A Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial da Assembleia Legislativa de São Paulo realizou, nesta terça-feira (08/12), a segunda das oito audiências públicas programadas até junho deste ano. A reunião contou com a presença de parlamentares, especialistas da área e pacientes com experiências no tratamento de doenças diversas com o uso de remédios produzidos à base da planta. O grupo de deputados foi criado em setembro do ano passado e já conta com 20 membros de 12 partidos diferentes, além de seu coordenador, o deputado Sérgio Victor (Novo). A primeira reunião da Frente Parlamentar foi realizada em outubro de 2021 e foram apresentados o cronograma de reuniões e os objetivos dos parlamentares, entre eles, a aprovação do Projeto de Lei 1180/2019, de autoria do deputado Caio França (PSB), que institui a Política Estadual de Fornecimento Gratuito de Medicamentos fabricados à base de canabidiol e derivados no Sistema Único de Saúde. O deputado Sérgio Victor explicou a importância das reuniões da Frente Parlamentar em parceria com a população. "Lançamos essa Frente Parlamentar com três pilares. O primeiro deles é o diálogo e engajamento. Nesse pilar, entram as audiências com todos os atores desse processo", disse. Segundo dados enviados pela consultoria Kaya Mind à Frente Parlamentar, atualmente, existem 50 mil brasileiros que são tratados com medicamentos à base de Cannabis, sendo que, a maioria deles possuem epilepsia, autismo, transtorno de ansiedade ou dores crônicas. Além disso, 35% dos pedidos de importação e 44% das ações judiciais para o fornecimento desse tipo de medicamento pelo Sistema Único de Saúde são realizados em São Paulo. Marcelo Tas participou da audiência através de um vídeo enviado à Frente. O jornalista contou que, por conta de um acidente sofrido há cerca de 30 anos, passou a ter dores crônicas, que se tornaram mais fortes com o passar do tempo, portanto, passou a consumir remédios à base de Cannabis para amenizar as dores. Porém, Tas afirmou que, no Brasil, ainda é muito difícil ter acesso a esses medicamentos. "Há cerca de um ano eu passei a tomar gotas de canabidiol e comecei a entender as dificuldades que existem para adquirir esse medicamento. É bom entender que é uma planta que é base de medicamentos, como muitas outras", falou. A ativista da Associação Cultive, Márcia Guerra, foi diagnosticada com artrite reumatoide aos 16 anos, e, por conta da doença, desenvolveu a Síndrome de Sjogren e epilepsia. A psicóloga comentou que os medicamentos usuais não surtiam mais efeito, por isso, foi atrás dos remédios feitos à base de Cannabis. "O óleo começou a fazer bem pra mim na primeira semana. As convulsões diárias cessaram. Em seguida, melhorou os meus movimentos da artrite reumatoide", disse. Guerra também afirmou que a liberação da Cannabis para uso medicinal é necessária, pois muitas pessoas fazem esse tipo de tratamento e as proibições dificultam o acesso às sementes e, consequentemente, aos medicamentos. "Hoje, a minha dificuldade é conseguir as sementes selecionadas e com melhoramento genético. Hoje a Cannabis é um remédio. Não tem volta. São milhares de pessoas usando. É preciso legalizar", falou. Por fim, Bruno Taióli, pastor e sociólogo, contou a experiência de sua família com os remédios. A esposa de Taioli possui trombocitemia essencial, uma espécie de câncer na medula, e, por conta da quimioterapia, passou a ter crises de síndrome do pânico. Já a sua filha foi diagnosticada com transtorno de espectro autista. O pastor afirmou que ambas passaram a fazer o uso do óleo de canabidiol e que a qualidade de vida da família melhorou. Taioli comentou que costuma levar o debate sobre o uso da Cannabis medicinal para a igreja onde pastoreia, e destacou que a reação dos fiéis tem sido positiva. "A Cannabis veio para ficar na minha família. Quando eu postei que eu iria participar desse debate, vieram me questionar: ?O pastor usa maconha??. Eu não fumo, mas sou beneficiado pela Cannabis de uma maneira que eu não consigo nem dizer. Eu levo o tema Cannabis para dentro da igreja e tenho uma aceitação muito boa. Eu levo a verdade e contra fatos não há argumentos", disse.