, que sempre abriu os braços para mim, desde que botei o pé no PCdoB. Você é um senhor, tomou uns tapas lá no aeroporto, mas está inteirinho. Somos todos cidadãos brasileiros, filhos de Deus, seres humanos. Vamos discutir, avaliar, fazer reflexão. Mas não vamos odiar. (Palmas.) Estamos num tempo tão difícil. Não pode haver ódio e violência.

Quero dizer uma coisa a algumas mulheres que estão aí sentadas. Não gosto muito de falar nomes, porque quando você fala os nomes, acaba se esquecendo do fulano que estava lá na ponta, e morro de medo disso. Mas em nome de todas representadas, quero dizer a você, Sueli Carneiro - como te conheço mais tempo -, muito obrigada em nome de toda essa mulherada que me ajudou. (Palmas.) A gente se conhece há muito tempo. Eu nem sonhava em chegar aqui, você sabe disso. Antes do conselho, a gente já se conhecia há muitos anos. E a defesa que você fez de nós no Supremo Tribunal Federal, quando houve a questão das cotas, do Estatuto da Igualdade Racial - aquilo foi uma coisa que jamais vou esquecer na minha vida.

E quero dizer, a minha amiga Sharylaine, que já cutuquei todo mundo aqui, porque ela disse que teve um problema na entrada. Eu falei: “O que aconteceu?” Porque comigo as coisas têm que ser transparentes. Sabe o que foi? Não foi combinado que elas viriam trazendo instrumentos. E isto é uma Casa do Povo, mas também uma Casa de Leis; portanto, há protocolos, Regimento, um monte de coisa. É necessário avisar que vai trazer instrumento; se não avisar, não pode entrar. Não foi preconceito com você, minha irmã. Não foi sua roupa nem seu turbante; o problema foi com o instrumento. Pode ser que algum dia, daqui a alguns anos, as Assembleias Legislativas mudem, e as pessoas possam entrar com seus instrumentos. Outros instrumentos entram aqui sem problemas, mas o seu é diferente, então deve ser por isso que essa situação ocorreu.

Onde estão as flores da Dra. Theodosina, por favor? (Palmas.) Que bom que podemos fazer essa homenagem com a senhora viva, inteira, maravilhosa. (Palmas.) Viva o Brasil, viva o povo brasileiro e viva todos os povos que acreditam na liberdade e na democracia. Deus abençoe vocês. (Palmas.)

Esgotado o objeto da presente sessão, a Presidência agradece às autoridades, aos funcionários da Casa e a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta solenidade.

Convidamos a todos para assistirem à apresentação do grupo “Grupo Amigas do Samba.com” e para um “coffee-break” que será servido no Salão dos Espelhos. O acesso é pela parte de trás deste plenário.

Está encerrada a sessão.

 

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- Encerra-se a sessão às 13 horas e 15 minutos.

 

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