Juros - Injustos e Concentradores

OPINIÃO - Arnaldo Jardim*
20/03/2003 18:06

Compartilhar:


Embalado por juros estratosféricos e dólar idem, o sistema bancário brasileiro registrou recentemente outro resultado arrasador em relação aos demais setores da economia. Em 2002, os 50 maiores bancos apresentaram crescimento no lucro, da ordem de 89,5%, para R$ 17,587 bilhões, em relação aos R$ 9,27 bilhões do ano anterior, de acordo com o levantamento da Austin Asis, publicado na semana passada. No mesmo período, a rentabilidade sobre o patrimônio passou de 15,6% para 24,5%.

Com o aumento da renda resultante de mais operações atreladas ao dólar, as receitas com o crédito subiram 40%. Mas isso não significa que o crédito cresceu na mesma medida - apresentou aumento de meros 15,4%. Ou seja, o spread - diferença entre a captação do recurso e o empréstimo do mesmo - ficou nos cofres dos bancos, enquanto os setores produtivos amargaram um ano difícil, de crédito minguado diante das incertezas da economia.

Enquanto a agricultura luta bravamente contra as barreiras protecionistas de outros países para aumentar suas vendas, e a indústria busca sobreviver em meio ao crédito difícil e ao aumento de custo dos insumos dolarizados, o sistema bancário brasileiro carrega o título de o mais lucrativo do mundo. Pelo levantamento feito pela ABM Consulting publicado em fevereiro passado na Folha de São Paulo, os bancos brasileiros são, pelo segundo ano consecutivo, os mais rentáveis em comparação com México, Estados Unidos, Itália, Espanha, Inglaterra e Canadá. Em 2002, a rentabilidade média dos seis maiores bancos brasileiros foi de 23%, enquanto no México foi de 17%, e na Itália, 9%.

A ABM Consulting tomou como principal indicador a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, que significa percentualmente, quanto cada unidade monetária do patrimônio foi capaz de gerar de lucro. Assim, para cada R$ 100 de patrimônio líquido, um banco canadense tem R$ 8 de lucro líquido, enquanto no Brasil esse valor sobe para R$ 23.

Nada contra o lucro, desde que ele não seja um empecilho para o desenvolvimento. E é neste ponto que o Brasil precisa rever suas intenções quanto ao seu próprio futuro, ser um país soberano e mais justo, ou se prefere continuar na ciranda financeira, penalizando a produção e o emprego, em nome dessa entidade mítica chamada mercado - e vulnerável às especulações de toda a sorte, que abalaram as economias da Ásia e da Rússia nos últimos anos.

Se o banco ganha na engrenagem dos juros altos, quem perde é o contribuinte, obrigado a pagar os juros turbinados do cheque especial, e o setor produtivo, que vê seus projetos de crescimento trocados pela sobrevivência pura e simples.



*Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, 47 anos, foi Secretário da Habitação (1993)

Relator Geral do Fórum SP Séc. XXI

alesp