Opinião - O Brasil tem remédio


30/03/2020 16:17 | Atividade Parlamentar | Edmir Chedid*

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A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus traz novamente à tona o debate sobre o papel estratégico dos laboratórios públicos do país.

Mantidos com o dinheiro dos impostos pagos pela população, eles garantem acesso gratuito e universal a uma série de vacinas, testes e medicamentos, muitos deles desprezados pelo setor privado em função do alto custo de produção (como para o tratamento da tuberculose, por exemplo).

Indiretamente, esses laboratórios atuam, também, como reguladores de preços do mercado. Remédios produzidos nas fábricas públicas, que não visam lucro, forçam o setor privado a baratear sua oferta também.

Em outras palavras: no fim das contas, os laboratórios públicos beneficiam, essencialmente, os mais pobres, exercendo importante função social.

Um exemplo claro da importância dessa política vem sendo dado nos últimos dias pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao governo federal, com a produção de testes em massa para o diagnóstico do novo coronavírus.

No Estado de São Paulo, temos o Instituto Adolpho Lutz, que também vem contribuindo enormemente para a identificação dos casos de Covid-19. Temos ainda o reconhecido Instituto Butantan que, de imediato, atuará na produção de testes e em um futuro próximo poderá ajudar a produzir vacinas contra o novo coronavírus, sua grande vocação.

Nossa retaguarda pode - e deve - ir muito além. Isso porque o Estado conta ainda com a excelente estrutura da Fundação para o Remédio Popular (Furp), maior fabricante estatal do país, com mais de 50 anos de serviços prestados ao sistema público de saúde.

Para se ter uma ideia da sua importância, a Furp abastece não apenas prefeituras de São Paulo e o governo paulista, como outros Estados e até o Ministério da Saúde. Nos momentos difíceis, sempre esteve na linha de frente das políticas públicas de saúde, como durante a epidemia de H1N1 (Influenza A), entre 2009 e 2010, quando abasteceu todo o país. O mesmo aconteceu durante os surtos de meningite. Também nas grandes enchentes. Tudo isso, sem falar das ações humanitárias no exterior, em Moçambique e Haiti.

Em gestões passadas, a Furp foi duramente afetada por erros administrativos e escândalos de corrupção que abalaram suas finanças - prejuízo de algumas dezenas de milhões de reais que, em poucos anos, colocou em risco uma série de políticas públicas. Consequência direta, a Furp "encolheu", reduzindo drasticamente sua produção.

Investigamos muitos desses desmandos em 2019, durante uma CPI que propus e presidi na Alesp. Ao final de seis meses de trabalhos, a comissão denunciou pessoas envolvidas em irregularidades e trouxe subsídios para que o governo não apenas mantenha a Furp, como aprimore sua gestão. É um grande legado, que já teve reflexos imediatos (como a suspensão do contrato leonino para a gestão da fábrica de remédios de Américo Brasiliense, que causava, todos os anos, um prejuízo de mais de R$ 50 milhões aos cofres públicos).

Hoje, a Furp tem condições de novamente exercer seu protagonismo, reforçando, por exemplo, a produção de antibióticos, que não servem exatamente para combater o coronavírus, mas podem ser usados para tratar infecções associadas, como a faringite, ou mesmo uma pneumonia bacteriana que possa ter se desenvolvido a partir do contágio pelo novo coronavírus. A fundação tem, ainda, estrutura e expertise suficientes para produzir em larga escala o álcool gel, item tão fundamental e escasso nesta pandemia.

São Paulo sempre foi exemplo para o país, e se vê novamente diante da oportunidade de liderar a nação em mais um momento difícil. Diante da oportunidade de mostrar que crises como a que enfrentamos hoje exigem compromisso público e respostas rápidas. E de mostrar, ainda, que saúde pública não é gasto, e nunca será.

* Edmir Chedid é deputado estadual pelo DEM


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