FuncionAL - Com vocês, Norma


07/08/2018 15:46 | Entrevista | Marina Mendes - Fotos: José Antonio Teixeira

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Norma Minei<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226402.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Norma Minei<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226404.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Norma Minei<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226405.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Norma Minei<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2018/fg226406.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Paulistana da Zona Leste, Norma Minei conta que há 33 anos, quando entrou por concurso público para o cargo de oficial administrativo, visitava a Assembleia regularmente para informar-se sobre datas para a posse.

"Estava desempregada e não tinha acesso ao Diário Oficial. Depois que saiu a publicação do resultado, não entendia essa história de homologação, então vinha quase mensalmente ao Departamento de Administração (na época ainda não era de Recursos Humanos) para saber em que situação estava meu nome", contou.

Ao receber o telegrama com a informação sobre a posse, Norma já sabia: "Quando o telegrama chegou, já estava trabalhando há umas duas semanas, foi muito engraçado! Tenho esse telegrama guardado", sorriu.

Caminhos

Nascida em casa, pelas mãos de uma parteira, Norma foi a caçula dentre quatro irmãos. "Meu pai tinha uma quitanda, e todos os seis morávamos em um único cômodo - mas eu achava aquilo maravilhoso. Sou a caçula e a diferença para o meu último irmão são cinco anos; sou a raspinha, e provavelmente a mais protegida. Não sei também...", falou.

Sempre estudando, entrou no curso de processamento de dados na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec), que não concluiu. "Meu pai havia falecido em abril de 1976. Entrei na Fatec em junho, cheguei ao final do ano, mas depois não fiquei", lembrou.

Pouco tempo depois, passou em um concurso público da Secretaria Estadual da Fazenda, onde trabalhou durante quatro anos enquanto continuava a estudar, mas em uma nova área. "Entrei em pedagogia na então Faculdade São Judas Tadeu, então meu salário era para pagar os estudos."

Ao se formar, imaginando que fosse trabalhar em uma escola, exonerou-se da secretaria. "Mas não prestei concurso para professora nem para supervisora de ensino. Em vez disso, fiquei por quase quatro anos vendendo pelo Círculo do Livro. Andava pelas casas, me diverti muito! Um dos meus sobrinhos era meu acompanhante", disse.

Foi então que a Alesp cruzou seu caminho. "Encontrei por acaso uma amiga da secretaria, que me avisou: "Hoje é o último dia para o concurso da Assembleia Legislativa". Eu nem sabia o que era", riu, tímida. A amiga explicou e estimulou-a a se inscrever.

"Entrei quando o presidente Tancredo Neves estava internado. Até ser dada a notícia de seu falecimento, a Casa praticamente parou. Acompanhávamos toda a agonia, e eu não entendia direito esse movimento todo. Não havia tevê em todos os setores. Quem tinha um radinho, vinha nos avisar do que estava acontecendo. Foi muito interessante aquele início", recordou-se.

Acaso ou destino, Norma diz que, por seu nome ser sinônimo de lei, sempre foi tema de brincadeiras entre amigos na Alesp. "Tenho um amigo que diz que sou predestinada a trabalhar na Alesp [risos]. Outro deles, quando estou passando pelo corredor, fala: "Nesta Casa tem leis!". Aí eu digo: "Lei não, decreto lei!", por causa do meu tamanho [mais risos]."

Alesp

Norma comenta que um dos choques culturais apresentou-se antes de ingressar na Casa. "Naqueles dias em que vinha me informar sobre a posse, via muitas pessoas em traje social. Passou uma moça no corredor e perguntei se para tomar posse precisava vir de social, saia, salto [risos]... Ela falou que não, que isso não existia - então eu vim de tênis, jeans, tranquila."

Mas a maior diferença percebida inicialmente foi a maneira de se trabalhar. Vindo da secretaria, do Executivo, Norma estranhou os procedimentos administrativos. "Embora fossem dois Poderes Públicos, a administração era bem diferente. Aos poucos fui me acostumando", contou.

Em 1985, a estrutura do Parlamento era bastante diferente. Norma contou que havia apenas três departamentos na casa: o Parlamentar (DP), o Técnico de Finanças (DTF) e o de Administração (DA). Foi trabalhar na Divisão de Ordenamento Legislativo, pertencente ao DP.

