http://www.al.sp.gov.br/web/images/LogoDTT.gif

 

 

02 DE DEZEMBRO DE 2016

088ª SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AO DIA NACIONAL DO SAMBA

 

Presidentes: FERNANDO CAPEZ e LECI BRANDÃO

 

RESUMO

 

1 - PRESIDENTE FERNANDO CAPEZ

Abre a sessão. Nomeia as autoridades presentes. Tece considerações regimentais sobre a solenidade. Informa que convocara a presente sessão solene, com a finalidade de "Comemorar o Dia Nacional do Samba", por solicitação da deputada Leci Brandão. Convida o público a ouvir, de pé, o "Hino Nacional Brasileiro".

 

2 - CAMPOS MACHADO

Deputado estadual, saúda os presentes. Elogia o presidente Fernando Capez e o casal Hadadd. Demonstra admiração pela deputada estadual Leci Brandão, pela qual nutre fraterno sentimento. Enaltece a relevância do Samba no cotidiano do povo brasileiro. Solicitou à plateia que entoe saudação em homenagem à citada deputada.

 

3 - PRESIDENTE FERNANDO CAPEZ

Faz coro ao pronunciamento do deputado estadual Campos Machado.

 

4 - LECI BRANDÃO

Assume a Presidência. Saúda os presentes. Comenta a alegria proporcionada pelo Samba, em torno da agregação de pessoas. Manifesta-se grata pelo reconhecimento do Samba paulista, pelo governo, a partir da sanção do Estatuto do Samba Paulistano. Comemora a aprovação de projeto que confere ao programa de rádio "O Samba Pede Passagem", o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. Lista os nomes dos homenageados, a ilustrar a importância da solenidade. Enaltece a união, o respeito e a humildade, como meios de conduzir a cultura do aludido gênero musical.

 

5 - VERA BUCHERONI

Mestre de cerimônias, discorre a respeito do histórico e qualidades do Samba.

 

6 - MAURÍCIO PESTANA

Secretário municipal da Promoção da Igualdade Racial, saúda os presentes. Afirma que a história do Samba se confunde com a resistência da raça negra, no País. Lista ações tendentes a expandir a cultura e a economia do referido gênero musical, com o apoio do governo Fernando Hadadd. Argumenta que fora chamado pelo UOL, para redigir texto a respeito do Centenário do Samba, a ser publicado no próximo domingo, dia 04/12. Lê teor do citado texto.

 

7 - MARCOS ABRAHÃO, "MARQUINHOS JACA"

Sambista, a representar a Associação das Comunidades de Terreiro do Samba do Estado de São Paulo, Astec, cumprimenta os presentes. Narra passagem ocorrida há 4 anos, quando do falecimento de Toniquinho Batuqueiro. Valoriza o Samba não somente como gênero musical, mas também como expressão cultural. Clama por políticas públicas em defesa do gênero musical. Explica o uso de vestimenta em homenagem ao Terreiro de Compositores. Manifesta-se honrado por participar da solenidade. Defende a construção de economia criativa a favor de benefícios de cunho social.

 

8 - ANA ESTELA HADADD

Primeira-dama da Capital, saúda os presentes. Parabeniza a Presidência pela iniciativa da solenidade. Transmite os cumprimentos do prefeito Fernando Hadadd. Informa que a autoridade está na Cidade do México, com o intuito de receber premiação por políticas públicas em prol da agricultura familiar. Assevera que o Samba integra a identidade brasileira.

 

9 - VERA BUCHERONI

Mestre de cerimônias, anuncia a entrega de homenagens, e breves leituras de históricos dos homenageados.

 

10 - DANIEL FRANCISCO FILHO

A representar Dona Inah, manifesta-se honrado por receber a homenagem, em nome de sua mãe. Cita parte de letra de música, de cuja composição sua mãe é autora.

 

11 - ANTONIO CARLOS, "TONHECA"

Sambista, saúda os presentes. Agradece à Presidência a homenagem recebida.

 

12 - MOISÉS DA ROCHA

Radialista, apresentador do programa de rádio "O Samba Pede Passagem", saúda os presentes. Mostra-se emocionado por participar da solenidade. Comenta boatos em torno da extinção do citado programa de rádio. Assevera que o Samba atua como agente de transformação social. Cita música de Adoniran Barbosa contra o racismo. Lamenta ameaças a direitos sociais. Enaltece a conquista da liberdade, principalmente do afrodescendente, no Brasil. Refere-se ao cantor Nelio Rodrigues, a respeito de música sobre a liberdade.

 

13 - OSVALDINHO DA CUÍCA

Sambista, saúda os presentes. Agradece à Presidência a homenagem recebida. Entoa música de autoria da deputada Leci Brandão. Narra breve histórico profissional da parlamentar. Homenageia"Seu Chapinha". Afirma que o Samba é arauto da liberdade e instrumento de denúncia, a combater o preconceito e defender melhorias sociais. Argumenta sua insatisfação quanto à política nacional. Clama aos parlamentares que tenham atitude e não somente qualidade no discurso. Defende apoio a Maria Esther, em Pirapora de Bom Jesus.

 

14 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Convida os cuiqueiros a embalarem canto em homenagem ao instrumento.

 

15 - MARIA ESTHER

Sambista do Samba de Bumbo de Pirapora do Bom Jesus, saúda os presentes. Discorre acerca de sua relação com o Samba, desde tenra infância. Afirma que fizera samba em bar e era frequentemente repreendida por sua mãe. Declama oração em homenagem a romeiros, em Pirapora de Bom Jesus. Faz agradecimentos gerais.

 

16 - VERA BUCHERONI

Mestre de cerimônias, afirma que a solenidade inova ao reconhecer ações de caráter coletivo de projetos, comunidades e de instituições que contribuem com o enaltecimento do Samba como expressão de cultura popular. Anuncia a entrega de Menções Honrosas.

 

17 - OMAR COSTA

Vice-presidente da Escola de Samba Sociedade Rosas de Ouro, saúda os presentes. Mostra-se emocionado por receber a homenagem. Argumenta que o aproveitamento desta data é momento de reflexão, em razão da crise vivenciada pelo País.

 

18 - REINALDO GONÇALVES ZACARIAS, “O PRÍNCIPE DO PAGODE

Sambista, saúda os presentes. Agradece a homenagem recebida. Defende a união a favor do Samba.

 

19 - PRESIDENTE LECI BRANDÃO

Pede aplausos à Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco. Faz agradecimentos gerais. Reafirma seu compromisso em homenagear o Samba nesta data, no curso de seu mandato parlamentar. Encerra a sessão.

 

* * *

 

- Abre a sessão o Sr. Fernando Capez.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Havendo número legal, declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Com base nos termos da XIV Consolidação do Regimento Interno, e com a aquiescência dos líderes de bancadas presentes em plenário, está dispensada a leitura da Ata.

Sessão solene com a finalidade de comemorar o Dia Nacional do Samba, proposta pela deputada Leci Brandão.

Senhoras e senhores, boa noite. Sejam todos bem-vindos à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Para compor a Mesa principal dos trabalhos chamamos essa deputada que a todos encanta, que se destaca nas lutas contra as desigualdades e pela afirmação do samba, da cultura, da arte. Nossa querida e estimada deputada Leci Brandão, proponente da sessão. Uma calorosa salva de palmas. Chamamos também ele, um dos deputados mais importantes da história da Assembleia Legislativa, que vem aqui representar os 94 deputados desta Casa, presidente estadual do PTB, que tem o apoio já antigo ao samba. Vamos receber também, com igual carinho, ele que veio dar todo o prestígio a Leci Brandão e ao evento, deputado Campos Machado. (Palmas.)

O prefeito municipal Fernando Haddad não pôde se fazer presente, mas pediu para que sua esposa, a primeira dama e coordenadora da Política Municipal para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância em São Paulo, venha representá-lo. Portanto, vamos receber com uma salva de palmas, a Sra. Ana Estela Haddad. Sr. Mauricio Pestana, secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial. Fechando essa Mesa, o Dr. Marcos Abraão - Marquinhos Jaca, representando a Associação das Comunidades de Terreiro do Samba do Estado de São Paulo - Astec. (Palmas.)

