http://www.al.sp.gov.br/web/images/LogoDTT.gif

 

 

19 DE SETEMBRO DE 2016

 

059ª SESSÃO SOLENE PARA OUTORGAR O COLAR DE HONRA AO MÉRITO DO LEGISLATIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO AOS PADRES ANTONELLO CADEDDU E PADRE JOÃO HENRIQUE

 

Presidente: FERNANDO CAPEZ

 

RESUMO

 

1 - PRESIDENTE FERNANDO CAPEZ

Abre a sessão. Anuncia a composição da Mesa. Informa que convocara a presente sessão solene, a pedido do deputado Antonio Salim Curiati, com a finalidade de "Outorgar o Colar de Honra ao Mérito Legislativo do Estado de São Paulo aos reverendíssimos padre Antonello Cadeddu e padre João Henrique". Convida os presentes a ouvirem, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro". Anuncia a exibição, respectivamente, de um vídeo institucional da Associação Aliança de Misericórdia, e de um vídeo com homenagens da família do padre João Henrique.

 

2 - ANTONIO SALIM CURIATI

Deputado estadual, tece elogios ao presidente Fernando Capez. Avalia positivamente as atividades sociais realizadas pela associação presidida pelos homenageados desta solenidade. Afirma-se emocionado. Parabeniza os sacerdotes por seus trabalhos comunitários.

 

3 - LUCIANO AUGUSTO BONA

Empresário da construção civil, saúda os presentes. Discorre acerca de suas experiências junto à Associação Aliança de Misericórdia. Enaltece o trabalho da instituição. Apresenta dados referentes à associação. Faz agradecimentos aos padres homenageados.

 

4 - PRESIDENTE FERNANDO CAPEZ

Comunica a entrega do Colar de Honra ao Mérito do Legislativo do Estado de São Paulo, respectivamente, ao reverendíssimo padre João Henrique, e ao padre Rodrigo Custódio Andrade Ramos, representando o reverendíssimo padre Antonello Cadeddu.

 

5 - RODRIGO CUSTÓDIO ANDRADE RAMOS

Padre, cumprimenta os presentes. Comunica que o padre Antonello encontra-se em atividades de evangelização na Polônia. Deseja que as atividades da associação sejam ampliadas. Lembra as pessoas beneficiadas pelos projetos da instituição. Menciona a importância do acolhimento de pessoas em situação de rua.

 

6 - APARECIDA TERENZIO

Colaboradora da associação, mostra-se emocionada. Saúda os presentes. Salienta a importância da Associação Aliança de Misericórdia em sua trajetória de vida. Narra experiências pessoais junto à instituição. Faz agradecimentos aos sacerdotes.

 

7 - JOÃO HENRIQUE

Padre, declara-se sensibilizado pela execução do hino brasileiro. Comenta sua chegada a este País. Mostra-se feliz pela possibilidade de realizar um trabalho social. Reitera seu compromisso com as pessoas pobres, que, segundo ele, foram as inspiradoras de sua ação. Narra episódios vividos junto a crianças acolhidas pela associação. Dedica a homenagem recebida aos pobres e às pessoas que colaboraram com a instituição. Afirma a importância das vidas humanas. Deseja que os jovens atuantes na associação deem continuidade ao trabalho por ela realizado.

 

8 - PRESIDENTE FERNANDO CAPEZ

Cumprimenta os presentes. Discorre a respeito das condições sociais e humanas atuais. Agradece aos padres por seu empenho. Elogia o apoio dado pelo deputado Antonio Salim Curiati às entidades sociais de Avaré. Faz agradecimentos gerais. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Fernando Capez.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Esta sessão solene tem a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito do Legislativo do Estado de São Paulo aos reverendíssimos padre Antonello Cadeddu e padre João Henrique.

Compõem a Mesa principal dos trabalhos S. Exa., deputado estadual, decano desta Casa com 11 mandatos legislativos, deputado Antônio Salim Curiati, a quem eu peço uma carinhosa salva de palmas, o autor desta iniciativa. (Palmas.)

Quero também anunciar a presença do padre homenageado, João Henrique, à nossa direita, e do padre Rodrigo Custódio Andrade Ramos, que está representando o reverendíssimo padre Antonello Cadeddu, o homenageado. Está aqui também o Dr. Luis Filipe Nazar também nos prestigiando com a sua honrosa presença.

