Ex-secretário fala sobre Fábricas de Cultura

"Levar cultura à população carente é um investimento importante no resgate da auto-estima da criança carente", opina Marcos Mendonça.
27/02/2003 20:14

Compartilhar:


DA REDAÇÃO

Após a aprovação pela Assembléia Legislativa do projeto de lei que autoriza o Poder Executivo a contrair empréstimo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o programa conhecido como "Fábricas de Cultura", o ex-secretário da Cultura do Estado, deputado Marcos Mendonça, em entrevista ao Diário Oficial do Poder Legislativo, falou sobre o projeto e sobre sua expectativa de que as Fábricas de Cultura sejam um instrumento de inclusão social.

Marcos Mendonça assumiu a pasta da Cultura do Estado pela primeira vez em 1995. No total, foram mais de sete anos de trabalho. Segundo ele relata, um dos projetos que mais o motivou foi o "Fábricas de Cultura". A idéia surgiu em meados de 2001, quando Mendonça a apresentou ao governador Geraldo Alckmin, que entusiasmou-se com o projeto e, em sua viagem a Washington, em outubro daquele ano, levou a proposta ao BID. "Foi um período de intensa negociação até a obtenção do crédito para efetivar o projeto", conta o ex-secretário, explicando tratar-se de uma concessão inédita do banco - o crédito para desenvolvimento de um projeto cultural. Para Mendonça, a partir desse precedente, o modelo tornou-se um modelo para o mundo.

Trabalho preventivo

O ex-secretário explicou que a razão principal de tanto empenho foi a certeza de que levar cultura à população carente é um investimento importante no resgate da auto-estima da criança e do jovem carente, "tão massacrados pelas condições de vida a que são submetidos". Segundo ele, há estatísticas que confirmam diminuição da violência em áreas onde se desenvolvem projetos culturais. Na observação de Mendonça, os principais referenciais para o jovem pobre são três: o poder obtido pelo tráfico, o destaque como esportista de sucesso ou como artista. E a possibilidade de que ele seja respeitado e acredite em si mesmo, ao se tornar um artista, se concretiza com as Fábricas de Cultura.

Outra convicção do ex-secretário quanto aos benefícios do programa está na introdução da disciplina no cotidiano do jovem: "Ele é obrigado a cumprir horários e a dedicar-se para atingir seus objetivos, o que o mantém afastado das ruas e das drogas".

Economia

Para os cofres públicos, o programa reverte-se em economia, explicou o ex-secretário: "Investindo na prevenção contra drogas, delinqüência, marginalidade, o governo economiza, no mínimo, em segurança e saúde". Marcos Mendonça acredita que o projeto está fadado ao sucesso e vai atrair grande número de jovens carentes. Para essa tarefa conta com o trabalho do agente comunitário da cultura, que é quem vai fazer um diagnóstico das necessidades e interesses da comunidade local e definir, depois disso, as atividades. O "Fábricas de Cultura" terá módulos pequenos dentro das favelas, além de um grande centro cultural.

Mendonça contou que o BID já liberou 500 mil dólares para treinar as entidades que participam do projeto, trabalhando na área de formação dos agentes.

Fábricas de Cultura

O programa consiste na construção de novos centros culturais e no reaparelhamento dos já existentes, com o objetivo de proporcionar atividades culturais, como aulas de música erudita e popular, de artes dramáticas, de cinema, de dança, a jovens da periferia de São Paulo.

Estudos feitos pela Secretaria da Cultura apontaram nove regiões potencialmente alvos do programa, por apresentarem "vazios culturais" e alta porcentagem de crianças e jovens em situação de risco social: Brasilândia e Cachoeirinha, na zona norte, Cidade Ademar, Capão Redondo e Jardim Ângela, na zona sul; Itaim Paulista, Jardim Helena, Lajeado e Sapopemba, na zona leste.

Com a aprovação do projeto, na última terça-feira, 25/2, o Governo do Estado foi autorizado a contrair empréstimo de até 20 milhões de dólares junto ao BID para executar o programa, que conta também com a contrapartida do Estado no valor de 10 milhões de dólares.

alesp