Sras. Deputadas e Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, esta não é uma sessão comum e qualquer, é uma sessão solene. Sendo assim, obedece a rígida forma sacramental nos termos do Regimento Interno desta Casa. A sessão solene só pode ser convocada por solicitação de deputado em exercício no mandato. Percorre órgãos internos até ser autorizada pelo Colégio de Líderes da Casa, ou indeferida. Deputado não pode pedir uma sessão solene apenas porque quer, tem um amigo ou deseja fazer uma homenagem. Não, ele só pode solicitar por motivo de notório e relevante interesse público e social.

Às vezes, sessões solenes são solicitadas e não autorizadas, e outras por maioria. Essa foi autorizada por unanimidade dos deputados dessa Casa, por sua importância e respeito à deputada preponente, afinal de contas foi proposta pela deputada Leci Brandão com a finalidade de comemorar o Dia Nacional do Samba.

Neste momento convido todos os presentes para, em posição de respeito, ouvirmos o “Hino Nacional Brasileiro”, entoado pela intérprete Roberta Oliveira.

 

* * *

 

- É entoado o Hino Nacional Brasileiro.

 

* * *

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Comunicamos aos presentes que esta sessão solene está sendo transmitida ao vivo pela TV Web, e será transmitida pela TV Assembleia nesse domingo, dia quatro, em horário nobre, 23 horas. Quem tem a NET, se o sinal não cair como de costume, é só sintonizar no canal 7; TV Vivo - canal 9, e pela TV Digital aberta - canal 61.2.

Neste momento passo a palavra para falar, em nome dos 94 deputados desta Casa, ao deputado Antonio Carlos de Campos Machado.

 

O SR. CAMPOS MACHADO - PTB - Meu caro presidente, Dr. Fernando Capez, um homem honrado, promotor público, professor de Direito, palestrante e homem de família, um homem que ama sua mãe, sua esposa e presta homenagem todos os dias às duas princesinhas que são suas filhas. Eu te saúdo, meu presidente, por ser o homem simples e humilde que é, por ser um homem que nunca tratou as pessoas com descaso, sempre as respeitou. Um homem que sabe conviver entre espinhos e flores. É muito importante que sempre saibamos que o perfume das flores vai um dia falar mais alto que a dor dos espinhos. Te saúdo, meu amigo e irmão Fernando Capez.

Meu caro secretário, meu querido companheiro de Mesa; e Dra. Ana Estela Haddad - tive muito orgulho e honra de recebermos, eu e minha esposa Marlene, logo nos primeiros meses de seu mandato, o prefeito Fernando Haddad e a Dra. Ana Estela, um casal que vive sobre a sombra do amor com seus filhos. Dr. Fernando Haddad, deixando de lado todas as possíveis disputas político-eleitorais, é um homem corretíssimo e a história vai provar que foi um bom prefeito, e a Dra. Ana Estela sempre foi a corda do coração de seu marido.

Deixei por último Leci Brandão. Quem é Leci Brandão? Seria apenas a deputada estadual? Seria apenas uma grande cantora de samba? Passei a conhecê-la aqui. Uma alma nobre, uma mulher extremamente simples, uma mulher que já sofreu na vida e que sempre caminha entre as árvores, na floresta da dignidade. Para mim não é apenas minha amiga, mas irmãzinha. Deus escolhe os homens e mulheres que terão o mesmo pai e mãe, e nós homens escolhemos as pessoas que serão nossos irmãos e irmãs de fé. Há muito tempo, Leci, lhe escolhi com meu coração e alma para que você seja minha irmãzinha de fé.

A Leci é o sol do samba, e o samba não é apenas a paixão nacional. O samba é inspiração, é coisa de Deus, o samba é brasileiro. O samba vive na alma das pessoas. O samba não existe apenas no Carnaval, mas sim 365 dias do ano e no coração da Leci. Ela não faz outra coisa. De dez palavras, em nove ela exalta o samba. Ela presta essa homenagem ao Dia Nacional do Samba, porque ela não sabe viver sem ele. O samba é o sangue que corre em suas veias, é o seu coração batendo mais forte.

Hoje, quando grandes figuras do samba se reúnem, algumas para serem homenageadas, como o meu amigo Reinaldo, vítima de uma doença grave que soube olhar para cima. Eu sempre digo, só o sapo não olha para cima porque não aprendeu a amar as estrelas. Está aqui o Reinaldo, de bengala, mas não podia faltar ao Dia Nacional do Samba.

Portanto, Leci Brandão, te saúdo não apenas como embaixadora do samba, mas embaixatriz do samba. Não apenas como rainha do samba, princesa do samba. E mais do que isso, poetisa do samba. Eu não poderia terminar, meu caro deputado Fernando Capez, deixando de prestar uma homenagem à Leci Brandão. Quem puder ficar de pé, fique. Agora vamos fazer uma corrente de fé para saudar uma guerreira, uma companheira, uma plantadora de sementes de sonhos. Cada um estende a mão para o vizinho, vamos fazer uma corrente.

Agora vamos buscar lá no fundo de nossos corações, na profundeza de nossas almas uma saudação a uma mulher de valor. Vamos todos juntos, fazer duas orações, uma à Leci Brandão, e outra ao samba nacional. Viva a Leci Brandão. Viva o samba nacional. Que Deus lhe proteja, minha amiga e irmã Leci Brandão.

 

O SR. PRESIDENTE - FERNANDO CAPEZ - PSDB - Nosso grande orador, contagiado pelo espírito do samba, provando que o mesmo não é apenas uma das principais manifestações culturais do país e um gênero musical baseado em uma dança de raízes africanas, é um estado de espírito que traz a força para o Reinaldo vir aqui hoje, com tantos outros sambistas, receber essa homenagem.

Por uma imposição legal, mas não muito simpática do nosso Regimento Interno, enquanto o presidente da Casa fica em uma sessão solene, ele é obrigado a sentar na cadeira da Presidência e comandar os trabalhos, usurpando a legitimidade de quem propôs a sessão, no caso a deputada Leci Brandão. Por essa razão, para possibilitar que nossa grande e querida deputada assuma a cadeira e possa presidir esta sessão com todo o mérito, neste momento peço licença para me retirar. O deputado Campos Machado irá me acompanhar, porque há outros eventos acontecendo na Casa.

Peço, mais uma vez, uma salva de palmas, porque passaremos solenemente a Presidência para a deputada Leci Brandão, a deputada do samba do Brasil.

 

* * *

 

- Assume a Presidência a Sra. Leci Brandão.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Antes da leitura do histórico, eu queria dizer que Deus abençoe, proteja e ilumine todas e todos que aqui estão. Pedir a benção para quem é de benção, boa noite a quem é de boa noite, e em nossa linguagem espiritual: Motumbá, Kolofé e Mukuiu. Quero agradecer as presenças ilustres dos sambistas que aqui estão, e dizer que apesar de estarmos em um momento bastante conturbado em nosso país, entendemos que o samba sempre consegue alegrar nossos corações, consegue salvar vidas, e consegue vitórias significativas.

Rapidamente vou falar sobre três coisas que aconteceram. O reconhecimento do Samba Rural Paulista como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de São Paulo pelo governo, daí a homenagem que faremos hoje à dona Maria Ester, a quem peço muitos aplausos. (Palmas.) A sanção do Estatuto do Samba Paulistano pelo prefeito Fernando Haddad. Teve um projeto de lei do então vereador Orlando Silva, e esse estatuto, embora tenha tido alguns cortes, está aí vivo. O Projeto de lei 425 declara o programa “O Samba Pede Passagem” como Patrimônio Cultural, e por isso saudamos o Moisés da Rocha.

Teremos outros homenageados, como o Sr. Tonheca, da nossa grande e querida Escola da Barroca da Zona Sul. Vamos também prestar homenagem para a dona Inah, que não pôde comparecer, mas seu filho está aqui e peço grandes aplausos para ela. Nosso príncipe Reinaldo, por todo o trabalho que fez vindo de Vaz Lobo, no Rio de Janeiro, trazendo os sucessos dos grandes cantores de samba que estão na mídia. Um aplauso para ele.(Palmas.)

Acho que a organização cidadã dos sambistas faz com que todas essas pessoas que citamos foram referências e serviram para que todo mundo possa fazer grandes mobilizações. Muita gente sabe que tem um nome que foi sempre citado no samba nacional, mas nem todo mundo conheceu a história e a importância dele, que é Osvaldinho da Cuíca.

