O nome é o melhor patrimônio

OPINIÃO - José Caldini Crespo*
22/09/2003 18:42

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Demorou, mas finalmente o governo descobriu que abrir opções de microcrédito para a população de baixa renda é uma medida que pode trazer, inclusive a curto prazo, reflexos muito positivos à economia do país. Iniciativas como o Banco do Povo, no âmbito do governo estadual, e a instituição das chamadas "contas simplificadas" pela Caixa Econômica Federal (CEF), popularizadas com o nome de "Caixa Aqui", já ofereceram elementos suficientes para demonstrar que a demanda reprimida que existe no campo do microcrédito é bastante grande, e, apesar disso, até hoje ignorada pelo poder público.

Em pouco mais de quatro anos de existência, o Banco do Povo, por exemplo, já concedeu mais de 45 mil créditos em suas unidades espalhadas por todo o Estado. Até junho último, o volume de empréstimos concedidos chegava à casa dos R$ 110 milhões. Já o programa de contas simplificadas da Caixa Econômica, lançado pelo governo federal no final de maio, tinha uma expectativa de alcançar os 500 mil correntistas até o final do ano. Esse volume acabou sendo alcançado mais de três meses antes do previsto.

Além do acesso a uma conta bancária, após três meses da sua abertura, o correntista terá direito a um crédito de R$ 200, que ficará disponível por quatro meses, podendo ser renovado - se for pago. Se o correntista usar esse crédito, pagará juros de 2% ao mês. No caso do Banco do Povo a taxa de juros é de 1% ao mês, mas os empréstimos - limitados a R$ 5 mil para pessoas físicas - são para capital de giro ou para investimentos.

A adoção de iniciativas governamentais como essas começam a colocar por terra conceitos que estavam praticamente enraizados no inconsciente coletivo do brasileiro, como o de que banco só empresta dinheiro para quem não precisa, pois quem realmente precisa não tem como corresponder às exigências da instituição. Nos bancos privados é provável que essa máxima ainda prevaleça. Nas instituições públicas, como a CEF, entretanto, esse conceito começa a ruir.

Cada qual para o seu segmento, essas modalidades de microcrédito têm em comum a valorização e o reconhecimento das camadas de menor poder aquisitivo da população como bons pagadores, ou seja, pessoas em quem se pode confiar. Apesar de recentes, essas medidas podem ser consideradas vitoriosas já que ajudam a resgatar a cidadania das pessoas, que não mais se vêem obrigadas a - numa emergência - recorrer a agiotas, pois os bancos eram para elas algo inacessível.

O Estado finalmente percebeu o que o comércio já havia notado há muito tempo. Os pobres pagam suas contas em dia. E não dão calote por vários motivos. O maior deles é manter limpo aquele que muitas vezes é o seu principal patrimônio: o próprio nome.

*José Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL e membro da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa de São Paulo

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