Dia do Cinema Brasileiro é duplamente comemorado - 19 de junho e 5 de novembro

História cinematográfica brasileira proporciona uma viagem pela história do Brasil
04/11/2020 19:03 | Comemoração | Maurícia Figueira

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Há 124 anos ocorria a primeira exibição pública de cinema no Brasil. No dia 5 de novembro de 1896, no Rio de Janeiro, foram projetados oito pequenos filmes, de cerca de um minuto cada um, para a elite carioca, na Rua do Ouvidor.

Quase dois anos depois, no dia 19 de junho de 1898, o ítalo-brasileiro Afonso Segreto registrou as primeiras imagens em movimento no Brasil. Afonso estava a bordo de um navio e gravou imagens da sua chegada à Baía da Guanabara. Alguns historiadores consideram que, na verdade, as primeiras gravações brasileiras teriam acontecido em 1897, na cidade de Petrópolis.

Como os dois acontecimentos foram memoráveis, alguns atribuem o Dia Nacional do Cinema Brasileiro ao dia 5 de novembro, outros o comemoram em 19 de junho. Outras fontes afirmam que a data de 5 de novembro seria ainda uma homenagem ao aniversário do cineasta Paulo Cesar Saraceni e também à data da morte do cineasta Humberto Mauro.

Acompanhar a história cinematográfica brasileira é um passeio pela própria história do país. Nas telonas se refletiram os avanços tecnológicos, o contexto social e político, os períodos de crise e de prosperidade nacionais.

Primeiras filmagens

As primeiras filmagens brasileiras mostravam curtas cenas cotidianas, como os filmes "Chegada do trem em Petrópolis" e "Bailado de Crianças no Colégio, no Andaraí".

Os primeiros filmes de ficção datam do início do século XX. Normalmente, eram sobre crimes noticiados nos jornais. São exemplos: "Os Estranguladores", de Francisco Marzullo (1906) e "O crime da mala", de Francisco Serrador (1908). A partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o cinema hollywoodiano dominou o mercado. Os filmes de Hollywood entravam no país sem taxas alfandegárias, um dos fatores do enfraquecimento dos filmes locais.

Surgiram os primeiros filmes cantados, em 1909. Os atores ficavam atrás da tela, dublando-se ao vivo. O primeiro filme com som data de 1929: "Acabaram-se os otários", de Luiz Barros.

A Cinédia, o primeiro grande estúdio do Brasil, surgiu na década de 1930 e lançou a atriz Carmem Miranda. Outro grande estúdio foi a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, inaugurada em 1949. O primeiro filme brasileiro a vencer o Festival de Cannes, na categoria aventura, veio da Vera Cruz: "O Cangaceiro" (1953), de Lima Barreto.

Nos anos 40 surgiu a Atlântida Cinematográfica, que revelou Grande Otelo e Anselmo Duarte e apostava suas fichas nas chanchadas, filmes cômicos de baixo orçamento.

Cinema Novo

O cinema novo marca os anos 60. Cineastas levaram para as telas preocupações sociais e políticas, com produções com baixos orçamentos. A frase célebre "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", de Glauber Rocha, sintetiza o cinema da época. "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Terra em Transe" são símbolos dessa fase.

A criação da Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), em 1969, é um marco para o setor, com o financiamento estatal na produção. Dessa época, o filme "Dona Flor e seus Dois Maridos" (1976), de Bruno Barreto, teve recorde de público só superado em 2010, com "Tropa de Elite 2", de José Padilha. Nos anos 70 também foram produzidas as pornochanchadas, misturando humor com conteúdo erótico.

A crise econômica dos anos 80 se refletiu na produção do cinema brasileiro. Faltava dinheiro para a produção de filmes e para os espectadores pagarem os ingressos nos cinemas. A extinção da Embrafilme se dá em 1990, o que prejudicou o setor.

A retomada

A criação da Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual e a Lei do Audiovisual, de 1993, significaram a volta do cinema brasileiro. Historiadores consideram o filme "Carlota Joaquina " A Princesa do Brasil" (1994), de Carla Camurati, o início da retomada. O filme teve repercussão internacional.

Desse período, temos "O Quatrilho" (1995), "O que é isso, Companheiro?" (1997), "Central do Brasil" (1998). Os três foram indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Premiados em festivais também foram "Carandiru"(2003), "Lavoura Arcaica" (2001), "Amarelo Manga" (2003), "Cidade de Deus" (2002), "Tropa de Elite" (2007).

"Minha mãe é uma peça" (2013) é exemplo de comédia brasileira que atingiu grande público. Menos vistas pelo público, mas bastante apreciadas em festivais internacionais, estão as produções independentes como "Aquarius" (2016) e "Bacurau" (2019), ambos de Kleber Mendonça Filho. "Bacurau" foi o segundo filme a conquistar o Prêmio do Júri no Festival de Cannes. O primeiro a vencer essa categoria havia sido "O Pagador de Promessas" (1962), de Anselmo Duarte. "Bacurau" também ganhou o prêmio de melhor filme nos Festivais de Munique e de Lima. Entre os prêmios de "Aquarius", estão melhor filme nos festivais de Sidney, Transatlantyc e Amsterdam, entre outros.

O documentário "Democracia em Vertigem" (2019), de Petra Costa, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário de Longa Metragem.

Futuro

Apesar dos inúmeros prêmios conquistados em conceituados festivais internacionais, um dos grandes problemas enfrentados pelo cinema nacional ainda é o preconceito do público. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o número de filmes brasileiros subiu de 79, em 2008, para 185, em 2018, mas o público se manteve estável. A arrecadação de filmes nacionais corresponde a 7,5% do faturamento estrangeiro.

Neste ano, marcado pela pandemia mundial, as produções tiveram que ser paralisadas e os cinemas ficaram fechados. Alguns produtores lançaram seus filmes diretamente nas plataformas de streaming, como foi o caso do documentário "Aeroporto Central", de Karim Aïnouz. E por falar em streaming, encontra-se em tramitação no Congresso Nacional projeto de lei que obriga plataformas de streaming a investirem 10% do faturamento em conteúdo nacional. Talvez, essa possa se tornar a nova forma de ver cinema, num mundo pós-pandemia.


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