Acho tão importante quanto o Centenário do Samba, mais importante até que as leis é a nossa união, respeito e forma humilde de conduzir nossa cultura. Não queremos que o samba seja lembrado somente no carnaval, não queremos que os sambistas sejam utilizados na hora das festas das elites. O que queremos é que nosso reconhecimento seja feito de forma plena, que haja um espaço para o samba, mas um espaço com dignidade, porque o samba merece isso.

Na semana passada tivemos uma homenagem às senhoras do Tias Baianas Paulistas, que nos deram depoimentos muito comoventes. Elas não querem só fazer a comida, limpar as mesas e varrer as escolas de samba, mas também serem respeitadas pela idade que têm e por tudo o que fizeram pelo samba. Nossas senhoras e fundadoras Tias Baianas, muito obrigada, que Deus as abençoe e ilumine.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - O samba pede passagem. Dia dois de dezembro é celebrado o Dia do Samba, e esta sessão solene é um reconhecimento público por parte do Estado brasileiro e por intermédio desta Casa legislativa. A todos aqueles que lutaram, lutam e continuarão lutando pelo samba e suas tradições enquanto manifestação popular de resistência cultural do povo brasileiro na luta pela preservação de suas heranças e referências culturais, aspectos fundamentais e afirmação de sua singularidade, identidade, inserção social e construção de sua cidadania.

Este ano, esta sessão tem um destaque importante. Celebramos em 2016 o centenário de gravação do primeiro samba - “Pelo Telefone”, do autor Donga. O ano é um marco importante para as reflexões sobre a cultura do samba, seus limites e possibilidades. Durante o ano muito se discutiu e se propôs para o resgate dessa memória, o fomento e fortalecimento dessa cultura. Já disseram que São Paulo era o túmulo do samba, as homenagens que prestaremos hoje não só reparam tamanha injustiça contra o povo paulista, mas também dá luz às brilhantes e belíssimas trajetórias e expressões coletivas em defesa da cultura popular.

Nesta sessão faremos o reconhecimento simbólico a essas personalidades e comunidades de São Paulo que têm o samba como referência para a construção de sua cidade, estado e país. E melhor, por intermédio deles homenagearemos a todos e todas que lutaram e lutam em defesa da cultura brasileira, da cultura popular e todas as matrizes e tradições do samba. Agradecemos a cada sambista, escolas de samba, comunidades, terreiros e organizações que atuam em defesa do samba pelos serviços prestados ao povo brasileiro. Salve o samba.

Neste momento ouviremos a palavra do Sr. Maurício Pestana, secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial.

 

O SR. MAURÍCIO PESTANA - Boa noite a todas e todos, quero cumprimentar a Mesa; nossa primeira dama Ana Estela e o companheiro Jaca, das comunidades de samba de São Paulo, presidente da Astec. Quero cumprimentar em especial nossa deputada Leci Brandão, proponente desta sessão.

Quero falar que, sobre o samba em meio a tantas feras do samba, e inclusive a própria deputada, é muito difícil e complicado. Eu estava ali refletindo um pouco, e acho que a história do samba se confunde um pouco com a história do negro nesse país, de sua resistência, do início de sua discriminação e hoje do apogeu do samba. Vivemos um momento muito especial do samba no Brasil. Espero que no futuro isso também aconteça conosco na plenitude.

Quero dizer que, desde que assumimos a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, valorizar o samba - e já estava próximo de chegar esse dia do centenário - foi um trabalho e uma meta de expandir essa cultura tão importante para nós. Nós fizemos várias ações, acho que fomos o primeiro grande pontapé de falar do Centenário do Samba, com o apoio irrestrito do gabinete da deputada Leci Brandão. No ano passado fizemos o lançamento do Centenário do Samba em um evento gigantesco no Anhangabaú, no qual fizemos mais vários eventos este ano. Por último, dia 20 de novembro reunimos as maiores escolas de samba e sambistas.

Mais do que isso, trabalhamos muito a economia do samba. Temos o desejo de que essa cultura seja não só valorizada, mas distribuída de forma econômica também para a comunidade negra. Já tem sido feito ao longo do tempo, muitas são as pessoas que sobrevivem e criaram seus filhos com o samba, sempre trabalhamos isso. É importante dizer que desde o primeiro momento, com muito apoio do prefeito Fernando Haddad, foram feitas várias ações na área de economia do samba. Nós chamamos os terreiros do samba, os tradicionais, o maracatu, reunimos todas as vertentes do samba e sempre tratamos de incluir esses grupos na economia da cidade de São Paulo. Isso foi uma política desse governo municipal, que foi levada a fio pela Secretaria de Igualdade Racial.

Não estou aqui para falar das coisas da secretaria, acho que muitos já conhecem e participam dessas atividades. Vamos falar do samba. Eu fiquei preocupado com o pessoal que estava aqui, e graças a Deus fui chamado pelo UOL, o maior portal do país, para escrever um texto sobre o Centenário do Samba, que deve sair no domingo. Resolvi trazer este texto e compartilhar um pouco com vocês. É um texto curto, que diz um pouco sobre o que eu pesquisei e entendi sobre o samba, e o que vimos fazendo e entendendo como samba, como esse ritmo está tão ligado às nossas questões, principalmente racial.

“O samba completou 100 anos de existência no último dia 27. O marco foi a canção "Pelo Telefone" composta por Donga e Mauro Almeida, o primeiro samba gravado no Brasil, em 1916. Desde então, acompanhando sua trajetória ao longo do século 20, esse autêntico símbolo de brasilidade mudou de status e significado na medida da evolução da sociedade brasileira.

A origem do samba está relacionada aos antigos batuques trazidos pelos africanos que vieram escravizados para o Brasil. Estes ritmos, em geral, associados a elementos religiosos, funcionavam como uma forma de expressão musical e de dança, com percussão e movimentos do corpo. Aos poucos, o ritmo incorporou novos elementos, recebendo influência de outras músicas e criando diversas vertentes dentro de um mesmo estilo. O gênero, que é fruto de nossas raízes africanas, como toda manifestação popular, por muitos anos existiu na marginalidade e foi relegado a um segundo papel pela elite branca do Brasil.

No entanto, com a nova organização da sociedade brasileira, o samba desce do morro da marginalidade. De uma manifestação que remontava à escravidão, chegou às áreas urbanas dos bairros cariocas e começou a ser valorizado pela intelectualidade do Rio de Janeiro, conquistando espaço na imprensa e rádio, com as décadas de composições e interpretações memoráveis.

Ganha novos contornos com o fenômeno Carmem Miranda e seu “Tico-Tico no Fubá”. Mas ainda é algo exótico. Foi com a Bossa Nova que o samba atingiu a classe média branca brasileira, se caracterizando definitivamente como um produto de exportação: é o jazz brasileiro que, ao lado das escolas de samba e Carnaval, mostrou sua cara para o mundo. São alguns marcos como esses que transformaram o samba em um verdadeiro patrimônio cultural brasileiro.

Hoje, no centenário, além de reconhecido mundialmente, o samba é considerado uma das principais manifestações populares no país. Mais do que isso, trata-se de um negócio, que movimenta uma parcela significativa da economia, como o turismo e entretenimento, gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Um exemplo é a grandiosidade do Carnaval do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, só para a citar algumas capitais do país.

Sobre esta questão econômica em especial, tive a oportunidade de levantar a discussão em um seminário que promovemos na Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial, intitulado o "Samba como Negócio". Se o ritmo agora é admirado e consolidado no mercado da indústria fonográfica, a enorme cadeia produtiva que o gênero produz não necessariamente tem o seu lucro compartilhado com quem ajudou a construí-la: os negros.

Assim como ocorreu com o jazz nos Estados Unidos, o muro que separava o samba da elite, classificando-o como música de pretos e pobres foi atravessado. Agora precisamos lutar para conquistar outros espaços e fazer com que o respeito e admiração também sejam sinônimos de políticas de desenvolvimento econômico para aqueles que o criaram. O samba movimenta corações, mas também a economia, sendo um meio de vida para muitos brasileiros.” Muito obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Gostaria de registrar a presença do Sr. Raul Silveira Bueno, prefeito eleito de Pirapora; Dulcinéia Ribeiro - Duda Ribeiro, representando a Embaixada do Samba de São Paulo; Maria Aparecida Urbano, historiadora e embaixadora do samba; Osterno Antonio de Souza, representando o secretário de Cultura José Roberto Sadek; Arles Gonçalves Junior, conselheiro seccional e presidente da OAB de São Paulo; Reinaldo Gonçalves Zacarias, "Príncipe do Samba"; Maíra Guedes, do projeto de samba Sibipiruna - Campinas; Pedro Rossi, projeto de samba Sibipiruna - Campinas; Federação Carapicuíba; Samba de roda Pirapora; Harmonia Brinco da Marquesa; Velha Guarda Barroca Zona Sul.