Anunciamos que esta é uma sessão solene convocada por este presidente, mediante solicitação do deputado Antônio Salim Curiati, com a finalidade de outorgar o Colar de Honra ao Mérito do Legislativo do Estado de São Paulo, pelo trabalho social e humanitário dos reverendíssimos padres Antonello Cadeddu e João Henrique.

Convido todos os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, executado pela Banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sob a regência do subtenente Edgar Lourenço.

 

* * *

 

- É executado o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Agradecemos à Banda da Polícia Militar, ao subtenente Edgar Lourenço e a esta instituição tão respeitada que tanto faz por nós, às vezes injustiçada, mas amada por todos nós. Parabéns pelo trabalho que vem realizando.

Comunicamos os presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web e será transmitida pela TV Assembleia neste sábado, dia 24, às nove horas da noite, na TV. Quem tem a NET, sintonize no canal sete; pela TV Vivo, canal nove; TV Digital Aberta, canal 61.2. Então, sábado, às nove horas da noite, sintonizaremos no canal sete da NET para acompanharmos esta sessão solene.

Agora sim, parece que entramos um pouco antes da hora, assistiremos a um vídeo institucional da Associação Aliança de Misericórdia, seguido do vídeo com homenagens da família do padre João Henrique.

 

* * *

 

- São exibidos os vídeos.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Agora, em alto estilo, as palavras do nosso respeitabilíssimo, preceptor de todos nós, deputado estadual Antonio Salim Curiati.

 

O SR. ANTONIO SALIM CURIATI - PP - Meu caro presidente Fernando Capez, figura ilustre e importante desta Assembleia Legislativa, que merece o meu respeito e a minha consideração. Eu sei quem é Fernando Capez, porque estou na Casa completando 11 mandatos de deputado estadual, sou o mais antigo deputado, sei que Fernando Capez é essa figura respeitadíssima que merece respeito e consideração. O que estão fazendo com Fernando Capez é glorificá-lo. Eu tenho certeza de que, na primeira oportunidade, Fernando Capez terá outra posição sendo o governador do estado ou o presidente da República. Que Deus o abençoe, Fernando Capez.

Inicialmente, gostaria de dizer que me sinto imensamente agraciado por estar presente nesta homenagem que hoje é prestada aos reverendíssimos padres João Henrique e Custódio e o seu grupo religioso, que iniciaram o movimento Aliança de Misericórdia, com a entrega do Colar de Honra ao Mérito do Legislativo do Estado de São Paulo, concedido por esta Assembleia.

 Este movimento realiza diversas obras sociais voltadas à população carente das periferias e ruas, como um julgado na evangelização e caridade, que elabora com todas as dificuldades, todas as pedras no caminho, o padre Antonello e o padre Custódio, que estão presentes nesta solenidade, nesta missão, movidos pela fé, pela compaixão e pelo amor ao próximo. E hoje já não é mais possível saber quantas vidas por eles foram resgatadas e quantas almas por eles foram salvas. É impossível enumerar, mas acredito ser imenso o número, haja vista a emoção das pessoas aqui presentes.

O meu próprio filho, Antonio Salim Curiati Júnior que está aqui presente, participou de uma de suas missas, conheceu esse carisma e sentiu dentro de si a força da fé que deles emanam. Muito mais poderia ser dito sobre essa obra maravilhosa, mas mesmo assim não conseguiríamos expressar os verdadeiros sentimentos que movem a todos nesta sessão.

Parabéns aos seus participantes que buscam, em tempos tão difíceis, levar amor ao próximo. Parabéns aos padres, Antonello e João Henrique e também ao padre Custódio pela grandeza da alma e pela inabalável que os move. Esta Casa não poderia deixar de homenageá-los com a outorga desses colares, como reconhecimento pelo empenho e dedicação de suas vidas em benefício de seus semelhantes, na certeza de que suas atitudes servirão de inspiração para outras santas almas de boa vontade. Parabéns, que Deus abençoe a todos e ao grande público presente. Saúde.

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Tenho a honra de passar a palavra ao Sr. Luciano Augusto Bona. Com a palavra.

 

O SR. LUCIANO AUGUSTO BONA - Boa noite a todos, ao Sr. Presidente Capez, ao Sr. Deputado Curiati, ao padre Henrique, a todos os presentes e a todos da Aliança de Misericórdia. Eu sou empresário da construção civil e sempre dediquei um pouco de tempo às causas sociais.

