DECRETO N. 4.429, DE 27 DE JUNHO DE 1928

Concede a João Cernach ou á empreza que o mesmo organisar licença para o estabelecimento, uso e goso ou exploração de linhas telephonicas que liguem entre si os municipios de Araçatuba, Biriguy, Glycerio e Pennapolis.

O doutor Julio Prestes de Albuquerque, Presidente do Estado de São Paulo, attendendo ao requerido pelo sr. João Cernach, e usando das attribuições que lhe confere o artigo 3.º da lei n. 11, de 28 de Outubro de 1891,
Decreta:
Artigo unico - Fica concedida ao sr. João Cernach ou a empreza que o mesmo organisar, licença para o estabelecimento, uso e poso ou exploração de linhas telephonicas que dêm communicações entre os municipios de Araçatuba, Biriguy, Glycerio e Pennapolis, de conformidade com as clausulas que com este baixam, assignadas pelo Secretario de Estado dos Negocios da Viação e Obras Publicas.
Palacio do Governo do Estado de São Paulo, aos 27 de Junho de 1928

JULIO PRESTES DE ALBUQUERQUE
José Oliveira de Barros.

Clausulas a que se refere o decreto n. 4.429, de 27 de Junho de 1928


I

O Governo do Estado de São Paulo concede ao sr. João Cernach, nestas clausulas designado por «Concessionarios», licença para o estabelecimento, uso e goso ou exploração de uma rede telephonica que ligue entre si os municipios de Araçatuba, Biriguy, Glycerio e Pennapolis.

II

A presente concessão tem por objecto o serviço de communicações telephonicas intermunicipaes e comprehende somente as estações centraes extremas ou intermediarias, as linhas e seus accessorios e os postos ou estações publicas ou particulares que servirem para essas communicações.

III

Nenhum privilegio ou monopolio ficará constituido pela presente, concessão, Respeitados os direitos adquiridos, o Governo reserva-se o de, em qualquer tempo, fazer novas concessões com o mesmo objectivo ou executar por si esse serviço, entre os municípios designados na clausula I.

IV

O Concessionario gosará do direito de collocar linhas telephonieas em todas as vias publicas comprehendidas nos municipios a que se refere a clausula I e para esse fim deverá obter licença previa do poder competente, e submetter se á regulamentação Municipal dentro das raias de cada municipio percorrido pelas linhas.
Para o apoio de fios ou implantação de postes em propriedades particulares, deverá o Councessionario obter consentimento dos proprietarios respectivos.

V

O Governo garantirá o livre funccionamento do Concessionario, fazendo observar a disposição que véda ás municipalidades crear impostos ou condições prohibitivas contra as linhas do Concessionario e a favor das municipaes.

VI

Nas povoações de destino ou de passagem das linhas intermunicipaes do Concessionario, estabelecerá este postos publicos onde possam ser feitas, por qualquer pessoa, communicações telephonicas intermunicipaes.
Nesses postos publicos o Concessionario deverá estabelecer os meios usuaes para garantia do segredo da communicação telephonica. As communicações serão dadas pelo ordem dos pedidos, salvo no caso determinado na clausula XXVII, item 1.º.

VII

O Concessionario poderá estender redes locaes que convirjam para as centraes de sua propriedade, em todas as povoações dos municipios enumerados na clausula I.
Essas redes só servirão para communicações intermunicipaes, salvo se o Concessionario obtiver tambem concessão da municipalidade respectiva para o serviço local.

VIII

As linhas ligando séde de municipios, deverão constituir tantos circuitos directos inteiramente metallicos quantos se tornarem necessarios.
Nesses circuitos aos quaes deverão estar ligados todos os postos publicos do Concessionario, este se obriga a usar material e apparelhos perfeitamente adequados ao objectivo da presente concessão.
O Governo poderá exigir que os circuitos acima considerados, se estendam a outras localidades, sempre que a importancia destas o determinar.

IX

No assentamento das diversas linhas que já estabeleceu ou vier estabelecer, para o serviço de communicações intermunicipaes, o concessionario obriga-se a observar as regras e os preceitos mais modernos da technica.
O Governo terá sempre o direito de impedir o estabelecimento de linhas que não offereçam as devidas condições de solidez ou de garantia contra accidentes, de exigir que sejam retirados ou substituidos os supportes, fios e accessorios que possam de qualquer forma prejudicar o transito publico e de impôr o emprego de dispositivos especiaes para a protecção ou segurança nos casos em que houver risco de accidentes.

X

O Governo poderá impôr o emprego de canalisação subterranea ou, ainda, de uma linha aerea de typo especial em qualquar trecho da linha telephonica intermunicipal ou nas cidades cujas condições reclamem taes melhoramentos.