Ouviremos agora a palavra do Sr. Marcos Abrahão - Marquinhos Jaca, representando a Associação das Comunidades do Terreiro do Samba do Estado de São Paulo.

 

O SR. MARCOS ABRAHÃO - Boa noite. Quero cumprimentar todos vocês, começando pelos mais experientes. Pelo o que vejo aqui é o nosso último dos cardeais, Sr. Carlão, e através dele cumprimento a embaixada e velhas guardas, e o Wilson Paulistinha que nessa madrugada virou grão-mestre. Queria uma salva de palmas para ele, meu respeito. (Palmas.) Tia Cida dos terreiros, que tive a honra de ontem colocar a faixa. Uma salva de palmas para ela também. (Palmas.) Vi aqui minha tia Maria Helena, que está ali sentada. Quero cumprimentar todos da embaixada, das velhas guardas. Os pavilhões que estão aqui presentes, entidades carnavalescas de samba e os sambistas.

Quero cumprimentar o secretário Maurício Pestana; a deputada Leci Brandão, a primeira-dama Ana Estela Haddad; Sr. Moisés da Rocha; dona Duda; Reinaldo, que está ali na cadeira; meu compadre Ricardinho do Terreiro de Compositores; Osvaldinho da Cuíca. Meus cumprimentos a todos das velhas guardas através da Sra. Duda e das comunidades de samba, que é inclusive nossa embaixadora da Astec.

Vou começar minha fala. Hoje, minha página do Facebook me lembrou um fato de quatro anos atrás. Eu e mais alguns amigos sambistas tivemos o infortúnio de do falecimento de um baluarte da velha guarda, o Toniquinho Batuqueiro. Lembro que naquela época não teve nenhum pavilhão de escola de samba. Ficamos sabendo por conversas dali e daqui que ele tinha falecido e fomos até o cemitério que ele estava sendo sepultado. Por conta da família dele não ter condições de comprar uma lápide, nós é que fizemos isso.

Hoje, aquela memória do Facebook me rememorou esse fato. Eu estava prestando atenção na fala de todos os nossos parlamentares e secretários. É muito importante esse contexto de a política prestar atenção no samba, porque não é apenas um gênero musical. O samba é uma cultura que festejamos sempre, cantamos. Fazemos tudo o que o samba tem que fazer, mas precisamos sair um pouco dessa caixinha de música e gênero musical. O gênero musical é bacana e faz parte, mas o samba é uma cultura muito maior que isso.

Nós temos que pensar em políticas públicas para o samba e os sambistas, como a deputada Leci Brandão conseguiu com o tombamento do samba e o Estatuto do Samba do Orlando Silva. Nós temos que sair um pouco da caixa de música, do segmento musical do samba e começarmos a pensar a política samba, porque ele aglutina, agrega e salva vidas; tem milhares de funções, além de um gênero musical.

Outra coisa que eu gostaria de esclarecer é que encontrei meu camarada Dentinho na festa da UESP, e me perguntaram como eu viria trajado hoje. Bom, na verdade é a entidade que está sendo homenageada, que eu e o Ricardinho tivemos a honra de fundar. Falei que viria vestido ao nosso modo. Não quero ultrajar a Mesa, me perdoem, mas tenho que saber de onde vim e quem sou. Então, vim com a camisa do Terreiro de Compositores que me representa.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Posso pedir um aparte? Quem foi que disse que você veio mal trajado?

 

O SR. MARCOS ABRAHÃO - Não, na verdade quando viemos nessas solenidades alguém pede para virmos com uma camisa mais bonitinha, terno, gravata.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Aqui é a Casa do povo, rapaz.

 

O SR. MARCOS ABRAHÃO - Então, estou com a roupa certa. Quero dizer que o Terreiro de Compositores me representa, assim como Sibipiruna também me representa. Vou para Campinas e durmo na casa da Maíra, fico lá final de semana. O pessoal lá me recebe muito bem, o Pedro me recebia muito bem na casa deles. Muito obrigado por tudo que vocês têm feito por mim quando vou para lá.

As pessoas que estão sendo homenageadas aqui também me representam. O Sr. Moisés da Rocha eu já tenho contato há muito tempo, sou amigo pessoal dos filhos dele e tenho a mesma idade deles. É praticamente como se eu também fosse filho dele que me viu crescer. Osvaldinho da Cuíca eu tenho aprendido muito, uma pessoa sensacional e extraordinária. Ajudou-me muito em meu primeiro trabalho. A dona Ester não tive muita proximidade por conta da distância, conheço de histórias contadas, mas faz um trabalho fundamental. O Reinaldo já encontrei em muitas rodas de samba, hoje nos distanciamos um pouco, mas lembro das rodas que fazíamos no Terra Brasil.

Aqui para mim todos me representam. Eu me sinto contemplado com essa premiação que vocês vão receber, me sinto honrado por isso. Quero encerrar minha fala nesse contexto do ponto de vista político do samba. Nós temos que parar. Muitos de nós pensam no samba só no carnaval e como um gênero musical, mas precisamos pensar exatamente no que o Maurício Pestana falou, da economia ativa, da parte social, cultural e educacional que podemos dar para o samba, para ele salvar vidas. O samba já sabemos fazer, já nascemos fazendo, acho que todo brasileiro tem um pouquinho de samba. Uns levam mais jeito. Precisamos pensar através do samba como podemos construir.

Obrigado a todos, parabéns Sibipiruna, Terreiro de Compositores, Moisés da Rocha, Osvaldinho da Cuíca, dona Ester e Reinaldo. Um abraço a todos.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Gostaria de registrar a presença do Terreiro de Compositores; Camisa Verde Branco; Irmandade São Benedito; Samba Sibipiruna; Samba da Vila; embaixadora da Mocidade Alegre; Maria Silva, do Instituto Mulher Negra; Osmar Costa, vice-presidente do Rosas de Ouro; Ângela Oliveira, da Fesec; Maria Aparecida Urbano, Embaixada do Samba; Regiane Alves, da UESP e Vai Vai; SP Retalhos Junior Peruche; Wagner Vale, do Pagode do Cafofo; Flávia Costa, da UBM/Unegro; Neide Veloso; Tias Baianas; da assessoria do deputado federal Orlando Silva; Tia Cida, de São Mateus Berço do Samba; Debora Campos, da Secretaria de Educação e Conselho da Comunidade Negra; Estrela do Terceiro Milênio; Isaura, da Associação de Destaques do Estado de São Paulo; Unidos de Santa Bárbara; Ana Elisa, do Samba Delas e Reinan, do Samba Maria Cursi.

Ouviremos agora as palavras da Dra. Ana Estela Haddad, primeira-dama e coordenadora da Política Municipal para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância - São Paulo Carinhosa.

 

A SRA. ANA ESTELA HADDAD - Boa noite, quero cumprimentar nossa querida deputada Leci Brandão. Deputada, sambista, uma grande mulher e lutadora pela igualdade racial, por tantas causas tão nobres e importantes. Parabenizo-a por mais essa iniciativa. Cumprimento o secretário Pestana, Marquinhos Jaca, todos os sambistas aqui homenageados e todos os presentes.

Muito rapidamente quero dizer que a prefeitura já estaria representada, mas queria trazer de forma muito especial um abraço a vocês do prefeito Fernando Haddad, que estaria aqui hoje, mas está na Cidade do México recebendo um prêmio pela cidade de São Paulo, pela questão da agricultura familiar. Gostaria de contar para vocês que a cidade de São Paulo concorreu com mais 289 cidades do mundo por um prêmio que é dado pelo Bloomberg Philanthropies relacionado à sustentabilidade, cidades que fazem políticas inovadoras para isso. Muita gente na cidade não sabe que São Paulo tem áreas rurais, e que uma das coisas fomentadas na gestão foi a agricultura familiar.