Em 2001, alguns meses depois do início da Aliança de Misericórdia, eu tive a grata satisfação de ser apresentado por um amigo comum ao padre Henrique, ao padre Antonello e à saudosa Maria Paula. Fiquei impressionado e comovido pela magnitude do projeto que eles tinham em mente. Saíram da Itália, do conforto das suas famílias, das suas casas e vieram aqui, passaram a noite na rua, nas praças, evangelizando e consolando aqueles que tinham e que têm necessidades e, na sequência, abrigando esse pessoal, alimentando, trazendo para dentro de um terreno que foi ganho naquela época. E as dificuldades eram enormes, tinham que construir os abrigos, arrumar alimentação... Mas, com a grande vontade deles de realizar esse sonho, aliada à providência divina, que foi enorme, hoje esse sonho tornou-se uma realidade.

Hoje, a Aliança faz mais de mil atendimentos por mês, tem 400 missionários trabalhando, tem milhares de colaboradores no mundo inteiro. Está hoje em 50 cidades do Brasil e em mais de quatro países e faz um trabalho enorme, tem 360 funcionários. Eu gostaria de agradecer muito ao padre Henrique, ao padre Antonello, por terem vindo para cá, por terem trazido esse sonho deles para nós e dizer que eu me sinto honrado de ter participado com vocês nessa caminhada, apesar de ter sido bem pouco o que fiz. Muito obrigado a todos.

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Neste momento, faremos a entrega do Colar de Honra ao Mérito do Legislativo do Estado de São Paulo ao reverendíssimo padre Antonello Cadeddu, representado pelo nosso estimado padre Rodrigo Custódio Andrade Ramos. Convido o nobre deputado Antonio Salim Curiati, de 11 mandatos, para nos acompanhar nesta entrega.

Depois de 11 mandatos, o deputado manda na Casa. Ele já antecipou e já entregou primeiro para o nosso padre João Henrique. Então, uma salva de palmas ao padre João Henrique. (Palmas.)

Agora, o padre Rodrigo Custódio Andrade Ramos receberá, representando o padre Antonello Cadeddu, o Colar de Honra ao Mérito do Legislativo do Estado de São Paulo.

 

* * *

 

- São entregues os colares.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Para falar em nome do padre Antonello Cadeddu, concedo a palavra ao padre Rodrigo Custódio Andrade Ramos.

 

O SR. RODRIGO CUSTÓDIO ANDRADE RAMOS - Uma boa noite para todos. Sr. Fernando Capez, presidente desta Casa, deputado Antonio Curiati, padre João Henrique, nosso pai, trago aqui o abraço do padre Antonello que está na Polônia evangelizando. De fato, ele deveria estar conosco para receber a sua homenagem, então hoje eu estou aqui representando um grande homem. Por isso, trazemos também a sua lembrança. Trago também, de forma especial, para o deputado Curiati, deputado Fernando e a cada um de vocês.

Pela tarde, estive com o nosso cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo da nossa Arquidiocese de São Paulo, que gostaria de estar aqui. Infelizmente, não pôde estar por alguns compromissos e incumbiu-me de trazer a todos um abraço. O padre João Henrique dizia que, ao receber esse mérito, deve-se receber com vergonha, porque o nosso trabalho ainda é muito pequeno perto de tanto bem que a Aliança pode realizar. Então, é um reconhecimento muito grande perto daquilo que a Aliança pode fazer, mas é com muita alegria que esta Casa agora está cheia de missionários, colaboradores, amigos que fazem parte da Aliança. Quero, com cada um de vocês, trazer no nosso coração os mais pobres, aquele que nós atendemos.

Hoje, a Aliança, de fato, assim como dizia o engenheiro Luciano, está presente em 50 cidades e em mais seis países. Temos muitos pobres que estão acolhidos nas nossas casas - crianças, jovens, adultos, mães solteiras, idosos, pessoas que estavam morrendo nas praças. Já retiramos, inclusive, pessoas da Favela do Moinho, em São Paulo, que tiveram a ponta das suas orelhas e dos seus pés roídas pelos ratos. Encontramos pessoas nas casas e nas ruas, destruídas. E me perguntavam: “Mas será que é o fechamento dessas pessoas que dificulta que elas sejam recuperadas?” Não, não é isso, nós sabemos que é o nosso olhar que pode transformar a vida de cada uma dessas pessoas.

