Opinião - Aumenta a presença da mulher na sociedade


12/03/2009 16:01

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O que há em comum entre as escolas campeãs do Rio de Janeiro e de São Paulo, além do amor pelo samba e dos títulos conquistados em seus respectivos estados? Ambas são administradas por mulheres determinadas e símbolos do avanço feminino em todos os campos da sociedade e postos de comando de diferentes setores da sociedade civil. Regina Duran, presidente do Salgueiro, e Solange Rezende, da Mocidade Alegre, personificam a mulher brasileira, moderna e atuante.

Hoje elas são maioria entre a população. Representam 51,31% dos habitantes do nosso País e avançam em meio a preconceitos e condicionamentos culturais que permeiam a nossa sociedade. No mercado de trabalho, estão concentradas no setor de serviços, em profissões consideradas tipicamente femininas. São professoras, comerciárias, cabeleireiras, manicures, funcionárias públicas ou trabalham em serviços de saúde.

A primeira ocupação da mulher ainda está no serviço profissional remunerado. Mas as mulheres já extrapolaram esses "limites" e estão presentes em funções que até há pouco tempo eram exercidas apenas pelos homens. Hoje elas dirigem caminhões nas estradas, são taxistas nas metrópoles, atuam na segurança pública, nas Forças Armadas e em outros setores. Em algumas profissões, são maioria, como no jornalismo, por exemplo.

Paradoxalmente, a participação cada vez mais ativa da mulher na sociedade tem a ver com algo que acompanha a humanidade, desde os seus primórdios: os conflitos entre os povos e nações. As duas grandes guerras mundiais, de 1914-1918 e 1939-1945, levaram as mulheres a ocupar postos no mercado de trabalho vagos em decorrência do recrutamento dos homens para o campo de batalha.

As crises econômicas também levaram as mulheres a vencer a resistência dos maridos, para saírem de seus lares em busca de trabalho que complementasse a renda familiar. Muitas se tornaram as principais responsáveis pelo sustento de suas famílias. Como resultado e também graças à ruptura de costumes e paradigmas, a participação da mulher brasileira no mercado de trabalho teve um acréscimo, entre 1976 e 2002, de 25 milhões de trabalhadoras.

O grande indutor da participação feminina no mercado de trabalho foi o desenvolvimento industrial, que, no início, utilizou a mão-de-obra de mulheres e crianças. Com o passar do tempo, trabalhadores e trabalhadoras aperfeiçoaram a legislação trabalhista e conquistaram importantes direitos trabalhistas. Apesar do avanço, ainda é nítida a desvantagem da mulher em relação ao homem, no ambiente corporativo. Em média, o salário da mulher, no Brasil, equivale a 80% do que recebe o homem.

O mesmo acontece em profissões que exigem formação superior. Nesse caso, o salário da mulher é ainda inferior e corresponde a 56,94% ao do homem, embora a oferta para esses cargos seja maior para as mulheres. Em 2005, 268,3 mil empregos desse nível foram destinados para elas, contra 173,4 mil para os homens. A vantagem da mulher está na superioridade de seu desempenho profissional nos cargos de chefia e de maior responsabilidade nas corporações.

A diferença salarial entre os sexos não é exclusiva do Brasil, ela também está presente nos países considerados mais desenvolvidos. Recentemente, a União Européia lançou uma campanha para combater as desigualdades salariais entre homens e mulheres, atualmente estimadas em 17,6%, que vem se agravando em decorrência da crise econômica mundial.

Os europeus também estão preocupados com os efeitos da crise sobre o emprego. Lá como aqui, o desemprego atinge mais as mulheres, que são sempre as primeiras a ser demitidas e que também ocupam a maioria dos empregos informais e mais precários. Nesse caso, o número de desempregadas é 31% superior ao de homens desempregados. No mercado informal, as mulheres ocupam 61% das atividades. A discriminação ainda é maior para a mulher negra.

Um dos pontos mais sensíveis no que concerne à participação da mulher está em sua fraca participação na política partidária. A explicação pode estar no fato de que elas só conquistaram o direito a voto, em 1932.

Embora se tenha verificado avanços em termos de representatividade a cada eleição, quantitativamente é pequena sua participação nas câmaras municipais, nas assembleias legislativas, na Câmara Federal e no Senado. Embora numericamente inferiores, elas são mais coesas e sensíveis às causas sociais do que os homens. Nas listas de candidatos, os partidos políticos encontram dificuldade em preencher a cota estabelecida pela legislação.

Isso não significa que elas não participem da política em outros fóruns como nas organizações não-governamentais e demais canais de participação popular. O fato é que elas estão de parabéns por todos os avanços e conquistas que ainda virão e merecem toda a nossa admiração e apoio pela garra e competência que demonstram em suas ações.



*Davi Zaia é deputado estadual pela Assembleia Legislativa de São Paulo

alesp