Isso chamou a atenção, envolveu plano diretor e uma série de questões. São Paulo tirou das 289 cidades e ficou com o primeiro lugar. É um orgulho para a cidade e para todos. Tem um prêmio em dinheiro e ele será investido na agricultura de Parelheiros, por isso ele não está aqui. Mas fiz questão de estar presente, porque nos sentimos muito emocionados e contemplados.

Estava aqui pensando em como é possível pensar o Brasil e o brasileiro, nossa identidade fora e dentro do país sem o samba? Isso não existe. O samba está em todos nós, mesmo quem não é da raça negra ou não tem origem africana. Acho que está muito inerente nossa cultura, lá em casa amamos o samba de todas as idades e épocas, vibramos demais. Ver um show da Leci Brandão é um bálsamo para a alma.

Quero dar os parabéns a vocês, e dizer da felicidade que é para o Brasil e São Paulo ter o samba. Parabéns pelo Centenário do Samba, que seja uma comemoração sempre viva e presente, de geração para geração, e que possamos sempre usufruir dessa cultura maravilhosa que ele nos traz. Obrigada.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Registro também a presença de Maria Clementina, da Delegacia de Proteção ao Idoso e das Amigas do Samba.

Neste instante iniciaremos as homenagens das personalidades que tiveram e têm suas vidas como exemplo de luta em defesa do samba paulista. Faremos uma breve apresentação de cada homenageado, e em seguida a entrega da homenagem pela deputada Leci Brandão e seus convidados.

Iniciaremos a homenagem à Dona Inah. Nascida em Araras, no interior paulista, Inês Francisco da Silva é filha de músico. Aos nove anos já cantava nos bailes das fazendas da região e nas festas da cidade. Com menos de 20 anos, mudou-se para Santo André, onde venceu o concurso “Peneira Rodini”, que lhe abriu as portas para bailes, orquestras e rádios, em especial a Rádio Record. A vida de artista pouco a pouco foi tragada pelas durezas do dia a dia, entregue ao trabalho em cozinhas, casas ou onde desse. Um modesto cargo público na Prefeitura de São Caetano diminuiu-lhe as dificuldades, mas os palcos continuaram distantes.

Porém, em 2002, Dona Inah foi convidada para participar do musical "Rainha Quelé", em homenagem a Clementina de Jesus. Em 2004, uma apresentação do Fórum Mundial da Cultura, no Teatro Municipal de São Paulo, rendeu-lhe o convite para o “Festival de I’Imaginaire” em Paris, no ano seguinte. Ainda em 2004, Dona Inah gravou seu primeiro CD, o show no festival encantou Paris. A temporada de sucesso continuou no Marrocos, “Festival Mawazine”, em Rabat. De volta ao Brasil, ganhou o Prêmio Tim da Música Brasileira, aos 70 anos, na categoria “Revelação”.

Em 2008, lançou o disco “Olha quem chega”, inteiramente dedicado à obra de Eduardo Gudin. Em 2010, Dona Inah esteve em Cuba, onde gravou 14 canções com músicos cubanos, cantadas em espanhol. “Damas do Samba”, em homenagem à Clara Nunes, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra e Dona Ivone Lara. Em 2013 lançou seu terceiro disco, “Fonte de Emoção”.

Para entregar a placa à nossa homenageada chamamos a deputada estadual Leci Brandão e a Dona Duda. Recebe o Sr. Daniel Francisco Filho, filho da Dona Inah.

 

* * *

 

- É feita a entrega da homenagem.

 

* * *

 

A SRA. DUDA - É com muita emoção, porque conheço a Dona Inah e é um prazer estar ao lado dela em vários eventos. Que Deus a ilumine, que o coral de anjos sempre cante alegremente na vida da mamãe. Mando um beijo e nossos respeitos. Deputada, que ideia maravilhosa homenagear essa grande mulher, que é a Dona Inah. Bereré bereré para a vida dela sempre, vamos aplaudi-la. (Palmas.)

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Continuando as homenagens, convido o Sr. Antonio Carlos Ferreira, o Tonheca. Antes disso gostaríamos de ouvir as palavras do Sr. Daniel Francisco, filho da Dona Inah.

 

O SR. DANIEL FRANCISCO FILHO - Boa noite a todos, estou emocionado. Não é fácil estar aqui representando uma pessoa tão especial, que é minha mãe. Trouxe uma colinha para dizer o que minha mãe representa para o samba e vice-versa. Peguei o trecho de uma canção da Dona Ivone Lara, que minha mãe teve o privilégio de gravar, e que conta a história dela com a música, em especial o samba.

“Com o samba casei, quanto tempo faz. Com ele eu vivi minha vida em paz. O samba só me deu momentos bons, nossos corações não separam mais”. Foi assim que minha mãe viveu sua vida, apaixonada pela música e pelo samba. É assim que ela criou os filhos, passou as dificuldades e os momentos felizes. Tenho certeza que ela gostaria muito de estar aqui hoje. Mesmo as homenagens e sucesso vindo tarde na vida dela, ela sempre foi uma mulher muito feliz e sempre soube que as coisas iam aparecer no momento certo. Ela sempre soube que ia conseguir chegar lá. Dizia para mim que Deus faz as coisas na hora certa, e chegou a hora dela. A coisa não para, e tenho certeza que ela está muito feliz por isso.

Quero agradecer a todos, em especial a Leci, sou fã dela. Em 2005 minha mãe ganhou um prêmio de “Revelação”, em 2008 concorreu como melhor cantora de samba junto com a Leci e a Mart'nália. Com certeza o prêmio ficou em boas mãos, e ficamos muito felizes por isso. Todos os trabalhos dela foram de qualidade e bom gosto. Obrigado a todos.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Agora sim, faremos a homenagem do Sr. Antonio Carlos, o Tonheca.

Antonio Carlos Ferreira, o Tonheca, nasceu em São Paulo, no bairro Bosque da Saúde. Aos 16 anos foi convidado pelo presidente e fundador Oswaldo da Silva Terra, da Escola de Samba Princesa da Saúde, para participar da bateria. Permaneceu na escola até ela encerrar suas atividades. Em 1967, Tonheca e outros companheiros fundaram o Bloco Foguetões da Saúde, no qual ele foi diretor de bateria, intérprete, tesoureiro, vice-presidente e presidente. Em 1975, Pé Rachado o convidou para participar da Escola de Samba Barroca da Zona Sul, tornando-se barroquense de coração. No início foi passista, depois chefe de ala, diretor de harmonia, diretor de compras e diretor de barracão. Hoje é membro da Velha Guarda da Barroca.

É também apresentador de casal de mestre-sala e porta-bandeira durante os desfiles carnavalescos, bem como representante da Barroca nas reuniões da Liga de São Paulo e da UESP. No ano de 1986 recebeu convite de Benedito Carmo e Benedito Justino, membros da Fesec - Federação de Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas de São Paulo para participar como conselheiro dessa federação.

Para entregar a placa de homenagem chamamos a deputada Leci Brandão e o Sr. Maurício Pestana, secretário municipal de Promoção da Igualdade Social.

 

* * *

 

- É feita a entrega da homenagem.

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Sr. Tonheca, quero ter o prazer de dizer ao senhor que muito antes de eu gravar, conheci a Barroca Zona Sul da dona Zica. Então disse: “Vamos lá para São Paulo conhecer uma escola com as cores da Mangueira, verde e rosa.” Por isso temos que pedir muitos aplausos para a Barroca da Zona Sul, uma escola de muita tradição. Sr. Tonheca, o microfone é seu. (Palmas.)

 

O SR. ANTONIO CARLOS - Obrigado. Boa noite a todos e todas, primeiramente quero agradecer a todos os sambistas, porque hoje é nosso dia, que vieram aqui me homenagear com esse troféu. Agradeço também a todos meus amigos da velha guarda da Barroca, a Fesec e todas as entidades de samba de São Paulo. Que no ano que vem continue essa homenagem a todos os sambistas que merecem esse troféu. Obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Iniciaremos a homenagem a Moisés da Rocha, e o Samba Pede Passagem.