Se hoje nós recebemos esse reconhecimento, de fato, o nosso trabalho é uma gota no meio do oceano, mas esse é o nosso desejo, que os corações se abram e que os olhos se abram e se mudem para olharem cada um desses pequeninos que estão nas ruas, essas pessoas que podem ser acolhidas e podem ter as suas vidas transformadas.

Assim como os nossos pais nos ensinaram, não existem pessoas ruins, existem pessoas que não conheceram o amor de Deus. Então, que esta noite também seja uma noite do amor de Deus para cada um de nós. Muito obrigado.

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Agora, nós teremos o privilégio de ouvir, principalmente os nossos telespectadores do sábado, às nove horas da noite, um pouco desse trabalho que, por modéstia, o padre Custódio não exaltou, por humildade, mas que os senhores poderão ter uma noção maior daquilo que é feito. A primeira menina acolhida pela Aliança, Aparecida Terenzio, a Cidoca, vai mandar um recado para nós. Salva de palmas. (Palmas.)

 

A SRA. APARECIDA TERENZIO - Meu coração está palpitando de vergonha. Boa noite, Sr. Presidente; boa noite, deputado; boa noite, Sorrisinho, que é o padre Henrique; boa noite, Custódio; e boa noite, Aliança de Misericórdia.

Eu só tenho muito que agradecer à Aliança de Misericórdia, porque eu fui uma daquelas pessoas que realmente foram resgatadas das trevas das ruas. Entrei na comunidade como se fosse um bicho do mato, não olhava para a cara de ninguém, agressiva, um animal. Mas a comunidade, o padre Antonello e o padre João Henrique foram um canal de graça na minha vida.

O padre Antonello, quando eu o conheci, estava pregando no Baile do Espírito Santo e eu não o conhecia. Eu que era bicho do mato, fechada, fui para o encontro. Ele estava cantando no Baile do Espírito Santo e aí começou a pregar e a falar: Shangralalala”. E eu: “Quem é esse cara falando shangralala’?” O que ele está falando? Arroz, feijão? Não entendia nada disso. Aí, ele começou a cantar a música do Espírito Santo, eu comecei a bailar e, nessa música do Espírito Santo, eu fiquei relaxando até que repousei no Espírito Santo. Quando eu repousei, eu vi um manto e, nesse manto, eu entendi que era o sangue de Deus me lavando.

E aonde ele ia eu ia atrás. Até que ele me convidou - estou desde 2000 lá - para entrar na comunidade e me confessar com ele. Tinha que falar com a secretária. Liguei para a secretária e ela disse: “A agenda dele está lotada.” Mas eu fui persistente até que eu consegui. E foi a minha vida na comunidade Aliança de Misericórdia onde eu era agressiva, mas onde ele me mostrou o amor do Pai. E o Sorriso, com esse canal de graça, sempre sorrindo, eu só tenho muito que agradecer.

Na comunidade, eu aprendi a dignidade. Hoje, eu trabalho, tenho a minha casinha e não sou nenhuma coitadinha, porque eu não gosto que ninguém tenha dó de mim. Aprendi a lidar com as pessoas, aprendi com a comunidade, a minha família, a crescer espiritualmente. E hoje eu sou honrada por estar aqui.

Antes, o meu restaurante era a Praça da Sé. Hoje, com o meu salário, levo os meus irmãos para um restaurante digno para comer. Hoje, eu falo: Aliança de Misericórdia, padre João Henrique e paizinho Antonello - que não está aqui, mas é um só canal de graça e um só coração com a Aliança de Misericórdia - eu só tenho que agradecer. Hoje, se eu morrer, eu vou morrer feliz só por ter conhecido esses dois grandes homens que são o canal de graças na minha vida. Muito obrigada por tudo.

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Parabéns, Cidoca, falou bonito, com o coração. E agora nosso homenageado, padre João Henrique. Ele é o Sorriso, nosso Padre Sorriso, padre João Henrique.

 

O SR. JOÃO HENRIQUE - Eu me emocionei ao sentir o Hino do Brasil porque cheguei ao Brasil com 29 anos, tinha barba ainda preta, agora virou branca, Sr. Presidente, de tanto amar esta terra. Hoje, tenho 61 anos, estou muito feliz de ter consumido a vida, a maioria da minha vida aqui neste sonho da Aliança de Misericórdia, um sonho que é o sonho de Deus. E creio que quem teria que receber a homenagem maior são estas pérolas, como a Cidoca, esses pequeninos que nos ensinam que a vida pode se tornar um dom e que pode ser muito mais simples se nós amarmos.