XI

Os postes, reguas, fios e quaesquer accessorios das linhas do Concessionario serão collocados de maneira que não prejudiquem ou perturbem as linhas e apparelhos telegraphicos ou telephonicos existentes, cumprindo tambem que os apparelhos estabelecidos pelo Concessionario não soffram a influencia dos conductores de electricidade que já existirem.

XII

O Governo exigirá de outros concessionarios de linhas telephonicas ou de trasnspotes de energia electrica, que façam o respectivo estabelecimento de modo que não impeçam ou perturbem o trafego das linhas, do Concessionario.

XIII

O Concessionario manterá em bom estado de conservação as linhas e todos os apparelhos accessorios, a bem da necessaria continuidade e regularidade do respectivo serviço, em todos os pontos em que se façam as communicações telephonicas.
O Governo poderá exigir do Concessionário a adopção de dispositivos, apparelhos e accessorios especiaes que per mittam com bastante clareza e segurança as communicações telephonicas a grande e pequena distancia.

XIV

O Concessionario obriga-se a observar o regulamento que fôr expedido para a boa e fiel execução da lei em vigor sobre o serviço telephonico do Estado e as instrucções que tiverem por objecto: determinar as condições de utilização de vias publicas, em vista da segurança do transito, tanto nas mesmas, como nas vias ferreas que a linha tele phonica seguir ou atravessar e pôr ao abrigo de accidentes todos os que se utilizarem de suas linhas.

XV

Antes do inicio da construcção de qualquer linha o Concessionario submerterá á approvação do Governo:
a) Uma planta geral, na escala de 1:100.000, na qual serão figurados as centraes os postos publicos, extremos ou intermedios, as linhas-tronco da rêde e todas as linhas telegraphicas, telephonicas ou de transporte de energia electrica, que se acharem nas proximidades do traçado que adoptar ; bem assim as estradas de ferro e as de rodagem que forem seguidas ou atravessadas
b) Plantas na escala de 1:1000 dos trechos do traçado das linhas-troncos que acompanharem outras quaesquer linhas ou conductores de energia electrica, sendo indicadas pelas respectivas cótas as distancias entre as novas linhas e as já existentes.
c) Desenhos dos typos da liuha aerea ou subterranea, supportes, isoladores, fios, etc, na escala de 1:10.
d) Memorial descriptivo minucioso sobre: os apparelhos, materiaes e acessorios a empregar, apparelhos e precauções a tomar para garantia contra accidentes, precauções a tomar nas proximidades de cruzamentos com outros condu ctores de electricidade que existirem e nas travessias das linhas ferreas, estradas de rodagem e cursos d'agua, a extensão das linhas-tronco, das ramificações e das dos assignantes, o emprego de circuitos simples e completamente metallicos, o numero e localização das estações centraes e dos postos publicos, o numero de apparelhos dos assignantes e dos installados em cada posto.

XVI

Terminada a installação de qualquer linha, o Concessionario informará ao Governo a data do inicio do trafego,

XVII

Para as linhas já em trafego na data da presente concessão, marcará o Governo um praso razoavel dentro do qual deverá o concessionario satisfizer as exigencias da clausula XV, sob pena de multa quando houver excesso do período marcado.

XVIII

O Concessionario submetterá á approvação do Governo, dentro de praso marcado por este, a tabella de preços que adoptar para as communicações intermunicipaes, installações e assignaturas de apparelhos e estensões de linhas.

XIX

Com a antecedencia de um mez pelo menos, o Concessionario sujeitar á approvaçao do Governo todas as modificações que pretender adoptar, com referencia ao traçado, typo de linhas, apparelhos, mesas de ligações, meios de protecção, tabellas de preços, contractos com assignantes, etc.
Todas as modificações na tabella de preços só entrarão em vigor 30 dias depois de publicadas pela imprensa e aftixada nos postos publicos.

XX

O Governo deverá pronunciar-se dentro do praso de 60 dias sobre quaesquer plantas ou medidas que lhe forem submettidas a approvaçâo pelo Concessionario Caso nâo o faça, subentender-se-á que taes plantas ou medidas se consideram approvadas.

XXI

Nos contractos dos assignantes serão incluidas disposições garantidoras dos interesses destes, ficando expressos os casos de restituições e indemnisações e possibilidade de rescisão, em virtude de frequentes ou continuas interrupções das communicações Todos os preços serão cobrados de um modo geral, sem excepções, devendo, assim os abatimentos nas assignaturas applicar-se a todos os assignautes da mesma categoria.

XXII

Nos postos publicos e em logar facilmente accessivel, o Concessionario affixará horarios, regulamentos e a tabella de preços approvada pelo Governo do Estado.

XXIII

O registro por escripto e a distribuição de mensagens telephonicas, somente poderão ser feitos com autorização expressa do Governo, deixando porém, de ser permittidos quando já houver ou se estabelecer serviço telegraphico entre os pontos da linha do Concessionario.