Seu primeiro contato com o rádio foi em busca do sonho de ser cantor. O timbre de sua voz, no entanto, chamou a atenção para além da música que interpretava. Foi assim que Moisés da Rocha conseguiu seu primeiro emprego como locutor. Nascido em 1942 em Ourinhos, interior de São Paulo, ele começou a cantar no coral da Igreja Metodista com apenas oito anos. Aos 15 anos, mudou-se com a família para a capital. Como radialista, entre suas conquistas estão o pioneirismo da rádio FM, com um programa totalmente dedicado ao samba, chamado “O Samba Pede Passagem”.

O programa foi ao ar pela primeira vez em 1978 na Rádio Universidade de São Paulo FM, resgatando a força do gênero e abrindo caminhos para muitos artistas. “O Samba Pede Passagem” representa um símbolo na luta pela valorização das raízes culturais afro-brasileiras que atuam por meio da música.

Para entregar a placa ao Sr. Moisés da Rocha, chamamos a deputada Leci Brandão e o Marquinhos Jaca. Uma salva de palmas, por favor.

 

* * *

 

- É feita a entrega da homenagem. (Palmas.)

 

* * *

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Em 1985 voltávamos a recuperar uma carreira que tinha sido interrompida há cinco anos. Tinha um LP chamado Leci Brandão, que é marrom de um lado e amarelo do outro, e um senhor chamado Moisés da Rocha, na Rádio USP, no programa “O Samba Pede Passagem” começou a tocar esse disco de uma forma que eu nunca tinha executado em minha vida. Foi por isso que voltamos e recuperamos a carreira. Foi por isso que chegamos a São Paulo e conseguimos completar 40 anos de carreira artística, por causa de “O Samba Pede Passagem”, Moisés da Rocha e o Estado de São Paulo. Muito obrigada a vocês e ao Moisés, meu pai musical em São Paulo.

 

O SR. MOISÉS DA ROCHA - Boa noite a todos e todas, é um momento de muita emoção estar aqui neste evento tão importante e significativo para todas as raças. Para quem tem um coração solidário, quem pensa no semelhante, quem pensa em solução para nossos problemas sociais e quem às vezes quer desistir da caminhada, mas começa a ver exemplos como a Leci Brandão, nos ajudando a retomar a coragem e continuamos a luta.

Recentemente viralizou na internet um protesto diante da possibilidade da eliminação do programa “O Samba Pede Passagem”, da maneira como se foi publicado e se pretendia. A Leci Brandão interferiu junto ao próprio governador Geraldo Alckmin, que prontamente também se interessou em preservar nossas raízes populares. Ele me disse isso pessoalmente, eu não havia contado para a Leci ainda, num encontro na UGT. Ele sem saber do assunto me falou que não se faz nada sem um bom samba. Estávamos em uma mesa falando de política, sobre a negritude e o samba.

Vou terminando esse ano. Aliás, tenho me preocupado muito, Leci. Eu te ouço desde criança, meu pai ouvia, meu avô ouvia. Estou começando a ficar preocupado, está chegando... Isso é igual chamada de serviço militar, que chama os de 30, 32, 41. Eu sou de 42 e fico preocupado, essa meninada cresce muito rapidamente. De nada adianta, “O Samba Pede Passagem”, Leci Brandão, vocês, Sr. Carlão, Marquinhos Jaca e todos aqueles que amam e lutam pela preservação da nossa cultura popular. O samba acaba fazendo o papel de agente da transformação social.

Há uma música do Adoniram Barbosa que fala “eu sou uma brasa, se assoprar ela acende de novo”. A maldição do preconceito e do racismo é como uma brasa, com o tempo ela meio que desaparece, mas se houver um rescaldo você descobre lá embaixo escondida uma brasa do racismo e do preconceito, essa maldição que assola o país e se desperta novamente em todo o mundo, principalmente contra os menos favorecidos e os não arianos. É nos Estados Unidos, na Alemanha, a ultradireita tomando conta em todos os países.

Recentemente perdemos, é uma tragédia anunciada. De nada adianta “O Samba Pede Passagem” completar 40 anos no ano que vem, Leci Brandão ser deputada e preocupada com os direitos humanos, ter um prefeito que abre caminhos, cede e luta para preservar conquistas que tanto precisamos. Nada adianta se chegar alguém que entende que isso é de menor importância e não há necessidade, que está tudo bem e somos todos iguais, um país de igualdade, fraternidade, amor, bondade.

Está tudo bem nada. Nossos jovens negros estão sendo assassinados, todos têm licença para matar, tipo James Bond. Mata que não acontece nada, palhaçada no Congresso Nacional, nossas conquistas ameaçadas. Eu comecei dizendo que termino o ano muito preocupado, ou porque antigamente não nos era permitido estudar, logo após a escravidão fomos jogados na rua. Em um país livre vão encontrar o que comer, vão esmolar. Agora que o jovem tem a oportunidade de estudar e se formar, nossos filhos se esquecem daqueles que deram seu sangue no cativeiro, na pós-abolição, nas batalhas e revoltas para conquistar a liberdade.

Nossa liberdade tem que ter continuidade de conquista e preservação, senão de nada adianta. O jovem ingênuo, principalmente o afro-descendente olha para seu próprio umbigo. Se forma, pega seu diploma, mete de baixo do braço e esquece de quem deu o sangue lá atrás e corre risco de vida até hoje, para preservar esses direitos tão arduamente conquistados. O jovem pega seu diploma, vai para casa, arruma uma mansão, sai do bairro, não volta mais. Se esquece da molecada jogada na mão da marginalidade e acha que está tudo bem. Há muita coisa para se fazer para consolidarmos de fato a conquista de nossos direitos sociais.

Estão fechando secretarias, tragédia anunciada. Não há necessidade de Secretaria de Igualdade Racial. Esse ano foram formados nessa gestão até agora 30 mil professores para fazer uma educação que ninguém quer que aconteça, discutir a cultura afro-brasileira e africana dentro das escolas, nem a Universidade de São Paulo aceita isso. É uma luta danada. Foram muitas conquistas, estudos, uma série de coisas, não vou elencar todas porque todo mundo tem internet. Qualquer coisa que acontece viraliza, mas sobre estarem cassando nossos direitos e ninguém faz nada. Nem eu falava nada, achava que estava tudo bem, mas não. Vão cassar direitos adquiridos e conquistados.

Tem um compositor paulista, Nélio Rodrigues, que diz “liberdade não se dá, nós mesmos conquistamos”. Mas se não preservarmos e continuarmos na luta despertando nossos filhos e vizinhos na periferia, conversando com nossos pares, indo para a internet e nos meios de comunicação, reclamando e protestando, quem sabe consigamos sensibilizar o novo mandatário para a Secretaria de Igualdade Racial e Direitos. Há muitas coisas que precisam ser preservadas, as conquistas das batalhas, independentemente de cor, credo, raça e gênero. As conquistas alcançadas devem ser preservadas.

Isso depende de nós, ou ficará em nossas costas a responsabilidade de acharmos que está tudo bem e cada um procurar seu próprio caminho e interesses. O samba pede passagem.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Iniciaremos agora a homenagem ao Sr. Osvaldinho da Cuíca.

Nascido Osvaldo Barros, em 1940, Osvaldinho da Cuíca foi o primeiro Cidadão Samba Paulistano. Em 1974 integrou o grupo Demônios da Garoa, em três momentos. Fundador da ala de compositores da Vai Vai, desde então teve seis sambas desfilados pela tradicional Escola de Samba do Bexiga. Três deles campeões, incluindo “Na Arca de Noel Quem Entrou Não Saiu Mais”, de 1978, que deu o primeiro título a escola.

Foi na porta de uma gafieira no Tucuruvi que Osvaldinho começou, tinha 14 anos e trabalhava como engraxate em frente à casa de dança. A partir daí começou a ir nos cordões, onde foi baliza, apitador e ritmista. Em 1958 compôs seu primeiro samba para o Cordão Garotos do Tucuruvi, foi naquele grupo que começou a fazer instrumentos. A alcunha “Osvaldinho da Cuíca” lhe foi dada na época em que participou do grupo do poeta Solano Trindade.

Osvaldinho produziu um intenso trabalho de resgate, manutenção da memória do samba e ajudou na produção de documentários sobre Geraldo Filho. Gravou o álbum História do Samba Paulista I, em 1999 e é coautor de Batuqueiros da Paulicéia, de 2009. Para fazer a entrega da placa ao nosso homenageado chamamos a deputada Leci Brandão e a Tia Cida e Paulistinha.

 

* * *

 

- É feita a entrega da homenagem.