Quem me converteu no Brasil foram os pobres. Eu comecei a missão em Belo Horizonte e lá, na periferia de Belo Horizonte, debaixo de uma ponte, uma vez enquanto passeava, visitava algumas famílias pobres, encontrei um senhor que se chamava Zé. Esse senhor veio do norte do país em busca de trabalho. Não encontrou trabalho, foi atropelado, acabou se tornando paralítico e foi acolhido debaixo da ponte, em uma casa de papelão por uma prostituta e um alcoólatra. Eles tinham um colchão e, nesse colchão, eles acomodaram esse homem. Esse homem me disse assim: “Eu bati em várias partes na casa de padres, de irmãos, de pastores, mas ninguém me acolheu. Quem me acolheu foram esses dois.” E, naquele momento, eu senti no meu coração a voz do Senhor que me dizia: “Os pecadores e as prostitutas vos precederão no Reino do Céu”.

Eu descobri no meio dos pobres a riqueza que não encontro nas casas dos ricos. Descobri no meio dos pobres a capacidade de dar a própria pobreza, uma pobreza que pode transformar a história. Acredito na bondade do coração dos homens. A primeira criança de rua que acolhi se chamava Márcio, e essa criança eu encontrei às 11 horas da noite na igreja orando com mais três meninos pobres, quase sem roupa - tinham só uma cueca, descalços, sujos.

Entrei para fechar a igreja e esse menino me disse: “Padre, me dá uma benção?” Eu falei: “Por quê?” Ele me respondeu: “Porque eu quero ser uma criança boa, mas eu sou mau, me a benção de Jesus.” A menina que estava do lado desse menino disse: “Ele é mau mesmo. Hoje pegou uma faca para me matar.” Esse menino tinha nove anos, negro, abaixou a cabeça, envergonhado, e falou: “Padre, é verdade, eu sou mau, mas eu quero ser bom. Hoje eu tinha fome, não tinha comida em casa, só tinha comida para jantar, eu queria comer um pouco de arroz e a minha irmã não queria. Fiquei nervoso, peguei a faca mesmo, padre. Mas eu quero ser bom, me dá a benção”. Ele pediu a benção também para a mãe dele, porque a mãe bebia. A mãe teve vários filhos de vários homens e batia nas crianças à noite, bêbada. E ele dizia: “Por isso ficamos na rua e aprendemos as coisas das trevas, mas eu quero ser um filho da luz.

Essa criança, que pudemos acolher depois no centro que realizamos em Belo Horizonte, tornou-se um profissional através de alguns cursos que conseguimos com ajuda da Prefeitura de BH naquela época, depois de vários benfeitores. Aí o sonho foi crescendo. Eu sinto de querer dar esta homenagem aos pobres que nos ensinam a ser mais humanos, a sermos mais confiantes na bondade do coração dos homens.

Quando eu comecei em São Paulo, chegou um jovem alto, negro e me disse: “Padre, me reconhece?” Eu disse: “Não”. E ele respondeu: “Eu sou Márcio. Quando eu tinha nove anos você me ajudou. Agora, soube que você começou esta missão. Quero te ajudar.” E ficou um ano como voluntário gratuitamente conosco. Ajudou-nos a fazer um portão... Ele soldava. Este portão, que ainda temos na casa, funciona mais ou menos. Aproveitamos para convidar todo mundo que nos acompanha também pela televisão a nos visitar no Botuquara, perto da Parada de Taipas, uma região onde muitos tinham medo de ir e onde hoje tantas pessoas vão com alegria, porque o amor transforma a história.

Outra homenagem eu queria dar para as pessoas que, como tantos que estão aqui conosco hoje, descobriram que o pobre não é um perigo, mas que o perigo é o isolamento, é essa separação. Esses muros que nós criamos nos impedem de fazer da nossa vida um dom para os outros, como Rosângela que está aqui, tantos outros benfeitores, o Pedro, engenheiro elétrico, um dos primeiros que também nos ajudou, como o Luciano... Todos que estão aqui descobriram que realmente podiam fazer dos próprios dons, um dom que se multiplica, repartindo com os outros. E essa ponte maravilhosa que a Aliança sonha, que vejo realizada depois de 16 anos, entre pobres e ricos, periferia e centro. Que maravilhoso.

