SAÍDA PARA A CRISE EXIGE UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO - OPINIÃO

Jamil Murad*
03/07/2001 16:45

Compartilhar:


As múltiplas crises que tomam conta do país nos últimos meses, combinadas com a queda vertiginosa da credibilidade de Fernando Henrique Cardoso, vão formando na opinião pública um consenso de que o governo está atolado em um mar de lama e sem rumo.

Esses ingredientes criam uma situação explosiva. As elites que governam o país não conseguem chegar a um consenso sobre o que fazer, porque há um esgotamento do atual modelo econômico e político em curso. A saída para a crise está, necessariamente, na construção de um novo modelo de desenvolvimento para o país.

Por ser o Estado mais rico da Federação, São Paulo é um dos mais atingidos pelo neoliberalismo. As privatizações aqui realizadas, sob o comando de Geraldo Alckmin, antes coordenador do PED (Programa Estadual de Desestatização) e agora governador, trouxeram imensos prejuízos para o Estado, que ficou sem alavancas fundamentais para o seu desenvolvimento econômico e para a promoção da justiça social.

A dívida já está em mais de R$ 84 bilhões, boa parte do patrimônio foi privatizado, mais de 200 mil servidores da Administração direta e indireta foram demitidos, os salários estão congelados, a área social vive situação dramática e os investimentos são insignificantes. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2002 continua comprometendo 13% da receita líquida do Estado com os encargos do acordo de renegociação da dívida. Em âmbito federal, a dívida interna cresceu, por dia útil, num ritmo de R$ 500 mil, em março, e R$ 600 mil em abril deste ano.

Esta política tem reflexos no cotidiano da população, que empobrece mais à medida em que os salários são praticamente congelados e aumentam as tarifas dos serviços privatizados.

As tarifas telefônicas subiram 344%, de 1996 até maio deste ano. Em São Paulo, a assinatura residencial subiu 17,95% neste mês de junho, passando de R$ 19,77 para R$ 23,32. Este aumento penaliza todos os usuários, independentemente do tipo de ligações que fizer.

Trafegar pelas rodovias estaduais tornou-se um verdadeiro martírio. A cada mês, novas praças de pedágio aparecem nas estradas, obrigando os motoristas a pagar valores extorsivos.

De 1995, até junho deste ano, as tarifas de energia subiram 81% acima da inflação. Neste mês, a Agência Nacional de Energia (Aneel) concedeu um novo aumento. A CPFL, que atende 203 municípios no Estado de São Paulo, vai cobrar mais 17,13% na conta dos usuários. Não bastassem os preços abusivos, ninguém está livre do apagão.

A crise de energia forçou o governador Alckmin a suspender a venda da CESP/Paraná. Mesmo entre as elites, já ganha corpo a idéia de que, para superar essa crise, o Estado, ou as empresas públicas que ainda restam no setor, terão que fazer investimentos. Essa não é uma idéia nova. Sempre quando ocorre o colapso, o governo volta a investir. Começa a cair por terra uma das idéias básicas do atual modelo, de que bastaria a abertura e o fluxo de capital privado estrangeiro para elevar a produtividade, propiciar a diversificação da atividade econômica e produzir os investimentos suficientes para edificação da infra-estrutura e dos serviços públicos, sem a intervenção do Estado.

Ao lado da rejeição crescente e da crise do modelo, o PSDB começa a ficar sem bandeira. Alarga-se, com isso, o campo oposicionista, com a apresentação de diversas candidaturas contrárias ao governo FHC.

O PCdoB atua nesse cenário, procurando pontos de ligação entre as diversas candidaturas, colocando no centro da discussão um projeto alternativo contrário ao modelo vigente. Defendemos uma coalizão oposicionista capaz de derrotar o projeto continuísta, comandado por Fernando Henrique.

Estamos propondo aos partidos de oposição, e ao Fórum Nacional de Lutas, a realização de um encontro nacional, democrático e popular, para viabilizar um programa comum que mobilize e traga novas esperanças aos brasileiros.

*Jamil Murad, deputado estadual, é líder do PCdoB na Assembléia Legislativa

alesp