 

* * *

 

O SR. OSVALDINHO DA CUÍCA - Haja coração. Meus amigos, quero agradecer a nossa querida Leci Brandão e dizer para ela: “Quero sim, mais um pouquinho de inspiração, fantasiar meu próprio coração tão ansioso neste meu.” Quem gravou foi Renata Lu, autoria Leci Brandão e Darci da Mangueira, quando nossa querida Leci Brandão dava seus primeiros passos no mundo artístico e já estava se engajando como uma das mulheres na ala de compositores da minha e da nossa Estação Primeira de Mangueira.

Veio para São Paulo e fez um trabalho maravilhoso, convidado por Aloisio Falcão, com uma equipe da qual eu fazia parte na Marcos Pereira, nos anos 70. Lançamos simultaneamente o primeiro LP da querida Leci Brandão, juntamente com o primeiro LP do mestre Cartola e do Osvaldinho da Cuíca. Eu só acompanhava e fazia festa por aí no meio do samba, assim eu tive um dos primeiros contatos com a Leci, cuja essa música que cantei pertencia ao meu repertório na Boate Jogral, e por coincidência eu queria conhecê-la e aconteceu isso, de lançarmos nosso primeiro LP juntos.

Eu já era um veterano no mundo fonográfico, mas não havia registrado minha voz sozinho no LP. Isso me faz muito feliz, quero parabenizar esta Casa por mais uma vez abrir suas portas para o mundo encantado do samba, fico muito feliz de ter uma sambista de fato liderando esse movimento conosco. Agradeço a todos e todas, ao Vai Cuíca que esqueceram de anunciar, essa nova organização que está em São Paulo revolucionando e fazendo um bonito serviço. Quero registrar também a presença do fundador do Samba da Vela, um patrimônio nacional, seu Chapinha, que veio lá do Ceará fazer um samba bonito para nós.

Quero dizer que o samba não é só momento de alegria, é o arauto da liberdade. O samba é um instrumento de denúncia que briga contra os preconceitos de toda natureza e briga por melhores posições sociais. O samba tem sua legítima função desde o seu primeiro, que foi uma denúncia ao jogo do bicho, contra o delegado de polícia no Rio de Janeiro, que não foi o primeiro. O primeiro foi “A Viola está Magoada”, de Catulo da Paixão Cearense. O que simbolizou a trajetória do samba no Brasil com muito orgulho foi “Pelo Telefone”. Então o samba não é só porta-voz da liberdade dos mais oprimidos que nos proporciona alegria, mas foi meu único companheiro na alegria e na dor.

A função do samba tradicional é social e política, é diferente do pagode que fala de amor. Amor é importante, como no começo desta sessão com o querido Campos Machado falando de família, mas o sambista também tem voz e vez quando é para gritar e reclamar. Nem tudo está bonito. Eu quero dizer aqui para minha nobre deputada que não tenho partido, porque quem tem partido é um homem partido. Nós de fora temos que ver com outros olhos o que está acontecendo no Brasil, e não é de agora, é desde Fernando Henrique, e até um pouco antes.

Temos que cobrar. Eu no papel de sambista, não só na caneta, mas na melodia também quero dizer que estou insatisfeito. Milhões de brasileiros gostariam de estar nesse momento aqui no meu lugar fazendo esse apelo aos Srs. Parlamentares aqui da Assembleia, do Senado Federal. Essa vergonha nacional do Supremo Tribunal, os três ou quatro poderes estão envergonhando nossa pátria. Nós temos que cobrar a Câmara Municipal, não estamos satisfeitos. Nós não queremos mais discurso bonito, queremos atitudes para mudar, porque o Brasil está despinguelando, acabando, está se esfacelando. Não queremos mais ditadura, queremos família organizada, e não o que estão fazendo, que é acabar com a família.

Não vou me estender mais porque acho que hoje é um dia de festa, mas esse pronunciamento faz parte. O Brasil precisa ter uma atitude, o brasileiro precisa abrir os olhos e cobrar mais. Eu tenho cobrado dos nossos amigos parlamentares na internet e dos inimigos também. Peço a todos que abram os olhos, chega de palavras bonitas. É fácil eu largar o microfone, chegar um parlamentar aqui e me contradizer ou não com palavras bonitas, porque eles fazem curso de oratória e são muito bem preparados. A vida deles é falar, mas queremos atitudes.

Agora vou começar cobrando, para encerrar. Pirapora, assumiu agora nosso querido Raul, que em gestões passadas fez um trabalho bonito com a cidade e a comunidade, especialmente com o samba, foi a melhor fase. Fizemos grandes caravanas e trabalhos. Sou cidadão piraporano pelo Decreto Lei 1, e por isso posso falar e cobrar. A pessoa mais antiga do samba em São Paulo, com 92 anos, a Maria Esther precisa ser olhada com mais carinho. Ela está abandonada em Pirapora, a casa caiu e ela não tem geladeira, casa. É papel do sambista cobrar.

Dr. Raul, vou à imprensa e vou cobrar. Quero ver Dona Maria Esther, com 92 anos, uma das mais antigas, a célula mãe do samba paulista está abandonada. Muito obrigado, uma boa noite. Leci Brandão, Deus abençoe sua caminhada, sou seu fã.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Vou pedir licença para quebrar o protocolo. Nossos cuiqueiros estão aí, por favor. Diante do que o Osvaldinho acabou de dizer, só nos resta cantar uma música que tem muito a ver com tudo o que foi dito aqui.

 

* * *

 

- É feita apresentação musical.

 

* * *

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Agora faremos homenagem à Dona Maria Esther, do Samba de Bumbo de Pirapora do Bom Jesus.

Pirapora do Bom Jesus é considerado o berço do samba paulista. A relação da cidade com o samba remonta sua própria origem. Pirapora era uma antiga fazenda pertencente à Santana de Parnaíba. Em 1730 os escravos da fazenda encontraram a imagem de Bom Jesus às margens do Rio Tietê e a cidade foi fundada. A partir dali os milagres atribuídos ao santo atraíram multidões. Enquanto os fazendeiros visitavam a cidade, homens e mulheres negras escravizadas faziam seus cantos próximo a igreja tocando cuíca, zabumba, chocalho, pandeiros e bumbo, cantando versos improvisados.

Nascia assim o samba de roda ou samba rural paulista. Quem mantém viva a tradição é o grupo Samba de Roda, cuja maior expoente é Maria Esther de Camargo Lara, ou simplesmente Dona Maria Esther. O grupo é formado por aproximadamente 25 pessoas, todos nascidos na cidade. Cresceram aprendendo a tradição do samba caipira, que tem uma mistura de ritmos africanos, dança e louvor ao santo padroeiro. A importância de Dona Maria Esther na cultura vai além das fronteiras da cidade, foi ela que ajudou a fundar a primeira escola de samba de São Paulo, a Lavapés. Até hoje participa ativamente dos desfiles.

Para entregar a placa para nossa homenageada chamamos a deputada Leci Brandão e a Sra. Maria Helena, embaixadora do samba.

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

A SRA. MARIA ESTHER - Boa noite a todos, eu tinha oito anos e minha mãe não podia com a minha vida não. Eu via qualquer batucada e já estava lá. Faltava na escola, mas não adiantou nada. Eu nasci dia dois de maio e agora vou fazer 92 anos, porque a idade não regula, e sim o rebolado. Pirapora é uma cidadezinha que nasceu com o Jesus de Pirapora, eu fazia samba no barco e no rio, mas depois ganhava uma boa vara de marmelo.

Eu não desisti, mas não deixava também de ir para a escola, porque depois era o segundo rebolado. Eu não larguei até hoje. Fiquei batucando, porque vinha muito batuque de fora para Pirapora, porque o Bom Jesus de Pirapora fazia milagre. Vinham muitos romeiros, e eu entrava no meio das batucadas, mas depois ganhava uma boa vara de marmelo. Estou aqui até hoje.

Estou meio atordoada porque fui assaltada. Para contar a verdade, comecei assim. Uma romeira me ensinou a poesia quando vinham os romeiros, porque até hoje tem romaria de todas as cidades. Quando vejo, estou lá dando uma reboladinha. Eu aprendi com os padres, lá tem os colégios e faculdades dos padres. Eles me ensinaram a oração para quando chegavam os romeiros. Eu aprendi desde menina, então cada romaria que vem em Pirapora eu faço essa oração.

