Fechamento da Caoa Cherry em Jacareí é reflexo de uma política de desindustrialização

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23/05/2022 11:48 | Atividade Parlamentar | Da assessoria do deputado Carlos Giannazi

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Carlos Giannazi preside a audiência pública no auditório Franco Montoro da Alesp<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-05-2022/fg287199.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O Brasil começou a se industrializar nos anos 1940, com a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional e a mineradora Vale do Rio Doce. Só na década seguinte a maioria da população viveria em cidades, mas as novas fábricas já eram responsáveis por 20% da riqueza nacional. E esse processo atingiu seu ápice na década de 1980, quando 30% do PIB brasileiro eram gerados pela indústria. Segundo o Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), em 2018, esse percentual ficou abaixo de 10%, metade do que foi obtido com as primeiras políticas de Vargas.

Esses dados foram expostos pela pesquisadora do Ilaese Ana Paula Santana na audiência pública "Os Impactos da Desindustrialização", realizada em 18/5, no auditório Franco Montoro da Alesp. Ana Paula considerou que a opção feita pelos detentores do capital, de tornar o Brasil um exportador de commodities, causa diversos problemas, entre eles o desemprego. Por isso, é imprescindível que o país se reindustrialize, mas não a qualquer custo. "Temos de saber que indústria nós queremos. A população brasileira não precisa daquelas que vêm, exploram, sugam e vão embora no dia seguinte", explicou.

A maior parte do público presente à audiência pública era de trabalhadores da fábrica de Jacareí da Caoa Cherry e da indústria de rodas e eixos ferroviários MWL, de Caçapava. A Caoa Cherry, com a desculpa de que pretende reestruturar aquela unidade para a produção de veículos elétricos - argumento que não é levado a sério pela imprensa especializada -, anunciou que vai fechá-la até 2025.

Guirá Borba, trabalhador da Cherry e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, explicou que existe uma lógica que deve ser banida, pela qual as indústrias fazem uma espécie de leilão para escolherem os Estados e municípios que dão mais incentivos fiscais, e onde os trabalhadores se sujeitam a receber salários menores. "Em Jacareí, tivemos de realizar uma greve de 32 dias, em 2015, porque a fábrica tinha uma prática de estabelecer o que a gente chama de dumping social, que é quando um empresário vem de outra região e tenta impor uma condição de salário e de direitos trabalhistas muito inferior à que é praticada na região", exemplificou.

Apesar de todos os benefícios concedidos e de todo o lucro obtido pela empresa durante os anos em que esteve operante, nada garante que a empresa continuará cumprindo sua parte no acordo. No caso da Caoa Cherry, Guirá explicou que a empresa pretende transferir parte de sua produção para a planta de Anápolis, em Goiás. Outra parte será importada da China. "A realidade dos 485 trabalhadores é o que menos importa."

Já os trabalhadores da MWL estão em greve porque não receberam o salário do mês. Durante a reunião, Weller Gonçalves, presidente do mesmo Sindicato dos Metalúrgicos, dividiu uma mensagem de WhatsApp relatando que a MWL está enviando telegramas às casas dos trabalhadores grevistas ameaçando-os de demissão por abandono de emprego caso não comparecessem ao serviço no dia seguinte. "Eles querem que vocês sejam escravos, que trabalhem sem receber."

O evento, presidido por Carlos Giannazi (PSOL), contou com a participação de Anderson Elias Xavier, também do Sindicato dos Metalúrgicos de São José; Altino de Melo, do Sindicato dos Metroviários; Luiz Carlos Prates (Mancha) da CSP-Conlutas; Dafne Sena, covereadora na bancada feminista do PSOL na Câmara de São Paulo; Jéssica, servidora pública municipal de São José dos Campos. Giannazi vai acionar o Tribunal de Contas do Estado para ter acesso a todas as isenções fiscais que a Caoa Cherry e a MWL receberam do Estado e dos municípios envolvidos.

alesp