"A DOL era dividida nas sessões de datilografia e conferência. Minha parte era datilografar os autógrafos e tudo o que ia para o governador " indicações, requerimentos, moções. Nós datilografávamos em máquinas sem corretivo. Só tinha uma máquina, mais nova, com corretivo na sala, então não podia errar. Às vezes fazia um autógrafo só por dia, porque tinha de ir sem erro, fazia até sair perfeito. Tudo era muito diferente para mim", relembrou.

Ainda na DOL, posteriormente trabalhou no setor de avulsos e separatas, onde se montavam a pauta, que ia para a Imprensa Oficial, e a Ordem do Dia, que ia para o Plenário. "Fiquei lá por volta de sete anos. O trabalho era artesanal", disse.

Em 1988, quando saiu a Constituição Federal e iniciou-se a produção da nova Constituição Estadual, a rotina era intensa: "Montamos toda a parte de emendas e avulsos da Constituição a ser votada, à mão. Era muito interessante: dispúnhamos emenda por emenda sobre uma mesa grande e ficávamos, um atrás do outro, montando os caderninhos que iam para a votação em Plenário. Se houvesse inversão de pauta ou troca da ordem de votação de algum item, precisávamos desmontar, repaginar, e montar novamente. Eram 84 deputados, tínhamos de fazer 84 volumes. É muito recente não termos mais a Ordem do Dia montada dessa maneira".

Em seguida, passou quatro anos na Comissão Permanente de Licitação, que segundo contou também era diferente de hoje. "Os processos não eram nesses moldes, só existiam três modalidades: convite, tomada de preços e concorrência. O que definia o método era o valor da contratação, e não havia pregão."

Norma lembrou quando foi para a (então) Divisão de Documentação e Informação (DDI), que em 1995 era parte do Gabinete da Assessoria Técnica (GAT). "Em 1996 houve a Resolução 776, quando se criaram oito departamentos. A biblioteca foi então incorporada pelo novo DDI, agora departamento, e criou-se a Divisão de Biblioteca e Documentação, onde estou há 25 anos", relatou.

Aos poucos percebe-se que conversar com Norma revela detalhes da história da Alesp que se refletem em suas características e seu funcionamento. "O GAT foi o precursor da Procuradoria. Por isso a nossa biblioteca tem tantos livros jurídicos: pela origem do acervo", explicou.

Há tanto tempo na estrutura, ela falou sobre o fato de a Alesp ser uma Casa política. "Eu procuro não me envolver. Faço a minha parte, o meu serviço, e mantenho o máximo de neutralidade possível", declarou.

Com os anos, Norma construiu e manteve amizades valorosas aqui. "O que eu mais prezo na "Bleia" é a amizade. Se houver algum rompimento é difícil. Para mim, a amizade é muito preciosa, tem de ser preservada." E completou: "Minha matrícula é de quatro dígitos, sou uma das remanescentes. Já estou ficando saudosista, pois muitos já faleceram ou se aposentaram, mas continuam meus amigos", disse.

Além do Parlamento

"Fora daqui, minha vida é minha família. Hoje minha preocupação maior são meus sobrinhos netos, que ainda são crianças, então eu pareço avó mesmo", falou.

Norma contou que um grande prazer em sua vida sempre foi viajar. "Viajei muito, algumas vezes sozinha, outras com colegas ou familiares. Viajar é principalmente você sair do seu mundo, é ter choques de realidade."

Questionada sobre a presença de tantos livros em sua vida (estaria entre amigos até no material de trabalho?), Norma respondeu: "Nunca havia pensado nisso! Realmente, eu gosto muito de livros, leio bastante [sorriu]. Gosto muito, de ler e de ficar sem fazer mais nada enquanto não terminar".

Planos? "Ainda não conheço a biblioteca do Centro Cultural São Paulo. Uma colega me levará lá, acho que vou gostar. Semana passada estive na Pinacoteca, fui ver a exposição de uma amiga." E assim Norma vai escrevendo seu caminho, cheio de carinhos.

O que é a Alesp para Norma?

"A Assembleia, a essa altura... passei uma vida aqui, né? Na verdade, ela faz parte da minha vida. É praticamente meu filho, meu pai e minha mãe, é minha família. O meu ganha pão, e principalmente todo o sustento da minha família. Estou na minha terceira geração aqui, que é o meu sobrinho neto", encerrou, emocionada.


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