Tem uma benfeitora nossa que dizia que nunca iria para Taipas, porque é perigoso. Nesses dias, pediu-nos para dormir na rua, junto com os missionários. É maravilhoso quando se descobre que existe uma pérola preciosa escondida no meio do lixo da cidade. E quando nós reciclamos o lixo... Hoje se sabe que o lixo é um dos maiores valores da cidade, é fonte de muito lucro. Às vezes esquecemos que podemos reciclar vidas, que são mais preciosas do que aquele lixo.

Finalmente, eu quero homenagear os missionários, porque nós agora somos velhinhos, como o padre Antonello, mais ou menos, ainda corremos rápido. Mas esses jovens que estão aqui dão a vida todos os dias, arriscando a vida, muitas vezes nas ruas, nas favelas. Temos uma fraternidade na Favela do Moinho, que convido também a visitar, onde nós descobrimos que vale a pena.

Esses dias, deixei minha mãe em um estado muito grave, tendo ela a idade do deputado, 88 anos. Deixei-a na Sardenha e ela me dizia: “Olha, eu consumi toda a minha vida para vocês, filhos. Hoje, olho para vocês...” Minha mãe teve cinco filhos, como o deputado também, e disse: “Vale a pena”. Eu também quero dizer para vocês, vale a pena.

Quero convidar todo mundo a descobrir atrás de uma aparência de dor, uma potência de amor que está escondida nos pobres. Agradeço.

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Em razão da legislação eleitoral, deixamos de fazer algumas menções de pessoas que auxiliaram e colaboraram na realização desta homenagem, mas que não podem ser citadas por um impedimento legal.

Padre João Henrique, padre Custódio, querido Curiati - que, se Deus quiser, já está se aproximando para virar um século de vida e vai muito além -, às vezes me pergunto que mundo é este, onde nós vamos parar e se o mal prevalecerá sobre o bem. Como dizia Thomas Hobbes, o homem é o lobo do homem mesmo? Nós estamos em uma selva nos devorando? Que não existe mais bondade, não existe caridade, não existe solidariedade, não existe humildade? O que existe é orgulho, prepotência, vaidade, submeter aquele que por algum motivo nos incomoda? Que mundo é esse?

Hoje eu voltei no tempo. Lembrei-me da minha aula no quarto ano Primário do meu colégio, no final da Avenida Paulista, cujo padroeiro São Luiz Gonzaga fazia um trabalho muito parecido com o que os senhores realizam de apoio aos pobres. Morreu, inclusive, em contágio com pessoas que tinham lepra e que ele ajudava; vivia no meio deles e dormia no meio deles. O exemplo de São Luiz Gonzaga e de tantos outros santos tem repercutido muito nesse trabalho positivo que faz a Igreja Católica e a Associação Imaculada do Espírito Santo.

Nós temos que fazer homenagem, sim. Está de parabéns, Curiati, sua família toda. E mais do que homenagem, você que faz um trabalho de apoio a tantas entidades. Eu conheci um trabalho seu maravilhoso de apoio em Avaré, uma entidade. Você faz um trabalho fantástico em emendas parlamentares, todas as entidades e assistências. É uma área, um ramo em que o deputado Salim Curiati se destacou bastante. É isso que nós temos que fazer, porque o trabalho são eles que fazem. Nós temos que dar a nossa pequena colaboração, mas que pode ser muito maior.

Então, hoje acho que esta Assembleia ficou mais leve. Hoje, esta Assembleia ficou mais próxima de Deus. Queremos que os senhores voltem muitas vezes aqui. Que a Casa do povo, com a presença de pessoas como vocês, possa permanentemente ser também a casa de Deus. Obrigado.

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, à minha equipe, aos funcionários dos serviços de Som, Taquigrafia, Atas, Cerimonial, da Secretaria Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Legislativa, das Assessorias das Polícias Civil e Militar, bem como a todos que, com suas presenças, colaboraram para o êxito desta sessão.

Convido todos para um coquetel que será servido no Salão Valdemar Lopes Ferraz. Uma boa noite a todos e que Deus os abençoe.

 

* * *

 

- Encerra-se a sessão às 20 horas e 48 minutos.

 

* * *