Da assessoria do deputado Vanderlei SiraqueO governador do Estado de São Paulo entrou com a Ação Direta de Inconstitucionalidade, no Supremo Tribunal Federal, contra a lei nº 10.860, que fixa requisitos para criação e funcionamento dos cursos de graduação da área da saúde, entre eles os de medicina das instituições públicas e privadas de educação superior. O argumento apresentado é de que a legislação é inconstitucional, e que ofende o artigo 209 da Constituição Federal.DefesaA Procuradoria da Assembléia Legislativa conclui que não há ofensa ao princípio federativo, pois a lei se baseia no artigo 24, inciso XII, da Constituição da República, segundo o qual compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre proteção da saúde. Para o deputado Vanderlei Siraque (PT), autor do Projeto da Lei 10.860, a Constituição vai ao encontro do objetivo da lei. "Queremos preservar a saúde das pessoas, pois o número de erros médicos tem aumentado assustadoramente em São Paulo", declara. No ano passado, o Conselho Regional de Medicina (CREMESP) recebeu 40% mais denúncias do que no ano de 2000. "É claro que o erro médico tem muitas causas, mas com certeza a má formação profissional, ocasionada pelos cursos de medicina que não oferecem condições adequadas de ensino, também tem grande parcela de responsabilidade sobre esse índice", diz Siraque.O outro argumento do governo do Estado para tentar a impugnação também não faz sentido, segundo a Procuradoria. A lei 10.860 não ofende o artigo 209 da Constituição, pois não tem intenção de cercear a liberdade do particular, mas sim de adequar esse direito às exigências do Estado em relação à educação. Isso está previsto no inciso II do mesmo artigo da Constituição.Para o deputado, a postura do governo mostra claramente que não há interesse em zelar pela qualidade do ensino e pelo bem público. "Esta lei foi resultado de grande estudo e debates entre as entidades da área da saúde, como o Conselho Regional de Medicina, a Associação Paulista de Medicina e os Sindicatos de Médicos do Estado de São Paulo. A atitude do governo favorece apenas as grandes empresas ligadas à educação", afirma.Novos cursosMesmo após a lei ter sido instituída, três novos cursos de medicina foram criados em São Paulo: um na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), outro no Centro Universitário Nove de Julho (Uninove), ambos na capital, e um curso na Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo), em Fernandópolis. As mensalidades custam mais de R$ 3 mil. "As faculdades desrespeitaram a legislação, e o governo, além de não fazer com que a lei fosse cumprida, ainda quer tirar-lhe a validade. Isto é um absurdo", declara Siraque.Cerca de quatro mil médicos recém-formados entram no disputado mercado de trabalho a cada ano em São Paulo, segundo o CREMESP. Atualmente, no Estado, há 86 mil médicos em atividade, o que representa uma média de um profissional para 456 habitantes. O número é mais de duas vezes o indicado pela Organização Mundial de Saúde, que considera suficiente um médico para cada mil habitantes.vsiraque@al.sp.gov.br