A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou na tarde desta segunda-feira (17) uma audiência pública para discutir a violência nas escolas. Requerido pela deputada Professora Bebel (PT), o evento promoveu um debate sobre a questão a partir de múltiplas perspectivas. Participaram representantes do movimento estudantil, líderes de sindicatos de professores e psicólogos. Estiveram presentes também membros do Grupo de Trabalho Interministerial para Prevenção à Violência nas Escolas, entidade do governo federal que estuda o tema e que, em breve, deve entregar um relatório com propostas de curto e longo prazo ao Planalto. "Esta é uma reunião para debater a violência nas escolas, mas acho que deveríamos começar pela resposta: queremos escolas seguras. Então, na verdade, estamos aqui para discutir segurança nas escolas", disse Bebel na introdução da audiência. "Temos que entender o que está por trás de todos esses ataques", afirmou a deputada. Percepção de violência nas escolas Bebel, na sequência, convidou João Paulo de Resende Cunha, diretor do Instituto Locomotiva, a apresentar os dados de uma pesquisa conduzida em parceria com a comunidade escolar e a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). O objetivo do levantamento, que recolheu depoimentos de alunos, familiares e professores, era analisar a percepção de violência nas escolas paulistas. De acordo com o estudo, 69% dos estudantes e 68% dos professores de escolas públicas do estado de São Paulo afirmam sentir nível "alto ou médio" de violência dentro do ambiente escolar. O Instituto Locomotiva revelou, ainda, que a percepção da violência como uma "realidade" na comunidade escolar é maior nas periferias. Conforme os dados do estudo, há consenso entre os entrevistados em algumas questões. Boa parte de todos os grupos ouvidos, por exemplo, concorda que "o governo estadual deveria dar mais condições de segurança às escolas" (mais de 95%) e que há um esgotamento mental sensível no período pós-pandemia (mais de 90%). Políticas integradas "É preciso lidar com a questão de modo transversal e, principalmente, ouvir a sociedade", disse Yan Evanovich, coordenador de juventude da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão/MEC e membro do Grupo de Trabalho Interministerial para Prevenção à Violência nas Escolas. O coordenador reiterou que as propostas desenvolvidas pelo grupo de trabalho não descartam a colaboração de agentes de segurança, mas é preciso ter em mente que a presença do efetivo policial nas escolas, por si só, não fecha a questão. "Não sou partidário dos que acham que resolveremos o problema colocando policial na escola. Mas também não sou partidário dos que acham que os órgãos de segurança pública não podem dar a sua contribuição nesse processo", afirmou. Voz das entidades Para Lucca Gidra, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), o acolhimento é parte essencial do processo para evitar episódios violentos nas escolas. "Vemos necessidade de construir um ambiente mais acolhedor para os alunos, para que se sintam parte daquilo", disse o líder estudantil. Gidra destaca, ainda, que todos os tipos de violência devem ser levados em consideração nas resoluções sobre o tema. "Há os casos extremos de violência, como o que vimos na Thomazia Montoro, mas existem diversas outras violências que ocorrem nas escolas, como violência de gênero, racial, bullying, e precisamos combater todas elas", pondera Lucca. Marcela Milano, do Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo, chamou a atenção para um modelo de atuação que valorize a atuação da categoria e, ao mesmo tempo, contribua de forma positiva para os estudantes. "O psicólogo é tão importante para uma escola quanto é o assistente social. Quem atuar nas escolas não estará ali somente para atendimentos individuais de saúde mental, mas também coletivos", destacou Marcela.