“A pedido de um amigo, de um velho companheiro, hoje eu faço esta oração em homenagem aos romeiros, romeiro de toda parte, também do interior, que presta homenagem ao Bom Jesus, Nosso Senhor! Ciclistas e rodoviários, grandes cavaleiros, àqueles que vêm a pé e também os charreteiros, todos têm seu presidente, têm a sua devoção, os que morrem ficam na lembrança e o que ficam seguem a tradição”.

 

* * *

 

- É realizada uma canção.

 

* * *

 

A SRA. MARIA ESTHER - Bom, minha gente, a idade não regula, o que regula é o rebolado. Desejo um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde. Que Deus abençoe todos vocês. Parabéns a todos que aqui estiveram. Agradeço o prefeito de Pirapora e todos os donos de samba de roda, carnaval, Osvaldo da Cuíca. Deus abençoe todos que aqui vieram, assim seja em nome de Deus, nosso pai maior.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Registro a presença de Adalberto Freitas, representando o deputado federal Arnaldo Faria de Sá; Reinaldo Lopes, da Terapia dos Boêmios; Miro Cardoso, da Associação Cultural Afro- Brasileira - Voz dos Tambores; Fernanda Santos, do Núcleo de Transmissão do Carnaval da TV Globo; Fernando Ripol, do Samba do Congo; João Cesar, da União dos Blocos Carnavalescos; Eduardo Valentim, da velha guarda da Vai Vai e da Fesec - Federação das Escolas de Samba.

Neste ano esta solenidade inova ao fazer um reconhecimento pelas ações de caráter coletivo de projetos, comunidades e instituições que contribuem na inovação permanente do samba como expressão da cultura popular, mantendo sempre viva sua chama. Chamamos para receber a Menção Honrosa, nessa celebração dos 100 anos do samba as representações: Sr. Omar Costa, da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, que este ano comemora seu trigésimo aniversário.

Quem faz a entrega é a deputada Leci Brandão e o Sr. Maurício Pestana.

 

* * *

 

- É entregue a Menção Honrosa.

 

* * *

 

O SR. OMAR COSTA - Boa noite a todos, hoje é um dia muito feliz para aprendermos. No samba aprendemos todos os dias. Fiquei muito emocionado em saber que poderia receber uma homenagem em nome da Liga das Escolas de Samba, por ser vice-presidente de uma entidade que é a Sociedade Rosas de Ouro, que estou há 35 anos. Meus respeitos à Rita, presidente da nossa velha guarda, nosso casal Isabel e Marquinhos, e à deputada que presta sua homenagem à entidade do nosso carnaval de São Paulo.

Acho que todo discurso e informação são necessários, então o aproveitamento desta data, não só pela festividade, com todo respeito aos homenageados, mas é um momento para se refletir, principalmente na fala do Sr. Osvaldinho da Cuíca e nosso amigo Moisés da Rocha. Nós não vivemos um bom momento, precisamos lutar e retomar espaços que estão querendo nos tirar, principalmente nosso sol sagrado. É importante a reflexão, e principalmente pensarmos em algumas atitudes para que tudo que foi conquistado não se perca no meio do caminho. Muito obrigado.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Agora para receber a Menção Honrosa convido as comunidades Sibipiruna, de Campinas e Terreiro de Compositores, da Capital, que promovem rodas de samba com composições de autorias inéditas. Quem fará a entrega será a deputada Leci Brandão, acompanhada do Sr. Marquinhos Jaca e o Chapinha da Vela.

 

* * *

 

- São entregues as Menções Honrosas.

 

* * *

 

O SR. - É isso aí gente, boa noite a todos e todas. Ficamos agradecidos por participarmos disso. Gostaria de uma salva de palmas para a Leci Brandão, e Marquinhos Jaca que representa as comunidades. Nós ficamos muito felizes, a palavra é contemplação. Contemplar cada sambista e cada compositor que foram todas as quintas feiras lá, nos representando compondo e cantando. Foram cinco anos, por enquanto estamos nessa luta, mais de 50 sambas, alguns gravados. Ficamos felizes de fazer parte disso. Essa premiação é dedicada a todos os compositores do Terreiro e para quem passou dentro de lá. Boa noite para todos. (Palmas.)

 

O SR. CHAPINHA DA VELA - Boa noite a todas as comunidades presentes, um especial para a minha comunidade Samba da Vela, que está presente aqui. Para mim é uma honra imensa entregar essa homenagem para vocês, ainda que seja um projeto que não tive a oportunidade de ir, mas já tenho recomendações demais para saber que é um projeto maravilhoso de samba autoral.

Como militante do samba, uma das coisas que mais defendo. Eu defendo o samba autoral nas comunidades não menosprezando os cartolas, muito pelo contrário, nós aprendemos com eles e vamos sempre reverenciá-los, mas se continuarmos cantando só eles daqui 50 anos estaremos nessa ainda. Então vocês também entendem essa mensagem, que é um embrião que plantamos lá atrás e está dando muito certo. Meus parabéns a todas as comunidades, independente de qualquer coisa.

 

O SR. - Em nome do Sibipiruna quero agradecer imensamente essa homenagem, um projeto despretensioso cuja ambição é fazer samba de forma democrática e aberta. Nós usamos o samba como instrumento de resistência, isso foi colocado aqui. Quero deixar um abraço muito grande para o Leandro RP, que não pôde estar presente, mas é um dos fundadores e responsáveis. Eu quero pedir uma salva de palmas para o Toinho Melodia, nosso padrinho. (Palmas.)

Quero deixar um forte abraço e convido para visitar o Sibipiruna, que acontece todo primeiro domingo do mês em Campinas.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - E para receber sua homenagem, convidamos o cantor Reinaldo Gonçalves Zacarias, “o príncipe do pagode”. Recebe das mãos da deputada estadual Leci Brandão.

 

* * *

 

- É feita a homenagem.

 

* * *

 

O SR. REINALDO GONÇALVES ZACARIAS - O certo era o Marquinhos falar, mas antes de mais nada quero agradecer essa cidade que recebe tanta gente como eu, que sou carioca e tenho tanto carinho, e pela maneira que sempre fui respeitado e admirado. Agradeço a Deus por ter vindo morar em São Paulo, talvez se eu não viesse hoje eu não seria quem eu sou. Muito obrigado São Paulo. Obrigado Leci Brandão pelo carinho. Vamos lutar por nosso samba. Obrigado.

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Só quero pedir aplausos para o Botequim, do Camisa Verde Branco, meu camarada fez toda a inicialização lá. Temos que aplaudir o Camisa Verde Branco, porque precisa chegar onde ele nunca devia ter saído.

 

A SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS - VERA BUCHERONI - Antes das palavras de encerramento da deputada estadual eu gostaria de pedir uma salva de palmas para todos os homenageados do samba desta noite. (Palmas.)

 

A SRA. PRESIDENTE - LECI BRANDÃO - PCdoB - Nós viemos aqui, pessoas da maior importância e idades que precisamos pedir benção, dizer que são referências. Muita coisa dita aqui ao meu respeito fico às vezes até meio constrangida, porque não sou nada disso. Nada mais faço que a minha obrigação, ninguém está fazendo favor algum. É nossa obrigação, de quem gosta do samba e que respeita e reconhece o samba de São Paulo como uma das mais representativas culturas desse país.

Quero dizer para os senhores que enquanto estivermos nesta Casa, enquanto vocês quiserem que estejamos aqui, sempre no ano de dezembro e no Dia Nacional do Samba vamos homenagear as pessoas. É importante fazermos isso enquanto elas estão vivas, depois não adianta homenagear. Elas estão aí, podem caminhar, virem até aqui, falar e desabafar. Eles têm todo esse direito. Convido a todos para o coquetel que será servido no Hall Monumental. Viva o Dia Nacional do Samba!

Esgotado o objeto da presente sessão, esta Presidência agradece às autoridades, à minha equipe, aos funcionários dos serviços de Som, da Taquigrafia, de Atas, do Cerimonial, da Secretaria-Geral Parlamentar, da Imprensa da Casa, da TV Legislativa, e das Assessorias Policiais Civil e Militar que, bem como, a todos aqueles que colaboraram para este evento.

Está encerrada a sessão.

 

* * *

 

- Encerra-se a sessão às 21 horas e 52 minutos.

 

* * *