XXIV

O Concessionario apresentará ao Governo, dentro dos dois primeiros mezes de cada anno, dados estatisticos sobre o comprimento das linhas, numero de apparelhos em serviço, obras novas e melhoramentos e sobre tudo o mais que de importante occorrer durante o anno anterior.
Quando o serviço estiver a cargo de uma Companhia, esta enviará ao Governo um exemplar dos relatorios que, sobre serviços telephonicos, apresentar aos seus accionistas e a relação dos seus administradores, communicando sempre as alterações que essa relação soffrer.

XXV

A presente concessão só poderá ser transferida, toda ou em parte, mediante licença prévia do Governo e declaração expressa do cessionario de que assume inteiramente as responsabilidades decorrentes.

XXVI

O concessionario não poderá fazer contractos de trafego mutuo com quaesquer outras empresas telephonicas sem prévia audiencia do Governo Se a empresa com a qual o concessionario deseja fazer trafego mutuo, não for concessionaria do Governo do Estado, a responsabilidade na execução do serviço e manutenção do material necessario a este, caberá inteiramente ao concessionario.

XXVII

O concessionario obrigar-se-á:
1.° - a dar preferencia ás communicações officiaes;
2.° - a ceder suas linhas ao Governo do Estado, mediante indemnisação, quando este julgar conveniente a expropriação que será feita de accordo com a lei então em vigor;
3.º - a cobrar pelos recados telephonicos municipaes e intermunicipaes, que o Governo requisitar por qualquer apparelho, preços 40 % menores que os em vigor para o publico, estendendo-se este abatimento ás assignaturas de apparelhos e recados;
4.° a permittir sem remuneração, os recados municipaes ou intermunicipaes que, a serviço exclusivo do Governo, transmittirem o Presidente e os Secretarios de Estado, para qualquer ponto servido pelas linhas do Concessionario;
5.º - a permittir, gratuitamente, ao funccionario encarregado da fiscalização do presente contracto, a utilização de seus apparelhos e linhas.
Paro o effeito dos itens 3.º e 5.° desta clausula o Governo fornecerá previamente ao Concessionario a lista dos funccionarios autorisados a requisitar serviços em conta do mesmo Goveruo e bem assim o nome do encarregado effectivo ou accidental da fiscalisação.

XXVIII

O Governo por motivo de ordem publica, poderá por limitações ao serviço telephonico, ou utilisar-se delle exclusivamente mediante a indemnisação que se estabelecer por accordo, ou na falta delle, por decisão de arbitros, na forma da clausula XXIX.

XXIX

As questões que se suscitarem entre o Governo e o concessionario serão sempre decididas por um juizo arbitral formado do seguinte modo: cada uma das partes nomeará para juiz um arbitro Se os dois divergirem em seus laudos, um terceiro será escolhido por ambas as partes; se não houver accordo nessa escolha, cada parte nomeará o seu e, dentre os dois, o que for designado pela sorte decidirá a questão.

XXX

O fôro do Estado será obrigatorio para o Concessionario.

XXXI

Pela inobservancia de qualquer das clausulas acima, ficará o Concessionario sujeito a multa de 100$000 a.... 1.000$000.

XXXII

A' Directoria de Viação da Secretaria de Estado dos Negocios da Viação e Obras Publicas cabe a fiscalização dos serviços do Concessionario que deverá fornecer, ao agente do Governo, todos os meios necessarios á inspecção das suas linhas.

XXXIII

Nas listas de assignantes, recibos e mais papeis de relação com o publico, o Concessionario fará, em caracteres facilmente legiveis, a declaração de que o seu serviço intermunicipal e fiscalizado pela repartição acima designada.

XXXIV

A presente concessão terá vigor pelo prazo de 20 annos contados desta data.
Poderá o Governo declarar a sua caducidade em relação a todas ou a qualquer das linhas intermunicipaes estendidas em virtude delle:
1 - Si o Concessionario deixar de cumprir integralmente qualquer das clausulas acima.
2 - Si o Concessionario não der inicio ao trafego de suas linhas dentro dos seguintes prazos, contados da data da assignatura do termo de contracto a que se refere o item 1.° desta clausula:
a) de tres mezes para as linhas já construidas que satisfizerem as condições da presente concessão;
b) de um anno para as linha cuja construcção ainda não foi iniciada e para as já construidas que tiverem de satisfazer as condições da presente concessão.
3 - Si, depois de estarem funccionando, forem as communicações interrompidas por mais de tres mezes consecutivos.
4 - Si o Concessionario, pelo uso das suas linhas ou por entrega de mensagens telephonicas por escripto não au torisadas, fizer concorrrencia indebita ao serviço telegraphico.
5 - Si dentro de 60 dias, a contar da publicação deste decreto, o Concessionario não tiver comparecido á Secretaria da Viação e Obras Publicas, para a assignatura do termo de contracto.
Secretaria de Estado dos Negocios da Viação e Obras Publicas, aos 27 de Junho de 1928. - (a) José Oliveira de Barros